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Teoria das Relações Internacionais

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Indaial – 2019
Teoria das relações 
inTernacionais
Prof. Anderson de Miranda Gomes
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof. Anderson de Miranda Gomes
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
G633t
 Gomes, Anderson de Miranda
 Teoria das relações internacionais. / Anderson de Miranda 
Gomes. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 195 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0346-1
1. Relações internacionais. - Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 327
III
apresenTação
Caro acadêmico!
 
Seja bem-vindo à disciplina Teoria das Relações Internacionais!
As Teorias das Relações Internacionais correspondem ao conjunto 
de uma disciplina relativamente recente, que teve sua maior importância e 
difusão depois das Guerras Mundiais e desenvolvimento durante a época 
de Guerra Fria. As Teorias de Relações Internacionais desempenham o 
papel de instrumentos teórico-conceituais capazes de entender e explicar 
os fenômenos relativos à ação humana que transcende o espaço interno 
dos Estados (países). Em outras palavras, esse conjunto teórico nos ajuda a 
compreender a interação dos diferentes atores no cenário internacional.
A primeira unidade trata dos conceitos e os pontos de análise da 
disciplina. São abordados alguns pontos-chave, necessários para se pensar 
o relacionamento dos Estados e outros atores internacionais. Também é 
apresentada uma série de nomenclaturas próprias da disciplina, necessárias 
para se entender as teorias de Relações Internacionais. Ainda, o ambiente 
internacional direcionado às diferentes hierarquias de interações é 
apresentado nessa unidade. Outro ponto imprescindível para se entender 
essas teorias é conhecer os níveis de análise segundo atores e área de 
atuação nas relações internacionais. A compreensão da Ordem Internacional 
e da Ordem Mundial propiciará o melhor entendimento das divisões que 
existem dentro das arenas domésticas e internacionais dos Estados. Além 
disso, permite compreender o papel nessa interação entre os outros atores 
como as Organizações Internacionais, Organizações Não-governamentais 
Internacionais, empresas transnacionais etc.
A Unidade 2 corresponde a uma síntese das principais teorias de 
relações internacionais em sua configuração clássica e moderna. O Tópico 1 
trabalha o primeiro debate teórico das Relações Internacionais, o Realismo 
vs Idealismo. Nesse contexto, temos o Realismo e o Idealismo Clássico, como 
os pensamentos introdutórios da Teoria de Relações Internacionais. Apesar 
de se apropriar de outras disciplinas como as ciências sociais e filosóficas 
para construir um campo próprio de estudos, percebe-se a necessidade de 
se pensar um campo próprio das Relações Internacionais. Posteriormente, 
o Idealismo e o Realismo Moderno irão trazer um amadurecimento das 
relações internacionais como ciência. No Tópico 2 dessa unidade, as correntes 
teóricas trabalhadas são o Liberalismo, o Marxismo e a Escola Inglesa. Estas 
correntes teóricas trazem novos pontos de vista para a disciplina de RI, 
abordando visões diversas no entendimento da relação entre Estados. No 
Tópico 3, tem-se o segundo grande debate das Relações Internacionais, o 
do Neoliberalismo vs Neorrealismo. Essa seção traz uma preparação para 
IV
se entender as organizações internacionais, os processos de integração 
internacional e o fenômeno da Globalização.
A Unidade 3 está dividida na perspectiva de propiciar um 
entendimento de fenômenos recentes nas Relações Internacionais. Essa 
unidade tem a intenção de tornar o mundo mais compreensível para seus 
interlocutores, e em alguns casos de explicar e desenvolver possíveis previsões 
para o futuro. As Organizações Internacionais apresentam uma nova face 
das Relações Transnacionais, preocupada no aumento da cooperação e 
minimização dos conflitos no Sistema Internacional. A integração regional 
representa outro fenômeno recente que atribui uma nova configuração dos 
Estados, propiciando uma maior fluidez das fronteiras nacionais de algumas 
regiões. Por fim, continuando o pensamento neoliberal, a Globalização 
corresponde a uma realidade mundial, sendo a versão mais contemporânea 
do capitalismo. As relações entre os Estados têm se tornado cada vez 
mais fluidas e amplamente facilitadas pelas inovações tecnológicas e de 
comunicação.
Dessa forma, propomos uma reflexão inicial e abrangente das 
Teorias de Relações Internacionais como forma de capacitar os acadêmicos a 
compreender essa temática recente, mas densa das ciências políticas. Destarte, 
tal disciplina representa uma importante ferramenta para sua capacitação 
profissional e ampliação do seu campo de atuação.
Bons estudos!
