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O Contexto Socioeducacional na Perspectiva da Inclusão Aula 8 6▪ eduCaçãO, POSSibilidadeS e limiteS na inSerçãO PrOFiSSiOnal da PeSSOa COm deFiCiênCia nO mOvimentO HiStóriCO-SOCial braSileirO e na COntemPOraneidade Seja bem vindo (a)! A proteção das pessoas com deficiência passou a integrar as normas constitucionais brasileiras apenas recentemente, na constituição federal de 1988. Diante da pressão social, criaram-se dispositivos legais em áreas como educação, trabalho, assistência social e acessibilidade física, para ga- rantir a inclusão social das pessoas com deficiência. Nesta unidade trabalharemos especificamente a questão da inser- ção profissional da pessoa com deficiência no movimento histórico-social brasileiro. Bons estudos!!! Caro (a) Aluno (a) ▪ Identificar aspectos da educação e profissionaliza- ção do deficiente e as alternativas de trabalho ▪ Refletir sobre as condições de inserção desta popu- lação no mercado de trabalho Na área do trabalho, um dos marcos conceituais é a Convenção 159 da Organização Internacional do Tra- balho (OIT), que visa assegurar medidas adequadas de reabilitação profissional a todas as categorias de pessoas com deficiência, e promover oportunidades de empre- go para essas pessoas no mercado regular de trabalho. As medidas para inclusão social das pessoas com defi- ciência no trabalho têm como principal e mais efetiva resolução o artigo 93 da lei n.º 8.213/91. Esse dis- positivo torna obrigatório às empresas contratar um mínimo de pessoas com deficiência, proporcional ao número total de seus trabalhadores. Vamos discutir como acontece a inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e a sua formação para tal. Objetivos da Unidade Conteúdos da Unidade 4 Silva relata que no Brasil, início da década de 50, surgiram programas de treinamento vocacional e de profissionalização para as pessoas com deficiência mental em instituições privadas de caráter filantrópi- co, e assistencial, em escolas especiais ou similares. Nessa década iniciaram os trabalhos de capaci- tação e de exercício profissional, especialmente na So- ciedade Pestalozzi do Brasil e nas Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) para os adolescentes e adultos, nas chamadas oficinas pedagógicas e protegi- das, modalidade de atendimento, presente ainda na so- ciedade brasileira, especialmente quando a profissiona- lização se dirige-se à população com deficiência mental. Como proposta de “Educação pelo trabalho”, buscando a inclusão profissional, as oficinas pedagó- gicas constituíram-se em regime especial, produtivo e remunerado. Outros tipos de oportunidades incluiriam desde internatos a trabalho em domicílio. As oficinas passaram a atuar em diferentes ti- pos de atividades: reparos, prestação de serviços ex- ternos, cultivo de hortas, fabricação de itens próprios, além da produção entre instituição e empresas por meio de subcontratos ajustados. Hoje as atividades desenvolvidas em oficinas protegidas ou abrigadas já existem há quase meio século sendo que poucos são os estudos avaliativos de tais programas, bem como de outras atividades e ações desenvolvidas pelas instituições especializadas. A maior parte das publicações sobre este assunto tem o caráter de divulgação institucional, não havendo, portanto, algum tipo de avaliação externa, descompro- metida e isenta de quaisquer interesses ou influências 5 resgatando propostas e visões expressas por profis- sionais. Têm-se poucos estudos sobre as condições de funcionamento das oficinas pedagógicas, abrigadas ou protegidas. Os dados possíveis da realidade são pouco animadores em função da ocorrência de alguns pro- blemas, tais como as crises financeiras institucionais, e do próprio país, isolamento do mundo externo, espe- cialmente do próprio mundo do trabalho, subcontra- tos desfavoráveis para os aprendizes/trabalhadores, inadequação/rigidez dos programas com relação às características da população institucionalizada, entre outras. O desafio é de compatibilizar as atividades do ensino com aquelas da produção, além de conciliar as necessidades pessoais do aprendiz/trabalhador e as necessidades do mercado. “ A formação profissional e o desempenho de uma atividade produtiva é direito do cidadão que possui deficiência, constituindo-se esta em estraté- gia para sua inclusão. ...o trabalho protegido ou acompanhado e a pro- fissionalização não podem ser reconhecidos como um fator de equalização entre pessoas considera- das não-deficientes e pessoas com deficiências. Isto porque, embora as pessoas