Buscar

Acidentes com animais peçonhentos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
mordeduras e picadas de animais – clín. cirúrgica
- O atendimento ambulatorial dos pacientes que sofrem mordedura ou 
picadas de animais constitui ponto fundamental para a prevenção das 
graves complicações, inclusive morte, que podem ocorrer. Nos últimos 
anos, apesar do desmatamento irracional, os animais venenosos ainda 
podem ser encontrados na zona rural, e mesmo nas grandes cidades. 
- A diminuição dos acidentes provocados por esses animais trouxe 
displicência por parte dos médicos que, ao atenderem as vítimas, 
inicialmente no nível ambulatorial, podem perder a melhor oportunidade 
de tratá-las adequadamente e de prevenir as complicações passíveis de 
ocorrer, tais como insuficiência renal aguda, arritmias cardíacas e 
respiratórias, distúrbios de coagulação, infecções graves e morte. 
MORDEDURA DE MAMÍFEROS 
- Animais como cão, gato, algumas vezes rato, e até mesmo o próprio 
homem, podem atacar humanos, produzindo ferimentos que, pela 
possibilidade de contaminação e de transmissão de doenças infecciosas, 
devem ser tratados corretamente. Embora as feridas decorrentes de 
mordeduras de mamíferos possam parecer inicialmente inócuas, elas 
podem apresentar efeitos devastadores, se ocorrerem complicações. 
HOMEM 
- Além da lesão de pele e tecidos moles, a infecção deve sempre ser 
considerada presente após mordida de humanos. A flora microbiana da 
cavidade oral pode conter até 100 bilhões de bactérias/g de tecido. Esse 
número é 100 mil vezes maior do que o necessário para produzir infecção. 
- Os locais mais comuns de mordeduras humanas são o dorso da mão e o 
couro cabeludo. Outras localizações frequentes incluem pênis, escroto, 
vulva, mama, orelha, nariz e braço. Na maioria das vezes, as lesões não são 
relatadas como decorrentes de mordeduras pelos pacientes, que se sentem 
embaraçados. 
- Por esse motivo, deve-se sempre considerar a possibilidade de mordedura 
humana ao se tratar lesões localizadas no dorso das mãos, couro cabeludo 
e genitália. As lesões do dorso da mão são muitas vezes decorrentes de 
brigas em que o paciente esmurra o adversário. Os dentes ganham acesso 
fácil aos espaços articulares, que são 10 vezes mais suscetíveis à infecção 
do que os tecidos moles em geral. 
- Devido à anatomia da região, a laceração do dorso pode disseminar-se 
proximal e distalmente e mesmo atingir a região palmar. 
- As vítimas de mordeduras humanas demoram a procurar assistência 
médica devido às circunstâncias em que estas ocorrem, o que agrava o 
prognóstico. 
 
Tratamento 
- Algumas condutas são orientadas pela topografia da lesão. Nas mordidas 
do punho, deve-se solicitar uma radiografia para detectar fratura, corpo 
estranho ou mesmo osteomielite nos casos atendidos tardiamente. Essas 
lesões devem ser exploradas após anestesia regional. Feita a limpeza, mão 
e antebraço são imobilizados e mantidos em tipoia. Se parte do dedo, nariz 
ou orelha foi arrancada pela mordida, deve-se tentar o reimplante. Nas 
lesões da orelha com exposição de cartilagem, esta pode ser implantada no 
subcutâneo da região abdominal até que a ferida ofereça condições 
satisfatórias para o reimplante. 
- É importante determinar o esquema de vacinação contra tétano em 
paciente vítima da mordedura e realizar a conduta pertinente. A vacina 
antitetânica deve ser conservada entre 2° e 8°C. O seu congelamento 
provoca a desnaturação 
protei-ca e a 
desagregação do 
adjuvante, com perda de 
potência e aumento dos 
eventos adversos. A dose 
é de 0,5 mL IM, com 
intervalo entre as doses 
de 60 dias, sendo o 
intervalo mínimo de 30 
dias. 
- O soro antitetânico 
(SAT) é obtido de soro de 
equi-nos hiperimunizados 
com toxoide tetânico. A 
apresenta-ção é de 
ampolas de 5 mL 
contendo 5.000 UI de 
SAT. A dose profilática é 
de 5.000 UI (para crianças 
e adultos). A 
administração do SAT é 
realizada por via 
intramuscular, podendo 
ser na região deltoide, na face externa superior do braço, no vasto lateral 
da coxa ou no quadrante supe-rior do glúteo. Quando o volume a ser 
administrado for grande, a dose deve ser dividida entre os membros supe-
riores e a região glútea. 
- Ao administrar o SAT juntamente com a vacina contra o tétano, utilizar 
regiões musculares diferentes. Imunoglobulina humana hiperimune 
antitetânica (IGHAT) é constituída por imunoglobulinas da classe IgG obtida 
do plasma humano, e é indicada em casos de hi-persensibilidade ao SAT, 
história pregressa de alergia ou hipersensibilidade ao uso de outros soros 
heterólogos. 
- A IGHAT apresenta-se sob forma líquida ou liofilizada em frasco-ampola de 
1 mL ou 2 mL contendo 250 UI, e sua conservação deverá ser feita entre 2° 
e 8oC, não podendo ser congelada. A dose, em casos de acidentes, é de 250 
UI por via intramuscular, podendo ser aplicada na região del-toide ou na 
face externa superior do braço. Em menores de 2 anos, utilizar o músculo 
vastolateral da coxa. 
- Deve-se no máximo realizar uma aproximação quando a área afetada for 
muito grande para ajudar na cicatrização, para evitar evoluir com um 
abscesso local. 
 
 
 
2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
ANIMAIS 
- Nas mordeduras de animais, vários fatores predispõem à evolução 
favorável. As lesões são mais lineares, usualmente superficiais, e os 
pacientes procuram assistência médica muito mais precocemente do que 
aqueles mordidos por humanos. 
- A mordedura mais comum é a de cão. Dependendo do tamanho do cão, 
podem ocorrer lesões graves da face, cabeça e membros, principalmente 
em crianças. 
 
