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8 HISTOLOGIA DO ESTÔMAGO O estômago é uma parte expandida do tubo digestivo e recebe o bolo alimentar macerado do esôfago. A mistura e a digestão parcial do alimento pelas suas secreções gástricas produzem uma mistura líquida pastosa, quimo, que passa para o intestino delgado, em que ocorrem a digestão e absorção. A anatomia macroscópica subdivide o estômago em 4 regiões: cárdia circunda o orifício esofágico; fundo gástrico fica acima do nível de uma linha horizontal traçada através do óstio cárdico (orifício esofágico); corpo gástrico fica abaixo dessa linha; porção pilórica, a região em formato de funil que leva ao piloro (região distal estreita de esfíncter entre o estômago e o duodeno). É dividido, histologicamente, em 3 regiões, de acordo com o tipo de glândula encontrado na mucosa (não considera localização): - Região cárdica (cárdia): parte próxima ao óstio cárdico (orifício esofágico), que contém as glândulas cárdicas. - Região pilórica (piloro): parte proximal ao esfíncter pilórico, que contém as glândulas pilóricas - Região fúndica (fundo): maior parte do estômago, que está localizada entre a cárdia e o piloro e que contém as glândulas gástricas ou fúndicas. MUCOSA GÁSTRICA: estômago tem o mesmo plano estrutural geral em toda sua extensão e consiste em mucosa, submucosa, muscular externa e serosa. O exame da superfície interna do estômago vazio revela a existência de várias pregas submucosas ou cristas longitudinais, pregas gástricas, que são proeminentes nas regiões mais estreitas, mas pouco desenvolvidas na porção superior. Quando o estômago está totalmente distendido, as pregas gástricas, compostas de mucosa e submucosa subjacente, praticamente desaparecem. Elas não alteram a área de superfície total; servem apenas para acomodar a expansão e o enchimento do estômago. A superfície do estômago tem pequenas regiões da mucosa formadas por sulcos pouco profundos (proporcionam uma área ligeiramente aumentada de superfície para a secreção) que dividem ela em áreas irregulares abauladas, áreas mamilares. Com aumento maior, é possível observar numerosas aberturas na superfície da mucosa- fovéolas gástricas ou criptas gástricas. As glândulas gástricas abrem-se na base das fovéolas gástricas. As células mucosas da superfície revestem a superfície interna do estômago e as fovéolas gástricas, já o epitélio que as revestem é do tipo colunar simples. As células colunares são as células mucosas da superfície. Cada célula apical tem um formato de um grande cálice preenchido com grânulos de mucinogênio, criando um folheto de células glandulares. Esse cálice mucoso ocupa a maior parte do volume da célula, comumente aparece vazio em cortes de rotina corados pela hematoxilina e eosina (H&E), visto que o mucinogênio é perdido durante a fixação e a desidratação, casa ele seja preservado por meio de fixação apropriada, os grânulos coram-se intensamente com azul de toluidina (reflete a existência de numerosos grupos fortemente aniônicos na glicoproteína da mucina, como bicarbonato) e com reação do ácido periódico Schiff (PAS). O núcleo e o complexo de Golgi das células mucosas da superfície estão localizados abaixo do cálice mucoso. A parte basal da célula contém pequena quantidade de retículo endoplasmático rugoso (RER), que pode conferir uma discreta basofilia ao citoplasma quando observado em amostras bem preparadas. Mostra a junção entre o esôfago e o estômago. Na junção esofagogástrica, o epitélio estratificado pavimentoso do esôfago termina abruptamente e o revestimento da superfície continua com o epitélio simples colunar da mucosa gástrica. A superfície do estômago contém numerosas depressões relativamente profundas, fovéolas gástricas, que são formadas pelo epitélio superficial. As glândulas na vizinhança do esôfago, as glândulas cárdicas, estendem-se a partir da base dessas fovéolas ou criptas. De modo semelhante, as glândulas fúndicas (gástricas) surgem na base das fovéolas gástricas e são evidentes na parte remanescente da mucosa. Observe a muscular externa relativamente espessa 9 A secreção mucosa das células mucosas da superfície é descrita como muco, devido sua aparência turva. Ela forma uma cobertura gelatinosa espessa e viscosa, que adere à superfície epitelial, protegendo a célula contra a abrasão dos componentes mais ásperos do quimo. Além disso, a sua alta concentração de bicarbonato e de K protege o epitélio contra o conteúdo ácido do suco gástrico. O bicarbonato que forma o muco alcalino é secretado pelas células superficiais, mas não se mistura imediatamente com o conteúdo do lúmen gástrico, devido à sua contenção dentro do revestimento mucoso. Por fim, as prostaglandinas (PGE2) parecem desempenhar importante papel na proteção da mucosa gástrica, estimulando a secreção de bicarbonatos e aumentando a espessura da camada de muco por meio da vasodilatação na lâmina própria. Essa ação melhora o suprimento de nutrientes para qualquer área danificada da mucosa gástrica, otimizando as condições para a reparação tecidual. O revestimento do estômago não tem capacidade absortiva. No entanto, pode ocorrer absorção de parte da água, sais e fármacos lipossolúveis. Por exemplo, o álcool e certos fármacos (AINEs) entram na lâmina própria após danificar o epitélio de superfície. Até pequenas doses de AAS suprimem a produção das prostaglandinas protetoras pela mucosa gástrica. Além disso, o contato direto do ácido acetilsalicílico com a parede do estômago interfere nas propriedades hidrofóbicas da mucosa gástrica. Glândula gástrica. A. Mostra a mucosa fúndica de uma preparação com azul de alcian/PAS para identificar o muco. Observe que o epitélio superficial sofre invaginação para formar as fovéolas gástricas. As células mucosas da superfície e as células que revestem as fovéolas gástricas são facilmente identificadas nessa preparação, devido à coloração intensa do muco de natureza neutra dentro dessas células. Uma das fovéolas gástricas e sua glândula fúndica associada estão indicadas pelas linhas tracejadas. Essa é uma glândula tubular ramificada simples (setas indicam o padrão ramificado) que se estende da base da fovéola gástrica até a muscular da mucosa. Observe os segmentos que compõem a glândula: istmo curto, que é o local em que ocorrem as mitoses; colo relativamente longo; e um fundo mais curto e mais largo. A secreção mucosa das células mucosas do colo difere daquela produzida pelas células mucosas da superfície, conforme evidenciado pela coloração magenta mais clara nessa região da glândula. B. Diagrama esquemático de uma glândula gástrica, ilustrando a relação entre a glândula e a fovéola gástrica. Observe que a região do istmo contém células em divisão e células indiferenciadas; a região do colo contém células mucosas do colo, células parietais e células enteroendócrinas, incluindo células de captação e descarboxilação de precursores de aminas (células APUD). As células parietais são grandes células acidofílicas piriformes encontradas em toda a glândula. O fundo da glândula contém, em sua maior parte, células principais, algumas células parietais e vários tipos de células enteroendócrinas. 10 Glândulas fúndicas (gástricas): encontradas em toda mucosa, exceto em pequena região ocupada pelas glândulas cárdicas e pilóricas, são glândulas tubulares simples e ramificadas, que se estendem da base das fovéolas gástricas até a muscular da mucosa. Entre a fovéola gástrica e a glândula subjacente, há um curto segmento, o istmo. O istmo da glândula fúndica é o local em que estão as células-tronco (nicho de células-tronco), no qual essas células se replicam e se diferenciam. As células destinadas a se tornarem células mucosas da superfície migram para cima nas fovéolas gástricas até a superfície do estômago, outras migram para baixo, mantendo a população do epitélio glandular fúndico. Em geral, várias glândulas abrem-se em uma única fovéola gástrica. Cada glândulatem um segmento estreito e relativamente longo, o cólon, e uma base mais curta e mais larga, ou segmento fundo. A base da glândula costuma se dividir em 2 e, habitualmente, 3 ramos, que se tornam levemente espiralados próximo da muscular da mucosa. As células das glândulas gástricas produzem suco gástrico (em torno de 2 ℓ/dia), que contém uma variedade de substâncias. Além da água e dos eletrólitos, o suco gástrico contém 4 componentes principais: o Ácido clorídrico (HCl): em concentração que varia de 150 a 160 mmol/ℓ. Confere ao suco gástrico um pH baixo (< 1,0 a 2,0); é produzido pelas células parietais e inicia a digestão das proteínas da dieta (promove a hidrólise ácida dos substratos). Além disso, converte o pepsinogênio inativo na enzima pepsina ativa. Como o HCl é bacteriostático, as bactérias que entram no estômago com o alimento ingerido são, em sua maioria, destruídas, mas algumas podem adaptar-se ao pH baixo do conteúdo gástrico. O H. pylori contém grandes quantidades de uréase (seu citoplasma e na sua membrana plasmática), a enzima que hidrolisa a ureia e altamente ativa cria uma “nuvem de amônia” básica protetora ao redor da bactéria, possibilitando a sua sobrevida no ambiente ácido do estômago. o Pepsina: enzima proteolítica potente; é convertida a partir do pepsinogênio produzido pelas células parietais pelo HCl, em um pH < 5. A pepsina hidrolisa proteínas em pequenos peptídios, clivando as ligações peptídicas internas. Os peptídios são ainda digeridos em aminoácidos por enzimas presentes no intestino delgado o Muco: revestimento protetor contra o ácido para o estômago, secretado por vários tipos de células produtoras de muco. O muco e os bicarbonatos retidos dentro da camada mucosa mantêm um pH neutro e contribuem para a barreira fisiológica da mucosa gástrica. Além disso, atua como barreira física