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Catarina Nykiel - MedManas CASO CLÍNICO – OBSTRUÇÃO INTESTINAL A mãe de um menino de 12 meses telefona-lhe à meia-noite dizendo que seu filho está chorando incessantemente nas últimas 6 horas. Suas crises de choro duram cerca de 20 minutos, e então desaparecem completamente por 15 minutos. Desde o início da tarde a criança não está comendo muito e começou a vomitar as pequenas quantidades de suco e leite que ingeriu. Decidiu telefonar porque o vômito agora é verde e as crises de choro parecem estar piorando. Na emergência, você lembra que o paciente não tem nenhuma história médica pregressa, nasceu a termo sem complicações e suas imunizações estão em dia. Ao exame, sua temperatura é de 37,7ºC, frequência respiratória de 40mpm, pulso de 155 bpm, pressão arterial de 109/60 mmHg e peso de 10 kg. Ele chora inconsolavelmente por 15 minutos, puxando suas pernas até a altura do tórax, e depois se aquieta. Você nota que ele ainda produz lágrimas, e suas mucosas estão úmidas. O exame do coração e pulmões é normal; o exame abdominal revela ruídos intestinais acentuadamente diminuídos, com sensibilidade generalizada à palpação. Você sente uma massa em forma de salsicha no lado direito do abdome. Sua fralda apresenta um pouco de fezes sanguinolentas misturadas com muco. O restante do exame é normal. Questionamentos 1. Qual é o diagnóstico mais provável? 2. Qual o próximo passo? 3. Quais as possíveis complicações? RESPOSTAS NA PÁGINA SEGUINTE Catarina Nykiel - MedManas Respostas Esse lactente de 12 meses teve início súbito de choro intermitente com vômitos, que posteriormente tornaram-se biliosos. A medida que o dia avançou, suas crises de dor tornaram-se mais graves, durando cerca de 20 minutos. Ao exame, o lactente ainda não revela sinais de hipovolemia, sepse ou choque. A palpação do abdome, há sensibilidade generalizada e uma massa em forma de salsicha no lado direito. Embora não tenha sido mencionado pela mãe, há uma pequena quantidade de fezes mucossanguinolentas, melhor descritas como ''geleia de morango'. Esse paciente tem uma intussuscepção que progrediu para obstrução e está em risco de perfuração com consequente choque e sepse. • Diagnóstico mais provável: Obstrução intestinal causada por intussuscepção • Próximo passo: radiografias simples do abdome para afastar perfuração • Complicação potencial: se houver perfuração, deterioração rápida por sepse/choque. Análise do caso Esse lactente de 12 meses apresentou inicialmente vômitos e dor abdominal intermitente. Seu vômito iniciou com o conteúdo gástrico do que tinha ingerido, porém mais tarde tornou-se bilioso, o que é sugestivo de obstrução intestinal. A descrição da dor abdominal tende a revelar a natureza fisiopatológica da intussuscepção. A intermitência e intervalos ''sem dor'' correlacionam-se com a lenta e gradual progressão do invaginante (intestino proximal ou cabeça da intussuscepção) no invaginado (extremidade distal ou receptora do intestino). A medida que a progressão avança, as porções de intestino presas no interior da luz intestinal tornam-se edemaciadas, o que finalmente causa obstrução, isquemia e perfuração da parede intestinal. A má-rotação com volvo também se apresenta com um quadro clínico de obstrução, e pode ser difícil diferenciar as duas condições somente pelos achados clínicos. Antes de passar ao diagnóstico, o paciente deve ser estabilizado com hidratação IV e uma consulta cirúrgica deve ser obtida sem demora. Em caso de suspeita de obstrução, pode ser preciso colocar uma sonda nasogástrica. Faz-se uma radiografia simples de abdome para afastar perfuração. Caso essa tenha ocorrido, é necessário intervenção cirúrgica. Se não houver evidência de perfuração, uma ultrassonografia abdominal pode revelar uma lesão em ''mola enrolada'' com múltiplos anéis concêntricos, que reflete camadas de intestino no interior da luz de outra parte do intestino. Entretanto, no caso de intussuscepção, um enema baritado será tanto diagnóstico quanto terapêutico. Embora o bário seja amplamente usado, prefere-se um contraste hidrossolúvel quando há suspeita de perfuração, porque não será tão irritante para o peritônio. O valor terapêutico do enema resulta da aplicação constante de pressão hidrostática sobre a intussuscepção, forçando-a mecanicamente a progredir para trás. Também é possível fazer a redução aérea. Esse método requer a visualização fluoroscópica dos padrões de gás intestinal até que se veja a redução da intussuscepção. A redução por bário ou ar é efetiva em 75 a 90% dos casos, sendo necessário um período de observação de 12 a 24 horas até que a função intestinal esteja adequada e que tenha havido uma evacuação. O risco de recidiva nesse paciente com intussuscepção idiopática é de aproximadamente 100%. Abordagem clínica Diagnósticos diferenciais: estenose hipertrófica de piloro, má-rotação com volvo, ingestão de corpo estranho e envenenamento. Conforme descrito, a intussuscepção apresenta-se com dor abdominal intermitente, grave, associada a vômitos que se tornam biliosos à medida que ocorre obstrução. O achado de uma massa alongada no abdome direito é muito sugestivo desse diagnóstico. A localização da massa decorre do fato de a maioria das intussuscepções idiopáticas ocorrerem na junção ileocecal. Podem ser totalmente no jejuno, entre o jejuno e o íleo, ou inteiramente colônicas. Fezes em geleia de morango é o termo mais frequentemente usado para descrever o achado nessa condição, e se correlaciona com a isquemia intestinal continuada com o avanço da intussuscepção e do edema. Manejo A intervenção cirúrgica será quase sempre necessária se houver um defeito anatômico/mecânico do trato GI. obstrução intestinal coloca um paciente em risco de perfuração, o que deteriora ainda mais sua condição. Recomenda- se uma sonda nasogástrica em casos nos quais já há obstrução e o paciente está doente. É necessário monitorar com cuidado a situação de líquidos do paciente, devido à probabilidade de saída para o terceiro espaço do interior do intestino isquêmico e diminuição da ingestão oral.
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