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83 - APOSTILA - FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL

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Prévia do material em texto

Formação 
Econômica do Brasil
Professora Doutora
Ariane Maria Machado de Oliveira
Diretor Geral 
Gilmar de Oliveira
Diretor de Ensino e Pós-graduação
Daniel de Lima
Diretor Administrativo 
Eduardo Santini
Coordenador NEAD - Núcleo
de Educação a Distância
Jorge Van Dal
Coordenador do Núcleo de Pesquisa
Victor Biazon
Secretário Acadêmico
Tiago Pereira da Silva
Projeto Gráfico e Editoração
André Oliveira Vaz
Revisão Textual
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha
UNIFATECIE Unidade 1
Rua Getúlio Vargas, 333,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 2
Rua Candido Berthier
Fortes, 2177, Centro
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 3
Rua Pernambuco, 1.169,
Centro, Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
UNIFATECIE Unidade 4
BR-376 , km 102, 
Saída para Nova Londrina
Paranavaí-PR
(44) 3045 9898
www.fatecie.edu.br
As imagens utilizadas neste 
livro foram obtidas a partir
do site ShutterStock
FICHA CATALOGRÁFICA
FACULDADE DE TECNOLOGIA E 
CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. 
Núcleo de Educação a Distância;
OLIVEIRA, Ariane. Maria Machado de.
Formação Econômica do Brasil.
Ariane. Maria Machado de Oliveira.
Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 91 p.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira dos Santos.
AUTORA
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
●	 Doutora em Administração Estratégica pela PUC/PR (2018). 
●	 Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (2005).
●	 Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina 
(2002). 
●	 Coordenadora do curso a distância de Economia, Gestão Financeira e Comércio 
Exterior da Kroton Educacional S/A.
Atua como docente de Economia/Finanças há 13 anos. No ano de 2013 foi Pro-
fessora Colaboradora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Campus CP). Por 
dois anos foi coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Pública e 
Negócios Imobiliários no NEAD - UniCesumar. Atuou como Coordenadora Geral e Coor-
denadora do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais e Coordenadora do 
projeto de pesquisa Consultoria Júnior na Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do 
Paraná - UniFatecie (2008 - 2011). 
Área acadêmica de atuação: Economia e todas as subáreas e Administração Fi-
nanceira/Empresarial.
Link lattes: http://lattes.cnpq.br/7783844445395674
http://lattes.cnpq.br/7783844445395674
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
Seja muito bem-vindo(a)!
Prezado(a) aluno(a), é com imenso prazer que lhe apresento nosso material de 
estudos da disciplina de Formação Econômica do Brasil. Ao longo desta apostila você terá 
um contato profundo com conteúdo de formação histórica, imprescindível para que você, 
enquanto aluno(a), construa uma base cultural indispensável à expressão de um posiciona-
mento	reflexivo,	crítico	e	comparativo,	acerca	da	formação	econômica	do	Brasil.	Ao	final	da	
apostila você terá desenvolvido competências e habilidades que lhe permitirão compreender 
as diferentes fases da economia brasileira e seu processo de formação econômica, desde a 
economia colonial, passando pela formação do estado nacional, pela economia escravista, 
pelo início da formação do capital industrial, até a crise de 1929 e a revolução de 1930. 
 Na Unidade I começaremos nosso bate-papo analisando o contexto mundial diante 
do período chamado Grandes Navegações. Serão apresentados a você os principais as-
pectos da empresa agrícola no período colonial e como essa obteve êxito. O processo de 
colonização e o estabelecimento de colônias espanholas e portuguesas serão debatidos 
no intuito de demonstrar sua importância no processo de ocupação territorial brasileiro e 
suas consequências econômicas. O processo de desenvolvimento da indústria açucareira 
e	o	uso	da	mão-de-obra	escrava	será	também	tema	central	desta	unidade,	para,	por	fim,	
abordarmos a pecuária como atividade de subsistência.
Já na Unidade II você irá saber mais sobre a expansão da colonização. Primeira-
mente você conhecerá mais sobre o funcionamento do sistema administrativo na colônia, 
para, em seguida, compreender o processo de formação do complexo econômico nordesti-
no. Em seguida veremos a respeito do período chamado era do ouro, quando a descoberta 
de metais preciosos fez deslocar o centro dinâmico da economia do nordeste para a região 
centro-sul.	Ainda	nesta	unidade	será	abordado	o	renascimento	da	agricultura	e	o	fim	da	era	
colonial.
Na sequência, na Unidade III falaremos a respeito do processo de transição da 
economia escravista para a economia de trabalho assalariado. O primeiro assunto da uni-
dade será o chamado passivo colonial, que foram as dívidas deixadas por Portugal que 
acabaram	por	gerar	crise	financeira	e	instabilidade	política.	Veremos	então	o	que	levou	ao	
declínio da renda na primeira metade do Século XIX, bem como os problemas ocasiona-
dos pela falta de mão-de-obra e a pressão abolicionista internacional. Quanto à segunda 
metade do século XIX, veremos como a transição para a economia assalariada levou a um 
crescimento	e	à	geração	de	um	fluxo	de	renda.	A	atividade	cafeeira	surge	nessa	unidade,	
como destaque no processo de avanço econômico.
Em	nossa	Unidade	IV	vamos	finalizar	o	conteúdo	dessa	disciplina,	com	aspectos	
da transição para o sistema industrial. Primeiramente, veremos como a crise cafeeira preju-
dicou o processo de desenvolvimento da economia brasileira e quais foram os mecanismos 
de defesa adotados. A crise de 1929, que levou ao período chamado de Grande Depressão, 
também	será	vista	nesta	unidade.	Por	fim,	veremos	como	se	deu	o	processo	de	transição	
da economia brasileira para os primeiros sinais de industrialização.
Com tudo isso que veremos, poderemos interpretar e analisar a evolução da eco-
nomia brasileira, centradas nas transformações ocorridas na estrutura econômica do país 
entre	o	período	colonial	até	o	final	dos	anos	de	1930.	Convido	você	a	mergulhar	no	processo	
de formação da economia brasileira, para que possa compreender como chegamos onde 
estamos nos dias de hoje. 
Desejo	sucesso	profissional	e	pessoal	para	você.	
Obrigada e bons estudos!
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 7
Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das 
Grandes Navegações e Ocupação Territorial
UNIDADE II ................................................................................................... 28
Expansão da Colonização
UNIDADE III .................................................................................................. 53
Economia de Transição para o Trabalho Assalariado
UNIDADE IV .................................................................................................. 71
Economia de Transição para um Sistema Industrial
7
Plano de Estudo:
●	 Grandes navegações e ocupação territorial do continente americano;
●	 O processo de ocupação territorial brasileiro;
●	 Fatores de êxito da empresa agrícola;
●	 Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas;
●	 As Colônias de Povoamento do Hemisfério Norte;
●	 Economia Escravista de Agricultura Tropical;
●	 Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira;
●	 Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária.
Objetivo de Aprendizagem:
●	 Fornecer subsídios necessários aos alunos para a montagem de um referencial 
teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na formação 
socioeconômica brasileira até o período de predominância do capitalismo industrial.
UNIDADE I
Contextualização Mundial – O Mundo 
Durante o Período das Grandes 
Navegações e Ocupação Territorial
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
8UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) aluno(a)! Dando início a nossa primeira unidade da disciplina de Forma-
ção Econômica do Brasil, abordaremos questões que nos levem a compreender o mundo 
durante o períododas grandes navegações e como se deram as ocupações territoriais. As 
grandes	viagens	marítimas	feitas	pelos	europeus,	no	final	do	século	XV,	nos	despertam	in-
teresse	e	curiosidade	quanto	aos	métodos	e	desafios	enfrentados	pelos	navegadores,	que,	
mesmo com pouca tecnologia e ferramentas ainda primitivas, enfrentaram o mar, ainda em 
parte desconhecido, movidos por questões econômicas, políticas, religiosas e até mesmo 
pelo fascínio que ele despertava. 
Além de abordarmos alguns aspectos do período das grandes navegações, vamos 
buscar compreender como se deu o processo de povoamento do hemisfério norte, pas-
sando pelas colônias espanholas e portuguesas, pelo período da economia escravista de 
agricultura tropical, pelo processo de capitalização e nível de renda na colônia açucareira e 
sua projeção até a pecuária.
A primeira unidade apresentará, então, inicialmente uma análise do período que 
vai do pré-colonial a meados do século XVI, abordando o processo de ocupação territorial 
das Américas em busca de compreender como se deu a evolução econômica do Brasil 
pré-colonial ao período colonial. Em seguida, poderemos constatar, ao longo da unidade, 
que o início do período colonial foi marcado pelo estabelecimento de colônias portuguesas 
de exploração, que tiveram o açúcar como principal produto durante décadas, e mão-de-
-obra	escrava.	Por	fim,	buscaremos	compreender	de	que	maneira	a	 indústria	açucareira	
influenciou	no	surgimento	da	pecuária.
Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o sis-
tema político e administrativo na colônia, formação do complexo econômico nordestino, 
a	mineração	e	a	ocupação	no	centro-sul,	o	renascimento	da	agricultura	até	o	fim	da	era	
colonial, em 1822. Nas duas últimas unidades do livro, estudaremos, então, a economia de 
transição para o trabalho assalariado, bem como para o sistema industrial.
9UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
1 GRANDES NAVEGAÇÕES E A OCUPAÇÃO TERRITORIAL DO CONTINENTE AME-
RICANO
Monarcas e nobres competiam por poder e recursos na Europa do século XV. Uma 
sociedade com pouca oferta de mão de obra, que ainda sofria perturbações econômicas e 
sociais causadas pelas devastações da Peste Negra. Ao mesmo tempo, tratava-se de uma 
sociedade que tinha desejo por objetos de luxo, iguarias exóticas e de ouro que permitisse 
comprar esses artigos do Oriente com quem ela tinha um saldo comercial permanentemen-
te desfavorável (ELLIOT, 2004). O autor destaca ainda que a sociedade europeia se sentia 
ameaçada em suas fronteiras orientais pela presença hostil do Islã e pelo avanço dos 
turcos otomanos. Com o incremento do comércio interno durante o século XV e as invasões 
Otomanas	dificultando	em	certa	parte	o	fluxo	de	mercadorias	do	Oriente,	restou	às	nações	
europeias buscar novas fronteiras para seu desenvolvimento econômico. 
