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ALIENACAO FIDUCIARIA EM GARANTIA

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1
CURSO DE DIREITO
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA
SÃO PAULO
2021
SUMÁRIO
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA	3
1.1 Introdução	3
1.2	Regra da propriedade fiduciária no Código Civil de 2002	7
1.3	A alienação fiduciária de bens móveis	10
1.4	A alienação fiduciária de bens imóveis	12
REFERÊNCIAS	14
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA
1.1 Introdução
A princípio para se compreender a alienação fiduciária em garantia, é preciso expor a evolução legislativa do instituto, particularmente da propriedade fiduciária. A questão da propriedade fiduciária foi disciplinada, no Brasil, inicialmente, pelo art. 66 da Lei 4.728/1965, cujo objeto é o mercado de capitais, visando ao seu desenvolvimento.
Em 1969, a norma sofreu algumas alterações por força do Decreto Lei 911/1969 que modificou o art. 66 e introduziu nova disciplina processual no que tange à busca e apreensão do bem alienado. O objetivo da alienação fiduciária em garantia era estimular o consumo de bens de capital móveis e duráveis, tais como eletrodomésticos e veículos, dentre outros.
Segundo Tartuce, 
Por meio da alienação fiduciária, o bem a ser adquirido passa a ser da empresa credora, que tem a sua propriedade resolúvel; ficando o devedor com a posse da coisa na qualidade de depositário. O que se percebia, com o surgimento do instituto, era a existência de duas grandes vantagens para o credor fiduciário.[footnoteRef:1] [1: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.p.778.] 
Pode-se dizer que a primeira vantagem se refere ao fato de o credor tornar-se proprietário do bem adquirido, e não mero detentor de direito real sobre a coisa. Isso já fazia com que, por exemplo, no caso de eventual falência do devedor, o bem não pertencesse à massa falida, mas poderia ser exigido pelo credor.[footnoteRef:2] [2: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.p.778.] 
Determina ainda o art. 7º do Decreto-lei 911/1969 que, “na falência do devedor alienante, fica assegurado ao credor ou proprietário fiduciário o direito de pedir, na forma prevista na lei, a restituição do bem alienado fiduciariamente”. Entretanto, o credor não pode ficar com o bem de forma definitiva, devendo providenciar a sua venda.
A segunda vantagem para o credor era a equiparação do devedor a um depositário. Por isso, se o objeto adquirido perecesse, poderia o devedor ser preso civilmente, na condição de depositário infiel. 
Com receio da prisão, o devedor cuidava do bem com máxima diligencia assegurando ao credor maiores possibilidades de encontrar a garantia em caso de inadimplemento e posterior busca e apreensão. É importante deixar consignado que os verbos são utilizados no passado, pois foi substancialmente alterado o panorama jurisprudencial a respeito dessa prisão civil do devedor fiduciário.
Ou seja, para o devedor, a alienação traz também uma pequena vantagem, como o bem em garantia dificilmente se perde e o credor assume menores riscos no empréstimo, os juros desta modalidade se mostravam, no passado, mais atraentes e menores para o devedor. Diante do exposto, notou-se um crescimento na utilização da categoria, em especial para a aquisição de veículos e outros bens de consumo.
Nos anos 90 a 2000, a alienação fiduciária tornou-se tão eficiente que os agentes financeiros passaram a utilizá-la não nas hipóteses de compra de bens duráveis, mas sim como uma nova forma de garantia real, na qual o devedor transferia a propriedade de certo bem ao credor. 
Inverteu-se a alienação, onde o devedor transmite bem de sua propriedade ao credor, em garantia. Diante dessa transmissão, debateu-se, no passado, a validade e eficácia dessa garantia. Pacificando a matéria, em 1991, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 28, prescrevendo que “o contrato de alienação fiduciária em garantia pode ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor”.[footnoteRef:3] [3: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.p.781.] 
