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A inflamação é uma resposta protetora que envolve células do hospedeiro, vasos sanguíneos, proteínas e outros mediadores. É destinada a eliminar a causa inicial da lesão celular, as células e tecidos necróticos que resultaram da lesão original e iniciar o processo de reparo. Ela também é responsável por movimentar os eventos que curam e reparam os sítios de lesão. Sem inflamação, as infecções prosseguiriam sem controle e as feridas jamais cicatrizariam. Entretanto, mesmo que a inflamação auxilie na remoção das infecções e outros estímulos nocivos e inicie o reparo, a reação inflamatória e o processo subsequente de reparo podem causar danos consideráveis. Isso porque os componentes da reação inflamatória que destroem e eliminam os micróbios e tecidos mortos também são capazes de lesar os tecidos normais. Normalmente, as moléculas e as células de defesa do hospedeiro, incluindo leucócitos e proteínas plasmáticas, circulam no sangue, e o objetivo da reação inflamatória é trazê-las para o local da infecção ou da lesão tecidual. Essa inflamação pode ser aguda ou crônica. A inflamação aguda é de início rápido e de curta duração, com duração de poucos minutos a poucos dias, e caracteriza-se pela exsudação de líquido, proteínas plasmáticas e acúmulo de leucócitos, predominantemente neutrófilos A inflamação crônica pode ser mais insidiosa, é de duração mais longa (dias a anos) e é caracterizada pelo influxo de linfócitos e macrófagos com proliferação vascular associada e fibrose (cicatrização). A inflamação, portanto, é induzida por mediadores químicos produzidos pelas células do hospedeiro em resposta a um estímulo nocivo. Quando um micróbio penetra no tecido ou o tecido é lesado, a presença de infecção ou lesão é percebida por células residentes, principalmente macrófagos, mas também por célula dendríticas, mastócitos e outros tipos celulares. Essas células secretam moléculas (citocinas e outros mediadores) que induzem e regulam a resposta inflamatória. As células e mediadores são ativados apenas em resposta à lesão e, como têm vida curta, são degradados ou tornam-se inativos quando o agente agressor é eliminado. Alguns desses mediadores agem nos pequenos vasos sanguíneos nas vizinhanças e promovem a saída do plasma e o recrutamento dos leucócitos circulantes para o local onde o agente lesivo está localizado. Os leucócitos recrutados são ativados e tentam remover o agente lesivo, por fagocitose. É essa ativação dos leucócitos que pode trazer lesões ao tecido do hospedeiro. A inflamação é normalmente controlada e autolimitada As manifestações externas da inflamação, chamadas de sinais cardinais, são: aquecimento, rubor (vermelhidão), tumor (inchaço), dor e perda de função. Essas manifestações da inflamação são consequência das alterações vasculares e do recrutamento e ativação dos leucócitos. Além disso, vários mecanismos anti- inflamatórios são ativados. Se o agente nocivo não for rapidamente eliminado, o resultado pode ser a inflamação crônica, que pode ter sérias consequências patológicas. As etapas da resposta inflamatória podem ser lembradas como os cinco erres: 1. reconhecimento do agente lesivo 2. recrutamento dos leucócitos 3. remoção do agente 4. regulação (controle) da resposta 5. resolução (reparo). A inflamação aguda é uma resposta rápida que leva leucócitos e proteínas plasmáticas para os locais da lesão. Uma vez lá, os leucócitos removem os invasores e iniciam o processo de digerir e se livrar dos tecidos necróticos. A inflamação aguda possui dois componentes principais: 1. Alterações vasculares: alterações do calibre vascular que resultam em aumento do fluxo sanguíneo (vasodilatação) e alterações nas paredes vasculares que permitem que as proteínas plasmáticas deixem a circulação (aumento da permeabilidade vascular). 2. Eventos celulares: emigração dos leucócitos da microcirculação e seu acúmulo no foco da lesão (recrutamento e ativação celular), tornando-os aptos para eliminar o agente agressor. Os principais leucócitos na inflamação aguda são os neutrófilos (leucócitos polimorfonucleares) As reações inflamatórias agudas podem ser iniciadas por vários estímulos: 1. Infecções: por bactérias, vírus, fungos e parasitas estão entre as causas clinicamente importantes mais comuns da inflamação. 2. Trauma: corte e penetração e vários agentes químicos e físicos (lesão térmica, p. ex., queimaduras ou frio profundo; irradiação; toxicidade de algumas substâncias químicas ambientais) 3. Necrose tecidual: de qualquer causa incluindo isquemia (como no infarto do miocárdio) e lesão química ou física. 4. Corpos estranhos (farpas, poeira, suturas e depósitos de cristais). 5. Reações imunológicas ou hipersensibilidade contra substâncias ambientais ou contra os próprios tecidos. Como esses estímulos para as respostas inflamatórias não podem ser eliminados ou evitados, as reações tendem a ser persistentes, frequentemente apresentando características de inflamação crônica Existem duas classes principais de receptores capazes de reconhecer a presença de agentes infecciosos: 1. Receptores do tipo Toll (TLRs): O reconhecimento por esses receptores ativa fatores de transcrição que estimulam a produção de uma série de proteínas de membrana e secretadas como mediadores da inflamação, citocinas antivirais (interferons) e proteínas que promovem ativação dos linfócitos e respostas imunológicas mais potentes 2. Inflamossomo: é um complexo citoplasmático multiproteico que reconhece produtos das células mortas, como ácido úrico e ATP extracelular, bem como cristais e alguns produtos microbianos. A ativação do inflamossomo resulta na ativação de uma enzima chamada caspase 1, que cliva as formas precursoras da citocina inflamatória interleucina 1b(IL-1b) em sua forma biologicamente ativa. Essa IL-1 é um importante mediador no recrutamento de leucócitos na resposta inflamatória aguda, onde os leucócitos fagocitam e destroem as células mortas. A gota (doença articular) é causada pela deposição de cristais de urato, os quais são ingeridos por fagócitos e ativam o inflamossomo, resultando na produção de IL-1 e inflamação aguda. Os antagonistas da IL-1 constituem um tratamento eficaz nos casos de gota resistentes à terapia anti-inflamatória convencional. Estudos recentes mostraram que cristais de colesterol e ácidos graxos livres também ativam o inflamossomo, sugerindo que a IL-1 exerce um papel nas doenças comuns, como a aterosclerose (associada ao depósito de cristais de colesterol nas paredes vasculares) e obesidade associada a diabetes tipo 2. Esses achados permitem a possibilidade de tratamento dessas doenças bloqueando-se a IL-1. Alterações vasculares As principais reações vasculares da inflamação aguda são o aumento do fluxo sanguíneo resultante da vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular, ambos destinados a trazer células sanguíneas e proteínas para os sítios de infecção ou lesão As reações vasculares induzidas por essas interações logo se seguem e dominam a fase inicial da resposta. Alterações no Fluxo e Calibre Vasculares As alterações nos vasos sanguíneos iniciam-se rapidamente após lesão ou infecção, mas desenvolvem-se em velocidades variáveis, dependendo da natureza e gravidade do estímulo inflamatório original. 