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O RECONHECIMENTO DA FAMÍLIA POLIAFETIVA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

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O RECONHECIMENTO DA FAMÍLIA POLIAFETIVA NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO BRASILEIRO 
 
THE RECOGNITION OF THE POLIAFETIVE FAMILY IN BRAZILIAN LEGAL 
ORDINANCE 
 
Resumo: 
Quando fala-se sobre “o reconhecimento da família poliafetiva”, deve-se ater com a 
lacuna no ordenamento jurídico pelo artigo 226, §3º da Constituição de 1988, artigo 
1.723 do Código Civil, bem como a Lei nº 9.278/96, apesar de regulamentarem a 
união estável, deixaram em aberto obrigatoriedade da monogamia, fundamental ao 
casamento, e, inexplorada dentro da relação de companheirismo, necessária para a 
formação da família, pode-se entender que a abertura na legislação, permite o 
surgimento das famílias poliafetivas em nossa sociedade. De modo que, o possível o 
reconhecimento da família poliafetiva frente a Constituição Federal. As principais 
espécies de família precedentes a poliafetiva; a admissibilidade frente a Constituição 
Federal, e as consequências da admissibilidade da união poliafetiva dentro do 
ordenamento jurídico brasileiro. 
 
Abstract: 
When speaking about "recognition of the police family," one must address the legal 
framework in article 226, §3 of the 1988 Constitution, article 1,723 of the Civil Code, 
and Law 9.278 / 96, despite to regulate the stable union, have left open the obligation 
of monogamy, fundamental to marriage, and, unexplored within the relation of 
companionship, necessary for the formation of the family, it can be understood that 
the opening in the legislation, allows the emergence of the families polyphative in our 
society. So, the possible recognition of the police family against the Federal 
Constitution. The main family species preceded by poliafetiva; the admissibility 
before the Federal Constitution, and the consequences of the admissibility of the 
poly-union within the Brazilian legal system. 
 
Palavras-chave: Família poliafetiva, Princípios do direito de família, Poliamor, 
Direito Civil. 
 
Keywords: Family law, Principles of family law, Polyamory, Civil law. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo científico tem como tema “o reconhecimento da família 
poliafetiva”, procura esclarecer o seguinte problema: Segundo o Direito 
Constitucional é possível o reconhecimento da família poliafetiva? Com a lacuna 
aberta no ordenamento jurídico pelo artigo 226, §3º da Constituição de 1988, artigo 
1.723 do Código Civil, bem como a Lei nº 9.278/96, que apesar de regulamentarem 
o instituto da união estável, deixaram fora de sua abrangência o quesito da 
obrigatoriedade da monogamia, da qual é obrigatória para o casamento, e, não 
explorada dentro da relação de companheirismo, necessária para a formação 
institucional de família, desta forma pode-se entender que esta abertura na 
legislação, abre espaço para o surgimento das famílias poliafetivas em nossa 
sociedade. 
Desta forma, com a perspectiva inicial do tema em questão, tem-se como 
objetivo geral verificar se é possível o reconhecimento da família poliafetiva frente a 
Constituição Federal. Como objetivos específicos a finalidade é analisar as principais 
espécies de família; verificar a admissibilidade da união poliafetiva frente a 
Constituição Federal; verificar as consequências da admissibilidade da união 
poliafetiva dentro do ordenamento jurídico brasileiro. 
Após a apresentação de todo o contexto pesquisado a justificativa para o 
tema é que o reconhecimento da família poliafetiva, necessita da aplicação dos 
mesmos efeitos decorrentes da união estável comum. Devendo-se fazer aplicação 
analógica da Lei nº 9.278/96, considerando a boa-fé, a convivência duradoura e a 
presença de valores familiares, respaldados também os direitos já garantidos pela 
jurisprudência. 
Trata-se de pesquisa bibliográfica, com a utilização de fontes primárias, como 
legislações e jurisprudência, bem como fontes secundárias, como livros, artigos e 
periódicos. O método científico de abordagem utilizado é o dedutivo, pois parte-se 
de teorias e leis para a análise e explicação de fenômenos do contexto geral para o 
particular, com raciocínio puramente formal, no qual a conclusão é a dedução 
implícita dos princípios. Comparece de caráter multidisciplinar, pois aborda 
disciplinas de Direito Civil – Família, Direito Constitucional e Direito Penal. 
A família poliafetiva deve carecer dos mesmos efeitos jurídicos decorrentes 
da união estável com as suas devidas adaptações. Deve-se fazer aplicação 
analógica do disposto na Lei nº 9.278/96 e levar-se em consideração a constituição 
de boa-fé, a convivência duradoura e a presença de valores familiares garantidos as 
demais famílias juridicamente tuteladas pelo Estado. 
 
DAS ESPECIES DE FAMÍLIA PRECEDENTES A FAMÍLIA POLIAFETIVA 
 
Família matrimonial 
 
A espécie mais comum de família é a matrimonial, que no Brasil foi trazida 
pela colonização portuguesa, com a imposição da religião Católica aos nativos, 
como justificativa para que a ordem social fosse mantida e como não havia a 
separação entre a Igreja e o Estado, a família era formada apenas pelo enlace entre 
homem e mulher apenas com a finalidade biológica da procriação (DIAS, 2016), 
prevalecendo como a única admitida na sociedade brasileira precedente a 
promulgação da Constituição de 1988, onde embora prevalecer-se seria uma grande 
influência religiosa. A principal característica apenas civil ou religioso com efeitos 
civis. 
Para Souza a família matrimonial é uma vertente de duas teorias onde: 
 
a primeira, aponta ser o casamento o principal vínculo de família. Os 
adeptos desta corrente apontam que os artigos 226, §§ 1º e 2º da CF 
topograficamente privilegiam o casamento. Em verdade, o artigo 226, §3º, 
da Constituição Federal, ao estabelecer que a lei deverá facilitar a 
conversão da união estável em casamento, de certa forma, dá o tom da 
preferência do Constituinte pelo casamento. Por outro turno, a segunda 
corrente, defendendo o princípio da isonomia entre os vínculos familiares, 
estabelece apenas uma das formas de família. Fulcra sua tese nos artigos 
5º e 226 da CF, bem como no projeto do Estatuto das Famílias (Projeto nº 
2.285/2007). (SOUZA, 2009) 
 
