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DECOLONIALIDADE NO DIREITO INTERNACIONAL Ainda no final do séc. XIX e início do séc. XX, houve o processo de colonização, onde surgiu uma nova definição para "humano" e "não humano"; sendo os "humanos" ( civilizados ) somente os europeus, brancos, de alta classe e, ironicamente, homens. Os "não humanos" ( não civilizados ) eram todos os povos de nações remanescentes considerados inferiores por seus costumes, culturas e linguagens diferentes e, além de tais títulos, também haviam outros povos "meio humanos", esse o qual se encontravam as mulheres - independentemente de suas nacionalidades. Mesmo após o processo de descolonização, ainda havia a colonialidade - onde mesmo em tal contexto, ainda há grande influência dos ex-colonizadores nos outros povos -, o que causou diversas distorções acerca da humanidade em si, pois muito do que foi "ensinado" pelos europeus, prevaleceu até os dias atuais - mesmo que em perspectivas diferentes -; em diversas culturas, o preconceito contra pessoas de cor ainda acontece e, isso não é diferente para as mulheres. Neste contexto, também "surgiu" a decolonialidade, que se opõe a colonialidade e é utilizada até a atualidade em diversos debates que possuem pautas extremamente variadas - desde a desapropriação das línguas não européias no continente Africano, até a desvalorização dos povos e das mulheres. Em meio a isso, embora o Movimento Feminista seja mais reconhecido por tal título, ele também é uma parte da decolonialidade, pois mais do que nunca, mulheres no mundo todo estão lutando por seus direitos iguais - ironicamente, pode se dizer que elas lutam para deixarem de ser "meio humanos" e se tornarem "humanos" - contrariando a colonialidade. No entanto, deixando certas peculiaridades do decolonialismo "de lado", ainda é possível perceber que mesmo tendo passado mais de um século desde as colonizações e o colonialismo da Europa sobre o resto do mundo, tal nação ainda tem um impacto muito grande no âmbito jurídico internacional, pois na criação do Estatuto Internacional de Justiça, o estadocentrismo europeu - onde somente o padrão jurídico da Europa era considerado civilizatório - prevaleceu e os princípios gerais de direito de outros povos "não civilizados", foram excluídos da concepção do Estatuto, fazendo com que certas decisões de âmbito internacional tivessem como base um padrão jurídico euro central. No artigo 38 do Estatuto, é possível ler a seguinte frase "A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: [...] com os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;". Com tal trecho do documento, é irônico que mesmo após diversos debates acerca da colonialidade e todo o rastro de toxicidade deixada por ela no Sistema Internacional, ainda haja, em pleno séc.XX, uma definição de civilização e não civilização - "humanos" ou "não humanos". Referências bibliográficas: ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, Geraldo; CASELLA, Paulo. Manual de Direito Internacional Público. 24ª Edição. São Paulo - SP. Editora Saraiva. 2019. Scielo. Humans, nonhuman others, matter and language: a discussion from posthumanist and decolonial perspectives. Scielo, 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132019000200520&lang=pt. Acesso em 17/04/2020. Scielo. Decoloniedade e a contribuição para a crítica feminista à ciência. Scielo, 03 de Dezembro de 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822018000100242&lang=pt Acesso em 17/04/2020. Estatuto da Corte Internacional de Justiça (1945). http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-18132019000200520&lang=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822018000100242&lang=pt
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