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33 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti O ferro é um elemento químico presente em alguns alimentos. Ele é absorvido no intestino dos animais, e a sua absorção é regulada pela necessidade do elemento no organismo. Dessa forma, o corpo só absorve ferro quando é necessário, todo o excesso desse elemento é secretado do organismo. Porém, não existe nenhuma via de excreção de ferro uma vez que ela já tenha sido incorporado ao organismo, sendo assim não há excreção de ferro através da urina ou das fezes. As principais proteínas do corpo que contém moléculas de ferro são: responsável por levar oxigênio dos pulmões aos outros tecidos do corpo. responsável por armazenar oxigênio nos músculos. participa da cadeia de transporte de elétrons, são proteínas coloridas. participam da degradação da água oxigenada em H20 e oxigênio. A absorção do ferro acontece no lúmen intestinal. Ela é feita de duas formas, porque o ferro pode se apresentar de duas maneiras no organismo: quando ligado a um grupamento heme. O ferro hemíco é o ferro que está ligado a um grupamento heme, podendo estar ligado ainda a globinas para formar as hemoglobinas. Sendo assim, os enterócitos possuem uma proteína carregadora para esse grupamento heme. Essa proteína se liga ao grupamento heme e o coloca no interior da célula por endocitose. Depois de realizada a endocitose, forma-se uma vesícula no citosol do enterócito. Essa vesícula, por sua vez, possui uma enzima, chamada de heme oxigenasse (HO), que libera o Fe+2 que está ligado ao grupamento heme. Esse Fe+2 é liberado da vesícula para o citosol da célula através de um transportador de metal divalente (DMT-1). O ferro livre chega no lúmen intestinal na forma de Fe+3, porém para ser absorvido ele precisa estar na forma de Fe+2 . Por esse motivo, os enterócitos possuem uma proteína, chamada de citocromo dudodenal B (DcytB), que reduz o Fe+3 → Fe+2. Dessa forma, o Fe+2 é absorvido por uma proteína transportadora de metal divalente (DMT1) e chega ao citosol da célula. Porém, o Fe+2 não é absorvido sozinho, além dele um H+ também entra na célula, ou seja, para a entrada do ferro é realizado um transporte simporte. Esse H+ sai da célula, depois, através de uma Bomba de H+/Na+ no qual o Na+ entra na célula na troca de um H+ que sai da célula. E depois, o Na+ sai da célula através da Bomba de Na+/K+ no qual o íon de K+ entra na célula na troca de um íon de Na+ que sai da célula. + O Fe+2 proveniente tanto do ferro hemíco quanto do ferro livre, pode ser armazenado ligado a uma proteína ferritina, ou pode sofrer oxidação e ir para o sangue, onde ele é transportado ligado a outra proteína, a transferrina. Metabolismo do Ferro e Porfirinas 34 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti A oxidação e a passagem do ferro para o sangue são realizadas por outras duas proteínas: a hefaestina que oxida o Fe+2 até Fe+3, e a ferroportina que transfere o Fe+3 do citosol da célula até o sangue. O ferro absorvido pode ser utilizado pela medula óssea, para compor a hemoglobina das hemácias, ou pelos músculos, para compor a mioglobina. Além disso, os organismos fazem estoques de ferro nos macrófagos e no parênquima hepático. O organismo pode, ainda, perder ferro através das células descamantes da mucosa, no caso das fêmeas através da menstruação, ou, também, através da perda de sangue por hemorragias. Sendo assim, o ferro precisa ser transportado e armazenado no organismo dos animais. Dessa forma, o Fe+2 pode sofrer diversas reações dentro do organismo. Caso ele precise ser transportado, ele é oxidado à Fe+3 e ligado a proteína transferrina, que então realizará seu transporte pelo corpo. Caso o Fe+2 precise ser armazenado, ele também é oxidado, porém ele se liga a uma proteína diferente, chamada de ferritina, que é a responsável por armazenar ferro no organismo. E caso