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Modulo de Ética Profissional e Cidadania

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
 
 
Módulo de: Ética e Deontologia Profissional 
 
 
 
UNIVERSIDADE 
EDUARDO MONDLANE 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
 
Índice 
Unidade nº1 i 
Introdução à Ética Geral .................................................................................................i 
Introdução .............................................................................................................i 
I. A origem etimológica dos conceitos ética e moral. .............................................. ii 
I.1. Diferença entre Ética e Moral ................................................................................. ii 
I.2. O carácter normativo da Ética................................................................................ iii 
I. 3. O contexto do surgimento da Teoria ética ........................................................ iv 
I.3. 1. A Ética como Ciência ......................................................................................... iv 
I.3.2. Descrição de outros ramos da Ética ..................................................................... vi 
I.4. Problemas da Ética ................................................................................................. vi 
I.4.1. O problema da Diversidade dos Sistemas Morais ................................................vii 
I.4.2. O problema da Liberdade Humana .....................................................................vii 
I.4.3. O problema dos Valores .....................................................................................vii 
I.4.4. O problema dos Fins e dos Meios .......................................................................vii 
I.4.5. O problema da Obrigação Moral ....................................................................... viii 
I.4.6. O problema da Diferença entre a Ética e a Moral .............................................. viii 
I.5. Teorias Éticas ...................................................................................................... viii 
I.5. 1. Teoria não Cognitivista.................................................................................... viii 
I.5.2. Teorias Absolutistas ............................................................................................ ix 
I.5.3. Teorias do Comando Divino ................................................................................ ix 
I.5.4. Teoria Racionalista .............................................................................................. ix 
I.5.5. Teoria Intuicionista ou Intuicionismo .................................................................. ix 
I.6. Breve historial da Ética ........................................................................................... x 
I.6.1. Ética Grega........................................................................................................... x 
I.6.2. Ética Cristã (Período Medieval) ..........................................................................xii 
I.6.3. Ética Moderna .................................................................................................. xiii 
I.6.4. Ética Contemporânea .......................................................................................... xv 
I.6.5. Ética da Pós-Modernidade ...............................................................................xviii 
Bibliografia Complementar ......................................................................................... xx 
 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
Unidade nº1 
Introdução à Ética Geral 
Introdução 
O módulo de ética e deontologia apresenta 4 unidades subdividas em várias secções que possam 
facilitar a sua aprendizagem. Esta divisão é de carácter didáctica. Quer a unidade I quer a unidade II 
visão introduzir, os estudantes de licenciatura em Organização e Gestão da Educação, assuntos ligados 
a ética geral. Esses temas serão tratados de forma sumária e objectiva sem contudo esgotá-los. 
Na primeira unidade, apresentamos temáticas relacionadas com a Ética Geral. A unidade está dividida 
em várias secções que passamos a apresentar: a primeira secção fala da origem etimológica dos 
conceitos Ética e Moral, e o carácter normativo da ética. A segunda secção trata do surgimento das 
teoria ética;a ética como ciência e outros ramos da ética. A quarta secção vai abordar os problemas 
que interessam a ética. A quinta secção reflecte sobre algumas teorias éticas. Por fim, a sexta secção 
trata de um breve historial da ética. 
 
Nesta unidade pretende-se que o estudante tenha conhecimentos mínimos sobre a origem da ética; os 
problemas que interessam a ética; as teorias relacionadas com a ética bem como a divisão didáctica da 
Ética. No entanto, não vamos deixar de estabelecer uma breve diferenciação entre a ética e a moral. 
Por fim apresentaremos um breve historial da ética e os respectivos pensadores mais proeminentes da 
época. Recordamos que toda divisão quer das disciplinas da ética quer da história da ética constitui 
uma tentativa didáctiva para a sua compreensão. Pois a ética é uma só. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
 
 
§ Definir os conceitos de Ética e Moral; 
§ Diferenciar entre a Ética e a Mora; 
§ Reflectir sobre o carácter normativo da Ética; 
§ Identificar os principais problemas éticos; 
§ Analisar os principais problemas que interessam a ética; 
§ Caracterizar, historicamente, a ética ao longo do tempo. 
 
 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
 A origem etimológica dos conceitos ética e moral. 
 
Nesta secção vamos descrever a etimologia dos conceitos de ética e moral, bem como a origem dos 
mesmos. A palavra ética provem do grego e tem dois significados: (1) Éthos – que significa hábitos e 
costumes e (2) Êthos – que significa modo de ser ou carácter. 
O conceito de ética não se fazia presente no latim. Este vocábulo só mais tarde é traduzido para o 
latim para a expressão mos, moris dando origem a palavra moral que equivale a hábitos e costumes. A 
moral e a ética são conceitos diferentes, mas que inserem em si algo de comum: o sentido 
eminentemente prático. 
A moral tem sido definida como um conjunto de regras, valores, proibições, tabus, procedente desde 
fora do homem, isto é, eles são impostos quer pela política, costumes sociais, a religião, quer pelas 
ideologias de uma sociedade. A moral nasce com a existência do homem, pois historicamente não se 
conhece nenhum povo, por selvagem que seja ou primitivo que não tivesse normas, regras ou rituais 
de conduta. A moral é inseparável dos costumes humanos, os quais dependem de cada época, da 
região geográfica ou das circunstâncias. Neste sentido, a moral é mutável e relativa a determinadas 
práticas culturais. A moral não é diferente dentro de toda forma de associação, mesmo na família, na 
classe social ou num estado. 
Entretanto, a ética implica sempre uma reflexão teórica sobre qualquer moral e uma revisão racional e 
crítica sobre a validade da conduta humana. Por isso, a ética é uma justificação racional da moral. A 
ética remete-nos a idéias ou valores que procedem a partir da própria deliberação do homem. 
A ética é uma análise das regras morais. Também a ética pode ser entendida como uma filosofia 
moral, se entendermos a filosofia como um conjunto de conhecimentos racionalmente estabelecidos. 
I.1. Diferença entre Ética e Moral 
De seguida vamos apresentar algumas diferenças entre a ética e a moral. Embora esses dois conceitos 
sejam tomados como sinónimos, eles apresentam algumas diferenças substânciais.: 
Ora vejamos, a ética: 
Ø É uma reflexão crítica sobre a moralidade; 
Ø Procura o fundamento do valor que norteia o comportamento; 
Ø É a filosofia da moral; 
Ø Tem como problema definir o comportamento moral; 
Ø Implica uma relação de si para consigo; 
Ø Estabelece uma base racional para a conduta. 
Enquanto que: 
A Moral: 
Ø Deve apontar para uma possibilidadede realização de um projecto de felicidade; 
Ø Está ligada ao mundo da cultura onde as normas, os valores, os hábitos nos são passados 
através da linguagem, dos ritos e tradições, 
Ø É o conjunto de regras de conduta admitidas em determinada época/sociedade (observe-se que 
nas sociedades islámicas a mulher que comete adultério e condenada a morte por 
apedrejamento); 
Ø Tem a finalidade de organizar as relações entre os sujeitos sociais; 
Ø Representa todo comportamento moral que varia de acordo com o tempo e o lugar. 
Portanto, para Heinemann (1993), a ética procura responder as seguintes questões: 
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• Que devo escolher? 
• Há uma hierarquia de valores? 
• Que espécie de homem devo ser? 
• Que devo querer? 
• Que devo Fazer? 
Estas entre outras questões constituem o horizonte problemático da ética. 
 
I.2. O carácter normativo da Ética 
Falemos de seguida do carácter normativo da ética. A ética trata da normalização dos actos humanos 
segundo princípios últimos (que vão além do nosso entendimento) e racionais. A ética é um 
conhecimento que se preocupa com o fim a que se deve dirigir a conduta humana e os meios para 
alcançar este fim. Ela pretende explicar a validade das suas afirmações, procurando comprovar porque 
é que algo é bom ou mau, justo ou injusto, moral ou imoral desde uma perspectiva universal e 
necessária. 
A ética é normativa porque é uma racionalização do comportamento humano, isto é, trata de um 
conjunto de princípios ou enunciados dados à luz da razão e que iluminam o caminho 
correcto/acertado da conduta. O carácter normativo da ética tem como fundamento um aspecto 
essencial da natureza humana, a saber: 
• O facto do homem ser imperfeito porém perfectível. 
A razão para tal afirmação é a seguinte: se fossemos perfeitos e mantivéssemos na nossa perfeição, 
não teríamos problema moral, pois não estaríamos obrigados a desenvolver todas as nossas 
potencialidades. Por isso, os princípios éticos têm uma dimensão imperativa, por serem mandatos ou 
ordens que nos damos para movermo-nos na realização de actos que melhorem a nossa condição 
humana. Por outro lado, somos seres incompletos/imperfeitos que buscamos, tendemos a perfeição 
dirigindo as nossas acções ao que deve ser. 
Todavia, a perfeição não deve centrar-se apenas num aspecto da nossa personalidade porque a 
natureza humana é complexa. Ela deve englobar o espiritual, o físico, intelectual, volitivo (a vontade), 
afectivo, o estético, o social, etc. 
A perfeição espiritual desenvolve os aspectos que têm a ver com o enriquecimento da vida 
espiritual que possam engrandecer a alma, a esperança, fé, acaridade, etc. 
 
