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Leticia Alves Queiroz Resumo livro Patologia Processo Gerais 6ª Edição TROMBOSE As três principais alterações que levam à formação de um trombo (chamadas de tríade de Virchow) são: lesão endotelial, estase ou turbulência do fluxo sanguíneo e hipercoagulabilidade sanguínea. Lesão endotelial: A lesão endotelial é particularmente importante para a formação de trombos no coração ou na circulação arterial, onde normalmente as altas taxas do fluxo sanguíneo podem impedir a coagulação por prevenir a adesão plaquetária e diluir os fatores de coagulação ativados. Assim, a formação de trombos dentro das câmaras cardíacas (por exemplo, após lesão endocárdica devido a infarto do miocárdico), sobre as placas ulceradas nas artérias ateroscleróticas ou em locais de lesão vascular inflamatória ou traumática(vasculite) é uma grande consequência de uma lesão da célula endotelial. A perda física do endotélio pode levar à exposição da MEC subendotelial, a adesão das plaquetas, à liberação do fator tecidual, e à depleção local de PGI2 e ativadores do plasminogênio. No entanto, deve ser ressaltado que o endotélio não precisa estar desnudo ou fisicamente rompido para contribuir para o desenvolvimento da trombose; qualquer perturbação no equilíbrio dinâmico das atividades pró e antitrombótica do endotélio pode influenciar os eventos de coagulação local. Uma disfunção endotelial pode ser induzida por uma ampla variedade de injúrias, incluindo hipertensão, fluxo sanguíneo turbulento, endotoxinas bacterianas, lesões por radiação, anormalidades metabólicas, tais como a homocistinemia ou hipercolesterolemia, e toxinas absorvidas da fumaça do cigarro. Alterações no Fluxo Sanguíneo normal: A turbulência contribui para a trombose arterial e cardíaca por causar lesão ou disfunção endotelial, assim como pela formação de bolsões contracorrentes e locais de estase; a estase é o fator principal no desenvolvimento de um trombo venoso. A estase e a turbulência promovem a ativação endotelial, aumentando a atividade pró-coagulante, adesão leucocitária, entre outros eventos, em parte através do fluxo induzido por alterações na expressão gênica das células endoteliais; rompem o fluxo laminar e permitem que as plaquetas entrem em contato com o endotélio e previnem a limpeza e a diluição aos fatores de coagulação ativados pelo fluxo sanguíneo fresco e o influxo dos inibidores dos fatores de coagulação. A turbulência e a estase contribuem para a trombose em várias condições clínicas. As dilatações aórticas e arteriais, denominadas aneurismas, causam estase local e são, portanto, sítios favoráveis de trombose. O infarto agudo do miocárdio resulta em áreas do miocárdio não contrátil e, algumas vezes, em aneurismas cardíacos; ambos estão associados a estase e fluxo anormal que promovem a formação de trombos cardíacos murais. Hipercoagulabilidade: A hipercoagulabilidade (também chamada de trombofilia) contribui com menor frequência para o estado trombótico, mas é um importante componente no processo e, em algumas situações, pode predominar. É imprecisamente definida como qualquer alteração nas vias da coagulação que predispõe à trombose, podendo ser dividida em desordens primárias (genéticas) e secundárias (adquiridas). Leticia Alves Queiroz • Aproximadamente 2% a 15 % dos caucasianos carregam uma mutação em um único nucleotídeo do gene do fator V (chamada de mutação de Leiden). A mutação resulta em uma substituição de uma glutamina por uma arginina na posição 506, que torna o fator V resistente à clivagem da proteína C, como resultado desta mutação, uma importante via contrarregulatória antitrombótica é perdida. • A mudança de um único nucleotídeo (G20210A) na região não traduzida 3’ do gene da protrombina é outra mutação bastante comum em indivíduos com hipercoagulabilidade (1% a 2 % da população), sendo associada a um aumento dos níveis de protrombina e a um aumento de três vezes do risco para a trombose venosa. • Os elevados níveis de homocisteína contribuem para trombose arterial e venosa, assim como o desenvolvimento de aterosclerose. Os efeitos pró- trombóticos da homocisteína podem ser devidos a ligações tio éster formadas entre os metabólitos da homocisteína e uma variedade de proteínas, incluindo o fibrinogênio. • As causas hereditárias raras da hipercoagulabilidade primária