Prof. Anderson de Miranda Gomes
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VI
VII
UNIDADE 1 – GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS .................................................................................................... 1
TÓPICO 1 – A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ...................................................................... 8
3 OS NÍVEIS DE ANÁLISE SEGUNDO ATORES E ÁREA DE ATUAÇÃO NAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS ............................................................................................................................ 11
4 A ORDEM INTERNACIONAL E ORDEM MUNDIAL ............................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19
TÓPICO 2 – O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ........... 21
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21
2.1 OS PARTIDOS POLÍTICOS ............................................................................................................ 28
2.2 OS GRUPOS DE INTERESSE E A OPINIÃO PÚBLICA NACIONAL E 
 INTERNACIONAL ..........................................................................................................................30
3 OS ESTADOS E OS RECURSOS DE PODER ................................................................................. 32
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 38
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 40
TÓPICO 3 – OS ATORES NÃO ESTATAIS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................ 41
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 41
2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS INTERGOVERNAMENTAIS (OIS) .................. 42
2.1 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DAS ORGANIZAÇÕES 
INTERNACIONAIS ......................................................................................................................... 43
2.2 FUNÇÕES E ATUAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ................................ 44
2.3 PRINCIPAIS OBJETIVOS DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ............................... 46
2.4 ALGUMAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................. 46
3 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS INTERNACIONAIS (OINGs) .............. 47
4 EMPRESAS TRANSNACIONAIS (ETNs) ...................................................................................... 49
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 51
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 55
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 56
UNIDADE 2 – SÍNTESE DAS TEORIAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS ........................ 57
TÓPICO 1 – REALISMO E IDEALISMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .................... 59
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59
2 REALISMO CLÁSSICO ...................................................................................................................... 62
2.1 TUCÍDIDES (471 a.C. - 400 a.C.) .................................................................................................... 62
2.2 MAQUIAVEL (1469-1527) .............................................................................................................. 65
2.3 THOMAS HOBBES (1588-1679) ..................................................................................................... 67
3 IDEALISMO CLÁSSICO .................................................................................................................... 69
sumário
VIII
3.1 MARSÍLIO DE PÁDUA (1275-80-1342-43) .................................................................................. 69
3.2 THOMAS MORE (1478-1535) ........................................................................................................ 70
3.3 ABADE DE SAINT-PIERRE (1658-1743) ...................................................................................... 71
3.4 HUGO GROTIUS (1285-1343) ........................................................................................................ 72
3.5 JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1722-1778) ................................................................................... 73
4 IDEALISMO MODERNO ................................................................................................................... 73
5 REALISMO MODERNO ..................................................................................................................... 77
5.1 EDWARD H. CARR (1892-1982) .................................................................................................... 78
5.2 HANS MORGENTHAU (1904-1980) ............................................................................................ 80
5.3 CARL VON CLAUSEWITZ (1780-1831) E RAYMOND ARON (1905-1983) ........................... 85
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 87
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 88
TÓPICO 2 – LIBERALISMO, MARXISMO E ESCOLA INGLESA
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89
2 LIBERALISMO ..................................................................................................................................... 91
2.1 LIBERALISMO PACIFÍSTA ............................................................................................................ 91
2.2 LIBERALISMO IMPERIALISTA .................................................................................................... 92
2.3 LIBERALISMO INTERNACIONALISTA..................................................................................... 92
3 MARXISMO .......................................................................................................................................... 93
3.1 A IMPORTÂNCIA DO MANIFESTO COMUNISTA PARA AS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS ......................................................................................................................... 93
3.2 O IMPERIALISMO DE LENIN E BUKHARIN ........................................................................... 95
4 ESCOLA INGLESA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ....................................................... 97
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 103
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 104
TÓPICO 3 – O DEBATE DO NEORREALISMO E NEOLIBERALISMO NAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS ........................................................................................................ 105
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 105
2 NEORREALISMO ................................................................................................................................ 106
3 NEOLIBERALISMO INSTITUCIONAL .......................................................................................... 109
4 O DEBATE NEORREALISMO VERSUS NEOLIBERALISMO ................................................... 115
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 119
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 120
UNIDADE 3 – GLOBALIZAÇÃO, INTEGRAÇÃO REGIONAL E TEMAS DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS .................................................................................................... 121
TÓPICO 1 – GLOBALIZAÇÃO ............................................................................................................ 123
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 O MUNDO GLOBALIZANTE ........................................................................................................... 127
3 GLOBALIZAÇÃO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................................................................ 130
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 137
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................138
TÓPICO 2 – TEORIAS DE INTEGRAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................ 139
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 139
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 155
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 156
IX
TÓPICO 3 – TEMAS CONTEMPORÂNEOS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS ................. 157
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 157
2 A CRISE MULTIDIMENSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE .......................................... 160
3 TEMAS E EVENTOS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS CONTEMPORÂNEAS .......... 163
3.1 ATAQUES TERRORISTAS AOS EUA ........................................................................................... 164
3.2 O CASO DA COREIA DO NORTE ............................................................................................... 167
3.3 OS BRICS E A FORÇA DOS EMERGENTES ............................................................................... 169
3.4 A CRISE DA VENEZUELA ............................................................................................................ 171
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 179
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 183
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 184
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 185
X
1
UNIDADE 1
GÊNESE, DESENVOLVIMENTO 
E ATORES DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• adquirir uma visão sistêmica do estudo das Relações Internacionais como 
um campo específico dentro das Ciências Políticas;
• compreender o objeto, campo de estudo, gênese e desenvolvimento da 
área de Relações Internacionais;
• compreender como se dá a ordem dos atores internacionais dentro do sis-
tema e sociedade internacional.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS
TÓPICO 2 – O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS
TÓPICO 3 – OUTROS ATORES NÃO ESTATAIS E AS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS
1 INTRODUÇÃO
O que é a ciência das Relações Internacionais? Qual seu campo de 
abrangência e como estudá-lo? De que maneira as principais teorias do saber 
internacional se apresentam ao sujeito como síntese dogmática? Tais perguntas 
são o cerne e o desafio de introduzir a você, acadêmico, uma parte das ciências 
políticas que muitas vezes é negligenciada, não por sua falta de importância, mas 
pela complexidade e amplitude do campo teórico. As relações internacionais 
se materializam na forma de contatos, articulações e interações constantes 
e recorrentes entre os diversos atores (estatais, não estatais e individuais), em 
negociações (fechadas ou abertas) e em diversas formas de interlocução (pacíficas 
ou belicosas). As relações internacionais reúnem diversas forças dinâmicas que 
sintetizam e distribuem capitais de força-poder-interesse em tempo real e em 
diversas escalas (níveis de análises) (CASTRO, 2012).
