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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ GRADUAÇAO DE TEOLOGIA Entre o Sagrado e o Humano: a hierofania nossa de cada dia! DISCIPLINA INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS TEOLÓGICOS – PROFESSOR : ERNANI JOSÉ ANTUNES ALUNA: JUSTINA OLIVEIRA NETA Matrícula : 202001430271 Salvador Novembro /2020 2 1 INTRODUÇÃO Acredita-se que o ser humano esteja interligado a religiosiodade na sua essência. Isso acontece porque a natureza humana tende a buscar “algo diferente”, “transcendente”, a fim de tornar a vida mais expressiva e completa. Cada religião tem em sua essência o mesmo intuito: estabelecer uma ligação capaz de fazer o elo entre a humanidade a esse “algo diferente”, “transcendente” De acordo com Amaral (2018, p. 66) O termo “hierofania” ´foi originado da composição entre as palavras gregas ἱερός (hierós, “sagrado”) e υαίνω (phaínō, “manifestar, aparecer), constituindo simplesmente “manifestação do sagrado”. Trata-se de um dos conceitos mais importantes da obra de Eliade. “O termo υαίνω (phaínō) significa originalmente “trazer para a luz do dia, pôr no claro”, e procede da raiz pha-, de onde vem também phos, isto é, luz ou claridade”. Desse modo a hierofania ocorre quando o sagrado se materializa na esfera humana. Ora, é evidente que, se o sagrado de algum modo se torna conhecido, é porque ele se manifesta, isto é, vem à luz. No entanto, é extremamente necessário discutir as múltiplas concepções do sagrado. Amaral (2018, p.7) destaca que Eliade(1996) “apresenta quatro significados complementares do sagrado: 1) o ganz andere (o totalmente outro); 2) uma realidade totalmente diferente das “naturais”; 3) um mysterium tremendum et fascinans (mistério tremendo e fascinante); 4) um majestas (poder)” Eliade(1996) apresenta quatro termo “Poder”, “Ser”, “Realidade”, “Perenidade” e “Eficácia”, considerando-os todos, de certo modo, o próprio sagrado. O sentido desta “equação” fica mais palpável para nós quando experimentamos substituir o termo “sagrado” por “Deus” conforme Amaral (2018) destaca: Se assumirmos como referencial o cristianismo, i.e., a religião que nos é, a priori, mais “próxima”, podemos afirmar que Deus é: a) Onipotente, isto é, Aquele que detém todo o poder, razão pela qual pode criar e sustentar todo o universo no ser; b) a própria realidade ou o ser, como lemos em Êxodo 3:14, “Eu sou aquele que é”; c) a perenidade, pois Deus é eterno; d) a eficácia, pois detendo todo o poder, Deus não apenas cria o mundo, mas atua diretamente nele, dirige o curso da história e opera milagres, manifestando-se e revelando-se através de Jesus Cristo.(AMARAL, 2018, p. 8) Eliade(1996) não utiliza os termos os termos “Deus” e “teofania”, mesmo assim é possível perceber a proximidade e em muitos casos a equivalência entre os pares Deus/teofania e sagrado/hierofania. De acordo com Amaral (2018) para que se faça a devida 3 relação entre estes pares, podemos dizer que toda teofania é uma hierofania, mesmo que nem toda hierofania seja uma teofania, e que o sagrado englobe o divino, mas não se restringe apenas a ele. Desse modo, é possível inferir que o “sagrado” é um termo relativo, pois geralmente é utilizado para designar, reunir e abranger uma grande diversidade de experiências religiosas da humanidade. Enquanto tal, o “sagrado” é um termo com significado aberto e que pode, a depender do contexto religioso, adquirir diferentes significados, ainda que resguardando uma relação de comparação com os demais significados. 2 A DIALÉTICA DO SAGRADO: SOBRE O SAGRADO E O PROFANO É notório que existem muitas diferenças significativas entre as religiões, no entanto , entre elaas existem também características comuns: a dualidade sagrado/profano, por exemplo. De acordo com Jesus, 2014, nas religiões, a interação com o sagrado acontece por fé e tem como objeto principal aquilo que se entende por divino. Na essência divina é revelada elementos até então desconhecidos aos seres humanos, proporcionando uma experiência rica e reveladora à eterna busca da natureza humana: Em linhas gerais, por sagrado se entende tudo aquilo que está relacionado com santidade (em qualquer esfera, seja como objeto, pessoa, tempo ou espaço). Elementos relacionados com potências que o ser humano não pode dominar são concebidos como superiores, sendo compreendidos como pertencentes a outra dimensão, denominada “divina” e considerada “separada” do mundo humano. O profano, por seu turno, é entendido como oposição ao sagrado, abarcando os elementos do mundo cotidiano do ser humano. (JESUS, 2014, p. 14) Neste sentido, de acordo com Jesus (2014), Durkheim fala que os fenômenos sagrados e profanos são resultados da criação do ser humano e não de uma transcendência ou divindade. Assim, o sagrado é o heterogêneo do profano, é aquilo que o profano não pode acessar. O sagrado possui em sua essência tanto o bem quanto o mal, enquanto o profano não é o mal, é apenas a ausência do sagrado. Ao observar o que Eliade (1996) pontua sobre o sagrado, o autor expressa que a religião não é capaz de comportar toda a experiência do sagrado, pois traz na sua essência uma carga histórica limitada que dificilmente pode ser aplicada sem discriminação e julgamentos.. Entretanto, ao mesmo tempo, o termo “religião” pode ser utilizado para exemplificar essa experiência desde que não carregue uma crença em Deus, deuses ou 4 espíritos, se refira à experiência do sagrado e esteja ligado às ideias de ser, significação e