1. Após vasoconstrição transitória (que dura apenas segundos) ocorre vasodilatação das arteríolas, resultando em aumento do fluxo sanguíneo e abertura dos leitos capilares. Essa expansão vascular é a causa da vermelhidão (eritema) e calor observados, caracteristicamente, na inflamação aguda 2. Como a microcirculação torna-se mais permeável, o líquido rico em proteínas extravasa para dentro dos tecidos extravasculares. A perda de líquido faz com que as hemácias fiquem mais concentradas, aumentando, assim, a viscosidade do sangue e diminuindoa velocidade da circulação. Esse processo é chamado de estase 3. Quando a estase se desenvolve, os leucócitos (principalmente os neutrófilos) começam a se acumular ao longo da superfície endotelial vascular, um processo chamado marginação e essa é a primeira etapa da jornada dos leucócitos através da parede vascular para dentro do tecido intersticial Aumento da Permeabilidade Vascular O processo de estase leva ao aumento da pressão osmótica do líquido intersticial, levando a maior efluxo de água do sangue para os tecidos. O acúmulo de líquido rico em proteínas resultante disso é chamado exsudato. O acúmulo desse líquido nos espaços extravasculares é chamado de edema; o líquido pode ser transudato ou exsudato. Esse transudato seria o acúmulo de líquido intersticial, causados pelo aumento da pressão hidrostática.. A diferença entre eles é que os exsudatos são típicos da inflamação, ao passo que os transudatos se acumulam em várias condições não inflamatórias Mecanismos que podem contribuir para o aumento da permeabilidade vascular: 1. Contração da célula endotelial: formando lacunas intercelulares nas vênulas pós-capilares. A contração da célula endotelial ocorre rapidamente após a ligação da histamina, bradicinina, leucotrienos e muitos outros mediadores químicos aos receptores específicos e geralmente é de curta duração (15-30 minutos). Uma retração mais lenta e prolongada das células endoteliais, resultante de alterações do citoesqueleto, pode ser induzida por citocinas, como fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina 1 (IL-1). Essa reação pode se desenvolver em 4-6 horas após o estímulo inicial e perdurar por 24 horas ou mais 2. Lesão endotelial: resultando em extravasamento vascular, causando necrose e desprendimento da célula endotelial. A lesão direta às células endoteliais é vista geralmente após lesões graves (p. ex., queimaduras e algumas infecções). As células endoteliais também podem ser lesadas como consequência do acúmulo de leucócitos ao longo da parede do vaso. Os leucócitos ativados liberam muitos mediadores tóxicos que podem causar lesão ou desprendimento endotelial. 3. Aumento da transcitose de proteínas através de canais formados pela fusão de vesículas intracelulares aumenta a permeabilidade das vênulas, especialmente após a exposição a certos mediadores, como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). 4. Extravasamento de novos vasos sanguíneos: o reparo do tecido envolve a formação de novos vasos (angiogênese). Esses brotamentos vasculares permanecem permeáveis até que as células endoteliais em proliferação se diferenciem suficientemente para formar junções intercelulares. As novas células endoteliais expressam aumento de receptores para mediadores vasoativos, e alguns dos fatores que induzem a angiogênese diretamente (p. ex., VEGF) induzem diretamente o aumento da permeabilidade vascular. Embora esses mecanismos de permeabilidade vascular sejam separáveis, todos podem participar da resposta a um estímulo Recrutamento e ativação dos leucócitos Os leucócitos ingerem agentes ofensivos, destroem bactérias e outros micróbios, e eliminam os tecidos necróticos e substâncias estranhas. O preço pago pelo potencial defensivo dos leucócitos é que, uma vez ativados, podem induzir lesão tecidual e prolongar a inflamação, já que os produtos dos leucócitos que destroem micróbios podem também lesar os tecidos normais do hospedeiro. Os mecanismos de defesa do hospedeiro incluem vigilância e equilíbrio que assegurem que os leucócitos sejam recrutados e ativados apenas quando necessário Recrutamento dos Leucócitos Normalmente, os leucócitos fluem rapidamente no sangue e, na inflamação, eles têm de ser parados e levados ao local da lesão tecidual que seriam sítios tipicamente extravasculares. A sequência de eventos no recrutamento dos leucócitos da luz vascular para o espaço extravascular consiste em (1) marginação e rolagem ao longo da parede do vaso; (2) aderência firme ao endotélio; (3) transmigração entre as células endoteliais e (4) migração para os tecidos intersticiais, em direção a um estímulo quimiotático 1. Marginação e rolamento: Como o sangue flui dos capilares para as vênulas pós-capilares, as células circulantes são deslizadas pelo fluxo laminar contra a parede do vaso. Os leucócitos então são empurrados para fora da coluna axial, possibilitando uma oportunidade melhor de interagir com as células endoteliais de revestimento, especialmente quando ocorre a estase. Esse processo de acúmulo de leucócitos na periferia dos vasos é chamado de marginação. Se as células endoteliais são ativadas por citocinas e outros mediadores produzidos localmente, elas expressam moléculas de adesão às quais os leucócitos aderem firmemente. Subsequentemente, os leucócitos destacam-se e rolam na superfície endotelial, aderindo- se em um processo chamado de rolamento. 