A perfeição física deve ser vista como um complemento da alma. A alma e o corpo são duas 
manifestações distintas de uma mesma realidade. Daí o ditado popular Mente sã num corpo 
são. Quando a alma afecta o corpo surgem alterações nervosas. E quando o corpo afecta a 
alma podem surgir estados depressivos. Note que é indispensável o exercício físico, uma boa 
alimentação para o equilíbrio entre a alma e o corpo. 
 
A perfeição intelectual representa o desenvolvimento da mente, da inteligência, do 
conhecimento. O homem aperfeiçoa-se através da cultura, do estudo, da educação e só assim é 
que é capaz de julgar a validade das coisas. O homem deve buscar um conhecimento alargado 
das coisas (capacidade de se abstrarir).. 
 
A perfeição da vontade representa o que se deve separar dos desejos. A vontade deve ser 
vista como uma aliada da razão e não uma súbdita do desejo. É possível ser mais responsável, 
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mais moderado, ter mais respeito sem nunca deixar de lado a razão. Daí a necessidade de aliar 
a desejo à razão, de modo que as nossas acções e decisões sejam bem pensadas. 
 
A perfeição afectiva está ligado às emoções, tem a ver com a bondade, abenevolência, a 
compreensão, o carinho e a gratidão. É importante temperar a razão com o lado afectivo. O 
homem não deve ser dominado somente pelas paixões nas suas acções e decisões. No entanto, 
um homem que actua com base na paixão sem a razão corre risco de tornar-se cego, frio e 
calculista. As emoções devem ser conjugadas com uma dose de racionalidade. Normalmente 
quando a razão caminha sozinha torna-se cega, fria e calculista. 
 
A perfeição estético: o ser humano aperfeiçoa-se ao se relacionar como belo com o sublime. 
A perfeição estético torna o ser humano mais criativo, sensível e com maior capacidade de 
comunicar e de reflectir. A arte não deve ser nada que fique subjugada à pressão dos media, 
ou apenas entendida em aspectos comerciais. 
 
A perfeição social: o relacionamento com os outros é fundamental para o desenvolvimento 
do ser humano. Por isso, é no relacionamento que o homem promove e desenvolve 
capacidade como a amizade, a cooperação, a paz, a liberdade, a fraternidade, a dignidade, a 
igualdade e o pluralismo. Só através do relacionamento com os outros somos capazes de 
combater determinados anti-valores como: o individualismo, a intolerância, o egoísmo, etc. 
Portanto, o desenvolvimento da personalidade humana deve ter em conta todas essas dimensões da sua 
personalidade. Nunca o individualismo deve ser tomado como um meio do homem impor as suas 
regras. 
 
 3. O contexto do surgimento da Teoria ética 
 
Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e moral, da 
diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida contextualizar o 
ambiente do surgimento de uma teoria ética. 
A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente recente. 
Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu 
sentido mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da 
moral da sua sociedade ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim 
sendo, para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem haver com o 
como deveríamos viver e porquê? 
I.3. 1. A Ética como Ciência 
Nesta secção vamos demonstrar como a ética surgiu como uma ciência. Note que a ética 
como uma disciplina está dividida. No entanto, não devemos nos esquecer que a Ética é uma 
só. Esta classificação que descrevemos abaixo tem fins meramente didáticos. 
A ética como uma reflexão normativa sobre os actos humanos segundo princípios racionais 
faz parte da Ética Geral que tenta explicar questões como a liberdade, a natureza do bem e do 
mal, a virtude e a felicidade, entre outros aspectos. Por outro lado, existe a Ética Especial ou 
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a Ética Aplicada que pretende levar à prática os fundamentos gerais da ética. Por isso, a ética 
pode ser: Ética Geral e Ética Especial ou Aplicada. 
A Ética Geral é aquela, como diziamos anteriormente, que procura explicar questões 
relacionadas com a liberdade, a natureza do bem e do mal, a felicidade, etc. Ela estuda todos 
esses aspectos no seu plano mais geral . 
A Ética Especial ou Aplicada pode ser enquadrada em três planos: individual, familiar e 
social. A nível social a ética pode se subdividir em diversos ramos: ética internacional, 
económica, profissional, etc. 
No caso da ética profissional pode se falar da ética para ciências de saúde, ética para a 
comunicação; ética para a educação, ética para os psicólogos, ética para o jurista, ética na 
administração, etc. 
Na ética especial aplicamos os conteúdos da ética geral a uma realidade específica, isto é, 
concreta. 
A ética especial pode ser: ética médica, ética do psicólogo, ética dos enfermeiros, ética dos 
professores, ética dos economistas, ética ambiental, ética dos auditores, etc. Portanto, a ética 
especial é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma realidade ou tema específico. 
Observe de seguida a figura abaixo que procura ilustrar a divisão da ética como uma 
disciplina. 
 
Fig.1: Classificação eSubdivisões da Ética 
 
 
 
 
 
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I.3.2. Descrição de outros ramos da Ética 
 
Em seguida descrevemos outros ramos da ética. 
Metaética 
A Metaética é o estudo filosófico da natureza do julgamento moral. Ela busca o sentido pelo qual se 
denomina algo como certo ou errado (bom ou mau), incluindo o significado dos termos morais e a 
discussão de quando um julgamento moral é objectivo ou subjectivo. Também a Metaética é uma 
reflexão sobre a natureza dos próprios juízos éticos como: o que quer dizer bem moral? 
A Metaética estuda, ainda, outros temas como: 
• Objectividade da Moralidade; 
• A natureza da moralidade; 
• A natureza da responsabilidade e sua conexão com o livre arbítrio (a liberdade). 
O estudo da natureza do julgamento moral pode ser enquadrado nas seguintes disciplinas: a psicologia 
moral e epistemologia moral. 
A Psicologia Moral interessa-se pelo estudo da motivação, da teoria das decisões e da ética descritiva. 
Por sua vez, a Epistemologia Moral estuda a natureza do conhecimento moral e a natureza dos 
argumentos morais. 
O estudo da natureza do argumento moral também é enquadrado na disciplina chamada Lógica 
Deôntica. A lógica deôntica estuda os princípios do raciocínio referente às obrigações, permissões, 
proibições, compromisso moral, etc. 
I.4. Problemas da Ética 
 
Na presente secção vamos estudar os problemas que interessam a ética – os chamados problemas 
éticos. Os problemas éticos são: o problema da diversidade dos sistemas morais; o problema da 
liberdade humana; o problema dos valores; o problema dos fins e dos meios; o problema da obrigação 
moral; e o problema da diferença entre a ética e a moral. 
A existência das normas morais sempre afectaram a pessoa humana já que desde pequeno 
captamos por diversos meios a existência das normas, e sempre somos afectados por elas em 
forma de conselhos, ordens ou em outros casos como uma obrigação ou proibição, porém 
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sempre com o fim de orientar e determinar a conduta humana. Já que as normas morais 
existem na consciência de cada indivíduo, isso faz com que existam diferentes pontos de 
vistas e apresentem problemas no momento de considerar as diferentes respostas. E isso faz 
com que perante uma questão existam diferentes respostas. É dessas circunstâncias que 
surgem os diversos problemas éticos. Assim teremos os seguintes problemas éticos: 
I.4.1. O problema da Diversidade dos Sistemas Morais 
 
Este problema ético tem a ver com a pluralidade de tendências que buscam explicar o mesmo 
acto moral. Esta tendência faz com que existam diferentes respostas para o mesmo problema, 
isto é, para alguns um acto é correcto para outro é incorrecto/amoral. Por exemplo perante o 
divórcio, o aborto, a eutanásia existem diversas respostas divergentes quanto a aceitação ou 
não aceitação desses actos. Mas a questão que se coloca é a seguinte: qual é o critério para 
escolher uma norma ou o contrário? Qual é o critério que leva as pessoas a consideram, 
perante o mesmo acto, respostas diferentes (umas que aprovam um determinado acto outras 
que reprovam o mesmo acto)? 
 