A busca pelo conhecimento sempre motivou estudiosos a questionar os 
problemas percebidos em determinado tempo e espaço, não sendo diferente no 
campo de estudo das relações internacionais. Tais questionamentos instigam a 
tentativa de compreender como se organizam as sociedades, seus costumes e 
suas formas de governo. Por meio de instrumentos teórico-conceituais buscou-se 
compreender e explicar os fenômenos relativos à ação humana que transcendem 
o espaço interno de determinado território. Percebeu-se assim a necessidade de se 
pensar o ambiente externo dos diferentes grupos e sociedades por meio de suas 
interações (SALDANHA, 2005).
Para ajudar na compreensão da leitura deste material, alguns conceitos 
atrelados às Teorias de Relações Internacionais são indispensáveis. Tais conceitos 
serão melhor explicados no decorrer das unidades. Essas ferramentas conceituais 
foram retiradas do quadro conceitual de Castro (2012, p. 76).
QUADRO 1 – QUADRO CONCEITUAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
• Estado – Entidade político-jurídica que representa a engrenagem central 
das relações internacionais dotada de população permanente, de território 
reconhecido, de governo aceito e de exercício de soberania estatal no plano 
interno e externo, perfazendo, assim, seu jus dominium (direito de governar). 
Em decorrência disso, possui capacidade de autogoverno, poder de polícia e 
organização institucional.
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
4
• Soberania estatal – conceito derivado do latim summa potestas. A soberania 
é prerrogativa exclusiva do exercício da capacidade de mando do Estado 
nacional reconhecido. Em sua vertente interna, diz respeito ao exercício 
de autogoverno, de poder de polícia e capacidade de organização político-
administrativa, enquanto que em sua esfera externa diz respeito a sua 
presença reconhecida, à prerrogativa jurídica e à articulação internacional 
com base no jus in bellum (direito de decretar guerra e celebrar a paz com 
outros Estados), jus tractum (direito de negociar, assinar, ratificar e denunciar 
tratados) e jus legationis (direito de legação em sua dimensão ativa e passiva; 
sendo a dimensão ativa a capacidade de receber, enquanto que na passiva diz 
respeito ao recebimento de agentes consulares e diplomáticos), jus petitionis 
(direito de solicitar a prestação jurisdicional em tribunais internacionais 
quando aceitar a juris dire (poder de dizer do Direito) de várias Cortes, 
podendo, para tanto, ser parte ativa ou passiva em processos judiciais) e jus 
representationis (direito de representar e fazer-se representar em organismos 
internacionais, agências multilaterais e programas com direito a voz, voto e 
determinação de agenda).
• Estatocentrismo (Sistema estatocêntrico internacional) – Sistema 
internacional criado e reconhecido após o Tratado de Westphalia de 1648, 
que tem no Estado nacional com sua summa potestas (poder supremo; poder 
soberano) a base fundamental de engrenagens endógenas e exógenas 
internacionais. Sistema de uniformização estatal e de prevalência de seus 
institutos soberanos.
• Hegemonia – Exercício de hiperpoder multidimensional por um ou mais 
Estados em escala global. O exercício hegemônico pressupõe reconhecimento 
de tal capacidade por parte dos demais Estados. É escalonada na forma de 
consolidação, primeiramente, da liderança, posteriormente, da supremacia 
em determinadas áreas. Dessa forma, hegemonia representa a materialização 
plena e internacionalmente reconhecida de supremacia em todas as variáveis 
do poder internacional. A hegemonia é atingida pela concentração cratológica 
do(s) Estado(s).