2. Adesão: Os leucócitos em rolagem são capazes de sentiras mudanças no endotélio e iniciam a próxima etapa na reação dos leucócitos, que é uma firma adesão às superfícies endoteliais. Essa adesão é mediada pelas integrinas expressas nas superfícies celulares dos leucócitos e que interagem com seus ligantes nas células endoteliais As integrinas são glicoproteínas heterodiméricas transmembrana que medeiam a adesão dos leucócitos ao endotélio e a várias células da matriz extracelular. As integrinas são expressas, normalmente, nas membranas plasmáticas dos leucócitos, em estado de baixa afinidade, ou seja, não aderem a seus ligantes apropriados até que os leucócitos sejam ativados pelas quimiocinas. Essas quimiocinas são quimioatraentes secretados por várias células nos locais de inflamação e estão expressas na superfície do endotélio. Quando os leucócitos aderentes encontram as quimiocinas, as células são ativadas e suas integrinas sofrem mudanças conformacionais, agrupam-se e convertem-se a um estado de alta afinidade. Ao mesmo tempo, outras citocinas como o TNF e a IL-1 (secretadas também nos locais da lesão e infecção), ativam as células endoteliais para aumentar sua expressão de ligantes para integrinas. Esses ligantes incluem a ICAM-1 (molécula 1 de adesão intercelular), a qual se liga às integrinas LFA- 1 (CD11a/CD18), antígeno macrófago 1 (isto é, Mac-1 CD11b/CD18) e VCAM-1 (molécula 1 de adesão vascular), que se liga à integrina VLA-4 O engajamento de integrinas pelos seus ligantes leva sinais aos leucócitos que resultam em alterações do citoesqueleto que regulam a firme adesão ao substrato. O resultado final do aumento de afinidade das integrinas estimuladas por citocinas e o aumento de expressão dos ligantes de integrina é a adesão estável dos leucócitos às células endoteliais, nos locais da inflamação. 3. Transmigração: Após a aderência na superfície endotelial, os leucócitos migram pela parede do vaso, espremendo-se entre as células ao nível das junções intercelulares. Esse movimento dos leucócitos é chamado de diapedese. A migração dos leucócitos é orientada pelas quimiocinas, produzidas nos tecidos extravasculares, as quais estimulam a movimentação dos leucócitos em direção a seus gradientes químicos. Além disso, a PECAM-1 (molécula de aderência plaquetária, também chamada CD31), uma molécula de adesão celular expressa em leucócitos e células endoteliais, medeia os eventos de ligação necessários para os leucócitos atravessarem o endotélio. Após a passagem pelo endotélio, os leucócitos secretam colagenases que degradam focalmente a membrana basal dos vasos, atravessando-a Quimiotaxia: Após o extravasamento, os leucócitos migram em direção ao local da lesão ou infecção chamado de quimiotaxia. Substâncias exógenas e endógenas podem atuar como fatores quimiotáticos para os leucócitos e incluem: • Produtos bacterianos, particularmente os peptídeos com terminal N-formil-metionil.• Citocinas, especialmente as pertencentes à família das quimiocinas. • Componentes do sistema complemento, em particular o C5. • Produtos da via da lipoxigenase do metabolismo do ácidoaraquidônico (AA), particularmente o leucotrieno B4 (LTB4). Esses mediadores são produzidos em resposta a lesões, infecções e durante as reações imunológicas. As moléculas quimiotáticas se ligam a receptores específicos na superfície celular, os quais iniciam a montagem dos elementos contráteis do citoesqueleto, necessários para a movimentação. Os leucócitos se movem projetando pseudópodes que se ancoram na MEC e puxam a célula na direção da projeção. O tipo de leucócito emigrante varia com o tempo da resposta inflamatória e com o tipo de estímulo. Na maioria das formas de inflamações agudas, os neutrófilos predominam no infiltrado inflamatório, durante as primeiras 6-24 horas, sendo substituídos por monócitos em 24-48 horas. Vários fatores são responsáveis por essa abundância inicial de neutrófilos. Os neutrófilos são os leucócitos mais numerosos no sangue, respondem mais rapidamente às quimiocinas e aderem mais firmemente às moléculas de adesão que são rapidamente induzidas nas células endoteliais, como a P-selectina e a E-selectina. Além disso, após a entrada nos tecidos, os neutrófilos são de vida breve — morrem por apoptose e desaparecem dentro de 24- 48 horas ---, enquanto os monócitos sobrevivem mais tempo. Porém, há exceções a esse padrão de infiltração celular. Em certas infecções, (p. ex., aquelas causadas por microrganismos Pseudomonas) o infiltrado celular é dominado pelo recrutamento contínuo de neutrófilos, por vários dias; nas infecções virais, os linfócitos são as primeiras células a chegarem; em algumas reações de hipersensibilidade, os eosinófilos podem ser o principal tipo celular Ativação dos leucócitos Os leucócitos expressam em suas superfícies diferentes classes de receptores que percebem a presença de micróbios, células mortas e substâncias estranhas. O engajamento desses receptores induz uma série de respostas nos leucócitos que são parte das suas funções normais de defesa chamadas de ativação leucocitária. Essa ativação leucocitária inclui: • Fagocitose de partículas. • Destruição intracelular de micróbios e células mortas fagocitados, por substâncias produzidas nos fagossomos, incluindo espécies reativas do oxigênio e do nitrogênio e enzimas lisossômicas. • Liberação de substâncias que destroem micróbios extracelulares e células mortas, em grande parte as mesmas substâncias produzidas dentro das vesículas fagocíticas. • Produção de mediadores como as citocinas que amplificam a reação inflamatória, por recrutamento e ativação de mais leucócitos Os leucócitos se ligam e ingerem a maioria dos microrganismos e células mortas através de receptores de superfície específicos, os quais reconhecem os componentes dos micróbios e das células mortas ou reconhecem as proteínas do hospedeiro, chamadas opsoninas, que revestem os micróbios e os tornam alvos para a fagocitose (um processo conhecido como opsonização). As principais opsoninas são os anticorpos da classe imunoglobulina G (IgG) que se ligam às superfícies do antígeno microbiano; os produtos de degradação da proteína C3 do complemento; e as lectinas de ligação a carboidratos chamadas colectinas, que se ligam aos grupamentos de açúcares. da parede celular dos microrganismos. Essas opsoninas ou estão presentes no sangue, prontas para revestir os micróbios, ou são produzidas em resposta aos micróbios. Os leucócitos expressam receptores para opsoninas que facilitam a rápida fagocitose dos micróbios revestidos. Esses receptores incluem o receptor Fc para IgG (chamado FcgRI), receptores paraos fragmentos 1 e 3 do complemento (CR1 e CR3) e receptores de C1q para as colectinas. A ligação de partículas opsonizadas desencadeia o engolfamento e induz a ativação celular que aumenta a degradação dos micróbios ingeridos.. No engolfamento, os pseudópodes se estendem em torno do objeto, formando um vacúolo fagocítico. Então, a membrana do vacúolo se funde com a membrana de um grânulo lisossômico, resultando em liberação do conteúdo do grânulo dentro do fagolisossoma. Etapas da fagocitose: Destruição e Degradação dos Microrganismos Fagocitados: A finalidade da fagocitose de microrganismos é a destruição e a degradação das partículas ingeridas. As etapas-chave nessa reação são a produção de substâncias microbicidas dentro dos lisossomas e a fusão dos lisossomas com os fagossomas, expondo as partículas ingeridas aos mecanismos destruidores dos leucócitos. As substâncias microbicidas mais importantes são as espécies reativas do oxigênio (ERO) e as enzimas lisossômicas. Ocorre então, todos os processos necessários para síntese de ERO. As quantidades produzidas