 
I.4.2. O problema da Liberdade Humana 
Este problema tem em conta a questão da liberdade humana. Como todos sabemos, pela 
experiência do dia-a-dia, a liberdade humana não é total e todo o indivíduo vive condicionado 
pelas circunstâncias em que vive. Este condicionamento feito pela sociedade faz com que a 
pessoa actue sob pressão social, cultural ou laboral. Portanto, este problema está relacionado 
com a incompatibilidade da liberdade humana com as normas morais, ou seja, no ser e o 
dever ser. 
I.4.3. O problema dos Valores 
Deste problema surgem numerosos questionamentos, mas o problema fundamental se 
encontra na objectividade e subjectividade dos valores: os valores são objectivos? Os valores 
existem fora da mente de modo que cada homem possa captar os valores já definidos? Se os 
valores são subjectivos porque dependem da consciência de cada sujeito? Quanto ao 
conhecimento: como podemos conhecer os valores? Em si, qual é a sua essência? 
I.4.4. O problema dos Fins e dos Meios 
Há sustentações de qualquer meio é bom se executa acções para obter um fim desejado (bom). 
Este ponto de vista está relacionado com a tese de Maquiavel que diz “os fins justificam os 
meios”. Esta tese sobrevaloriza as boas intenções de um acto que é a parte interior do ser e 
também se descuida do aspecto externo do acto (intenção e finalidade). Por isso que os fins 
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jamais vão justificar os meios. Mas as questões que se colocam são as seguintes: Será que os 
meios justificam os fins? Ou os fins justificam os meios que os homens utilizam? 
I.4.5. O problema da Obrigação Moral 
O problema da obrigação moral está intimamente ligada a questão dos valores. Esta ligação 
faz-nos realçar o seguinte facto: o que se faz por obrigação perde todo o seu mérito, pelo 
contrário quando se faz por própria convicção adquiri valor moral. A obrigação moral deixa o 
homem a única possibilidade de ser ele mesmo, de acordo com a sua própria moralidade e o 
seu próprio critério. Mas temos que ficar claro de que uma coisa é obrigação entendida como 
coerção externa e outra como obrigação baseada na pressão interna que exercem os valores na 
consciência de uma pessoa. 
4.6. Problema da Diferença entre a Ética e a Moral 
Será que a ética e moral não é mesma coisa? Pois não, por definição etimológica significa o 
mesmo – costumes. Mas actualmente conhecemos a ética como o conjunto de normas que nos 
vem do interior; e a moral como as normas que vem do exterior, ou seja, da sociedade. 
 
I.5. Teorias Éticas 
Depois de termos apresentado na secção anterior a questão dos problemas éticos, nesta secção vamos 
falar das teorias éticas. Das várias teorias éticas vamos destacar as seguintes: a teoria não cognitivista; 
a teoria absolutista; a teoria do comando divino e a teoria racionalista. 
Os assuntos éticos são essencialmente dependentes de padrões que definem um particular código 
moral: as práticas e as normas aceites por um grupo social num tempo e lugar específico. Uma vez 
que, existem uma pluralidade de grupos sociais com diferentes mores (costumes), os relativistas 
afirmam que existe não um ponto de vista a partir do qual esses códigos possam em si ser 
considerados, isto é, não há um critério absoluto para que eles possam ser observados. 
I.5. 1. Teoria não Cognitivista 
Esta teoria realça um conjunto de teorias éticas que afirmam o julgamento moral não possuem valor de 
verdade em si e, portanto, não pode ser conhecido. Ela engloba as seguintes correntes: 
• Emotivismo afirma que os julgamentos morais são efectivas expressões das emoções. A razão 
somente examina a situação a ser considerada e discerne as alternativas para a acção. Porém, a 
razão é inerente e somente a emoção é capaz de promover a rectidão para iniciar a acção 
moral. 
• Prescritivismo de R. M. Hare - esta teoria pretende apontar o contraste entre o sentido 
descritivo da linguagem quando empregada para estabelecer factos, e o sentido prescritivista 
que seria o característico da linguagem moral. Os termos morais seriam empregados para 
guiar a acção e para dizer as pessoas o que deveriam fazer. É uma teoria sobre o significado de 
termos morais como: bom, certo ou dever. 
 
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I.5.2. Teorias Absolutistas 
Estas teorias têm os seus enfoques sobre as acções que podem ser consideradas como erradas ou às 
vezes obrigatórias, qualquer que seja a consequência. Os exemplos concretos são as visões tradicionais 
de moralidade do tipo religioso: os Dez Mandamentos. Nestas teorias quando afastado o apelo da 
autoridade religiosa, apresentam-se vulneráveis ao criticismo racional. 
I.5.3. Teorias do Comando Divino 
Esta teoria afirma que todo axioma moral deriva do comando divino que determina os actos 
moralmente aceites, os proibidos e os actosmoralmente obrigatórios. 
I.5.4. Teoria Racionalista 
A teoria racionalista dá mais importância a razão. Ela enfatiza o papel ou a importância da 
razão frente a experiência sensorial e do apelo a autoridade, como fundamento da moralidade. 
Observem-se os argumentos de Platão, de Kant e J. Rawls (na secção sobre um breve historial 
da ética: nos tópicos ética grega, ética moderna e pós-moderna). 
I.5.5. Teoria Intuicionista ou Intuicionismo 
Afirma que os homens já possuem intuições a priori de verdades morais. O intuicionismo 
pode ser de factos particulares ou de princípios. 
 
NB: Ao apresentarmos estas teorias não pretendemos esgotar o seu estudo, porém é para 
demonstrar o carácter abrangente do facto moral e que mereceu estudos aprofundados de acordo 
com diversas perspectivas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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I.6. Breve historial da Ética 
A existência de uma história da moral é sustentada considerando que cada sociedade tem sido 
caracterizada por um conjunto de regras, normas e valores. A história da Ética é complexa e 
exige alguns cuidados no seu estudo, uma vez que ela como disciplina filosófica é mais 
limitada no tempo e no material tratado do que a história das ideias morais da humanidade. 
A história das ideias morais da humanidade compreende o estudo de todas as normas que regularam a 
conduta humana desde os tempos pré-históricos até aos nossos dias. Esse estudo é filosófico ou 
histórico-filosófico e social. 
A história das ideias morais é um tema de que se ocupam a sociologia e a antropologia. A existência 
de ideias morais não implica a existência de uma disciplina particular, uma vez que podem estudar-se 
as atitudes e ideias morais de diversos povos, orientais, judeus, etc. sem que o material resultante seja 
enquadrado na história da Ética. Assim, só existe história da Ética no âmbito da história da filosofia. 
 