entre as células da mucosa gástrica e o material ingerido no lúmen do estômago o Fator intrínseco: glicoproteína secretada pelas células parietais, que se liga à vitamina B12. É essencial para a absorção da vitamina, que ocorre na porção distal do íleo; sua ausência leva ao desenvolvimento de anemia perniciosa e deficiência de vitamina B12. Além disso, a gastrina e outros hormônios e secreções semelhantes a hormônios são produzidos pelas células enteroendócrinas nas glândulas fúndicas e secretados na lâmina própria, onde penetram na circulação ou atuam localmente sobre outras células epiteliais gástricas. As glândulas fúndicas são compostas de 4 tipos de células funcionalmente diferentes, cada uma delas tem uma aparência distinta, além da existência de células indiferenciadas, que dão origem a essas células. As diversas células são: mucosas do cólon; principais; parietais (oxínticas); enteroendócrinas e células-tronco adultas indiferenciadas. • Células mucosas do cólon estão localizadas na região do cólon da glândula e estão entremeadas com células parietais, é muito mais curta que a célula mucosa da superfície e contém uma quantidade de mucinogênio consideravelmente menor no citoplasma apical. Em consequência, essas células não exibem um cálice mucoso proeminente. Além disso, o núcleo tende a ser esférico, em comparação com o núcleo alongado e mais proeminente da célula mucosa da superfície. Elas secretam muco solúvel menos alcalino, em comparação com o muco insolúvel ou turvo altamente alcalino produzido pelas células mucosas da superfície. A liberação de grânulos de mucinogênio é induzida por estimulação vagal; por conseguinte, a secreção dessas células não ocorre no estômago em repouso. Essas células mucosas do cólon diferenciam-- se a partir de células-tronco, que residem na região do cólon da glândula fúndica. São consideradas como precursores imaturos das células mucosas superficiais. • Células principais estão localizadas na parte mais profunda das glândulas, são células típicas secretoras de proteínas. A quantidade abundante de RER no citoplasma basal confere a essa parte da célula uma aparência basófila, enquanto o citoplasma apical é eosinófilo, devido à existência das vesículas secretoras (grânulos de zimogênio), uma vez que contêm precursores enzimáticos. A basofilia possibilita a identificação fácil dessas células em cortes corados pela H&E. A eosinofilia pode ser fraca ou ausente quando as vesículas secretoras não são adequadamente preservadas. Secretam pepsinogênio e uma lipase fraca. Em contato com o suco gástrico ácido, o pepsinogênio é convertido em pepsina, uma enzima proteolítica. 11 • Células parietais (oxínticas): são encontradas no colo das glândulas fúndicas, entre as células mucosas do colo e a parte mais profunda da glândula, secretam HCl e fator intrínseco. Essas células tendem a ser mais numerosas nas porções superior e média do colo. Trata-se de células grandes, algumas vezes binucleadas, que aparecem ligeiramente triangulares nos cortes, com o ápice dirigido para o lúmen da glândula, e a base repousando sobre a lâmina basal. O núcleo é esférico e o citoplasma cora-se com eosina e outros corantes ácidos. São facilmente distinguidas de outras células presentes nas glândulas fúndicas. As células parietais, quando examinadas com microscópio eletrônico de transmissão (MET), verifica-se que tem um sistema canalicular intracelular extenso, que se comunica com o lúmen da glândula. Numerosas microvilosidades projetam- se a partir da superfície dos canalículos, e observa-se a existência de um sistema de membranas tubulovesiculares elaborado no citoplasma adjacente aos canalículos. Em uma célula com secreção ativa, o número de microvilosidades nos canalículos aumenta, e o sistema tubulovesicular é significativamente reduzido ou desaparece. As membranas do sistema tubulovesicular atuam como reservatório da membrana plasmática contendo bombas de prótons ativas. Esse material de membrana pode ser inserido na membrana plasmática dos canalículos para aumentar a sua área de superfície e o número de bombas de prótons disponíveis para a produção de ácido. Numerosas mitocôndrias com cristas complexas e muitos grânulos da matriz fornecem os altos níveis de energia necessários para a secreção ácida. O HCl é produzido no lúmen dos canalículos intracelulares. As células parietais contêm 3 tipos diferentes de receptores de membrana para as substâncias que ativam a secreção de HCl: os receptores de gastrina, os receptores de histamina H2 e os receptores de acetilcolina M3. A ativação do receptor de gastrina pela gastrina, um hormônio peptídico GI, constitui a principal via para a estimulação das células parietais. Após estimulação, ocorrem várias etapas na produção de HCl: o Produção de íons H+ no citoplasma das células parietais pela enzima anidrase carbônica, que hidrolisa o ácido carbônico (H2CO3) a H+ e HCO3–. O dióxido de carbono (CO2), que é necessário para a síntese de ácido carbônico, difunde-se através da membrana basal para dentro da célula a partir dos capilares sanguíneos presentes na lâmina própria. o Transporte de íons H+ a partir do citoplasma, através da membrana, para o lúmen dos canalículos pela bomba de prótons H+ /H+ ATPase. Simultaneamente, o K+ do canalículo é transportado para dentro do citoplasma da célula, em troca dos íons H+ o Transporte de íons K+ e Cl– do citoplasma das células parietais para o lúmen dos canalículos por meio da ativação dos canais de K+ e Cl– (unitransportadores) na membrana plasmática o Formação de HCl a partir de H+ e Cl– que foram transportados para dentro do lúmen do canalículo. Nos humanos, o fator intrínseco é secretado pelas células parietais, por estimulação dos mesmos receptores que estimulam a secreção de ácido gástrico. O fator intrínseco é uma glicoproteína, que forma um complexo com a vitamina B12 no estômago e no duodeno, uma etapa necessária para a absorção subsequente da vitamina no íleo. Os autoanticorpos dirigidos contra o fator intrínseco ou contra as células parietais levam a uma deficiência de fatorintrínseco, resultando em má absorção de vitamina B12 e desenvolvimento de anemia perniciosa. • Células enteroendócrinas: secretam seus produtos na lâmina própria ou nos vasos sanguíneos subjacentes e são encontradas em todos os níveis da glândula fúndica, embora tenham tendência a ser ligeiramente mais prevalentes na base. Em geral, podem ser distinguidos 2 tipos de células enteroendócrinas no trato GI. A maioria representa pequenas células que repousam sobre a lâmina basal e que nem sempre alcançam o lúmen; conhecidas como células enteroendócrinas “fechadas”. No entanto, algumas exibem uma fina extensão citoplasmática contendo microvilosidades expostas ao lúmen da glândula; células enteroendócrinas “abertas”. Atualmente, sabe-se que as células abertas atuam como quimiorreceptores primários que coletam o conteúdo do lúmen da glândula e liberam hormônios com base nas informações obtidas a partir dessas amostras. Os receptores do paladar, semelhantes aos encontrados nos botões gustativos da mucosa oral especializada, detectam as sensações dos sabores doce, amargo e umami e, atualmente, foram caracterizados na superfície livre das células enteroendócrinas abertas. Pertencem às famílias T1R e T2R de receptores acoplados à proteína G. Contudo, a secreção das células fechadas é regulada pelo conteúdo luminal indiretamente por intermédio de mecanismos neurais e parácrinos. As eletromicrografias revelam pequenas vesículas secretoras envolvidas por membrana em todo citoplasma; no entanto, as vesículas são geralmente perdidas nas preparações coradas pela H&E, e o citoplasma aparece claro, devido à ausência de material corável suficiente. Embora seja frequentemente difícil identificar essas células, em virtude de seu pequeno tamanho e da falta de coloração distinta, o citoplasma claro da célula às vezes contrasta com as células principais e parietais adjacentes, possibilitando, assim, o seu fácil reconhecimento. Os nomes dados às células enteroendócrinas na literatura mais antiga tiveram como base sua impregnação com sais de prata e cromo (células enterocromafins, células argentafins e células argirofílicas). Atualmente, essas células são identificadas e caracterizadas pela sua coloração imunoquímica para mais de 20 hormônios peptídicos e polipeptídicos e agentes reguladores semelhantes a hormônios que elas secretam. Com a ajuda do MET, pelo menos 17 tipos diferentes de células enteroendócrinas foram descritos, com base no tamanho, no formato e na densidade de suas vesículas secretoras. Glândulas cárdicas: são limitadas a uma região estreita do estômago (cárdia) que circunda o orifício esofágico. A sua secreção, em combinação com a das glândulas cárdicas esofágicas, contribui para a composição do suco gástrico e ajuda a proteger o epitélio esofágico contra o refluxo gástrico. As glândulas são tubulares, ligeiramente tortuosas e, em certas ocasiões, ramificadas. São compostas principalmente de células secretoras de muco, entremeadas ocasionalmente com células enteroendócrinas. A morfologia das células secretoras de muco assemelha-se à das células das glândulas cárdicas esofágicas. Apresentam um núcleo basal achatado e um citoplasma apical, que geralmente é preenchido com grânulos de mucina. Um segmento ductal curto contendo células colunares com núcleos alongados é interposto entre a porção secretora da glândula e as criptas superficiais dentro das quais as glândulas secretam o seu produto. O segmento ductal constitui o local em que as células mucosas da superfície e as células glandulares são produzidas. 