RESUMO POR FICHAS - DIREITO PENAL Viviane Amorim Material do @mp_estadual 1 TEORIAS SOBRE O CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME 1. Posição na dogmática penal Infração penal Crime Conceitos Critério analítico Teoria bipartida (bipartite) Crime é fato típico e ilícito. Teoria tripartida (tripartite) Crime é fato típico, ilícito e praticado por agente culpável. Teoria quadripartida (quadripartite) Crime é fato típico, ilícito, praticado por agente culpável e punível. 2. Qual a teoria adotada no Brasil? a) Código Penal: aparentemente, adota a teoria bipartida (sim, ela mesmo!). Por quais motivos? O Título II da Parte Geral do CP trata “Do crime”, enquanto o Título III cuida da “imputabilidade penal”, elemento da culpabilidade. Logo, crime seria fato típico e ilícito. Do mesmo modo, quando versa sobre as causas de exclusão da ilicitude, o CP, em seu art. 23, prevê que “não há crime”. Ao contrário, ao referir-se às causas excludentes da culpabilidade (arts. 26, caput, e 28, § 1º, por exemplo), o CP estabelece que o autor é “isento de pena”. b) Doutrina majoritária: teoria tripartida. 3. Outros conceitos de crime Além do conceito analítico, acima explicado, existem as seguintes definições, com base nos critérios formal, substancial e criminológico: Conceito formal ou legal Crime é aquilo que a lei define como tal. De acordo com a Lei de Introdução ao CP: são as infrações penais cujo preceito secundário comina pena de reclusão ou detenção. Conceito substancial ou material Crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Conceito criminológico Crime é um fenômeno social, caracterizado a partir dos seguintes parâmetros: 1. Incidência massiva; 2. Incidência aflitiva; 3. Persistência espaço-temporal; 4. Inequívoco consenso acerca da punição. 2 VELOCIDADES DO DIREITO PENAL Por que velocidades? A terminologia diz respeito ao ritmo observado na aplicação do Direito Penal: quanto mais direitos e garantias processuais são asseguradas, mais lento o processo de aplicação da pena; quanto menos direitos e garantias são reconhecidas, mais rápido o processo de aplicação da consequência jurídico-penal. 1ª Velocidade 2ª Velocidade 3ª Velocidade 4ª Velocidade 5ª Velocidade DP nuclear DP periférico DP do Inimigo Neopunitivismo DP do risco Jesús-Maria Silva Sánchez Jesús-Maria Sil- va Sánchez Jakobs Daniel Pastor Não há consenso sobre a existência dessa 5ª velocidade Aplica penas privativas de liberdade. Aplica penas alternativas à prisão. Aplica penas graves e severas. Busca a todo custo o aumento do arsenal punitivo do Estado (panpenalismo). Maior presença do controle policial. Observa todas as garantias e direitos processuais. Permite a flexibilização dos direitos e garantias processuais, proporcional à menor intensidade da sanção. A despeito da gravidade da sanção, propõe a flexibilização ou mesmo a supressão de direitos e garantias materiais e processuais. Relaciona-se com o DP Internacional, caracterizado pelo alto nível de incidência política e pela seletividade, com elevado desrespeito às regras básicas do poder punitivo. DP tem o objetivo de responsabilizar os autores, diante da agressividade verificada na sociedade contemporânea. SOBRE O DIREITO PENAL DO INIMIGO (3ª VELOCIDADE): 1º. O inimigo não pode gozar de direitos processuais. 2º. Submete-se a um juízo de periculosidade (DP prospectivo). 3º. Antecipação da esfera de proteção da norma jurídica, para abranger inclusive atos preparatórios, sem redução quantitativa da pena. 4º. Novos meios de investigação, como ação controlada e infiltração de agentes. 5º. Mitigação do princípio da reserva legal. 