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Formação Econômica do Brasil Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; OLIVEIRA, Ariane. Maria Machado de. Formação Econômica do Brasil. Ariane. Maria Machado de Oliveira. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 91 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTORA Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira ● Doutora em Administração Estratégica pela PUC/PR (2018). ● Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (2005). ● Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Londrina (2002). ● Coordenadora do curso a distância de Economia, Gestão Financeira e Comércio Exterior da Kroton Educacional S/A. Atua como docente de Economia/Finanças há 13 anos. No ano de 2013 foi Pro- fessora Colaboradora na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Campus CP). Por dois anos foi coordenadora dos Cursos Superiores de Tecnologia em Gestão Pública e Negócios Imobiliários no NEAD - UniCesumar. Atuou como Coordenadora Geral e Coor- denadora do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais e Coordenadora do projeto de pesquisa Consultoria Júnior na Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie (2008 - 2011). Área acadêmica de atuação: Economia e todas as subáreas e Administração Fi- nanceira/Empresarial. Link lattes: http://lattes.cnpq.br/7783844445395674 http://lattes.cnpq.br/7783844445395674 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), é com imenso prazer que lhe apresento nosso material de estudos da disciplina de Formação Econômica do Brasil. Ao longo desta apostila você terá um contato profundo com conteúdo de formação histórica, imprescindível para que você, enquanto aluno(a), construa uma base cultural indispensável à expressão de um posiciona- mento reflexivo, crítico e comparativo, acerca da formação econômica do Brasil. Ao final da apostila você terá desenvolvido competências e habilidades que lhe permitirão compreender as diferentes fases da economia brasileira e seu processo de formação econômica, desde a economia colonial, passando pela formação do estado nacional, pela economia escravista, pelo início da formação do capital industrial, até a crise de 1929 e a revolução de 1930. Na Unidade I começaremos nosso bate-papo analisando o contexto mundial diante do período chamado Grandes Navegações. Serão apresentados a você os principais as- pectos da empresa agrícola no período colonial e como essa obteve êxito. O processo de colonização e o estabelecimento de colônias espanholas e portuguesas serão debatidos no intuito de demonstrar sua importância no processo de ocupação territorial brasileiro e suas consequências econômicas. O processo de desenvolvimento da indústria açucareira e o uso da mão-de-obra escrava será também tema central desta unidade, para, por fim, abordarmos a pecuária como atividade de subsistência. Já na Unidade II você irá saber mais sobre a expansão da colonização. Primeira- mente você conhecerá mais sobre o funcionamento do sistema administrativo na colônia, para, em seguida, compreender o processo de formação do complexo econômico nordesti- no. Em seguida veremos a respeito do período chamado era do ouro, quando a descoberta de metais preciosos fez deslocar o centro dinâmico da economia do nordeste para a região centro-sul. Ainda nesta unidade será abordado o renascimento da agricultura e o fim da era colonial. Na sequência, na Unidade III falaremos a respeito do processo de transição da economia escravista para a economia de trabalho assalariado. O primeiro assunto da uni- dade será o chamado passivo colonial, que foram as dívidas deixadas por Portugal que acabaram por gerar crise financeira e instabilidade política. Veremos então o que levou ao declínio da renda na primeira metade do Século XIX, bem como os problemas ocasiona- dos pela falta de mão-de-obra e a pressão abolicionista internacional. Quanto à segunda metade do século XIX, veremos como a transição para a economia assalariada levou a um crescimento e à geração de um fluxo de renda. A atividade cafeeira surge nessa unidade, como destaque no processo de avanço econômico. Em nossa Unidade IV vamos finalizar o conteúdo dessa disciplina, com aspectos da transição para o sistema industrial. Primeiramente, veremos como a crise cafeeira preju- dicou o processo de desenvolvimento da economia brasileira e quais foram os mecanismos de defesa adotados. A crise de 1929, que levou ao período chamado de Grande Depressão, também será vista nesta unidade. Por fim, veremos como se deu o processo de transição da economia brasileira para os primeiros sinais de industrialização. Com tudo isso que veremos, poderemos interpretar e analisar a evolução da eco- nomia brasileira, centradas nas transformações ocorridas na estrutura econômica do país entre o período colonial até o final dos anos de 1930. Convido você a mergulhar no processo de formação da economia brasileira, para que possa compreender como chegamos onde estamos nos dias de hoje. Desejo sucesso profissional e pessoal para você. Obrigada e bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial UNIDADE II ................................................................................................... 28 Expansão da Colonização UNIDADE III .................................................................................................. 53 Economia de Transição para o Trabalho Assalariado UNIDADE IV .................................................................................................. 71 Economia de Transição para um Sistema Industrial 7 Plano de Estudo: ● Grandes navegações e ocupação territorial do continente americano; ● O processo de ocupação territorial brasileiro; ● Fatores de êxito da empresa agrícola; ● Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas; ● As Colônias de Povoamento do Hemisfério Norte; ● Economia Escravista de Agricultura Tropical; ● Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira; ● Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária. Objetivo de Aprendizagem: ● Fornecer subsídios necessários aos alunos para a montagem de um referencial teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na formação socioeconômica brasileira até o período de predominância do capitalismo industrial. UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira 8UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Dando início a nossa primeira unidade da disciplina de Forma- ção Econômica do Brasil, abordaremos questões que nos levem a compreender o mundo durante o períododas grandes navegações e como se deram as ocupações territoriais. As grandes viagens marítimas feitas pelos europeus, no final do século XV, nos despertam in- teresse e curiosidade quanto aos métodos e desafios enfrentados pelos navegadores, que, mesmo com pouca tecnologia e ferramentas ainda primitivas, enfrentaram o mar, ainda em parte desconhecido, movidos por questões econômicas, políticas, religiosas e até mesmo pelo fascínio que ele despertava. Além de abordarmos alguns aspectos do período das grandes navegações, vamos buscar compreender como se deu o processo de povoamento do hemisfério norte, pas- sando pelas colônias espanholas e portuguesas, pelo período da economia escravista de agricultura tropical, pelo processo de capitalização e nível de renda na colônia açucareira e sua projeção até a pecuária. A primeira unidade apresentará, então, inicialmente uma análise do período que vai do pré-colonial a meados do século XVI, abordando o processo de ocupação territorial das Américas em busca de compreender como se deu a evolução econômica do Brasil pré-colonial ao período colonial. Em seguida, poderemos constatar, ao longo da unidade, que o início do período colonial foi marcado pelo estabelecimento de colônias portuguesas de exploração, que tiveram o açúcar como principal produto durante décadas, e mão-de- -obra escrava. Por fim, buscaremos compreender de que maneira a indústria açucareira influenciou no surgimento da pecuária. Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o sis- tema político e administrativo na colônia, formação do complexo econômico nordestino, a mineração e a ocupação no centro-sul, o renascimento da agricultura até o fim da era colonial, em 1822. Nas duas últimas unidades do livro, estudaremos, então, a economia de transição para o trabalho assalariado, bem como para o sistema industrial. 9UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 1 GRANDES NAVEGAÇÕES E A OCUPAÇÃO TERRITORIAL DO CONTINENTE AME- RICANO Monarcas e nobres competiam por poder e recursos na Europa do século XV. Uma sociedade com pouca oferta de mão de obra, que ainda sofria perturbações econômicas e sociais causadas pelas devastações da Peste Negra. Ao mesmo tempo, tratava-se de uma sociedade que tinha desejo por objetos de luxo, iguarias exóticas e de ouro que permitisse comprar esses artigos do Oriente com quem ela tinha um saldo comercial permanentemen- te desfavorável (ELLIOT, 2004). O autor destaca ainda que a sociedade europeia se sentia ameaçada em suas fronteiras orientais pela presença hostil do Islã e pelo avanço dos turcos otomanos. Com o incremento do comércio interno durante o século XV e as invasões Otomanas dificultando em certa parte o fluxo de mercadorias do Oriente, restou às nações europeias buscar novas fronteiras para seu desenvolvimento econômico. O desenvolvimento de novas técnicas de cartografia e o surgimento da bússola forneceram aos navegadores ferramentas que possibilitaram a exploração do Atlântico. Segundo Koshiba & Pereira (1996), instrumentos de navegação, como embarcações mais resistentes e modernas, a ampulheta, a balestilha, o astrolábio, a bússola, o quadrante etc., há muito tempo conhecidos no oriente, foram, nesse período, bastante divulgados entre os europeus e aperfeiçoados por eles. Esse período ficou conhecido como Expansão Comercial Europeia e deu início às grandes navegações. Países como Portugal e Espanha se lançaram ao mar em busca de 10UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial novas riquezas e nesse processo descobriram as Américas. Segundo Di Carlo (2015), tal feito acabou inserindo o reino espanhol no processo de expansão marítimo-comercial que, desde o início daquele século, já havia propiciado significativas conquistas para o Império português ao longo de todo século XV. O clima de disputa entre portugueses e espanhóis se acirrou com a ascensão dos espanhóis na exploração de novas terras. Nesse contexto, o papa Alexandre VI assinou, em 1493, a Bula Inter Coetera, que buscava estabelecer os limites de exploração colonial entre as duas nações, evitando, assim, um conflito de maiores proporções. Segundo Pinto (1979), Portugal buscava garantir primeiramente seu monopólio na costa africana e a Es- panha preocupava-se em legitimar a exploração nas terras localizadas a oeste. No ano de 1494, o rei português Dom João II exigiu a revisão do primeiro acordo assinado pelo papa Alexandre VI, pois, segundo ele, tal divisão não satisfazia os interesses lusitanos. Alguns historiadores relatam que havia fortes indícios de que os portugueses tinham conhecimento de outras terras localizadas na porção sul do continente descoberto, o que veio a ser confirmado por documentos encontrados séculos mais tarde. Para evitar o desgaste de um conflito militar, os espanhóis aceitaram a revisão dos acordos com uma nova intermediação do papa. Pouco tempo depois do Tratado de Tordesilhas (1494) ser assinado, nações eu- ropeias incipientes no processo de expansão marítima, questionavam sua legitimidade, por ser um acordo restrito aos países ibéricos (Portugal e Espanha). O sucesso de na- vegadores como Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral forneceu as duas nações, Portugal e Espanha, terras a serem exploradas. A descoberta das novas terras não gerou, no entanto, uma ação imediata das duas nações no intuito de colonizar os territórios, os portugueses, por exemplo, não ocuparam imediatamente o extenso território de que tinham tomado posse. Segundo Prado Júnior (1981), até quase meados do século XVI, portugueses e franceses traficavam ativamente na costa brasileira o pau-brasil. Era uma exploração rudimentar que não deixou traços apreciáveis, a não ser na destruição impiedosa e em larga escala das florestas nativas de onde se extraía a preciosa madeira. Não se criaram estabelecimentos fixos e definitivos. Limitaram-se a organizar algumas expedições e a erguer construções precárias em alguns pontos do litoral, as feitorias, para organizar a extração e o embarque de pau-brasil para a Europa (BERNAND; GRUZINSKI, 1997). Este foi o primeiro produto explorado em nosso território. 11UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial Para darmos sequência ao nosso estudo, é importante que você compreenda como se deu o processo de evolução da economia brasileira, analisando a Tabela 1. Tabela 1 - Períodos da história do Brasil e principais produtos produzidos Fonte: a autora. A partir da Tabela 1 você pode compreender a cronologia dos fatos associando-a à evolução histórica econômica do Brasil. A tabela apresenta os principais fatos e produtos explorados desde o período pré-colonial até o período republicano. Em especial até a era do café, cuja crise se deu em meados dos anos de 1930. 1.1 Processo de Ocupação Territorial Brasileiro Segundo Furtado (2007), o início da ocupação econômica do território brasileiro é em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações europeias. A França, por exemplo, organizava suas expedições marítimas ao Brasil como forma de questionar o Tratado de Tordesilhas, argumentando que a legitimação da exploração colonial deveria se basear no princípio da posse útil, ou seja, que as terras deveriam estar sendo exploradas economicamente. A ocupação se fazia necessária, portanto, para garantir a posse e a questão econômica passou a ter também caráter político. Os espanhóis eram capazes de financiar a defesa de tais áreas com o sucesso da exploração de metais preciosos nos novos territórios descobertos e a Portugal, que ainda não havia encontrado metais preciosos em suas terras, restou buscar alternativa à mineraçãoe através da exploração agrícola fomentar a defesa de seus territórios. Para 12UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial executar tal plano, Portugal envia ao Brasil Martim Afonso de Sousa, para fundar a primeira colônia de exploração, em 1530. Para proteger a extensa costa brasileira de outros povos europeus que desembarca- vam no Brasil, a coroa portuguesa implantou, em 1534, o sistema de capitanias hereditárias. Para Prado Júnior (1981), o plano, em suas linhas gerais, consistia no seguinte: dividiu-se a costa brasileira (o interior, por enquanto, era para todos os efeitos desconhecido) em doze setores lineares, com extensões que variavam entre 30 e 100 léguas. Tratava-se de um sistema no qual as terras eram cedidas a donatários, pessoas de confiança do rei de Portugal, que se comprometiam a povoar a terra com portugueses e fomentar a atividade econômica. Mesgravis (2015) destaca que as obrigações e direitos dos donatários para com a Coroa estavam definidos em um documento chamado Regimento, que acompanhava a Carta de Doação assinada pelo rei. Tal documento preservava os privilégios do rei, ou seja, a Coroa mantinha a autoridade final sobre todos os assuntos coloniais e o donatário tinha obrigações militares e econômicas. REFLITA Você sabia que nesse sistema, os donatários podiam distribuir lotes de terras denomina- dos sesmarias, criar vilas, cobrar tributos e escravizar indígenas? Em troca eram obriga- dos a pagar ao governo português um décimo de tudo o que produzissem e ganhassem. Na realidade, as capitanias pertenciam ao rei e não aos donatários, porém eram heredi- tárias, pois passavam de pai para filho. Fonte: a autora. https://escola.britannica.com.br/artigo/tributo/482640 13UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial Segundo Nieuhof (1981), eram 15 capitanias em que o território brasileiro foi dividido e que foram doadas para 12 donatários, sendo que alguns receberam mais de uma. Eram elas: Maranhão (dois quinhões, isto é, duas porções), Ceará, Rio Grande, Itamaracá (mais tarde recriada com o nome de Paraíba), Pernambuco, Baía de Todos-os-Santos, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente (dois quinhões, um dos quais, mais tarde, foi rebatizado como Rio de Janeiro), Santo Amaro e Santana. Podemos observar tal divisão por meio da Figura 1, que apresenta as capitanias definidas a partir da linha imaginária do tratado de Tordesilhas. Figura 1 – Capitanias Hereditárias do Brasil Fonte: Cintra (2013). Historiadores destacam alguns dos obstáculos ao sistema de capitanias hereditárias que levaram a seu fracasso. Mattos, Innocentini e Benelli (2012) citam que a maioria dos donatários não tinham recursos para investimentos, e alguns não demonstravam interesse em ocupar suas terras. Outro fator levado em conta era a distância entre a colônia e a me- trópole portuguesa, que dificultava o transporte de pessoas para a povoação dos territórios. 14UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial A falta de produtos de abastecimento, o clima e os frequentes ataques indígenas reagindo contra a escravização e a invasão de suas terras dificultavam ainda mais o desenvolvimento das capitanias hereditárias. Segundo Mattos, Innocentini e Benelli (2012), apenas as capitanias de Pernambu- co e de São Vicente se firmaram, com a produção açucareira e a criação de gado, e nelas foram fundados povoados. Estabelecida em 1532 por Martim Afonso de Sousa, dois anos antes até de a capitania ser criada e ele se tornar seu donatário, São Vicente foi a primeira cidade fundada no Brasil. Ao constatarem que o sistema de capitanias não estava alcançando seu propósito, em 1549 Portugal implanta uma outra forma de governo, que centralizava as decisões políticas e econômicas. No chamado governo-geral a coroa portuguesa passa, então, a retomar o controle sobre as capitanias, dando origem às províncias, que passaram a cons- tituir os atuais estados brasileiros. https://escola.britannica.com.br/artigo/cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar/483152 https://escola.britannica.com.br/artigo/gado/480928 https://escola.britannica.com.br/artigo/Martim-Afonso-de-Sousa/483570 15UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 1.2 Fatores do Êxito da Empresa Agrícola Quase 30 anos após a descoberta de Pedro Álvares Cabral o Brasil ainda desper- tava pouco interesse em Portugal, que se concentrava no comércio de especiarias vindas da Índia. A redução do comércio com as Índias coincidiu com os ataques que passaram a acontecer na costa Brasil. O surgimento da empresa agrícola açucareira vem da necessida- de de Portugal financiar a defesa dos novos territórios. Ao contrário da Espanha que obteve resultados imediatos com o ouro e a prata, Portugal dependia do sucesso das empresas coloniais para a ocupação e financiamento da defesa das áreas. Os fatores de sucesso estão relacionados com uma grande demanda por açúcar vindo da Europa, e parcerias com nações como Holanda, que dominavam toda navegação comercial da época. Segundo Furtado (2007), um conjunto de fatores particularmente favoráveis tomou possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola europeia. Os portugueses haviam já iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente gran- de, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o açúcar. Essa experiência resultou ser de enorme importância, pois, além de permitir a solução dos problemas técnicos relacionados com a produção do açúcar, fomentou o de- senvolvimento, em Portugal, da indústria de equipamentos para os engenhos açucareiros. Esse conhecimento foi preponderante para a montagem dos novos engenhos na colônia, bem como para a produção de todo o maquinário necessário. 16UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial É importante salientar que os esforços iniciais da coroa portuguesa foram pre- ponderantes para o sucesso da empresa agrícola. Portugal reconhecia que a ocupação e torná-los viáveis economicamente eram as únicas maneiras de garantir tais territórios. Outro fator que deve ser observado é a exploração de escravos, no princípio nativos e posteriormente vindos da África, que forneceram a mão-de-obra para os engenhos e que, sendo não remunerada, viabilizava e aumentava em muito a lucratividade do negócio. Todavia de nada adiantava produzir muito açúcar e não ter mercados para escoar tal produto. Inicialmente a superprodução gerou uma queda de preço no mercado interna- cional, tendo em vista a dificuldade de encontrar mercados para consumir tais volumes. Nesse ponto, os holandeses foram fundamentais, pois já dominavam o comércio dentro da Europa e conseguiram os mercados que Portugal necessitava para o seu produto. Segundo Furtado (2007), os holandeses contribuíram não somente com sua experiência comercial. Parte substancial dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos Países Baixos. Existem indícios abundantes de que os capitalistas holandeses não se limitaram a financiar a refinação e comercialização do produto. Tudo indica que capitais flamengos participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil, bem como no da importação da mão-de-obra escrava. O êxito da empresa agrícola açucareira foi o que proporcionou aos portugueses se fixar nas longas extensões de terra que possuíam nas Américas, de tal maneira que no século seguinte, quando o Tratado de Tordesilhas passou a ser mais fortemente questiona- do por outras nações, Portugal já estava fixado de tal maneira nestas áreas que dificultava muito possíveis invasões. 17UNIDADE I ContextualizaçãoMundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial SAIBA MAIS Como você imagina que funcionavam os engenhos de açúcar no período colonial? O historiador Jefferson Evandro Machado Ramos descreve as etapas do processo de produção de açúcar no Brasil Colônia com base nos trabalhos de Furtado (2005) e Skid- more (2003). 1º - A cana-de-açúcar era plantada, pelos escravos, em extensos canaviais. 2º - Os escravos cortavam a cana-de-açúcar e carregavam em carros de bois até a moenda, que ficava na parte interior do engenho. 3º - Nas moendas (grandes máquinas movidas por moinho d’água, força humana ou por bois), a cana-de-açúcar era esmagada. O caldo de cana era obtido nessa etapa. 4º - O caldo de cana era colocado em grandes caldeiras para passar por um processo de fervura. O resultado, depois de horas, era um caldo bem grosso (pastoso). 5º - O caldo grosso era levado até a casa de purgar, onde era colocado em recipientes de barro, em formato de cone, com um furo na parte inferior. Esse furo possibilitava o escorrimento do restante da água. O caldo ficava nesse local de 3 a 5 dias, até que toda água escorresse. 6º - No final da etapa anterior, o resultado era uma espécie de bloco de açúcar, em for- mato de cone e de cor amarelada. Esses “pães de açúcar”, como eram chamados, eram transportados para a Europa, local em que seriam clareados (refinados) e vendidos aos comerciantes locais e consumidores finais. Fonte: Ramos (2010). Para mais informações leia: FERLINI, V. L. A. A civilização do açúcar. São Paulo: Brasiliense, 1994. 18UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 1.3 Colônias Espanholas x Colônias Portuguesas A principal diferença entre as colônias espanholas e portuguesas é que a Espanha encontrou, em seus territórios, povos altamente desenvolvidos, com sistemas de hierarquia e conhecimentos profundos acerca de seus mundos, tais como os Incas e Astecas. Portugal, no entanto, encontrou uma população nativa muito mais dispersa, que ainda não apresen- tava uma organização social tão elaborada. Outra grande diferença eram os números de habitantes. As colônias espanholas possuíam muito mais população nativa que a Espanha pôde utilizar como mão-de-obra na mineração, através de acordos com as elites nativas. O grande sucesso da indústria açucareira portuguesa poderia ter despertado nos espanhóis algum interesse em replicar tal empreendimento em seus domínios que tinham um solo melhor que o do litoral brasileiro e gozavam de posição geográfica mais próxima da Europa que o Brasil, o que facilitaria a exportação. O grande sucesso obtido na mineração de metais preciosos, no entanto, fez com que os espanhóis não se voltassem para tal atividade. O sucesso espanhol na exploração de metais preciosos acabou gerando problemas internos na economia da Espanha, pois a riqueza trazida com o ouro e a prata gerou uma forte inflação. Setores produtivos de manufatura também foram afetados, pois a população local preferia viver direta ou indiretamente de subsídios fornecidos pelo governo. Isto fez com que a Espanha tivesse que passar a importar cada vez mais produtos, o que afetou diretamente a balança comercial espanhola. Tudo isto combinado gerou grande crise inter- na que teve também desdobramentos políticos e impactou na administração das colônias. Todos esses problemas internos que afetaram a Espanha e a administração de suas colônias fez com que não se tornassem um concorrente ao açúcar brasileiro. Se as 19UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial colônias espanholas tivessem se concentrado também na produção de açúcar e gerado uma concorrência para as colônias portuguesas isso poderia ter um impacto muito profundo no empreendimento português. 1.3.1 As colônias de povoamento do hemisfério Norte O acontecimento mais impactante para o Brasil no século XVII foi o surgimento de uma forte concorrência para os produtos que o Brasil produzia. Inicialmente, países como França, Holanda e Inglaterra invadiram e passaram a estabelecer colônias nas Anti- lhas e Caribe, com o objetivo de ocupar posições estratégicas para uma possível invasão das colônias espanholas da América Central e do Sul, que passavam por uma forte crise junto com a coroa. Plano que nunca chegou a se concretizar devido às rivalidades entre Inglaterra e França. Por conta do caráter político de tais ocupações, o sistema adotado foi o de pequenas propriedades cedidas a europeus. A Inglaterra teve mais facilidade que a França para povoar, pois tinha um excedente interno de população desocupada, resultado de mudanças na agricultura, que acabou por gerar uma forte turbulência política, religiosa e social, de tal modo que alguns grupos preferiam encarar o desafio de uma vida nova nas Américas. Segundo Furtado (2007), as tentativas de colonização da América do Norte ha- viam sido um fracasso, pois o clima propiciava a produção dos mesmos produtos que se produziam na Europa, tendo em conta o custo de transporte de tais produtos para os mercados consumidores e a mão-de-obra barata que a Europa dispunha à época, ficava economicamente inviável manter tais colônias. Nas Antilhas e Caribe, no entanto, devido ao clima, era possível produzir uma gama muito maior de produtos, sobretudo usando peque- nas propriedades. Produtos como café, anil, tabaco e algodão tinham grande potencial de mercado na Europa e geraram grandes lucros para as companhias colonizadoras. Esse sucesso comercial de tais produtos passou a demandar um número cada vez maior de mão-de-obra europeia e isso se tornou uma grande dificuldade, mesmo usando o sistema de servidão temporária, em que condenados poderiam substituir sua condenação por trabalhos em tais colônias, não foi o suficiente para suprir toda a necessidade. Para solucionar tal problema, a ideia foi introduzir escravos vindos da África, mas isso alterou também os produtos produzidos e até mesmo as propriedades, desta forma, elas passaram a se dividir em dois tipos: as pequenas propriedades, que empregavam europeus, e as grandes propriedades, que empregavam escravos. Desta maneira, surge uma grande concorrência entre as pequenas propriedades produtoras de produtos tropicais e as grandes propriedades que empregavam mão-de-obra 20UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial escrava. O aumento da produção ocasionou também redução no preço de tais produtos no mercado internacional, o que gerou uma crise e impactou diretamente no modelo de colonização dessa região. A partir desse momento o Brasil passa também a ser impactado, o modelo inicial de colonização do Caribe e Antilhas com pequenas propriedades garan- tia ao Brasil quase que um monopólio na produção do açúcar, que dependia de grandes propriedades para ser produzido. Com as novas grandes propriedades, que utilizavam mão-de-obra escrava, viabilizou-se a produção de açúcar no Caribe e Antilhas. Um fator que acelerou este