O	desenvolvimento	de	novas	 técnicas	de	cartografia	e	o	surgimento	da	bússola	
forneceram aos navegadores ferramentas que possibilitaram a exploração do Atlântico. 
Segundo Koshiba & Pereira (1996), instrumentos de navegação, como embarcações mais 
resistentes e modernas, a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante etc., 
há muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse período, bastante divulgados entre os 
europeus e aperfeiçoados por eles.
Esse	período	ficou	conhecido	como	Expansão	Comercial	Europeia	e	deu	início	às 
grandes navegações. Países como Portugal e Espanha se lançaram ao mar em busca de 
10UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
novas riquezas e nesse processo descobriram as Américas. Segundo Di Carlo (2015), tal 
feito acabou inserindo o reino espanhol no processo de expansão marítimo-comercial que, 
desde	o	início	daquele	século,	já	havia	propiciado	significativas	conquistas	para	o	Império	
português ao longo de todo século XV.
O clima de disputa entre portugueses e espanhóis se acirrou com a ascensão dos 
espanhóis na exploração de novas terras. Nesse contexto, o papa Alexandre VI assinou, 
em 1493, a Bula Inter Coetera, que buscava estabelecer os limites de exploração colonial 
entre	as	duas	nações,	evitando,	assim,	um	conflito	de	maiores	proporções.	Segundo	Pinto	
(1979), Portugal buscava garantir primeiramente seu monopólio na costa africana e a Es-
panha preocupava-se em legitimar a exploração nas terras localizadas a oeste. 
No ano de 1494, o rei português Dom João II exigiu a revisão do primeiro acordo 
assinado pelo papa Alexandre VI, pois, segundo ele, tal divisão não satisfazia os interesses 
lusitanos. Alguns historiadores relatam que havia fortes indícios de que os portugueses 
tinham conhecimento de outras terras localizadas na porção sul do continente descoberto, 
o	que	veio	a	ser	confirmado	por	documentos	encontrados	séculos	mais	tarde.	Para	evitar	
o	desgaste	de	um	conflito	militar,	os	espanhóis	aceitaram	a	revisão	dos	acordos	com	uma	
nova intermediação do papa. 
Pouco tempo depois do Tratado de Tordesilhas (1494) ser assinado, nações eu-
ropeias incipientes no processo de expansão marítima, questionavam sua legitimidade, 
por ser um acordo restrito aos países ibéricos (Portugal e Espanha). O sucesso de na-
vegadores como Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral forneceu as duas nações, 
Portugal e Espanha, terras a serem exploradas. A descoberta das novas terras não gerou, 
no entanto, uma ação imediata das duas nações no intuito de colonizar os territórios, os 
portugueses, por exemplo, não ocuparam imediatamente o extenso território de que tinham 
tomado posse. 
Segundo Prado Júnior (1981), até quase meados do século XVI, portugueses 
e	 franceses	 traficavam	ativamente	na	 costa	brasileira	 o	 pau-brasil.	Era	uma	exploração	
rudimentar que não deixou traços apreciáveis, a não ser na destruição impiedosa e em 
larga	escala	das	florestas	nativas	de	onde	se	extraía	a	preciosa	madeira.	Não	se	criaram	
estabelecimentos	 fixos	 e	 definitivos.	 Limitaram-se	 a	 organizar	 algumas	 expedições	 e	 a	
erguer construções precárias em alguns pontos do litoral, as feitorias, para organizar a 
extração e o embarque de pau-brasil para a Europa (BERNAND; GRUZINSKI, 1997). Este 
foi o primeiro produto explorado em nosso território.
11UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
Para darmos sequência ao nosso estudo, é importante que você compreenda como 
se deu o processo de evolução da economia brasileira, analisando a Tabela 1.
Tabela 1 - Períodos da história do Brasil e principais produtos produzidos
Fonte: a autora.
A partir da Tabela 1 você pode compreender a cronologia dos fatos associando-a 
à evolução histórica econômica do Brasil. A tabela apresenta os principais fatos e produtos 
explorados desde o período pré-colonial até o período republicano. Em especial até a era 
do café, cuja crise se deu em meados dos anos de 1930. 
1.1 Processo de Ocupação Territorial Brasileiro
Segundo Furtado (2007), o início da ocupação econômica do território brasileiro é 
em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha 
pelas demais nações europeias. A França, por exemplo, organizava suas expedições 
marítimas ao Brasil como forma de questionar o Tratado de Tordesilhas, argumentando 
que a legitimação da exploração colonial deveria se basear no princípio da posse útil, ou 
seja, que as terras deveriam estar sendo exploradas economicamente. A ocupação se fazia 
necessária, portanto, para garantir a posse e a questão econômica passou a ter também 
caráter político. 
Os	espanhóis	eram	capazes	de	financiar	a	defesa	de	 tais	áreas	com	o	sucesso	
da exploração de metais preciosos nos novos territórios descobertos e a Portugal, que 
ainda não havia encontrado metais preciosos em suas terras, restou buscar alternativa à 
mineraçãoe através da exploração agrícola fomentar a defesa de seus territórios. Para 
12UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
executar tal plano, Portugal envia ao Brasil Martim Afonso de Sousa, para fundar a primeira 
colônia de exploração, em 1530.
Para proteger a extensa costa brasileira de outros povos europeus que desembarca-
vam no Brasil, a coroa portuguesa implantou, em 1534, o sistema de capitanias hereditárias. 
Para Prado Júnior (1981), o plano, em suas linhas gerais, consistia no seguinte: dividiu-se 
a costa brasileira (o interior, por enquanto, era para todos os efeitos desconhecido) em 
doze setores lineares, com extensões que variavam entre 30 e 100 léguas. Tratava-se de 
um	sistema	no	qual	as	terras	eram	cedidas	a	donatários,	pessoas	de	confiança	do	rei	de	
Portugal, que se comprometiam a povoar a terra com portugueses e fomentar a atividade 
econômica.
Mesgravis (2015) destaca que as obrigações e direitos dos donatários para com 
a	Coroa	estavam	definidos	em	um	documento	chamado	Regimento,	que	acompanhava	a	
Carta de Doação assinada pelo rei. Tal documento preservava os privilégios do rei, ou seja, 
a	Coroa	mantinha	a	autoridade	final	sobre	todos	os	assuntos	coloniais	e	o	donatário	tinha	
obrigações militares e econômicas.
REFLITA
Você sabia que nesse sistema, os donatários podiam distribuir lotes de terras denomina-
dos sesmarias, criar vilas, cobrar tributos e escravizar indígenas? Em troca eram obriga-
dos a pagar ao governo português um décimo de tudo o que produzissem e ganhassem. 
Na realidade, as capitanias pertenciam ao rei e não aos donatários, porém eram heredi-
tárias,	pois	passavam	de	pai	para	filho.
Fonte: a autora.
https://escola.britannica.com.br/artigo/tributo/482640
13UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
Segundo Nieuhof (1981), eram 15 capitanias em que o território brasileiro foi dividido 
e que foram doadas para 12 donatários, sendo que alguns receberam mais de uma. Eram 
elas: Maranhão (dois quinhões, isto é, duas porções), Ceará, Rio Grande, Itamaracá (mais 
tarde recriada com o nome de Paraíba), Pernambuco, Baía de Todos-os-Santos, Ilhéus, 
Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (dois quinhões, um dos quais, mais 
tarde, foi rebatizado como Rio de Janeiro), Santo Amaro e Santana. Podemos observar 
tal divisão por meio da Figura 1,	que	apresenta	as	capitanias	definidas	a	partir	da	 linha	
imaginária do tratado de Tordesilhas.
Figura 1 – Capitanias Hereditárias do Brasil
Fonte: Cintra (2013).
Historiadores destacam alguns dos obstáculos ao sistema de capitanias hereditárias 
que levaram a seu fracasso. Mattos, Innocentini e Benelli (2012) citam que a maioria dos 
donatários não tinham recursos para investimentos, e alguns não demonstravam interesse 
em ocupar suas terras. Outro fator levado em conta era a distância entre a colônia e a me-
trópole	portuguesa,	que	dificultava	o	transporte	de	pessoas	para	a	povoação	dos	territórios.	
14UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
A falta de produtos de abastecimento, o clima e os frequentes ataques indígenas reagindo 
contra	a	escravização	e	a	invasão	de	suas	terras	dificultavam	ainda	mais	o	desenvolvimento	
das capitanias hereditárias.
Segundo Mattos, Innocentini e Benelli (2012), apenas as capitanias de Pernambu-
co	e	de	São	Vicente	se	firmaram,	com	a	produção	açucareira	e	a	criação	de	gado,	e	nelas	
foram fundados povoados. Estabelecida em 1532 por Martim Afonso de Sousa, dois anos 
antes até de a capitania ser criada e ele se tornar seu donatário, São Vicente foi a primeira 
cidade fundada no Brasil.
Ao constatarem que o sistema de capitanias não estava alcançando seu propósito, 
em 1549 Portugal implanta uma outra forma de governo, que centralizava as decisões 
políticas e econômicas. No chamado governo-geral a coroa portuguesa passa, então, a 
retomar o controle sobre as capitanias, dando origem às províncias, que passaram a cons-
tituir os atuais estados brasileiros.
https://escola.britannica.com.br/artigo/cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar/483152
https://escola.britannica.com.br/artigo/gado/480928
https://escola.britannica.com.br/artigo/Martim-Afonso-de-Sousa/483570
15UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
1.2 Fatores do Êxito da Empresa Agrícola
Quase 30 anos após a descoberta de Pedro Álvares Cabral o Brasil ainda desper-
tava pouco interesse em Portugal, que se concentrava no comércio de especiarias vindas 
da Índia. A redução do comércio com as Índias coincidiu com os ataques que passaram a 
acontecer na costa Brasil. O surgimento da empresa agrícola açucareira vem da necessida-
de	de	Portugal	financiar	a	defesa	dos	novos	territórios.	Ao	contrário	da	Espanha	que	obteve	
resultados imediatos com o ouro e a prata, Portugal dependia do sucesso das empresas 
coloniais	para	a	ocupação	e	financiamento	da	defesa	das	áreas.	Os	 fatores	de	sucesso	
estão relacionados com uma grande demanda por açúcar vindo da Europa, e parcerias com 
nações como Holanda, que dominavam toda navegação comercial da época.