Diante a exposição do autor, observa-se que há duas vertentes que permeiam 
o instituto da família matrimonial na Constituição, parte da doutrina aponta como a 
única espécie de família admitida pela nossa Carta Magna, e o projeto de lei do 
Estatuto das famílias transforma o artigo 226, §3º, da Constituição Federal em um rol 
taxativo, já a outra parte acredita que este rol é meramente exemplificativo de modo 
que a família matrimonial é apenas uma das espécies de família admitidas pelo 
dispositivo constitucional. 
Levando-se em consideração a última vertente apresentada, as demais 
famílias apresentadas, tem a garantia de sua existência perante o ordenamento 
jurídico, pois a disposição preambular da Constituição fundamenta que o Brasil é um 
Estado laico, não instituindo uma religião oficial do país de modo que as religiões 
têm o direito de serem tratadas perante a sociedades e as famílias de acordo com o 
princípio da isonomia. 
Com a finalidade de garantir a isonomia entre as espécies de família busca-se 
o afeto como característica fundamental para a existência de vínculo familiar sendo 
um dos mais conhecidos a família informal. 
 
Família informal 
 
Historicamente pode ser considerada a espécie mais antiga de família, a 
família informal, de acordo com a autora Maria Berenice Dias, ao Código Civil de 
1916 , Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121/1962), e a Lei de Alimentos (Lei nº 
5.478/1968), anteriores ao Código Civil de 2002, que a família com apenas o vínculo 
afetivo entre homem e mulher formando apenas relações de companheirismo, não 
garantia a companheira e a seus filhos a estabilidade ao status de família, onde os 
filhos frutos dos relacionamentos de companheirismo/concubinato eram 
discriminados pela sociedade, tornando-se invisíveis para o direito de exigir o 
reconhecimento de filiação como o direito à herança, principalmente se estes fossemfrutos de relacionamentos extraconjugais (DIAS,2016). 
Com isso, a união estável passou a perpetrar a Constituição devido a 
repercussão geral que surgiu a partir de 1994. Da qual originou-se as Leis nº 
8.971/94 e nº9.278/96 com a finalidade de regular o instituto. As leis, apesar de 
contraditórias entre si, ao tratar dos elementos dessa espécie de união. Com o 
Código Civil de 2002, de acordo com os artigos 1.723 a 1.727, sobressaiu o que 
tinha de mais atualizado a respeito de união estável, pois, fundamentou-se na Lei nº 
9.278/96 de modo que a lei anterior trazia uma interpretação mais rígida da união 
estável. 
De modo que o Código Civil, estabelece que a união estável e a instituição 
familiar, composta por um homem e uma mulher, que vivem de configuração 
manifesta, continuada, morosa, e com o finalidade de estabelecer família, de forma 
que será possível essa união apenas quando não existentes os empecilhos do art. 
1.521 do mesmo diploma legal, que trata dos impedimentos, havendo apenas uma 
exceção a essa regra, onde a pessoa casada, que esteja separada de fato ou 
judicialmente, possa união estável (CHATER, 2015) 
Da mesma forma seria tratada a companheira, apesar das diversas manobras 
legislativas e do Poder Judiciário, para garantir o mínimo de direitos a 
companheira/concubina. Recentemente a jurisprudência se posicionou sobre os 
direitos que a companheira/concubina adquire durante o período de existência e/ou 
sucessão onde: 
 
A concubina, com o tempo, foi adquirindo alguns direitos, como a meação 
dos bens adquiridos por esforço comum. Tudo em razão de uma nova visão 
do judiciário, que começou a perceber que, findada a relação concubina, 
uma das partes acabava em uma situação extremamente injusta. Isso 
porque, em determinados casos, existia esforço comum na aquisição do 
bem, mas ficava apenas no nome de um dos partícipes. Na proteção da 
concubina, o TJSP acabou influenciando outros tribunais a adotarem o 
mesmo posicionamento. O Supremo Tribunal Federal, portanto, acabou 
também por adotar a ideia de que a ruptura de uma ligação more uxório 
duradoura importava consequências patrimoniais, consolidando, em 
seguida, essa orientação jurisprudencial na Súmula 380 do STF. 
(GONÇALVES apud CHATER, p.28 2015.) 
 
Além da súmula 380 do STF também existe a súmula 382, que não limita 
apenas a convivência dos companheiros sob o mesmo teto para a construção da 
família informal, para se caracterizar este instituto basta que os companheiros 
demonstrem o esforço emocional e financeiro no interesse de constituir o patrimônio 
da mesma (CHATER, 2015). 
 
Família paralela 
 
As famílias paralelas ou simultâneas são aquelas que são formadas por 
“manter vínculo de natureza afetiva e sexual simultaneamente com mais de uma 
pessoa” (DIAS, p. 141, 2016), as famílias paralelas são baseadas no princípio da 
fidelidade, onde vigora abertamente a vontade das partes em se manterem em um 
relacionamento, sendo que a obrigatoriedade da monogamia, neste caso torna-se 
dispensável. 
No entanto, na maioria das vezes os membros que fazem parte dessa 
espécie de família ainda continuam “condenados à invisibilidade da sociedade, e até 
mesmo da própria justiça, que na maioria dos casos, sequer reconhece sua 
existência” (GONÇALVES, p.39, 2010), quando a companheira/cônjuge desconhece 
o vínculo afetivo paralelo gerando efeitos jurídicos em casos de sucessão ou 
divórcio/separação. 
Isso demonstra que a amante passa a ter direitos, o que anteriormente a 
constituição e até a pouco tempo, o posicionamento dos tribunais era de que a 
amante/concubina não teria direito a sucessão, mas conforme o recente 
posicionamento abordado, quando se abordou as características e perspectivas 
sobre a família informal também são aplicados ao fato de um dos membros da 
família paralela desconhecer a existência do outro de forma que se ambas as 
famílias que geram a simultaneidade nos princípios fundamentais para a constituição 
das famílias, ambas figuras que restaram a sucessão ou a separação terão direitos 
iguais. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014). 
Quando ocorrer o fato separação ou sucessão do pivô da relação, ou seja, a 
figura comum entre ambas as famílias, não importando a existência de filhos de 
ambas as uniões, que já tem um regime de sucessão bem consolidado tendo em 
vista o Código Civil, em caso de separação/ou divórcio as questões provenientes 
desses institutos, também deverão ser tratados de acordo com a legislação 
disponível, bem como o caso de alimentos, guarda e visitas dos filhos menores de 
idade. 
Diante da presente exposição, torna-se perceptível que apesar da bigamia 
não ser considerada fato criminoso que gere prisão tanto na esfera criminal, tanto 
quanto na cível, ela não deixa de gerar fatos, os quais seja necessária a atuação do 
Poder Judiciário para a resolução dos conflitos que geraram os acontecimentos, de 
forma que ainda o direito continua a evoluir conforme o instituto a seguir, onde todos 
os indivíduos do relacionamento tem o conhecimento da pluralidade de parceiros, o 
que ainda é um tanto obscuro para a doutrina quando se trata das famílias paralelas. 
 