- Gatos podem, eventualmente, morder, mas em regra as lesões causadas 
por esses animais decorrem de unhadas. Quando mordem, podem provocar 
contaminação semelhante àquela provocada pela mordedura de outros 
carnívoros. A lesão produzida pela unha do gato pode provocar a “febre da 
arranhadura do gato”, doença ainda pouco conhecida, mas possivelmente 
devida à Bartonella henselae. 
- É caracterizada por febre e por linfadenite regio-nal crônica. Biópsia 
linfonodal pode ser indicada para diagnóstico diferencial com linfoma. 
Lesões semelhantes podem ser observadas em ferimentos provocados por 
fragmentos de ossos de animais. 
- A mordedura do rato é condição rara, no entanto passível de ocorrer em 
laboratórios de pesquisa científica ou em aulas práticas de cursos da área 
biológica. A mordedura do rato pode causar febre pela transmissão de duas 
enfermidades: o sodoku, produzido pelo Spirillum minus, e a febre de 
Haverhill (eritema articular epidêmico), causada pelo Streptobacillus 
moniliformis. 
- Em regra, os sintomas iniciam-se quando pouca ou nenhuma reação 
ocorre na ferida, a qual já se apresenta cicatrizada. Animais de grande porte, 
como leões, onças, tigres, ursos, podem, raramente, ser responsáveis por 
mordedura em humanos, principalmente em zoológicos. 
- Ainda com relação à mordedura de animais, tem destaque a transmissão 
da raiva. Trata-se de uma antropozoonose transmitida ao homem pela 
inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal infectado, 
principalmente pela mordedura. Apresenta letalidade de aproximadamente 
100% e, apesar de ser conhecida desde a Antiguidade, continua sendo 
problema de saúde pública. 
- O vírus da raiva é neurotrópico, e sua ação no sistema nervoso central 
(SNC) causa quadro clínico característico de encefalomielite aguda, 
decorrente da sua replicação viral nos neurônios. Pertence à família 
Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus e espécie Rabies virus. Seu genoma é 
constituído por ácido ribonucleico – RNA. Apenas os mamíferos transmitem 
o vírus da raiva e adoecem por esse vírus. 
- A partir de 2004, o morcego passou a ser o principal transmissor no Brasil.3 
Esse fato se relaciona com os surtos de raiva causados pelos morcegos 
hematófagos, principalmente na Região Amazônica. O cão, em alguns 
municípios, continua sendo fonte de infecçãoimportante. Considera-se que 
a cadeia epidemiológica da raiva está dividida em quatro ciclos, sendo o ser 
humano o hospedeiro final em todos os ciclos, são: urbano, rural, silvestre 
e aéreo. 
- A transmissão ocorre quando o vírus contido na saliva e secreções do 
animal infectado penetra no tecido, principalmente por meio de mordedura 
e, mais raramente, pela arranhadura e lambedura de mucosas e/ou pele 
lesionada. Em seguida, multiplica-se no ponto de inoculação, atinge o 
sistema nervoso periférico e migra para o SNC. A partir do SNC, dissemina-
se para vários órgãos e glândulas salivares, onde também se replica e é 
eliminado na saliva das pessoas ou animais infectados. 
- Devido a vacinação dos animais domésticos o morcego passou a ser o 
principal transmissor. 
Tratamento geral das mordeduras animais 
- Limpeza: Recomenda-se a limpeza com água corrente abundante. Deve ser 
realizada de maneira cuidadosa, visando eliminar as sujidades, sem agravar 
o ferimento. Em seguida, é indicado o uso de antisséptico, como 
polivinilpirrolidona-iodo, digluconato de clorexidina ou álcool iodado. 
- Sutura: Deve ser evitada, já que pode aprofundar o vírus, mas, nos casos 
em que houver possibilidade de comprometimento funcional ou estético, 
infiltrar o soro antirrábico, quando indicado, 1 h antes de executar os pontos 
de aproximação. Nesses casos, recomenda-se a aproximação das bordas 
com pontos isolados. 
- Antibioticoterapia: Recomenda-se avaliar a extensão, localização da lesão 
e características do paciente para verificar a necessidade de 
antimicrobianos. 
- A mordida do cão pode contaminar a ferida e mesmo levar a sepse fatal, 
causada por bacilo gram-negativo denominado Capnocytophaga 
canimorsus, quando a vítima é portadora de imunodeficiência por doença 
crônica ou tenha sido esplenectomizada. Esse organismo é sensível à 
penicilina e à tetraciclina, mas resistente aos amino-glicosídeos. 
- Gatos, ao morderem, podem provocar contaminação semelhante àquela 
provocada pela mordedura de outros carnívoros. A lesão provocada pela 
unha, na “febre da arranhadura do gato”, ocasionalmente pode evoluir para 
abscesso e requerer drenagem cirúrgica. Atualmente, recomenda-se o uso 
de antibióticos mesmo para pacientes imunocompetentes. 
- O antibiótico de escolha é a azitromicina no curso de 5 dias (500 mg no 
primeiro dia, seguido por 250 mg por 4 dias em pacientes com peso acima 
de 45,5 kg; ou 10 mg/kg no primeiro dia, seguido por 5 mg/kg por quatro 
dias para pacientes com peso inferior a 45,5 kg). Em caso de intolerância à 
azitromicina, outros antibióticos podem ser usados: claritromicina, 
rifampicina, sulfametoxazol-trimetoprima e ciprofloxacino. 
- Em casos de mordedura do rato, o tratamento de escolha é feito com 
penicilina intravenosa. Em ferimentos causados por animais de grande 
porte, geralmente as lesões são extensas e fatais e requerem tratamento 
imediato e cirurgia reparadora. 
- Seguem-se, nas mordeduras de animais, os mesmos princípios observados 
para mordedura de humanos. Também em todos os casos, deve-se fazer 
profilaxia do tétano. Com relação à raiva, não há tratamento 
comprovadamente eficaz. Poucos pacientes sobrevivem à doença, a 
maioria com sequelas graves. 
- As exposições (mordeduras, arranhaduras, lambeduras e contatos 
indiretos) devem ser avaliadas de acordo com as características do 
ferimento e do animal envolvido para fins de conduta de esquema 
profilático. 
- Características do ferimento: Com relação à transmissão do vírus da raiva, 
os ferimentos causados por animais devem ser avaliados quanto ao: 
 Local: ferimentos que ocorrem em regiões próximas ao SNC (cabeça, 
face ou pescoço) ou em locais muito inervados (mãos, polpas digitais 
e região plantar) são considerados graves. A lambedura de mucosas 
também é considerada grave, por serem as mucosas permeáveis ao 
vírus e as lambeduras geralmente abrangerem áreas mais extensas. 
 Profundidade: os ferimentos devem ser classificados como 
superficiais (sem presença de sangramento) ou profundos 
(apresentam sangramento, ultrapassando a derme). Os ferimentos 
puntiformes são considerados como profundos, ainda que algumas 
vezes não apresentem sangramento. 
 Extensão e número de lesões: deve-se observar a extensão da lesão e 
se é única ou múltipla 
- Características do animal: Cão e gato. As características da doença, como 
período de incubação, transmissão e quadro clínico, são bem conhecidas e 
 
3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
semelhantes. Por isso, esses animais são analisados em conjunto. Em caso 
de acidente com esses animais, é necessário avaliar: 
 Estado de saúde do animal no momento da agressão: avaliar se o 
animal estava sadio ou se apresentava sinais sugestivos de raiva. 
 Observação do animal: se o animal estiver sadio no momento do 
acidente, é importante que ele seja mantido em observação por 10 
dias. O período de incubação da doença em cães e gatos é, em geral, 
de 60 dias. No entanto, a excreção de vírus pela saliva, ou seja, o 
período em que o animal pode transmitir a doença, só ocorre a partir 
do final do período de incubação, variando entre 2 e 5 dias antes do 
aparecimento dos sinais clínicos, persistindo até sua morte, que 
ocorre em até 5 dias após o início dos sintomas. Por isso, o animal deve 
ser observado por 10 dias. 
 Procedência do animal: é necessário saber se o animal é proveniente 
de região onde a raiva é ou não controlada. 
 Hábitos de vida do animal: se domiciliado ou não domiciliado. 
- Animais silvestres: Animais silvestres como morcego, macacos e raposas, 
devem ser classificados como animais de risco, mesmo que domiciliados 
e/ou domesticados, haja vista que, nesses animais, a raiva não é bem 
conhecida. Muitos relatos na literatura médica demonstram que o risco de 
transmissão do vírus pelo morcego é elevado, independente do tipo do 
ferimento. 
- Animais domésticos de interesse econômico: Os animais domésticos de 
produção ou interesse econômico, como bovinos e equídeos, também são 
animais de risco. 
- É importante conhecer o tipo, a frequência e o grau de contato ou 
exposição. Todas as características supracitadas são fundamentais para 
determinar a indicação ou não da profilaxia de raiva. 
- O contato indireto, como a manipulação de utensílios potencialmente 
contaminados, a lambedura da pele íntegra e acidentes com agulhas 
durante aplicação, não é considerado acidente de risco e não exige 
esquema profilático. 
- Sem tratamento profilático, a raiva ocorre em 32% a 61% das pessoas 
expostas ao vírus e depende da espécie agressora, do local da lesão e da 
carga viral. Por isso, a profilaxia com vacina e/ou soro antirrábico deve ser 
sempre considerada, atuando-se de acordo com as recomendações do 
Ministério da Saúde. 
- Deve-se infiltrar nas lesões a maior quantidade possível de soro 
antirrábico. Nas lesões muito extensas ou múltiplas, a dose pode ser diluída 
em solução salina a 0,9%, para que todas as lesões sejam infiltradas. Caso a 
região anatômica não permita a infiltração de toda a dose, a quantidade 
restante, a menor possível, deve ser aplicada por via intramuscular, em local 
diferente da vacina. 
- Deve ser usado até o sétimo dia do início da profilaxia pós-exposição. Após 
esse tempo, o uso do soro é desnecessário, tendo em vista que o nível de 
anticorpos produzidos em resposta à vacinação está elevado. Apesar de os 
soros heterólogos produzidos atualmente serem considerados seguros, 
reações adversas podem ocorrer. A reação mais grave é o choque 
anafilático, que deve ser tratado de maneira clássica, conforme descrito 
posteriormente neste capítulo. Nos casos de reações, deve-se substituir o 
soro heterólogo por imunoglobulina humana antirrábica. 
 