de H2O2 são geralmente insuficientes para destruir a maioria das bactérias (embora a formação de superóxido e do radical hidroxila o seja). No entanto, os lisossomas dos neutrófilos (chamados de grânulos azurófilos) contêm a enzima mieloperoxidase (MPO), que, na presença de um haloide como o Cl−, converte H2O2 em HOCl• (radical hipocloroso). O HOCl• é um potente oxidante e agente antimicrobiano (o NaOCl é o ingrediente ativo nos alvejantes) que destrói bactérias por halogenação ou por oxidação de proteínas e lipídios. Secreção de Substâncias Microbicidas: Os mecanismos microbicidas dos fagócitos estão contidos no interior dos fagolisossomas para proteger os leucócitos de danos a si próprios. Os leucócitos também secretam ativamente componentes granulares, incluindo enzimas, como a elastase, que destrói e digere micróbios extracelulares e tecidos mortos, bem como peptídeos antimicrobicidas. Armadilhas Extracelulares dos Neutrófilos (NETs): Essas “armadilhas” representam redes fibrilares extracelulares, produzidas pelos neutrófilos em resposta a patógenos infecciosos (principalmente bactérias e fungos) e mediadores inflamatórios (como quimiocinas, citocinas, proteínas do complemento e ERO). As NETs contêm uma trama de cromatina nuclear preenchida com proteínas granulares, como peptídeos antimicrobicidas e enzimas. As armadilhas fornecem alta concentração de substâncias antimicrobicidas nos locais da infecção e impedem a disseminação dos micróbios prendendo- os nas fibrilas. No processo, os núcleos dos neutrófilos são perdidos, levando à sua morte. Lesão Tecidual Induzida por Leucócitos As substâncias secretadas pelos leucócitos são causas de lesão em células e tecidos porque: 1. Como parte da reação normal de defesa contra microrganismos infecciosos. Em algumas infecções, difíceis de erradicar, como a tuberculose e certas doenças virais, a resposta do hospedeiro contribui mais para a patologia do que o próprio microrganismo 2. Como tentativa normal de remoção de tecidos lesados e mortos (p. ex., após infarto do miocárdio). A inflamação pode se prolongar e exacerbar as consequências injuriosas do infarto, especialmente sob reperfusão 3. Quando a resposta inflamatória é impropriamente dirigida contra os tecidos do hospedeiro, como em certas doenças autoimunes ou quando o hospedeiro reage excessivamente contra substâncias ambientais não tóxicas, como as doenças alérgicas que induzem a asma Em todas essas situações, os mecanismos pelos quais os leucócitos lesam os tecidos normais são os mesmos que estão envolvidos na defesa antimicrobiana, pois uma vez sendo ativados os mecanismos efetivos dos leucócitos não distinguem entre o agente ofensivo e o hospedeiro. De fato, se não controlados ou dirigidos impropriamente contra os tecidos do hospedeiro, os próprios linfócitos tornam-se os principais agressores. A lesão tecidual dependente de leucócito fundamenta muitas doenças humanas agudas e crônicas. Os leucócitos ativados, especialmente os macrófagos, também secretammuitas citocinas, que estimulam inflamação adicional e possuem importantes efeitos sistêmicos Resultados da Inflamação aguda A inflamação aguda possui um dos três resultados: Resolução: Regeneração e Reparo. Quando a lesão é limitada ou breve, onde há pouca ou nenhuma destruição tecidual e quando o tecido é capaz de se regenerar, o resultado normal é a restauração a uma normalidade estrutural e funcional. A inflamação crônica pode suceder a inflamação aguda se o agente nocivo não é removido. Em alguns exemplos, os sinais de inflamação crônica podem estar presentes desde o início da lesão o (p. ex., em infecções virais ou respostas imunes a antígenos próprios). Dependendo da extensão da lesão inicial e da sua continuidade, bem como da capacidade de regeneração dos tecidos afetados, a inflamação crônica pode ser sucedida pela restauração da estrutura e função normal ou resultar em cicatrização. Cicatrização é o tipo de reparo que ocorre após destruição tecidual substancial (como na formação de abscesso) ou quando a inflamação atinge tecidos que não se regeneram e são substituídos por tecido conjuntivo. Em órgãos nos quais ocorrem depósitos extensos de tecido conjuntivo, na tentativa de curar a lesão ou como consequência de inflamação crônica, o resultado é a fibrose, que pode comprometer significativamente a função. Mediadores químicos e reguladores da inflamação Os mediadores podem ser produzidos localmente pelas células no local da inflamação ou circular no plasma (sintetizados pelo fígado), como precursores inativos que são ativados no local da inflamação • Os mediadores derivados de células normalmente estão sequestrados em grânulos intracelulares e são rapidamente secretados sob ativação celular (p. ex., a histamina nos mastócitos) ou são sintetizados originalmente em resposta a um estímulo (p. ex., prostaglandinas e citocinas produzidas por leucócitos e outras células). Os mediadores derivados do plasma (proteínas do complemento, cininas) sofrem clivagem proteolítica para adquirir suas atividades biológicas. • A maioria dos mediadores induz seus efeitos através da ligação a receptores específicos nas células-alvo. Os mediadores podem atuar apenas em um ou em alguns alvos ou ter ações mais amplas, com efeitos diferentes, dependendo do tipo celular que afetam. Outros mediadores (p. ex., proteases lisossômicas e ERO) possuem atividades tóxicas e/ou enzimáticas diretas que não requerem ligação a receptores específicos. • As ações da maioria dos mediadores são estreitamente reguladas e de curta duração. Uma vez ativados e liberados das células, os mediadores se decompõem rapidamente (p. ex., os metabólitos do ácido araquidônico) ou são inativados por enzimas (p. ex., a cininase inativa a bradicinina) ou são removidos (p. ex., antioxidantes removem metabólitos tóxicos do oxigênio) ou são completamente inibidos (proteínas inibidoras do complemento). Mediadores Derivados de Células No local da inflamação, os macrófagos teciduais, os mastócitos e as células endoteliais, bem como os leucócitos recrutados do sangue para o local, são capazes de produzir diferentes mediadores da inflamação Aminas Vasoativas As duas aminas vasoativas, histamina e serotonina, são armazenadas nos mastócitos e em outras células como moléculas pré-formadas e estão entre os primeiros mediadores a serem liberados nas reações inflamatórias agudas. • A histamina é produzida por muitos tipos celulares, particularmente pelos mastócitos adjacentes aos vasos, e pelos basófilos e plaquetas sanguíneos. A histamina pré-formada é liberada dos grânulos dos mastócitos, em resposta a vários estímulos: (1) lesão física como trauma ou calor; (2) reações imunes envolvendo a ligação de anticorpos IgE aos receptores Fc dos mastócitos; (3) fragmentos do complemento, C3a e C5a, denominados