processo foi a expulsão dos holandeses do território brasileiro em Pernambuco, detentores de técnicas e equipamentos para a produção. Após a expulsão eles preferiram se associar a ingleses e franceses já instalados a montarem suas próprias propriedades. Dessa maneira, apenas uma década após a expulsão dos ho- landeses do Brasil uma pujante economia açucareira se estabeleceu na região. Isto gerou uma outra consequência, que foi a migração dos povos de origem europeia, tanto ingleses quanto franceses, para dar lugar aos escravos, que foram em sua maioria para colônias no Hemisfério Norte, que, como citamos foram inicialmente um fracasso, porém com o aumento da população o mercado interno se fortaleceu, se tornando quase auto suficiente e dependendo minimamente de importações.A recente monocultura açucareira estabelecida nas Ilhas do Caribe fez com que alguns produtos agrícolas deixassem de ser produzidos e passassem a ser importados. Isso beneficiou as colônias da América do Norte, que passaram a fornecer tais suprimentos. Mas não eram só de suprimentos básicos que necessitavam as Ilhas, era preciso madeira para encaixotar o açúcar, bem como animais para mover as moendas dos engenhos etc. Para fazer o transporte de todas estas mercadorias entre América do Norte e Caribe eram necessários muitos navios e isso fez florescer uma indústria naval no Norte. Tudo isso fortaleceu a região que detinha um forte mercado interno e que ainda possuía um grande cliente nas Antilhas e Caribe para as suas exportações. Com isso inicia-se a terceira etapa da exploração das Américas. Na primeira etapa temos viagens extrativistas se utilizando de mão-de-obra nativa, visando metais preciosos e produtos como o Pau-Brasil, em segundo momento se estabelecem grandes empresas agrícolas, utilizando força de trabalho escrava importada. Já na terceira etapa, sobretudo no Hemisfério Norte, temos o surgimento de uma economia mais próxima do que era a economia europeia, focada primeiramente no mercado interno e sem uma separação clara entre as atividades para exportação e para o mercado interno. 21UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial 2 ECONOMIA ESCRAVISTA DE AGRICULTURA TROPICAL Encontrar toda força de trabalho necessária para tocar a colonização foi o grande problema encontrado pelos colonos portugueses no início. O clima hostil para os padrões europeus, as condições precárias e todas as incertezas ligadas a tal aventura afugentava um número maior de portugueses. Dentro desse cenário os colonos utilizaram como primei- ra alternativa a captura e escravização de nativos. Essa atividade foi tão importante que algumas comunidades tinham como principal atividade econômica a captura e comercialização de indígenas. Os nativos tiveram papel fundamental nessa primeira etapa, auxiliando na instalação dos engenhos e construindo as bases do que viria a ser a indústria açucareira no Brasil. Os escravos africanos são introduzidos posteriormente em um momento em que os engenhos já funcionavam e eram capazes de arcar a importação e compra de escravos. Prado Júnior (1981) cita que o processo de substituição do índio pelo negro pro- longou-se até o fim da era colonial. Contra o escravo negro havia um argumento muito forte: seu custo. Não tanto pelo preço pago na África, mas em consequência da grande mortalidade a bordo dos navios que faziam o transporte. Mal alimentados, acumulados de forma a haver um máximo de aproveitamento de espaço, suportando longas semanas de confinamento e as piores condições higiênicas, somente uma parte dos cativos alcançavam seu destino. Calcula-se que, em média, apenas 50% chegavam com vida ao Brasil, destes 22UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial muitos estropiados e inutilizados. O valor dos escravos foi, assim, sempre muito elevado, e somente as regiões mais ricas e florescentes podiam suportá-lo. Essa estrutura de agricultura tocada por escravos foi a base do início da colonização do Brasil. Com mão-de-obra sem custos de salário e em grande quantidade, era possível operar as fazendas e os engenhos que dependiam de um número alto de funcionários e o não pagamento de salários maximizava ainda mais os lucros e tornava a atividade altamente rentável. 2.1 Capitalização e Nível de Renda na Colônia Açucareira Passada a dificuldade inicial em se estabelecer, a indústria açucareira tem cresci- mento vertiginoso no final do século XVI com um investimento de cerca de 1,8 milhão de libras esterlinas e um acréscimo de 20 mil escravos trazidos da África. Segundo Furtado (2007), não se pode afirmar com precisão sobre a renda gerada por essa economia, mas estima-se que podia chegar até 2 milhões de libras em anos favoráveis, o que representava muito para uma população de aproximadamente 30 mil habitantes europeus que viviam na colônia. Mas cabe destacar que toda essa riqueza era concentrada nas mãos dos proprietários de engenho. A atividade açucareira se mostrava tão rentável que chegava a fornecer um retorno de aproximadamente 90% ao senhor do engenho, o que é facilmente explicado pelo baixo custo de produção. Segundo Furtado (2007), apenas 5% eram gastos com o pagamento de transporte e armazenamento, 2% eram pagos para alguns assalariados: homens de vários ofícios e supervisores do trabalho dos escravos e outros 3% eram gastos na compra de gado para tração e de lenha para as fornalhas. Os dados apresentados demonstram a grande capacidade de geração de renda da atividade açucareira no final do século XVI. Furtado (2007) cita que os ganhos com a produção açucareira eram capazes de promover uma duplicação em sua capacidade de produção a cada dois anos. Havia também um grande volume de absorção da produção de açúcar pelos mercados demandantes, o que evitou uma crise de superprodução. 23UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial REFLITA Se a plena capacidade de autofinanciamento da indústria açucareira não era utilizada, que destino tomaram os recursos financeiros que sobravam? Fonte: a autora. Nas palavras de Furtado (2007), é óbvio que os recursos advindos do açúcar não eram utilizados dentro da colônia, onde a atividade econômica não-açucareira absorvia ínfimos capitais. O autor supõe então que parte do capital investido na economia açuca- reira pertencesse aos comerciantes europeus e que grande parte da renda gerada com tal atividade retornava para a Europa, pois era advinda de um capital que pertencia aos comerciantes europeus. Sitima (2014) relata que a atividade açucareira tinha dimensões suficientes para in- fluenciar o desenvolvimento de outras regiões da colônia, porém esse potencial sempre foi desviado para o exterior por decisões políticas de evitar uma concorrência com o mercado metropolitano. 24UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial SAIBA MAIS Plantation é o nome dado a um modelo de exploração econômica em que se destacam como aspectos principais: a concentração da propriedade da terra, a monocultura, con- trole de grande número de trabalhadores escravos e produção voltada para o mercado externo. Durante o período colonial brasileiro, esse foi o modelo adotado em larga es- cala, sendo a cana-de-açúcar o principal produto cultivado até meados do século XVIII. Fonte: Diégues Júnior (1958). 2.2 Projeção da Economia Açucareira: a Pecuária Na segunda metade do século XVI a atividade agrícola para exportação tomou tamanho vulto que um mercado paralelo se formou para abastecer as grandes fazendas de suas necessidades. Os lucros com o açúcar eram tão elevados que inclusive a própria pro- dução para subsistência foi abandonada por muitas delas, pois era antieconômico destinar áreas de produção de cana a tal fim. Furtado (2007) destaca que era no setor de bens de produção que o suprimento local encontrava maior espaço para expandir-se, pois as duas principais fontes de energia dos engenhos – a lenha e os animais para tração – podiam ser supridas localmente com grande vantagem. Sendo assim, o autor cita que a separação das duas atividades (açuca- reira e criatória) no Nordeste foi que impulsionou a criação de gado na região e promoveu a penetração e ocupação do interior do território brasileiro. De acordo com Prado Júnior (1981), a pecuária se destinava a satisfazer as ne- cessidades alimentares da população. Mas a pecuária, apesar da importância relativa que atinge e do grande papel que representa na colonização e ocupação de novos territórios,continuava sendo uma atividade visivelmente secundária e acessória, tendo sempre um lugar se segundo plano, estando subordinada às atividades principais da grande lavoura e sofrendo de grande incerteza. 25UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo desta unidade foi o de fornecer a você, aluno(a), a capacidade de desenvolver um referencial teórico-histórico sobre a evolução das forças capitalistas na formação socioeconômica brasileira até o período de avanço da economia açucareira, para a pecuária. Para tal, primeiramente abordamos o processo de colonização do território bra- sileiro, bem como o sucesso da empresa agrícola neste contexto. As colônias espanholas e portuguesas foram destacadas como fundamentais ao avanço da atividade econômica. Ao abordarmos a colonização do hemisfério norte, vimos como um processo que havia fracassado no começo obteve sucesso posteriormente devido à criação de um merca- do interno fortalecido, e clientes externos, como a indústria açucareira das Antilhas. Desta forma, pudemos conhecer as primeiras três etapas da colonização americana, focadas primeiramente na economia extrativista, em seguida na indústria agrícola e, por fim, no fortalecimento do mercado interno, com um sistema econômico mais parecido com o que estava em vigor na Europa. Em seguida, foram apresentados aspectos da economia escravista de agricultura tropical, em que as rendas geradas nos engenhos de açúcar se mostravam expressivas, mas que não foram suficientes para gerar um reinvestimento que levasse ao desenvol- vimento econômico. O surgimento da atividade pecuária foi o último tópico abordado na unidade, considerando ser esta uma atividade de subsistência, sendo fonte quase única de alimentos e de matéria-prima (couro) que se utilizava praticamente para tudo. Na próxima unidade exploraremos a expansão da colonização, abordando o siste- ma político e administrativo na colônia, a formação do complexo econômico nordestino, a mineração e a ocupação no centro-sul, até o fim da era colonial, em 1822. 26UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial LEITURA COMPLEMENTAR Para complementar os assuntos discutidos ao longo da primeira unidade, acesse os conteúdos a seguir: Título: Capitanias Hereditárias e desenvolvimento econômico: herança colo- nial sobre desigualdade e instituições Autor(es): Enlinson Mattos Thais Innocentini Yuri Benelli Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os eventuais efeitos da heran- ça colonial na formação dos municípios brasileiros sobre suas condi- ções atuais de desigualdade de distribuição de terra e renda e sobre a qualidade das instituições. Em particular, empregam-se área, latitude, longitude e a data de fundação para identificar os municípios perten- centes aos territórios das Capitanias Hereditárias (CHs). Em seguida, busca-se estimar se essa característica histórica dos municípios está correlacionada com suas instituições atuais, considerando diversos controles, tais como: área proporcional da capitania; haver pertencido aos ciclos da cana e do ouro; estar no litoral; sua distância em relação a Portugal; tipo de solo; quantidade de chuva; altitude; temperatura média; e as variáveis socioeconômicas municipais. Os resultados su- gerem de forma robusta que o município que pertenceu à área des- tinada às CHs (um aumento de um desvio-padrão) está associado a uma concentração maior de terras (Censo Agrícola de 1996), medida pelo índice de Gini (aumento de meio desvio-padrão), a menores gas- tos públicos locais e a menor persistência política. No entanto, não se encontrou associação robusta sobre os seguintes indicadores dos municípios brasileiros: desigualdade de renda, Produto Interno Bruto (PIB) municipal per capita, número de agências bancárias públicas, de cartórios e empresas públicas no município, nem na governança local e no acesso à justiça local. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/5081 Título: Economia brasileira: uma visão histórica Autor(es): Eustáquio José Reis Resumo: Esta resenha sobre Economia Brasileira: uma visão histórica reúne ar- tigos sobre uma enorme variedade de temas da história econômica brasileira. Exceto por uma contribuição de demógrafos e duas outras de historiadores, as demais são assinadas por economistas. Apesar das contribuições que alguns dos artigos trazem para a pesquisa e o ensino da nossa história econômica, o livro deixa a desejar pelas defi- ciências e negligências no trabalho de organização e editoração. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/7129 27UNIDADE I Contextualização Mundial – O Mundo Durante o Período das Grandes Navegações e Ocupação Territorial MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: História do Brasil Colônia Autor: Laima Mesgravis Editora: Contexto Sinopse: Escravidão, exploração colonial, choque de culturas, pau-brasil, cana-de-açúcar, minas de ouro, bandeirantes, jesuí- tas... São muitos os temas associados ao Brasil no período colo- nial. Todos eles estão presentes neste livro, pequeno apenas em extensão, uma vez que é rico em informações e interpretações. A historiadora Laima Mesgravis, da USP, consegue a proeza de ser sucinta e abrangente, utilizando como base textos de cronistas, religiosos e autoridades da época, além de trabalhos históricos produzidos nos séculos XX e XXI. O leitor atento ficará surpreso ao encontrar, já na Colônia, traços da diversidade do povo brasileiro, assim como a base de nosso sistema hierárquico. É no passado colonial que podemos encontrar os melhores e piores traços da nossa cultura. Obra destinada a professores e estudantes da área, assim como a todos que se interessam pelas nossas raízes pro- fundas. FILME/VÍDEO Título: Vermelho Brasil Autor: Sylvain Archambault Ano: 2014 Sinopse: A história da expedição de Villegagnon ao Brasil por volta de 1555 e sua luta para criar uma colônia, a chamada França Antártica, nas terras conquistadas pelos portugueses. Filmado em Paraty, no Rio de Janeiro, o filme comete deslizes, entre eles, ser falado em inglês (e não em francês, a língua dos invasores). A brasileira Giselle Motta vive a índia Paraguaçu e Pietro Mário, brasileiro de origem italiana, aparece em dois papéis: o de um marinheiro e o de um francês que vive entre os índios. O ator por- tuguês Joaquim de Almeida interpreta João da Silva, um lusitano já perfeitamente integrado com os indígenas e que representa o seu país colonizador. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=6IAcEAV7hAM 28 Plano de Estudo: ● Sistema Político e Administrativo colonial; ● O estabelecimento do Governo-Geral; ● Formação do complexo econômico nordestino; ● Expansão territorial; ● A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul; ● O Renascimento da Agricultura; ● O fim da era colonial; ● A independência do Brasil. Objetivos de Aprendizagem: ● Contextualizar a evolução do sistema político e administrativo da colônia, desde as capitanias hereditárias até a instauração do Governo-Geral; ● Estabelecer a importância da mineração no processo de ocupação no centro-sul e a mudança do centro econômico do Nordeste para Minas Gerais; ● Fazer com o que o(a) aluno(a) compreenda como se deu o ressurgimento da agricultura pós crise da mineração e como se deu o fim da era colonial. UNIDADE II Expansão da Colonização Professora Doutora Ariane Maria Machado de Oliveira 29UNIDADE II Expansão da Colonização INTRODUÇÃO Daremos início aqui ao conteúdo da segunda unidade da disciplina de Formação Econômica do Brasil. Nesta unidade poderemos aprofundar nossos conhecimentos acerca do processo de expansão da colonização brasileira. Cabe lembrar que o projeto de colo- nização surgiu efetivamente devido às pressões dos outros países europeus, que também estavam em busca de nossas riquezas. Naunidade I vimos que o sistema de capitanias hereditárias, que até então comandava a administração da colônia, havia fracassado de- vido à grande extensão territorial para administrar (e suas obrigações), a falta de recursos econômicos e os constantes ataques indígenas. Nesta unidade veremos, então, que o fim desse sistema foi marcado pelo estabelecimento do Governo Geral no ano de 1548, cujo objetivo era centralizar a administração, tendo mais controle da Coroa Portuguesa. Veremos também nesta unidade a necessidade que os portugueses tinham de encontrar ouro e prata, a exemplo da Espanha, pois apenas o comércio de especiarias no Oriente já não era suficiente para a obtenção de receitas. Veremos também como a desco- berta do ouro alterou o centro econômico da colônia do Nordeste, para a região centro-sul. Você verá também que, ao longo da história brasileira, ciclos sucessivos de cres- cimento econômico antes da industrialização, como a produção de cana-de-açúcar no Nor- deste no século XVII, o ciclo do ouro em Minas Gerais no século XVIII, e a produção do café no Sudeste nos séculos XIX e XX, foram criados e deixaram características importantes do subdesenvolvimento brasileiro: baixa produção e falta de diversidade de exportação, bem como estrutural heterogeneidade, especificamente, um vasto setor subempregado existente lado a lado com um setor moderno de alta produtividade. Abordaremos então o estabelecimento do governo-geral, para, em seguida, constatarmos como se deu o proces- so de colonização do centro-sul, em especial com a descoberta do ouro. Por fim, o término da era colonial será abordado na última seção, a partir da chegada da família Real ao Brasil, seu estabelecimento, até o processo de independência do Brasil, no ano de 1822. https://www.infoescola.com/historia/governo-geral-do-brasil/ 30UNIDADE II Expansão da Colonização 1 EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO 1.1 Sistema Político e Administrativo da Colônia Para analisarmos como se deu processo de desenvolvimento do sistema político e administrativo no Brasil colonial, vamos relembrar alguns fatos importantes vistos na primeira Unidade da disciplina. Cabe lembrarmos que embora a Coroa Portuguesa tenha declarado rapidamente a sua posse do novo território nos termos do Tratado de Tordesilhas, ela não mostrou, no início, desejo de incorrer em quaisquer despesas para criar uma administração colonial ou para imitar a Espanha e embarcar em uma grande missão civilizatória no Novo Mundo. Segundo Prado Junior (2012), nessas condições, colonizar ainda era entendido como aquilo que dantes se praticava: fala-se em colonização, mas o que o termo envolve não era mais do que o estabelecimento de feitorias comerciais, como os italianos vinham de longa data praticando no Mediterrâneo. Apesar da atitude geral de indiferença, no entanto, vimos que o Brasil não foi com- pletamente negligenciado. Embora