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Art 4º (2)

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Karin Santana dos Santos. RA: 210031. 
DIREITO CIVIL.
PESQUISA SOBRE O ARTIGO 4º DO CÓDIGO CIVIL.
O artigo 4º do Código Civil expressa que: “os indígenas são incapazes relativamente a certo atos ou à maneira de os exercer, evidenciando ainda, que a capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial”. Presume-se então, com base no entendimento do Código Civil que eles possuem capacidade de fato, mas não capacidade de exercício. 
Em termos legais, a capacidade de exercício é tutelada por uma legislação especial, no caso o Estatuto do Índio. Entretanto, uma parte significativa da doutrina como, por exemplo, André Ramos de Carvalho considera que muitos artigos do estatuto do índio não foram recepcionados pela Constituição de 88. 
Essa é uma das grandes problemáticas candentes em nível Constitucional, teórico- prático uma vez que a antropologia brasileira especifica que muito ainda falta para abarcar a garantia da representatividade de cada povo, e o pouco que temos é incompatível com a identidade plural e formativa. Em se tratando Brasil há pelo menos 305 povos indígenas reconhecidos, fora povos como os Kixere- no alto nordestino que ainda lutam por reconhecimento de sua etnia. De fato a história acerca dos indígenas é ideologicamente carregada de estereótipos e falsa consciência. 
Ah de se citar ainda a existência de divergências entre a Constituição Federal a Convenção n. 169 da Organização Internacional do Trabalho. Todavia, frente aos impasses é preciso sopesar que não se deve dispor ou impedir o exercício pelos indígenas de todos os direitos que volvem a seara da vida civil. 
A lei especial referida pelo Código Civil é o Estatuto do Índio (Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973) define índio ou silvícola como "todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional" indicando ainda que os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime tutelar da União que será exercido por meio da Fundação Nacional do Índio – FUNAI. 
Em casos de incompatibilidade com o pleiteado pelo órgão Nos termos do Estatuto do Índio, "são considerados nulos os atos praticados entre índios não integrados e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente" (art. 7.º, §8.º, da Lei nº 6.001/73).
Esse é um apontamento importante, visto que com o entendimento expresso pela OIT, a prática dos atos da vida civil por parte do indígena independe da prévia manifestação da FUNAI. . 
O Estatuto versa que para que um indígena seja considerado capaz de praticar os atos da vida civil, ele deve requer em juízo a nulidade do regime tutelar, mas para isso alguns requisitos legais devem ser levados em consideração. Dentre eles consta: ter idade mínima de 21 anos; conhecimento da língua portuguesa; habilitação para o exercício de atividade útil, na comunhão nacional; e razoável compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional (art. 9.º, Lei nº 6.001/73).
Porém deve-se deixar claro, que tais condições deveriam expressamente ser interpretadas a luz da Constituição, que rupturou com a ideologia integracionista, assegurando-se aos povos indígenas o direito de manterem seus costumes e identidade cultural, isso inclui que a manifestação da língua de seu povo, deve corresponder a sua língua primeira, materna. Conforme previsto no artigo 231 da Constituição, verbis: 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
Vale ressaltar que mesmo com algumas discordâncias a Constituição Federal expressamente conferiu legitimação processual plena aos índios[footnoteRef:2] em defesa de seus direitos e interesses, consoante o disposto no art. 232: [2: Termo ultrapassado, já que a com a convenção 169, e com um olhar antropológico conclui-se que o termo indígena é o correto, já que índio é relacionado à figura do homem branco, “pseudo”colonizador. ] 
Art. 232. “Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo."
Portanto, conclui-se que direito dado não é revogado. Deste modo, se há o reconhecimento por parte da Constituição Federal sobre a capacidade processual das comunidades indígenas, claro está que de fato deve haver à capacidade civil plena dos mesmos. 
Pelo exposto, conclui-se que a questão da capacidade civil dos índios atualmente deve ser entendida à luz da Constituição Federal que facilmente se sobrepõe aos dispositivos do Estatuto do Índio. 
De outro lado, caberia uma revisão e atualização da Lei nº 6.001/73 em vários aspectos, para que desta forma haja um equilíbrio harmônico com a atual ordem constitucional brasileira vigente.
A própria Constituição expressa princípios básicos relacionado diretamente a proteção da cultura indígena. Princípios como reconhecimento e proteção a organização social, incluindo os costumes, tradições a língua, matizes. Princípios de reconhecimento de direitos originários, igualdade de direitos, proteção da identidade e o princípio da máxima proteção aos índios, nascendo o in dubio pro indígena. 
Logo, considerar um indígena como relativamente incapaz, tal como o entendimento no Código Civil é reforçar e reafirmar a invisibilidade e a violência material e simbólica a qual desde os mais remotos tempos estes povos são submetidos. 
Mesmo com alguns avanços, cabe considerar a necessidade imprescindível de uma releitura dos direitos dos povos indígenas. Ser indígena não deve então ser encarado como algo transitório que prescinde da necessidade tutelar, essa é uma ótica negativa, que coloca o indígena como incapaz. 
É preciso aferir, aperfeiçoar mecanismos jurídicos a fim de que o ethos de uma comunidade indígena seja respeitado e fomentado, conferindo a estes povos autodeterminação, direito de autogoverna-se, socialmente, politicamente, abrangendo quesitos como a autoresponsabilidade, autoregulação e livre-arbítrio, como bem especificado no preâmbulo da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos que expressa “nada do disposto na presente Declaração poderá ser utilizado para negar a povo algum seu direito à autodeterminação, exercido em conformidade com o direito internacional.” 
Por fim, reforço a necessidade de um olhar decolonial para tratar da questão indígena, e como dito, este todo complexo vem carregado de ideologia e de falsa consciência, e quando se indica que estes povos não possuem capacidade plena de exercício, estamos mesmo frente aos avanços obtidos ressuscitando a lógica colonizadora, que via o indío como o “bom selvagem”.

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