Segundo Furtado (2007), um conjunto de fatores particularmente favoráveis tomou 
possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola europeia. Os portugueses 
haviam já iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente gran-
de, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: 
o açúcar. Essa experiência resultou ser de enorme importância, pois, além de permitir a 
solução dos problemas técnicos relacionados com a produção do açúcar, fomentou o de-
senvolvimento, em Portugal, da indústria de equipamentos para os engenhos açucareiros. 
Esse conhecimento foi preponderante para a montagem dos novos engenhos na colônia, 
bem como para a produção de todo o maquinário necessário.
16UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
 É importante salientar que os esforços iniciais da coroa portuguesa foram pre-
ponderantes para o sucesso da empresa agrícola. Portugal reconhecia que a ocupação 
e torná-los viáveis economicamente eram as únicas maneiras de garantir tais territórios. 
Outro fator que deve ser observado é a exploração de escravos, no princípio nativos e 
posteriormente vindos da África, que forneceram a mão-de-obra para os engenhos e que, 
sendo não remunerada, viabilizava e aumentava em muito a lucratividade do negócio.
Todavia de nada adiantava produzir muito açúcar e não ter mercados para escoar 
tal produto. Inicialmente a superprodução gerou uma queda de preço no mercado interna-
cional,	 tendo	em	vista	a	dificuldade	de	encontrar	mercados	para	consumir	 tais	volumes.	
Nesse ponto, os holandeses foram fundamentais, pois já dominavam o comércio dentro da 
Europa e conseguiram os mercados que Portugal necessitava para o seu produto. Segundo 
Furtado (2007), os holandeses contribuíram não somente com sua experiência comercial. 
Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países Baixos. 
Existem	indícios	abundantes	de	que	os	capitalistas	holandeses	não	se	limitaram	a	financiar	
a	refinação	e	comercialização	do	produto.	Tudo	indica	que	capitais	flamengos	participaram	
no	 financiamento	 das	 instalações	produtivas	 no	Brasil,	 bem	como	no	da	 importação	da	
mão-de-obra escrava.
O êxito da empresa agrícola açucareira foi o que proporcionou aos portugueses 
se	fixar	nas	longas	extensões	de	terra	que	possuíam	nas	Américas,	de	tal	maneira	que	no	
século seguinte, quando o Tratado de Tordesilhas passou a ser mais fortemente questiona-
do	por	outras	nações,	Portugal	já	estava	fixado	de	tal	maneira	nestas	áreas	que	dificultava	
muito possíveis invasões.
17UNIDADE I ContextualizaçãoMundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
SAIBA MAIS
Como você imagina que funcionavam os engenhos de açúcar no período colonial? 
O	historiador	Jefferson	Evandro	Machado	Ramos	descreve	as	etapas	do	processo	de	
produção de açúcar no Brasil Colônia com base nos trabalhos de Furtado (2005) e Skid-
more (2003). 
 1º - A cana-de-açúcar era plantada, pelos escravos, em extensos canaviais. 
 2º - Os escravos cortavam a cana-de-açúcar e carregavam em carros de bois até a 
moenda,	que	ficava	na	parte	interior	do	engenho.	
 3º - Nas moendas (grandes máquinas movidas por moinho d’água, força humana ou por 
bois), a cana-de-açúcar era esmagada. O caldo de cana era obtido nessa etapa. 
 4º - O caldo de cana era colocado em grandes caldeiras para passar por um processo 
de fervura. O resultado, depois de horas, era um caldo bem grosso (pastoso). 
 5º - O caldo grosso era levado até a casa de purgar, onde era colocado em recipientes 
de barro, em formato de cone, com um furo na parte inferior. Esse furo possibilitava o 
escorrimento	do	restante	da	água.	O	caldo	ficava	nesse	local	de	3	a	5	dias,	até	que	toda	
água escorresse. 
	6º	-	No	final	da	etapa	anterior,	o	resultado	era	uma	espécie	de	bloco	de	açúcar,	em	for-
mato de cone e de cor amarelada. Esses “pães de açúcar”, como eram chamados, eram 
transportados	para	a	Europa,	local	em	que	seriam	clareados	(refinados)	e	vendidos	aos	
comerciantes	locais	e	consumidores	finais.
Fonte: Ramos (2010).
Para mais informações leia: FERLINI, V. L. A. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1994.
18UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
1.3 Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas
A principal diferença entre as colônias espanholas e portuguesas é que a Espanha 
encontrou, em seus territórios, povos altamente desenvolvidos, com sistemas de hierarquia 
e conhecimentos profundos acerca de seus mundos, tais como os Incas e Astecas. Portugal, 
no entanto, encontrou uma população nativa muito mais dispersa, que ainda não apresen-
tava uma organização social tão elaborada. Outra grande diferença eram os números de 
habitantes. As colônias espanholas possuíam muito mais população nativa que a Espanha 
pôde utilizar como mão-de-obra na mineração, através de acordos com as elites nativas.
O grande sucesso da indústria açucareira portuguesa poderia ter despertado nos 
espanhóis algum interesse em replicar tal empreendimento em seus domínios que tinham 
um	solo	melhor	que	o	do	litoral	brasileiro	e	gozavam	de	posição	geográfica	mais	próxima	da	
Europa que o Brasil, o que facilitaria a exportação. O grande sucesso obtido na mineração de 
metais preciosos, no entanto, fez com que os espanhóis não se voltassem para tal atividade.
O sucesso espanhol na exploração de metais preciosos acabou gerando problemas 
internos na economia da Espanha, pois a riqueza trazida com o ouro e a prata gerou uma 
forte	inflação.	Setores	produtivos	de	manufatura	também	foram	afetados,	pois	a	população	
local preferia viver direta ou indiretamente de subsídios fornecidos pelo governo. Isto fez 
com que a Espanha tivesse que passar a importar cada vez mais produtos, o que afetou 
diretamente a balança comercial espanhola. Tudo isto combinado gerou grande crise inter-
na que teve também desdobramentos políticos e impactou na administração das colônias.
Todos esses problemas internos que afetaram a Espanha e a administração de 
suas colônias fez com que não se tornassem um concorrente ao açúcar brasileiro. Se as 
19UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
colônias espanholas tivessem se concentrado também na produção de açúcar e gerado 
uma concorrência para as colônias portuguesas isso poderia ter um impacto muito profundo 
no empreendimento português.
1.3.1 As colônias de povoamento do hemisfério Norte
O acontecimento mais impactante para o Brasil no século XVII foi o surgimento 
de uma forte concorrência para os produtos que o Brasil produzia. Inicialmente, países 
como França, Holanda e Inglaterra invadiram e passaram a estabelecer colônias nas Anti-
lhas e Caribe, com o objetivo de ocupar posições estratégicas para uma possível invasão 
das colônias espanholas da América Central e do Sul, que passavam por uma forte crise 
junto com a coroa. Plano que nunca chegou a se concretizar devido às rivalidades entre 
Inglaterra e França. Por conta do caráter político de tais ocupações, o sistema adotado foi 
o de pequenas propriedades cedidas a europeus. A Inglaterra teve mais facilidade que a 
França para povoar, pois tinha um excedente interno de população desocupada, resultado 
de mudanças na agricultura, que acabou por gerar uma forte turbulência política, religiosa 
e	social,	de	tal	modo	que	alguns	grupos	preferiam	encarar	o	desafio	de	uma	vida	nova	nas	
Américas.
Segundo Furtado (2007), as tentativas de colonização da América do Norte ha-
viam sido um fracasso, pois o clima propiciava a produção dos mesmos produtos que 
se produziam na Europa, tendo em conta o custo de transporte de tais produtos para os 
mercados	consumidores	e	a	mão-de-obra	barata	que	a	Europa	dispunha	à	época,	ficava	
economicamente inviável manter tais colônias. Nas Antilhas e Caribe, no entanto, devido ao 
clima, era possível produzir uma gama muito maior de produtos, sobretudo usando peque-
nas propriedades. Produtos como café, anil, tabaco e algodão tinham grande potencial de 
mercado na Europa e geraram grandes lucros para as companhias colonizadoras.
Esse sucesso comercial de tais produtos passou a demandar um número cada vez 
maior	de	mão-de-obra	europeia	e	isso	se	tornou	uma	grande	dificuldade,	mesmo	usando	o	
sistema de servidão temporária, em que condenados poderiam substituir sua condenação 
por	trabalhos	em	tais	colônias,	não	foi	o	suficiente	para	suprir	 toda	a	necessidade.	Para	
solucionar tal problema, a ideia foi introduzir escravos vindos da África, mas isso alterou 
também os produtos produzidos e até mesmo as propriedades, desta forma, elas passaram 
a se dividir em dois tipos: as pequenas propriedades, que empregavam europeus, e as 
grandes propriedades, que empregavam escravos.
Desta maneira, surge uma grande concorrência entre as pequenas propriedades 
produtoras de produtos tropicais e as grandes propriedades que empregavam mão-de-obra 
20UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
escrava. O aumento da produção ocasionou também redução no preço de tais produtos 
no mercado internacional, o que gerou uma crise e impactou diretamente no modelo de 
colonização dessa região. A partir desse momento o Brasil passa também a ser impactado, 
o modelo inicial de colonização do Caribe e Antilhas com pequenas propriedades garan-
tia ao Brasil quase que um monopólio na produção do açúcar, que dependia de grandes 
propriedades para ser produzido. Com as novas grandes propriedades, que utilizavam 
mão-de-obra escrava, viabilizou-se a produção de açúcar no Caribe e Antilhas.