com deficiência possuam seus direitos, inerentes à sua natureza de sujeitos sociais, em função de suas especificidades biológicas, são pessoas “diferentes”, ou seja, apre- sentam limitações que lhes são próprias e, por este motivo, não podem concorrer de forma igual com os indivíduos “ditos normais”. Silva. (2006,p 235) 6 Tal discurso serve apenas para reforçar a segre- gação e a exclusão do mercado de trabalho, uma vez que ao deficiente é solicitado e exigido, por parte do empregador, desempenho igual àquele que não possui deficiência. O discurso de equidade com referência a oportunidades, apesar das especificidades biológicas próprias das pessoas com deficiência, induz à cren- ça de que, se todos têm as mesmas oportunidades de acesso, são responsáveis pelo seu próprio fracasso ou sucesso, assim como se constituem em sujeitos iguais perante à sociedade, eliminando se de uma só vez, e de forma nefasta, as especificidades biológicas, os an- tagonismos de classe e as desigualdades historicamen- te estabelecidas pelo capital. A sociedade atual apresenta simultaneamente a possibilidade de inclusão e de exclusão social. “A primeira – inclusão– está relacionada à questão cultural/educacional em que as massas da popula- ção, com ou sem deficiência, são absorvidas por intermédio da educação, da mídia e da lógica do consumismo individualista no interior do mercado capitalista. A segunda – exclusão –, ocasionada em função de suas condições socioeconômicas, deslo- ca a massa populacional com ou sem deficiência da sociedade, gerando ao mesmo tempo o processo dialético de inclusão/exclusão social.” Silva (2006, p.237) Os problemas ora estão relacionados à ques- tão específica da deficiência, ora à especificidade 7 do mercado competitivo, ora ainda aos dois fatores concomitantes. A inclusão no mercado de trabalho do defi- ciente também é vista como etapa final de seu pro- cesso educativo. Na realidade imposta pelo mundo do trabalho, todos necessitam de formação continuada, necessária e exigida progressivamente pelo capital. Na maioria das vezes, há necessidade (ainda que temporária) de um acompanhamento continuado, como forma de orientação para o desenvolvimento de suas atividades, embora deva ser ressaltado que há casos em que pessoas com deficiências, ao serem in- seridas no mercado de trabalho, não mais necessitam de nenhum acompanhamento externo sistematizado, desempenhando de maneira satisfatória suas tarefas, e a elas adaptando-se. Exercer uma atividade produtiva, que resulta em um bem concreto, um trabalho, é de grande im- portância para a vida de todos os seres humanos, não apenas no aspecto financeiro, mas também em rela- ção à possibilidade de proporcionar às pessoas envol- vidas, independência em termos sociais e pessoais, ou seja, inclusão social. O trabalho deve ser uma fonte de prazer e satisfação para o sujeito, além de propi- ciar-lhe as condições de sobrevivência, garantindo lhe renda e manutenção de consumo, fornecer-se de co- mida e bebida, a satisfazerem as suas necessidades de moradia e vestuário. 8 Comida Titãs Composição: Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Sérgio Britto http://www.youtube.com/watch?v=9wP8_4MGyqE Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?... A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte A gente não quer só comidaA gente quer saída Para qualquer parte... A gente não quer só comida A gente quer bebida Diversão, balé A gente não quer só comida A gente quer a vida Como a vida quer... Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?... A gente não quer só comer A gente quer comer E quer fazer amor A gente não quer só comer A gente quer prazer Prá aliviar a dor... A gente não quer 9 Só dinheiro A gente quer dinheiro E felicidade A gente não quer Só dinheiro A gente quer inteiro E não pela metade... Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?... A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte A gente não quer só comida A gente quer saída Para qualquer parte... A gente não quer só comida A gente quer bebida Diversão, balé A gente não quer só comida A gente quer a vida Como a vida quer... A gente não quer só comer A gente quer comer E quer fazer amor A gente não quer só comer A gente quer prazer Prá aliviar a dor... A gente não quer Só dinheiro A gente quer dinheiro 10 E felicidade A gente não quer Só dinheiro A gente quer inteiro E não pela metade... Diversão e arte Para qualquer parte Diversão, balé Como a vida quer Desejo, necessidade, vontade Necessidade, desejo, eh! Necessidade, vontade, eh! Necessidade... “Nesse