Família homoafetiva 
 
Na contemporaneidade ressalta-se uma evolução com relação a família com 
a união de pessoas do mesmo sexo, até o momento, que no ramo do direito de 
família é a homoafetiva, que para o direito brasileiro é uma grande inovação, na área 
do direito de família, diante a não recepção do tipo familiar perante a Constituição, 
mas, porém, admitida infraconstitucionalmente perante o ordenamento jurídico 
através do reconhecimento do STF no ano de 2011, conforme salienta a ADPF 
132/RJ e ADI 4277/DF. 
Após as manifestações do Judiciário, passou-se a analisar perante ao Senado 
a sua admissibilidade frente ao ordenamento jurídico constitucional e 
infraconstitucional, mediante a aprovação de Emenda à Constituição e ao Código 
Civil, atualmente o presente projeto de lei encontra-se votado pela Comissão de 
Constituição e Justiça do Senado e segue para votação na Câmara dos Deputados. 
O que significa que esta espécie de organização familiar não pode ser 
discriminada juridicamente em razão das demais famílias anteriormente citadas, já 
que não é obrigação do legislador positivar as relações de afeto ou a distinção de 
gêneros sexuais, bem como não impedir a realidade social existente, atualmente os 
casais homoafetivos já tem garantidos muitos direitos como a união estável 
garantida desde 2006 e ao casamento e/ou a conversão da união estável desde 
2011 (SOUZA, BARBUGLIO, 2016), recentemente se consolidou também a adoção 
de casais do mesmo sexo, e até mesmo a introdução da maternidade de 
substituição por parentes de sucessão de linha reta e colateral pelo uso de barriga 
de aluguel para casais homoafetivos do sexo masculino . 
O que faz jus a explanação doutrinária de Maria Berenice Dias: 
 
Em nada se diferencie a convivência homossexual da união estável 
heterossexual. A homoafetividade não é uma doença nem uma opção livre. 
Assim, descabe estigmatizar a orientação homossexual de alguém, já que 
negar a realidade não soluciona as questões que emergem quando do 
rompimento dessas uniões. (DIAS, p. 141, 2016) 
 
Após apresentar as principais características e a evolução social que o direito 
passa a adquirir perante o direito familiar que norteiam os casais homoafetivos, 
demonstra-se a grande evolução do direito além da revolução da pluralidade familiar 
e questões de repercussão geral como a bioética quando se trata do fato de 
reprodução assistida e os principais preceitos da dignidade da pessoa humana e do 
livre desenvolvimento social. 
 
A FAMÍLIA POLIAFETIVA E SEUS ASPECTOS CONSTITUCIONAIS 
 
Diante da realidade histórica as relações poliafetivas não têm uma origem 
específica, mas as relações familiares desse tipo são encontradas em diversos 
momentos da história, apesar da grande influência da Igreja Católica na cultura 
ocidental. (DIAS, 2016) 
Caracterizado como justendência, para a área do direito de família e como 
tema principal deste trabalho, a família poliafetiva para Maria Berenice Dias, 
apresentando a distinção entre família simultânea e poliafetiva: 
 
A distinção entre família simultânea e poliafetiva é de natureza espacial. Na 
maioria das vezes, nos relacionamentos paralelos o homem - sempre ele! - 
mantém duas ou mais entidades familiares, com todas as características 
legais. Cada uma vivendo em uma residência. 
Já a união poliafetiva é quando forma-se uma única entidade familiar. Todos 
moram sob o mesmo teto. Tem-se um verdadeiro casamento, com uma 
única diferença: o número de integrantes. Isto significa que o tratamento 
jurídico à poliafetividade deve ser idêntico ao estabelecido às demais 
entidades familiares reconhecidas pelo direito. (DIAS, p.140, 2016) 
 
Alguns doutrinadores, durante a formação da atual concepção de 
poliamor/poliafeto, analisavam estes tipos de relacionamento como “swing”, o que 
constituía um casamento aberto, com troca de companheiros, com relações sexuais 
que envolviam duas ou mais pessoas, fato que após esta revolução sexual houve 
uma epidemia de AIDS, o que deixou com mais força a ideia conservacionista de 
família. (SHEFF apud SANTIAGO, 2015) 
Para Gagliano e Pamplona Filho, a família poliafetiva apenas se diferencia da 
família paralela, pelo seguinte fator, na paralela os companheiros não necessitam de 
morar/residir na mesma casa, enquanto na poliafetiva é requisito essencial. Já a 
jurisprudência a qualifica pelo simples fato de que haja o consentimento dos 
conviventes onde todos os membros saibam dos laços de afeto entre eles. 
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2014.) 
Para Marques et. al. a família poliafetiva corresponde a todos os requisitos 
estabelecidos pela Constituição: 
 
o reconhecimento jurídico da união poliafetiva como entidade familiar dá 
concretude aos mandamentos constitucionais, na medida em que assegura 
proteção jurídica aos indivíduos que a compõem de forma livre, espontânea 
e consciente, os quais possuem a mesma dignidade que os indivíduos que 
compõem o modelo familiar monogâmico, fazendo-se prevalecer a 
magnitude do princípio da dignidade da pessoa humana e seus substratos 
inerentes, quais sejam: a igualdade, liberdade, solidariedade, e integridade 
psicofísica, fundamento da República que irradia e norteia o ordenamento 
jurídico como um todo. (MARQUES, et. al. p. 259, 2015) 
 