Pode-se dizer que a existência de um direito real de garantia, não sobre coisa alheia, mas sobre coisa própria justifica o tratamento da categoria. A alienação fiduciária em garantia é tratada por muitos como um contrato, notadamente como um contrato empresarial. Porém, conforme se retira do pensamento dos civilistas, em sua maioria, a alienação fiduciária em garantia não constitui um contrato, no sentido categórico e jurídico do termo, eis que o instituto se situa dentro do Direito das Coisas. 
Dessa forma entende-se que até a década de 90, a alienação fiduciária era restrita aos bens móveis, diante da redação do caput do art. 66-A, inserida pela Lei 4.728/1965 pela Medida Provisória 2.160-50/2001. Sendo que esta última não mencionava se o bem móvel poderia ser também fungível ou substituível. De qualquer modo, já não se admitia a alienação fiduciária de bem fungível, diante das dificuldades de sua individualização, requisito essencial à especialização da garantia real. Essa era a posição prevalecente da doutrina e da jurisprudência.
Em 1997, com a promulgação da Lei 9.514 para cuidar exclusivamente da alienação fiduciária de bens imóveis. Com isso, a alienação fiduciária ganhou novo campo, mormente por vantagens trazidas pela nova norma, destacando-se o leilão extrajudicial do bem garantido.
Por fim, com a edição do Código Civil de 2002, a alienação fiduciária recebeu um tratamento indireto, uma vez que a propriedade fiduciária passou a compor a norma geral privada, diante das regras inseridas entre os arts. 1.361 e 1.368-B, com as alterações posteriores pela Lei 13.043/2014. A atual codificação restringe a propriedade fiduciária aos bens móveis, conforme a dicção do seu primeiro comando citado do CC/2002, que enuncia no seu caput: “considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor”.
O Código Civil de 2002 possibilita a qualquer pessoa física ou jurídica a celebração de negócio jurídico pelo qual se dá em garantia certo bem móvel e infungível como propriedade fiduciária. Assim, a codificação privada tem incidência para as alienações fiduciárias de bens móveis celebradas por outras pessoas, que não as instituições financeiras.
A Lei 10.931/2004 (conhecida como Lei do Pacote Imobiliário), que alterou novamente a Lei 4.728/1965 e criou o art. 66-B. Com isso, passou a admitir a alienação fiduciária bens móveis e fungíveis (§ 3.º), bem como alterou as disposições processuais contidas no Decreto-lei 911/1969 e vários dispositivos referentes à Lei 9.514/1997, temas que ainda serão abordados nesta seção. Sucessivamente, a Lei 13.465/2017 também trouxe alteração no tratamento da alienação fiduciária em garantia de bens imóveis.
Segundo Melhim Namen Chalhub, 
A figura do negócio fiduciário, paralelamente à do negócio jurídico indireto, surgiu no final do século XIX, a partir da construção doutrinária de juristas alemães e italianos, pela qual se utiliza a transmissão do direito de propriedade com escopo de garantia, a exemplo do que já ocorria com a fidúcia romana e com o penhor da propriedade do direito germânico. O marco inicial da doutrina moderna do negócio fiduciário está na obra de Regelsberger, que o define em 1880 como ‘um negócio seriamente desejado, cuja característica consiste na incongruência ou heterogeneidade entre o escopo visado pelas partes e o meio jurídico empregado para atingi-lo.[footnoteRef:4] [4: CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.p.41.] 
Para o autor supracitado, a doutrina majoritária, a alienação fiduciária em garantia constitui modalidade de negócio fiduciário, pelas seguintes razões:
a) O fiduciário sempre deve agir com lealdade, devolvendo a propriedade assim que ocorra a condição suspensiva.
b) A transmissão da propriedade ocorre em dois momentos. De início, como garantia ao fiduciário, de forma transitória e temporária. Depois, se o fiduciantecumprir com as obrigações assumidas, o bem lhe retornará de forma automática, independentemente de qualquer interpelação.[footnoteRef:5] [5: CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.p.154.] 