sentido, a profissionalização deve ser en- tendida como uma necessidade do homem, propi- ciando-lhe o exercício de uma atividade produtiva que lhe possibilite desenvolver um trabalho no meio em que vive, considerando-se suas condições culturais e diferenças individuais.” Silva (2006, p.237) Necessário se faz refletir sobre o trabalho que deve ser desenvolvido junto às pessoas com deficiên- cia, pois, como se sabe, a presença de limites é uma constante na vida de todos os seres humanos, e o que se coloca é sua graduação ou diversificação. Todo indivíduo apresenta pontos fracos e for- tes, em relação ao aspecto intelectual no que se refere a uma área ou outra, além de haver estas limitações há 11 também geralmente no plano físico, social, afetivo e econômico. A conscientização de que o limite existe em relação a todos deve ocorrer, a fim de que os limi- tes maiores, em termos intelectuais, possam ser mais bem aceitos na sociedade competitiva, especialmente em relação ao mundo do trabalho, que representa a autorrealização do ser humano. Para a pessoa que possui deficiência mental, o número de serviços de atendimento específico de pro- fissionalização é cada vez mais reduzido. Nesse con- texto, a situação social do deficiente, na sociedade que estimula o consumismo e o lucro, é bastante ambígua, pois de um lado está a sociedade que objetiva altos lucros por meio da racionalização do trabalho, e de outro, a sociedade que enfatiza a necessidade de pre- paração satisfatória de mão de obra do deficiente para ser absorvida por esse mesmo mercado de trabalho. Apesar da Legislação Constitucional Brasileira assegurar alguns direitos das pessoas com deficiência, no que concerne ao deficiente mental, não especifica formas de garantias diferenciadas para os diferentes níveis de deficiências. Em decorrência disto, quando da contratação, o agente contratante opta, na maioria das vezes, por deficiências que, na sua avaliação, efe- tuada de modo leigo, considera menos dispendiosa, assim como procura se certificar de que o trabalho seja desenvolvido por alguém menos comprometido mentalmente, ou seja, o contratante, entre as diversas deficiências, exclui ainda mais aqueles que já são tão excluídos socialmente – os deficientes mentais. Segundo Silva (p.238), a Lei n. 8.213/91.9 não levanta um regime especial de trabalho, o que dificulta 12 a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho formal, com isto não se pretende assim, de- fender privilégios para pessoas com deficiência men- tal; contudo, é de conhecimento de todos, que diante da obrigatoriedade de se contratar, o empregador vai selecionando e limitando mais e mais a deficiência, o que significa que, entre os deficientes habilitados e reabilitados, os menos comprometidos serão os con- tratados. Assim, as pessoas com deficiência mental tornam-se cada vez mais excluídas e marginalizadas, seja pela sociedade que se considera desprovida de qualquer deficiência, seja por aqueles que apresentam deficiências distintas da mental. No Brasil, a concepção do empregador, de for- ma geral, vê as pessoas com deficiências como onero- sas ao mercado de trabalho, uma vez que dependem, em alguns casos, de adaptações ao ambiente ou mes- mo de acompanhamento profissional. A consequên- cia dessa realidade e da quase inexistência de regras que regulamentem a contratação compulsória pelo mercado de trabalho formal de pessoas com defici- ência mental, é a utilização de subterfúgios para não empregarem essas pessoas, além da utilização de em- presas terceirizadas. A dificuldade de avaliação dos programas de- senvolvidos pelas oficinas cria um quadro bastante pessimista em se tratando da autonomia dos chama- dos aprendizes. Existem várias contribuições conse- guidas pelas instituições de caráter privado, que tra- balham com o sistema de oficinas junto ao deficiente mental, mas são enormes as dificuldades vivenciadas pelos deficientes, em assegurar sua inserção social no 13 mercado de trabalho a partir dos programas existentes. Determinados programas, de caráter segrega- dor e marginalizador, necessitam ser reavaliados, em- bora se saiba que os problemas não se esgotam sim- plesmente pela sua qualidade duvidosa. Para Silva (2006, p.239), a profissionalização deve envolver levantamento de dados concretos, tanto em relação ao próprio deficiente quanto em relação à comunidade, é preciso avaliar a profissionalização da pessoa com deficiência mental para qualificar, pois é vi- ável desde que existam alternativas possíveis na prática. 14
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