incluem as deficiências dos anticoagulantes, como a antitrombina III, proteína C e proteína S. Os indivíduos afetados frequentemente apresentam trombose venosa e tromboembolismo recorrente na adolescência ou no início da vida adulta. • Ao contrário das doenças hereditárias, a patogenia da trombofilia adquirida é frequentemente multifatorial. Em alguns casos (por exemplo, insuficiência cardíaca ou trauma) a estase ou a lesão vascular podem ser mais importantes. A hipercoagulabilidade devido à utilização de contraceptivos orais ou ao estado hiperestrogênico da gravidez é provavelmente causada pelo aumento da síntese hepática dos fatores de coagulação e pela síntese reduzida dos anticoagulantes. Nos casos de câncer disseminado, a liberação de produtos pró-coagulantes pelo tumor predispõe a trombose. A hipercoagulabilidade observada com o avanço da idade pode ser devido à redução de PGI2 endotelial. O tabagismo e a obesidade promovem a hipercoagulabilidade por mecanismos desconhecidos. • Síndrome da Trombocitopenia Induzida pela Heparina (TIH): A TIH ocorre após a administração de heparina não fracionada, que pode induzir o aparecimento de anticorpos que reconhecem complexos de heparina e fator plaquetário 4 na superfície de plaquetas, assim como complexos de moléculas semelhantes à heparina e proteínas semelhantes ao fator plaquetário 4 nas células endoteliais. Estes efeitos sobre as plaquetas e células endoteliais danificadas combinam-se para produzir um estado pró-trombótico, mesmo em face da administração de heparina e da baixa contagem de plaquetas. • Síndrome do anticorpo antifosfolipídio: Essa síndrome apresenta manifestações clínicas proteicas, incluindo tromboses recorrentes, abortos repetidos, vegetações na válvula cardíaca e trombocitopenia. Dependendo do leito vascular envolvido, as apresentações clínicas podem incluir a embolia pulmonar (seguida de trombose venosa das extremidades inferiores), hipertensão pulmonar (de embolia pulmonar subclínica recorrente), acidente vascular cerebral, infarto intestinal ou hipertensão renovascular. A perda fetal é atribuída à inibição mediada por anticorpo da atividade do t-PA, necessária à invasão trofoblástica do útero. A síndrome do anticorpo antifosfolipídio é também uma causa de microangiopatia renal, que resulta em insuficiência renal associada a múltiplas tromboses capilares e arteriais. Estes autoanticorpos in vivo induzem um estado de hipercoagulabilidade, causando lesão endotelial pela ativação direta das plaquetas e do complemento e através da interação com domínios catalíticos dos fatores de coagulação. No entanto, in vitro (na ausência de plaquetas e células endoteliais), os autoanticorpos interferem com fosfolipídios e, assim, inibem a coagulação. Leticia Alves Queiroz Na síndrome antifosfolipídica primária, os pacientes apresentam apenas as manifestações de um estado de hipercoagulabilidade e não mostram evidências de outras doenças autoimunes; ocasionalmente, isso ocorre em associação a certas drogas ou infecções. Morfologia: O tamanho e a forma dos trombos dependem do local de origem e da sua causa. Os trombos arteriais ou cardíacos geralmente iniciam nos locais de turbulência ou de lesão endoteliais; trombos venosos, ocorrem caracteristicamente em locais de estase. Os trombos são focalmente ligados à superfície vascular subjacente; os trombos arteriais tendem a crescer em uma direção retrógrada do ponto de ligação, enquanto os trombos venosos estendem-sena direção do fluxo sanguíneo (assim ambos se propagam em direção ao coração). A parte propagadora de um trombo está frequentemente pouco fixada e, portanto, propensa a fragmentação e embolização. Os trombos apresentam, macro e microscopicamente, laminações aparentes denominadas de linhas de Zahn, que representam depósitos pálidos de fibrina e plaquetas alterando-se com camadas escuras cheias de glóbulos vermelhos. Essas laminações significam que um trombo foi formado no fluxo sanguíneo e sua presença pode, portanto, distinguir a trombose que ocorre antes da morte, do coágulo brando não laminado que ocorre após o óbito. Os trombos que ocorrem nas câmaras cardíacas ou no lúmen da aorta são designados trombos murais. A contração anormal do miocárdio (arritmias, miocardiopatia dilatada ou infarto do miocárdio) ou lesão endocárdica (miocardite ou cateterismo traumático) promovem trombos