12 Glândulas pilóricas: suas células assemelham-se às células mucosas da superfície e ajudam a proteger a mucosa pilórica; estão localizadas no antro pilórico; são glândulas tubulares espiraladas e ramificadas. O lúmen é relativamente amplo, e as células secretoras são morfologicamente semelhantes às células mucosas da superfície, sugerindo secreção relativamente viscosa. As células enteroendócrinas são encontradas entremeadas no epitélio glandular, juntamente com algumas células parietais esparsas. As glândulas abrem-se nas fovéolas gástricas profundas que ocupam cerca da metade da espessura da mucosa. Renovação das células epiteliais no estomago: células mucosas da superfície sofrem renovação aproximadamente a cada 3 a 5 dias, esse tempo de vida relativamente curto é equilibrado pela atividade mitótica observada no istmo (segmento estreito situado entre a fovéola gástrica e a glândula fúndica). O istmo da glândula fúndica contém um reservatório de células-tronco que tem atividade mitótica, proporcionando uma renovação celular contínua. As células produzidas nesse local tornam-se, em sua maioria, células mucosas da superfície. Migram ao longo da parede da fovéola até a superfície luminal do estômago, de onde são finalmente liberadas no lúmen do órgão. As células das glândulas fúndicas apresentam um ciclo de vida relativamente longo. Outras células do istmo migram para a porção inferior das glândulas gástricas, dando origem às células parietais, às células principais, às células glandulares mucosas e às células enteroendócrinas que constituem o epitélio glandular. Essas células têm tempo de vida relativamente longo. As células parietais têm o maior tempo de sobrevida, cerca de 150 a 200 dias, embora se desenvolvam a partir das mesmas células-tronco indiferenciadas, o seu tempo de vida é nitidamente diferente. Recentemente, foi aventada a hipótese de que elas podem ter sido originadas do fungo Neurospora crassa, que existia previamente em simbiose com as células do estômago humano. Os fundamentos para essa hipótese são de que a bomba de prótons humana encontrada nas células parietais exibe forte semelhança genética com as bombas de prótons encontradas nesse microrganismo. Acredita-se que o DNA fúngico tenha sido translocado e subsequentemente incorporado ao núcleo das células-tronco, provavelmente com ajuda de um vírus. As células principais e enteroendócrinas têm estimativa de vida de aproximadamente 60 a 90 dias. Após esse período, são substituídas por novas células que migram do istmo. Por outro lado, as células mucosas do colo apresentam um tempo de sobrevida muito mais curto, cerca de 6 dias. LAMINA PRÓPRIA E MUSCULAR DA MUCOSA: lâmina própria do estômago é relativamente escassa e restrita aos espaços que circundam as fovéolas gástricas e glândulas gástricas. O estroma é composto, em grande parte, de fibras reticulares, fibroblastos e células musculares lisas. Outros componentes incluem células do sistema imune (linfócitos, plasmócitos, macrófagos e alguns eosinófilos). Durante os processos inflamatórios, o nº de neutrófilos também aumenta. Alguns nódulos linfáticos também estão presentes e, em geral, penetram apenas parcialmente na muscular da mucosa. A muscular da mucosa é composta de 2 camadas relativamente finas, geralmente dispostas em uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa. Em algumas regiões, observa-se uma 3ª camada, cuja orientação tende a ser circular. Finos prolongamentos de células musculares lisas estendem-se na lâmina própria a partir da camada interna da muscular da mucosa, em direção à superfície. Acredita-se que essas células musculares lisas possam auxiliar no efluxo das secreções das glândulas gástricas. 13 SUBMUCOSA GÁSTRICA: composta de um tecido conjuntivo denso contendo quantidades variáveis de tecido adiposo e vasos sanguíneos, bem como fibras nervosas e células ganglionares que compõem o plexo submucoso (de Meissner). Este último inerva os vasos da submucosa e o músculo liso da muscular da mucosa. MUSCULAR EXTERNA: tradicionalmente descrita como constituída de uma camada longitudinal externa, uma camada circular média e uma camada oblíqua interna. Essa descrição, pode não ser precisa, uma vez que pode ser difícil discernir com precisão essas camadas. Assim como em outros órgãos esféricos ocos (bexiga e útero), a orientação do músculo lisoda muscular externa do estômago é mais aleatória e não forma propriamente uma camada. Além disso, a camada longitudinal é ausente em grande parte das superfícies anterior e posterior do estômago, e a camada circular é pouco desenvolvida na região periesofágica. O arranjo das camadas musculares é funcionalmente importante, já que está relacionado com sua atividade de misturar o quimo durante o processo digestivo, com sua capacidade de forçar o conteúdo parcialmente digerido para dentro do intestino delgado. Entre as camadas musculares, são vistos grupos de células ganglionares e feixes de fibras nervosas não mielinizadas. Em seu conjunto, constituem o plexo mioentérico (de Auerbach), que fornece inervação para as camadas musculares. SEROSA GÁSTRICA: semelhante à descrita anteriormente para o canal alimentar em geral. É contínua com o peritônio parietal da cavidade abdominal por meio do omento maior, e com o peritônio visceral do fígado, no omento menor. Nos demais aspectos, a serosa não exibe nenhuma característica especial. 14 GASTRITE Doença inflamatória do revestimento do estômago associada à lesão da mucosa gástrica, caracterizada por alterações histológicas no revestimento do estômago, onde se observa infiltrado leucocitário inflamatório, que pode ou não estar associado a alterações do aspecto endoscópico. Representa a resposta do estômago a uma agressão. Quando células inflamatórias são 15 raras ou estão ausentes, o termo gastropatia é aplicado; ele inclui um conjunto diverso de distúrbios, marcado por lesão ou disfunção gástrica, indica lesão da mucosa gástrica, com injuria e regeneração epitelial, edema e vasodilatação, não acompanhados de infiltrado leucocitário. Diversas classificações foram criadas na tentativa de agrupar e distinguir as diferentes formas de gastrite, levando-se em conta seus aspectos clínicos e etiopatogênicos. Hoje, as gastrites são classificadas com base no tempo de instalação (aguda ou crônica), histopatologia (gastrite superficial ou atrófica ou gastropatia) e etiologia. O Sistema Sydney Atualizado reconhece três modelos morfológicos: gastrite aguda, gastrite crônica e formas especiais. GASTRITE AGUDA: processo inflamatório transitório da mucosa que pode ser assintomático ou provocar graus variáveis de dor epigástrica, náuseas e vômitos (casos leves). O diagnóstico baseia-se em infiltrado inflamatório da mucosa predominantemente de neutrófilos, sendo mínimo, se houver, o aumento de linfócitos e plasmócitos. GASTRITE CRÔNICA: há aumento de linfócitos e plasmócitos no interior da lâmina própria, não acompanhados de modelos organizados reconhecíveis como uma “forma especial”. A atividade da gastrite crônica é dada pelo infiltrado de linfocitário que pode acompanhá-la na lâmina própria, criptas gástricas e epitélio superficial. A causa mais comum é a infecção com o bacilo H. pylori. A gastrite autoimune (causa mais comum de gastrite atrófica) representa menos de 10% dos casos de gastrite crónica e é a forma mais comum de gastrite crônica em pacientes sem infecção pelo H. pylori. As causas menos comuns incluem danos causados pela radiação e refluxo biliar crônico. FORMAS ESPECIAIS: contém uma variedade de entidades nas quais o epitélio ou o infiltrado inflamatório tem um modelo reconhecido, com implicações clínicas ou patogênicas estabelecidas, embora seja desconhecida a etiologia exata. Pode ser a manifestação gástrica de uma doença sistêmica. PATOGENIA A luz gástrica é fortemente ácida, com pH próximo de 1. Esse ambiente hostil contribui para a digestão, mas tem potencial de danificar a mucosa. Múltiplos mecanismos evoluíram para proteger a mucosa gástrica. A mucina secretada pelas células foveolares da superfície forma camada fina de muco impedindo que partículas de alimentos toquem diretamente o epitélio, além de promover a formação de uma camada “imperturbável” de líquido sobre o epitélio que protege a mucosa e tem pH neutro como resultado de secreção de íon de bicarbonato por células epiteliais da superfície. Finalmente, o rico suprimento vascular para a mucosa gástrica fornece O2, bicarbonato e nutrientes, enquanto lava o ácido que difundiu de volta em direção à lâmina própria. A gastrite aguda ou crônica pode ocorrer depois da ruptura de qualquer um desses mecanismos de proteção. • AINEs inibem a síntese de prostaglandinas E2 e I2 dependente da COX, as quais estimulam quase todos os mecanismos de defesa relatados, incluindo o muco, o bicarbonato e a secreção de fosfolipídios, fluxo sanguíneo da mucosa e restituição epitelial, enquanto reduz a secreção de ácido. Apesar de a COX-1 ter um papel mais importante do que a COX-2, ambas as isoenzimas contribuem para a proteção da mucosa. Portanto, enquanto o risco de lesão gástrica induzida por AINE é maior com inibidores não seletivos, como por exemplo a aspirina, ibuprofeno e naproxeno, a inibição de COX-2 seletiva, como no caso do celecoxibe, também pode resultar em gastropatia ou gastrite. • A lesão gástrica que ocorre nos pacientes urêmicos e nos infectados com H. pylori secretor de urease pode ser decorrente da inibição dos transportadores gástricos de bicarbonato pelos íons amônio. • A redução da secreção de mucina e de bicarbonato tem sido sugerida como um fator que explica o aumento da suscetibilidade de adultos mais velhos em relação à gastrite. • Queda na liberação de O2 pode concorrer para uma incidência aumentada de gastrite aguda em altas atitudes. A ingestão de químicos agressivos, particularmente ácidos ou bases, tanto acidentalmente quanto por uma tentativa de suicídio, também resulta em lesão gástrica