anafilatoxinas; (4) proteínas de liberação da histamina derivadas dos leucócitos; (5) neuropeptídios (p. ex., substância P) e (6) certas citocinas (p. ex., IL-1 e IL-8). Em seres humanos, a histamina causa dilatação das arteríolas e é o principal mediador da fase imediata de aumento da permeabilidade vascular, produzindo a contração do endotélio venular e as lacunas interendoteliais. Logo após a sua liberação, a histamina é inativada pela histaminase. • A serotonina (5-hidroxitriptamina) é um mediador vasoativo pré-formado, encontrado primariamente nos grânulos das plaquetas e liberado durante a agregação plaquetária. Ela induz a vasoconstrição durante a coagulação. É produzida principalmente em alguns neurônios e células enterocromafins, é um neurotransmissor e regula a motilidade intestinal. Metabólitos do Ácido Araquidônico (AA): Prostaglandinas, Leucotrienos e Lipoxinas Os produtos derivados do metabolismo do AA influenciam uma variedade de processos biológicos, incluindo a inflamação e a hemostasia. Os metabólitos do AA também chamados eicosanoides podem mediar praticamente cada etapa da inflamação; sua síntese é aumentada nos locais da resposta inflamatória, e os agentes que inibem sua síntese diminuem também a inflamação. Esses mediadores derivados do AA atuam localmente no local de geração e, então, decompõem- se espontaneamente ou são destruídos enzimaticamente. Leucócitos, mastócitos, células endoteliais e plaquetas são as principais fontes de metabólitos do AA na inflamação O AA é um ácido graxo primariamente derivado do ácido linoleico da alimentação e presente no organismo na sua forma esterificada como componente dos fosfolipídios da membrana celular. É liberado desses fosfolipídios através da ativação de fosfolipases celulares por estímulos mecânicos, químicos e físicos ou por mediadores inflamatórios como o C5a. O metabolismo do AA ocorre ao longo de duas principais vias enzimáticas: a cicloxigenase estimula a síntese de prostaglandinas e tromboxanos, e a lipoxigenase é responsável pela produção de leucotrienos e lipoxinas Prostaglandinas e tromboxanos: os produtos da via da cicloxigenase incluem as prostaglandinas E2 (PGE2), PGD2, PGF2a, PGI2 (prostaciclina) e tromboxano A2 (TXA2). A PGD2 é o principal metabólito da via da cicloxigenase nos mastócitos. Em conjunto com PGE2 e PGF2a, causa vasodilatação e potencializa a formação de edema. As PGs também estão envolvidas na patogenia da dor e febre na inflamação; a PGE2 aumenta a sensibilidade à dor a uma variedade de outros estímulos e interage com citocinas para causar febre As plaquetas contêm a enzima tromboxano-sintetase, portanto, o TXA2, que é um potente agente de agregação plaquetária e vasoconstritor, é a principal PG produzida nessas células Leucotrienos: os leucotrienos são produzidos pela ação da 5-lipoxigenase, principal enzima metabolizante do AA, predominante nos neutrófilos. O LTC4 e seus metabólitos subsequentes, LTD4 e LTE4, são produzidos principalmente nos mastócitos e causam vasoconstrição, broncoespasmo e aumento da permeabilidade vascular Lipoxinas: Quando os leucócitos entram nos tecidos, gradualmente mudam seus principais produtos do AA derivados da lipoxigenase de leucotrienos para mediadores anti-inflamatórios chamados lipoxinas, as quais inibem a quimiotaxia e a aderência dos neutrófilos ao endotélio, funcionando, portanto, como antagonistas endógenos dos leucotrienos Drogas Anti-inflamatórias que Bloqueiam a Produção de Prostaglandina: O papel central dos eicosanoides nos processos inflamatórios é dado pela utilidade clínica dos agentes que bloqueiam sua síntese. A aspirina e a maioria das drogas anti-inflamatórias não hormonais (AINEs), como o ibuprofeno, inibem a atividade da cicloxigenase e, portanto, todas as sínteses de PG (daí sua eficácia no tratamento da dor e da febre) Os glicocorticoides, que são agentes anti-inflamatórios potentes, atuam em parte inibindo a atividade da fosfolipase A2, inibindo, assim,a liberação de AA dos lipídios de membrana. Fator de Ativação Plaquetária O fator de ativação plaquetária (PAF) é outro mediador derivado dos fosfolipídios, com amplo espectro de efeitos inflamatórios. Ele é gerado a partir dos fosfolipídios das membranas de neutrófilos, monócitos, basófilos, células endoteliais e plaquetas (e outras células), pela ação da fosfolipase A2. O PAF atua diretamente sobre as células-alvo através de um receptor específico acoplado à proteína G. Além de estimular as plaquetas, o PAF causa vasoconstrição e broncoconstrição, e é 100-1.000 vezes mais potente que a histamina em induzir vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. O PAF pode suscitar a maioria das reações da inflamação, incluindo o aumento da aderência dos leucócitos, a quimiotaxia, a desgranulação e o surto oxidativo Citocinas As citocinas são polipeptídios produzidos por muitos tipos celulares, que funcionam como mediadores da inflamação e das respostas imunes. Algumas citocinas estimulam precursores na medula óssea a produzirem mais leucócitos, substituindo, assim, os que foram consumidos durante a inflamação e respostas imunes. As principais citocinas na inflamação aguda são o TNF e IL-1, IL-6, bem como um grupo de citocinas quimioatraentes chamadas quimiocinas Uma citocina chamada IL-17, produzida por linfócitos T e outras células, exerce papel importante no recrutamento de neutrófilos e está envolvida na defesa do hospedeiro contra infecções e doenças inflamatórias. Fator de Necrose Tumoral e Interleucina 1.: O TNF e a IL-1 são produzidos por macrófagos ativados, mastócitos, células endoteliais e alguns outros tipos celulares Sua secreção é estimulada por produtos microbianos, como endotoxinas bacterianas, imunocomplexos e produtos dos linfócitos T gerados durante respostas imunes. O principal papel dessas citocinas na inflamação é a ativação endotelial. O TNF e a IL-1 estimulam a expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais, resultando em aumento do recrutamento, aderência dos leucócitos e aumento da produção de citocinas adicionais (principalmente quimiocinas) e eicosanoides. A IL-1 ativa os fibroblastos, resultando em aumento da proliferação e da produção de MEC. Embora o TNF e a IL-1 sejam secretados no local da inflamação, pelos macrófagos e outras células, podem entrar na circulação e atuar em locais distantes, induzindo a reação de fase aguda sistêmica que é sempre associada a infecção e doenças inflamatórias. Os componentes dessa reação incluem febre, letargia, síntese hepática de várias proteínas de fase aguda (também estimuladas pela IL-6), devastação metabólica (caquexia), liberação de neutrófilos para a circulação e liberação do hormônio adrenocorticotrófico e queda da pressão sanguínea Quimiocinas: As quimiocinas atuam como quimioatraentes para diferentes