O primeiro caso em que se admitiu este instituto, ganhou grande destaque na 
mídia com união estável poliafetiva celebrada pela tabeliã Cláudia do Nascimento 
Domingues, na cidade de Tupã, no Estado de São Paulo no ano de 2012, na qual 
declarou que fez a escritura de união estável em caráter poliafetivo, pois se 
mostrava claro a formação da entidade familiar e que todas as partes desejavam a 
garantia de direitos, apesar da legislação não demostrar uma norma específica, de 
forma que o caso concreto é necessário para a evolução do direito. Também foram 
celebradas no ano passado e no presente ano, mais três contratos de união estável 
poliafetiva. 
Apesar de reconhecida por alguns tribunais, a família poliafetiva está em fase 
ainda de adaptação social e cultural já que o princípio da afetividade está passando 
a ponderar as relações entre indivíduos que se gostam, mesmo sendo mais que 
duas pessoas, com a finalidade de se garantir a felicidade pessoal e sexual de todos 
os entes do relacionamento. 
Desta forma com os precedentes já levantados anteriormente sobre as 
famílias informal, paralela e homoafetiva, há grandes chances do posicionamento 
jurídicos dos Tribunais Superiores, reconhecerem a família poliafetiva como mais 
uma das disposições familiares que fazem parte de nossa sociedade, vez que a 
família é um direito constitucional garantido a todos, e de importante formação de 
indivíduos sociais. 
Para que este instituto não seja tratado como um mero fato social ainda é 
necessário que a sociedade rompa com diversos paradigmas trazidos ainda pela 
colonização como a obrigatoriedade da monogamia e da desvalorização da mulher, 
já que para a poliafetividade o que importa são as relações de afeto e não a 
identidade dos indivíduos da relação. 
Além de ser um instituto familiar novo em nosso ordenamento este também 
possui variações internas do tipo dos quais se subdividem-se em quatro subtipos 
aos quais são: a) polifidelidade – que é a relação de três ou mais pessoas com 
relação de respeito e fidelidade semelhantes ao casamento, onde a única diferença 
de uma união estável ou casamento comum observa-se no número de integrantes – 
há uma variação do tipo diante ao fato da constituição da mesma onde todos os 
integrantes do mesmo sexo se relacionam que é chamada de homopolifidelidade; b) 
poliamorismo aberto – há uma constituição de uma família originária sendo ela 
simples ou poliamorosa, onde um de seus componentes também tem relações com 
membros externos a esta constituindo uma família derivada; c) poliamorismo com 
redes de relacionamentos íntimos hierarquizados – diferente do poliamorismo aberto 
este tipo não abrange somente relações originárias e derivadas o grupo social de 
participantes será separado através do grau de compromisso ou proximidade dos 
relacionamentos; d) poliamorismo individual – diferentemente dos outros tipos 
anteriormente abordados a pessoa praticante não tem o interesse da afetividade e 
do ânimo de se constituir família, não fazendo parte da entidade familiar. 
 
Dos princípios constitucionais 
 
Considerados norma maior das leis, a função dos princípios constitucionais 
não é apenas orientar o sistema jurídico infraconstitucional, mas fundamentar todas 
as normas escrita, ou que exigem uma interpretação diferente da norma escrita, o 
que leva o operador do direito, a análise dos princípios constitucionais, para que a 
hermenêutica jurídica se torne eficaz. Cabe ainda ressaltar que cada ramo do direito 
tem seus princípios especiais que em relação a este ramo se desdobra em múltiplas 
facetas, de um modo íntimo com os princípios da afetividade e solidariedade, que 
são os pilares da constituição familiar (DIAS, 2016) 
Os princípios que atualmente se encontram abraçados pelo texto 
constitucional, são ao total em torno de onze, que discriminam sobre a proteção da 
unidade familiar, a criança ao adolescente e ao idoso, elencados nos artigos 226 a 
230, da Constituição Federal (AMARAL apud DIAS, 2016) As atuais formações 
familiares da sociedade moderna foram inseridas no ordenamento jurídico, sem 
emendas à Constituição, e sim por leis infraconstitucionais, como a formação da 
família homoafetiva, porém o surgimento de novas famílias está condicionado à 
presença de princípios constitucionais dos quais veremos a seguir. 
 
Princípio da dignidade da pessoa humana 
 
Diante da perspectiva constitucional o princípio da dignidade da pessoa 
humana é o que desencadeia o surgimento dos demais estabelecidos na nossa 
Carta Magna, decorrente deste princípio surge os institutos sociais, “assume posição 
de destaque, servindo como diretriz material para a identificação de direitos 
implícitos (tanto de cunho defensivo como prestacional) e, de modo especial, 
sediados em outras partes da Constituição.” (SARLET, 2015) 
Sendo a pessoa humana o centro protegido de todo o direito, há uma 
necessidade de repersonalização do Direito Civil, de modo que a constituição de 
família será um mero acessório para a sua existência, o que indica que deverá ser 
atendido o interesse das pessoas como indivíduos únicos, onde a predominância de 
direitos é a do ser individual, e que atenda às suas expectativas existenciais, fator 
pelo qual o instituto familiar poliafetivo deveria ser reconhecido, já que a 
predominância para se formar uma família deve ser a vontade dos indivíduos que a 
constitui. 
É critério de justificação da fundamentalidade material de direitos positivados 
ao longo do texto constitucional e de reconhecimento de direitos implícitos, resta a 
indagaçãose do princípio da dignidade da pessoa – sem qualquer outro referencial 
adicional – poderão ser deduzidos direitos fundamentais autônomos. 
Isso não impede que o Estado continue implantando as diretrizes 
fundamentais para a sua existência, porém sem a distinção entre a monogamia e o 
poliamor, de modo que há uma extrema ignorância as demais espécies de família 
anteriormente citados. 
Em relação a dignidade da pessoa humana no poliamor salienta Rafael da 
Silva Santiago: 
 
[...] é preciso consolidar as condições e possibilidades para que os 
praticantes do poliamor realizem e respeitem reciprocamente suas 
dignidades, contemplando seus anseios existenciais no sentido de garantir 
que sua família irá se funcionalizar ao desenvolvimento de sua dignidade 
enquanto adepto ao poliamorismo.( SANTIAGO, p. 163. 2015.) 
 