Além do conceito de negócio fiduciário, é interessante verificar a utilização do termo propriedade fiduciária. Enquanto a legislação extravagante como um todo faz menção à alienação fiduciária em garantia, o Código Civil em vigor optou por utilizar aquela expressão. A razão de a codificação de 2002 fazer uso da palavra propriedade fiduciária e não alienação remonta às diferenças conceituais envolvendo os institutos em questão.
A Lei 9.514/1997, a alienação fiduciária em garantia ocorre quando o devedor ou fiduciante, com o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor – ou fiduciário, a propriedade resolúvel de coisa imóvel (art. 22). De fato, a alienação fiduciária pressupõe a transferência da propriedade por meio de um negócio jurídico obrigacional, um contrato em sentido de instrumento negocial.[footnoteRef:6] [6: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.p.782.] 
A alienação fiduciária é a convenção que somente produz efeitos entre os negociantes, tendo efeitos contratuais. Como consequência, com a alienação surge a propriedade fiduciária, esta sim um direito real de garantia que produz efeitos erga omnes e por isso necessita de algumas formalidades para existir. Extrapola-se o campo obrigacional para se adentrar no terreno dos direitos reais.
Nesse sentido, pode-se denominar o negócio jurídico existente entre as partes de alienação fiduciária ou de cessão fiduciária. 
1.2 Regra da propriedade fiduciária no Código Civil de 2002
O CC de 2002 trata da propriedade fiduciária, definidora do conteúdo da alienação fiduciária em garantia nos casos de bens moveis infungíveis, nos arts.1.361 a 1.368-A. 
A matéria está colocada logo após o tratamento da propriedade resolúvel, uma vez que constitui modalidade desta, conforme apontava a doutrina clássica. Segundo Gomes, “ Advirta-se que as normas que serão ora estudadas não se aplicam à alienação fiduciária em garantia de bem imóvel, submetida à Lei 9.514/1997, pelo menos em regra”.[footnoteRef:7] [7: GOMES, Orlando. Direitos reais.  de acordo com o Código Civil de 2002. Atualizador: Luiz Edson Fachin. Coord. Edvaldo Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2006.p.270.] 
O diploma civil diz que concebe a propriedade como resolúvel, o que também é a estrutura da alienação fiduciária. O Código Civil tem incidência para as alienações fiduciárias em garantia de bens móveis não regidas pela legislação especial, ou seja, não celebradas por instituições financeiras.
Segundo Jones Alves e Mario Luiz Delgado.
Constitui-se a propriedade fiduciária “com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro” (art. 1.361, § 1.º, do CC). O antigo Projeto Ricardo Fiúza, atual PL 699/2011, pretende alterar o comando do Código Civil substituindo o ou destacado por um e, para que não paire qualquer dúvida quanto à necessidade do duplo registro, o que traduz o entendimento majoritário.[footnoteRef:8] [8: ALVES, Jones Figueirêdo; DELGADO, Mário Luiz. Código Civil anotado. São Paulo: Método, 2005.p.685.] 
O sentido atual do texto da codificação constava, parcialmente, do art. 1.º do Decreto-lei 911/1969. Todavia, o dispositivo anterior mencionava que “alienação fiduciária somente se prova por escrito e seu instrumento, público ou particular, qualquer que seja o seu valor, será obrigatoriamente arquivado, por cópia ou microfilme, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do credor, sob pena de não valer contra terceiros, e conterá, além de outros dados, os seguintes”. Como se nota, o Código Civil faz menção ao domicílio do devedor, e não ao credor, devendo prevalecer para os casos de sua incidência, por ser norma posterior que tratou inteiramente da matéria.
