Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTES – IEFES CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA FUNDAMENTOS SOCIOANTROPOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA A INSERÇÃO E PERMANÊNCIA DAS MULHERES NO ESPORTE: UMA VISÃO SOCIOLÓGICA SOBRE CORPO E FEMINILIDADE SARAH OLIVEIRA DA COSTA FORTALEZA, CEARÁ 2021 Introdução A discursão nesse texto será feita a partir da participação feminina no ambiente esportivo. Nesse sentido, será discutido a cerca a discriminação sofrida pelas mulheres e porque é difícil permanecer no ambiente esportivo. Além disso, será discutido a pauta da feminilidade dentro do recorte “Esporte pra homem x esporte pra mulher” e como isso afeta os futuros profissionais da Educação Física no ambiente escolar. O conteúdo abordado nesse texto será pautado nos assuntos discutidos nos artigos e mídias fornecidos na disciplina de Fundamentos Socioantropológicos da Educação Física, sendo assim, um relatório de pesquisa. Segundo Camargo e Kessler (2017, p. 192) “O corpo é muito mais do que uma construção biológica e social; é produto da cultura, das tecnologias, dentro de uma dimensão linguística. O corpo não está definido a priori e é um território amplo a ser explorado, que a partir de suas performatividades nos posiciona nos limites das normatividades corporais e de gênero instituídas.” Partindo desse pressuposto, é notória a importância de abolir o pré-conceito instituído na sociedade contemporânea quando se trata da participação de mulheres no ambiente esportivo, visto que a discriminação feminina é algo presente e deve ser discutido nesses ambientes. Essa discriminação é variável, visto que a modalidade exercida, contexto social, idade, e até mesmo a aparência estética influenciam. Nesse sentido, é importante ressaltar que de fato, existe o fator biológico que difere o corpo entre homens e mulheres, porém, isso não deve ser o fator determinante. A questão maior a ser discutida é a construção social que envolve homem, mulher e os conceitos de masculinidade e feminilidade. Objetivos Identificar a problemática dentro do tema abordado e procurar formas de contornar essa situação, visando minimizar os impactos, principalmente dentro da Educação Física Escolar, visto que é a área de atuação mais procurada por alunos dos cursos de licenciatura. Nesse sentido, é importante compreender os motivos pelos quais as mulheres são discriminadas, seus impactos e como tornar o campo da Educação Física livre e confortável para mulheres exercerem APRESENTAÇÃO DOS TEMAS MATERIAIS E TEMAS ABORDADOS Para a construção desse texto, foi utilizado o uso de 7 artigos e textos retirados do acervo enviado pelo professor, além de 4 documentários disponibilizados na plataforma Youtube. Ambos materiais abordam a construção de gênero sob uma perspectiva dentro do esporte, mais precisamente, a inserção e permanência de mulheres dentro do ambiente esportivo. Os recortes escolhidos para estudo foram: Construção social de homem x mulher, performance da feminilidade, esportes para cada gênero e suas implicações dentro da prática docente. DISCUSSÃO DA TEMÁTICA No documentário “Mulheres no Esporte”, é dito que a ideia de que a prática dos esportes deixaria a mulher masculinizada e que ela não tem condição física vem da Grécia Antiga (XII a IX a.C) e, além disso, essa prática já chegou a ser proibida durante o governo de Getúlio Vargas durante 40 anos (1941 a 1979). Na conjuntura contemporânea, ainda existe dificuldade de mulheres se inserirem no esporte, fruto do machismo enraizado na sociedade, tendo em vista que, além do aspecto biológico envolvendo o corpo masculino e feminino, existe a construção social e volta deles. Nesse sentido, Lessa (2005, p. 158) afirma que as diferenças corpóreas naturais entre homem e mulher sofrem uma oposição binária e que a desconstrução desses termos deve ser um objeto de estudo. O