De acordo com esta visão, o Estado brasileiro continua ultrapassado quando 
o quesito é a evolução do Direito de Família, quanto a imposição da monogamia a 
sociedade, impedindo o direito da vontade do indivíduo em estabelecer suas 
relações de afeto conforme a sua ideia de composição de família no meio social, e a 
concepção de Estado laico.O princípio da dignidade da pessoa humana garante a 
todos que vivem no país, tenham seus direitos respeitados, de forma que os demais 
princípios constitucionais sejam aplicados a toda sociedade independente da 
realidade familiar existente. 
 
Dos princípios da liberdade e isonomia 
 
Em conjunto com o princípio anteriormente citado tem a função de garantir ao 
indivíduo que seus direitos serão respeitados, em relação ao princípio da liberdade 
este relaciona-se aos direitos fundamentais inerentes a família e ao princípio da 
dignidade da pessoa humana, “cada indivíduo é livre para escolher o seu par, bem 
como o tipo de entidade que quiser para construir sua família.”(BOTTA, 2014) .Há 
dificuldades para a sua aplicação diante da grande maioria da população tem um 
pensamento social, sobre a escolha de núcleo familiar grandemente 
conservacionista. 
Além disso o princípio da liberdade visa garantir os direitos fundamentais a 
intimidade do ser social e a vida privada do mesmo, de forma que os aspectos 
referentes a sociedade familiar sejam protegidos com a finalidade de conservação 
do instituto família, a publicidade ou exposição das relações familiares somente 
serão expostas nos casos previstos na Lei, como a Lei Maria da Penha, por 
exemplo, onde a finalidade de exposição da família em meio a sociedade é 
necessária para a apuração dos casos de violência doméstica, contra integrante 
familiar do sexo feminino. (LENZA, 2015) 
Em consonância ao princípio da liberdade há também o princípio da isonomia, 
banindo a desigualdades entre os membros formadores das famílias, diante desta 
enorme inovação passaram a exercer direitos iguais sobre as questões jurídicas e 
sociais referentes à formação e ao desenvolvimento do modelo familiar do qual 
pertencem e frutos da união. 
 
Da mínima intervenção do Estado no direito de família 
 
O Estado tem a obrigação de garantir ao indivíduo as relações familiares de 
modo que as pessoas têm a autonomia de escolha das quais desejam manter as 
suas relações de afeto, diante desta garantia fundamental, as relações de 
constituição familiar se tornaram autônomas, o que de certa forma explica a 
pluralidade das formações familiares que encontram em nossa realidade, apesar da 
própria imposição do Estado ao regime de matrimonialização de caráter 
monogâmico. Portanto no que se refere ao reconhecimento da família poliafetiva 
esta já deveria ter sido reconhecida perante ao ordenamento jurídico por se tratar de 
relacionamento íntimo entre três ou mais pessoas que tem o interesse de se 
constituir como uma unidade familiar. 
Conforme as exposições acima o autor Rafael da Silva Santiago: 
 
[...] exercício do poliamor não traz qualquer evidência capaz de provocar um 
suposto interesse geral para se fundamentar o seu banimento. Ainda que 
houvesse qualquer espécie de interesse público na identidade relacional 
seguida individualmente por cada um, ela não poderia se contrapor à 
autonomia das pessoas enquanto sujeitos de direitos, muito menos tornar o 
ser humano e sua personalidade instrumentos da coletividade. 
(SANTIAGO, 2015. p. 192.) 
 
Diante desses aspectos apresentados referentes a intervenção do Estado 
pode-se dizer que no direito de família de certo modo apresenta-se não o direito da 
mínima intervenção, mas um sistema misto, onde o indivíduo social fica preso a 
delimitações sobre assuntos habituais, de característica da autonomia individual e 
íntima, por limitações constitucionais e de costume. 
 
Da afetividade 
 
O afeto é o principal indício para a formação familiar, sem ele é impossível 
falar que existe família o que exige no mínimo um relacionamento íntimo de duas 
pessoas para que a família exista, vinculada intimamente com os princípios 
anteriormente citados estabelecendo a execução de todos os direitos tutelados pelo 
direito de família. 
É através da afetividade, que serão passados os ensinamentos fundamentais 
para a formação dos indivíduos sociais, o que justifica a dependência dos indivíduos 
menor de idade aos genitores, ou outra pessoa que exerça esta, bem como ensiná-
los a ter autonomia para realizar seus próprios atos na vida social pública. “Valorizar 
o afeto e a autodeterminação afetiva de cada um é ser responsáveis pela existência 
uns dos outros. Enfim respeitar o princípio da afetividade é uma obrigação de todos.” 
(SANTIAGO, p. 80.2015). A afetividade é a célula fundamental da existência familiar, 
sem ela as consequências para a formação dos indivíduos, podem se transformar 
em destinos sociais que ferem os princípios fundamentais de todo o contexto social. 
 
Da pluralidade das relações de afeto 
 
Diante as novas concepções de formação da família, e a evolução social dos 
relacionamentos amorosos, a família pós-moderna apresenta institutos como os das 
famílias homoafetivas e poliafetivas como forma do indivíduo se desenvolver sem 
perder a presença do afeto e da educação social repassada através dos 
ensinamentos dos genitores ou aqueles que assumem a função do mesmo. 
Atualmente para a sociedade consideram que duas pessoas do mesmo sexo 
que se amarem e viverem bem como um casal é uma afronta aos direitos sociais, 
bem como três ou mais pessoas que vivem um relacionamento poliamoroso também 
os fere. 
Neste contexto social pondera Rafael da Silva Santiago: 
 
A pluralidade nas relações familiares impõe o reconhecimento de todo e de 
qualquer arranjo familiar fundado no afeto e que desenvolva a 
personalidade e promova a dignidade de seus integrantes, 
independentemente da exigência de citação expressa por parte do 
constituinte. [...]O simples fato de configurar uma unidade de afeto 
qualificada pelo ânimo de constituir família, que respeite a dignidade de 
seus integrantes – características presentes no poliamor – já torna 
imperativa a proteção do Estado. (SANTIAGO, 2015, p. 189.). 
 