• Poder – Capacidade de alterar o comportamento de outros atores 
internacionais por meio de exercício de dominação e controle com finalidades 
determinadas. Integra os KFPI. Em nossa visão, o poder internacional de 
um Estado (PI) é expresso pelo somatório de poderes político-diplomático, 
econômico-financeiro, cultural, militar e geodemográfico.
• Polaridade – Quantidade de polos ou de centros hegemônicos (hiperpoderioou hiperpolo) no cenário internacional, limitados, geograficamente, 
pelo conceito de sistemia (macro, meso ou microssistemia). Representa 
acumulação expressiva de capitais de força-poder-interesse (KFPI) em 
um ator internacional. A polaridade refere-se também à morfologia de 
distribuição desigual e de relacionamento entre os atores internacionais, 
gerando a estratificação cratológica na forma de pirâmide dos Estados.
TÓPICO 1 | A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
5
• Lateralidade – Quantidade de Estados ou outros atores internacionais 
envolvidos em um determinado processo jurídico-negocial. Quantidade de 
entes partícipes em determinada conjuntura de interação diplomática. Indica 
também o número de participantes em um conjunto de diálogos normativos 
internacionais, concebidos por meio dos Padrões de Dissuasão-Normas-
Valores (PDNV).
• Capitais de força-poder-interesse (KFPI) – Base triangular fundamental e 
indissociável de explicação e previsão dos fenômenos da política internacional 
com suas engrenagens. O trinômio força-poder-interesse se expressa como 
capitais (KFPI) não uniformemente distribuídos entre os Estados e demais 
atores internacionais. A capitalização de força-poder-interesse se justifica 
pelo fato de que o mesmo pode ser utilizado como moeda de troca na forma 
de favor e influência, representando a alavanca motriz das RI. Os KFPI são 
considerados como a tese do comportamento externo.
• Padrões de Dissuasão-Normas-Valores (PDNV) – Os padrões representam 
o contraponto dos capitais de força-poder-interesse, revelando a forma de 
contenção do impulso motriz dos KFPI. Os padrões de dissuasão-norma-
valores são a antítese do comportamento externo manifestado pelos KFPI, 
gerando a síntese posterior da lógica da interação externa.
• Constrangimentos (Constraints) – Limitações fáticas ou barreiras endógenas 
ou exógenas ao uso dos KFPI disponíveis dos atores internacionais em 
determinados contextos. Os constrangimentos podem ser de natureza 
material ou imaterial.
• Balança de poder – Regra geral de pesos e contrapesos ao exercício dos KFPI 
em conjunto com os PDNV no âmbito das relações dos Estados, dotando-os 
de capacidade de manter um certo (e frágil) equilíbrio sistêmico. Balança de 
poder tem proximidade com dois outros conceitos importantes: teoria do 
poder gravitacional e esferas de influência.
• Teoria do poder gravitacional (TPG) – Originando-se das ciências físicas, a 
TPG é o conjunto de esferas de influência bem marcadas em razão da força 
de atração de polos/eixos de maior densidade de poder aos Estados menores 
vizinhos. A gravitação de poder gera Estados satélites de acordo com a órbita 
dos polos de poder com maior densidade de KFPI.
• Ordem Mundial – Recorte temporal de longa duração com determinação 
da governança entre os Estados por meio da junção do exercício de poder 
(cratologia) hegemônico em parceria com seus valores, princípios e ideais 
exportados e aceitos pela maioria dos demais Estados. A Ordem Mundial 
é posta, de forma impositiva, sob a égide do status quo aos demais pelo(s) 
país(es) hegemônico(s). A Ordem Mundial é um sinônimo de governança 
mundial (GM). 
• Dilemas de segurança – Situação de contradição causal entre o exercício 
da soberania estatal que pode ser fonte de segurança para os cidadãos e, ao 
mesmo tempo, pode oferecer pontuais riscos e ameaças internas e externas a 
outros Estados.
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
6
• Lealdade – Capacidade de aderir a determinados padrões, regras e condutas 
no plano interno ou internacional de acordo com o jogo dos capitais de força-
poder-interesse disponíveis e padrões dissuasão-normas-valores no contexto 
específico. Sua moeda de troca é o favor e os ganhos residuais. Lealdade difere 
muito da subjugação pelo fato de que a lealdade, na política internacional, 
possui elementos de espontaneidade por conveniência, por coerção ou 
por convicção, enquanto a subjugação pressupõe relação assimétrica de 
imposição, demandando comportamentos de submissão involuntária.
• Controlabilidade – Diante da incapacidade relativa de Estados, organismos 
multilaterais e agências manterem o efetivo domínio sobre os fluxos 
transacionais (resultando em baixa controlabilidade), desenvolve-se aqui 
a relação entre as lealdades de vários atores não estatais internacionais 
do segundo setor para concretização de ganhos no sentido amplo. 
Controlabilidade não deve ser confundida com anarquia externa. Tem 
proximidade ao sentido de regimes internacionais.