 
 
4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
 
PICADAS E MORDEDURAS DE ANIMAIS PEÇONHENTOS 
- Os animais que podem inocular substâncias tóxicassão denominados 
animais venenosos. Entretanto, o termo correto para a maioria dos 
“animais venenosos” seria animais peçonhentos. As peçonhas são produtos 
de atividades de glândulas cujos canais excretores abrem-se para o exterior 
ou para a cavidade bucal. Os venenos, por sua vez, podem ser de origem 
animal, vegetal ou mineral e não são excretados por glândulas especiais, ao 
contrário dos peçonhentos. 
SERPENTES 
- As serpentes estão zoologicamente agrupadas na subordem Ophidia, 
ordem Squamata e classe Reptilia. São encontradas, com poucas exceções, 
em toda a superfície do globo terrestre, vivendo algumas em áreas 
oceânicas ou de água doce. As serpentes podem também ser classificadas 
com base na capacidade inoculadora da peçonha: 
• Áglifas: serpentes com dentes maciços, sem presas na maxila e sem canal 
central e sem sulco externo. 
• Opistóglifas: apresentam um par ou mais de presas no maxilar de 
localização posterior. A peçonha escorre através da canaleta externa do 
dente. 
• Proteróglifa: serpentes com um par ou mais de presas no maxilar de 
localização anterior. A peçonha também escorre pela canaleta do dente. 
• Solenóglifa: apresentam um ou mais pares de presas maxilares grandes e 
canaliculares, com um canal central por onde é inoculada a peçonha. 
- No Brasil, as 
serpentes 
peçonhentas de 
interesse clínico estão 
representadas pelos 
gêneros Bothrops 
(incluindo Bothriopsis 
e Bothridium), 
Crotalus, Lachesis e 
Micrurus, havendo 
relatos de acidentes 
com manifestações 
clínicas locais por 
serpentes dos gêneros 
Philodrya e Clelis (colubrídeos). 
- A peçonha de serpentes é secretada por um par de glândulas supralabiais 
dispostas simetricamente em posição póstero-inferior com relação aos 
olhos. O animal, ao picar, não morde, mas dá o bote com a boca aberta, o 
que faz com que as presas penetrem no tegumento à maneira de uma 
agulha hipodérmica. O conteúdo das glândulas é, então, ejetado sob 
pressão. 
- Do conhecimento desse fato resultam duas conclusões importantes: a 
primeira é que se pode ter uma ideia do tipo de serpente que produziu o 
ferimento pelas marcas deixadas no local da picada; e a segunda diz respeito 
às serpentes proteróglifas e solenóglifas, que, devido à posição das presas, 
são as que têm maior facilidade para inocular a peçonha. 
 
- Exceção das peçonhentas é a cobra coral, esta parece mais com as não 
peçonhentas. 
- Maioria das cobras de interesse clínico são solenóglifas 
- Verifica-se o 
predomínio do acidente 
botrópico, que constitui 
87,4% dos casos 
notificados no país, 
seguidos do crotálico 
(8,8%). Serpentes dos 
gêneros Micrurus (corais) 
e Lachesis (surucucus) 
são mais raras, com 
incidência aproximada de 
0,6% e 3,2% 
respectivamente;10 as 
últimas ocorrem apenas 
na Região Amazônica e em áreas com remanescentes da Mata Atlântica. As 
serpentes do gênero Crotalus, em Minas Gerais, causam quase o dobro de 
acidentes que a média nacional. 
- A natureza química dos venenos de serpentes mostra composição 
heterogênea de proteínas com atividade enzimática. 
 
5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
 
Quadro clínico 
- Os efeitos das peçonhas sobre o homem mostram que existe uma 
multiplicidade de ação, podendo-se observar sinais neurotóxicos, 
hemorrágicos, citotóxicos e anticoagulantes. A manifestação clínica 
predominante vai depender da espécie de serpente e do indivíduo. 
 
- Todas as serpentes do gênero Bothrops produzem manifestações clínicas 
semelhantes, variando apenas a intensidade, de acordo com a quantidade 
de peçonha inoculada e com a idade da serpente. A sequência de eventos 
é: dor no local da picada, edema progressivo, manchas avermelhadas, 
manchas arroxeadas, bolhas com sangue em seu interior, febre e infecção 
secundária. Abscessos ocorrem em 10% a 20% dos acidentes; já a síndrome 
compartimental é identificada em menos de 1% e está associada ao uso de 
torniquete. 
- Uma importante característica do acidente botrópico é a ausência de ação 
neurotóxica. Sangramento do trato gastrintestinal, vômitos biliosos, 
sudorese, hemorragia gengival e hematúria podem ocorrer, sobretudo 
quando o soro específico é aplicado tardiamente. O distúrbio de coagulação 
ocorre 30 a 60 min após a picada e pode ser o único sinal de 
envenenamento, principalmente nos acidentes ocasionados por filhotes de 
Bothrops. 
 
- Em regra, a picada de cascavel não provoca dor, ou, quando provoca, é de 
pequena intensidade. O edema é discreto, e as vítimas referem sensação de 
dormência ou formigamento no local. Trinta a 60 min após, aparecem dores 
musculares generalizadas, ptose palpebral, obnubilação, tonturas, 
diminuição da acuidade visual, diplopia, urina de coloração vinhosa 
(mioglobinúria). Em alguns casos podem ocorrer vômitos. O perigo maior é 
a insuficiência renal aguda, que constitui a principal causa de óbito. 
Insuficiência respiratória pode ocorrer também. 
 
- As picadas por coral não causam dor. Parestesia da região ocorre logo após 
a picada, com irradiação para a raiz do membro afetado. Trinta a 60 min 
após, pode ocorrer ptose palpebral, salivação viscosa e disfagia. A morte 
pode ser causada por paralisia respiratória. Todos os acidentes por coral são 
considerados graves. 
 
- As pessoas picadas por serpentes do grupo laquético apresentam sintomas 
semelhantes aos das picadas pelas do grupo botrópico. Os casos relatados 
são poucos, o que contribui para que os aspectos relacionados com a 
morbidade e mortalidade nesses acidentes sejam ainda pouco conhecidos. 
 
- As serpentes não venenosas podem também, eventualmente, picar o 
homem, e, embora não ocorra nenhuma consequência grave, a vítima sente 
grande ansiedade. De maneira geral, podem ocorrer alterações locais, como 
dor moderada, edema discreto e eritema da área atingida, sobretudo nos 
acidentes por colubrídeos (cobra-ver-de e cobra-cipó). 
Exames complementares 
- Embora os exames complementares tenham pouca importância na 
classificação do acidente, sua realização pode contribuir para a condução 
dos casos. Após acidentes ofídicos, podem ocorrer complicações como 
insuficiência renal aguda, distúrbios de coagulação, choque circulatório e 
insuficiência respiratória aguda. 
- Por isso, já no primeiro atendimento, deve ser colhido sangue para estudo 
da coagulação sanguínea (tempo de coagulação, plaquetas, fibrinogênio, 
atividade de protrombina com RNI e TTP), hemograma, eletrólitos e 
determinação do grupo sanguíneo. Posteriormente, caso necessário, serão 
feitos exames especiais, como ECG, radiografias, ecocardiograma. 
 