Salienta-se que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em decisão de outubro de 2015, reconheceu não ser obrigatória a realização de registro público dos contratos de alienação fiduciária em garantia de veículos automotores, pelas serventias extrajudiciais de registro de títulos e documentos. Nos termos do voto do Relator Ministro Marco Aurélio, o pacto firmado pelas partes “é perfeitamente existente, válido e eficaz”, sem que seja necessário qualquer registro, “o qual constitui mera exigência de eficácia do título contra terceiros”. Ainda conforme o Ministro Relator: “como no pacto a tradição é ficta e a posse do bem continua com o devedor, uma política pública adequada recomenda a criação de meios conducentes a alertar eventuais compradores sobre o real proprietário do bem, evitando fraudes, de um lado, e assegurando o direito de oposição da garantia contra todos, de outro”. Porém, entendeu o julgador que a exigência de registro em serventia extrajudicial acarretaria ônus e custos desnecessários ao consumidor, além de não conferir ao ato a publicidade adequada: “para o leigo, é mais fácil, intuitivo e célere verificar a existência de gravame no próprio certificado do veículo em vez de peregrinar por diferentes cartórios de títulos e documentos ou ir ao cartório de distribuição nos estados que contam com serviço integrado em busca de informações”. A decisão foi prolatada no julgamento conjunto do Recurso Extraordinário 611.639 e das ADIns 4.227 e 4.333, devendo, assim, ser lido o art. 1.361, § 1.º, do Código Civil.[footnoteRef:9] [9: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.p.785.] 
Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor fiduciante possuidor direto da coisa (art. 1.361, § 2.º, do CC). O credor fiduciário é possuidor indireto, pela condição de proprietário do bem.
Isto posto, a propriedade superveniente ou novo domínio, adquirido pelo devedor fiduciante, torna eficaz, desde o arquivamento, a transferência da propriedade fiduciária (art. 1.361, § 3.º, do CC).
Nesse diapasão Tartuce pontua que, 
Mais uma vez, há proposta de alteração pelo antigo Projeto Fiúza, passando a estabelecer o comando que “A propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz a transferência da propriedade fiduciária”. Segundo as justificativas da proposição, “a sugestão é do professor Joel Dias Figueira Júnior. Diz ele que ‘verificado de maneira cabal o adimplemento do contrato de alienação fiduciária em todos os seus termos, será adquirida a propriedade plena superveniente do bem móvel infungível pelo então devedor possuidor direto, tornando-se eficaz de pleno direito a sua transferência, segundo se infere do § 3.º do art. 1.361. (...) a alusão à eficácia da aquisição, referindo-se ao tempo do arquivamento do contrato de alienação fiduciária no Registro de Títulos e Documentos. (...) é desnecessária e em manifesta discrepância com a LRP e com a terminologia do próprio NCC.[footnoteRef:10] [10: TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.p.785.] 
Cumpre dizer que antes de vencida a dívida, o devedor fiduciante, às suas expensas e riscos, pode usar a coisa segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário: a) a empregar na guarda da coisa a diligência exigida por sua natureza; b) a entregá-la ao credor fiduciante, se a dívida não for paga no vencimento (art. 1.363 do CC/2002). Esse é o comando legal que consagra a premissa segundo a qual o devedor fiduciante tem as obrigações similares às de um depositário.
Logo, não não cumprindo com os seus deveres obrigacionais, poderia ser requerida a sua prisão civil, nos termos do art. 652 do CC/2002. Contudo, a possibilidade de prisão civil do depositário foi revista pelo Supremo Tribunal Federal, por meio de julgadosque se consolidaram no ano de 2008, diante da edição da Emenda Constitucional 45/2004. Sucessivamente, surgiu a Súmula Vinculante 25 afastando a possibilidade dessa prisão civil, em qualquer modalidade de depósito.
1.3 A alienação fiduciária de bens móveis
Pode-se dizer que o contrato de alienação fiduciária de bens móveis é título constitutivo da propriedade fiduciária, sendo caracterizada pelo art. 66 da Lei 4.728, de 1965, que, ao estruturar as bases do Mercado de Capitais, com novas formas de captação e aplicação de recursos do público, criou a garantia fiduciária visando suprir a insuficiência das garantias incidentes sobre bens móveis, como o penhor e a reserva de domínio, que já então não eram compatíveis com as características da circulação do crédito na sociedade contemporânea. A redação do art. 66 da Lei 4.728/1965 foi alterada pelo Decreto-lei 911/1969.