grave, predominantemente como resultado da lesão direta da mucosa epitelial e das células estromais. Danos celulares diretos também contribuem para a gastrite induzida pelo consumo excessivo de álcool, AINEs, terapia radioativa e quimioterapia. Agentes que inibem a síntese de DNA ou o aparelho mitótico, incluindo os utilizados na quimioterapia, podem causar danos generalizados na mucosa devido à renovação epitelial insuficiente. GASTRITE AGUDA: Por H.Pylori: afeta 2/3 da população e é um dos distúrbios inflamatórios crônicos mais comuns, geralmente adquirida na infância. Sua prevalência tem caído nos países desenvolvidos, sendo inversamente proporcional ao nível socioeconômico. A maioria dos pacientes com infecção por H. pylori tem características de gastrite aguda e crônica. Adquirido por VO, o microrganismo penetra na camada de muco e se multiplica em contato íntimo com as células epiteliais do estômago. O epitélio responde com depleção de mucina, esfoliação celular e alterações regenerativas sinciciais. As bactérias liberam diferentes agentes quimiotáticos que penetram através do epitélio lesado e induzem a migração de polimorfonucleares para a lâmina própria e epitélio. Os produtos bacterianos também ativam os mastócitos e, através de sua degranulação, há liberação de outros ativadores inflamatórios que aumentam a permeabilidade vascular, a expressão de moléculas de adesão de leucócitos nas células endoteliais e também contribuem para uma maior migração de leucócitos. O H. pylori estimula o epitélio gástrico a produzir uma potente citocina, a IL-8, cuja produção é potencializada pelo TNF e pela IL-1 liberados pelos macrófagos em resposta à lipopolissacáride bacteriana. Ocorre pronunciada hipocloridria e ausência de 16 secreção de ácido ascórbico para o suco gástrico. A secreção ácida retorna ao normal após várias semanas, e a secreção de ácido ascórbico para o suco gástrico persiste reduzida enquanto durar a gastrite crônica. Esta fase aguda é de curta duração. Com exceção de algumas crianças que eliminam espontaneamente a bactéria, a resposta imune é incapaz de eliminar a infecção e, após 3 a 4 semanas, ocorre um gradual aumento de células inflamatórias crônicas. Como consequência, a gastrite neutrofílica aguda dá lugar a uma gastriteativa crônica. Resumindo, após adquirir a bactéria, a inflamação aguda inicial pelo H. pylori afeta todo estômago (pangastrite aguda superficial), que pode ser totalmente assintomática ou se apresentar com dispepsia; isso pode ser responsável pela hipocloridria que ocorre logo após a infecção, a qual permite colonização maior da mucosa do corpo pelo H. pylori e a retenção da virulência. A seguir, ocorre uma redução gradual da densidade bacteriana no corpo devido o desenvolvimento da resposta imune, restabelecendo a função da célula parietal, no histopatológico há gastrite neutrofílica. O quadro evolui com resolução espontânea dentro de alguns dias ou semanas, porém, na maioria das vezes a bactéria não desaparece. A partir daí 3 evoluções são possíveis: gastriste crônica leve, pangastrite crônica atrófica e gastrite antral difusa. O agente determina inflamação superficial da mucosa gástrica (gastrite superficial) envolvendo mucosa e poupando glândulas, porém pode evoluir para atrofia das glândulas parietais (gastrite atrófica). • Gastrite aguda por H.pylori: semanas após a aquisição da bactéria desenvolve uma pangastrite aguda superficial que pode ser assintomática ou manifestar uma dispepsia. O histopatológico revela gastrite neutrofílica. • Gastrite crônica antral por H.pylori: casos não tratados de H. pylori a desenvolvem. Predomina no antro, forma hipercloridria e biópsia revela infiltrado inflamatório mononuclear (linfócitos). Obs: o achado de folículos linfáticos (tecidos do MALT) é praticamente patognomônico da gastrite crônica por H.pylori. Risco para desenvolvimento de úlcera duodenal. • Pangastrite: com o tempo a infecção atinge o fundo do estômago com ilhas de atrofia, devido a isso forma-se hipocloridria. Os folículos linfáticos também estão presentes. • TTT: não é rotineira a erradicação do H.pylori nos pacientes com gastrite, pois a gastrite melhora, mas não os sintomas dispépticos. Flegmonosa aguda: entidade rara, às vezes presente em pacientes pediátricos, que se caracteriza por infecção bacteriana da muscularis mucosa e submucosa do estômago, com infiltração de células plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares. Na maioria dos casos descritos, a inflamação não ultrapassa o cárdia e o piloro, sendo a mucosa gástrica relativamente pouco acometida. O quadro costuma se instalar como complicação de doença sistêmica ou septicemia (empiema, meningite e outras). Quando causada por agentes formadores de gás, é denominada gastrite enfisematosa. Na maioria dos casos descritos, foram isolados germes gram-positivos, especialmente Streptococcus spp. Gastrite aguda hemorrágica (LAMGD): pode ser secundária ao uso de corticosteroides, álcool, AINES, e em situações clínicas (choque, trauma, queimaduras, septicemia, outras). Histologicamente, independentemente da causa (álcool, drogas ou eventos estressantes), o quadro acomete todo o estômago, para, a seguir, predominar no antro e duodeno. As lesões agudas da mucosa gastroduodenal ou úlceras de estresse se iniciam nas primeiras horas após grandes traumas ou doenças sistêmicas graves e acometem as regiões proximais do estômago. São caracterizadas por múltiplas lesões hemorrágicas, puntiformes, associadas a alterações da superfície epitelial e edema. A sua patogenia não é bem conhecida, sendo os mecanismos mais aceitos os relacionados com alterações nos mecanismos defensivos da mucosa gastroduodenal. GASTRITE CRÔNICA Por H. Pylori: H. pylori são bacilos em forma de espiral. A infecção por H. pylori não produz sintomas suficientes para que haja um alerta para cuidados médicos, na maioria dos casos; é a gastrite crônica que, por fim, faz com que o indivíduo busque tratamento. Organismos H. pylori estão presentes em 90% dos indivíduos com gastrite crônica que afeta o antro. Apresenta-se, frequentemente, como gastrite predominantemente antral, com produção de ácido normal ou elevada. A produção de gastrina local pode ser aumentada, mas a hipergastrinemia (aumento do seu nível sérico) é rara. Quando a inflamação permanece limitada ao antro, o aumento da produção de ácido resulta em risco maior de úlcera péptica duodenal. Em outros, a gastrite progride para envolver o corpo gástrico e o fundo. Essa gastrite atrófica multifocal está associada a placas de atrofia da mucosa, redução da massa de células parietais e da secreção de ácido, metaplasia intestinal e risco aumentado de adenocarcinoma gástrico. Dessa forma, há um relacionamento inverso entre a úlcera duodenal e o adenocarcinoma gástrico, o qual se correlaciona com o padrão da gastrite. Os organismos H. pylori se adaptaram ao nicho ecológico fornecido pelo muco gástrico. Sua virulência está relacionada aos fatores: - Flagelos, os quais permitem que a bactéria seja móvel no muco viscoso. - Urease, que gera amônia da ureia endógena, elevando o pH gástrico local e aumenta a taxa de sobrevivência bacteriana. - Adesinas, que acentuam a aderência bacteriana à superfície das células foveolares. - Toxinas, como o gene A associado à citotoxina (CagA), que pode estar envolvido na progressão da doença. A variação neste e em outros fatores bacterianos está fortemente relacionada ao resultado. Por exemplo, o gene CagA e as ilhas de patogenicidade de 20 genes estão presentes em 50% de todos os isolados de H. pylori, mas 90% dos isolados de H. pylori são encontrados em populações com risco de CA gástrico elevado. Isso pode ocorrer devido às cepas expressando CagA, que podem efetivamente colonizar o corpo gástrico e causar a gastrite atrófica multifocal. Fatores do hospedeiro também têm um papel importante na infecção por H. pylori. Polimorfismos genéticos, que resultam no aumento da expressão do TNF, de citocinas pró-inflamatórias e IL-1β, ou a queda de expressão da citocina anti-inflamatória IL-10, estão associados ao desenvolvimento de pangastrite, atrofia e câncer gástrico. A rota da gastrite por H. pylori é, dessa forma, o resultado da interação entre as defesas das mucosas gastroduodenais, respostas inflamatórias e fatores de virulência bacteriana. 17 Em suma, a gastrite crônica leve representa o fenótipo mais comum, cursando de forma assintomática e sem repercussão clinica no futuro. A gastrite antral difusa (15% dos casos) se associa à HIPERcloridria e à ulcera péptica duodenal, decorrente do dano seletivo das células D do antro, secretoras de somatostatina, o que suprime o feedback negativo deste hormônio sobre as células G, secretoras de gastrina (hipergastrinemia estimula a secreção ácida do corpo e do fundo gástrico, os quais se encontram livres da doença nesta forma). Na pangastrite atrófica há destruição e atrofia das glândulas oxínticas do corpo e do fundo gástrico, gerando HIPOcloridria. Tal fenótipo se associa às ulceras gástricas, à metaplasia intestinal (lesão precursora do adenocarcinoma) e à hiperestimulação do tecido linfoide associado a mucosa. Independente da evolução, o histopatológico revela gastrite linfocítica. A sequência infecção pelo H. pylori → gastrite crônica → atrofia glandular → metaplasia intestinal constitui um conjunto de alterações associativas muito frequentemente desencadeado pela infecção pelo H. pylori ou tendo como passo inicial essa infecção. Embora a progressão da atrofia e da metaplasia, associadas ao H. pylori, possa trazer outras consequências fisiopatológicas (úlcera péptica e desenvolvimento do CA gástrico). A mais importante é o adenocarcinoma tipo intestinal que poderia ser colocado como a etapa final da sequência evolutiva, em nº significativo de