grupos de linfócitos. As duas principais funções das quimiocinas são o recrutamento dos leucócitos na inflamação e na organização anatômica normal das células nos tecidos linfoides e outros tecidos. As quimiocinas são classificadas em quatro grupos, de acordo com o arranjo dos resíduos de cisteína altamente conservados. Os dois principais grupos são as quimiocinas CXC e CC: As quimiocinas CXC possuem um aminoácido separando as cisteínas conservadas e atuam primariamente nos neutrófilos. A IL-8 é típica desse grupo; é produzida por macrófagos ativados, células endoteliais, mastócitos e fibroblastos, principalmente em resposta a produtos microbianos e outras citocinas como IL-1 e TNF. As quimiocinas CC possuem os resíduos de cisteína adjacentes e incluem a proteína 1 quimioatraente de monócitos (MCP-1), a proteína inflamatória de macrófagos 1a (MIP-1a), ambas quimiotáticas predominantemente para monócitos, a RANTES (de regulated on activation normal T expressed and secreted — quimiotática para células T CD4+ de memória e monócitos) e a eotaxina (quimiotática para eosinófilos) Espécies Reativas do Oxigênio As ERO são sintetizadas através da via NADPH-oxidase (oxidase dos fagócitos) e são liberadas dos neutrófilos e macrófagos ativados por bactérias, imunocomplexos, citocinas e uma variedade de estímulos inflamatórios. Quando as ERO são produzidas dentro dos lisossomas, funcionam destruindo os micróbios fagocitados e as células necróticas. Quando secretadas em níveis baixos, as ERO podem aumentar a expressão das moléculas de adesão, citocinas e quimiocinas, amplificando, assim, a cascata de mediadores inflamatórios. Em níveis mais altos, esses mediadores são responsáveis pela lesão tecidual através de vários mecanismos Mediadores Derivados de Proteínas Plasmáticas O sistema complemento consiste em proteínas plasmáticas que exercem um papel importante na defesa (imunidade) do hospedeiro e na inflamação. Sob ativação, as diferentes proteínas do complemento revestem (opsonizam) as partículas para fagocitose e destruição, e contribuem para a resposta inflamatória, aumentando a permeabilidade vascular e a quimiotaxia dos leucócitos. A ativação do complemento finalmente gera o complexo de ataque à membrana (MAC) que forma canais nas membranas dos micróbios invasores. Os fatores derivados do complemento que são produzidos ao longo da via influenciam uma variedade de fenômenos na inflamação aguda: Efeitos vasculares. C3a e C5a aumentam a permeabilidade vascular e causam vasodilatação, induzindo os mastócitos a liberar histamina. Esses produtos do complemento são chamados também de anafilatoxinas porque suas ações mimetizam aquelas dos mastócitos, que constituem os principais causadores celulares das reações alérgicas acentuadas chamadas de anafiláticas. O C5a também ativa, em neutrófilos e macrófagos, a via da lipoxigenase do metabolismo do AA, causando a liberação de mais mediadores inflamatórios Ativação, adesão e quimiotaxia dos leucócitos. O C5a e, em menor grau, C3a e C4a, ativa os leucócitos, aumentando sua adesão ao endotélio, e é um potente agente quimiotático para neutrófilos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Fagocitose. O C3b e seu produto proteolítico inativo iC3b, quando fixados à superfície bacteriana, atuam como opsoninas, favorecendo a fagocitose por neutrófilos e macrófagos, os quais expressam receptores para esses produtos do complemento. O MAC, feito de múltiplas cópias do componente final, C9, destrói algumas bactérias, criando poros que rompem o equilíbrio osmótico. A ativação do complemento é estreitamente controlada por proteínas reguladoras circulantes e associadas às células. A presença desses inibidores nas membranas celulares do hospedeiro protege as células normais da lesão indevida durante as reações contra os micróbios. A inflamação crônica é a inflamação de duração prolongada (semanas a meses ou anos) na qual inflamação ativa, destruição tecidual e reparação por fibrose ocorrem simultaneamente. • Infiltração de células mononucleares, incluindo macrófagos, linfócitos e plasmócitos. • Destruição tecidual, francamente induzida pelos produtos das células inflamatórias. • Reparo, envolvendo proliferação de novos vasos (angiogênese) e fibrose. A inflamação aguda pode progredir para inflamação crônica. Essa transição ocorre quando a resposta aguda não pode ser resolvida ou devido à persistência do agente lesivo ou por causa da interferência com o processo normal de cura Infecções persistentes por microrganismos difíceis de erradicar, tendendo ao estabelecimento de infecções persistentes e a suscitar resposta imune mediada por linfócito T, denominada hipersensibilidade tardia Doenças inflamatórias imunomediadas (distúrbios de hipersensibilidade). As reações imunes desenvolvem-se contra os próprios tecidos do indivíduo, resultando nas doenças autoimunes. Nessas doenças, os autoantígenos suscitam uma reação imune autoperpetuadora que resulta em lesãoe inflamação tecidual crônica As respostas imunes contra as substâncias ambientais são a causa das doenças alérgicas, como a asma brônquica. As doenças imunomediadas podem mostrar padrões morfológicos mistos de inflamação aguda e crônica porque são caracterizadas por episódios repetidos de inflamação. Como os antígenos desencadeadores não podem ser eliminados, essas doenças tendem a ser crônicas e intratáveis. Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos. Os exemplos incluem materiais exógenos não degradáveis, como a sílica particulada que, quando inalada, pode induzir uma resposta inflamatória crônica nos pulmões e agentes endógenos, como os cristais de colesterol, que podem contribuir para a aterosclerose Células e Mediadores da Inflamação Crônica Macrófagos Os monócitos se originam de precursores na medula óssea e circulam no sangue por cerca de um dia. Sob a influência das moléculas de adesão e das quimiocinas, eles começam a migrar para o local da lesão dentro de 24-48 horas após o início da inflamação aguda. Quando os monócitos alcançam o tecido extravascular, sofrem transformação em macrófagos maiores, de meia-vida mais longa e capacidade maior para fagocitose do que os monócitos sanguíneos. Os macrófagos são ativados por diversos estímulos para realizarem diversas funções, dentre elas existem duas principais vias de ativação de macrófagos, a clássica e a alternativa: A ativação clássica dos macrófagos é induzida por produtos microbianos como endotoxinas, pelos sinais derivados da célula T, principalmente a citocina IFN-g, e por substâncias estranhas que incluem cristais e material particulado. Os macrófagos classicamente ativados produzem enzimas lisossômicas, NO e ERO, todas aumentando sua habilidade em destruir organismos fagocitados e secretando citocinas que estimulam a inflamação A ativação