A matéria veio a ser inserida no Código Civil de 2002, que regulamentou a propriedade fiduciária de bens móveis, em garantia, nos arts. 1.361 a 1.368-B.[footnoteRef:11] [11: Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. § 1º Constitui-se a propriedade fiduciária com a transcrição do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro. § 2º Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa.] 
Diferente do que ocorria com a Lei 4.728/1965, o Código Civil não restringe a utilização dessa garantia ao mercado de capitais, legitimando qualquer pessoa a contratar sua aplicação em garantia de pagamento de dívida. Mais tarde, a Lei 10.931, de 2 de agosto de 2004, derrogou os arts. 66 e 66-A da Lei 4.728/1965 e nela introduziu o art. 66-B, definindo algumas características especiais para constituição de propriedade fiduciária em garantia no âmbito do mercado financeiro e de capitais. Além disso, o § 3º do mesmo art. 66-B instituiu a alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de direitos sobre bens móveis, bem como sobre títulos de crédito em geral.
Logo, existem no direito positivo brasileiro duas espécies de propriedade fiduciária de bens móveis, para fins de garantia: uma de aplicação geral como garantia de dívida, sem restrição quanto à pessoa do credor, regulamentada pelos arts. 1.361 a 1.368-B do Código Civil, e outra exclusivamente para garantia de créditos constituídos no âmbito do mercado financeiro e de capitais, bem como do fisco e da previdência social, caracterizada pelas disposições especiais definidas pelo art. 66-B e seus parágrafos da Lei 4.728/1965.
Segundo Melhim Namen Chalhub, 
Quanto às normas processuais, a mesma Lei 10.931/2004 e a Lei 13.043/2015 alteraram os procedimentos relativos à ação de busca e apreensão do bem objeto da propriedade fiduciária, dando nova redação ao art. 3º do Decreto-lei 911/1969 e restringindo esse procedimento de busca e apreensão às operações do mercado financeiro e de capitais e às garantias dos créditos fiscais e previdenciários. Assim, de acordo com essa legislação, dois são os procedimentos aplicáveis à propriedade fiduciária de bens móveis: a ação de reintegração de posse, de que tratam os arts. 560 e seguintes do Código de Processo Civil, e a ação autônoma de busca e apreensão, de que trata o art. 3º do Decreto-lei 911/1969, sendo que para esta última só estão legitimadas as pessoas jurídicas de direito privado integrantes do mercado financeiro e de capitais e as pessoas jurídicas de direito público titulares de créditos fiscais e previdenciários.[footnoteRef:12] [12: CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.p.243.] 
Por fim vale destacar que a propriedade fiduciária em garantia difere dos direitos reais limitados de garantia, quais sejam o penhor, a anticrese e a hipoteca, porque nestes o titular da garantia tem um direito real na coisa alheia, tendo em vista que o bem dado em garantia, embora vinculado ao cumprimento da obrigação, continua no patrimônio do devedor, enquanto na propriedade fiduciária a garantia incide em coisa própria do credor, já que o devedor lhe transmite a propriedade do bem, embora em caráter resolúvel.
1.4 A alienação fiduciária de bens imóveis
A Lei 9.514, de 1997, ao dispor sobre a alienação fiduciária de bens imóveis, veio suprir importante lacuna do sistema de garantias do direito brasileiro, dotando o ordenamento de instrumento que permite sejam as situações de mora, nos financiamentos imobiliários e nas operações de crédito com garantia imobiliária, recompostas em prazos compatíveis com as necessidades da economia moderna, a exemplo do que há muito se verifica no âmbito dos financiamentos de bens móveis.