cardíacos murais, enquanto a placa aterosclerótica ulcerada a dilatação aneurismática são os precursores dos trombos aórticos. Os trombos arteriais são frequentemente oclusivos; as localizações mais comuns, em ordem decrescente de frequência, são as artérias coronárias, cerebrais e femorais. Consistem em malha friável de plaquetas, fibrina, glóbulos vermelhos e leucócitos degenerados. Embora os trombos sejam, em geral, sobrepostos em uma placa aterosclerótica rompida, outras lesões vasculares (vasculite e trauma) podem ser a causa de base. A trombose venosa (flebotrombose) é quase invariavelmente oclusiva, com o trombo formando um longo trajeto no lúmen. Como esses trombos formam-se na circulação venosa lenta, eles tendem a conter mais eritrócitos (e relativamente poucas plaquetas), e portanto, são conhecidos como trombos vermelhos ou de estase. As veias dos membros inferiores são mais comumente envolvidas (90% dos casos), porém as extremidades superiores, o plexo periprostático ou veias ovarianas e periuterinas também podem desenvolver trombos venosos. Em circunstâncias especiais, também podem ocorrer nos seios durais, na veia porta ou nas veias hepáticas. Os coágulos após a morte são gelatinosos com uma porção vermelho-escura pendente, onde os glóbulos vermelhos se instalaram pela gravidade, e uma porção superior amarela, semelhante à “gordura de frango”, que não estão habitualmente aderidas à parede subjacente. Os trombos nas válvulas cardíacas são chamados de vegetações. As bactérias ou fungos transportados pelo sangue podem aderir previamente às válvulas danificadas (por exemplo, devido a doença reumática cardíaca) ou podem causar diretamente danos à válvula; ambos os casos, a lesão endotelial e a perturbação do fluxo sanguíneo podem induzir a formação de grandes massas trombóticas (endocardite infecciosa). Destino do trombo: Os trombos são submetidos a alguma combinação dos quatro eventos seguintes: • Propagação: os trombos acumulam plaquetas e fibrinas adicionais. Leticia Alves Queiroz • Embolização: os trombos desalojam-se e percorrem outros locais nas vasculatura. • Dissolução: A dissolução é o resultado da fibrinólise, que pode conduzir a uma rápida diminuição e desaparecimento total dos trombos recentes. Em contrapartida, a extensa deposição de fibrina e a ligação cruzada nos trombos mais velhos os tornam mais resistentes à lise. Essa distinção explica a razão da administração terapêutica de agentes fibrinolíticos, como o t-PA (por exemplo, no caso da trombose coronariana aguda) ser efetiva apenas quando administrada nas primeiras horas após um episódio trombótico. • Organização e recanalização: os trombos mais velhos tornam-se organizados pela entrada de células endoteliais, células do músculo liso e fibroblastos. Consequências Clínicas: os trombos são significativos, pois eles provocam a obstrução de artérias e veias de êmbolos. O efeito predominante depende do local que ocorre a trombose. Os trombos venosos podem causar congestão venosa e edema em leitos vasculares distais a uma obstrução, mas eles são muito mais importantes pela sua capacidade de embolizar-se nos pulmões e levar a óbito. De forma inversa, apesar de os trombos arteriais embolizarem-se e causarem infartos, uma oclusão trombótica em um local crítico (por exemplo, uma artéria coronária) pode apresentar consequências clínicas importantes. Trombose Venosa (Flebotrombose): Os trombos venosos superficiais ocorrem, normalmente, nas veias safenas, no contexto das varicosidades. Embora tais trombos possam causar congestão local, tumefação, dor e sensibilidade, eles raramente embolizam. No entanto, o edema local e a drenagem venosa deficiente predispõem a pele sobrejacente a infecções após traumas leves e ao desenvolvimento de úlceras varicosas. A trombose venosa profunda (TVP) nas grandes veias da perna ao nível ou acima do joelho (por exemplo, veias poplíteas, femorais e ilíacas) - é mais grave, pois esses trombos, com maior frequência, embolizam-se nos pulmões e ocasionam infarto pulmonar. Os fatores predisponentes comuns incluem o repouso e a imobilização ( pois reduzem a ação de ordenha dos músculos da perna, resultando em redução do retorno venoso) e a insuficiência cardíaca congestiva ( também a causa do retorno venoso deficiente).O trauma, a cirurgia e as queimaduras não apenas imobilizam uma pessoa, mas também