As relações familiares ou de seus indivíduos formadores depende apenas da 
vontade e da autonomia de cada um para se constituir família, o que importa é que 
os princípios gerais estejam preenchidos, e que a sociedade e ordenamento jurídico 
se adaptem as novas concepções de convivência social, dos quais não tragam 
prejuízos a sociedade. 
Diante do contexto apresentado, não se pode delimitar as relações de afeto 
que constituem a família, pois a dignidade da pessoa humana, a liberdade, a 
isonomia dada ao indivíduo é necessária para que essa organização fundamental a 
sociedade sobreviva. 
 
Da proibição de retrocesso social 
 
Em relação a proibição de retrocesso social é da mesma forma que se aplica 
a norma mais benéfica no direito penal, de modo que as relações familiares 
evoluídas da concepção padrão de família deverão ser admitidas, desde que não 
atrapalhem a convivência em sociedade. 
Um exemplo bem comum aplicado conforme ressalta a autora MariaBerenice 
Dias é a utilização de analogia para cobrir as lacunas deixadas pela a formação da 
variação dos institutos familiares, principalmente quando se está em questão as 
diferenças entre a união estável e ao casamento. (DIAS, 2016) 
Tal fato fez com que o Supremo Tribunal de Justiça reconhecesse a 
equiparação de cônjuge e companheiro em relação aos direitos sucessórios, uma 
evolução ao texto original do Código Civil. 
Em suma análise em relação a este princípio, ele abre espaço ao 
reconhecimento da família poliafetiva no ditame em que se proíbe que a lei não seja 
aplicada por se tratar de um instituto familiar juridicamente tutelado, mas 
socialmente existente, de modo que com a evolução da sociedade o mesmo não for 
reconhecido, há a possibilidade de se tornar violação dos princípios fundamentais 
estabelecidos na própria Constituição. 
 
Da Autonomia da vontade das partes 
 
A finalidade do princípio da autonomia da vontade das partes é que para a 
formação do núcleo familiar é necessário que as partes que desejam constituir 
família assumam a obrigação de cuidar e dar afeto uns para com os outros, de modo 
que diferentemente do direito as obrigações não é necessária consulta de 
especialista na área jurídica para a confecção de contrato, será apenas necessária a 
apresentação em cartório para se constituir o matrimônio ou declaração de união 
estável. 
Deste modo, os interessados irão apenas manifestar a sua vontade de 
constituir família, de modo em que há uma proteção estatal, mas que não há a 
interferência de forçar relações familiares. 
 
Bigamia versus Poliamor 
 
A bigamia crime juridicamente tutelado pelo Código Penal no artigo 235 
determina que “Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, 
de dois a seis anos.§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com 
pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou 
detenção, de um a três anos.”( BRASIL. Lei nº 2.848/40) 
Onde o delito somente será considerado consumado quando houver a 
realização da cerimônia de casamento e um dos contraentes em matrimônio tiver a 
consciência de que ainda se encontra casado com outra pessoa. Conforme 
determina o artigo 1.514 do Código Civil: “O casamento se realiza no momento em 
que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer 
vínculo conjugal, e o juiz os declara casados.” (BRASIL. Lei nº 10.406/02) Diante dos 
textos infraconstitucionais a bigamia um dos cônjuges não tem ciência de que o 
outro já havia contraído matrimonio com outro sem o conhecimento do novo 
nubente, apesar da boa-fé do mesmo em casar-se. 
Desse modo, diante as perspectivas apresentadas pode-se dizer que bigamia 
não é a mesma coisa que poliamor diante as responsabilidades e as consequências 
inerentes a cada tipo, não configurando o mesmo tipo de ato já que na bigamia se 
trata de duas famílias diferentes onde uma das esposas não tem o conhecimento da 
outra. Enquanto o poliamor apesar de um instituto familiar não consolidado ainda 
pela doutrina se mostra capaz de ser aceito no meio social em que vivemos, mesmo 
com o conservacionismo cultural e constitucional. 
 
OS REFLEXOS DA ADMISSIBILIDADE DA UNIÃO POLIAFETIVA DENTRO DO 
ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO 
 
Os laços de afeto do ser humano ainda são os principais aspectos para a 
constituição do instituto família seja ela reconhecida ou não em meio a sociedade, 
de modo que os princípios elencados no capítulo anterior quando aplicados em toda 
a sua extensão faz-se reconhecer o instituto familiar do poliamor, dando-lhe uma 
proteção jurídica com a finalidade de se garantir direitos a todos os seus membros. 
Direitos sobre os quais ainda são um tanto controversos mas que a justiça 
busca resolver de forma coerente com a realidade em que vivemos. Diante a esta 
explanação neste capítulo serão expostos os principais casos que envolvem a 
necessidade de recorrer a meios judiciais para a solução de conflitos para a garantia 
de direitos de maneira contenciosa ou voluntária dos quais a seguir estão pautados 
com o intuito de se demonstrar os principais reflexos do relacionamento poliafetivo. 
 
Aspectos jurídicos da família poliafetiva 
 
Como todo e qualquer ato jurídico o reconhecimento da família poliafetiva 
gera direitos e deveres de seus conviventes entre si, bem como para os frutos do 
relacionamento e a sociedade, de modo que estes direitos devem ser juridicamente 
tutelados pois para a institucionalização dos institutos familiares contemporâneos, é 
necessário para que se mantenha normas para a aplicação do direito. 
Diante a esse patamar faz-se necessário conhecer os principais aspectos 
jurídicos referentes a uma possível admissibilidade desse instituto familiar e quais 
aspetos jurídicos devem ser tutelados em regra geral, bem como a aplicação do 
direito a esses pontos importantes para que a família poliafetiva possa ter uma 
abrangência a todos os seus praticantes. 
 