ele precise ser incorporado a outras proteínas, ele se junta a uma protoporfina e forma o grupamento heme. Esse grupamento heme, por sua vez, se junta a uma globina para dar origem a hemoglobina. A hemoglobina, então, passa pelos tecidos liberando oxigênio. Quando ela libera esse oxigênio, ela vira uma metahemoglobina, e o Fe+2 é oxidado a Fe+3. Essa metahemoglobina, por sua vez, é degrada e forma pigmentos biliares e globina. E o Fe+3 é reduzido a 35 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti Fe+2 para que então, ele possa ser transportado, armazenado ou participar da síntese de hemoglobina ou mioglobina novamente. Porfirinas são moléculas precursoras do grupamento heme. Ela é um anel porfirínico, que é formado pela união de 4 anéis pirróis. Sendo assim, a síntese das porfirinas e do grupamento heme é feita tanto na mitocôndria quanto no citoplasma das células. Primeiramente, na mitocôndria, uma molécula de Succinil-CoA, retirada do Ciclo de Krebs, se junta a uma molécula de glicina e, através da ação da A – Acetil P – Propil V – Vinil M – Metil 36 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti enzima ala sintase com a coenzima piridoxal fosfato, é formado o Ácido γ Aminolevulínico (ALA). O ALA é transportado para o citosol da célula. Lá, ele é transformado em Porfibilinogênio pela enzima ala dehidratase. Nessa reação, ocorre a união de duas moléculas de ALA, ou seja, o porfobilinogênio é a junção de dois ALA. Sendo assim, o que acontece na reação é o seguinte: primeiramente, um ALA se liga a enzima ala desidratase. Para conseguir se ligar a ela, o ALA perde uma dupla ligação com um oxigênio que se junta a duas moléculas de hidrogênio vindos da enzima, liberando dessa maneira uma H20. Depois disso, mais um ALA entra na reação e se liga ao outro ALA já ligado a enzima. Essa ligação é feita através de outros dois carbonos: um da nova molécula de ALA perde uma dupla ligação com um oxigênio e se liga ao carbono do ALA já presente na reação, que por sua vez perde um íon hidrogênio, que se liga ao oxigênio, agora ligado por um ligação simples ao carbono, formando uma hidroxila. Então, o nitrogênio do ALA ataca o carbono do outro ALA e se liga a ele, fazendo isso, ele rompe a dupla ligação que o carbono desse ALA possuía com a enzima, e assim, o Porfobilinogênio é liberado no citosol da célula. Depois disso, o Porfibilinogênio passa por uma reação, catalisada pela enzima porfobilinogênio deaminase. Nessa reação, seis Porfobilinogênios são agrupados na enzima, e separados, dois deles permanecem no ciclo para a formação da nova molécula, e os outros quatro formam o 37 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti Hidroximetilbilano, que é uma molécula linear intermediária para a formação do grupamento heme. O Hidroximetilbilano pode ser transformado em duas moléculas: no URO III e no URO I. O URO I não pode ser utilizado pela célula, bem como o produto da sua descarboxilação, o COPRO I. Sendo assim, através da ação da enzima URO III cositase, que dobra a molécula linear do Hidroximetilbilano e forma um anel, o URO III é formado. O URO III, por sua vez, é formado por grupamentos acetil e propil. E através da ação de uma enzima descarboxilase, ele é transformado em COPRO III, ou seja, essa enzima retira carbonos dos grupamentos acetils e os transforma em grupamentos metils. O COPRO III é, então, enviado para o interior da mitocôndria novamente. No interior da mitocôndria, o COPRO III é transformado em ProtoporfirinogênioIX, através da enzima coprooxidase. Essa enzima coloca grupamentos vinils no lugar de dois grupamentos proprils do COPRO III. O Protoporfirinogênio IX, por sua vez, é oxidado, pela enzima oxidase, e forma a Protoporfina IX. A Protoporfina IX recebe um Fe+2 e os dois são juntados através da enzima ferro quelatase, assim, formando o grupamento Heme. O grupamento heme, então, fará parte da