pacientes. Logo, atrofia glandular e metaplasia intestinal são consideradas como corresponsáveis pelo CA gástrico do tipo intestinal, há controvérsias na literatura acerca do grau de importância de cada uma. Essa bactéria coloniza a mucosa gástrica com mínima competição por parte de outros microrganismos e parece estar particularmente adaptada a esse ambiente. Embora a presença do H. pylori evoque respostaimune local e sistêmica, a infecção, uma vez adquirida, persiste para sempre, sendo raramente eliminada espontaneamente. Mais ainda, é sempre acompanhada por gastrite histológica, de intensidade variável. O antro é tipicamente a 1ª região acometida, podendo às vezes predominar o comprometimento do corpo ou a pangastrite. A distribuição do H. pylori no estômago é importante, pois parece ser um indicador do padrão de evolução da gastrite. Assim, indivíduos com gastrite predominantemente antral terão secreção gástrica normal ou elevada graças à manutenção de mucosa oxíntica íntegra e poderão ter um risco aumentado para úlcera duodenal. Indivíduos com gastrite acometendo predominante o corpo do estômago terão secreção ácida reduzida em consequência da destruição progressiva da mucosa oxíntica. Histologicamente, há mistura de gastrite crônica superficial e alterações atróficas com tendências a progredir com os anos, podendo ter desenvolvimento de metaplasia intestinal. Gastrite autoimune ou tipo A: acomete corpo e fundo gástricos, raramente atingindo o antro. Caracteriza-se por uma atrofia seletiva, parcial ou completa, das glândulas gástricas no corpo e fundo do estômago, ocorrendo uma substituição, parcial ou completa, das células superficiais normais por mucosa tipo intestinal (metaplasia intestinal). A mucosa antral, por quase não ser acometida, mantém sua estrutura glandular normal e apresenta células endócrinas hiperplásticas. Funcionalmente, a atrofia das glândulas gástricas do corpo se associa com hipocloridria (atrofia parcial) ou, em casos avançados, acloridria, secundária à redução da massa de células parietais; paralelamente, há um decréscimo também na secreção de fator intrínseco, podendo ocasionar a redução da absorção de vitamina B12 e o aparecimento de manifestações clínicas da anemia perniciosa. A preservação funcional da mucosa antral resulta em estimulação constante das células G com hipergastrinemia. A gastrite autoimune é caracterizada por: - Anticorpos para células parietais e fatores intrínsecos que podem ser detectados (soro e secreções) - Concentração sérica de pepsinogênio I reduzida. - Hiperplasia de células endócrinas. - Secreção alterada de ácido gástrico (acloridria). - Deficiência de vitamina B12 Associada à perda de células parietais, as quais são responsáveis pela secreção de ácido gástrico e fator intrínseco. A ausência da produção de ácido estimula a liberação de gastrina, resultando na hipergastrinemia e hiperplasia das células G antrais, produtoras de gastrina. A falta do fator intrínseco impede a absorção ileal de vitamina B12, levando sua deficiência e anemia megaloblástica de início lento (anemia perniciosa). A reduzida concentração sérica de pepsinogênio I resulta da destruição de células principais. Apesar da infecção por H. pylori poder causa atrofia gástrica e hipocloridria, ela não está associada à acloridria ou anemia perniciosa. Isto ocorre porque, diferentemente da atrofia difusa da gastrite autoimune, os danos da gastrite por H. pylori são multifocais e deixam áreas de células principais e parietais residuais. As células T CD4+ direcionadas contra os componentes da célula parietal, incluindo a H +,K + -ATPase, são consideradas as principais agentes das lesões. Não há evidência de reação autoimune às células principais, sugerindo que estas podem ter sido perdidas em virtude da destruição das glândulas gástricas durante o ataque autoimune às células parietais. Se a destruição autoimune for controlada pela imunossupressão, as glândulas podem repovoar-se, demonstrando que as células-tronco gástricas sobrevivem e são capazes de se diferenciar em células parietais e principais. Os anticorpos aos componentes das células parietais, mais proeminentemente a bomba de próton, além do fator intrínseco, estão presentes em até 80% dos pacientes com gastrite autoimune. Acredita-se que eles não são patogênicos. Todavia, a presença destes anticorpos é uma ferramenta útil para o diagnóstico. Gastrite Química ou tipo C: engloba os achados observados no refluxo biliar, em associação com certas drogas ou sem relação causal evidente, porém com aspectos histológicos comuns, constando de hiperplasia foveolar, edema, vasodilatação, fibrose ocasional e escassez de componente inflamatório. Pode ser associada ao refluxo biliar, o refluxo enterogástrico é comum após procedimentos de ressecção gástrica, independentemente do tipo de reconstituição do trânsito empregada. Gastrite eosinofílica: afecção rara caracterizada por infiltrado eosinofílico denso na parede do estômago e intestino delgado. Embora sua etiologia seja desconhecida, fatores alérgicos, alimentares e a presença de parasitos têm sido considerados. Três formas de apresentação são descritas, considerando a intensidade e localização do infiltrado: acometimento predominante da mucosa, da parede muscular ou da serosa. Nas formas de acometimento mucoso predominante, o antro é mais frequentemente acometido e, endoscopicamente, as pregas estão espessadas, podendo haver nodosidades, ulcerações ou pólipos gástricos contendo agregados de eosinófilos e linfócitos. Gastrite linfocítica ou varioliforme: afeta preferencialmente mulheres e produz sintomas abdominais não específicos. É idiopática, mas cerca de 40% dos casos são associados a doença celíaca, sugerindo patogenia mediada pela imunidade. Caracteriza-se por aumento do número de linfócitos intraepiteliais (T CD8+) na mucosa antral e/ou oxíntica, mais frequentemente na última 18 Granulomatosa: caracteriza pela presença de infiltrado granulomatoso. Funcionalmente, o granuloma representa uma reação inflamatória localizada em resposta a inúmeros fatores desencadeantes, muitas vezes de etiologia não definida (tipo corpo estranho; secundário a infecções ou a neoplasias, outras) Gastropatia hipertrófica (doença de Ménétrier): constitui uma entidade específica, de origem obscura caracterizada pela tríade de pregas gigantes no corpo e fundo gástricos, hipoalbuminemia secundária à gastropatia perdedora de proteínas e quadro histológico de hiperplasia foveolar com atrofia glandular, dilatação cística e espessamento da mucosa. MORFOLOGIA GASTRITE AGUDA: histologicamente, a gastrite aguda leve pode ser difícil de reconhecer, uma vez que a lâmina própria exibe apenas edema moderado e congestão vascular discreta. O epitélio da superfície está íntegro, embora possa haver presença de neutrófilos dispersos. Linfócitos da lâmina própria e células plasmáticas não são proeminentes. Histologicamente, independentemente da causa (álcool, drogas ou estresse), o quadro acomete todo o estômago, para, a seguir, predominar no antro e duodeno. As alterações histológicas se localizam apenas em áreas imediatamente adjacentes às lesões e se caracterizam, na zona subepitelial, por edema difuso da lâmina própria, congestão capilar e diferentes graus de hemorragia intersticial. Erosões podem ou não estar presentes, já que são rapidamente reparadas. A presença de neutrófilos acima da membrana basal (especificamente, em contato direto com as células epiteliais) é anormal em todas as partes do trato GI e significa inflamação ativa. Com danos à mucosa mais graves, a erosão, ou perda do epitélio superficial, pode ocorrer, levando à formação de infiltrados neutrofílicos nas mucosas e exsudatos purulentos. Também pode ocorrer hemorragia, que se manifesta como pontos escuros em mucosa hiperêmica em outros aspectos. A presença concomitante de erosão e hemorragia é denominada gastrite hemorrágica erosiva aguda. GASTRITE CRÔNICA Os achados morfológicos principais das GC incluem: • Inflamação: infiltrado inflamatório linfoplasmocitário na lâmina própria, com ou sem formação de folículos linfoides (ou apenas agregados); • Atividade: presença de neutrófilos (PMN), que se localizam preferencialmente em torno dos colos glandulares e fovéolas, podendo formar microabscessos de cripta e atingir o epitélio de superfícenos casos mais intensos; • Atrofia: redução dos componentes da mucosa, que se torna delgada e mostra rarefação e afastamento das glândulas e alongamento/alargamento das fovéolas. Quando há atrofia, fala-se em gastrite crônica atrófica (GCA). Atrofia associa-se frequentemente a metaplasia intestinal; • Metaplasia intestinal: substituição do epitélio gástrico por epitélio com características de epitélio intestinal (intestino delgado e/ou cólon), com ou sem manutenção das características do epitélio gástrico foveolar. Alterações qualitativas podem estar presentes: • Alterações epiteliais: epitélio superficial/foveolar pode ter alterações degenerativas (vacuolização, necrose, descamação e perda da secreção de muco) por ação direta do agente etiológico, ativação local de leucócitos ou ação de radicais livres de O2, ou regenerativas (aumento da proliferação celular, com alongamento dos colos glandulares e hiperplasia foveolar); A. Gastrite crônica antral. Infiltrado inflamatório de mono e polimorfonucleares difuso na lâmina própria; as glândulas estão preservadas e não existe atrofia da mucosa. B. Gastrite crônica atrófica multifocal. Notar atrofia glandular e metaplasia intestinal (células caliciformes) substituindo a mucosa original, a qual pode ser vista na base da figura. Fitas de eosinófilos, coradas de vermelho intenso, podem ser vistas infiltrando a lâmina própria e a muscular da mucosa. 