De acordo com José Alves, 
As garantias existentes nos sistemas jurídicos de origem romana, e são elas a hipoteca, o penhor e a anticrese, não mais satisfazem a uma sociedade industrializada, nem mesmo nas relações creditícias entre pessoas físicas, pois apresentam graves desvantagens pelo custo e morosidade em executá-las.[footnoteRef:13] [13: ALVES, José Carlos Moreira. Alienação fiduciária em garantia. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979. P.3 Apud CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.p.305.] 
Considerando que a morosidade da execução das garantias inibe a aplicação de recursos no setor imobiliário e a concessão de empréstimos e financiamentos com garantia imobiliária, a Lei 9.514/1997 tem por objetivo criar as condições necessárias para revitalização e expansão do crédito imobiliário e, partindo dessa premissa de que o bom funcionamento do mercado, com permanente oferta de crédito, depende de mecanismos capazes de imprimir eficácia e rapidez nos processos de recomposição das situações de mora, regulamentou a alienação fiduciária como garantia nos negócios imobiliários.
Por isso, a aplicação da propriedade fiduciária de bens imóveis em garantia há de se fazer com mais frequência no mercado de produção e de comercialização de imóveis com pagamento parcelado, dado que é aí que se verifica a concessão de crédito imobiliário em maior escala.
Segundo Chalhub,
A lei que regulamenta essa garantia não tem sentido restritivo, permitindo, ao contrário, que a propriedade fiduciária de bem imóvel seja constituída para garantia de quaisquer obrigações, pouco importando o fato de ter sido regulamentada no contexto de uma lei na qual prepondera a regulamentação de operações típicas dos mercados imobiliário, financeiro e de capitais. São nesse sentido as disposições do § 1º do art. 22 da Lei 9.514/1997, pelo qual a alienação fiduciária pode ser contratada por qualquer pessoa, física ou jurídica, não sendo privativa das entidades que operam no sistema de financiamento imobiliário, e o art. 51 da Lei 10.931/2004, que permite a constituição de propriedade fiduciária para garantia de quaisquer obrigações, em geral.[footnoteRef:14] [14: CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.p.305.] 
Quando há falta de pagamento de alguma parcela de financiamento a lei adota um conjunto de procedimentos semelhantes a lei de loteamento, atribuindo ao Oficial do competente Registro de Imóveis as diligências de notificação para purgação de mora; efetivado o pagamento pelo devedor-fiduciante, o Oficial do Registro entregará ao credor as quantias recebidas ou, não purgada a mora, certificará esse fato e promoverá os assentamentos necessários à consolidação da propriedade em nome do credor-fiduciário. 
Uma vez consolidada a propriedade, o credor deverá promover a realização de dois leilões para venda do imóvel, apropriando-se do produto da venda até o limite do seu crédito e entregando ao devedor o quantumque exceder à dívida, encargos e despesas. Se, no segundo leilão, não se alcançar o valor da dívida, encargos e despesas, o credor exonerará o devedor do pagamento da diferença, dando-lhe quitação da dívida.
É previsto pela lei a transmissão dos direitos e obrigações, tanto do credor como do devedor, pelo que o cessionário do crédito passará a ser o proprietário fiduciário do bem, enquanto o cessionário do débito passará a ocupar a posição do fiduciante, investido do direito expectativo à obtenção da propriedade plena sobre o bem.[footnoteRef:15] [15: CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.p.306.] 
Por fim, na hipótese de insolvência do fiduciante, é assegurado ao fiduciário restituição do bem, na forma pertinente da legislação.
REFERÊNCIAS 
ALVES, Jones Figueirêdo; DELGADO, Mário Luiz. Código Civil anotado. São Paulo: Método, 2005.
ALVES, José Carlos Moreira. Alienação fiduciária em garantia. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979.
CHALHUB, Melhim Namem. Alienação fiduciária: negócio fiduciário. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
GOMES, Orlando. Direitos reais.  de acordo com o Código Civil de 2002. Atualizador: Luiz Edson Fachin. Coord. Edvaldo Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2020.

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