Tratamento 
- O paciente picado por serpente peçonhenta deve ser levado o mais rápido 
possível para um local que disponha de facilidades para administrar o 
antiveneno específico. No Brasil, os óbitos causados por acidentes ofídicos 
ocorrem sobretudo nos pacientes que recebem o tratamento específico 
com mais de 6 h após o acidente. O tratamento consiste em medidas gerais 
e específicas. 
- Medidas gerais 
1. Tranquilizar o paciente. 
2. Manter o paciente em repouso para reduzir a absorção da peçonha. 
3. Manter o membro afetado elevado e estendido para reduzir a 
intensidade do edema, sobretudo nos acidentes botrópicos. 
4. Lavar cuidadosamente o local da picada com água e sabão. 
5. Não administrar sedativos, anti-histamínicos nem medicamentos 
depressores do SNC, pois esses medicamentos prejudicam a avaliação 
clínica do estado mental. 
6. Não garrotear o membro acometido, não fazer incisões no local da 
picada e não fazer sucção da área afetada, pois esses procedimentos 
podem agravar as lesões locais e predispor a infecções. 
 
6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
7. Remover o paciente para local onde soroterapia específica possa ser 
feita. 
Tratamento específico 
- A medida mais importante do tratamento dos acidentes ofídicos é a 
soroterapia específica. NoBrasil, os soros antiofídicos são obtidos a partir 
da imunização de cavalos, utilizando-se como antígenos os venenos das 
principais serpentes peçonhentas encontradas em nosso meio. 
- Para acidentes causados por cobras jararacas, é utilizado o soro 
antibotrópico (SAB), pela cascavel o anticrotálico (SAC), pela coral o 
antielapídico (SAE), pela surucucu o antilaquético (SAL), e existe também 
disponível o bivalente antibotrópico/antilaquético, sendo os dois últimos 
destinados à Região Amazônica. 
- Para que se tenha êxito com a aplicação do soro, é necessário que sejam 
seguidos alguns princípios: 
1. A dose do soro deve ser suficiente para neutralizar a quantidade de 
veneno inoculada. Portanto, a mesma dose administrada no adulto deve ser 
ministrada na criança, pois a quantidade de peçonha inoculada é a mesma. 
2. O soro administrado deve ser específico. Por esse motivo, faz-se mister o 
diagnóstico correto do envenenamento. Como apenas 20% dos pacientes 
capturam a serpente, possibilitando a sua identificação, o diagnóstico do 
tipo de acidente deve ser feito com base nos sinais e sintomas clínicos e nas 
alterações dos exames laboratoriais. Em nosso meio, os métodos 
imunoenzimáticos (ELISA) são disponíveis apenas para investigação 
científica e ainda não estão na rotina dos laboratórios de análise. 
3. O soro deve ser aplicado o mais rapidamente possível. Portanto, deve ser 
administrado por via venosa, diluído ou não, em solução salina a 0,9% ou de 
glicose a 5%. O tempo de infusão deve ser de 20 a 30 min. 
4. O Ministério da Saúde não recomenda a realização de teste de 
sensibilidade, já que os valores preditivos positivo e negativo do teste são 
baixos, além de sua realização retardar o início do tratamento. Caso 
ocorram reações, estas devem ser tratadas apropriadamente. 
- As doses dependem da gravidade do acidente. 
 
 
 
 
 
 
Reações ao soro 
- Como os soros antiofídicos são obtidos de cavalos, eles podem produzir 
reações de hipersensibilidade e atrasar o tratamento ou comprometer sua 
realização. Se ocorrer reação imediata após a administração venosa do soro, 
a infusão é suspensa e faz-se adrenalina subcutânea (0,5 mL de solução 
aquosa 1:1.000 a cada 15 a 30 min) + anti-histamínicos + corticoides por via 
endovenosa, dependendo da gravidade da reação. 
- Além dessa reação precoce ao soro, pode ocorrer a reação tardia, 4 a 10 
dias após. Essa reação, conhecida como “doença do soro”, caracteriza-se 
por febre, urticária e dores articulares. Deve ser tratada com 
corticosteroides e anti--histamínicos sistêmicos. 
Terapêutica complementar 
• Anti-histamínicos (prometazina 0,5 mg/kg de peso, até 35 mg IM) e 
hidrocortisona 10 mg/kg de peso IV até o máximo de 1.000 mg são 
recomendados por alguns serviços para serem utilizados 10 a 15 min antes 
da administração da soroterapia específica, objetivando a prevenção de 
reações de hipersensibilidade ao soro. 
• Antibióticos: indicados nos casos de acidentes botrópicos complicados por 
infecções. 
• Profilaxia do tétano: recomendada em todos os acidentes ofídicos. 
- Outras medidas, como respiração artificial, correção dos distúrbios 
hidreletrolíticos e acidobásicos, diálise e punção venosa central, deverão ser 
tomadas com o paciente internado, se necessário. 
Complicações 
- As complicações mais graves relacionadas com os acidentes ofídicos são: 
 
7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
• Acidentes botrópico e laquético: síndrome compartimental, necrose, 
sangramento maçico, choque e insuficiência renal aguda. 
• Acidente crotálico: insuficiência renal aguda e insuficiência respiratória. 
• Acidente elapídico: insuficiência respiratória aguda 
- A síndrome compartimental é complicação rara, porém, quando ocorre, é 
precoce (nas primeiras 24 h). É definida como o aumento da pressão dentro 
de um compartimento fechado, por onde transcorrem músculos, nervos e 
vasos, comprometendo a circulação sanguínea e a função neuromuscular. 
- O veneno botrópico propicia o desenvolvimento da síndrome por causar 
processo inflamatório e hemorragia no local da picada. Tem como fator 
agravante o uso de torniquete. Quando diagnosticada a síndrome, há 
necessidade de rápida intervenção. O objetivo do tratamento consiste em 
minimizar os déficits de função do membro pela imediata restauração do 
fluxo sanguíneo. A descompressão cirúrgica (fasciotomia) deve ser realizada 
em todas as fáscias limitantes da expansão do compartimento. 
- A necrose deve ser desbridada quando a área estiver delimitada. 
- O prognóstico dos acidentes ofídicos varia de acordo com a espécie de 
serpente responsável pela picada, quantidade de peçonha inoculada, idade 
do paciente (quanto mais jovem, mais grave), estado de nutrição e tipo de 
atendimento recebido. Em regra, os acidentes por serpentes do gênero 
Bothrops apresentam pequena porcentagem de mortalidade. Por outro 
lado, os acidentes produzidos por cascavel apresentam, quando não 
tratados, taxa de mortalidade de cerca de 1,8%. O atendimento 
ambulatorial bem-conduzido, associado à sua precocidade, constitui o 
tópico mais importante na avaliação do prognóstico. 
- Após o atendimento ambulatorial correto, todos os pacientes que 
sofreram picadas de serpentes peçonhentas devem ser encaminhados a um 
hospital para internação. Devido às graves complicações possíveis em 
acidentes ofídicos, todos os pacientes vítimas de acidentes ofídicos devem 
permanecer internados pelo período mínimo de 3 dias. 
ESCORPIÕES 
- Zoologicamente, os escorpiões pertencem à classe Arachnida, ordem 
Escorpiones. Há mais de 500 espécies. Devido ao fato de os escorpiões da 
família Buthidae produzirem peçonha tóxica para o homem, eles foram 
bioquímica e farmacologicamente mais bem caracterizados dos que os das 
outras cinco famílias do subgrupo Chaetoides, Chaetidae, Scorpionidae, 
Diplocentridae, Dothrimidae e Vejovidae. 
- Todos os venenos, independentemente da espécie, têm seu componente 
tóxico, denominado toxina, constituído de polipeptídicos de baixo peso 
molecular. Na família Buthidae, duas toxinas, uma contendo 61 a 70 
aminoácidos e outra 36 a 38 aminoácidos, têm sido descritas por vários 
pesquisadores. 
- No Brasil, apresentam interesse clínico os escorpiões do gênero Tityus, 
principalmente o T. serrulatus, o T. bahiensis e o T. stigmurus. 
- O acidente escorpiônico é o de maior número de notificações no país. A 
maior incidência ocorre nos Estados do Nordeste com incidência de 32 
acidentes por 100.000 habitantes. A faixa etária com mais registros (47,6% 
dos casos) foi entre 20 e 49 anos. Crianças entre 1 e 9 anos estão na faixa 
etária com maior quantidade de óbitos (39/88), principalmente aqueles 
que, na vigência do quadro sistêmico, recebem atendimento 6 h ou mais 
após a picada. 
 