FONTE: Castro (2012, p. 76)
NOTANOTA
A Cratologia é a Ciência para pesquisar o poder em todas as manifestações 
conscienciais. Nesse caso, a concentração cratológica se refere à concentração de todos 
os poderes de um Estado.
Esses conceitos serão retomados no decorrer das unidades. Porém foi preci-
so sua prévia apresentação para continuar a explanação das relações internacionais 
como ciência. Não obstante, o que se tem que primar é que as relações internacio-
nais se dão por meio de uma complexa rede de atores num espaço transnacional. 
Tal interação é construída em uma arena além das fronteiras políticas e geográficas 
caracterizada por um estado de anarquia. Ou seja, não havendo (pelo menos legal-
mente) um poder ou autoridade global, busca-se a tentativa de entender os acon-
tecimentos e fenômenos que não respeitavam uma delimitação fronteiriça tanto 
na sua formação quanto nos seus efeitos. Em outras palavras, a disciplina de Rela-
ções Internacionais anseia a compreensão da evolução dos relacionamentos entre 
diferentes territórios (além-fronteiras), a ampliação da esfera internacional com o 
surgimento de diferentes atores internacionais e as capacidades de poder que são 
construídas dentro do sistema internacional (SARFATI, 2005).
Desta forma, as Relações Internacionais, como objeto e disciplina, surgem 
pela necessidade de as sociedades compreenderem suas realidades internas e ex-
ternas aos seus limites territoriais. O objeto de estudo das Relações Internacionais 
são os “atores, os acontecimentos e fenômenos que existem e interagem no sis-
tema internacional, ou seja, além das fronteiras domésticas das sociedades” (PE-
TÓPICO 1 | A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
7
NOTA
A Paz de Westfália foi o resultado da assinatura de uma série de tratados que 
puseram fim à Guerra dos Trinta Anos, em 1648. Esta garantiu o direito de cada 
Estado manter a religião escolhida por seu príncipe, bem como sua organização política, 
sem interferências externas. Inaugurou-se assim o sistema laico de relações internacionais, 
reconhecendo uma sociedade de Estados fundada nos princípios da soberania territorial e da 
não intervenção de cada um desses Estados nos assuntos internos dos demais. 
FONTE:<http://www.ojs.ufpi.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/1954/1383>.
Acesso em: 21 jun. 2019.
CEQUILO, 2010, p. 14, grifo nosso). Por sua vez, como disciplina, esta encontra-se 
no agrupamento das Ciências Sociais, pois é por meio do estudo das sociedades 
que a investigação teórica se desenvolve. Também pode ser considerada dentro 
da área de Ciências Humanas, se pensarmos que a menor unidade dentro de uma 
sociedade ou grupo sempre será o indivíduo (humano).
As Teorias das Relações Internacionais almejam tornar o mundo mais 
compreensível para seus interlocutores, trazendo em alguns momentos a propos-
ta de previsibilidade dos diversos atores do ambiente internacional. Nas relações 
internacionais existe uma dualidade de pensamento e autores que trabalham seu 
objeto de estudo (seja qual for a amplitude de seu nível de análise). Existem os 
que trabalham com as teorias positivistas, os quais acreditam em verdades uni-
versais e científicas, e os que abordam as teorias pós-positivistas, ou seja, aquelas 
que duvidam da legitimidade do conhecimento científico e contestam as bases 
epistemológicas, metodológicas e teóricas dos discursos dominantes.Indepen-
dentemente de qual perspectiva teórica que se adote, as relações internacionais 
possuem origens e fontes históricas, geográficas e socioculturais vastas e distin-
tas, que irão pautar as observações no comportamento humano em sociedade. 
O saber internacional, como objeto categórico analítico, é antiquíssimo 
e remonta à investigação positiva, normativa e descritiva do enigmático 
fenômeno humano em suas múltiplas teias de relacionamento 
interativo social e em vários compartimentos. O ser humano é meio 
e fim das entranhas das Relações Internacionais. Sendo o destinatário 
primaz de tais estudos, o ser humano com suas encruzilhadas e seus 
labirintos representa, portanto, o foco da ciência política internacional 
(CASTRO, 2012, p. 52).
As relações internacionais sempre foram estudadas, principalmente 
com a formação do sistema europeu de Estados, após a Paz de Westfália. Nesta 
ocasião, os diversos interesses dos Estados europeus foram estudados. Propiciou 
a percepção da expansão naval da Grã-Bretanha no processo de equilíbrio do 
poder marítimo holandês e a investida de contenção do expansionismo francês. 
“Percebeu-se a ascensão da Rússia como potência expansionista no Leste; a 
competição da Áustria e Prússia pelo domínio do fragmentado espaço alemão” 
(MAGNOLI, 2008, p. 99).
http://www.ojs.ufpi.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/1954/1383
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
8
O debate intelectual adveio com o fim da Primeira Guerra Mundial e 
a transformação tecnológica e estrutural do cenário mundial. Houve comoção 
internacional sobre os efeitos deste conflito coletivo de dimensão global (para 
a época). O rastro de devastação nunca vislumbrado foi narrado com precisão 
contabilizando não somente as perdas materiais, mas principalmente humanas.