corpo deve ser um objeto de estudo. É notório que a fisiologia dos corpos é diferente, tendo em vista que a carga hormonal masculina possui testosterona, o que auxilia na formação da massa muscular. Em contra partida, o corpo da mulher é projetado para ter mais flexibilidade e uma coordenação motora elevada. Porém, o fato biológico não deve ser determinante dentro do desporto, visto é a construção social que torna a segregação mais presente. A ideia de que o homem deve performar a masculinidade de forma agressiva e violenta (popularmente chamada de masculinidade tóxica), e que a mulher deve performar feminilidade e delicadeza é controversa dentro do esporte. Nesse sentido, em esportes nos quais são praticados majoritariamente por mulheres, elas são aceitas performando feminilidade, porém, esportes mais praticados por homens, as mulheres tendem a serem masculinizadas. Muitas vezes, o bom desempenho esportivo das mulheres nesses esportes (como futebol e basquete) depende da semelhança aos homens, vistas como “fora do padrão”, tendo sua sexualidade questionada e até mesmo sendo alvo de comentários pejorativos como “mulher macho”, “monstra” e “cavala”. (CAMARGO; KESSLER, 2017, p. 199) Sob essa perspectiva, pode-se notar como o olhar sobre a mulher ativa no desporto é discriminatório. Essa necessidade de masculinizar mulheres que frequentam ambientes mais frequentados por homens é um reflexo da construção social em volta do gênero e da binaridade, afinal, mulheres podem praticar esportes de força com êxito e continuar performando feminilidade. Além disso, ainda na questão da feminilidade, a mulher que decide ser mãe e praticar esportes também é vista de forma discriminatória. Como aponta Schwengber (2012, p.168), existem alguns tabus que envolvem a mãe (grávida) esportista. A figura da mãe deve ser modernizada, vista como uma mãe ágil, preparada para desafios que pode ter uma rotina de exercícios e cuidado com o corpo mesmo sendo mãe, se ela quiser, além dos aspectos visuais como corte de cabelo, uso de maquiagem e roupas. A mãe moderna ainda é vista como uma mãe “desleixada”, ou até mesmo ouvindo comentários como “Como você vai ser uma boa mãe, uma boa profissional e uma boa esposa pro seu marido?”. CONCLUSÕES COM IMPLICAÇÕES DA DISCUSSÃO DA TEMÁTICA De forma final, vendo que, mesmo com todos os problemas citados acima, as mulheres procuram conquistar seu lugar e reconhecimento dentro do ambiente esportivo, vem o questionamento: O que as impede? No documentário “Desigualdade de Gênero”, algumas mulheres contam sua trajetória e os percalços que enfrentaram. Dentre os motivos citados, alguns foram mais pertinentes, como: A falta de incentivo e representatividade em casa, o qual as famílias não incentivam suas filhas a participarem e se engajarem nos esportes. Além da falta de incentivo em casa, existe a falta de patrocínio dos clubes. As empresas preferem contratar homens com valores altos em investimento e as mulheres acabam ser ter um retorno financeiro que condiz com sua rotina de treinos, muitas vezes maiores do que as dos homens. Ademais, o fato de haver poucas mulheres presentes já é uma falta de incentivo para mulheres, já que nem elas conseguem se sentir representadas. Um exemplo prático citado no vídeo, é o fato de um salário mensal do atleta Neymar Júnior, ser suficiente para pagar 4 anos de salário para as 100 atletas dos times finalistas do Brasileirão feminino. (Portal EBC). Diante dos fatos apresentados, é notório que existe uma discriminação envolvendo a mulher dentro do contexto esportivo, e é imprescindível que os futuros Profissionais da Educação Física estejam preparados para fazer a diferença nesse cenário. CONCLUSÕES COM IMPLICAÇÕES DA DISCUSSÃO DA TEMÁTICA PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA Dentro da Educação Física, essa problemática recorrente pode ser notada dentroda prática