Da formalização familiar: escritura pública de união estável poliafetiva 
 
De acordo com os princípios de família para que haja a formação de um 
núcleo familiar é necessária a demonstração de afeto e cumplicidade entre os 
indivíduos, que além desse fator tem o interesse de gerar frutos e constituir um 
patrimônio comum a família para que esta se desenvolva de maneira pacífica e que 
gerem novos seres sociais dignos de direitos e garantias. 
Neste sentido faz-se necessário que os indivíduos para garantir estes direitos 
recorram aos meios de garantir a responsabilidade de uns com os outros e com os 
seus demais componentes que fazem parte da entidade familiar, é necessário que 
haja um vínculo que demonstre o interesse de se conviver em família esse ato é 
feito através da união estável. 
Em relação a união estável, considerada fato jurídico ocupa atualmente em 
nossa sociedade no direito de família, instituto anteriormente utilizado para 
regularizar a situação de convivência de pessoas separadas de fato, já que não 
existia na legislação da época a possibilidade de haver o divórcio e a constituição de 
novo matrimônio, atualmente esta é constituída pela vontade das pessoas e não por 
falta de opção. (TARTUCE, 2016) 
A medida que o instituto família deixou de ser apenas um único tipo 
constitucionalmente tutelado, as famílias formadas após advento da 
matrimonialização familiar utilizam-se da união estável como forma de garantir 
direitos aos companheiros e estabilidade ao núcleo familiar. 
Em decorrência a pluralidade atual dos tipos de família, um dos grandes 
temas que ganhou destaque nos últimos tempos foi a possibilidade de se admitir 
uma família formada por três pessoas ou mais convivendo em união estável, grande 
parte da doutrina pondera pelo não reconhecimento jurídico desse tipo de família, 
recentemente os praticantes do poliamor levaram a sua causa a mídia, com o intuito 
de evidenciar que os princípios da autonomia da vontade e da afetividade devem 
prevalecer quando a questão dos relacionamentos entre as pessoas. 
Deste modo, diante da impossibilidade constitucional de se admitir o 
casamento poliafetivo, pelo texto do artigo 226 da Constituição Federal, e ao artigo 
1.514 do Código Civil. Porém, como a união estável é apenas considerada um fato 
jurídico, Flavio Tartuce pondera que a relação de constituição de união estável 
poliafetiva não é ilegal como a maioria da doutrina reprime. 
 
[...] não parece haver nulidade absoluta no ato, por suposta ilicitude do 
objeto (art. 166, inc. II, do CC/2002). Pensamos que a questão não se 
resolve nesse plano do negócio jurídico, mas na sua eficácia. Em outras 
palavras, o ato é válido, por apenas representar uma declaração de vontade 
hígida e sem vícios dos envolvidos, não havendo também qualquer 
problema no seu objeto. Todavia, pode ele gerar ou não efeitos, o que 
depende das circunstâncias fáticas e da análise ou não de seu teor pelo 
Poder Judiciário ou outro órgão competente. (TARTUCE, 2016) 
 
Nesse sentido, comparandoo posicionamento do autor em relação ao 
reconhecimento da simultaneidade matrimonial, seja ela através da família paralela 
e a poliafetiva tramita um processo em Recurso Extraordinário do Supremo Tribunal 
Federal 883.168-SC, do qual atribuiu-se repercussão geral que pode modificar esta 
realidade. Apesar da complexidade do assunto, é necessário reforçar que apesar 
dos tipos semelhantes a família poliafetiva, se difere da paralela pelo seguinte 
motivo já salientado no capítulo anterior mas merece novamente destaque em 
relação ao julgamento e entendimento jurisprudencial posterior a este recurso 
conforme também salientado pelo advogado Marcelo Alves: 
 
Nas chamadas uniões poliafetivas ou poliamorosas, há apenas um núcleo 
familiar, mas, uma conjugalidade na qual participam mais de duas pessoas. 
De qualquer sorte, essas são apenas duas modalidades de um sem número 
de maneiras ou formas de ser família hoje e que devem ser respeitadas em 
um Estado que se pretende democrático, laico e plural. (CNJ RECOMENDA 
AOS CARTÓRIOS QUE NÃO FAÇAM ESCRITURAS DE UNIÕES 
POLIAFETIVAS.) 
 
Cumpre evidenciar que apesar de se ter uma possível decisão favorável ao 
reconhecimento da família poliafetiva esta ainda encontra-se suspensa a realização 
de escrituras de união estável poliafetiva pelo Conselho Nacional de Justiça até que 
o Supremo se manifeste sobre o referido tema em questão. 
Entretanto, a situação precisa ainda ser julgada de modo que cabe aos 
praticantes do poliamor aguardar o julgamento da referida demanda para que 
possam adquirir todos os direitos provenientes ao jurídico estabelecimento do 
gênero família pois esta tem diversos tipos. 
 
Do patrimônio 
 
Com a finalidade da construção de um núcleo familiar o mesmo também gera 
a construção do patrimônio familiar com a desígnio de se trazer o conforto 
necessário para o seu desenvolvimento, as questões patrimoniais inerentes a família 
poliafetiva são aplicadas as leis já existentes no ordenamento jurídico, utilizando-se 
de analogia ao instituto familiar mais próximo, que é a família paralela ou simultânea, 
diante do fato do fator poliamor não ser reconhecido como característica distinta da 
entidade familiar. 
Diante desses aspectos, Caio Henrique Merfa Gimenez o caráter de 
constituição de patrimônio da família poliafetiva deve respeitar o disposto no artigo 
5º da Lei nº 9.278/1996 que determina a titularidade patrimonial dos conviventes em 
união estável estabelecidos pela lei, o que de acordo com o autor pode ser aplicado 
à divisão patrimonial de triação quando aplicado em disposição da constituição de 
união estável da família poliafetiva , podendo esta ser estabelecida em regime de 
comunhão separação ou comunhão total de bens, será aplicado, em regra geral, o 
regime de comunhão parcial de bens conforme o disposto no artigo 1.725 do Código 
Civil.(GIMENEZ, 2016) 
Em termos relativos o patrimônio familiar deve ser respeitado não importando, 
a quantidade de conviventes que contribuíram para a sua formação, nem a forma 
como estes contribuíram, a verdadeira função da constituição do patrimônio familiar 
é garantir o mínimo existencial, para a sua existência e desenvolvimento de seus 
componentes em meio a sociedade, a qual apesar de seu conservacionismo em 
relação aos relacionamentos poliafetivos, respeita a integridade do patrimônio 
familiar. 
Do registro dos filhos 
 
Diante da formação do núcleo familiar a tendência é que a mesma gere frutos, 
no caso da família poliafetiva não é diferente, o que há de diferente neste caso 
específico é: como será feito o registro das crianças nascidas em consonância da 
existência da família poliafetiva? 
De acordo com as disposições e inovações do ramo do direito civil atualmente 
já há a possibilidade de se registrar uma criança com a filiação biológica e 
socioafetiva como destaca Gimenez: 
 
Em uma análise objetiva, parece benéfico à criança, a convivência com pais 
que vivem em uma união poliafetiva, pois haveria uma maior proteção [...] 
Além da proteção, há ainda o amor, afeto, carinho e atenção que serão 
redobrados em razão do maior número de pais[...]. Mas separações 
ocorrem mesmo em caso de famílias “tradicionais”, ou seja, composta pelo 
arranjo familiar mais tradicional entre pai, mãe e filhos. Portanto, não se 
pode vedar esse tipo de registro com uma multiplicidade de pais 
fundamentando em um possível prejuízo [...], enquanto os benefícios são 
mais prováveis e concretos, pois é certo que o amor, proteção, carinho e 
afeto serão mais amplos desde o nascimento da criança. (GIMENEZ, 2016, 
p. 78.) 
 