Um fator que acelerou este processo foi a expulsão dos holandeses do território 
brasileiro em Pernambuco, detentores de técnicas e equipamentos para a produção. Após 
a expulsão eles preferiram se associar a ingleses e franceses já instalados a montarem 
suas próprias propriedades. Dessa maneira, apenas uma década após a expulsão dos ho-
landeses do Brasil uma pujante economia açucareira se estabeleceu na região. Isto gerou 
uma outra consequência, que foi a migração dos povos de origem europeia, tanto ingleses 
quanto franceses, para dar lugar aos escravos, que foram em sua maioria para colônias 
no Hemisfério Norte, que, como citamos foram inicialmente um fracasso, porém com o 
aumento da população o mercado interno se fortaleceu, se tornando quase auto	suficiente 
e dependendo minimamente de importações.A recente monocultura açucareira estabelecida nas Ilhas do Caribe fez com que 
alguns produtos agrícolas deixassem de ser produzidos e passassem a ser importados. 
Isso	beneficiou	as	colônias	da	América	do	Norte,	que	passaram	a	fornecer	tais	suprimentos.	
Mas não eram só de suprimentos básicos que necessitavam as Ilhas, era preciso madeira 
para encaixotar o açúcar, bem como animais para mover as moendas dos engenhos etc. 
Para fazer o transporte de todas estas mercadorias entre América do Norte e Caribe eram 
necessários	muitos	 navios	 e	 isso	 fez	 florescer	 uma	 indústria	 naval	 no	Norte.	Tudo	 isso	
fortaleceu a região que detinha um forte mercado interno e que ainda possuía um grande 
cliente nas Antilhas e Caribe para as suas exportações.
Com isso inicia-se a terceira etapa da exploração das Américas. Na primeira etapa 
temos viagens extrativistas se utilizando de mão-de-obra nativa, visando metais preciosos 
e produtos como o Pau-Brasil, em segundo momento se estabelecem grandes empresas 
agrícolas, utilizando força de trabalho escrava importada. Já na terceira etapa, sobretudo 
no Hemisfério Norte, temos o surgimento de uma economia mais próxima do que era a 
economia europeia, focada primeiramente no mercado interno e sem uma separação clara 
entre as atividades para exportação e para o mercado interno.
21UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
2 ECONOMIA ESCRAVISTA DE AGRICULTURA TROPICAL 
Encontrar toda força de trabalho necessária para tocar a colonização foi o grande 
problema encontrado pelos colonos portugueses no início. O clima hostil para os padrões 
europeus, as condições precárias e todas as incertezas ligadas a tal aventura afugentava 
um número maior de portugueses. Dentro desse cenário os colonos utilizaram como primei-
ra alternativa a captura e escravização de nativos. 
Essa atividade foi tão importante que algumas comunidades tinham como principal 
atividade econômica a captura e comercialização de indígenas. Os nativos tiveram papel 
fundamental nessa primeira etapa, auxiliando na instalação dos engenhos e construindo 
as bases do que viria a ser a indústria açucareira no Brasil. Os escravos africanos são 
introduzidos posteriormente em um momento em que os engenhos já funcionavam e eram 
capazes de arcar a importação e compra de escravos. 
 Prado Júnior (1981) cita que o processo de substituição do índio pelo negro pro-
longou-se	até	o	fim	da	era	colonial.	Contra	o	escravo	negro	havia	um	argumento	muito	
forte: seu custo. Não tanto pelo preço pago na África, mas em consequência da grande 
mortalidade a bordo dos navios que faziam o transporte. Mal alimentados, acumulados de 
forma a haver um máximo de aproveitamento de espaço, suportando longas semanas de 
confinamento	e	as	piores	condições	higiênicas,	somente	uma	parte	dos	cativos	alcançavam	
seu destino. Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil, destes 
22UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi, assim, sempre muito elevado, e 
somente	as	regiões	mais	ricas	e	florescentes	podiam	suportá-lo.
Essa estrutura de agricultura tocada por escravos foi a base do início da colonização 
do Brasil. Com mão-de-obra sem custos de salário e em grande quantidade, era possível 
operar as fazendas e os engenhos que dependiam de um número alto de funcionários 
e o não pagamento de salários maximizava ainda mais os lucros e tornava a atividade 
altamente rentável.
2.1 Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira
Passada	a	dificuldade	inicial	em	se	estabelecer,	a	indústria	açucareira	tem	cresci-
mento	vertiginoso	no	final	do	século	XVI	com	um	investimento	de	cerca	de	1,8	milhão	de	
libras esterlinas e um acréscimo de 20 mil escravos trazidos da África.
Segundo Furtado (2007), não	se	pode	afirmar	com	precisão	sobre	a	renda	gerada	
por essa economia, mas estima-se que podia chegar até 2 milhões de libras em anos 
favoráveis, o que representava muito para uma população de aproximadamente 30 mil 
habitantes europeus que viviam na colônia. Mas cabe destacar que toda essa riqueza era 
concentrada nas mãos dos proprietários de engenho.
A atividade açucareira se mostrava tão rentável que chegava a fornecer um retorno 
de aproximadamente 90% ao senhor do engenho, o que é facilmente explicado pelo baixo 
custo de produção. Segundo Furtado (2007), apenas 5% eram gastos com o pagamento de 
transporte e armazenamento, 2% eram pagos para alguns assalariados: homens de vários 
ofícios e supervisores do trabalho dos escravos e outros 3% eram gastos na compra de 
gado para tração e de lenha para as fornalhas.
Os dados apresentados demonstram a grande capacidade de geração de renda 
da	atividade	açucareira	no	final	do	século	XVI.	Furtado	(2007)	cita	que	os	ganhos	com	a	
produção açucareira eram capazes de promover uma duplicação em sua capacidade de 
produção a cada dois anos. Havia também um grande volume de absorção da produção de 
açúcar pelos mercados demandantes, o que evitou uma crise de superprodução.
23UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
REFLITA
Se	a	plena	capacidade	de	autofinanciamento	da	indústria	açucareira	não	era	utilizada,	
que	destino	tomaram	os	recursos	financeiros	que	sobravam?
Fonte: a autora.
Nas palavras de Furtado (2007), é óbvio que os recursos advindos do açúcar não 
eram utilizados dentro da colônia, onde a atividade econômica não-açucareira absorvia 
ínfimos	capitais.	O	autor	supõe	então	que parte do capital investido na economia açuca-
reira pertencesse aos comerciantes europeus e que grande parte da renda gerada com 
tal atividade retornava para a Europa, pois era advinda de um capital que pertencia aos 
comerciantes europeus. 
Sitima	(2014)	relata	que	a	atividade	açucareira	tinha	dimensões	suficientes	para	in-
fluenciar	o	desenvolvimento	de	outras	regiões	da	colônia,	porém	esse	potencial	sempre	foi	
desviado para o exterior por decisões políticas de evitar uma concorrência com o mercado 
metropolitano.
24UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
SAIBA MAIS
Plantation é o nome dado a um modelo de exploração econômica em que se destacam 
como aspectos principais: a concentração da propriedade da terra, a monocultura, con-
trole de grande número de trabalhadores escravos e produção voltada para o mercado 
externo. Durante o período colonial brasileiro, esse foi o modelo adotado em larga es-
cala, sendo a cana-de-açúcar o principal produto cultivado até meados do século XVIII.
Fonte: Diégues Júnior (1958).
2.2 Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária
Na segunda metade do século XVI a atividade agrícola para exportação tomou 
tamanho vulto que um mercado paralelo se formou para abastecer as grandes fazendas de 
suas necessidades. Os lucros com o açúcar eram tão elevados que inclusive a própria pro-
dução para subsistência foi abandonada por muitas delas, pois era antieconômico destinar 
áreas	de	produção	de	cana	a	tal	fim.		
 Furtado (2007) destaca que era no setor de bens de produção que o suprimento 
local encontrava maior espaço para expandir-se, pois as duas principais fontes de energia 
dos engenhos – a lenha e os animais para tração – podiam ser supridas localmente com 
grande vantagem. Sendo assim, o autor cita que a separação das duas atividades (açuca-
reira e criatória) no Nordeste foi que impulsionou a criação de gado na região e promoveu 
a penetração e ocupação do interior do território brasileiro.
De acordo com Prado Júnior (1981), a pecuária se destinava a satisfazer as ne-
cessidades alimentares da população. Mas a pecuária, apesar da importância relativa que 
atinge e do grande papel que representa na colonização e ocupação de novos territórios,continuava sendo uma atividade visivelmente secundária e acessória, tendo sempre um 
lugar se segundo plano, estando subordinada às atividades principais da grande lavoura e 
sofrendo de grande incerteza.
25UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desta unidade foi o de fornecer a você, aluno(a), a capacidade de 
desenvolver um referencial teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na 
formação socioeconômica brasileira até o período de avanço da economia açucareira, para 
a pecuária. Para tal, primeiramente abordamos o processo de colonização do território bra-
sileiro, bem como o sucesso da empresa agrícola neste contexto. As colônias espanholas 
e portuguesas foram destacadas como fundamentais ao avanço da atividade econômica. 
Ao abordarmos a colonização do hemisfério norte, vimos como um processo que 
havia fracassado no começo obteve sucesso posteriormente devido à criação de um merca-
do interno fortalecido, e clientes externos, como a indústria açucareira das Antilhas. Desta 
forma, pudemos conhecer as primeiras três etapas da colonização americana, focadas 
primeiramente	na	economia	extrativista,	 em	seguida	na	 indústria	agrícola	e,	 por	 fim,	no	
fortalecimento do mercado interno, com um sistema econômico mais parecido com o que 
estava em vigor na Europa.