- Embora a urbanização tenha diminuído o hábitat natural dos escorpiões, 
estes se adaptaram ao ambiente doméstico, tornando-se domiciliares. Nas 
residências, eles podem ser encontrados em fendas de muros, em porões, 
garagens, cantos de jardins, lavanderias, sobre os telhados e em lenha 
empilhada. Apresentam hábitos noturnos, mantendo-se escondidos 
durante o dia e saindo à noite para procurar alimento. 
- Só picam o homem se tocados acidentalmente. As picadas são mais 
frequentes nas mãos. Os sintomas de envenenamento são decorrentes de 
neurotoxicidade, e as reações à picada são semelhantes em praticamente 
todas as espécies. 
 
Mecanismo de ação do veneno escorpiônico 
- O mecanismo de ação da toxina escorpiônica ainda não está 
completamente conhecido. O veneno bruto de quase todas as espécies 
contém uma ou mais neurotoxinas capazes de estimular as terminações 
nervosas periféricas, seja do sistema nervoso autônomo, seja do somático. 
- A maior parte dos defeitos parece ser devida à ação das toxinas nos canais 
de sódio das terminações nervosas pós-ganglionares do simpático e do 
parassimpático.Dessa estimulação resulta a despolarização das fibras 
nervosas pós-ganglionares, com liberação de mediadores químicos, 
principalmente acetilcolina e catecolaminas. 
- Outros mediadores, como serotonina, bradicinina, substância P e outros 
peptídios, mediadores da síndrome de resposta inflamatória sistêmica, 
parecem, também, ser liberados pela toxina. Os sinais e sintomas podem 
ser explicados fisiopatologicamente pelo efeito dessas substâncias sobre 
seus receptores específicos. 
Quadro clínico 
- Os acidentes por Tityus serrulatus são mais graves do que os produzidos 
pelo Tityus bahiensis. Crianças e idosos são mais suscetíveis à toxina. A dor 
local é sintoma predominante no acidente escorpiônico, podendo ser 
acompanhada de parestesias. Nos acidentes moderados e graves, após 
intervalo de minutos até algumas horas, podem surgir manifestações 
clínicas. 
- O encontro dos 
sinais e sintomas 
mencionados 
impõe a suspeita 
clínica de 
escorpionismo, 
mesmo na 
ausência de 
história de picada 
e 
independentemente do encontro do escorpião. 
- A gravidade depende de fatores como a espécie e tamanho do escorpião, 
a quantidade de veneno inoculado, a massa corporal do acidentado e a 
sensibilidade do paciente ao veneno. Influem na evolução o diagnóstico 
precoce, o tempo decorrido entre a picada e a administração do soro e a 
manutenção das funções vitais. Com base nas manifestações clínicas, os 
acidentes podem ser inicialmente classificados como leves, moderados e 
graves. 
- Os óbitos estão relacionados com complicações como ritmos 
bradicárdicos, convulsões, coma, edema pulmonar e choque. 
 
8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
Exames complementares 
- Os exames laboratoriais complementares têm importância no 
acompanhamento dos pacientes. O emprego de técnicas de 
imunodiagnóstico (ELISA) para detecção plasmática de veneno do escorpião 
Tityus serrulatus tem demonstrado a presença de veneno circulante nas 
formas graves de escorpionismo. 
- Hemograma: A leucocitose com neutrofilia está presente nas formas 
graves e em cerca de 50% das moderadas. 
- Glicemia: Geralmente se apresenta elevada, nas formas moderadas e 
graves, nas 4 primeiras horas após a picada. 
- Amilasemia: Está elevada em metade dos casos moderados e em cerca de 
80% dos casos graves. 
- Íons: Usualmente ocorrem hiponatremia e hipopotassemia. 
- Creatinofosfoquinase: A CK e sua fração MB estão elevadas em 
porcentagens significativas dos casos graves. 
- Radiografia de tórax: Pode evidenciar aumento da área cardíaca e sinais 
de edema pulmonar agudo, eventualmente unilateral. 
- Eletrocardiograma: É de grande utilidade no acompanhamento dos 
pacientes. Pode mostrar taquicardia ou bradicardia sinusal, extrassístoles 
ventriculares, distúrbios de repolarização ventricular, como inversão da 
onda T em várias derivações, presença de ondas U proeminentes, 
alterações semelhantes às observadas no infarto agudo do miocárdio 
(presença de ondas Q e supra-ou infradesnivelamento do segmento ST) e 
desaparecem em 3 dias na grande maioria dos casos, mas podem persistir 
por 7 ou mais dias. 
- Ecocardiograma: Pode demonstrar, nas formas graves, hipocinesia 
transitória do septo interventricular e da parede posterior do ventrículo 
esquerdo, às vezes associada a regurgitação mitral. 
- Nos casos de pacientes com hemiplegia, a tomografia cerebral 
computadorizada pode mostrar alterações compatíveis com infarto 
cerebral. 
 
Tratamento sintomático 
- A dor no local da picada pode ser tratada com dipirona (10 mg/kg) de 6/6 
h e, se necessário, infiltração de lidocaína a 2%, sem vasoconstritor, no local 
da picada. As náuseas e vômitos são combatidos com bromoprida (5 mg/kg 
a 10 mg/kg), enquanto os distúrbios hidreletrolíticos são abordados de 
acordo com as medidas apropriadas a cada caso. 
Tratamento específico 
- Especialmente indicado nas formas moderadas e graves de escorpionismo, 
mais comum em crianças, consiste na administração do soro 
antiescorpiônico (SAE). A soroterapia deve ser instituída o mais 
precocemente possível por via endovenosa e em dose adequada de acordo 
com a gravidade estimada do acidente. 
- O objetivo da soroterapia específica é neutralizar o veneno circulante. Os 
sinais e sintomas não regridem prontamente após a administração do soro 
específico, pois o SAE não bloqueia o veneno ligado aos receptores teciduais 
que são responsáveis pela liberação de neurotransmissores. Entretanto, a 
administração do antiveneno específico pode, teoricamente, impedir o 
agravamento das manifestações clínicas em função de manter títulos 
elevados de antiveneno circulante capazes de neutralizar a toxina que está 
sendo difundida no plasma a partir do local da picada. 
- A administração do SAE é segura, e a incidência e a gravidade das reações 
de hipersensibilidade precoce são pequenas. Quanto mais grave for a 
intoxicação, menor a possibilidade de reações ao soro, pois a quantidade de 
adrenalina, nos casos graves, protege os pacientes contra o aparecimento 
das reações. 
 