hemoglobina e da mioglobina, proteínas que levam oxigênio para os tecidos do corpo. Sendo assim, o Fe+2 do grupamento heme se liga a quatro nitrogênios do grupamento heme, e também, a uma molécula de oxigênio. Além disso, ele ainda se liga ao aminoácido histidina, que compõem a proteína globina. A degradação dos grupos heme é feita para que o organismo forme moléculas de bilirrubina. Esses grupamentos heme se encontram, principalmente, ligados a globinas, formando as hemoglobinas. Elas, por sua vez, se encontram nas hemácias. Sendo assim, os grupamentos hemes são degradados juntamente às hemácias do organismo dos animais. As hemácias possuem uma vida média de cerca de 120 dias, porém isso pode variar com a espécie. Nos cães, elas duram cerca de 120 dias, nos gatos cerca de 70 dias e nos equinos duram cerca de 150 dias. Dessa forma, passada essa vida média, as hemácias perdem sua função e, por isso, elas e o grupamento heme são degradados. Sendo assim, as hemácias são fagocitadas pelo endotélio da medula óssea, do baço, do fígado e de outros tecidos, quando ocorrem hematomas, para, posteriormente, a hemoglobina ser degradada e liberar os grupos heme. Primeiramente, a hemoglobina sofre uma oxidação, e é transformada em coleglobina, ou seja, o Fe+2 é oxidado a Fe+3, e por esse motivo a hemoglobina 38 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti deixa de ser funcional e passa a ser coleglobina, também chamada de metahemoglobina. Em seguida, a coleglobina perde a globina, e vira verdohemocromo, ou seja, uma molécula composta pelo anel porfirínico ligado ao Fe+3, agora sem a proteína globina. Então, o Fe+3 é liberado do verdohemocromo, através de uma reação de oxidação. Esse Fe+3 pode ser, então, armazenado ou transportado pelo organismo. Com o desligamento do Fe+3 do verdohemocromo, ocorre a abertura do anel, formando a biliverdina, ou seja, uma molécula linear. A biliverdina possui esse nome porque ela possui coloração verde. Depois disso, a biliverdina passa por uma reação de redução, que desfaz ligações duplas entre alguns carbonos, com isso, forma-se a bilirrubina. A bilirrubina, por sua vez, possui coloração amarela. Sendo assim, a bilirrubina é captada e ligada a uma albumina, para ser transportada pelo sangue até o fígado. No fígado, a bilirrubina sofre um processo de conjugação, no qual duas moléculas de glicuronato são ligadas a ela. Essa ligação é feita para que a bilirrubina se torne mais hidrossolúvel, uma vez que a bilirrubina é uma estrutura hidrofóbica. Dessa forma, a enzima glicuronil transferase pega duas moléculas de UDP-glicoronato, e liga os glicoronatos a bilirrubina, formando o Glicuronato de Bilirrubina. Como a bilirrubina está ligada aos glicuronatos, ela está mais hidrossolúvel e por isso, ela pode ser liberada no intestino dos animais. No intestino, o glicuronato de bilirrubina, também chamado de bilirrubina conjugada, sofre algumas transformações químicas em sua estrutura. Essas transformações químicas dependem da flora intestinal. Sendo assim, primeiro a bilirrubina conjugada é transformada em urobilinogênio. Esse urobilinogênio, por sua vez, é transformado em estercobilinogênio. E o estercobilinogênio é transformado em estercobilina. Todos esses compostos são chamados de pigmentos, já que eles possuem cor. Sendo assim, a estercobilina é 39 Bioquímica Metabólica | Bárbara C. Rovaris | Prof. Liz Claudio Miletti marrom, e é ela a responsável por dar cor marrom as fezes. Já no caso do urobilinogênio e do estercobilinogênio, uma parte deles volta para o fígado, e outra parte deles vai para a urina. Por esse motivo, a urina é amarelada, já que recebe parte do urobilinogênio proveniente da degradação da bilirrubina conjugada. Sendo assim, a porfirina foi totalmente degradada até os pigmentos. Já o ferro e a globina são reaproveitados pelo organismo. a
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