Em seguida, foram apresentados aspectos da economia escravista de agricultura 
tropical, em que as rendas geradas nos engenhos de açúcar se mostravam expressivas, 
mas	que	não	 foram	suficientes	para	gerar	um	 reinvestimento	que	 levasse	ao	desenvol-
vimento econômico. O surgimento da atividade pecuária foi o último tópico abordado na 
unidade, considerando ser esta uma atividade de subsistência, sendo fonte quase única de 
alimentos e de matéria-prima (couro) que se utilizava praticamente para tudo.
Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o siste-
ma político e administrativo na colônia, a formação do complexo econômico nordestino, a 
mineração	e	a	ocupação	no	centro-sul,	até	o	fim	da	era	colonial,	em	1822.
26UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
LEITURA COMPLEMENTAR
Para complementar os assuntos discutidos ao longo da primeira unidade, acesse 
os conteúdos a seguir:
Título: Capitanias Hereditárias e desenvolvimento econômico: herança colo-
nial sobre desigualdade e instituições
Autor(es): Enlinson Mattos 
Thais Innocentini 
Yuri Benelli 
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os eventuais efeitos da heran-
ça colonial na formação dos municípios brasileiros sobre suas condi-
ções atuais de desigualdade de distribuição de terra e renda e sobre a 
qualidade das instituições. Em particular, empregam-se área, latitude, 
longitude	e	a	data	de	fundação	para	identificar	os	municípios	perten-
centes aos territórios das Capitanias Hereditárias (CHs). Em seguida, 
busca-se estimar se essa característica histórica dos municípios está 
correlacionada com suas instituições atuais, considerando diversos 
controles, tais como: área proporcional da capitania; haver pertencido 
aos ciclos da cana e do ouro; estar no litoral; sua distância em relação 
a Portugal; tipo de solo; quantidade de chuva; altitude; temperatura 
média; e as variáveis socioeconômicas municipais. Os resultados su-
gerem de forma robusta que o município que pertenceu à área des-
tinada às CHs (um aumento de um desvio-padrão) está associado a 
uma concentração maior de terras (Censo Agrícola de 1996), medida 
pelo índice de Gini (aumento de meio desvio-padrão), a menores gas-
tos públicos locais e a menor persistência política. No entanto, não 
se encontrou associação robusta sobre os seguintes indicadores dos 
municípios brasileiros: desigualdade de renda, Produto Interno Bruto 
(PIB) municipal per capita, número de agências bancárias públicas, de 
cartórios e empresas públicas no município, nem na governança local 
e no acesso à justiça local.
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/5081
Título: Economia brasileira: uma visão histórica
Autor(es): Eustáquio José Reis 
Resumo: Esta resenha sobre Economia Brasileira: uma visão histórica reúne ar-
tigos sobre uma enorme variedade de temas da história econômica 
brasileira. Exceto por uma contribuição de demógrafos e duas outras 
de historiadores, as demais são assinadas por economistas. Apesar 
das contribuições que alguns dos artigos trazem para a pesquisa e o 
ensino	da	nossa	história	econômica,	o	livro	deixa	a	desejar	pelas	defi-
ciências e negligências no trabalho de organização e editoração.
Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7129
27UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial
MATERIAL COMPLEMENTAR
LIVRO
Título: História do Brasil Colônia
Autor: Laima Mesgravis
Editora: Contexto
Sinopse: Escravidão, exploração colonial, choque de culturas, 
pau-brasil, cana-de-açúcar, minas de ouro, bandeirantes, jesuí-
tas... São muitos os temas associados ao Brasil no período colo-
nial. Todos eles estão presentes neste livro, pequeno apenas em 
extensão, uma vez que é rico em informações e interpretações. A 
historiadora Laima Mesgravis, da USP, consegue a proeza de ser 
sucinta e abrangente, utilizando como base textos de cronistas, 
religiosos e autoridades da época, além de trabalhos históricos 
produzidos	nos	séculos	XX	e	XXI.	O	leitor	atento	ficará	surpreso	ao	
encontrar, já na Colônia, traços da diversidade do povo brasileiro, 
assim como a base de nosso sistema hierárquico. É no passado 
colonial que podemos encontrar os melhores e piores traços da 
nossa cultura. Obra destinada a professores e estudantes da área, 
assim como a todos que se interessam pelas nossas raízes pro-
fundas.
FILME/VÍDEO
Título: Vermelho Brasil 
Autor: Sylvain Archambault
Ano: 2014
Sinopse: A história da expedição de Villegagnon ao Brasil por 
volta de 1555 e sua luta para criar uma colônia, a chamada França 
Antártica, nas terras conquistadas pelos portugueses. Filmado 
em	Paraty,	no	Rio	de	Janeiro,	o	filme	comete	deslizes,	entre	eles,	
ser falado em inglês (e não em francês, a língua dos invasores). 
A brasileira Giselle Motta vive a índia Paraguaçu e Pietro Mário, 
brasileiro de origem italiana, aparece em dois papéis: o de um 
marinheiro e o de um francês que vive entre os índios. O ator por-
tuguês Joaquim de Almeida interpreta João da Silva, um lusitano já 
perfeitamente integrado com os indígenas e que representa o seu 
país colonizador.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6IAcEAV7hAM
28
Plano de Estudo:
●	 Sistema Político e Administrativo colonial;
●	 O estabelecimento do Governo-Geral;
●	 Formação do complexo econômico nordestino;
●	 Expansão territorial;
●	 A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul;
●	 O Renascimento da Agricultura;
●	 O	fim	da	era	colonial;
●	 A independência do Brasil.
Objetivos de Aprendizagem:
●	 Contextualizar a evolução do sistema político e administrativo da colônia, desde as 
capitanias hereditárias até a instauração do Governo-Geral;
●	 Estabelecer a importância da mineração no processo de ocupação no centro-sul e 
a mudança do centro econômico do Nordeste para Minas Gerais;
●	 Fazer com o que o(a) aluno(a) compreenda como se deu o ressurgimento da 
agricultura	pós	crise	da	mineração	e	como	se	deu	o	fim	da	era	colonial.
UNIDADE II
Expansão da Colonização
Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira
29UNIDADE II Expansão da Colonização
INTRODUÇÃO
Daremos início aqui ao conteúdo da segunda unidade da disciplina de Formação 
Econômica do Brasil. Nesta unidade poderemos aprofundar nossos conhecimentos acerca 
do processo de expansão da colonização brasileira. Cabe lembrar que o projeto de colo-
nização surgiu efetivamente devido às pressões dos outros países europeus, que também 
estavam em busca de nossas riquezas. Naunidade I vimos que o sistema de capitanias 
hereditárias, que até então comandava a administração da colônia, havia fracassado de-
vido à grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), a falta de recursos 
econômicos	e	os	constantes	ataques	indígenas.	Nesta	unidade	veremos,	então,	que	o	fim	
desse sistema foi marcado pelo estabelecimento do Governo Geral no ano de 1548, cujo 
objetivo era centralizar a administração, tendo mais controle da Coroa Portuguesa. 
Veremos também nesta unidade a necessidade que os portugueses tinham de 
encontrar ouro e prata, a exemplo da Espanha, pois apenas o comércio de especiarias no 
Oriente	já	não	era	suficiente	para	a	obtenção	de	receitas.	Veremos	também	como	a	desco-
berta do ouro alterou o centro econômico da colônia do Nordeste, para a região centro-sul.
 Você verá também que, ao longo da história brasileira, ciclos sucessivos de cres-
cimento econômico antes da industrialização, como a produção de cana-de-açúcar no Nor-
deste no século XVII, o ciclo do ouro em Minas Gerais no século XVIII, e a produção do café 
no Sudeste nos séculos XIX e XX, foram criados e deixaram características importantes 
do subdesenvolvimento brasileiro: baixa produção e falta de diversidade de exportação, 
bem	como	estrutural	 	heterogeneidade,	especificamente,	um	vasto	setor	subempregado	
existente lado a lado com um setor moderno de alta produtividade. Abordaremos então o 
estabelecimento do governo-geral, para, em seguida, constatarmos como se deu o proces-
so	de	colonização	do	centro-sul,	em	especial	com	a	descoberta	do	ouro.	Por	fim,	o	término	
da era colonial será abordado na última seção, a partir da chegada da família Real ao 
Brasil, seu estabelecimento, até o processo de independência do Brasil, no ano de 1822.
https://www.infoescola.com/historia/governo-geral-do-brasil/
30UNIDADE II Expansão da Colonização
1 EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO
1.1 Sistema Político e Administrativo da Colônia
Para analisarmos como se deu processo de desenvolvimento do sistema político e 
administrativo no Brasil colonial, vamos relembrar alguns fatos importantes vistos na primeira 
Unidade da disciplina. Cabe lembrarmos que embora a Coroa Portuguesa tenha declarado 
rapidamente a sua posse do novo território nos termos do Tratado de Tordesilhas, ela não 
mostrou, no início, desejo de incorrer em quaisquer despesas para criar uma administração 
colonial ou para imitar a Espanha e embarcar em uma grande missão civilizatória no Novo 
Mundo. Segundo Prado Junior (2012), nessas condições, colonizar ainda era entendido 
como aquilo que dantes se praticava: fala-se em colonização, mas o que o termo envolve 
não era mais do que o estabelecimento de feitorias comerciais, como os italianos vinham 
de longa data praticando no Mediterrâneo. 
Apesar da atitude geral de indiferença, no entanto, vimos que o Brasil não foi com-
pletamente negligenciado. Embora não houvesse ouro e prata de fácil acesso, a monarquia 
portuguesa reconheceu que lucros respeitáveis poderiam ser obtidos a partir do comércio. 
Como havia sido a prática na África Ocidental, a maioria das despesas decorrentes da 
montagem de navios e realização de comércio foram arcadas por indivíduos privados. Isso 
era conseguido pelas concessões da corte para criar feitorias e negociar com a população 
local. Segundo Furtado (2007), em troca, os comerciantes concordavam em pagar uma 
31UNIDADE II Expansão da Colonização
parte	fixa	de	seus	lucros	à	Coroa	e	manter	a	estação	comercial	como	um	posto	avançado	
do império português.