estão associados a lesão vascular, liberação de substâncias pró- coagulantes dos tecidos lesados, aumento da síntese hepática dos fatores de coagulação e produção de t-PA alterada. Muitos elementos contribuem para a diátese trombótica na gravidez; além do potencial de infusão do líquido amniótico para a circulação no momento do parto, a gravidez tardia e o período pós-parto também estão associados à hipercoagulidade sistêmica. Os fatores de coagulação e inflamação associados a tumor (fator tecidual, fator VII) e pró-coagulantes (por exemplo, mucina), liberados pelas células tumorais contribuem para o aumento do risco de tromboembolismo em neoplasias malignas disseminadas, a chamada tromboflebite migratória ou síndrome de Trousseau. Trombose arterial e cardíaca: A aterosclerose é a principal causa de trombose arterial, pois está associada com a perda de integridade do endotélio e com fluxo anormal. O infarto do miocárdio pode predispor a trombos cardíacos murais, causando uma contração discinética do miocárdio, assim como danos ao endocárdio adjacente, e a doença reumática cardíaca, que pode produzir um trombo atrial mural, os trombos murais cardíacos e aórticos também podem embolizar-se perifericamente .Embora qualquer tecido possa ser afetado, o cérebro, os rins e o baço são os alvos prováveis , devido ao seu grande suprimento sanguíneo. Leticia Alves Queiroz COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA (CID) CID, um súbito ou insidioso aparecimento de trombos de fibrina disseminados na microcirculação. Embora esses trombos não sejam macroscopicamente visíveis, eles são facilmente identificados à microscopia e podem causar insuficiência circulatória difusa, principalmente no cérebro, nos pulmões, no coração e nos rins. A trombose microvascular generalizada resulta no consumo de plaquetas e proteínas da coagulação (por isso o sinônimo coagulopatia de consumo) e, ao mesmo tempo, os mecanismos fibrinolíticos são ativados. Assim, uma desordem inicialmente trombótica pode evoluir para um sangramento grave. EMBOLIA Um embolo é uma massa intravascular solta, sólida, líquida ou gasosa que é transportada pelo sangue para um local distante do seu ponto de origem. Quase todos os êmbolos representam uma parte de um trombo desalojado, por isso o termo tromboembolismo é frequentemente utilizado. As formas raras de êmbolos incluem as gotículas de gordura, as bolhas de nitrogênio, os detritos ateroscleróticos (êmbolos de colesterol, os fragmentos de tumor, os fragmentos da medula óssea ou até mesmo corpo estranhos.Os êmbolos se alojam em vasos muito pequenos para permitir uma passagem adicional, causando oclusão vascular parcial ou total; como consequência importante é a necrose isquêmica (infarto) do tecido distal. Embolia Pulmonar Os trombos fragmentados derivados das TVP são transportados através de canais progressivamente maiores para o lado direito do coração antes de colidir na vasculatura arterial pulmonar. Dependendo do tamanho do êmbolo, ele pode ocluir a artéria pulmonar principal, impactar-se através da bifurcação da artéria pulmonar (êmbolo em sela), ou distribuir-se nas arteríolas menores ramificadas. • A morte súbita, a insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale), ou o colapso cardiovascular ocorrem quando 60% ou mais da circulação pulmonar é obstruída por êmbolos. • A obstrução embólica das artérias de médio calibre com subsequente ruptura vascular pode resultar em hemorragia pulmonar, mas geralmente não causa infarto pulmonar. Isto ocorre devido ao pulmão ter um suprimento sanguíneo duplo, e a circulação brônquica intacta continua a perfusão da área afetada. No entanto, um êmbolo semelhante no contexto da insuficiência cardíaca esquerda (comprometendo o fluxo da artéria brônquica) pode resultar em infarto. • A obstrução embólica de pequenos ramos pulmonares das terminações arteriolares normalmente resulta em hemorragia ou infarto. Leticia Alves Queiroz • Os êmbolos múltiplos ao longo do tempo podem causar hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca direita. Tromboembolismo Sistêmico O tromboembolismo sistêmico refere-se aos êmbolos na circulação arterial. A maioria (80%) surge a partir de trombos murais intracardíacos, sendo que dois terços estão associados a infartos da parede ventricular esquerda e outro quarto com a dilatação atrial esquerda e