19 • Displasia (neoplasia intraepitelial): aparece em menos de 5% dos casos, ocorre preferencialmente no epitélio com metaplasia intestinal e pode ser de alto ou de baixo graus; • Hiperemia e edema; • Erosões; • Folículos linfoides; • Fibrose da lâmina própria e proliferação vascular; • Metaplasia pseudoantral: associada a atrofia da mucosa oxíntica, resulta do predomínio da diferenciação de células mucossecretoras sobre as células parietais e principais, componentes habituais dessa região. Por H. Pylori: biópsia gástrica geralmente demonstra H. pylori em pessoas infectadas. O organismo é concentrado no muco superficial que cobre o epitélio da superfície e do colo das criptas (não penetra na mucosa). A reação inflamatória inclui um número variável de neutrófilos na lâmina própria, abrangendo alguns que atravessam a membrana basal para assumir uma localização intraepitelial e se acumulam na luz das criptas gástricas criando abscessos criptas. A lâmina própria superficial inclui grande número de células plasmáticas, muitas vezes em aglomerados ou em lâminas, bem como número aumentado de linfócitos e macrófagos. Quando intensos, os infiltrados inflamatórios podem criar espessamento das pregas da mucosa, simulando lesões infiltrativas. Agregados linfoides, alguns com centros germinais, frequentemente estão presentes e representam uma forma induzida de tecido linfoide associado à mucosa (MALT) que tem o potencial de transformar-se em linfoma. Metaplasia intestinal, caracterizada pela presença de células caliciformes e células colunares de absorção, também pode estar presente e está associada ao risco aumentado de adenocarcinoma gástrico. O H. pylori apresenta tropismo para epitélio foveolar gástrico e geralmente não é encontrado em áreas de metaplasia intestinal, mucosa produtora de ácido do corpo gástrico ou epitélio duodenal. Assim, uma biópsia antral é preferida para a avaliação da gastrite por H. pylori. O H.pylori é mais bem reconhecido em colorações especiais, como as de carbolfucsina e Giemsa, que têm maior sensibilidade e são de fácil execução. Gastrite crônica associada ao H. pylori. Numerosas bactérias curvas (seta) no interior de uma fovéola gástrica ou aderidas à superfície epitelial (coloração de Giemsa). A mucosa nas proximidades da úlcera pode apresentar gastrite crônica, chegando à formação de folículos linfóides 20 Helicobacter pylori em uma biópsia de mucosa gástrica corada por HE, os bacilos têm forma levemente recurvada e são encontrados na superfície da mucosa ou nas criptas glandulares. Biópsia de mucosa gástrica impregnada pela prata pelo método de Warthin-Starry para treponemas. Microorganismos coram-se em negro. Situam-se na superfície da mucosa gástrica e na luz de algumas criptas. Em aumento forte, têm forma de bacilos, não raro com ondulações. Gastrite autoimune: caracterizada por danos difusos da mucosa oxíntica (produtora de ácido) dentro do corpo e fundo. Tipicamente, não há lesões ao antro e cárdia ou elas são muito leves. Com atrofia difusa, a mucosa oxíntica do corpo e fundo aparece nitidamente adelgaçada e as pregas rugais são perdidas. Pode haver presença de neutrófilos, mas o infiltrado inflamatório é mais comumente composto de linfócitos, macrófagos e células plasmáticas; em contraste com gastrite por H. pylori, a reação inflamatória na maioria das vezes é profunda e centrada sobre as glândulas gástricas. A perda de células parietais e células principais pode ser extensa e haver desenvolvimento de metaplasia intestinal. Ao microscópio, há infiltrado inflamatório de mononuclares na mucosa oxíntica, às vezes formando folículos linfoides. Com atrofia da mucosa, desaparecem as células parietais e principais (há hipocloridria). Existem também metaplasia pseudoantral e focos de metaplasia intestinal. Os pacientes têm maior tendência a desenvolver carcinoide gástrico, que se origina, na maioria dos casos, das células enterochromafin-like (ECL), normalmente presentes na mucosa oxíntica. Admite-se que a gastrina estimula a proliferação de células ECL. Em virtude da perda de células parietais, a alcalinidade permanente na luz do estômago induz hipergastrinemia, que resulta em hiperplasia das células ECL, inicialmente linear e posteriormente em forma de micronódulos, é considerada precursora do carcinoide, ocorre frequentemente nesses indivíduos e pode ser identificada com facilidade por meio de colorações pela prata para células argirófilas (técnica de Grimelius), ou por meio de coloração imuno-histoquímica com a utilização de anticorpos para marcadores neuroendócrinos (cromogranina). Gastrite crônica autoimune associada a anemia perniciosa. Atrofia da mucosa oxíntica, infiltrado inflamatório linfocitário na lâmina própria e hiperplasia linear e micronodular de células endócrinas, que estão coradas por imunohistoquímica para cromogranina. 21 CLÍNICA GASTRITE AGUDA: pode ser assintomático ou provocar graus variáveis de dor epigástrica, náuseas e vômitos. Em casos mais graves pode haver erosão da mucosa, ulceração, hemorragia, hematêmese, melena ou, raramente, perda maciça de sangue. Erosão ou hemorragia mucosa aguda, como úlceras de Curling, ou lesões após o interrompimento do fluxo sanguíneo gástrico, por exemplo, na hipertensão portal, também causam a gastropatia que tipicamente progride para a gastrite. Tanto a gastropatia quanto a gastrite aguda podem ser assintomáticas ou causar graus variáveis de dor epigástrica, náusea e vômito. Em muitos casos graves pode haver erosão da mucosa, ulceração, hemorragia, hematêmese, melena ou, raramente, perda sanguínea maciça. GASTRITE CRÔNICA: sinais e sintomas associados geralmente são menos graves, mas mais persistentes do que os de gastrite aguda. Náuseas e desconforto abdominal superior podem ocorrer, às vezes com vômitos, mas hematêmese é incomum. ADENOCARCINOMA GÁSTRICO O adenocarcinoma constitui a neoplasia gástrica epitelial mais frequente e é responsável por 95% dos tumores malignos que acometem o estômago. Embora a incidência do carcinoma gástrico (CG) venha declinando de uma maneira contínua e regular nas últimas décadas, constitui a 2ª causa de óbito por CA no mundo, com registro de mais de 900 mil novos casos ao ano. Em geral, sua magnitude é de 2 a 3 vezes maior nos países em desenvolvimento e é mais comum no sexo masculino. A diminuição na incidência de CG tem sido observada em vários países, inclusive no Brasil, e pode ser explicada por reduçõesnas taxas de prevalência de fatores de risco. PATOGENIA O adenocarcinoma gástrico tem etiologia complexa e multifatorial. Fatores dietéticos e hábitos de vida tradicionalmente recebem grande ênfase no seu estudo. O consumo aumentado de frutas e vegetais permanece como fator capaz de reduzir o risco de desenvolvimento de CG, embora estudos prospectivos recentes não tenham sido capazes de confirmar isso. Tampouco a suplementação de vitaminas na dieta foi capaz de reduzir o risco de CG. Apesar da enorme quantidade de estudos avaliando o papel do consumo de álcool e da ingestão de sal e nitratos na dieta na etiologia do CG, não existe consenso estabelecido no efetivo papel desses fatores. O hábito de fumar constitui um fator de risco estabelecido. Recentemente, um extenso estudo europeu estimou que 17,6% dos casos de CG são atribuídos ao tabagismo. Outras causas de perda de acidez em idosos são a acloridria, gastrite atrófica e até anemia perniciosa. A gastrectomia parcial (geralmente a antrectomia com anastomose a Billroth II) empregada antigamente no tratamento da úlcera péptica, está associada com o aumento de incidência de CG. A associação é mais evidente em gastrectomias realizadas para úlcera gástrica e menos convincente para cirurgias em portadores de úlcera duodenal, não sendo essa associação observada com os tumores da região cárdica do estômago. Estudos sugerem que o risco de desenvolver adenocarcinoma em estômago operado é relativamente baixo em até 15 a 20 anos após a ressecção; a partir desse período, a possibilidade é de 1,5 a 3 vezes maior do que nos estômagos não operados. Na patogênese desse tipo de neoplasia, assume importância a gastrite crônica atrófica, que surge devido ao refluxo duodenogástrico, inevitável nas ressecções a Billroth II. Na gastrite atrófica há substituição da mucosa gástrica comum por células do tipo intestinal, metaplasia intestinal que pode ocasionar a atipia celular e, mais tarde, neoplasia. A ação detergente dos sais biliares, rompendo a barreira mucosa, acelera o aparecimento da gastrite crônica atrófica, a qual, em razão de seu baixo poder cloridopéptico, favorece a proliferação de bactérias, que transformarão os nitratos alimentares em nitritos, criando, ao catalisarem a nitrosação das aminas, condições para a síntese de nitrosaminas, substâncias carcinogênicas. A alta ingestão de nitratos (alimentos desidratados) por períodos prolongados parece estar associada a maior risco, visto que algumas bactérias convertem esses nitratos em nitritos carcinogênicos. A ingestão de alimentos parcialmente decompostos, comum entre as classes menos favorecidas no mundo, pode ser responsável pela introdução exógena de bactérias. Associação entre CG, gastrite autoimune e anemia perniciosa é reconhecida há anos. Portadores de anemia perniciosa tem aumento no risco de até 3 x. A maior parte dos adenocarcinomas gástricos ocorre esporadicamente, ao passo que 8 a 10% tem um componente familial envolvido. Ocasionalmente, o CG pode se desenvolver em famílias com mutações genéticas nos genes p53 (síndrome de Li- Fraumeni) e BRCA2. É estimado que 1 a 3% dos tumores gástricos derivem de mutações no gene codificador E-cadherina, proteína de adesão celular, originando uma predisposição ao CG (CG hereditário difuso) com penetrância de 70%. O CG pode também se desenvolver como parte da síndrome do CA colorretal hereditário sem polipose (HNPCC) e de outras