A história da Ética adquire uma considerável amplitude. Por isso, é difícil com frequência estabelecer 
uma separação rigorosa entre os sistemas morais e–objecto próprio da. Isto porque a ética é um 
conjunto de normas e atitudes de carácter moral dominantes numa sociedade ou fase histórica. 
Assim, os historiadores da Ética limitaram seu estudo para aquelas ideias de carácter moral que 
possuem uma base filosófica, isto é, em vez de se darem simplesmente como supostas, são examinadas 
em seus fundamentos e são filosoficamente justificadas. A justificação não importa se é do âmbito 
metafísico ou teológico, mas que seja uma explicação racional das ideias ou das normas adoptadas. 
Dai, a razão dos historiadores da Ética seguirem os procedimentos tomados pelos historiadores da 
filosofia. 
Se olharmos para a história, notaremos uma grande diversidade de ideias morais no tempo. Friedrich 
Nietzsche faz uma exposição da sucessão das doutrinas éticas quando afirma “aquilo que numa época 
parece mau, é quase sempre um restolho daquilo que na precedente época era considerado bom” 
(Nietzsche, 1977:99). 
As doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como resposta aos 
problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em particular pelo seu 
comportamento moral efectivo. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os conceitos morais e a 
realidade humana social, sujeita historicamente a devir (a mudanças). 
As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança 
e de sucessão que constitui propriamente a sua história. A Ética e História se relacionam porque: 
• Com a sua própria história, uma vez que cada doutrina esta em conexão com as anteriores 
(tomando posições contra elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), ou 
com as doutrinas posteriores - prolongando-se ou enriquecendo-se nelas. 
Em toda moral se elaboram certos princípios, valores ou normas, mudando radicalmente a vida social 
e a vida moral. Os princípios, os valores ou as normas nela encarados entram em crise e exigem a sua 
justificação ou a sua substituição por outros. Surgindo assim, a necessidade de novas reflexões ou 
nova teoria moral porque os conceitos, valores e normas vigentes se tornaram problemáticos. 
I.6.1. Ética Grega 
Sob o ponto de vista formal, a história da Ética teve a sua origem na antiguidade grega através de 
Aristóteles (384-322 a. C) e suas ideias sobre a Ética e as virtudes éticas. Mesmo antes de Aristóteles, 
já foi possível encontrar na Grécia fragmentos de uma abordagem com base filosófica para os 
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problemas morais e até entre os filósofos – pré-socráticos encontram-se reflexões de carácter ético, por 
exemplo, quando pretendiam saber as razões do comportamento moral. 
Já Sócrates (470-399 a. C) considerou a questão da ética individual como problema filosófico central 
e a Ética como disciplina em torno da qual deveriam girar as reflexões filosóficas. Para Sócrates 
ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso. Só age mal quem 
desconhece o bem porque todo o homem quando fica sabendo o que é o bem, reconhece-o 
racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo. Ao praticar o bem, o homem sente-se 
dono de si e consequentemente é feliz. Daí a velha máxima (frase socrática): Conhece-te a ti mesmo. 
Portanto, para Sócrates a virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das acções fundadas em 
valores morais, identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir virtuosamente em 
direcção ao bem. 
Platão (427-347 a C) ao examinar a ideia do Bem à luz da sua teoria das ideias subordinou a sua Ética 
a metafísica. A sua Ética está relacionada com sua filosofia política, porque para Platão a polis 
(cidade-estado) é o terreno propício para a vida moral. A sua Ética exerceu grande influência no 
pensamento religioso e moral do ocidente. 
Aristóteles (384-322 a C) organizou a Ética como disciplina filosófica e formulou a maior parte dos 
problemas que os filósofos morais se ocuparam: relação entre as normas e os bens entre a Ética 
individual e social; relação entre a vida prática e teórica, classificação das virtudes, etc. 
A concepção Ética de Aristóteles privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como 
propensas aos sentimentos de realização pessoal, aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a 
sociedade em que vive. 
A Ética Aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a 
humanidade como parte da ordem natural do mundo – o naturalismo. Para Aristóteles, toda a 
actividade humana tende a um fim que é o bem supremo ou Sumo Bem que seria resultado do 
exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim, o homem virtuoso é aquele que é capaz 
de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros movidos por uma sabedoria 
prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência: por exemplo, tendemos mais 
naturalmente para os prazeres e por isso somos levados mais facilmente para a concupiscência do que 
para a moderação. 
A Ética Aristotélica também esta relacionada com a sua filosofia política, uma vez que a comunidade 
social, política é o meio necessário para o exercício da moral. Somente nela pode realizar-se a ideia da 
vida teórica na qual se baseia a felicidade. Porque o homem moral só pode viver na cidade e é, 
portanto animal político ou social – zôon politikon. Apenas os deuses e os animais selvagens não tem 
necessidade da comunidade política para viver. O homem deve necessariamente viver em sociedade e 
não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas no seio de uma comunidade. Com a 
decadência do velho mundo greco-romano, surge o estoicismo e o epicurismo. 
Para Epicuro (341-270 a C), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo de uma vida feliz. Dai o 
surgimento da ideia do hedonismo que assume o prazer como princípio e fundamento da vida moral. 
Uma vez que existem muitos prazeres, nem todos sãoiguais e bons. É preciso escolher entre eles os 
mais duradouros e estáveis, para isso é necessário à posse de uma virtude sem a qual é impossível 
escolher. Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles prazeres que não nos trazem a 
dor ou perturbações. Os melhores prazeres não são corporais – fugazes e imediatos - mas os espirituais 
porque contribuem para a paz da alma. 
 
Para os estóicos (Zenão, Sêneca e Marco Aurélio), o homem é feliz quando aceita o seu destino com 
imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo ordenado e harmoniosos onde os sucessos 
resultam do cumprimento da lei natural, racional e perfeita. O bem supremo é viver de acordo com a 
natureza, aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar pelas paixões, 
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afectos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com 
moderação aceitando seu destino. O estóico deixa de ser um cidadão da polis e passa a ser do cosmo. 
I.6.2. Ética Cristã (Período Medieval) 
Com o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil substituiu a escravidão. Assim o 
regime servil deu bases para a construção da sociedade feudal. A sociedade feudal era extremamente 
estratifica e hierarquizada. No entanto era uma sociedade fragmentada economicamente e 
politicamente na medida em que as estruturas deixadas pelo mundo antigo foram desfeitas e a igreja 
continuou sendo a única instituição organizada. É por este motivo que a religião se tornou o garante da 
unidade social do povo na época. Assim a igreja passou, além do poder espiritual e temporal, a 
monopolizar a vida intelectual. Evidentemente a Ética, neste período medieval, foi sujeita a conteúdos 
religiosos. 
Os filósofos cristãos, da época, tiveram uma dupla atitude diante da Ética: 
• Uma atitude Teônoma que fundamenta em Deus os princípios morais. Deus criador, 
omnisciente e todo-poderoso. O homem como criatura de Deus tem seu fim último Nele que é 
o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a sua obediência e a sujeição a seus 
mandamentos – com carácter de imperativo supremo. 
 
Esta atitude aproveitou as ideias da ética grega platónica e estóicas inserindo-as na ética cristã. A Ética 
cristã é uma ética subordinada a religião num contexto em que a filosofia era considerada serva da 
teologia, isto é, a filosofia deveria ajudar na compreensão da teologia. A ética cristã é uma ética 
limitada por parâmetros religiosos e dogmáticos e tende a regular o comportamento dos homens com 
vista a uma outra vida (reino de Deus) colocando o seu fim ou objectivo fora do homem, mas na 
divindade. 
 
 
Ao pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem transcendental ou sobrenatural, onde 
possa viver uma vida feliz e plena, livre de desigualdades e injustiças do mundo terreno o cristianismo 
introduz uma ideia inovadora: a igualdade dos homens diante de Deus. Assim o homem é chamado a 
alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural, o reino dos céus. Esta teoria absorve bastante 
o que Platão e Aristóteles postularam. 
Os filósofos cristãos mais marcantes na ética cristão são Santo Agostinho (354-430) e São Tomas de 
Aquino (1226-1274). Estes reflectem respectivamente as ideias de Platão e Aristóteles. Por exemplo, a 
purificação de Platão e a sua ascensão libertadora até elevar-se ao mundo das ideias tem 
correspondência na elevação ascética até Deus exposta por Santo Agostinho. A ética de S. Tomás de 
Aquino assemelha-se a Aristóteles na questão da contemplação e do conhecimento que permite 
alcançar o fim último. Para São Tomás o fim último é Deus. 
A história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde prevaleceram diversas doutrinas. 
Contudo, todas elas surgem como reacção a Ética Cristã que era descêntrica e teológica. A ética do 
renascimento é antropocêntrica. Ela procura reflectir o homem. Portanto, o renascimento faz uma 
viragem significativa na história da ética. 
Esta viragem deveu-se as mudanças que o mundo sofreu nas esferas económicas, políticas e 
científicas. Na esfera económica, por exemplo, viu-se crescer de forma muito intensa o relacionamento 
de forças produtivas com o desenvolvimento científico. A relação entre a produção e a ciência 
propiciou o desenvolvimento da ciência. Este tema não será desenvolvido nesta unidade porque não 
faz parte desta disciplina. No entanto, esta relação fortaleceu a nova classe social – a burguesia – que 
lutava para se impor politicamente e economicamente. Este foi um período de grandes revoluções 
política (na Holanda, França e Inglaterra). O renascimento trouxe as seguintes consequências: 
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• A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião); 
• As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos; 
• O estado separa-se da igreja; 
• Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus.. 
 
Esta rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora vejamos: Nicolau Maquiavel (1469-
1527) (autor moderno) provoca uma revolução Ética ao romper com a moral cristã que impõe valores 
espirituais como superiores aos valores políticos. Para Maquiavel a adopção de uma moral própria em 
relação ao estado era fundamental. Por isso, para este, o que importa são os resultados e não a acção 
política em si mesma. Adicionalmente, Maquiavel sugeriu sendo legítimo o uso da violência contra o 
que se opõe aos interesses estatais. Maquiavel pretende a aplicação de novos valores, onde o homem é 
centro de busca dos seus próprios valores e princípio. As ideias de Maquiavel tiveram bastante 
influência em Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se refere à Ética realista. 
I.6.3. Ética Moderna 
A teoria da ética moderna teve uma contribuição de vários autores. Em seguida descrevemos o 
desenvolvimento da ética moderna na visão de vários autores. 
Rene Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na filosofia e no homem que passaram 
a ser o centro de tudo, da política, da arte e da moral. Surgindo, desse modo, a Ética antropocêntrica. 
Thomas Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta em cada ser, de própria 
conservação como sendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes, a vida do homem no 
estado de natureza - sem leis nem governo – era solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, uma vez 
que os homens são por índole agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um desejo de 
ganho imediato. 
Para Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são melhores ou egoístas do que os 
selvagens: são apenas clarividentes se cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes. Segundo 
Hobbes o bom comportamento do homem deriva do seu egoísmo. Por exemplo, para Hobbes a 
explicação é simples: dois homens juntos têm mais facilidade de matar uma fera sem se ferirem. Esta é 
uma razão que explica a necessidade do homem de se auto conservar. 
Baruch de Espinosa (1632-1677) diz que: os homens tendem naturalmente a pensar apenas em si 
mesmos, nos seus desejos e opiniões. As pessoas sempre são conduzidas por suas paixões, as quais 
nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é uma acção necessitante da substância divina 
baseada na tendência de conservação e consecução de tudo o que é útil. 
Espinosa é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há uma diferença de pontos de 
vista, Deus é a única substância necessária, una, infinita, independente, simples e indivisível. Tem uma 
identidade, de atributos dos quais conhecemos apenas dois: a extensão e o pensamento. O mundo é o 
conjunto dos modos desses dois atributos. O homem é uma colecção de modos da extensão e do 
pensamento. A substância divina desenvolve-se segundo as leis necessárias da sua natureza. Deus é 
determinado por si mesmo, mas é determinado num sentido único e irrevogável. O livre arbítrio do 
homem reduz-se à ignorância das causas que determinam as suas acções. A verdadeira liberdade cria-se na medida em que o homem se liberta das suas paixões e, pela contemplação intelectual, identifica-
se com Deus. Portanto, o princípio da moral identifica-se com Deus. 
Para Espinosa, a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda menos, oposto a ela. A virtude é a 
própria tendência natural para o auto conservação. O homem actua melhor e mais eficazmente quando 
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se vale da razão, que é a busca útil e, por isso, a virtude humana está essencialmente ligada ao uso da 
razão. 
 