6º. Condutas descritas em tipos de mera conduta e perigo abstrato (flexibiliza o princípio da lesividade). 7º. Descrição vaga dos crimes e das penas (flexibiliza o princípio da legalidade). 8º. Preponderância do Direito Penal do Autor (flexibiliza o princípio da exteriorização do fato). 3 9º. "Leis de luta e combate", leis de ocasião (Direito Penal de Emergência). 10º. Endurecimento da execução penal (Ex: Regime Disciplinar Diferenciado - RDD). 3 LUGAR DO CRIME / TEMPO DO CRIME Mnemônico: L.U.T.A. Lugar = Ubiquidade / Tempo = Atividade 3 T eo ri as Teoria da atividade ou da ação TEMPO DO CRIME (art. 4º do CP) Teoria do resultado Teoria da ubiquidade ou mista LUGAR DO CRIME (art. 6° do CP) 4 COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS Teoria da ponderação unitária ou global Teoria da ponderação diferenciada Não permite a combinação de leis penais p/ a obtenção da norma mais favorável que deve incidir no caso concreto. A solução deve ser buscada no exame de cada diploma penal, em seu unidade. Daí falar-se em ponderação unitária ou global. É a posição do STF e do STJ (súmula 501). Admite a combinação de leis penais na busca da norma mais favorável ao réu. Pode o intérprete, assim, combinar dispositivos de leis diferentes para obter a solução mais favorável ao acusado. Daí falar-se em ponderação diferenciada. Fundamento: a combinação de leis viola os princípios da legalidade e da separação de poderes, já que a partir dela obtém o intérprete uma lei distinta dos diplomas originais (tertium genus). Fundamento: ao combinar as leis, o juiz não cria lei nova, apenas transita dentro dos limites conferidos pelo legislador. Exemplo: tráfico de drogas (pena mínima) Exemplo: tráfico de drogas (pena mínima) Lei n° 6.368/76 Lei n° 11.343/06 Combina as Leis n° 6.368/76 e 11.343/06 Pena-base mínima: 3 anos Não há minorante Pena mínima = 3 anos Pena-base mínima: 5 anos Minorante: 1/6 a 2/3 Pena mínima = 1 ano e 8 meses Pena-base mínima da Lei 6.368/76: 3 anos Minorante do art. 33, § 4°, da Lei n° 11.343/06: 1/6 a 2/3. Pena mínima = 1 ano. Se o acusado não reunir os requisitos do art. 33, § 4°, da Lei n° 11.343/06, incide a antiga Lei de Tóxicos, em sua integridade. Se o acusado reunir os requisitos do art. 33, § 4°, da Lei n° 11.343/06, incide a nova Lei de Drogas, também em sua integridade. Se o acusado reunir os requisitos, do art. 33, § 4°, da Lei n° 11.343/06, o crime praticado sob a vigência da antiga Lei de Tóxicos poderia ser apenado com somente 1 ano de reclusão, além da multa. Súmula 501, STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis. RE 600.817, STF: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. PENAL. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. CRIME COMETIDO NA VIGÊNCIA DA LEI 6.368/1976. APLICAÇÃO RETROATIVA DO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006. COMBINAÇÃO DE LEIS. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I – É inadmissível a aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 à pena relativa à condenação por crime cometido na vigência da Lei 6.368/1976. Precedentes. II – Não é possível a conjugação de partes mais benéficas das referidas normas, para criar-se uma terceira lei, sob pena de violação aos princípios da legalidade e da separação de Poderes. III – O juiz, contudo, deverá, no caso concreto, avaliar qual das mencionadas leis é mais favorável ao réu e aplicá-la em Combinação de leis penais Teoria da ponderação unitária ou global Teoria da ponderação diferenciada 5 sua integralidade. IV - Recurso parcialmente provido. (RE 600817, Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 07/11/2013, REPERCUSSÃO GERAL - PUBLIC 30-10-2014). 5 CONCEITO DE CONDUTA