Complicações 
- Os pacientes com manifestações sistêmicas, especialmente crianças (casos 
moderados e graves), devem ser mantidos em regime de observação 
constante das funções vitais, objetivando o diagnóstico e tratamento 
precoce das complicações. 
- A bradicardia sinusal e o bloqueio AV total devem ser tratados com injeção 
venosa de atropina na dose de 0,05/kg de peso para crianças e 0,5 mg a 1 
mg (dose total) para adultos. 
- A hipertensão arterial associada ou não a edema pulmonar agudo é 
tratada com nifedipina sublingual na dose de 0,5 mg/kg em crianças e 5 mg 
a 10 mg em adultos. Nos pacientes com edema pulmonar agudo, além das 
medidas convencionais de tratamento, deve ser considerada a necessidade 
de ventilação artificial me-cânica, dependendo da evolução clínica. 
- O tratamento da insuficiência cardíaca e do choque é complexo e 
geralmente requer o emprego de infusão venosa contínua de dopamina ou 
dobutamina (2,5 μg/kg a 20 μg/kg de peso/min), além de rotinas usuais para 
essas complicações. 
- A experiência com tratamento das intoxicações causadas pela picada de 
escorpião tem demonstrado que crianças apresentam maior risco de 
complicações e que constitui erro frequente a administração de subdoses 
de SAE. Como a área corporal das crianças é menor e o tempo de circulação 
muito mais rápido, esses dois parâmetros devem ser considerados e o SAE 
deve ser administrado na dose suficiente para neutralizar a quantidade de 
veneno inoculado, que, teoricamente, é a mesma em adultos ou crianças. 
Portanto, a dose de soro para crianças deve ser a mesma usada em adultos. 
 
9 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
ARANHAS 
- As aranhas pertencem à ordem Aranea, uma das maiores divisões da classe 
Arachnida. Como outros aracnídeos são predadores, alimentam-se 
principalmente de insetos e desempenham importante papel no controle 
de pragas causadas por esses animais. 
- Ao contrário das peçonhas dos escorpiões, que produzem praticamente o 
mesmo efeito, independentemente da espécie, os venenos das aranhas 
apresentam mecanismos de ação diversos, dependendo da espécie 
considerada. Existem aproximadamente 30.000 espécies de aranhas, quase 
todas venenosas. 
- Felizmente, as quelíceras da maioria das espécies são fracas e incapazes 
de penetrar através da pele, e seus venenos causam apenas sintomas 
discretos ou lesões localizadas. 
- Os gêneros de aranhas no Brasil que apresentam interesse clínico são: 
Loxosceles (aranha marrom) e Latrodectus (viúva-negra). Os casos de 
picadas por Latrodectus no Brasil são pouco frequentes e ocorrem 
sobretudo no litoral da Bahia. 
- As aranhas caranguejeiras, apesar de seu porte avantajado e aparência 
assustadora, têm dificuldade de inocular veneno e, quando picam, 
produzem apenas dor local. Os pelos desprendidos do corpo dessas 
aranhas, quando são manipuladasou se sentem ameaçadas, podem 
ocasionar dermatite pruriginosa. 
- Os acidentes por aranhas do gênero Lycosa (aranhas de jardim) têm sido 
observados com mais frequência, e essas aranhas entram, também, no 
grupo de aranhas que tem interesse clínico. 
- o loxoscelismo foi responsável por 38% das notificações, enquanto o 
foneutrismo respondeu por 14,1% e o latrodectismo por 0,5%. 
 
Mecanismo de ação dos venenos das aranhas 
- Os venenos de Phoneutria sp. e de Latrodectus sp. apresentam atividade 
neurotóxica. O veneno fonêutrico atua sobre os canais de sódio, produzindo 
despolarização das terminações nervosas do SNA, ocasionando liberação de 
mediadores colinérgicos e adrenérgicos. 
- O veneno latrodético também é neurotóxico, e seu principal componente 
tóxico (a latrotoxina) liga-se a receptores específicos da membrana pré-
sináptica, causando a liberação de vários neurotransmissores. Por outro 
lado, o veneno loxoscélico pode causar lesão necrótico-isquêmica na região 
da picada e hemólise intravascular. A coagulação intravascular disseminada, 
que pode ocorrer na forma cutâneo-visceral, tem sido atribuída à lesão do 
endotélio vascular, à hemólise e à liberação de mediadores da inflamação. 
Quadro clínico 
- Os casos leves ou benignos que resultam da maioria dos acidentes 
evoluem apenas com manifestações locais. A dor na região da picada é de 
intensidade variada, podendo ser excruciante, com irradiação para a raiz do 
membro acometido nos acidentes por Phoneutria e Latrodectus. Nas 
picadas por Loxosceles, a dor é mais tardia e é descrita como sensação de 
queimação. 
- Nas formas cutâneas, além da dor, surgem, no local da picada, edema 
indurado e eritema. Após 48 h, aparecem áreas hemorrágicas mescladas 
com áreas esbranquiçadas de isquemia (placa marmórea), que podem 
evoluir para necrose e ulceração. Podem aparecer fenômenos gerais, como 
febre e exantema escarlatiniforme, que não guardam relação com a 
gravidade. 
- Na forma grave de loxoscelismo, denominada cutâneo-visceral, que ocorre 
em 3% a 20% dos acidentes, além do comprometimento cutâneo, o 
paciente apresenta alterações do estado mental, icterícia e hemoglobinúria, 
podendo sobrevir insuficiência renal aguda. 
- As formas graves de acidentes por Phoneutria (apro-ximadamente 1% dos 
casos) e por Latrodectus podem decorrer da liberação maciça de 
neurotransmissores pelo veneno. Além da dor, nos casos graves de 
foneutrismo estão presentes manifestações como vômitos, diarreia, 
priapismo, arritmias cardíacas, edema pulmonar agudo e choque. 
- Os acidentes graves por Latrodectus evoluem com dor insuportável, 
irradiando-se para a raiz do membro picado, fasciculações e contraturas de 
grupos musculares próximos ao local da picada e, posteriormente, das 
musculaturas paravertebral e abdominal, podendo ocorrer opistótono, 
rigidez abdominal (podendo trazer suspeita de abdome agudo) e 
insuficiência respiratória aguda. 
- O paciente pode apresentar priapismo, lacrimejamento, sialorreia, 
sudorese e secreção traqueobrônquica abundante. As manifestações 
cardíacas incluem taquicardia, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, 
isquemia miocárdica e choque. 
- As alterações neurológicas caracterizam-se por cefaleia, convulsão e coma. 
Em geral, o quadro regride após 48 h, mas as dores musculares podem 
persistir por vários dias. 
Exames complementares 
- Os pacientes com quadro de loxoscelismo cutâneo--visceral apresentam 
anemia hemolítica grave, com elevação dos níveis séricos de bilirrubina 
direta e indireta, explicada não só pela hemólise, mas também pela possível 
ação hepatotóxica do veneno. Podem ocorrer hipofibrinogenemia, 
plaquetopenia e elevação dos produtos de degradação da fibrina. 
- A ureia e a creatinina plasmáticas aumentadas denotam a presença de 
insuficiência renal aguda. O exame de rotina da urina revela 
hemoglobinúria. Nos casos graves de foneutrismo e latrodectismo, podem 
ocorrer leucocitose e hiperglicemia. 
Tratamento 
- A dor nos acidentes por Phoneutria e Latrodectus é tratada por infiltração 
local de lidocaína a 1% ou 2% sem vasoconstritor, e os vômitos, com 
procinético (bromoprida). Corticosteroides (metilprednisona 1 mg/kg/dia) 
estão indicados nos pacientes com loxoscelismo cutâneo-visceral, 
objetivando a redução da hemólise intravascular. 
- Os espasmos musculares e as convulsões decorrentes do envenenamento 
latrodéctico são tratados com benzodiazepínicos por via venosa (diazepam 
0,5 mg a 1 mg/kg de peso por dose nas crianças). 
- A soroterapia no araneísmo11 deve ser recomendada de acordo com o 
tipo de aranha e com as manifestações clínicas. Os casos graves de 
acidentes por Phoneutria e Latro-dectus e os pacientes picados por 
Loxoxceles que desenvolvem insuficiência renal aguda devem ser admitidos 
nos centros de tratamento intensivo, uma vez que podem vir a necessitar 
de suporte artificial das funções vitais. As lesões cutâneas do loxoscelismo 
podem ser extensas e necessitar de cirurgia plástica reparadora. 
LARVAS E FORMAS ADULTAS DE MARIPOSAS E BORBOLETAS 
 - O acidente causado pelo contato de lagartas com a pele, seguido da 
inoculação de toxinas presentes nos pelos das larvas, causa 
frequentemente alterações locais e pode determinar, em alguns casos, 
repercussões sistêmicas. São considerados de importância médica os 
acidentes causados por larvas de insetos pertencentes à ordem 
Lepidoptera. 
- As principais famílias de lepidópteros causadoras de acidentes são 
Megalopygidae e Saturnidae, nessa última família, incluindo-se o gênero 
Lonomia. São bastante conhecidas as queimaduras produzidas por larvas de 
lepidópteros. Os sintomas advêm de reação produzida pelo contato entre a 
pele e os pelos externos das larvas, vulgarmente conhecidas por lagartas-
de-fogo, taturanas ou lagartas-cabeludas. 
 