alternativa dos macrófagos é induzida por citocinas diferentes do IFN-g, como IL-4 e IL-13, produzidas pelos linfócitos T e outras células, incluindo mastócitos e eosinófilos. Os macrófagos alternativamente ativados não são ativamente microbicidas; ao contrário, seu principal papel é no reparo tecidual. Eles secretam fatores de crescimento que promovem a angiogênese, ativam fibroblastos e estimulam a síntese de colágeno. Em resposta à maioria dos estímulos lesivos, os macrófagos são inicialmente ativados pela via clássica, destinados a destruir os agentes agressores, e isso é seguido pela ativação alternativa, que inicia o reparo do tecido Depois que o estímulo inicial é eliminado e a reação inflamatória cessa, os macrófagos morrem ou tomam o caminho dos linfáticos. Entretanto, em áreas de inflamação crônica, persiste o acúmulo de macrófagos devido ao recrutamento contínuo a partir da circulação sanguínea e proliferação local. Linfócitos Os linfócitos T e B migram para os locais inflamatórios usando as moléculas de adesão e quimiocinas que recrutam outros leucócitos. Nos tecidos, os linfócitos B podem se desenvolver em plasmócitos, que secretam anticorpos, e os linfócitos T CD4+ são ativados para secretar citocinas. Por causa da secreção de citocinas, os linfócitos T CD4+ promovem a inflamação e influenciam a natureza da reação inflamatória. Existem três subgrupos de células T auxiliadoras CD4+ que secretam grupos diferentes de citocinas e suscitam diferentes tipos de inflamação: • As células TH1 produzem a citocina IFN-gama que ativa macrófagos na via clássica. • As células TH2 secretam IL-4, IL-5 e IL-13, que recrutam e ativam eosinófilos e são responsáveis pela via alternativa de ativação de macrófagos. • As células TH17 secretam IL-17 e outras citocinas que induzem a secreção de quimiocinas responsáveis pelo recrutamento de neutrófilos e monócitos para a reação. Linfócitos e macrófagos interagem de modo bidirecional, e essas interações têm um papel importante na inflamação crônica. Os macrófagos apresentam os antígenos às células T, expressam moléculas de membrana (chamadas coestimuladoras) e produzem citocinas (IL-12 e outras) que estimulam as respostas da célula T. Os linfócitos T ativados, por sua vez, produzem citocinas, descritas anteriormente, que recrutam e ativam macrófagos e depois promovem mais apresentação do antígeno e mais secreção de citocinas. O resultado é um ciclo de reações celulares que abastece e mantém a inflamação crônica Eosinófilos Os eosinófilos são encontrados caracteristicamente nos locais inflamatórios em torno de infecções parasitárias ou como parte de reações imunes mediadas por IgE, tipicamente associadas com as alergias. Os grânulos de eosinófilos contêm a proteína básica principal, uma proteína catiônica altamente carregada que é tóxica para parasitas, mas também causa necrose epitelial. Mastócitos Em indivíduos atópicos (indivíduos propensos a reações alérgicas), os mastócitos estão “armados” com o anticorpo IgE específico para certos antígenos ambientais. Quando esses antígenos são encontrados, os mastócitos revestidos pela IgE são induzidos a liberar histamina e metabólitos do AA que suscitam as alterações vasculares iniciais da inflamação aguda. Embora a presença de neutrófilos seja a marca clássica da inflamação aguda, muitas formas de inflamação crônica podem continuar a mostrar extensos infiltrados neutrofílicos, como resultado da persistência das bactérias e células necróticas ou dos mediadores produzidos pelos macrófagos. Tais lesões inflamatórias, algumas vezes, são chamadas de “aguda em crônica” Inflamação Granulomatosa A inflamação granulomatosa é um padrão distintivo de inflamação crônica, caracterizada por agregados de macrófagos ativados com linfócitos. Os granulomas podem se formar de três modos: • Nas respostas persistentes de células T a certos microrganismos nos quais as citocinas derivadas de célula T são responsáveis pela ativação crônica do macrófago. • Os granulomas podem também se desenvolver em algumasdoenças inflamatórias imunomediadas, principalmente na doença de Crohn • Os granulomas também são vistos em uma doença de etiologia desconhecida chamada sarcoidose, e podem se desenvolver em resposta a corpos estranhos relativamente inertes (p. ex., sutura ou farpa), formando os conhecidos granulomas de corpos estranhos. Efetivamente, a formação de um granuloma “encerra” o agente ofensor e, portanto, é um mecanismo útil de defesa. Entretanto, a formação do granuloma nem sempre leva à eliminação do agente causal, o qual frequentemente é resistente a destruição ou degradação e, em algumas doenças, como a tuberculose, a inflamação granulomatosa, com fibrose subsequente, pode ser a principal causa da disfunção do órgão. Efeitos sistêmicos da inflamação Os efeitos sistêmicos da inflamação são coletivamente chamados de reação da fase aguda ou síndrome da resposta inflamatória sistêmica. As citocinas TNF, IL-1 e IL-6 são os mediadores mais importantes da reação da fase aguda. Essas citocinas são produzidas pelos leucócitos (e outros tipos celulares) em resposta à infecção ou em reações imunes, sendo liberadas na circulação A resposta da fase aguda consiste em várias alterações clínicas e patológicas: • A febre, caracterizada por elevação da temperatura corporal, é uma das manifestações mais proeminentes na resposta da fase aguda. A febre é produzida em resposta a substâncias chamadas pirogênios, que atuam estimulando a síntese de prostaglandina nas células vasculares e perivasculares do hipotálamo. Os produtos bacterianos estimulam os leucócitos a liberarem citocinas como IL-1 e TNF (chamados pirogênios endógenos) que aumentam os níveis de cicloxigenases que convertem o AA em prostaglandinas. No hipotálamo, as prostaglandinas, especialmente PGE2, estimulam a produção de neurotransmissores, os quais funcionam para reajustar a temperatura em nível mais alto. Os AINEs,incluindo a aspirina, reduzem a febre, inibindo a cicloxigenase, bloqueando assim a síntese de prostaglandina. • Níveis plasmáticos elevados de proteínas da fase aguda. Essas proteínas plasmáticas são sintetizadas principalmente no fígado e, na inflamação aguda, suas concentrações podem aumentar 100 vezes como parte da resposta ao estímulo inflamatório. Dessas proteínas, as três mais conhecidas são a proteína C reativa (CRP), o fibrinogênio e a proteína amiloide A sérica (SAA). A síntese dessas moléculas pelo hepatócito é estimulada por citocinas, especialmente IL-6. Muitas proteínas da fase aguda, como CRP e SAA, se ligam às paredes celulares microbianas e podem atuar como opsoninas e fixar o complemento, promovendo, então, a eliminação dos micróbios. Os níveis séricos elevados de CRP são usados agora como marcador para risco aumentado de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral, em