Com o fim do conflito, os líderes das potências vencedoras sofreram 
pressão de suas populações para criarem mecanismos que evitassem a repetição 
de um acontecimento tão traumático. A capacidade bélica por meio dos avanços 
tecnológicos, o fortalecimento do capitalismo e o socialismo da revolução russa 
promoveram os estudos das relações internacionais de maneira mais organizada e 
sistematizada. Houve, assim, a necessidade de se explicar a realidade internacional 
e a criação de um campo de estudos específico.
 
Diferentemente das Ciências Exatas e Biológicas, em que a investigação 
do objeto de estudo se dá por meio de métodos científicos baseados em modelos 
mais concretos, nas relações internacionais tem-se a tradição da interpretação e o 
subjetivismo. Trata-se de um campo de estudos considerado recente, nascido na 
época de Guerra Fria e desenvolvido basicamente a partir da década de setenta. 
É uma construção teórica condicionada por uma participação racional, empírica 
e crítica do sujeito e dependente do paradigma e instrumentos analisados. Em 
outras palavras, as relações internacionais podem ser conceituadas de diferentes 
formas a partir de suas perspectivas teóricas. Nos próximos tópicos serão vistas 
diferentes visões e paradigmas de seu arcabouço teórico (SALDANHA, 2005).
NOTA
A Guerra Fria, iniciada após a Segunda Guerra Mundial (1945), durou até a extinção 
da União Soviética (1991). Esta é a designação atribuída ao período histórico de disputas 
estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, disputando 
a hegemonia política, econômica e militar no mundo. Tem esse nome pois, apesar de um 
estágio de tensão entre os dois blocos políticos (Capitalismo – EUA e Socialismo – URSS), os 
dois países nunca se confrontaram belicamente de forma direta.
2 O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
As Relações Internacionais como ciência tiveram sua formação baseada 
na influência da filosofia durante o século XVIII. Grandes filósofos, como 
Espinoza, Rousseau e Kant, tiveram importante papel no processo de examinar 
as relações entre os Estados, baseados em sua força e poder. No entanto, como 
visto anteriormente, no período das grandes guerras essa ciência se desenvolveu 
e passou a ser estudada nas principais universidades anglo-saxônicas. A ciência 
primeiramente se orientou na explicação da política externa desses Estados, nas 
suas relações de conflito e cooperação nos campos político e econômico.
TÓPICO 1 | A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
9
A expressão "relações internacionais" remete a uma ambiguidade de 
entendimento, ou pelo menos uma imprecisão conceitual. No Brasil, as relações 
internacionais estão ainda muito direcionadas à interação estabelecida entre as 
unidades políticas (Estados Nacionais), se confundindo com a área de política 
internacional (diplomacia e questões de segurança militar). No entanto, as 
relações que os países mantêm entre si perpassam não somente a arena política, 
sendo essas afetadas por diversas outras áreas. “As relações econômicas, 
jurídicas, geográficas, linguísticas, históricas, religiosas, ambientais – todas elas 
têm sua 'autonomia', isto é, sua dinâmica própria, e não são redutíveis à política 
internacional” (LACERDA, 2006, p. 57). 
Nesse contexto, as relações internacionais podem ser definidas “como 
o conjunto de relações e comunicações suscetíveis de ter dimensões política, 
econômica, social e cultural, estabelecidas entre grupos sociais, atravessando as 
respectivas fronteiras” (BRAILLARD; DJALILI, 1988, p. 11). 
Durante o século XX, as relações internacionais passaram a ter papel 
de visibilidade na vida cotidiana devido às trocas internacionais, a conexão e 
o crescimento sem precedentes da revolução industrial e tecnológica. A divisão 
internacional do trabalho e a constituição de um mercado mundial conduziram 
uma série de inter-relações de conflito e cooperação entre os Estados e demais 
atores internacionais. A necessidade de garantir a soberania dos Estados e 
paralelamente o seu desenvolvimento econômico orientou novos sistemas de 
armamento e consequente busca pelo entendimento da dinâmica na ordem 
internacional. Assim, a nova disciplina de Relações Internacionais é a consequência 
do desejo fortemente sentido nos Estados Unidos no clima do pós-Primeira 
Guerra Mundial de compreender as origens de um tal conflito e de construir uma 
sociedade internacional pacífica (RODRIGUES, 2004; CARR, 1964).
Percebe-se uma multiplicidade de interpretações nas relações dos 
diferentes atores (Estados, organizações institucionais, indivíduos, empresas 
multinacionais etc.) dentro do cenário internacional. Tal cenário antes era 
abordado e entendido exclusivamente por outras disciplinas, como História, 
Economia ou pelo Direito Internacional.
