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DISCIPLINA: Direito Constitucional ALUNO (A): Tamires Silva de Andrade Obs: caso fictício 1 - O presidente da república encaminhou para a Câmara Federal uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC n° 666) para instituir, diante de uma crise econômica pós COVID-19, um novo regime de direitos sociais trabalhistas. Após dois meses de tramitação, em razão de grave instabilidade e clamor social no Estado do Ceará, o presidente de república resolveu decretar intervenção federal por 11 meses. Redija um texto, com base nas limitações do poder reformador, justificando a viabilidade ou não de tramitação desta PEC. A atual Constituição brasileira foi promulgada em 1988 e bem se sabe que a sociedade passa por constantes mudanças e novos direitos são valorizados e precisam de amparo jurídico, sendo assim, o Poder Constituinte Derivado vem trazendo hipóteses de mudança/reforma/complemento na Constituição já vigente. Especificamente, o Poder Constituinte Reformador é responsável por fazer atualizações na Constituição. Assim, o Congresso Nacional que exerce esse poder, pode criar as denominadas PECs (Propostas de Emenda à Constituição). Desde a promulgação da atual Lei Magna brasileira, já foram mais de 100 emendas constitucionais, segundo o portal de notícias G1. Os legitimados para propor as PECs são: Presidente da República sozinho, 1/3 (um terço) da Câmara Federal ou 1/3 (um terço) do Senado Federal. Além disso, para a tramitação e posterior aprovação ou não dessas propostas, alguns limites são impostos: O primeiro trata-se dos limites procedimentais/formais, ou seja, há todo um processo para que a Proposta seja aprovada devendo ser passada inicialmente pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal, a qual aprovada passará por votação e deverá ser apoiada em dois turnos e em cada turno possuindo três quintos dos votos dos membros a seu favor; após, irá novamente passar por revisão da CCJ, dessa vez do Senado Federal e então deverá também ser aprovada em dois turnos e em cada turno com três quintos dos votos a favor, somente após essa passagem é que irá ser promulgada pela Câmara e Senado Federal juntos. ATIVIDADE O segundo limite elencado trata dos limites materiais, o conteúdo que deve conter na proposta de emenda a qual não pode suprimir determinadas matérias da Constituição. Assim, temos os limites materiais explícitos, os que estão definidos no art. 60 dentre eles, o voto direto e a separação dos poderes. Já os limites implícitos não estão delineados na CF, porém, decorre da interpretação, por exemplo, o direito de propriedade, este, mesmo não estando taxado no art. 60, não pode ser abolido da Constituição, uma vez que se mostra imprescindível para a povo. O terceiro critério e que vem a ser interessante no caso descrito trata dos limites circunstanciais. Segundo este critério, há algumas situações excepcionais nas quais o Congresso estará impedido de modificar a Constituição, quais sejam: Intervenção Federal, Estado de Sítio e Estado de Defesa. A Intervenção Federal é a retirada de autonomia pela União de algum Estado ou do Distrito Federal diante de hipóteses taxadas no art. 34 da CF/88, podendo ser para manter a integridade nacional, repelir invasão estrangeira, pôr termo a grave comprometimento da ordem pública, dentre outras hipóteses. Ela é decretada pelo Presidente da República ou ainda pode ser solicitada pelo Poder Executivo e Legislativo, requisitada pelo Poder Judiciário ou por ação do Procurador Geral da República. O Estado de Sítio pode ser acionado em três hipóteses elencadas no art. 137 da CF: Comoção grave de repercussão nacional, fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o Estado de Defesa e declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. É decretado pelo Presidente após ouvir os Conselhos da República e o Conselho da Defesa, além disso, deve ser autorizado pelo Congresso para que seja efetivado. O Estado de Defesa, por sua vez, busca reestabelecer a ordem pública ou a paz social podendo ser decretada em duas hipóteses taxadas no art.136 da CF: em grave iminente instabilidade institucional ou em calamidades de grandes proporções na natureza. Ademais, o Estado de Defesa deve ocorrer em locais restritos e determinados e antes de sua decretação devem ser ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, sendo apenas para fim de opiniões, não podendo eles impedir a decretação. Sendo assim, a PEC nº 666 que institui um novo regime de direitos sociais trabalhistas precisa atender a todos os critérios supracitados. Ela, por ter sido proposta pelo Presidente da República atende ao critério dos legitimados. Ainda, não foi criada durante vigência de qualquer um dos limites circunstanciais e nem suprime direitos já garantidos (não está claro essa intenção), o que obedece o limite material. Além disso, foi encaminhada à Câmara Federal, dando início a sua tramitação. Entretanto, apesar de que no momento de sua criação ainda não haver sido decretada a Intervenção Federal, durante esse estado, nenhuma PEC pode ser aprovada, tendo em vista o que aduz o §1º, art. 60 da CF ao dizer que “nenhuma Constituição poderá ser emendada durante a vigência de intervenção federal, estado de sítio ou estado de defesa”. Isso se deve ao fato de que durante o período de Intervenção, o país dedica “suas energias e forças” para a resolução do conflito. Desse modo, caso pudesse haver a aprovação de novas emendas constitucionais, muitas delas poderiam ferir os direitos já garantidos na constituição, pois, haveria a possibilidade de muitos dos membros se aproveitarem da fragilidade em que se encontra a nação para propor emendas até mesmo absurdas e ainda assim encontrariam apoio diante da inobservância do Congresso que estaria ocupado em resolver a problemática ensejadora da Intervenção. Porém, isso é matéria que se discute. Há duas correntes que divergem sobre esse conteúdo, sendo uma a favor da tramitação e criação das PECs durante o Estado de Exceção e outra que diz não ser possível a tramitação das PECs durante o estado de exceção. O que ambas encontram em comum é a aprovação, sendo vedado como descrito no art. 60 ao dizer que a Constituição não pode ser emendada. Entretanto, a tramitação da PEC nº 666, instituidora de novos direitos sociais trabalhistas, diante de uma corrente, deverá ter sua tramitação paralisada até que cesse a Intervenção, enquanto que outra corrente aduz que deverá ter sua tramitação suspendida. O que se entende é que a PEC não poderá ser aprovada, porém, como já supracitado diversas vezes, o artigo 60 da Constituição Federal é claro ao dizer que a Constituição não deverá ser emendada durante a vigência da intervenção Federal, no entanto, não veda a tramitação, sendo assim, pode uma PEC tramitar, só não poderá ser aprovada definitivamente para compor a Constituição durante o período que perdurar o estado de exceção. Com isso, a PEC nº 666 que institui um novo regime de direitos sociais trabalhistas poderá continuar seu processo de tramitação, contanto que ela não seja definitivamente aprovada e emendada durante os onze meses em que perdurar a Intervenção Federal, desse modo, obedecerá ao limite circunstancial imposto ao Poder Derivado Reformador e não será considerada inconstitucional.
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