fibrilação. O principal local para embolização arteriolar são as extremidades inferiores (75%) e o cérebro (10%). As consequências da embolização em um tecido dependem da sua vulnerabilidade à isquemia, do calibre do vaso ocluído e da existência de um suprimento sanguíneo colateral; em geral, os êmbolos arteriais causam infarto dos tecidos afetados. Embolia Gordurosa e de Medula óssea Os glóbulos gordurosos microscópicos- associados ou não a elementos hematopoiéticos da medula podem ser encontrados na circulação e ser impactados na vasculatura pulmonar após a fratura de ossos longos (que apresentam medula gordurosa) ou, raramente, nos casos de trauma em tecidos moles e queimaduras. A gordura e as células associadas liberadas pela medula ou lesão do tecido adiposo podem entrar na circulação após ruptura dos sinusoides vasculares medulares ou das vênulas. Os êmbolos pulmonares gordurosos e da medula são um achado casual muito comum após uma ressuscitação cardiopulmonar vigorosa e não são, provavelmente, uma consequência clínica. Na verdade, a embolia gordurosa ocorre em aproximadamente 90% das pessoas com lesões ósseas graves. A síndrome da embolia gordurosa é a denominação utilizada para uma pequena parte dos pacientes que se apresenta sintomática. É caracterizada por insuficiência pulmonar, sintomas neurológicos, anemia e trombocitopenia. Em geral, entre 1 e 3 dias após a lesão, há um início súbito de taquipneia, dispneia e taquicardia, sendo que a irritabilidade e a inquietação podem progredir para o delírio e o coma. A trombocitopenia é atribuída à adesão de plaquetas aos glóbulos gordurosos com subsequente agregação ou sequestro esplênico; a anemia pode resultar de uma agregação semelhante à dos glóbulos vermelhos e/ou da hemólise. A liberação de ácidos graxos livres dos glóbulos de gordura agrava a condição por causar lesão tóxica local ao endotélio, e a ativação plaquetária e o recrutamento de granulócitos (com radicais livres, protease e liberação de eicosanoides) completam o ataque vascular. Embolia Gasosa As bolhas gasosas dentro da circulação podem coalescer para formar massas espumosas que obstruem o fluxo vascular (e causam lesão isquêmica distal). Por exemplo, um volume muito pequeno de ar aprisionado em uma artéria coronariana durante a cirurgia de derivação (by-pass), ou introduzido na circulação cerebral em uma neurocirurgia na “posição sentada”, pode obstruir o fluxo com consequências importantes. Uma forma particular de embolia gasosa, denominada doença da descompressão, ocorre quando os indivíduos são expostos a uma diminuição brusca da pressão atmosférica. Quando o ar inalado em alta pressão (por exemplo, durante um mergulho profundo no mar), quantidades aumentadas de gás (principalmente o nitrogênio) são dissolvidas no sangue e nos tecidos. Se o mergulhador então sobe (despressuriza-se) muito rapidamente, o nitrogênio sai da sua forma de solução nos tecidos e sangue. Leticia Alves Queiroz A rápida formação de bolhas gasosas no interior dos músculos esqueléticos e nos tecidos de suporte dentro e ao redor das articulações é responsável por uma condição dolorosa denominada encurvamento. A forma mais crônica da doença da descompressão é denominada doença do caixão (nome utilizado para os recipientes pressurizados, utilizados na construção de pontes; os trabalhadores dentro desses recipientes sofreram formas agudas e crônicas da doença da descompressão). Na doença do caixão, a persistência de embolia gasosa no sistema esquelético leva a múltiplos focos de necrose isquêmica; os locais mais comuns de envolvimento são as cabeças femorais, as tíbias e os úmeros. Embolia de Líquido Amniótico A embolia de líquido amniótico é uma complicação ameaçadora do período de parto e pós-parto imediato. É caracterizada pelo aparecimento de dispneia grave súbita, cianose e choque, seguidos de alterações neurológicas que variam de dores de cabeça a convulsões e coma. Se o paciente sobrevive à crise inicial, desenvolve um típico edema pulmonar, em conjunto com a CID (em metade dos pacientes), como resultado da liberação de substâncias trombogênicas do líquido amniótico. A causa de base é a infusão de líquido amniótico ou tecidos fetais na circulação materna através de um rompimento das membranas placentárias ou pela ruptura das veias uterinas.
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