não houvesse ouro e prata de fácil acesso, a monarquia portuguesa reconheceu que lucros respeitáveis poderiam ser obtidos a partir do comércio. Como havia sido a prática na África Ocidental, a maioria das despesas decorrentes da montagem de navios e realização de comércio foram arcadas por indivíduos privados. Isso era conseguido pelas concessões da corte para criar feitorias e negociar com a população local. Segundo Furtado (2007), em troca, os comerciantes concordavam em pagar uma 31UNIDADE II Expansão da Colonização parte fixa de seus lucros à Coroa e manter a estação comercial como um posto avançado do império português. Em 1502, foi dado o monopólio do comércio de madeira brasileira ao novo comer- ciante cristão, Fernando de Noronha, que se comprometeu a organizar a defesa do litoral e enviar novas missões exploratórias. Feitorias foram estabelecidas ao longo da costa, mas os comerciantes portugueses tinham pouco incentivo para avançar para o interior. Em contraste com a América Espanhola, não havia sinais da proximidade de metais preciosos nem populações nativas numerosas ou civilizações avançadas. Além disso, o avanço para além do litoral foi seriamente impedido pela proximidade de floresta e selva densas, altas cadeias de montanhas além de rios com fortes corredeiras. Além disso, havia a ameaça de índios hostis, animais selvagens, insetos venenosos e cobras. As feitorias no Brasil provaram, portanto, ser precárias e inicialmente não tiveram muita importância. O descuido da Coroa Portuguesa em relação ao Brasil foi afetado pela invasão de concorrentes franceses que também foram atraídos pela disponibilidade e potencial econômico do comércio de madeira no Brasil. Um navio francês teria chegado à costa brasileira em 1504, mas eles não costumavam estabelecer feitorias em terra, e faziam negócios diretamente com os índios. Isso não só representava um desafio para a reivindi- cação portuguesa de monopolizar o comércio de madeira no Brasil, como também levou a um aumento no fornecimento para a Europa, o que ocasionou redução nos preços e nos lucros portugueses. Segundo Smith (2002), o Rei português denunciou os comerciantes franceses como piratas e enviou navios para patrulhar as águas brasileiras. Consciente de que o rei da França não reconhecia as reivindicações portuguesas e espanholas previstas no Tratado de Tordesilhas, o Rei João III (1521 a 1557) decidiu antecipar possíveis inter- ferências de outras nações, afirmando seu próprio controle sobre o Brasil. Para isso, no entanto, exigiu a provisão de uma presença militar e civil portuguesa permanente no novo território. Foi então que deu início à primeira tentativa da Coroa portuguesa de organizar a ocupação e colonização do Brasil, por meio do sistema de capitanias que vimos na Unidade I. Você lembra que em tal sistema, havia um acordo semelhante a um pacto feudal, feito entre o rei e cada donatário no qual este último e seus herdeiros recebiam a terra (carta de doação) e em troca se comprometiam não só a pagar impostos ao rei, mas também a estabelecer e desenvolver a terra e a prover sua defesa contra os índios e invasores es- trangeiros? Com os arrendamentos para o comércio de madeira brasileira, os donatários e seus herdeiros assumiram todos os custos para estabelecer as capitanias. O donatário, no 32UNIDADE II Expansão da Colonização entanto, exercia poderes de jurisdição civil e criminal e também foi autorizado a subdividir sua capitania em lotes menores e separados de terras não cultivadas conhecidas, como sesmarias. Inicialmente havia tanta terra disponível que algumas sesmarias individuais eram enormes. O maior variou de 40 a 100 milhas quadradas e estabeleceu um precedente para a criação de grandes propriedades que seriam uma característica proeminente da futura distribuição de terras no Brasil. Logo ficou evidente que o sistema de capitania era muito ambicioso e impraticável. Não havia aristocratas, comerciantes ou camponeses portugueses suficientes dispostos a emigrar para um país tão vasto e subdesenvolvido como o Brasil. Em contraste, a África e a Índia ainda permaneciam mais atraentes e destinos menos perigosos. Smith (2002) cita que apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco foram inicialmente bem-sucedidas. As outras capitanias estavam em estado de caos. Segundo historiadores, donatários enviavam súplicas ao Rei João III, em 1548, dizendo que se o Rei não ajudasse as capitanias, perderia suas terras. No entanto o sucesso da indústria açucareira em São Vicente e Pernambuco demonstrou potencial para produzir renda regular e bons lucros (SMITH, 2002). O sonho de encontrar metais preciosos também permaneceu. SAIBA MAIS Nenhum representante da grande nobreza se incluía na lista dos donatários, pois os negócios na Índia, em Portugal e nas ilhas atlânticas eram, por essa época, bem mais atrativos. A atribuição de doar sesmarias deu origem à formação de vastos latifúndios. A sesma- ria foi conceituada no Brasil comouma extensão de terra virgem, cuja propriedade era doada a um sesmeiro, com a obrigação – raramente cumprida – de cultivá-la no prazo de cinco anos e de pagar o tributo devido à Coroa. A herança dos sistemas de capitanias hereditárias pode ser sentido até hoje através do coronelismo e das famílias que seguem mantendo o poder em certos estados. Fonte: Fausto (1996, p. 25). 33UNIDADE II Expansão da Colonização 1.2 O Estabelecimento do Governo-Geral O rei João III reconheceu que a intervenção real era oportuna e necessária para evitar o colapso do sistema de capitanias e a possível perda de seu império americano para rivais estrangeiros. Em 1548 anunciou a nomeação de Tomé de Sousa como governador- -geral residente da colônia. A capitania da Bahia também foi reivindicada como terra real. Tomé de Sousa chegou ao Brasil em março de 1549 com uma poderosa frota de seis navios e mais de 1.000 soldados. Segundo Araújo (2000), Salvador surgiu com o foro de cidade – uma prerrogativa exclusiva do rei de Portugal –, e a sua construção foi ordenada por D. João III em 1548, no regimento dado a Tomé de Souza, que iniciou as obras da cidade. Também por determi- nação regimental, Salvador foi erguida em outro lugar, no alto de uma colina e mais para dentro da baía de Todos os Santos, onde hoje se encontra o Centro Histórico. Embora algumas capitanias individuais tenham sobrevivido até o século XVIII, a fundação de Salvador como capital da colônia e sede do novo governo central marcou a afirmação direta e visível da autoridade real pela primeira vez no Brasil e, consequentemen- te, significou o abandono do sistema de capitania como o modelo preferido da Coroa de governo colonial. Na verdade, os donatários foram obrigados a abrir mão de seus poderes exclusivos em relação à arrecadação de impostos, administração da justiça e defesa do território. O envio de reforços militares mostrou-se sensato, porque Sousa e seus suces- sores, mais notavelmente Mem de Sá, que foi governador-geral de 1558 a 1572, tiveram que combater as tentativas francesas de tomar posse do território brasileiro. Prado Júnior (2012) relata que durante mais de dois séculos despejaram na América todo o resíduo das lutas político-religiosas da Europa. A ameaça mais grave surgiu em 1555, quando uma frota francesa comandada pelo almirante Nicolas Durand de Villegagnon entrou na Baía de Gua- nabara e, em aliança com os índios Tamoios, fundou uma pequena comunidade conhecida como “Antártica Francesa” na Ilha de Sergipe. O objetivo ostensivo era estabelecer um refúgio para os Huguenotes franceses1. A resposta portuguesa ao empreendimento brasi- leiro de Villegagnon foi intransigente. Após uma série de ataques das forças portuguesas a partir de 1565, os franceses foram finalmente expulsos em 1567. Operações militares dirigidas contra os franceses resultaram então no estabeleci- mento de novos assentamentos portugueses ao longo do litoral brasileiro que se estende 1 Huguenotes era o nome dado aos protestantes franceses durante as guerras religiosas na França. 34UNIDADE II Expansão da Colonização de São Vicente até o Vale do Amazonas. Nesse processo houve conflito frequente com índios locais, resultando em sua submissão e expulsão. Esforços foram feitos, no entanto, para converter os índios ao cristianismo. Na verdade, seis jesuítas chegaram com a frota de Tomé de Sousa em 1549. Liderados pelo padre Manoel da Nóbrega, desempenharam um papel importante na promoção da política de pacificação e no aculturamento dos índios. Nas palavras de Fausto (1996), vieram com o governador-geral os primeiros jesuítas – Manuel da Nóbrega e seus cinco companheiros –, com o objetivo de catequizar os índios e disciplinar o ralo clero de má fama existente na Colônia A autoridade e influência da Igreja foi consideravelmente reforçada pela criação da diocese da Bahia em 1551. Na segunda metade do século XVI, as atitudes portuguesas em relação ao Brasil haviam mudado significativamente. Embora o vasto interior ainda permanecesse praticamente inexplorado e desconhecido para os europeus, o Brasil não era mais apenas uma coleção de feitorias, mas uma colônia contendo vários assentamen- tos fortificados permanentes, um governo central e uma diocese localizada no capital de Salvador e o início de uma indústria açucareira fluorescente. SAIBA MAIS O que foi a União Ibérica, conhecida também como Dupla Monarquia? A chamada União Ibérica ocorreu após a crise dinás- tica iniciada com a morte do rei D. Sebastião de Por- tugal, na famosa Batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de agosto de 1578. Com a debilidade do último dos Avis, D. Enrique, e com a agressiva reclamação ao trono feita pelo rei espanhol Felipe II (1555-1598), bem res- paldado por seu exército sob o comando do duque de Alba (1507-1582), tem início a maior “união de rei- nos” da história moderna. Durante 60 anos, Portugal e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica, controlando, além das possessões europeias, gran- des áreas ultramarinas na América, África e Ásia. As- sim, nas primeiras duas décadas do século XVII o objetivo central da burocracia hispa- no-lusa era assegurar a posse das imensas regiões de ultramar, nas quatro partes do mundo conhecido, constantemente ameaçadas pelos concorrentes oceânicos: França, Inglaterra e principalmente Holanda. No caso do Estado do Brasil essa política iria tra- duzir-se na criação de novas unidades administrativas que desembocariam na criação do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621. Fonte: Cardoso (2011). 