 Em 1502, foi dado o monopólio do comércio de madeira brasileira ao novo comer-
ciante cristão, Fernando de Noronha, que se comprometeu a organizar a defesa do litoral 
e enviar novas missões exploratórias. Feitorias foram estabelecidas ao longo da costa, 
mas os comerciantes portugueses tinham pouco incentivo para avançar para o interior. Em 
contraste com a América Espanhola, não havia sinais da proximidade de metais preciosos 
nem populações nativas numerosas ou civilizações avançadas. Além disso, o avanço para 
além	do	litoral	foi	seriamente	impedido	pela	proximidade	de	floresta	e	selva	densas,	altas	
cadeias de montanhas além de rios com fortes corredeiras. Além disso, havia a ameaça 
de índios hostis, animais selvagens, insetos venenosos e cobras. As feitorias no Brasil 
provaram, portanto, ser precárias e inicialmente não tiveram muita importância. 
O descuido da Coroa Portuguesa em relação ao Brasil foi afetado pela invasão 
de concorrentes franceses que também foram atraídos pela disponibilidade e potencial 
econômico do comércio de madeira no Brasil. Um navio francês teria chegado à costa 
brasileira em 1504, mas eles não costumavam estabelecer feitorias em terra, e faziam 
negócios	diretamente	com	os	índios.	Isso	não	só	representava	um	desafio	para	a	reivindi-
cação portuguesa de monopolizar o comércio de madeira no Brasil, como também levou a 
um aumento no fornecimento para a Europa, o que ocasionou redução nos preços e nos 
lucros portugueses. Segundo Smith (2002), o Rei português denunciou os comerciantes 
franceses como piratas e enviou navios para patrulhar as águas brasileiras. Consciente de 
que o rei da França não reconhecia as reivindicações portuguesas e espanholas previstas 
no Tratado de Tordesilhas, o Rei João III (1521 a 1557) decidiu antecipar possíveis inter-
ferências	de	outras	nações,	afirmando	seu	próprio	controle	sobre	o	Brasil.	Para	 isso,	no	
entanto, exigiu a provisão de uma presença militar e civil portuguesa permanente no novo 
território.
Foi então que deu início à primeira tentativa da Coroa portuguesa de organizar a 
ocupação e colonização do Brasil, por meio do sistema de capitanias que vimos na Unidade 
I. Você lembra que em tal sistema, havia um acordo semelhante a um pacto feudal, feito 
entre o rei e cada donatário no qual este último e seus herdeiros recebiam a terra (carta 
de doação) e em troca se comprometiam não só a pagar impostos ao rei, mas também a 
estabelecer e desenvolver a terra e a prover sua defesa contra os índios e invasores es-
trangeiros? Com os arrendamentos para o comércio de madeira brasileira, os donatários e 
seus herdeiros assumiram todos os custos para estabelecer as capitanias. O donatário, no 
32UNIDADE II Expansão da Colonização
entanto, exercia poderes de jurisdição civil e criminal e também foi autorizado a subdividir 
sua capitania em lotes menores e separados de terras não cultivadas conhecidas, como 
sesmarias. Inicialmente havia tanta terra disponível que algumas sesmarias individuais 
eram enormes. O maior variou de 40 a 100 milhas quadradas e estabeleceu um precedente 
para a criação de grandes propriedades que seriam uma característica proeminente da 
futura distribuição de terras no Brasil.
Logo	ficou	evidente	que	o	sistema	de	capitania	era	muito	ambicioso	e	impraticável.	
Não	havia	aristocratas,	comerciantes	ou	camponeses	portugueses	suficientes	dispostos	a	
emigrar para um país tão vasto e subdesenvolvido como o Brasil. Em contraste, a África e a 
Índia ainda permaneciam mais atraentes e destinos menos perigosos. Smith (2002) cita que 
apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco foram inicialmente bem-sucedidas. As 
outras capitanias estavam em estado de caos. Segundo historiadores, donatários enviavam 
súplicas ao Rei João III, em 1548, dizendo que se o Rei não ajudasse as capitanias, perderia 
suas terras. No entanto o sucesso da indústria açucareira em São Vicente e Pernambuco 
demonstrou potencial para produzir renda regular e bons lucros (SMITH, 2002). O sonho de 
encontrar metais preciosos também permaneceu.
SAIBA MAIS
Nenhum representante da grande nobreza se incluía na lista dos donatários, pois os 
negócios na Índia, em Portugal e nas ilhas atlânticas eram, por essa época, bem mais 
atrativos.
A atribuição de doar sesmarias deu origem à formação de vastos latifúndios. A sesma-
ria foi conceituada no Brasil comouma extensão de terra virgem, cuja propriedade era 
doada a um sesmeiro, com a obrigação – raramente cumprida – de cultivá-la no prazo 
de cinco anos e de pagar o tributo devido à Coroa. 
A herança dos sistemas de capitanias hereditárias pode ser sentido até hoje através do 
coronelismo e das famílias que seguem mantendo o poder em certos estados.
Fonte: Fausto (1996, p. 25).
33UNIDADE II Expansão da Colonização
1.2 O Estabelecimento do Governo-Geral
O rei João III reconheceu que a intervenção real era oportuna e necessária para 
evitar o colapso do sistema de capitanias e a possível perda de seu império americano para 
rivais estrangeiros. Em 1548 anunciou a nomeação de Tomé de Sousa como governador-
-geral residente da colônia. A capitania da Bahia também foi reivindicada como terra real. 
Tomé de Sousa chegou ao Brasil em março de 1549 com uma poderosa frota de seis navios 
e mais de 1.000 soldados. 
Segundo Araújo (2000), Salvador surgiu com o foro de cidade – uma prerrogativa 
exclusiva do rei de Portugal –, e a sua construção foi ordenada por D. João III em 1548, no 
regimento dado a Tomé de Souza, que iniciou as obras da cidade. Também por determi-
nação regimental, Salvador foi erguida em outro lugar, no alto de uma colina e mais para 
dentro da baía de Todos os Santos, onde hoje se encontra o Centro Histórico.
Embora algumas capitanias individuais tenham sobrevivido até o século XVIII, a 
fundação de Salvador como capital da colônia e sede do novo governo central marcou a 
afirmação	direta	e	visível	da	autoridade	real	pela	primeira	vez	no	Brasil	e,	consequentemen-
te,	significou	o	abandono	do	sistema	de	capitania	como	o	modelo	preferido	da	Coroa	de	
governo colonial. Na verdade, os donatários foram obrigados a abrir mão de seus poderes 
exclusivos em relação à arrecadação de impostos, administração da justiça e defesa do 
território.
O envio de reforços militares mostrou-se sensato, porque Sousa e seus suces-
sores, mais notavelmente Mem de Sá, que foi governador-geral de 1558 a 1572, tiveram 
que combater as tentativas francesas de tomar posse do território brasileiro. Prado Júnior 
(2012) relata que durante mais de dois séculos despejaram na América todo o resíduo das 
lutas político-religiosas da Europa. A ameaça mais grave surgiu em 1555, quando uma frota 
francesa comandada pelo almirante Nicolas Durand de Villegagnon entrou na Baía de Gua-
nabara e, em aliança com os índios Tamoios, fundou uma pequena comunidade conhecida 
como “Antártica Francesa” na Ilha de Sergipe. O objetivo ostensivo era estabelecer um 
refúgio para os Huguenotes franceses1. A resposta portuguesa ao empreendimento brasi-
leiro de Villegagnon foi intransigente. Após uma série de ataques das forças portuguesas a 
partir	de	1565,	os	franceses	foram	finalmente	expulsos	em	1567.	
Operações militares dirigidas contra os franceses resultaram então no estabeleci-
mento de novos assentamentos portugueses ao longo do litoral brasileiro que se estende 
1 Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França.
34UNIDADE II Expansão da Colonização
de	São	Vicente	até	o	Vale	do	Amazonas.	Nesse	processo	houve	conflito	 frequente	com	
índios locais, resultando em sua submissão e expulsão. Esforços foram feitos, no entanto, 
para converter os índios ao cristianismo. Na verdade, seis jesuítas chegaram com a frota 
de Tomé de Sousa em 1549. Liderados pelo padre Manoel da Nóbrega, desempenharam 
um	papel	importante	na	promoção	da	política	de	pacificação	e	no	aculturamento	dos	índios.	
Nas palavras de Fausto (1996), vieram com o governador-geral os primeiros jesuítas – 
Manuel da Nóbrega e seus cinco companheiros –, com o objetivo de catequizar os índios e 
disciplinar o ralo clero de má fama existente na Colônia
	A	autoridade	e	influência	da	Igreja	foi	consideravelmente	reforçada	pela	criação	da	
diocese da Bahia em 1551. Na segunda metade do século XVI, as atitudes portuguesas 
em	 relação	 ao	 Brasil	 haviam	mudado	 significativamente.	 Embora	 o	 vasto	 interior	 ainda	
permanecesse praticamente inexplorado e desconhecido para os europeus, o Brasil não 
era mais apenas uma coleção de feitorias, mas uma colônia contendo vários assentamen-
tos	fortificados	permanentes,	um	governo	central	e	uma	diocese	localizada	no	capital	de	
Salvador	e	o	início	de	uma	indústria	açucareira	fluorescente.
SAIBA MAIS 
O que foi a União Ibérica, conhecida também como Dupla Monarquia?
A chamada União Ibérica ocorreu após a crise dinás-
tica iniciada com a morte do rei D. Sebastião de Por-
tugal, na famosa Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de 
agosto de 1578. Com a debilidade do último dos Avis, 
D. Enrique, e com a agressiva reclamação ao trono 
feita pelo rei espanhol Felipe II (1555-1598), bem res-
paldado por seu exército sob o comando do duque 
de Alba (1507-1582), tem início a maior “união de rei-
nos” da história moderna. Durante 60 anos, Portugal 
e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica, 
controlando, além das possessões europeias, gran-
des áreas ultramarinas na América, África e Ásia. As-
sim, nas primeiras duas décadas do século XVII o objetivo central da burocracia hispa-
no-lusa era assegurar a posse das imensas regiões de ultramar, nas quatro partes do 
mundo conhecido, constantemente ameaçadas pelos concorrentes oceânicos: França, 
Inglaterra e principalmente Holanda. No caso do Estado do Brasil essa política iria tra-
duzir-se na criação de novas unidades administrativas que desembocariam na criação 
do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621.