Segundo Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou impedem o entender. “A razão nada 
exige contra a natureza, mas ela mesma exige que cada um se ame a si próprio e procure o bem 
próprio, e deseje tudo o que verdadeiramente conduz o homem a uma maior perfeição e, de modo 
absoluto que cada um se esforce no que lhe diz respeito por conservar o seu próprio ser” (Ética, 
IV,18). 
Em relação aos juízos morais, Espinosa refere que os padrões humanos de julgamento moral, na sua 
prática, são arbitrários e caprichosos. Quando se critica ou se avalia no homem, em qualquer aspecto 
procede-se a um julgamento tomando por comparação a uma figura pessoalmente pré-concebida ou 
um ideal de homem, individualmente construída. Contudo, quando se julga um homem e se diz que ele 
poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma ilusória noção de liberdade, visto que é determinado, não 
poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado e daquilo que é. O estado ordinário da mente 
quando se procede a julgamentos morais é sempre de confusões e de ilusões. Então, como proceder? 
Espinosa refere que o modo de proceder ultrapassa os usos e a linguagem que condicionam o 
julgamento, que deverá ser através da experiência. 
John Locke (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a uma concepção de felicidade 
pública, uma vez que estabeleceu um liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública, e tornou 
a prática da virtude necessária a conservação da sociedade humana e visivelmente vantajosa por todos 
os que precisam tratar com as pessoas de bem. 
David Hume (1711-1776) nessa mesma linha, Hume afirma que o fundamento da moral é a utilidade, 
isto é, a boa acção, aquela que proporciona felicidade e satisfação à sociedade. A utilidade responde a 
uma necessidade que leva o homem a promover a felicidade dos seus semelhantes. Ao invés de limitar 
os desejos humanos determinados pelo interesse pessoal (comida, dinheiro, glória, etc.) 
Hume acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a capacidade de sentir em si 
mesmo os sofrimentos e até as alegrias do outro. O que impossibilita traçar uma linha divisória nítida 
entre o interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora é possível encarar o interesse como se 
fosse um interesse pessoal. 
Immanuel Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da conduta na substância 
racional do homem. Nele, o conceito de dever é o ponto central da moralidade – hoje conhecido por 
deontologia. 
Para Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou boa intenção, aquilo que se põe 
livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever é a consequência da percepção pelo 
homem de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer – o imperativo categórico: a 
necessidade de respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins em si mesmo. E o 
reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de comportar-se diante 
deles a partir desse reconhecimento. 
 A humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do próximo sempre como um fim e nunca 
como um meio. 
A Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos práticos que possam ser 
universalizáveis, de tal maneira que os princípios que eu sigo possam valer para todos. “Age apenas 
segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. 
Analisando a questão da corrupção, por exemplo, podemos questionar se tal procedimento deveria ser 
universalizado ou não. Se não podemos querer a universalização da corrupção, também não posso 
aceitá-la no aqui e agora. 
Em Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não interessando para nada um conhecimento 
racional da moral. A moralidade está tão afastada da pura sensibilidade como da racionalidade 
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absoluta. Se o homem fosse apenas sensibilidade, as suas acções seriam determinadas pelos impulsos 
sensíveis. Se fosse só racionalidade seriam determinadas pela razão. Mas sendo o homem ao mesmo 
tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso como a razão. É nesta possibilidade de 
escolha que consiste a liberdade que o faz um ser moral. 
Para viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade, submetendo-se aos impulsos 
sensíveis e evitando assumir qualquer desejo. Como ser racional, o homem deseja a felicidade, mas 
enquanto desejo, a felicidade não pode ser o fundamento de um imperativo moral. A resolução deste 
dilema está na acção da vontade: age de modo que a máxima da tua vontade possa sempre ser valor, 
como princípio da legislação universal. Esta fórmula constitui a lei moral, valendo para todos os seres 
racionais. A relação de uma vontade com esta lei é uma relação de dependência que se exprime numa 
obrigação – em obrigar a uma acção conforme com a lei. Esta acção chama-se dever. A lei moral é 
origem e fundamento do dever no homem. 
Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade com a lei, efectuada com um 
motivo natural sensível. Por exemplo: obter qualquer vantagem ou evitar qualquer dano. A 
moralidade é a conformidade imediata da vontade com a lei sem o recurso dos impulsos sensíveis. 
O amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a felicidade e acção que realiza a 
moralidade é a eliminação do egoísmo, isto é, contrapõe o eu e os seus impulsos a lei moral. “Nós 
somos de certos membros legisladores de um reino moral tornado possível pela liberdade e 
representado pela razão prática como objecto de respeito: mas somos súbditos, não o soberano desse 
reino, e assim o desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar presunçosamente a 
autoridade da lei, é já uma infidelidade ao espírito da lei, mesmo quando se lhe observe a letra”. 
A acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo. Este bem supremo consiste, para 
o homem, que é um ser finito, na virtude e na união da virtude com a felicidade. A virtude é o bem 
supremo, a condição de tudo o que é desejável. 
A afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem tem consciência da lei moral e 
que por vezes se pode afastar dela. A afirmação de que o “homem é mau por natureza” significa que o 
que se disse vale para toda a espécie humana, o que não quer dizer que se trate de uma qualidade, mas 
de uma tendência para o mal em todos os homens, isto é, dos homens. Tal tendência para o mal é 
moralmente negativa - mal radical e inato na natureza humana. 
O mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode ser vencido, a fim de que o 
homem seja verdadeiramente livre nas suas acções. 
I.6.4. Ética Contemporânea 
Semelhantes a ética moderna, alguns autores contribuíram para o desenvolvimento da teoria da ética 
contemporânea. Em seguida descrevemos as contribuições desses autores. 
Friedrich Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo pós-kantiano. A doutrina de 
Hegel tem uma tendência panteísta e é conhecida como idealismo absoluto porque o absoluto é a ideia, 
o pensamento puro, a abstracção lógica. 
Hegel compreende que a moral não é uma questão perene, mas complexa e dinâmica. Hegel trata de 
uma moral que muda algo que se mantém independentemente e acima dos conceitos que mudam, 
evoluem e se transformam enquanto ela se matem una, universal e intemporal. O que é comum a todas 
as perspectivas e conceitos da moral é que o indivíduo providencia a sua própria moralidade e ao 
mesmotempo clama por uma genuína universalidade. O que permite a sanção das nossas escolhas 
morais é em parte o facto de que o critério que governa as nossas escolhas, não é escolhido. É no 
contexto da ordem moral estabelecida numa comunidade bem ordenada que se podem encontrar os 
critérios éticos gerais e concordâncias com os seus. A autoridade Ética da sociedade não advém, 
porém do seu poder real, mas dos seus conceitos que são encarados como normativos. 
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Para Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de comunidade que em cada comunidade 
certos valores se provarão indispensáveis, adaptando uma posição diferente da linha sobre a 
objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus herdeiros posteriores. 
Do ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está aberta, mas para o indivíduo 
integrado numa sociedade não está. Cada sociedade impõe certos valores a si próprio e ao indivíduo, 
só havendo verdadeira possibilidade de escolha arbitrária ao indivíduo que não esteja integrado numa 
sociedade. 
Platão e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética, porque a descrevem dentro de uma 
sociedade de polis. Os individualistas do séc. XVIII vem o bem como a expressão dos seus 
sentimentos ou o mandato da sua razão individual porque se situam como se estivessem fora da 
sociedade em que vivem. A sociedade é por eles considerada apenas como um mero agregado de 
indivíduos. Mas Hegel levanta uma questão: o que é que, para o homem moderno, toma lugar da polis 
grega? 
Para Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e histórico é determinada pelas 
relações sociais que mediatizam as relações pessoais intersubjectivas. Assim, Hegel transforma a Ética 
numa filosofia de direito e divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e Ética objectiva (social). 
A Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética objectiva é formada pelos costumes, 
pelas leis e normas de uma sociedade. Entretanto, Hegel dividiu a sua obra de 1821, Filosofia do 
Direito, em três áreas: direito abstracto, a moral e a eticidade. 
• Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e exprime-se na propriedade, 
que é a esfera exterior da sua liberdade; 
• A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se manifesta na acção; 
• A eticidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais que regem a vida dos indivíduos e 
constituem os seus deveres. 
 