10 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
- Lagartas do gênero Lonomia, que se aglomeram em placas nos troncos das 
árvores (seringueiras, na Região Norte; pessegueiros, abacateiros, 
ameixeiras, ipê e araticum, na Região Sul), podem ocasionar acidentes com 
manifestações hemorrágicas sistêmicas intensas, graves e, às vezes, fatais. 
No Brasil, os acidentes foram primeiro descritos na Região Norte, causados 
pela Lonomia achelous, mas passaram também a ocorrer com frequência 
crescente na Região Sul (Lonomia obliqua) e também no Estado de São 
Paulo. 
- As formas adultas do gênero Hylesia apresentam a parte posterior coberta 
de pelos, que têm o formato de pequenas setas. Ao se chocarem contra as 
lâmpadas e janelas, essas setas desprendem-se e flutuam no ar como 
poeira, podendo cair sobre as pessoas naquele ambiente ou sobre as 
poltronas e camas. 
 
Quadro clínico 
- Os sinais e sintomas decorrem da penetração dos pelos ou cerdas das 
lagartas na pele, com ruptura e liberação de veneno. O acidentado queixa-
se de prurido e de dor intensa, tipo queimação, no local do contato, que 
pode irradiar-se pelo segmento acometido até a raiz do membro em 
decorrência de linfangite e infartamento linfonodal. 
- As lesões dermatológicas caracterizam-se por edema local, pápulas 
esbranquiçadas isoladas ou agrupadas, urticária, vesículas e bolhas, que se 
rompem produzindo crostas, descamação e pigmentação residual. O tempo 
médio de evolução até a descamação é de 8 dias. Nos casos mais graves, o 
paciente pode apresentar febre, artralgias, náuseas e vômitos. Os pelos 
podem, também, penetrar nos olhos, produzindo conjuntivite e queratite, 
acompanhadas de fotofobia, lacrimejamento, eritema e edema palpebrais. 
- O contato com lagartas do gênero Lonomia pode produzir uma diátese 
hemorrágica decorrente da inoculação de hemolinfa com propriedades 
fibrinolíticas. O paciente pode apresentar hematomas cutâneos, 
sangramento urinário e gastrintestinal e hemorragia intracraniana. Podem 
sobrevir hipotensão arterial, choque e insuficiência renal aguda. A 
mortalidadedos pacientes não tratados pode chegar a 30%. 
- Nos acidentes pelas formas adultas de mariposas Hylesia ocorre, poucos 
minutos após o contato com a pele, reação tipo eritema, com prurido e 
micropápulas róseas e disseminadas, vesículas e exulcerações. A substância 
tóxica presente nas setas é solúvel em água e no suor, o que explica a 
disseminação das lesões após simples contato. 
Exames complementares 
- Os pacientes acidentados por Lonomia apresentam distúrbio na 
coagulação sanguínea, com ou sem sangramentos, na metade dos casos. 
Podem ser observados alteração no tempo de coagulação, prolongamento 
do tempo de protrombina (TP), prolongamento do tempo de 
tromboplastina parcial ativado (TTPA), diminuição acentuada do 
fibrinogênio plasmático e elevação de produtos de degradação do 
fibrinogênio (PDF) e dos produtos da degradação de fibrina (PDFib). 
- A reversão da incoagulabilidade sanguínea costuma ocorrer 24 h após a 
administração do antiveneno específico, podendo o controle ser realizado 
pelas provas de coagulação, atividade de protrombina e tempo de 
tromboplastina parcial ativado. 
- Não há alteração na contagem de plaquetas, a não ser nos casos graves. 
Hemólise subclínica pode ser detectada. Elevação dos níveis de ureia e 
creatinina sugere insuficiência renal aguda. 
Tratamento 
- A dor é tratada com bloqueio local ou regional utilizando-se lidocaína a 1% 
ou 2% sem vasoconstritor. Corticoides tópicos e anti-histamínicos, por via 
oral, podem ser úteis para alívio dos sintomas e tratamento das lesões 
dermatológicas. 
- O tratamento em acidentes por Lonomia é orientado por exames 
hematológicos, que caracterizam a intensidade e natureza do distúrbio de 
coagulação. Podem ser necessárias transfusão de sangue, reposição de 
fatores de coagulação, diálise para tratamento da insuficiência renal aguda 
e soroterapia. 
- O prurido originado dos acidentes pelas formas adultas de mariposas 
Hylesia pode ser aliviado pelo uso de anti-histamínicos por via oral e 
emprego tópico de compressas frias, banho de amido ou creme de 
corticosteroide. 
ABELHAS, MARIMBONDOS E FORMIGAS 
- Esses insetos são himenópteros que apresentam venenos, os quais contêm 
substâncias hidrossolúveis concentradas e compostos nitrogenados. 
ABELHAS 
- Os acidentes causados por múltiplas picadas de abelhas passaram a ser 
relatados com mais frequência após a introdução da abelha africana (Apis 
mellifera adamsoni) no Brasil, em 1957. Do cruzamento com espécies 
europeias (Apis mellifera e Apis mellifera ligusta), resultaram híbridos que 
conservaram a agressividade das abelhas africanas, responsáveis por 
acidentes graves e, muitas vezes, fatais. 
- O veneno da Apis mellifera contém, pelo menos, oito frações tóxicas, 
sendo as mais importantes a melitina, a fosfolipase A e a apamina. A 
fosfolipase A e a melitina provocam bloqueio neuromuscular e hemólise. A 
apa-mina apresenta efeito beta-adrenérgico e propriedades antiarrítmicas. 
- O veneno também contém um fator degranulador de mastócitos 
denominado peptídio MCD, um dos responsáveis pela liberação de 
histamina no organismo dos animais picados. 
 