síndromes polipoides GI (polipose adenomatosa familiar e síndrome de Peutz-Jeghers). A infecção por H. pylori constituti atualmente o maior fator de risco para o desenvolvimento do AG distal, sendo, desde 1994, considerada carcinógeno tipo 1 (definido) para desenvolvimento de CG no homem. Sua presença no estômago humano eleva cerca de 6 vezes a incidência desse tipo de tumor. A prevalência exata da infecção por H. pylori em pacientes com CG não é facilmente estimada, já que pode desaparecer espontaneamente com o progredir das lesões pré-neoplásicas, dificultando seu diagnóstico mesmo por métodos sorológicos. Um importante estudo sueco, ao pesquisar em portadores de CG a presença do microrganismo por métodos sorológicos convencionais (ELISA) e pela técnica de immunoblot CagA, indicador sensível de infecção prévia pelo microrganismo, demonstrou que a associação entre a presença da bactéria e o CG é semelhante àquela observada entre o hábito de fumar e o CA de pulmão. Outras evidências epidemiológicas convincentes vêm sendo acumuladas. Um estudo japonês recente envolveu pacientes (idade média próxima de 50 anos) infectados e não infectados por H. pylori, que foram acompanhados durante 7 ou 8 anos. Ao término da análise, 2,9% dos pacientes infectados desenvolveram CG, o que não ocorreu em nenhum dos pacientes não infectados. Em 1998, Watanabe et al., no Japão, desenvolveram um modelo animal de adenocarcinoma gástrico induzido por H. pylori, utilizando um roedor (Mongolian gerbil), em que 55 animais foram inoculados com H. pylori humano e 30 não inoculados serviram como controle. Os estômagos de 5 animais inoculados foram examinados na 6ª, 26ª, 39ª e 52ª semana; os estômagos dos animais não sacrificados sobreviventes (n = 27) e dos 30 controles foram examinados na 62ª semana. Estômagos do grupo-controle estavam inalterados ao final do experimento. Por outro lado, os estômagos dos infectados mostravam alterações progressivas em direção ao 22 adenocarcinoma. Na 6ª semana todos os estômagos exibiam gastrite ativa associada à presença de H. pylori; na 26ª semana 3 dos 5 animais exibiam metaplasia intestinal; na 52ª semana foi evidenciada metaplasia intestinal em todos os 5 animais, e 3 deles apresentavam também pólipos hiperplásicos, e na 62ª semana foi observado adenocarcinoma do tipo intestinal em 10 (37%) dos 27 animais infectados. Como H. pylori não promove tais índices de AG no homem, outros fatores devem estar envolvidos. Os mecanismos de carcinogênese gástrica induzidos pela infecção por H. pylori vêm sendo progressivamente aclarados e parecem relacionados com a capacidade de promover desequilíbrio entre proliferação celular e apoptose, liberação de citocinas pró-inflamatórias, formação de radicais livres, desregulação da Cox-2, subversão da imunidade e estimulação da angiogênese. Além disso, é sabido o papel da inflamação crônica do TGl na proliferação, adesão e transformação celulares. No ambiente intragástrico, a proteína CagA produzida por algumas cepas de H. pylori é atualmente considerada potencial agente oncogênico direto, produzida pelo gene CagA, é introduzida nas células epiteliais gástricas por meio do sistema de secreção tipo IV do H. pylori (“seringa molecular”). Uma vez injetada no interior da célula epitelial, essa proteína é fosforilada pelas cinases da família SRC e ativa a fosfocinase SHP2, que atua como oncoproteína humana, e, em conjunto com outras cinases, são capazes de subverter a fisiologia celular gerando processos pré-neoplásicos como ativação de receptores de FC, proliferação celular aumentada, evasão de apoptose, angiogênese sustentada, dissociação celular e invasão tecidual, outros. Um trabalho estudando pacientes com CG e familiares de portadores de CG, demonstraram que fatores genéticos do hospedeiro (polimorfismos dos genes que codificam a interleucina IL-1-beta) são capazes de aumentar a possibilidade de resposta hipoclorídrica crônica à infecção por H. pylori e o risco de CG, presumivelmente por alterar os níveis de IL-1-beta no estômago, sugerindo a razão de alguns indivíduos infectados por H. pylori desenvolverem CG, ao passo que outros não o fazem. Pelo fato de o CG ser uma doença multifatorial, outros fatores estão certamente envolvidos, justificando-se o porquê de nem todos indivíduos com esse genótipo desenvolverem CG. Recentemente, estudos experimentais em ratos colonizados por H. felis têm questionado a teoria epitelial para a carcinogênese gástrica. No experimento, a mucosa gástrica infectada tornou-seatrófica, sendo colonizada por células-tronco da medula óssea que se diferenciariam em células intestinais dando sequência à metaplasia intestinal, displasia e câncer intraepitelial. Os indivíduos do grupo sanguíneo tipo A apresentam maior incidência de CG que os indivíduos do grupo sanguíneo O, observação que pode ter relação com diferenças na atividade secretora da mucosa que afetam a proteção que ela oferece contra carcinógenos. MORFOLOGIA Os adenocarcinomas gástricos são classificados de acordo com sua localização no estômago, bem como pela morfologia macroscópica e histológica. A classificação Lauren, que separa cânceres gástricos em tipos intestinal e difuso, correlaciona-se com padrões distintos de alterações moleculares. CA do tipo intestinal tendem a ser volumosos e são compostos por estruturas glandulares semelhantes a adenocarcinoma esofágico e do cólon. Os CA do tipo intestinal tipicamente crescem ao longo de frentes coesivas amplas formando uma massa exofítica ou um tumor ulcerado. As células neoplásicas frequentemente contêm vacúolos apicais de mucina, e mucina abundante pode estar presente na luz das glândulas. Cânceres gástricos difusos exibem um padrão de crescimento infiltrativo e são compostos por células desconexas com vacúolos grandes de mucina que ampliam o citoplasma e empurram o núcleo para a periferia, criando uma morfologia de célula de anel em sinete. Essas células permeiam a mucosa da parede do estômago individualmente ou em pequenos grupos. Uma massa pode ser difícil de avaliar no câncer gástrico difuso, mas esses tumores infiltrativos geralmente evocam uma reação desmoplásica que enrijece a parede gástrica e pode causar achatamento rugal difuso e uma parede rígida e espessa que confere aparência de “garrafa de couro” denominada linite plástica. Embora algumas vezes a classificação dos adenocarcinomas como difusos ou intestinais não seja possível, esses 2 tipos parecem representar desordens distintas, com diferentes fatores epidemiológicos e etiológicos. A incidência de carcinomas difusos não varia muito na maioria das populações, mas a do tipo intestinal tende a se concentrar nas áreas geográficas de alto risco, sendo menos comum nas regiões em que a incidência de CG vem diminuindo. Macroscopicamente, a classificação morfológica de Borrmann, divide os adenocarcinomas gástricos invasivos: • Borrmann I (Tipo I): carcinoma polipoide, exofítico, papilar ou vegetante, correspondente às lesões que se projetam para a luz gástrica e que, variando de tamanho, podem atingir grandes proporções. Além de serem bem demarcadas com áreas de tecido normal em toda sua volta. • Borrmann II (Tipo II): carcinomas ulcerados medindo mais de 3 cm de diâmetro, bem delimitados, sem infiltração do tecido vizinho. Suas bordas são caracteristicamente elevadas, irregulares e mamelonadas. Apresentam fundo de cor acinzentada, com tecido necrótico mesclado com coágulos de sangue, podendo apresentar ilhas de mucosa normal. • Borrmann III (Tipo III): CA ulcerado e infiltrante, com bordas menos salientes que no tipo II e disseminação parcialmente difusa (infiltração da submucosa, muscular própria e serosa). É a apresentação mais comum do CG. • Borrmann IV (Tipo IV): é a infiltração neoplásica difusa de um segmento da parede gástrica ou de toda essa parede, podendo ocorrer ulcerações de profundidade variável. Quando a infiltração se estende por todo o estômago, os limites não são distinguidos pela palpação, tampouco por métodos radiológicos ou endoscópicos; é a chamada linitis plastica, na qual as paredes do estômago tornam-se rígidas e o órgão toma forma tubular sugestiva de uma bota de couro para vinho. • Borrmann V (Tipo V): CG cuja definição não se encaixa em nenhuma das descritas acima. Já o CG precoce foi um termo utilizado pela sociedade japonesa de endoscopia digestiva para identificar tumores restritos a mucosa e a submucosa, independente da presença ou ausência de linfonodos regionais acometidos. No Brasil cerca de 10-20% dos CG são identificados nessa fase, enquanto no Japão esse valor chega a 40-60%. Nessa fase, a chance de cura supera 85%. O CG precoce inclui três subtipos: • Tipo I (protuso): lesão de contorno elevado, pode simular polipoide • Tipo II (superficial): subdivide em 3 subtipos: 23 o Tipo IIa: mucosa é ligeiramente elevada, não se modificando com a insuflação de ar no estomago; o Tipo IIb (plano): sem elevação nem depressão da superfície da lesão; o Tipo IIIc (deprimido): com discreta depressão na superfície do tumor; • Tipo III (escavado): quando forma úlcera ou depressão mais profunda. Os achados microscópicos do AG são muito variados, sendo comuns aspectos diversos na mesma lesão. As células têm características dos vários tipos de epitélio gástrico (células mucopépticas e foveolares) e intestinal (células caliciformes e absortivas). Isso motivou um grande número de classificações, a maioria delas meramente morfológicas, sem correlação com aspectos epidemiológicos ou com o comportamento da lesão. Parece ser consenso entre os estudiosos que a classificação de Laurén, que combina aspectos epidemiológicos, histogenéticos, de comportamento biológico e padrões morfológicos, é a mais adequada. Além disso, recomenda-se que as neoplasias sejam classificadas segundo o