35UNIDADE II Expansão da Colonização O excelente porto e a localização estratégica da Baía de Guanabara levaram os portugueses a estabelecer uma nova cidade que se chamava (São Sebastião do) Rio de Janeiro. Embora as ameaças francesas persistissem, especialmente no Norte, onde Daniel de La Touche2 fundou o assentamento de São Luís, em 1612, eles nunca foram militarmente poderosos o suficiente para minar o controle português do Brasil. Straforini (2008) cita em seus estudos sobre a formação territorial brasileira nos dois primeiros séculos de colonização, que a criação do Estado do Maranhão, em 1621, não impediu a consolidação e avanço dos portugueses pelo vale do rio Amazonas, pois, durante o período da Monarquia Dual (União Ibérica), a administração do Brasil e do Ma- ranhão, na prática, cabia ao conselho formado pelo clero e pela aristocracia lusitana, logo, pelos portugueses. Apesar da tentativa de centralização do governo colonial em Salvador e São Luís, um sistema descentralizado permaneceu firme durante a maior parte do período colonial, pois a distância geográfica e as dificuldades de comunicação fizeram com que a capacida- de do governador-geral de interferir nos assuntos locais fosse muito limitada. Além disso, o Brasil colonial proporcionou um contraste acentuado com a América Espanhola ao não desenvolver grandes cidades e centros administrativos, como a Cidade do México e Lima, de onde irradiavam poder real e autoridade. De fato, historiadores relatam que, principalmente por razões econômicas e de se- gurança, a população do Brasil preferiu se reunir em municípios compostos por pequenas cidades e vilas, muitas das quais estavam localizadas próximas a grandes plantações de açúcar. Os municípios eram, portanto, o foco do governo local. Os poderosos latifundiários e plantadores locais conhecidos como “homens bons” serviram como conselheiros (vereado- res) no Senado ou câmara municipal que era o equivalente ao cabildo3 hispano-americano. A composição exata dos conselhos variava, mas eram geralmente presididas por um juiz ordinário que também atuava como oficial de justiça permanente. 1.3 Formação do Complexo Econômico Nordestino No Nordeste brasileiro duas atividades se destacavam: a açucareira e a pecuária. Ambas tinham sistemas de produção que não sofriam grandes modificações, isso fazia com 2 Daniel deLa Touche, sob o título de Senhor de La Ravardière, foi um experiente Lugar-tenente General da Marinha Francesa do século XVII. Nobre, de religião protestante, liderou a expedição francesa que, em 1612, deu início as pretensões de colonização no Norte do Brasil. 3 Cabildo era uma corporação municipal instituída na América Espanhola durante o período colonial que se encarregava da administração geral das cidades coloniais. 36UNIDADE II Expansão da Colonização que não houvesse investimentos para aumentar produtividade ou reduzir custos. Porém, devido ao baixo investimento e custos baixos, tais atividades se adaptavam muito bem a alterações no preço de seus produtos. Era lucrativo continuar produzindo mesmo que o preço caísse muito. A atividade canavieira dependia da compra de equipamentos e importação de mão-de-obra, já a pecuária não, nela o aumento do rebanho acontecia de forma natural, assim como a incorporação de terras e a mão de obra, pois considerando que a atividade era capaz de prover alimento em abundância, isso causava um aumento ainda maior da população nestas atividades. A queda no preço do açúcar na segunda metade do século XVII reduziu a lucra- tividade do setor, mas não a ponto de torná-lo inviável, a atividade continuou operando mesmo vendo seus lucros caírem fortemente. A situação, porém, se complicou ainda mais no século XVIII com o aumento do preço dos escravos e a transferência de parte da força de trabalho para as minas de ouro em Minas Gerais. No caso da pecuária, a redução da demanda de seus produtos não parou a proliferação do rebanho e mão-de-obra, seja a que crescia naturalmente no seu entorno ou a que abandonava os engenhos que passavam por dificuldades, sempre encontrava trabalho. Mesmo que fossem atividades limitadas à subsistência. Toda essa redução na lucratividade da indústria açucareira e, por consequência, na pecuária que era fornecedora dos engenhos, fez com que a renda diminuísse na região Nordeste a ponto de ter início algumas atividades de manufatura local, destinadas a forne- cer produtos que em outras épocas eram importados. Nesse cenário, o couro teve papel importante como matéria-prima. Fica claro, no entanto, que do fim século XVII até começo do século XIX a economia nordestina passou por um processo no qual as atividades mais especializadas e industriais foram dando lugar a uma economia de subsistência que causou um retrocesso em relação ao nível de renda e desenvolvimento. De toda forma, houve um grande aumento popula- cional devido às atividades de subsistência, uma população cada vez maior e com renda cada vez mais baixa ou inexistente. Esse processo de crescimento e empobrecimento do Nordeste brasileiro tem consequências que podemos observar até os dias de hoje quando pensamos em todos os problemas financeiros que a região atravessa. 37UNIDADE II Expansão da Colonização 2 EXPANSÃO TERRITORIAL A União Ibérica facilitou a exploração territorial e a colonização do Brasil, porque retirou as restrições de fronteira que dividiam o continente que havia sido estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas em 1494. Mas o principal motivo para a exploração europeia no interior ainda era a busca por metais preciosos. Soma-se a isso o desejo de capturar índios para trabalhar como escravos nas plantações de açúcar em rápida expansão. As expedições mais celebradas foram as organizadas pelos bandeirantes de São Paulo. Os bandeirantes eram uma combinação de índios e europeus, muitos dos quais eram uma mistura de origem branca e indígena, conhecidos como mamelucos. Eles ganharam seu nome a partir das bandeiras distintas que eles carregavam para identificar a si mesmos. Percorrendo enormes distâncias a pé por semanas, meses e até anos, os bandeirantes adquiriram uma reputação formidável e heroica. Um padre jesuíta comentou: “Eles vão sem Deus, sem comida, nus como os selvagens, e sujeitos a todas as perseguições e misérias do mundo. Os homens se aventuram por 200 ou 300 léguas no sertão, servindo ao diabo com um martírio tão incrível, a fim de negociar ou roubar escravos” (SKIDMORE, 2002, p. 15). Expedições variavam muito em tamanho e duração. Uma expedição em 1628 incluiu 69 brancos, 900 mamelucos e 2.000 índios. Os bandeirantes foram pioneiros implacáveis, cujas incursões ajudaram a disseminar o domínio e a autoridade portuguesa e, assim, estimularam mais assentamentos e o desenvolvimento comercial do interior. 38UNIDADE II Expansão da Colonização A exploração e o assentamento também foram influenciados pela preocupação de impedir que outras nações europeias invadissem o território português, especialmente ao longo do litoral norte. Pontos fortificados foram fundados na Filipeia (atual João Pessoa), em 1585, Natal, em 1599 e Fortaleza, em 1611. São Luís foi resgatada dos franceses em 1614 e tornou-se a primeira capital do Estado do Maranhão, criada em 1621. Uma importante base militar foi criada em Belém, em 1616, para controlar a foz do rio Amazonas. Uma expedição organizada por Pedro Teixeira saiu de Belém em 1637 e passou dois anos navegando pelo vasto rio. Embora Portugal tenha reivindicado a soberania sobre todo o Vale do Amazonas, o assentamento português foi restringido durante grande parte do sé- culo XVII às cidades de São Luís e Belém. Além das cidades costeiras, a autoridade real foi representada pelo estabelecimento de postos militares e pelas atividades missionárias das Ordens Religiosas. Franciscanos, jesuítas e carmelitas estabeleceram aldeias nas quais comunidades de índios locais foram reunidas para fins de conversão ao cristianismo e aculturação. No Nordeste, a maior parte da população europeia estava localizada próxima às plantações de açúcar, localizadas na faixa litorânea. Como vimos na Unidade I, a crescente exigência de alimentos e de transporte para a indústria açucareira estimulou o desenvol- vimento da pecuária. Durante o século XVII, os rebanhos de gado gradualmente se espa- lharam para além do litoral e para as pradarias circundantes do interior ou “sertão”, e mais especificamente na Bahia e em Pernambuco. A expansão para o interior foi desencorajada pela falta de estradas e trilhas, pelo clima extremamente seco e pela hostilidade dos índios. Foi só na descoberta do ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, que houve um grande e sustentado movimento de pessoas vindas do litoral para o sertão. Mais ao sul da colônia, a cidade do Rio de Janeiro aproveitou suas excelentes instalações portuárias naturais para se desenvolver como um grande porto. São Paulo também emergiu como uma importante base para o intercâmbio comercial e ponto de partida para os bandeirantes organizarem suas expedições ao interior. Poucos europeus se aventuraram mais ao sul. As exceções foram missões jesuítas criadas para proteger e aculturar os índios e alguns pontos fortificados, como Laguna, em Santa Catarina, e Colônia do Sacramento, no Rio da Prata, que foram destinados principalmente postos militares para afirmar reivindicações portuguesas para posse do território. 