A primeira abordagem das relações internacionais sustentou-se sobre a 
prerrogativa da existência de um ordenamento moral. Tratava-se da discussão 
de pressupostos abstratos e universalmente válidos no ambiente internacional. 
Pensava-se no possível processo de desenvolvimento das instituições da sociedade 
como uma evolução do ordenamento internacional (MORGENTHAU, 2003).
Nessa perspectiva, havia uma despreocupação com a sustentabilidade 
desse desenvolvimento, na confiança de que o senso de humanidade seria 
um processo evolutivo natural e capaz de superar a instabilidade da ordem 
internacional. Supunha-se que os objetivos da sociedade internacional seriam 
coordenados pelas recém-criadas organizações internacionais na metade do 
século XX. Não obstante, a natureza humana, dotada de imperfeições, resultou 
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
10
em interesses contrários aos pressupostos dos princípios morais no ordenamento 
internacional (DUTRA, 2015).
Destarte, o desenvolvimento progressivo do ambiente internacional fora 
frustrado, experimentando equilíbrios temporários devido a soluções precárias 
dos conflitos no ordenamento internacional, ou seja, a natureza conflituosa das 
sociedades no ambiente internacional sempre retornava após esses equilíbrios 
temporários (MORGENTHAU,2003). 
A variável “poder” dominou a discussão sobre o espaço ambiental, tanto 
que no início, o termo “política de poder” foi muito utilizado como sinônimo de 
política internacional. Nesse contexto, as relações internacionais eram entendidas 
como a capacidade de um ator internacional interferir nas ações de outros, 
impondo sua vontade aos demais (ARON, 2002). 
Na metade do século XX, outras variáveis se tornaram o cerne da discussão 
das relações internacionais. Essa discussão passou a ser pautada nas relações do 
homem dentro da sociedade em detrimento do entendimento da natureza do 
homem como fator absoluto. Buscou-se assim uma conexão entre o indivíduo e 
o agrupamento a que este pertencia. Da mesma maneira, buscou-se entender o 
comportamento do homem, do Estado e de um sistema de Estados para entender 
o ambiente internacional (DUTRA, 2015). 
Assim, a evolução da ciência das relações internacionais passou a discorrer 
sobre um ambiente ainda mais complexo, no entendimento da atuação dos 
Estados no cenário internacional. Buscava-se assim a explicação dos interesses 
comuns das comunidades no sistema internacional (WIGHT, 2002).
Então, as relações internacionais passam a ser percebidas como um 
campo de estudo complexo, que por um lado tem a percepção de um cenário 
internacional complexo que interfere e constrange as ações dos Estados em suas 
políticas externas. De outra perspectiva, tem-se uma maior inter-relação entre os 
atores (Estados, indivíduos políticos, organizações institucionais supranacionais, 
ONGs, empresas transnacionais etc.) no cenário internacional. “Tais perspectivas 
originam um debate internacional que passou a considerar novos padrões da 
existência internacional. Inaugurando no último quarto do século XX um campo 
original de ideias sobre novos paradigmas aceitos pela política internacional” 
(DUTRA, 2015, p. 113). 
Destarte, as relações internacionais, tanto como ciência autônoma quanto 
como práxis atrelada aos atos e fatos gerados pelos sujeitos (atores internacionais), 
irão se materializar na forma de contatos, articulações e interação constante em 
diversas formas de interlocução (pacíficas ou belicosas). Essas dinâmicas de força-
poder-interesse se dão em diferentes escalas (níveis de análises), sendo necessário 
entender qual a abrangência em que se irá estudar essas relações.
TÓPICO 1 | A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
11
3 OS NÍVEIS DE ANÁLISE SEGUNDO ATORES E ÁREA DE 
ATUAÇÃO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
A importância do estudo das relações internacionais é autoevidente, 
porque estão em toda parte, fazem parte do nosso cotidiano, quer queiramos ou 
não. O saber internacional perpassa nossas vidas, amplia nossas visões, redefine 
quem somos como cidadãos e disseca a forma de analisar e tratar o outro. Sua força 
questiona e transforma o Estado, seu papel e suas atribuições, (re)equacionando a 
lógica de poder entre cidadãos, empresas, unidades subnacionais, sociedade civil 
e organismos multilaterais (CASTRO, 2012).
Quando não havia os institutos acadêmicos de Relações Internacionais, 
os eventos e fatos vinculados a essa área temática eram tratados pela ótica do 
Direito Internacional, da diplomacia e da História (SALDANHA, 2005). Com a 
necessidade de explicar as novas questões internacionais, tais como o comércio 
exterior, a economia internacional e o surgimento de novas potências, a disciplina 
de Relações Internacionais foi objetivada sob a perspectiva da realidade e da 
soberania estatal. No processo de unificação nacional dos Estados, este conceito 
de soberania ganhou duas faces: no ambiente interno, configurou a concentração 
do poder político nas mãos do rei e a submissão dos indivíduos ao ordenamento 
jurídico estatal; no ambiente externo, trouxe a possibilidade de que os Estados 
mantivessem relações econômicas e políticas entre si, mesmo em estado de guerra.