Fonte: Cardoso (2011). 
35UNIDADE II Expansão da Colonização
O excelente porto e a localização estratégica da Baía de Guanabara levaram os 
portugueses a estabelecer uma nova cidade que se chamava (São Sebastião do) Rio de 
Janeiro. Embora as ameaças francesas persistissem, especialmente no Norte, onde Daniel 
de La Touche2 fundou o assentamento de São Luís, em 1612, eles nunca foram militarmente 
poderosos	o	suficiente	para	minar	o	controle	português	do	Brasil.
Straforini (2008) cita em seus estudos sobre a formação territorial brasileira nos 
dois primeiros séculos de colonização, que a criação do Estado do Maranhão, em 1621, 
não impediu a consolidação e avanço dos portugueses pelo vale do rio Amazonas, pois, 
durante o período da Monarquia Dual (União Ibérica), a administração do Brasil e do Ma-
ranhão, na prática, cabia ao conselho formado pelo clero e pela aristocracia lusitana, logo, 
pelos portugueses.
Apesar da tentativa de centralização do governo colonial em Salvador e São Luís, 
um	sistema	descentralizado	permaneceu	firme	durante	a	maior	parte	do	período	colonial,	
pois	a	distância	geográfica	e	as	dificuldades	de	comunicação	fizeram	com	que	a	capacida-
de do governador-geral de interferir nos assuntos locais fosse muito limitada. Além disso, 
o Brasil colonial proporcionou um contraste acentuado com a América Espanhola ao não 
desenvolver grandes cidades e centros administrativos, como a Cidade do México e Lima, 
de onde irradiavam poder real e autoridade.
De fato, historiadores relatam que, principalmente por razões econômicas e de se-
gurança, a população do Brasil preferiu se reunir em municípios compostos por pequenas 
cidades e vilas, muitas das quais estavam localizadas próximas a grandes plantações de 
açúcar. Os municípios eram, portanto, o foco do governo local. Os poderosos latifundiários e 
plantadores locais conhecidos como “homens bons” serviram como conselheiros (vereado-
res) no Senado ou câmara municipal que era o equivalente ao cabildo3 hispano-americano. 
A composição exata dos conselhos variava, mas eram geralmente presididas por um juiz 
ordinário	que	também	atuava	como	oficial	de	justiça	permanente.
1.3 Formação do Complexo Econômico Nordestino
No Nordeste brasileiro duas atividades se destacavam: a açucareira e a pecuária. 
Ambas	tinham	sistemas	de	produção	que	não	sofriam	grandes	modificações,	isso	fazia	com	
2 Daniel deLa Touche, sob o título de Senhor de La Ravardière, foi um experiente Lugar-tenente 
General da Marinha Francesa do século XVII. Nobre, de religião protestante, liderou a expedição francesa 
que, em 1612, deu início as pretensões de colonização no Norte do Brasil.
3 Cabildo era uma corporação municipal instituída na América Espanhola durante o período colonial 
que se encarregava da administração geral das cidades coloniais.
36UNIDADE II Expansão da Colonização
que não houvesse investimentos para aumentar produtividade ou reduzir custos. Porém, 
devido ao baixo investimento e custos baixos, tais atividades se adaptavam muito bem a 
alterações no preço de seus produtos. Era lucrativo continuar produzindo mesmo que o 
preço caísse muito.
A atividade canavieira dependia da compra de equipamentos e importação de 
mão-de-obra, já a pecuária não, nela o aumento do rebanho acontecia de forma natural, 
assim como a incorporação de terras e a mão de obra, pois considerando que a atividade 
era capaz de prover alimento em abundância, isso causava um aumento ainda maior da 
população nestas atividades.
A queda no preço do açúcar na segunda metade do século XVII reduziu a lucra-
tividade do setor, mas não a ponto de torná-lo inviável, a atividade continuou operando 
mesmo vendo seus lucros caírem fortemente. A situação, porém, se complicou ainda mais 
no século XVIII com o aumento do preço dos escravos e a transferência de parte da força 
de trabalho para as minas de ouro em Minas Gerais. No caso da pecuária, a redução da 
demanda de seus produtos não parou a proliferação do rebanho e mão-de-obra, seja a que 
crescia naturalmente no seu entorno ou a que abandonava os engenhos que passavam 
por	dificuldades,	sempre	encontrava	 trabalho.	Mesmo	que	fossem	atividades	 limitadas	à	
subsistência.
Toda essa redução na lucratividade da indústria açucareira e, por consequência, 
na pecuária que era fornecedora dos engenhos, fez com que a renda diminuísse na região 
Nordeste a ponto de ter início algumas atividades de manufatura local, destinadas a forne-
cer produtos que em outras épocas eram importados. Nesse cenário, o couro teve papel 
importante como matéria-prima.
Fica	claro,	no	entanto,	que	do	fim	século	XVII	até	começo	do	século	XIX	a	economia	
nordestina passou por um processo no qual as atividades mais especializadas e industriais 
foram dando lugar a uma economia de subsistência que causou um retrocesso em relação 
ao nível de renda e desenvolvimento. De toda forma, houve um grande aumento popula-
cional devido às atividades de subsistência, uma população cada vez maior e com renda 
cada vez mais baixa ou inexistente. Esse processo de crescimento e empobrecimento do 
Nordeste brasileiro tem consequências que podemos observar até os dias de hoje quando 
pensamos	em	todos	os	problemas	financeiros	que	a	região	atravessa.
37UNIDADE II Expansão da Colonização
2 EXPANSÃO TERRITORIAL
A União Ibérica facilitou a exploração territorial e a colonização do Brasil, porque 
retirou as restrições de fronteira que dividiam o continente que havia sido estabelecido 
pelo Tratado de Tordesilhas em 1494. Mas o principal motivo para a exploração europeia 
no interior ainda era a busca por metais preciosos. Soma-se a isso o desejo de capturar 
índios para trabalhar como escravos nas plantações de açúcar em rápida expansão. As 
expedições mais celebradas foram as organizadas pelos bandeirantes de São Paulo. Os 
bandeirantes eram uma combinação de índios e europeus, muitos dos quais eram uma 
mistura de origem branca e indígena, conhecidos como mamelucos. Eles ganharam seu 
nome	a	partir	das	bandeiras	distintas	que	eles	carregavam	para	identificar	a	si	mesmos.	
Percorrendo enormes distâncias a pé por semanas, meses e até anos, os bandeirantes 
adquiriram uma reputação formidável e heroica. Um padre jesuíta comentou: “Eles vão sem 
Deus, sem comida, nus como os selvagens, e sujeitos a todas as perseguições e misérias 
do mundo. Os homens se aventuram por 200 ou 300 léguas no sertão, servindo ao diabo 
com	um	martírio	tão	incrível,	a	fim	de	negociar	ou	roubar	escravos”	(SKIDMORE,	2002,	p.	
15). Expedições variavam muito em tamanho e duração. Uma expedição em 1628 incluiu 
69 brancos, 900 mamelucos e 2.000 índios. Os bandeirantes foram pioneiros implacáveis, 
cujas incursões ajudaram a disseminar o domínio e a autoridade portuguesa e, assim, 
estimularam mais assentamentos e o desenvolvimento comercial do interior.
38UNIDADE II Expansão da Colonização
A	exploração	e	o	assentamento	também	foram	influenciados	pela	preocupação	de	
impedir que outras nações europeias invadissem o território português, especialmente ao 
longo	do	litoral	norte.	Pontos	fortificados	foram	fundados	na	Filipeia	(atual	João	Pessoa),	
em 1585, Natal, em 1599 e Fortaleza, em 1611. São Luís foi resgatada dos franceses 
em 1614 e tornou-se a primeira capital do Estado do Maranhão, criada em 1621. Uma 
importante base militar foi criada em Belém, em 1616, para controlar a foz do rio Amazonas. 
Uma expedição organizada por Pedro Teixeira saiu de Belém em 1637 e passou dois anos 
navegando pelo vasto rio. Embora Portugal tenha reivindicado a soberania sobre todo o 
Vale do Amazonas, o assentamento português foi restringido durante grande parte do sé-
culo XVII às cidades de São Luís e Belém. Além das cidades costeiras, a autoridade real foi 
representada pelo estabelecimento de postos militares e pelas atividades missionárias das 
Ordens Religiosas. Franciscanos, jesuítas e carmelitas estabeleceram aldeias nas quais 
comunidades	 de	 índios	 locais	 foram	 reunidas	 para	 fins	 de	 conversão	 ao	 cristianismo	 e	
aculturação.
No Nordeste, a maior parte da população europeia estava localizada próxima às 
plantações de açúcar, localizadas na faixa litorânea. Como vimos na Unidade I, a crescente 
exigência de alimentos e de transporte para a indústria açucareira estimulou o desenvol-
vimento da pecuária. Durante o século XVII, os rebanhos de gado gradualmente se espa-
lharam para além do litoral e para as pradarias circundantes do interior ou “sertão”, e mais 
especificamente	na	Bahia	e	em	Pernambuco.	A	expansão	para	o	interior	foi	desencorajada	
pela falta de estradas e trilhas, pelo clima extremamente seco e pela hostilidade dos índios. 
Foi	só	na	descoberta	do	ouro	em	Minas	Gerais,	no	final	do	século	XVII,	que	houve	um	
grande e sustentado movimento de pessoas vindas do litoral para o sertão.