- As manifestações clínicas podem decorrer do efeito do veneno no local da 
ferroada, de reações de hipersensibilidade ou das ações tóxicas 
desencadeadas pela inoculação de grandes quantidades de veneno 
secundária a picadas múltiplas. 
- As manifestações locais são caracterizadas por edema, eritema, prurido de 
intensidade variável e pela presença do aparelho inoculador do veneno. As 
reações de hipersensibilidade podem ser desencadeadas por apenas uma 
picada, e a prevalência dessas reações na população estudada varia de 0,4% 
a 10%. 
- Podem ser localizadas ou sistêmicas. As primeiras limitam-se ao local da(s) 
ferroadas(s) ou segmentos próximos e caracterizam-se por dor, eritema, 
prurido e edema, que pode ser muito intenso. 
- As sistêmicas podem instalar-se em 2 a 3 min e manifestam-se por reações 
clássicas de anafilaxia com prurido generalizado, eritema, urticária, 
angioedema, prurido no palato ou na faringe, náuseas, vômitos, cólicas 
abdominais, obstrução nasal, rouquidão, edema de glote, broncospasmo, 
arritmias cardíacas, hipertensão abdominal e choque. 
- Choque, edema de glote e broncospasmo são as manifestações mais 
temidas e podem determinar o óbito em poucos minutos, se não forem 
tratados agressivamente. O envenenamento sistêmico pode ser decorrente 
de múltiplas picadas, estimando-se que sejam necessárias pelo menos 400 
ferroadas para ocasionar a morte de um adulto. Manifesta-se por alterações 
neurológicas (torpor e coma), hipotensão arterial, choque, insuficiência 
renal aguda, decorrente de hemólise e de rabdomiólise sistêmica. 
Tratamento 
- A remoção dos ferrões deve ser feita por raspagem com lâmina, evitando-
se retirá-los através de pinçamento, que pode produzir compressão da 
glândula ligada ao ferrão e inocular no acidentado uma quantidade 
 
11 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 
adicional de veneno. A dor pode ser tratada com dipirona, e o prurido com 
anti-histamínicos por via oral. 
- O choque anafilático e o edema de glote devem ser prontamente tratados 
com adrenalina endovenosa (adultos: 0,5 mL de solução aquosa a 1:1.000 a 
cada 15 a 30 min; crianças: 0,01 mL/kg de peso da referida solução a cada 
15 a 30 min). Pode ser necessária a admissão em CTI para suporte das 
funções circulatória (tratamento do estado de choque) e respiratória 
(ventilação artificial). 
- Devem ser administrados rotineiramente corticoides (hidrocortisona, 
adultos: 500 mg IV de 6/6 h, por 24 h; crianças: 4 mg/kg de peso IV de 6/6 
h por 24 h) e anti-histamínicos. 
- Pacientes com envenenamento decorrente de múltiplas picadas devem 
ser admitidos em CTI pela presença de complicações graves, como 
depressão respiratória, coma, estado de choque, distúrbios hidreletrolíticos 
e acidobásicos graves, insuficiência renal aguda e parada cardíaca, ou alto 
risco de desenvolvê-los. 
- Apesar do tratamento intensivo, a mortalidade continua sendo alta. Por 
esse motivo, está em curso a produção de um soro específico para uso nos 
casos de envenenamento por pecadas de abelhas. 
VESPAS 
- As vespas, também conhecidas por marimbondos ou cabas, são ao 
contrário das abelhas, capazes de inocular veneno sem perda do aparelho 
inoculador. Podem produzir reações locais e de hipersensibilidade 
semelhante às observadas nos acidentes por abelhas. O tratamento é 
semelhante ao descrito para picadas de abelhas 
 
FORMIGAS 
- As picadas de formigas produzem principalmente dor local. Nas ferroadas 
ocasionadas por formigas-fogo (gênero Solenopsis), além de dor intensa, 
descrita como queimação, surgem, no local das ferroadas, vermelhidão e 
edema, seguidos do aparecimento de pústula nas primeiras 24 h. A 
cicatrização ocorre em 1 semana, com formação de pequenas cicatrizes 
acastanhadas que desaparecem após alguns meses. O tratamento é 
sintomático. 
LACRAIAS (SCOLOPENDDRA) 
- As lacraias (escolopendras) são quilópodes noturnos dotados de veneno 
capaz de matar alguns animais, como pequenas aves e camundongos. 
- Entretanto, há pouca literatura sobre o efeito do veneno no homem, pois 
os acidentes são raros e parecem não trazer consequências maiores. Não 
existe soro específico nem se conhece a composição química do veneno. De 
maneira geral, os sintomas são locais e consistem em dor, edema e necrose 
superficial no local da picada, cefaleia e, às vezes, vômitos. 
- Os sintomas desaparecem em poucos dias. O tratamento é sintomático, e 
o prognóstico é bom. 
 
CELENTERADOS (CNIDÁRIOS) 
- As reações após contato em celenterados, particularmente com “água-
viva” ou caravela (Physalia sp.), ocorrem com frequência entre as pessoas 
que tomam banho de mar. A incidência de picada por esses animais não é 
bem conhecida, pois, na maioria das vezes, as reações são discretas e a 
vítima nãoprocura tratamento médico. 
- Entretanto, alguns celenterados provocam, ao picar, lesões sérias, 
extremamente dolorosas, podendo em alguns casos levar à morte do 
paciente. 
- O filo Cnidaria é dividido em três classes: Hyddrozoa (à qual pertence a 
Physalia), Scyphozoa, que inclui as medusas e as perigosas “vespas-do-mar” 
(Chiropsalmus spp.), que produzem uma das peçonhas mais letais de todas 
as criaturas do mar, e Anthozoa, que inclui os corais, os quais, apesar de 
venenosos, não apresentam aparelho inoculador de veneno. O aparelho 
inoculador da peçonha dos celenterados consiste em nematocistos, que 
estão localizados nos tentáculos. 
 
Quadro clínico 
- Os sintomas das picadas por cnidários variam dependendo da espécie, do 
local da picada e do número de nematocistos. O paciente refere uma dor 
aguda e excruciante, e a área que entra em contato com os tentáculos 
torna-se eritematosa, com formação de bolhas, pápulas e vesículas e reação 
do tipo urticária. 
- Sintomas sistêmicos, como dor abdominal, calafrios, náuseas, vômitos, 
diarreia e hipertermia, podem ocorrer. Se as picadas ocorrerem na região 
em torno dos olhos, elas podem levar a lesão de córnea e cegueira 
temporária. 
- Manifestações asmatiformes, sudorese, tosse e dificuldade respiratória 
têm sido relatadas. Podem ocorrer espasmos musculares, taquicardia, pulso 
fraco, edema pulmonar, insuficiência circulatória aguda e morte. Acidentes 
repetidos em um mesmo indivíduo podem resultar em anafilaxia. 
Tratamento 
- O objetivo básico do tratamento é diminuir o número de nematocistos que 
estão descarregando a peçonha através da pele e reduzir os efeitos da 
peçonha já injetada. Os tentáculos aderidos à pele devem ser removidos 
com o auxílio de uma toalha, de uma esponja, ou mesmo com as mãos 
cheias de areia. 
- A área acometida deve ser tratada imediatamente com substâncias que 
impedem a descarga dos nematocistos. O agente mais recomendado na 
Austrália, onde os acidentes por cnidários são comuns, é a solução de 
vinagre ou ácido acético a 3% a 10%. 
- O vinagre (ácido acético diluído) inibe as descargas dos nematocistos, 
reduz a dor e previne as reações dermatológicas. Soluções alcoólicas (álcool 
etílico, aguardente) causam descarga maciça dos nematocistos, aumentam 
a dor e agravam as lesões de pele. 
- Contato com água fria agrava as descargas dos nematocistos e deve ser 
evitado. Essas medidas de primeiro socorro não comprometem as medidas 
subsequentes que, por certo, precisam ser tomadas, tais como o combate à 
dor e ao choque. 
- O tratamento da urticária com cremes, corticoides ou anti-histamínicos 
tópicos tem sido descrito. No combate à dor, injeções de morfina ou 
meperidina são as mais eficazes. Gluconato de cálcio a 10% produz alívio 
dos espasmos e cãibras musculares. Finalmente, nas reações anafiláticas, 
usa-se o tratamento convencional para essa situação (adrenalina + 
corticoides + anti-histamínico + oxigênio). 
- As intoxicações graves podem ser combatidas com soros antiveneno de 
celenterados, que são fabricados na Austrália, mas ainda não se encontram 
disponíveis no Brasil.

Outros materiais