sistema de estadiamento TNM, que tem comprovada correlação com o prognóstico. Outras classificações histológicas propostas recentemente, que parecem ter relação com o prognóstico, não foram ainda suficientemente testadas. A carcinogênese gástrica constitui processo multifatorial que se desenvolve em etapas sucessivas ou sequenciais a partir da gastrite crônica induzida pela bactéria. As lesões evoluiriam progressivamente e culminariam no adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal ou difuso- classificação de Lauren. Tipo intestinal: a mucosa se assemelha, em seu aspecto, ao intestino delgado, localiza-se com mais frequência no antro e na curvatura menor do estômago, não está associado a grupos sanguíneos definidos, é mais frequente em homens de idade avançada e predomina em populações de alto risco. Está ainda relacionado com a presença de gastrite crônica com atrofia, metaplasia intestinal e displasia epitelial antecedendo o aparecimento do câncer. Ademais, há coesão celular, e as células individuais infiltram e espessam a parede gástrica sem formar uma massa bem-definida. As lesões do tipo intestinal com frequência são ulcerativas, muitas vezes um processo pré-canceroso prolongado as precede, geralmente iniciado pela infecção por Heliobacter pylori. Teria origem em células gástricas mucosas que sofreram previamente metaplasia intestinal. Macroscopicamente tende a ser exofítico ou polipóide. Microscopicamente é bem diferenciado, formando glândulas. É formado por células poligonais polarizadas, coesas, que formam glândulas, massas sólidas ou estruturas polarizadas, com escassa secreção de muco. Parte dessas neoplasias apresenta diferenciação predominantemente intestinal, enquanto no restante a diferenciação é predominantemente gástrica ou é gástrica e intestinal. Macroscopicamente, na maioria das vezes corresponde aos tipos I, II e III de Borrmann. ÁREA BEM DIFERENCIADA: neoplasia forma glândulas desorganizadas, mas muitas com luz. 24 ÁREA POUCO DIFERENCIADA: células neoplásicas formam cordões sólidos. ÊMBOLOS NEOPLÁSICOS EM VASOS LINFÁTICOS: na profundidade, o tumor se propaga extensamente através de êmbolos em linfáticos. Em muitos, as células neoplásicas formam luzes glandulares. Os linfáticos são reconhecíveis pelos espaços em volta dos blocos celulares, e pelas células endoteliais, cujos núcleos alongados margeiam a luz. 25 INFILTRAÇÃO DA CAMADA MUSCULAR: tumor infiltra extensamente a camada muscular própria do estômago, dissecando entre os feixes. Há intenso infiltrado de eosinófilos entre os blocos neoplásicos (nenhum motivo especial para isto, achado fortuito).Tipo difuso: (menos frequente que o tipo intestinal) a localização principal é o fundo gástrico (mas, acomete todo estomago), acomete pacientes mais jovens, é ligeiramente mais frequente em homens e pode estar associada ao grupo sanguíneo A. Histologicamente, é composto por focos de células malignas com infiltração inflamatória mínima, em uma quantidade substancial de tecido fibroso, e é mais frequente em populações de baixo risco para CG. Caracterizado por células neoplásicas pouco coesas 26 (células em anel de sinete, que apresentam acumulo de muco no citoplasma deslocando o núcleo para periferia) que formam estruturas tubulares semelhantes às glândulas (são células soltas, não formam glândulas). Nesses casos, a gastrite crônica por H. pylori sob modulação de fatores genéticos progrediria mais diretamente a partir de lesões hiperplásicas e talvez displasia para o adenocarcinoma difuso. Diminuem a elasticidade da parede gástrica (linite plástica ou aspecto em “bolsa de couro”) e têm pior prognóstico. Cânceres difusos apresentam adesão intercelular deficiente, principalmente como consequência da perda de expressão da E caderina. É formado por células geralmente de padrão monomórfico, despolarizadas e pouco coesas, que crescem isoladamente ou formam pequenos cordões, às vezes com aspecto microglandular nas porções mais superficiais. As células armazenam secreção mucípara no citoplasma, apresentam diferenciação predominante do tipo gástrico e adquirem aspecto de célula em anel de sinete, em que o núcleo é rechaçado para a periferia em virtude do acúmulo intracelular de muco; com frequência, o tumor apresenta reação desmoplásica e corresponde, macroscopicamente, aos tipos III ou IV de Borrmann. Este tipo parece originar-se diretamente de células gástricas mucosas (sem passar por metaplasia intestinal); é pouco diferenciado, tende a ser macroscopicamente ulcerativo ou difusamente infiltrativo (linite plástica). Células em anel de sinete com grandes vacúolos de mucina citoplasmática e núcleos perifericamente, núcleos em A. Tipo intestinal, formado por glândulas atípicas justapostas, com células polarizadas, sem secreção de muco e com núcleos acentuadamente hipercromáticos e pleomórficos. B. Tipo difuso, formado por células isoladas, de padrão monomórfico, contendo mucina (células em anel de sinete). 27 28 Linfonodo Adenocarcinoma indiferenciado do estômago (difuso). Em contraste com o caso anterior, aqui temos um adenocarcinoma indiferenciado, onde praticamente não há formação de estruturas glandulares. A origem do tumor é a mucosa gástrica, onde muitas células produzem muco. As células neoplásicas também produzem muco, que pode ser observado no citoplasma na forma de um grande vacúolo, que desloca o núcleo para a periferia. A célula pode parecer um anel, onde o núcleo forma a pedra, daí a comparação clássica com anel de sinete (era usado na época medieval para carimbar o lacre quente em documentos). Contudo, as células são soltas, não constituem agregados com luz. Por isso, ficam arredondadas e podem ser confundidas, a primeira vista, com macrófagos. O que diferencia é o aspecto do núcleo, que é hipercromático e volumoso em relação ao citoplasma (perda da relação núcleo-citoplasma, uma das características das neoplasias malignas). O tumor infiltra difusamente todas as camadas do estômago, da mucosa à serosa. O melhor lugar para identificar a infiltração é a camada muscular, onde as células neoplásicas contrastam com as fibras musculares lisas. Macroscopicamente, temos a chamada linite plástica. O tumor causa espessamento difuso da parede gástrica, tornando-a rígida, e leva à perda das pregas da mucosa (ver peças TGI-13 e TGI-1). O aspecto lembra uma bolsa de couro e é classicamente comparado a um odre de vinho ('leatherbottle stomach'). No fragmento de linfonodo vemos uma metástase do tumor. É característico que os carcinomas dêem metástases por via linfática (embora também sejam comuns metástases hematogênicas). As células tumorais penetram em vasos linfáticos do órgão de origem e vão ter aos linfonodos que drenam a linfa daquela área. Instalam-se no linfonodo e podem substituir completamente os linfócitos pré-existentes. Aqui ainda é possível observar linfócitos, estando as células neoplásicas localizadas principalmente nos seios linfáticos. O aspecto em anel de sinete é mais facilmente observável no linfonodo que no próprio estômago, mas isto é apenas uma casualidade. O contrário poderia perfeitamente bem ter ocorrido. CLÍNICA O adenocarcinoma gástrico incide mais sobre homens, em uma proporção de 2:1 homem/mulher, assim como é mais encontrado entre os negros. As manifestações clínicas precoce são tipicamente vagas e inespecíficas, raramente provocam sintomas que possam induzir a um diagnóstico precoce da doença, ocasião em que o tumor é superficial e potencialmente curável pela cirurgia ou procedimentos endoscópicos. 29 O tumor torna-se sintomático, na grande maioria dos casos, em uma fase avançada da doença, ou quando já existem metástases. Perda de peso, desconforto abdominal insidioso, acompanhado de plenitude pós-prandial e dor epigástrica tipo úlcera ou incaracterística, de intensidade variável, são os sintomas mais comumente referidos pelos pacientes. Anorexia e náuseas leves são sintomas comuns, mas usualmente não são representativos da doença. O vômito pode ocorrer quando o tumor invade o piloro, ao passo que a disfagia é o principal sintoma associado à lesão da cárdia. Hematêmese e melena são relatados em 20% dos casos. Podem ocorrer eructações, flatulência e distúrbios do hábito intestinal. Entre os sintomas dependentes da disseminação metastática, destacam-se dores ósseas, sintomas pulmonares, hepáticos e neurológicos. O exame objetivo dos pacientes com CG precoce nada apresenta de anormal; apenas nas formas mais avançadas do tumor constatam-se caquexia, icterícia e palidez cutânea com pele de tonalidade amarelo-pálida. Às vezes, evidencia-se a presença de massas palpáveis, dolorosas ou não, no epigástrio, bem como ascite e edema de MMII. Pode ocorrer a disseminação por invasão direta através da parede do estômago, com adesão ou invasão de estruturas subjacentes, tais como pâncreas, fígado (local mais comum de disseminação tumoral hematogenica) e cólon. Quando a doença se estende para o cólon transverso, podem surgir vômitos fétidos, fecaloides, e, às vezes, observam-se alimentos recentemente ingeridos nas fezes. A doença também pode se disseminar, através dos linfáticos, para os linfonodos intra e extra-abdominais, destacando-se os palpáveis na fossa supraclavicular esquerda (gânglio de Virchow-Troisier), nódulos ou empastamento do fundo-de-saco de Douglas ao toque retal (sinal de Blumer), aumento do volume do ovário ao exame ginecológico (tumor de Krukenberg). Podem haver síndrome paraneoplásica, anemia hemolítica microangiopática, glomerulopatia membranosa, ceratose seborreica, acantose nigricans (lesões filiformes e papulares com pigmentação nas dobras da pele e de membranas mucosas), coagulação intravascular crônica causando trombose arterial/venosa e, raramente, dermatomiosite.
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