O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a subjectividade que deve 
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. Esta separação é resolvida pela ética, onde o bem se 
realiza de forma concreta e se torna existente. 
Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma limitação a subjectividade ou a liberdade 
abstracta do indivíduo, sendo, no entanto, a redenção do próprio indivíduo, dos seus impulsos e da sua 
subjectividade individual. 
No mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se realidade: “o sistema de direito 
é o reino da liberdade realizada, o mundo do espírito expresso por si mesmo, como uma segunda 
natureza.” Para que o direito - ética se realize e subsista é necessário que à vontade do indivíduo se 
reverta numa vontade mais vasta, universal, a qual se submeta por livre vontade. 
O homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético que é constituído pelo sistema de 
necessidades da sociedade civil. Para o Kant, o indivíduo está submetido a imperativos categóricos 
enquanto o indivíduo hegeliano procura os seus critérios morais nas normas da sociedade. 
Para Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética. 
A vontade individual subjectiva é determinada por uma vontade objectiva, impessoal, colectiva, social 
e pública que cria as diversas instituições sociais. Essa vontade regula e normaliza as condutas 
individuais através de um conjunto de valores e costumes vigentes numa determinada sociedade e 
numa determinada época. 
O ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um estado de direito que preserve os 
direitos dos homens e lhes cobre seus deveres onde a consciência moral e as leis do direito não estão 
separadas e nem em contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização dos valores, normas e leis de 
uma sociedade, condensadas na vontade objectiva, cultural por um sujeito moral que as aceite livre e 
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espontaneamente através de uma vontade subjectiva individual. A vontade pessoal resulta da aceitação 
harmoniosa da vontade colectiva de uma cultura. 
Karl Marx (1818-1883) a moral é uma superestrutura ideológica, com função social que permite 
sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os interesses da classe dominante. 
Numa sociedade dividida em classes antagónicas, a moral sempre terá um carácter de classe. Enquanto 
não se verificarem as condições reais para uma moral universal, válida para toda a sociedade não pode 
existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as sociedades. 
Para Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a imprimir um carácter universal a 
interesses particulares. 
Se a moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada historicamente a abolir a si mesmo 
como classe para ceder lugar a uma sociedade verdadeiramente humana, serve como passagem a uma 
moral universalmente humana. Os homens necessitam da moral assim como necessitam da produção, 
e cada moral cumpre sua função social de acordo com a estrutura social vigente. 
Entretanto, torna-se necessário uma nova moral que não seja o reflexo de relações sociais alienadas 
para regular as relações entre os indivíduos tanto em vista das transformações da velha sociedade 
como para garantir a harmonia da emergente classe socialista. 
A transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a participação consciente dos 
homens. Porque, a nova moral com suas novas virtudes transforma-se numa nova necessidade. Assim, 
o homem deve interferir sempre na transformação da sociedade. 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral, seja a socrática, judaico-
cristão ou moral burguesa. 
Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos os valores. O bom é o que 
favorece a força vital do homem, e tudo o que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, à 
vontade de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza. 
Nietzsche vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos valores, transmutando-os a todos. 
 
O pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos problemas abstractos da velha 
metafísica e dedicam-se as questões práticas sob o ponto de vista utilitarista. A verdade é o 
útil que ajuda a viver e a conviver. O bem é algo que conduz a obtenção eficaz de uma 
finalidade, que nos conduz a um êxito. Os valores, princípios e normas perdem seu conteúdo 
objectivo e o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem nas suas actividades práticas, 
variando de acordo com as circunstâncias. O perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele 
tenta reduzir o comportamento moral a actos que conduzem apenas aos êxitos pessoais 
transformando-os numa variante utilitarista marcada apenas pelo egoísmo, rejeitando a 
existência de valores ou normas objectivas, criando uma distorção baseada na busca da 
vantagem particular onde o bom é o que ajuda o meu progresso e o meu sucesso particular. 
Henri Bergson (1859-1941) distingue a moral em: moral fechada e moral aberta. A moral fechada é 
o conjunto do que é permitido e do que é proibido para os indivíduos de uma sociedade tendo em vista 
o auto conservação da mesma. É imposta aos indivíduos e tem como finalidade tornar a vida em 
comum possível e útil a todos. Ela corresponde no mundo humano ao que é instinto em certas 
sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias sociedades. 
A moral aberta nasce do impulso criador supra-racional.É a moral do amor, de liberdade e 
da humanidade universal que resulta de uma emoção criadora. Ela torna possível a criação de 
novos valores e de novas condutas em substituição daquelas vigentes segundo a moral 
fechada. É a moral dos profetas, sábios, místicos inovadores e dos santos que inspiram a 
instauração de uma nova ética face a moral vigente. 
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Na filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram o conceito de ética, adquirindo 
fortes traços de moral utilitarista. Os indivíduos devem buscar a felicidade e fazerem melhores 
escolhas entre as alternativas existentes. 
Bertrand Russel (1872-1970) afirma que a ética é subjectiva. Não contem afirmações verdadeiras ou 
falsas. É a expressão dos desejos de um grupo. Mas o homem deve reprimir certos desejos e reforçar 
outros se pretende atingir a felicidade ou equilíbrio. 
I.6.5. Ética da Pós-Modernidade 
Jurgem Habermas (1924) faz uma revisão e actualização do marxismo capaz de dar conta das 
características do capitalismo avançadas na sociedade industrial contemporânea. Faz uma critica a 
racionalidade dessa sociedade caracterizando-a de uma razão instrumental que visa apenas estabelecer 
os meios para se alcançar um fim determinado. O desenvolvimento técnico e a ciência voltada apenas 
à aplicação técnica acarretam a perda do próprio bem que estaria submetido às regras de dominação 
técnica do mundo actual. E necessário então a recuperação da dimensão humana de uma racionalidade 
instrumental baseada no agir comunicativo entre sujeitos livres, de caracter emancipador em relação à 
dominação técnica que distorce a possibilidade da acção comunicativa e produz relações assimétricas 
e impede uma interacção plena entre as pessoas. 
Habermas pretende fundar uma nova racionalidade, e recomenda a filosofia analítica da linguagem 
para sistematizar as condições do uso da linguagem livre em torno da teoria da acção comunicativa. 
Habermas busca uma teoria geral da verdade segundo a qual o critério da verdade é o consenso dos 
que argumentam e defende a idéia de que argumentar é uma tarefa eminentemente comunicativa 
porque o discurso intersubjectivo é o lugar próprio para a argumentação. O critério de verdade aceite 
por consenso e somente aquele que se estabelece sob condições ideiais – situação ideal de fala. O 
consenso é racional quando estabelecido numa condição de fala. Para tal Habermas estabeleceu regras 
cuja observação e condição para que se possa falar de um discurso verdadeiro, que são: 
• Todos os participantes tenham as mesmas chances de participar do dialogo; 
• Todos os participantes tenham as mesmas chances para a critica. Estas são formas de 
eliminação dos factores de poder que poderiam perturbar a argumentação; 
• Todos os falantes deveriam ter chances iguais para expressar suas atitudes, sentimentos e 
intenções; 
• Serão admitidos ao discurso falantes que tenham as mesmas chances enquanto agentes para 
dar ordens e se opor, permitir e proibir, etc. 
Um diálogo sobre questões morais entre senhores e escravos, patrões e empregados, pais e 
filhos, violaria as condições da situação ideal da fala. Isto porque o discurso autêntico é 
aquele que ocorre com pessoas em situação igual, sob condições igualitárias do ponto de vista 
de participação no discurso. 
John Rawls (1971) em teoria da justiça afirma que a justiça não é um resultado de interesses por 
publico que seja. Mas ele pretende afirmar uma justiça distribuitiva partindo de um estado inicial por 
meio do qual se pode assegurar que os acordos básicos a que se chega nem contrato social sejam justos 
e eqüitativos. 
A justiça é entendida como equidade por ser eqüitativa em relação a uma posição original. E, ela 
basea-se em dois princípios: 
• Assegurar para cada pessoa numa sociedade direitos iguais numa liberdade compatível com a 
liberdade dos outros; 
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• Haver uma distribuição de bens econômicos e sociais de modo que toda desigualdade resulte 
vantajosa para cada um, podendo alem disso, ter cada um acesso, sem obstáculo, a qualquer 
posição ou cargo. 
Portanto, todos os bens sociais primários – liberdade e oportunidade, rendimentos e riquezas e as bases 
de respeito a si mesmo devem ser igualmente distribuídas a menos que uma distribuição desigual 
desses bens seja vantajosa para os menos favorecidos. 
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Bibliografia Complementar 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Martin Claret. 2007. 
ARRUDA, De M. C. C. at al Fundamentos de Ética Empresarial e Económica. 3 Edição. São Paulo: 
Editora Atlas. 2007. 
KANT, I. Licciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsillo.2001. 
LOURENÇO, J. V. e Vicente, J. N. Do Vivido ao Pensado. Porto: Porto Editora. 1995. 
RODRIGUES. L. Filosofia. 10 ano. Lisboa: Plátano Editora. 2003. 
VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2006. 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
 