escolar. O professor deve adequar as questões de gênero a sua aula, visto que as diferenças em desempenho existem, porém, a vontade de participar e o esforço são percebidos tanto em meninos, quanto em meninas. Logo, é preciso diversificar os conteúdos e potencializar o envolvimento de todos na aula. (ALTMANN; AYOUB; AMARAL, 2011, p. 494). Nesse sentido, é necessário que haja uma junção de meninos e meninas, visto que, na maioria das aulas de Educação Física nas escolas, as meninas são separadas e jogam esportes mais “leves”, como vôlei e ginástica, enquanto os meninos praticam esportes que “exigem mais força”, como futebol e basquete. Outrossim, os jogos internos escolares, ou Interclasses são, de sua maior parte, um evento voltado para o público masculino, no qual as meninas geralmente vão para assistir os meninos jogarem, mesmo querendo participar dentro de campo. Além do mais, em algumas escolas existem seleções para alunos com maior rendimento esportivo, e a porcentagem de meninas que preenchem essas vagas é extremamente menor do que a de meninos, em virtude da falta de incentivo voltado pro treinamento e condicionamento de meninas. Visto isso, é preciso que os futuros profissionais do campo docente tenham isso em mente para que aos poucos, essa discriminação de mulheres no campo esportivo seja erradicada. É preciso que sociedade possa fazer as mulheres se sentirem acolhidas e incentivadas a se inserirem e permanecerem no ambiente esportivo, podendo atuar em campos majoritariamente masculinos, sem precisar se masculinizar para se encaixar e ser tratada com respeito e firmeza. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARGO, Wagner Xavier; KESSLER, E Cláudia Samuel. Além do masculino/feminino: gênero, sexualidade, tecnologia e performance no esporte sob perspectiva crítica. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 47, n. 23, p. 191- 225, abr. 2017. LESSA, Patrícia. MULHERES, CORPO E ESPORTES EM UMA PERSPECTIVA FEMINISTA. Motrivivência: Revista da Educação Física, esporte e lazer, Florianópolis, n. 24, p. 157-172, jun. 2005. MOURA, Diego Luz; BENTO, Gilmara dos Santos; SANTOS, Felix Oliveira dos; LOVISOLO, Hugo. ESPORTE, MULHERES E MASCULINIDADES. Esporte e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 13, n. 5, p. 1-22, fev. 2010. ALTMANN, Helena; AYOUB, Eliana; AMARAL, Silvia Cristina Franco. GÊNERO NA PRÁTICA DOCENTE EM EDUCAÇÃO FÍSICA: “MENINAS NÃO GOSTAM DE SUAR, MENINOS SÃO HABILIDOSOS AO JOGAR”? Estudos Feministas, Florianópolis, p. 491-501, maio 2011. RESSEL, LB; SILVA, MJP. Reflexões sobre a sexualidade velada no silêncio dos corpos. Rev Esc Enf USP, v. 35, n. 2, p. 150-4, jun. 2001. SALVINI, Leila; SOUZA, Juliano de; SOUZA, Juliano de. A violência simbólica e a dominação masculina no campo esportivo: algumas notas e digressões teóricas. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 26, n. 3, p. 401- 410, set. 2012. SCHWENGBER, Maria Simone Vione. MÃE MODERNA: ESPORTIVA E FORTE. Cad. Cedes, Campinas, v. 32, n. 84, p. 165-176, ago. 2012. Mulheres no esporte - documentário. Youtube, 11 dez. 2018. Disponível em <https://youtu.be/L9dWpZZY3-w<. Acesso em: 30 mar. 2021 Dia internacional da mulher - Mulheres no Esporte. Youtube, 9 mar. 2019. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=qToLOlBAlr8&feature=youtu.be>. Acesso em: 30 mar. 2021 Dimensão Olímpica - Mulheres no Esporte. Youtube, 10 ago. 2016. Disponível em <https://youtu.be/kPtpDXaaBNA>. Acesso em: 30 mar. 2021. Desigualdade de gênero no Esporte. Youtube, 29 nov. 2016. Disponível em <https://youtu.be/jhg4p2q1a5Q>. Acesso em: 30 mar. 2021 Edgard Matsuki; Brasileirão feminino: renda mensal de Neymar pagaria 55 meses de salário a times finalistas; 06. out. 2015 Portal EBC; Disponível em: >https://memoria.ebc.com.br/esportes/2015/11/brasileirao-feminino-renda-mensal- de-neymar-pagaria-55-meses-de-salario-times<
Compartilhar