pacientes com doença vascular aterosclerótica. • A leucocitose é uma característica comum das reações inflamatórias, especialmente aquelas induzidas por infecções bacterianas. A contagem de leucócitos, nesse caso, costuma subir bastante. A leucocitose ocorre inicialmente devido à liberação acelerada de células do pool de reserva pós-mitótico da medula óssea (causada por citocinas, incluindo TNF e IL-1) e está associada a uma elevação do número de neutrófilos no sangue. Uma infecção prolongada também estimula a produção de fatores estimuladores de colônia (CSFs), levando a aumento da saída de leucócitos da medula óssea para compensar a perda dessas células na reação inflamatória. A maioria das infecções bacterianas induz a um aumento da contagem de neutrófilos chamado de neutrofilia. Infecções virais, como mononucleose infecciosa, caxumba e sarampo, estão associadas ao aumento do número de linfócitos (linfocitose). Asma brônquica, febre do feno e infestações parasitárias envolvem aumento do número absoluto de eosinófilos, criando uma eosinofilia. Certas infecções (febre tifoide e infecções causadas por alguns vírus, riquétsias e certos protozoários) estão paradoxalmente associadas a um número reduzido de leucócitos circulantes (leucopenia), provavelmente devido ao sequestro de linfócitos nos linfonodos, induzido por citocinas.. • Em infecções bacterianas graves (sepse), a grande quantidade de produtos bacterianos no sangue ou no tecido extravascular estimula a produção de enorme quantidade de várias citocinas, notavelmente TNF, IL-12 e IL-1. Altos níveis de TNF causam coagulação intravascular disseminada (CID) e distúrbios metabólicos, incluindo acidose e choque hipotensivo Mesmo antes do término da reação inflamatória, o corpo inicia o processo de curar a lesão e restaurar a estrutura e a função normal. Esse processo é chamado de reparo, e envolve proliferação e diferenciação de vários tipos celulares e depósito de tecido conjuntivo. Os defeitos de reparo tecidual têm sérias consequências. De modo oposto, o depósito excessivo de tecido conjuntivo (fibrose) é também causa de anormalidades significativas. Visão geral do reparo tecidual A habilidade em reparar a lesão causada por lesões tóxicas e inflamação é crítica para a sobrevivência de um organismo. A resposta inflamatória a micróbios e tecidos lesados não serve apenas para eliminar esses perigos, mas também inicia o processo de reparo. O reparo, muitas vezes chamado de cura, se refere à restauração da arquitetura e função do tecido após a lesão. Ocorre por dois tipos de reações: regeneração do tecido lesado e formação de cicatriz pela deposição de tecido conjuntivo • Regeneração. Alguns tecidos são capazes de substituir células lesadas e retornar ao estado normal; esse processo é chamado de regeneração. A regeneração ocorre por proliferação de células residuais (não lesadas) que retêm a capacidade de divisão e por substituição de células-tronco teciduais. Constitui a resposta típica a lesão em epitélios que se dividem rapidamente, como na pele e nos intestinos e em alguns órgãos, principalmente no fígado. • Formação de cicatriz. Se os tecidos lesados são incapazes de regeneração ou se as estruturas de suporte do tecido são gravemente lesadas, o reparo ocorre por deposição de tecido conjuntivo (fibrose), um processo que resulta em formação de cicatriz. Embora a cicatriz fibrosa não possa realizar a função das células perdidas do parênquima, ela fornece estabilidade estrutural suficiente para tornar o tecido lesado hábil nas suas funções. O termo fibrose é mais frequentemente usado para descrever a extensa deposição de colágeno que ocorre nos pulmões, fígado, rins e outros órgãos, resultante da inflamação crônica, ou no miocárdio após extensa necrose isquêmica (infarto). Controle da Proliferação Celular Vários tipos celulares proliferam durante o reparo do tecido. Eles incluem as células restantes do tecido lesado (que tentam restaurar a estrutura normal), as células endoteliais (para criar novos vasos que fornecem nutrientes necessários ao processo de reparo) e fibroblastos (fonte de tecido fibroso que forma a cicatriz para preencher os defeitos que não podem ser corrigidos por regeneração). A proliferação desses tipos celulares é guiada por proteínas chamadas fatores de crescimento. A produção de fatores de crescimento polipeptídicos e a habilidade das células de se dividirem em resposta a esses fatores constituem determinantes importantes na adequação do processo de reparo. Capacidades Proliferativas dos Tecidos A habilidade dos tecidos em se autorreparar é criticamente influenciada por sua capacidade proliferativa intrínseca • Tecidos lábeis (dividem-se continuamente). As células desses tecidos são continuamente perdidas e substituídas pela maturação de células-tronco e por proliferação das células maduras. As células lábeis incluem as hematopoiéticas na medula óssea e a maioria dos epitélios de superfície, como o epitélio estratificado escamoso da pele, cavidade oral, vagina e colo uterino e vários epitélios de revestimento. Esses tecidos se regeneram rapidamente após a lesão, já que o pool de células-tronco é preservado. • Tecidos estáveis. As células desses tecidos são quiescentes e, em seu estado normal, possuem baixa atividade replicativa. Entretanto, essas células são capazes de proliferar em resposta a lesão ou perda de massa tecidual. As células estáveis constituem o parênquima da maioria dos tecidos sólidos, como fígado, rim e pâncreas. Nesse grupo estão também as células endoteliais, os fibroblastos e as células musculares lisas; a proliferação dessas células é particularmente importante na cura de feridas. Com exceção do fígado, os tecidos estáveis possuem capacidade limitada de regeneração após a lesão • Tecidos permanentes. As células desses tecidos são consideradas terminalmente diferenciadas e não proliferativas na vida pós-natal. A maioria dos neurônios e as células musculares cardíacas pertence a essa categoria. Assim, uma lesão ao cérebro ou ao coração é irreversível porque os neurônios e os miócitos cardíacos não se regeneram, resultando em cicatriz. Contudo, ocorrem replicação e diferenciação limitada da célula-tronco em algumas áreas do cérebro adulto e existe alguma evidência de que a célula-tronco cardíaca possa proliferar após necrose do miocárdio. Todavia, qualquer que seja a capacidade proliferativa que exista nesses tecidos, ela é insuficiente para regenerar o tecido lesado. O músculo esquelético é classificado como tecido permanente, porém células satélites, aderidas à bainha endomisial, fornecem alguma capacidade regenerativa a esse tecido. Nos tecidos permanentes, o reparo é tipicamente dominado por formação de cicatriz.
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