Índice 
Unidade nº2 i 
Ética Geral – Pessoa, Consciência e Responsabilidade Moral .........................................i 
Introdução .............................................................................................................i 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
II. A Pessoa como categoria ética ............................................................................. ii 
II. 1. O indivíduo como um ser Biológico e Social ................................................... ii 
II. 2. A constituição da Pessoa.................................................................................. ii 
II. 3. Características da Pessoa ................................................................................ iii 
II. 3.1. Unicidade .................................................................................................... iii 
II.3.2. Comunhão ......................................................................................................... iii 
II.3.3. Interioridade ...................................................................................................... iii 
II.3.4. Carácter sagrado e absoluto da pessoa ............................................................... iii 
II. 3.5. Singularidade ................................................................................................ iv 
II.3.6. Autonomia ......................................................................................................... iv 
II.3.7. Abertura ............................................................................................................. iv 
II.4. A Pessoa na sua relação com os Outros ................................................................. iv 
II.4.1. A relação com o outro como concorrente............................................................ iv 
II.4.2. A relação com o outro como contrato ................................................................. v 
II.4.3. A relação com o outro como um tu-como-eu ....................................................... v 
II.5. O significado ético da relação da pessoa com os outros .......................................... v 
II.6. A Experiência do dever ......................................................................................... vi 
II.6.1. O dever .............................................................................................................. vi 
II.6.2. A coacção e a obrigatoriedade moral .................................................................. vi 
II.6.3. Os deveres.........................................................................................................vii 
II.6.3.1. Deveres para connosco mesmo .......................................................................vii 
II.6.3.2. Deveres para com os outros ............................................................................vii 
II.7. A liberdade como fundamento do agir moral ........................................................viiII.8. A consciência moral - etimologia ....................................................................... viii 
II.8.1. A consciência sob ponto de vista da Filosofia ..................................................... ix 
II.8.2. A consciência sob ponto de vista da Psicologia ................................................... x 
II.8.3. A consciência sob ponto de vista da Sociologia ................................................... x 
II.8.4. A consciência sob ponto de vista da Ética........................................................... xi 
II.9. A consciência moral e a experiência do dever ....................................................... xi 
II.10. Os constituintes do campo ético .........................................................................xii 
II.11. A Formação da consciência moral ..................................................................... xiv 
II.12. Responsabilidade moral .................................................................................... xvi 
II.13. Acção moral ....................................................................................................xviii 
II.13.1. Classificação dos valores ..............................................................................xviii 
II.13.1.1. Os valores espirituais .................................................................................xviii 
II.13.1.2. Os valores sensíveis (materiais) ................................................................... xix 
II.13.2. Juízos de Valor e Juízos de Facto ................................................................... xix 
II.13.3. A relaçãõ entre Normas e Valores Morais........................................................ xx 
Tarefas ....................................................................................................................... xxi 
Auto- avaliação .......................................................................................................... xxi 
Chave de correcção ....................................................... Error! Bookmark not defined. 
Bibliografia Complementar ....................................................................................... xxii 
 
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 
 
Unidade nº2 
Pessoa, Consciência e Responsabilidade Moral 
Introdução 
Especificamente, esta unidade é constituída por 5 tópicos, nomeadamente A pessoa como categoria 
ética, a consciência moral, a formação da consciência moral, a responsabilidade e os valores e a acção 
moral. O primeiro tópico (pessoa como categoria ética) pretende reflectir e caracterizar a pessoa sob 
ponto de vista ético. O segundo tópico (consciência moral) pretende descrever os vários pontos de 
vista acerca da origem da consciência moral). No terceiro tópico (formação da consciência moral) 
vamos fazer uma abordagem psicológica da formação da consciência. Tomaremos como autores 
fundamentais os psicólogos Jean Piaget e L. Kohlberg. No quarto tópico vamos reflectir acerca da 
responsabilidade moral. E por fim, na quinto tópico definiremos os valores e a acção moral. 
 
 
Objectivos 
Ao completar esta unidade, você será capaz de: 
 
 
 
 
• Definir os coneitos de pessoa, consciência moral e 
responsabilidade moral; 
• Diferenciar a responsabilidade moral da culpabilidade; 
• Caracterizar a pessoa como categoria ética; 
• Classificar a ética enquanto uma disciplina 
• Explicar o processo da formação da consciência moral em 
Kohlberg e Jean Piaget. 
 
 
 
 
 
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A Pessoa como categoria ética 
Nesta secção vamos falar acerca da etimologia dos conceitos de pessoa, bem como as carcaterísticas 
da pessoa. 
“Todos sabemos que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da familia dos 
hominideos, do género homo, da espécie sapiens, que o nossso corpo é uma máquina com trinta 
bilhoes de células, controlada e procriada por um sistema genético que se constistuiu no decurso de 
uma longa evolução natural de 2 a 3 bilhões de anos, que o cérebro com que pensamos, a boca com 
que falamos, a mão com que escrevemos, são órgãos biológicos, mas este conhecimento é tão 
inoperante como o que nos informa que o nosso organismos é constituído por combinações de 
carbono, de hidrogénio, de oxigénio e de azoto” (Morin, 1975: 15) 
 
Este relato de Edgar Morin, a cima citado, mostra-nos que somos diferentes relativamente a outros 
animais. O homem é um ser capaz de dizer sim ou não a algo, um eterno protestante a tudo. O homem 
é o sujeito que manifesta a sua autonomia em relação a natureza e ao mundo que o rodeia. Este mesmo 
homem possui qualidades que o constitui como um sujeito impar no universos dos outros animais, tais 
como: a conscieência de si mesmo, reter opassado, prever o futuro, dá nomes aos objectos, 
ultrapassando os limites graças a sua imaginação. Perante estes factos podemos concluir que a 
realidade humana não se limita no ser biológico, uma vez que exige e comporta outras vertentes como 
psicológica, social, cultural e moral. Por isso, o ser humano é o resultado de vários processos: 
biológicos, psicológicos, sociais, culturais e morais. Estes factores encontram se conjugados numa 
complexa relação interindividual. É nesse contexto que o homem se descobre a si mesmo como um 
indivíduo pensante, e descobre a existencia dos outros como a condição da sua existência. 
Mas falemos de seguida deste indivíduo biológico e social. 
II. 1. O indivíduo como um ser Biológico e Social 
 