verdade. Esta perpesctiva do sagrado apresentada por Eliade(1996) converge com as ideias apresentadas pelo site Dom real(2017) o qual afirma que existem diferenças imensas entre sagrado e religião. Todavia o site diz que é possível admitir que na religiosidade esteja inserida de um sentido de reverência, solenidade, adoração, veneração, desprezo de si e máximo respeito diante do Outro Absoluto. Com isto, na vivência autêntica do sagrado, o humano desmonta essas certezas de outrora e vivencia genuinamente tal experiência transcendental. Como todo empreendimento humano visa certa satisfação e busca, no que tange ao seu estado diante do sagrado, “a satisfação dessa necessidade de ser não se contenta com o que satisfaz os sentidos meramente imanentes. O desejo se desenvolve, a busca pela plenitude aumenta e a imaginação orienta todos os sentimentos para aquilo que está “além””.( DOM REAL, 2017, p.1). 2.1 POSSIBILIDADES DE MANIFESTAÇÃO DO SAGRADO Segundo Eliade, há três modos pelos quais o sagrado pode se manifestar, a saber: teofania, sinal e evocatio. No caso da teofania, como o nome já sugere, Trata-se de uma manifestação divina. Pode-se tomar como exemplo a escada de Jacó, narrada em Gênesis, 28: 12-19: em Haram, quando Jacó vê em um sonho uma escada que tocava os céus, e pela qual os anjos subiam e desciam. De repente Jacó ouve a voz do próprio Deus, que o diz: “Eu sou o Eterno, o Deus de Abraão!” Na segunda modalidade de hierofania, isto é, o “sinal”, Eliade apresenta o seguinte exemplo: Segundo a lenda, o morabito que fundou El-Hemel no fim do século XVI parou, para passar a noite, perto da fonte e espetou uma vara na terra. No dia seguinte, querendo retomá-la a fim de continuar seu caminho, verificou que a vara lançara raízes e que tinham nascido rebentos. Ele viu nisso o indício da vontade de Deus e fixou sua morada neste lugar.21 (ELIABE, 1996 APUD AMARAL, 2018, p. 10) Enquanto que no sinal existe um algo portador de uma significação religiosa, no evocatio, portanto, é o próprio homem que provoca um sinal. Ou seja, como houve a não manifestação espontânea do sagrado, o homem o provoca a fim de se orientar no espaço e de obter a revelação do espaço sagrado: [...] persegue-se um animal feroz e, no lugar onde o matam, eleva-se o santuário;ou então põe-se em liberdade um animal doméstico – um touro, por exemplo –, procuram-no alguns dias depois e sacrificam-no ali mesmo onde o 5 encontraram. Em seguida levanta-se o altar e ao redor dele constróise a aldeia. (ELIABE, 1996 APUD AMARAL, 2018, p. 10) Um exemplo de festa popular que traz a mistura do sagrado e do profano , é a Lavagem do Senhor do Bonfim, que acontece em Salvador/Ba. De acordo com Jesus, (2014), o ritual sagrado da lavagem das escadarias e do adro da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim homenageia o santo católico, que no candomblé é associado a Oxalá. A mídia e os baianos consideram esta lavagem como um ritual mais importante da Bahia. A festa também simboliza o sincretismo religioso do Brasil, pois é um momento profano de festejo religioso popular que envolve inúmeras camadas sociais, traduzindo-se como uma importante diferenciação dos diversos grupos que integram a sociedade: O ritual evidencia o sagrado e o profano em um mesmo ato. É um espaço de comemoração e memória coletiva que, através do sagrado, aproxima as pessoas e constitui uma identidade de diálogo entre as diversas manifestações religiosas. É o mais perfeito exemplo da religiosidade popular presente na indumentária multicultural dos brasileiros.(JESUS, 2014, p.43) Neste ritual da lavagem das escadarias e do adro da igreja do Nosso Senhor do Bonfim, a religião surge como tema central da festa. Vale ressaltar que ele foi criado, gerado e desenvolvido em um contexto de exclusão, opressão e dominação. No momento da festa mesclar-se o cultural, o sagrado e o profano. A festa é marcada com emoções advindas devoções, pelos ritos e pelas tradições. 3 CONCLUSÃO Em suma, o ser humano é um ser religioso que vive em uma eterna buscando por aquilo que lhe permite sair do tempo profano em que se encontra e ir ao encontro do sagrado. No cerne social estão presente diversas crenças, ritos e a religião da qual despontam as crenças. As crenças são responsáveis por dividir o mundo em sagrado e profano. Portanto, já que as crenças provêm da religião e esta é a idealização da sociedade, a dualidade sagrado/profano é criação do ser humano e não do transcendente. É importante ressaltar que existem diversos conceitos de sagrados e que a hierofania ou manifestação divina está presente também nas tradições populares. 6 REFERÊNCIAS AMARAL, Vítor Rodovalho. “O sagrado e o profano” e a experiência religiosa do espaço e do tempo nas sociedades arcaicas segundo Mircea Eliade. 2018. Disponível em https://domtotal.com/noticia/1117952/2017/01/o-humano-diante-do-sagrado- uma-experiencia-de-busca/. Acesso em 01.nov.20 ELIADE, Mircea. Imagens e símbolos: ensaio sobre o simbolismo mágico-religioso. Tradução de Sonia Cristina Temer. São Paulo: Martins Fontes, 1996. JESUS, Arivaldo Ferreira de et al. Entre o sagrado e o profano: aproximações à religiosidade popular a partir da lavagem das escadarias e do adro da Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. 2014. https://domtotal.com/noticia/1117952/2017/01/o-humano-diante-do-sagrado-uma-experiencia-de-busca/ https://domtotal.com/noticia/1117952/2017/01/o-humano-diante-do-sagrado-uma-experiencia-de-busca/
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