Mais ao sul da colônia, a cidade do Rio de Janeiro aproveitou suas excelentes 
instalações portuárias naturais para se desenvolver como um grande porto. São Paulo 
também emergiu como uma importante base para o intercâmbio comercial e ponto de 
partida para os bandeirantes organizarem suas expedições ao interior. Poucos europeus 
se aventuraram mais ao sul. As exceções foram missões jesuítas criadas para proteger e 
aculturar	os	índios	e	alguns	pontos	fortificados,	como	Laguna,	em	Santa	Catarina,	e	Colônia	
do Sacramento, no Rio da Prata, que foram destinados principalmente postos militares para 
afirmar	reivindicações	portuguesas	para	posse	do	território.
39UNIDADE II Expansão da Colonização
2.1 A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul
Os portugueses sempre se interessaram por metais preciosos. Eles queriam, acima 
de tudo, encontrar o ouro, a moeda mais suprema no comércio mercantilista da Europa. 
Em 1695 foram descobertas reservas de ouro em Minas Gerais, e depois de quase dois 
séculos	de	exploração	infrutífera	de	metais	preciosos,	parecia	que	o	Brasil	finalmente	havia	
se tornado outro el dorado4.	A	fronteira	da	mineração	atraiu	um	enorme	fluxo	de	migrantes	
que buscavam fazer fortunas. 
A descoberta do ouro desencadeou uma corrida imediata de migrantes de todo o 
Brasil, especialmente do Nordeste, já que Minas Gerais rapidamente se tornou a região que 
mais crescia no Brasil do século XVIII. Prado Júnior (2012) relata que as primeiras desco-
bertas positivas de ouro nocentro de Minas Gerais ocorreram em meados de 1696. Houve 
também um aumento repentino nos recém-chegados de Portugal. Essa saída da juventude 
portuguesa tornou-se tão grande que, em 1705, a Coroa até tentou (sem sucesso) retardar 
o	fluxo.	Em	décadas,	o	Brasil	tornou-se	o	maior	produtor	de	ouro	do	mundo.	
Na década de 1720, o Brasil também começou a produzir diamantes. Finalmente, 
Portugal poderia desfrutar do tipo de bonança que a Espanha havia ganhado séculos antes. 
Essa	produção	de	ouro	e	diamante	teve	um	resultado	muito	positivo,	financiando	o	surgi-
mento de uma rica cultura no Centro-Sul do Brasil. 
Depois de ser praticamente desabitada pelos europeus, a população mineira subiu 
de 30.000, em 1709, e para 300.000, em 1775, um número que equivalia a 20% da popula-
ção estimada da colônia. As cidades mineiras do século XVIII viram a construção de igrejas 
cristãs em um estilo barroco brasileiro único. Antonio Francisco Lisboa (“Aleijadinho”) se 
destacou pelas igrejas que projetou em Ouro Preto, Sabará e São João Del-Rei, e por suas 
esculturas em tamanho real dos profetas em Congonhas do Campo. Ele superou o estigma 
de sua cor, sem mencionar a hanseníase, para se tornar um dos gigantes da história da 
arte brasileira.
4 El dorado é uma antiga lenda indígena da época da colonização da América que atraiu muitos 
aventureiros europeus. A lenda falava de uma cidade que foi toda feita de ouro maciço e puro.
40UNIDADE II Expansão da Colonização
SAIBA MAIS
No	fim	de	sua	vida,	Aleijadinho	realiza	as	12	esculturas	intituladas	Os Profetas na pe-
quena cidade de Congonhas do Campo. O material usado é a pedra-sabão, caracterís-
tica em muitas obras do escultor. Executadas entre 1796 e 1805, momento em que o 
artista está debilitado por sua doença, são feitas com ajuda de outros artesãos subordi-
nados a Aleijadinho, o que explica as diferenças entre seus estilos e leva a crer que nem 
todas foram feitas pelo próprio escultor. Todos os profetas têm cabelos encaracolados, 
cobertos por turbantes, e olhos levemente puxados – traço recorrente nas esculturas do 
artista. Os profetas, localizados no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, têm 
caráter monumental e mesclam “realismo e caricatura”, como ressalta o historiador da 
arte inglês John Bury.
Fonte: Bury (2006, p. 39).
O	grande	crescimento	demográfico	refletiu	o	 fato	de	Minas	Gerais	 ter	deslocado	
do Nordeste o centro econômico da colônia. Minas Gerais também foi usada como base 
para exploração e assentamento à medida que os garimpeiros se mudaram para fazer 
novas descobertas de ouro e diamantes em Mato Grosso, em 1719, e Goiás, em 1725. 
Inicialmente, a maioria dos garimpeiros viajou para a região mineira em árduas viagens 
que duravam semanas e meses pelas rotas interiores de São Paulo ou ao longo do rio São 
Francisco, mas a rota preferida e mais rápida passou a ser a “Estrada Nova” do centro 
administrativo de mineração de Ouro Preto até o porto do Rio de Janeiro. Isso aumentou 
muito	a	crescente	importância	geográfica	e	econômica	do	Rio	de	Janeiro	e	contribuiu	para	
a decisão de transferir a capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763.
A abertura de novas áreas no interior resultou em uma grande reorganização do 
governo	colonial	e	na	vigorosa	afirmação	da	autoridade	real.	O	envio	de	um	grande	número	
41UNIDADE II Expansão da Colonização
de	oficiais	e	soldados	reais	mostrou-se	necessário	para	garantir	a	cobrança	de	impostos,	
a prevenção do contrabando e a manutenção da lei e da ordem em uma região que expe-
rimentou frequente escassez de alimentos e violência endêmica. Uma causa particular da 
agitação social foi a atitude dos paulistas, que compunham a maior parte da primeira leva 
de	garimpeiros.	O	conflito	resultou	em	um	breve	período	de	hostilidade	aberta	e	violência	
conhecida como a “Guerra dos Emboabas” – um confronto travado de 1707 a 1709 pelo 
direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro na região do atual estado de 
Minas Gerais, no Brasil.
A	perturbação	 forneceu	 à	Coroa	 uma	 justificativa	 para	 impor	 sua	 autoridade	 na	
região mineira. Estradas foram construídas para o transporte seguro de ouro e foram guar-
dadas por uma rede de tropas militares. A interferência direta dos funcionários reais foi mais 
acentuada	em	suas	tentativas	de	supervisionar	e	registrar	a	produção	de	ouro,	a	fim	de	
garantir o pagamento do imposto conhecido como quinto (“o quinto real”). 
Segundo Prado Júnior (2012), o sistema estabelecido era o seguinte: para dirigir 
a	mineração,	fiscalizá-la	e	cobrar	tal	tributo,	criou-se	uma	administração	especial,	a	Inten-
dência de Minas, sob a direção de um superintendente. Tal sistema deveria vigorar em 
cada capitania onde fosse descoberto o ouro, sendo que tais intendências independiam 
inteiramente de governadores e quaisquer outras autoridades da colônia, sendo subordina-
das unicamente ao governo metropolitano de Lisboa.
O ressentimento local se transformou em uma breve revolta armada na (Vila Rica 
do) Ouro Preto, em 1720, que foi brutalmente reprimida. A autoridade real foi ainda mais 
rigorosa no Distrito Diamantina, no norte de Minas Gerais. Considerando que a Coroa tinha 
sido reativa em sua política para os ataques sobre o ouro, agiu rapidamente ao saber da 
descoberta de diamantes em 1729. 
O Distrito de Diamantina foi declarado propriedade real e foram impostas restrições 
ao movimento de pessoas que entravam e saíam da área. A extração e venda de diamantes 
foram estritamente regulamentadas. A indústria foi declarada como um monopólio real em 
1771. No entanto o contrabando não podia ser eliminado e era frequentemente conduzido 
com o conluio das autoridades locais. Em contraste com a habitual aplicação frouxa do 
domínio português no Brasil, no entanto, a indústria de diamantes deu um exemplo da ten-
tativa de implementação do sistema mercantilista no qual o tesouro foi extraído da colônia 
em benefício do país-mãe.
As minas de ouro e diamante, como as plantações, dependiam do trabalho escravo 
africano — necessitando de uma mudança de escravos africanos de outros lugares do Bra-
42UNIDADE II Expansão da Colonização
sil, bem como de novas entregas do comércio de escravos do Atlântico Sul. O que o boom 
da mineração não fez foi mudar o padrão básico do desenvolvimento econômico colonial 
brasileiro. Assim como os produtos agrícolas tropicais (como açúcar, algodão e tabaco), a 
mineração de ouro e diamante não estimulou o crescimento econômico amplamente neces-
sário para a industrialização. As riquezas minerais foram para Portugal, onde resgataram 
um	reino	em	declínio.	Portugal	estava	com	um	déficit	constante	no	seu	comércio	com	a	
Inglaterra, e grande parte do ouro brasileiro foi para cobrir as dívidas portuguesas com 
a Inglaterra. Esse ouro também foi para manter o estilo de vida da corte real e as ordens 
religiosas.
A capacidade de produção limitada das jazidas, a falta de aprimoramento da ati-
vidade e a falta de preparo técnico foram os principais elementos que contribuíram para o 
rápido esgotamento das minas. Além disso, as ações políticas adotadas pelos portugueses 
contribuíram ativamente para a crise da atividade mineradora. Incidentes entre minerado-
res	e	autoridades	portuguesas	começam	a	acontecer	devido	ao	aumento	da	fiscalização	
e a cobrança de impostos, a medida que os metais começam a faltar. Foi assim que em 
1789	ocorreu	o	fato	chamado	Inconfidência	Mineira,	um	levante	anticolonialista	que	marcou	
efetivamente a crise da atividade mineradora no Brasil.
SAIBA MAIS
A	Inconfidência	Mineira	foi	abordada	por	estudiosos	de	várias	maneiras	diferentes.	Há	
quem	a	defina	como	um	movimento	que	buscava	a	 liberdade	da	colônia	portuguesa	
frente à metrópole. Outros já esboçam contornos mais regionais atribuindo sua “quase” 
eclosão ao descontentamento da população de Minas para com o excesso da carga 
tributária imposta pelo governo português. Teremos ainda

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