Nesta secção vamos abordar de tês realidades intimamente relacionadas – o indivíduo biológico, a 
pessoa e o indivíduo social. Para compreendermos o processo da sociabilidade do homem temos que 
partir da noção da pessoa. Pois o ser vivo enquanto indivíduo é uma totalidade diferênciada, como 
ilustra o texto de Edgar Morin (1975). No entanto os diversos órgãos que compõe o ser vivo não são 
indipendentes um do outro, porém constituiem uma estrutura. Afirmar que o indivíduo é um ser 
estruturado significa queo todo é formado por partes interdependentes que só são aquilo que são 
devido a esta sua relação de mútua dependência. Mas a totalidade do ser biológico está centrado num 
foco – a consciência ou memória sensível. Quando a consciência é reflexão, o homem não só sabe 
mas sabe que sabe, então estamos entrando no mundo da pessoa. Portanto, é esta centralidade que dá 
uma certa autonomia ao indivíduo em relação ao meio ambiente e a razão última das diversas 
características do ser vivo. 
II. 2. A constituição da Pessoa 
Depois de explicarmos do indivíduo biológico, nesta secção vamos apresentar e compreender a 
constituição da pessoa. Num primeiro momento vamos demonstrar a perspectiva clássica e em 
segundo descrever a pessoa na perspectiva de algumas correntes filosóficas. 
A perspectiva clássica é representada por Boécio (480-525) e São Tomás de Aquino. Boécio define a 
pessoa como sendo uma “substância individual de natureza racional”; o aquiniate, por seu turno, 
define a pessoa como um “subsistente de natureza racional”. 
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Estas duas definições apresentam dois elementos fundamentais a saber: o primeiro tem a ver com o 
facto da pessoa ser um indivíduo subsistente. Esta perspectiva demonstra realidade (totalidade), 
fechada, acabada, que subsiste em si mesma, centrada e autónoma. o segunda elemento é o facto de 
que a pessoa é de natureza racional. Esta racionalidade pressupõe uma dimensão espritual. Pois a razão 
é o fundamento último da liberdade e a liberdade é o fundamento último de outras carcaterísticas e 
realizações da pessoa. 
A perspectiva das correntes filosóficas, vamos destacar a visão da Antropologia Moderna. Vamos de 
seguida descrever as caracteristicas da pessoa. 
II. 3. Características da Pessoa 
Das várias características da pessoa podemos destacar as seguintes: Uniciddade, comunhão, 
interioridade, carácter sagrado e absoluto da pessoa, singularidade, autonomia e abertura. 
Passemos, de seguida,a carecterização. 
II. 3.1. Unicidade 
A unidade da pessoa deve ser entendida no contexto do seu agir e no sentido psicológico. Uma pessoa 
não pode ser habitado por nenhum outro, e que na relação consigo mesmo, ele se encontra só ele 
mesmo, isto é, ela não pode ser representado por nenhum outro, porque ela é única. A pessoa é 
incomunicável, não é delegável. Eu António delegar a minha personalidade, essência, carácter, etc., 
ao Francisco para que se pareça comigo. Isso jamais acontecerá, porque a pessoa é única e irrepetível. 
II.3.2. Comunhão 
A comunhão é outra característica da pessoa. Esta característica está profundamente ligada a 
característica anterior – a unicidade. Embora a pessoa seja única,irrepetível incomunicável, no seu 
sentido ontológico, ela está estruturada para viver com, para comunicar, para se relacionar. É neste 
sentido que afirmamos que a pessoa se encontra em plena comunhão interpessoal. 
II.3.3. Interioridade 
A interioridade, como uma característica da pessoa, deve ser entendida como espiritual. Pois a relação 
interpessoal existe um núcleo intransponível: O encontro interpessoal nunca é absolutamente 
transparente. Há sempre uma margem de alteridade que escapa à união. A este núcleo pessoal, a esta 
interioridade revistidade de espiritualidade denomina-se eu primorial, eu-origem ou eu-frontal. 
II.3.4 . Carácter sagrado e absoluto da pessoa 
A pessoa tem um valor absoluto que não pode ser instrumentalizada em função seja de que for. A 
pessoa não pode ser reduzida a simples meio, mas sempre deve ser considerada como um fim em si 
mesmo. É a este carácter irrecusável que afirmamos que a pessoa tem um valor sagrado e absoluto. 
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II. 3.5. Singularidade 
A singularidade faz com que a pessoa possua uma essência individual que a torna única, irrepetível, 
insubstituível. Jamais existirá um outro Sócrates, Platão, o Galilleu igual ou indéntico àquele que 
conhecemos pela história. 
II.3.6. Autonomia 
A autonomia é uma propriedade que faz da pessoa o principio das suas acções. Por isso, um autónomo 
é aquele que se rege pela sua prória lei. Esta característica confere a pessoa uma dignidade especial. 
Pois é por se sentir autónomo que a pessoa se sente sujeito, isto é, uma realidade distinta e superior ao 
mundo das coisas que a circundam. Mas a manifestação mais elevada da autonomia está na capacidade 
de se governar a si mesmo, na capacidade de ser lei para si mesmo, na capacidade do exercício da 
liberdade e autodeterminação. 
II.3.7. Abertura 
A abertura significa que a pesar de ser um princípio do seu agir, a pessoa é um projecto aberto e 
comunicante: um projecto aberto ao mundo que o circunda, um projecto aberto aos outros que 
descobre como coexistente e coactuantes, um projecto aberto ao transcendente enquanto possibilidade 
de encontrar nessa abertura o sentido da vida. 
II.4. A Pessoa na sua relação com os Outros 
Nesta secção vamos falar em primeiro lugar da relação da pessoa com os outros. De seguida 
trataremos do significado ético desta relação. 
A pessoa é um Ser-com-os-outros. Este é um primeiro dado da existência humana. Pois o ser humano 
vem no mundo graças a vontade e mediação de outrem, cresce, vive e colabora com outrem. Esta 
relação com o outro é uma relação constituitiva da própria existência individual. Se o ser humano 
existe então ele está no mundo com os outros. 
Sob ponto de vista da moralidade e da ética, a relação com os outros, este ser-com-os-outros funda 
algum tipo de exiência moral e ética, a destacar: a relação com o outro como concorrente, a relação 
com o outro como contrato e a relação com o outro com um tu-como-eu. 
Vamos de seguida descrever a relação com o outro como concorrente. 
II.4.1. A relação com o outro como concorrente 
 
A relação com o outro como concorrente, ela depende bastante da forma como observamos o outro e 
do tipo de relação com o outro. Se entendo o outro como outro (alguem alheio a mim), aquele com 
quem não tenho nada a ver, aquele que aparece no meu dia-a-dia como um concorrente com quem e 
contra quem devo competir, como aquele que dispuda o meu lugar, como meu adversário e meu 
inimigo, então a minha relação com ele será de oposição, disputa, conflito e até mesmo de aniquilação. 
Nos nossos dias de hoje é frequente observar que a relação com o outro é de oposição e guerra, 
precisamente porque encara-se o outro como o outro; alguém estranho, como aquele que não tenho 
nada a ver. Observe-se o nosso dia-a-dia: conflitos, a concorrência desleal entre empresas, etc. 
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II.4.2. A relação com o outro como contracto 
 
A relação com o outro como contrato, esta relação com o outro perspectiva o eu e o outro como 
apenas indivíduos que estabelecem contratos entre si porque não podem sobre viver um se o outro, e 
porque precisam de encontrar uma forma de assegurar a defesa dos seus interesses distintos e 
antagónicos. Este é uma dimensão individualista em que a relação com o outro têm um carácter de 
uma relação acidental e estratégica. Poranto, segundo essa visão eu preciso o outro para poder 
sobreviver e satisfação das suas necessidades. Este modo de relação com o outro ainda não satisfaz a 
dimensão moral ou ética de sermos-uns-com-os-outros. 
II.4.3. A relação com o outro como um tu-como-eu 
Esta perspectiva procura abordar o outro como um outro-eu, com um eu-como-eu, ou seja, um tu-
como-eu a quem gratuitamente e com prazer concede a dignidade de pessoa. Esta relação está cheia de 
experiência. E, é na experiência de acolhimento, de reconhecimento, do amor, da amizade, do 
enamoramento que encontramos a dimensão mais profunda da relação com o outro como uma relação 
positiva e feliz, como uma relação com enorme peso moral e ético. É nessas experiência que acabamos 
de referir e outras em que os outros tem efectivamente o sentido ético da responsabilidade por nós. É 
só nessa dimensão que encontramos o verdadeiro sentido ético de sermos-uns-com-os-outros. Pois é 
por detrás do reconhecimento onde reside o outro que é um valor, que o outro tem dignidade própria, 
de que o outro é um imperativo ético e de que o outro pode assumir obrigações morais e arcar com a 
responsabilidade ética pelo seu bem e felicidade. 
II.5. O significado ético da relação da pessoa com os outros 
Nesta secção vamos acentuar o valor ético da pessoa e a sua importância na relação com os outros. 
A relação da pessoa com os outros só pode ter significado ético se a própria pessoa se apresentar como 
um valor ético. A pessoa é um fim autónomo do universo – porque ele é racional e livre. Por isso, o 
valor da pessoa emerge nas relações interpessoais. É na sua relação com os outros que a pessoa 
encontrar os vínculos éticos mais profundos. Esses vínculos expressam-se de diversos níveis: 
• Em primeiro lugar, como respeito pela pessoa do outro, tal como se apresenta no encontro 
interpessoal. A pessoa é única, original, insubstituível. Ela é fim em si mesma e nunca pode 
ser instrumentalizada e reduzida a um simples meio seja do que for. 
• Em segundo lugar, a promoção como uma forma de libertação. Na relação interpessoal, o 
outro se apresenta, muitas vezes, em estado de alienação: é o pobre, o oprimido, o explorado, 
o esfomeado, o desempregado, etc. Face a estas situações é necessário agir sob o risco do 
significado ético da relação pessoal possa ficar reduzida a um mero moralismo forma. Por 
isso, a relação interpessoal é activa, criadora, libertadora. Portanto, o valor ético da pessoa é o 
fundamento duma ética social e é o critério para decidirmos sobre os deveres que a 
consciência moral nos impõe. 
Depois de termos abordado do significado ético da relação da pessoa com o outro, vamos de seguida 
explicar o problema da experiência do dever. 
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II.6. A Experiência do dever 
Nesta secção vamos tratar da experiência do dever. No entanto, é importante distinguir entre dever e 
deveres. 
II.6.1. O

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