39UNIDADE II Expansão da Colonização 2.1 A Mineração e a Ocupação no Centro-Sul Os portugueses sempre se interessaram por metais preciosos. Eles queriam, acima de tudo, encontrar o ouro, a moeda mais suprema no comércio mercantilista da Europa. Em 1695 foram descobertas reservas de ouro em Minas Gerais, e depois de quase dois séculos de exploração infrutífera de metais preciosos, parecia que o Brasil finalmente havia se tornado outro el dorado4. A fronteira da mineração atraiu um enorme fluxo de migrantes que buscavam fazer fortunas. A descoberta do ouro desencadeou uma corrida imediata de migrantes de todo o Brasil, especialmente do Nordeste, já que Minas Gerais rapidamente se tornou a região que mais crescia no Brasil do século XVIII. Prado Júnior (2012) relata que as primeiras desco- bertas positivas de ouro nocentro de Minas Gerais ocorreram em meados de 1696. Houve também um aumento repentino nos recém-chegados de Portugal. Essa saída da juventude portuguesa tornou-se tão grande que, em 1705, a Coroa até tentou (sem sucesso) retardar o fluxo. Em décadas, o Brasil tornou-se o maior produtor de ouro do mundo. Na década de 1720, o Brasil também começou a produzir diamantes. Finalmente, Portugal poderia desfrutar do tipo de bonança que a Espanha havia ganhado séculos antes. Essa produção de ouro e diamante teve um resultado muito positivo, financiando o surgi- mento de uma rica cultura no Centro-Sul do Brasil. Depois de ser praticamente desabitada pelos europeus, a população mineira subiu de 30.000, em 1709, e para 300.000, em 1775, um número que equivalia a 20% da popula- ção estimada da colônia. As cidades mineiras do século XVIII viram a construção de igrejas cristãs em um estilo barroco brasileiro único. Antonio Francisco Lisboa (“Aleijadinho”) se destacou pelas igrejas que projetou em Ouro Preto, Sabará e São João Del-Rei, e por suas esculturas em tamanho real dos profetas em Congonhas do Campo. Ele superou o estigma de sua cor, sem mencionar a hanseníase, para se tornar um dos gigantes da história da arte brasileira. 4 El dorado é uma antiga lenda indígena da época da colonização da América que atraiu muitos aventureiros europeus. A lenda falava de uma cidade que foi toda feita de ouro maciço e puro. 40UNIDADE II Expansão da Colonização SAIBA MAIS No fim de sua vida, Aleijadinho realiza as 12 esculturas intituladas Os Profetas na pe- quena cidade de Congonhas do Campo. O material usado é a pedra-sabão, caracterís- tica em muitas obras do escultor. Executadas entre 1796 e 1805, momento em que o artista está debilitado por sua doença, são feitas com ajuda de outros artesãos subordi- nados a Aleijadinho, o que explica as diferenças entre seus estilos e leva a crer que nem todas foram feitas pelo próprio escultor. Todos os profetas têm cabelos encaracolados, cobertos por turbantes, e olhos levemente puxados – traço recorrente nas esculturas do artista. Os profetas, localizados no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, têm caráter monumental e mesclam “realismo e caricatura”, como ressalta o historiador da arte inglês John Bury. Fonte: Bury (2006, p. 39). O grande crescimento demográfico refletiu o fato de Minas Gerais ter deslocado do Nordeste o centro econômico da colônia. Minas Gerais também foi usada como base para exploração e assentamento à medida que os garimpeiros se mudaram para fazer novas descobertas de ouro e diamantes em Mato Grosso, em 1719, e Goiás, em 1725. Inicialmente, a maioria dos garimpeiros viajou para a região mineira em árduas viagens que duravam semanas e meses pelas rotas interiores de São Paulo ou ao longo do rio São Francisco, mas a rota preferida e mais rápida passou a ser a “Estrada Nova” do centro administrativo de mineração de Ouro Preto até o porto do Rio de Janeiro. Isso aumentou muito a crescente importância geográfica e econômica do Rio de Janeiro e contribuiu para a decisão de transferir a capital de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. A abertura de novas áreas no interior resultou em uma grande reorganização do governo colonial e na vigorosa afirmação da autoridade real. O envio de um grande número 41UNIDADE II Expansão da Colonização de oficiais e soldados reais mostrou-se necessário para garantir a cobrança de impostos, a prevenção do contrabando e a manutenção da lei e da ordem em uma região que expe- rimentou frequente escassez de alimentos e violência endêmica. Uma causa particular da agitação social foi a atitude dos paulistas, que compunham a maior parte da primeira leva de garimpeiros. O conflito resultou em um breve período de hostilidade aberta e violência conhecida como a “Guerra dos Emboabas” – um confronto travado de 1707 a 1709 pelo direito de exploração das recém-descobertas jazidas de ouro na região do atual estado de Minas Gerais, no Brasil. A perturbação forneceu à Coroa uma justificativa para impor sua autoridade na região mineira. Estradas foram construídas para o transporte seguro de ouro e foram guar- dadas por uma rede de tropas militares. A interferência direta dos funcionários reais foi mais acentuada em suas tentativas de supervisionar e registrar a produção de ouro, a fim de garantir o pagamento do imposto conhecido como quinto (“o quinto real”). Segundo Prado Júnior (2012), o sistema estabelecido era o seguinte: para dirigir a mineração, fiscalizá-la e cobrar tal tributo, criou-se uma administração especial, a Inten- dência de Minas, sob a direção de um superintendente. Tal sistema deveria vigorar em cada capitania onde fosse descoberto o ouro, sendo que tais intendências independiam inteiramente de governadores e quaisquer outras autoridades da colônia, sendo subordina- das unicamente ao governo metropolitano de Lisboa. O ressentimento local se transformou em uma breve revolta armada na (Vila Rica do) Ouro Preto, em 1720, que foi brutalmente reprimida. A autoridade real foi ainda mais rigorosa no Distrito Diamantina, no norte de Minas Gerais. Considerando que a Coroa tinha sido reativa em sua política para os ataques sobre o ouro, agiu rapidamente ao saber da descoberta de diamantes em 1729. O Distrito de Diamantina foi declarado propriedade real e foram impostas restrições ao movimento de pessoas que entravam e saíam da área. A extração e venda de diamantes foram estritamente regulamentadas. A indústria foi declarada como um monopólio real em 1771. No entanto o contrabando não podia ser eliminado e era frequentemente conduzido com o conluio das autoridades locais. Em contraste com a habitual aplicação frouxa do domínio português no Brasil, no entanto, a indústria de diamantes deu um exemplo da ten- tativa de implementação do sistema mercantilista no qual o tesouro foi extraído da colônia em benefício do país-mãe. As minas de ouro e diamante, como as plantações, dependiam do trabalho escravo africano — necessitando de uma mudança de escravos africanos de outros lugares do Bra- 42UNIDADE II Expansão da Colonização sil, bem como de novas entregas do comércio de escravos do Atlântico Sul. O que o boom da mineração não fez foi mudar o padrão básico do desenvolvimento econômico colonial brasileiro. Assim como os produtos agrícolas tropicais (como açúcar, algodão e tabaco), a mineração de ouro e diamante não estimulou o crescimento econômico amplamente neces- sário para a industrialização. As riquezas minerais foram para Portugal, onde resgataram um reino em declínio. Portugal estava com um déficit constante no seu comércio com a Inglaterra, e grande parte do ouro brasileiro foi para cobrir as dívidas portuguesas com a Inglaterra. Esse ouro também foi para manter o estilo de vida da corte real e as ordens religiosas. A capacidade de produção limitada das jazidas, a falta de aprimoramento da ati- vidade e a falta de preparo técnico foram os principais elementos que contribuíram para o rápido esgotamento das minas. Além disso, as ações políticas adotadas pelos portugueses contribuíram ativamente para a crise da atividade mineradora. Incidentes entre minerado- res e autoridades portuguesas começam a acontecer devido ao aumento da fiscalização e a cobrança de impostos, a medida que os metais começam a faltar. Foi assim que em 1789 ocorreu o fato chamado Inconfidência Mineira, um levante anticolonialista que marcou efetivamente a crise da atividade mineradora no Brasil. SAIBA MAIS A Inconfidência Mineira foi abordada por estudiosos de várias maneiras diferentes. Há quem a defina como um movimento que buscava a liberdade da colônia portuguesa frente à metrópole. Outros já esboçam contornos mais regionais atribuindo sua “quase” eclosão ao descontentamento da população de Minas para com o excesso da carga tributária imposta pelo governo português. Teremos ainda
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