Destaca-se nesses casos é que a figura de quem gerou ou educou a criança 
não importa, o que é valorizado a criança fruto desse tipo de família se sentirá ainda 
mais protegida e amparada diante os ditames da lei, mesmo quando ocorre uma 
dissolução da unidade familiar. 
Cumpre evidenciar que da mesma forma que em casos de união poliafetiva 
os filhos advindos desse tipo de família adquirem o direito de multiparentalidade, 
pois em nossa sociedade a genética e o afeto de certa forma encontram-se 
equiparados perante as decisões dos tribunais ao permitir o registro dos genitores e 
pais socioafetivos diante a realidade em que a forma genética predominava sobre o 
afeto. 
 
Da dissolução da união poliafetiva 
 
Em um primeiro momento é importante ressaltar que a dissolução do vínculo 
poliafetivo ocorre através do rompimento ou do falecimento de um de seus 
conviventes, obedecendo a regra geral a dissolução do vínculo entre os mesmos 
estabelece-se a triação dos bens da família durante o período de convivência, este 
caso não irá ocorrer quando houver contrato de separação ou comunhão total de 
bens. 
Este conceito de triação segundo Maria Helena Diniz passou a ser adotado 
perante a jurisprudência já que assim como em um casamento há a meação, a 
triação irá obedecer os mesmos requisitos da mesma, a diferença é a divisão 
patrimonial em três partes, bem como os demais procedimentos inerentes a 
dissolução como a guarda dos filhos e a necessidade da prestação de alimentos aos 
mesmos. (DIAS, 2016) 
Além da dissolução decorrente pelo rompimento dos conviventes, a 
dissolução de vínculo ocorre diante do falecimento de um dos conviventes, será 
respeitada a triação conforme a dissolução advinda do rompimento, respeitando os 
direitos sucessórios do convivente, irá à parte da triação, a divisão sucessória, onde, 
esta poderá ir aos descendentes ou aos demais conviventes no regime de 
comunhão parcial de bens, e em casos especiais será transferida aos ascendentes, 
isso é o que se faz necessário entender no presente contexto sobre a dissolução por 
força de falecimento, a divisão concreta de sucessão abrange um leque maior, 
interessante a ser apresentado em outro trabalho. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Tendo em vista os aspectos observados sobre o reconhecimento da família 
poliafetiva e a possibilidade de seus praticantes ficarem juridicamente tutelados 
perante o ordenamento jurídico a que somos submetidos pelo Estado e estando 
presentes lacunas dentro do mesmo, onde a própria Constituição Federal garante 
direito a família a todas as pessoas. Apesar da função social do Estado 
regulamentar relações sociais, ele não pode impedir um retrocesso social, devendo 
dessa forma evoluir também com a sociedade atendendo as necessidades de 
adaptação da mesma. 
Dentro desse raciocínio, é interessante destacar que o conceito de família 
sofreu e ainda sofre modificações, com a finalidade de se garantir a abrangência do 
maior número de relações de afeto possível. Com a modificação e o avanço dos 
costumes e da sociedade, a família deixou de ser constituída apenas pelo 
casamento civil. Não obstante em atender em parte o apelo social ocorreu o 
reconheceu-se a união estável como forma de se constituir família na Constituição 
de 1988, mas apenas para os casais heterossexuais, ficando fora da proteção 
estatal os casais do mesmo sexo, fato que se modificou no ano de 2011quando o 
Estado reconheceu as uniões estáveis de pessoas do mesmo sexo. 
Outro fator de grande relevância para um possível reconhecimento da família 
poliafetiva é a sua difícil distinção em relação a família paralela ou simultânea, pois 
nas relações paralelas há uma “traição”. Diferentemente na união poliafetiva todos 
os cônjuges se conhecem e tem a ciência da relação de afeto entre o trio ou 
qualquer outra quantidade utilizada em sua constituição. A verificação constitucional 
e infraconstitucional da viabilidade de reconhecimento do instituto família poliafetiva, 
que tem por desígnio de mostrar a sociedade que a monogamia não é a única forma 
de se constituir família, investida de todos os princípios fundamentais, garantidos as 
demais espécies familiares, principalmente os princípios da afetividade, dignidade da 
pessoa humana e isonomia. 
Em virtude dos fatos já mencionados, pode-se dizer que em relação a família 
poliafetiva o direito ainda tem muito a evoluir, conforme ocorreu com as famílias 
homoafetivas, mas isso não quer dizer, que seja impossível, já que o ativismo 
judicial e a mídia colocam pressão aos legisladores e ao judiciário para que este 
anseio social se torne realidade. 
Isso inclui a necessidade da modificação da Lei nº 9.278/96, o que não quer 
dizer afronta a constituição, já que a mesma delimita a monogamia apenas para o 
casamento, que é uma das formas de se constituir família, ademais devemos 
considerar a evolução da sociedade em que vivemos, de modo que considerar a 
monogamia como a única forma de se constituir família, não quer dizer que há a 
boa-fé de ser família, o que significa um desrespeito a todos os princípios 
fundamentais do direito de família aqui explanados. 
Da mesma forma o reconhecimento da espécie poliafetiva já que todos os 
seus praticantes têm apenas um único interesse, “ser família”, não apenas nas 
relações de afeto, mas com proteção jurídica tutelada pelo estado, visando abranger 
todas as suas necessidades, assim como qualquer outra espécie de família 
juridicamente detentora de direitos em nosso estado democrático de direito. 
 
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