Nesse sentido, para se discutir as relações internacionais, o estudioso 
precisa escolher um nível de análise e os protagonistas (atores mais importantes) 
para se pautar nos debates. As teorias de Relações Internacionais consideram os 
seguintes atores:
• Indivíduos: Donald Trump; Nicolás Maduro; Ângela Merkel; Kim Jong-un 
etc.
• Órgãos burocráticos governamentais: Ministério das Relações Exteriores; 
Departamento de Defesa; Câmara dos Deputados etc.
• Estados: Brasil; Estados Unidos da América; Alemanha; República da Coreia; 
Arábia Saudita; China; Nigéria; Austrália etc.
• Organizações intergovernamentais internacionais: ONU; OEA; UA; OTAN; 
Liga Árabe etc.
• Organizações não governamentais: WWF; Cruz Vermelha; Anistia 
Internacional; Green Peace; Médicos Sem Fronteira etc.
• Outros atores: Empresas transnacionais; grupos terroristas; Igreja; grupos com 
conhecimento específico (comunidades epistêmicas) etc.
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
12
Por sua vez, a análise se dá do nível mais micro (o indivíduo) ao mais macro 
(Sistema Internacional). Esta representação pode ser observada na Figura 1:
FIGURA 1 – NÍVEIS DE ANÁLISE EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
FONTE: Sarfati (2005, p. 31)
O nível individual de análise concentra-se sobre a natureza dos homens 
em sua explicação. Por meio dessa natureza, objetiva-se explicar a causa das 
guerras e de todas as outras interações segundo a racionalidade dos líderes dos 
Estados e detentores de poder político. Pode-se pensar, por exemplo, a postura de 
um presidente frente a outro em diferentes mandatos políticos. Um líder político 
atual pode estar mais inclinado às questões militares e de segurança do que seu 
antecessor. 
O nível societal está associado a quando se analisa os grupos de interesse 
e os diferentes setores da burocracia estatal. Continuando o exemplo da guerra, 
o interesse de diferentes grupos, como a indústria bélica, os articuladores do 
Ministério da Defesa podem direcionar as ações de maior ou menor propensão 
aos conflitos ou corrida armamentista.
A análise pelo nível estatal concentra-se no comportamento desta unidade 
(Estado, país) como o cerne dos acontecimentos e interação internacional. A 
guerra seria explicada, por exemplo, como a maneira de garantir a segurança e a 
integridade do Estado, promovendo assim sua soberania e integridade.
O nível supraestatal de análise foca na explicação das relações 
internacionais por meio dos atores intragovernamentais, como a ONU e outros 
(Estrutura do) Sistema Internacional
Supraestatal
Estado
Sociedade
Indivíduos
TÓPICO 1 | A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
13
atores não estatais, como as ONGs internacionais e as empresas transnacionais. 
Ainda com a questão das guerras, o Conselho de Segurança da ONU seria o 
cerne da análise de como as relações de paz entre os atores estatais tendem a ser 
conduzidas. 
 
O último nível de análise é o do Sistema Internacional. Trata-se no nível 
macro das relações internacionais, englobando todas as ações dentro de um 
sistema e suas relações com o seu meio ambiente. Em relações internacionais, o 
Sistema Internacional engloba todas as relações entre os atores internacionais. 
Uma explicação sistêmica da guerra seria embasada na natureza anárquica das 
relações internacionais. Ou seja, não há uma estrutura hierárquica internacional 
capaz de coordenar as unidades (Estados) e suas ações de demonstração de 
poder (guerra). Não se tem (pelo menos eficiente e suficientemente capaz) um 
organismo ou poder supranacional capaz de “ditar as regras de convívio” ou 
“balancear” as estruturas de poder dos atores estatais.
 
Para revisarmos esses pontos até agora estudados, pega-se como exemplo 
o conflito entre Síria e Estados Unidos da América. Os atores são os protagonistas 
e o nível de análise seria o foco da explicação do conflito. Ao considerar o nível 
sistêmico de análise, temos a anarquia como a explicação do conflito. Porém, os 
Estados Unidos, a Síria, as forças beligerantes e até a ONU correspondem aos 
atores desteevento.
NOTA
O adjetivo beligerante vem da raiz latina “bellum” e significa guerra. As forças 
beligerantes então são as forças ou indivíduos relacionados à guerra, ou seja, são atitudes 
agressivas ou bélicas em que um exército enfrenta o outro com determinação (CONCEITOS.
COM, 2018).
 No entanto, se o nível de análise for o indivíduo, os protagonistas seriam 
os Estados e o foco da explicação estaria na natureza humana agressiva. Faz-se 
necessário também chamar a atenção de que a escolha de análise se dará ao modelo 
teórico escolhido e que uma variedade destes modelos será vista na próxima 
unidade. Independentemente do modelo teórico escolhido, tem-se que entender 
que os Estados sempre foram os principais atores das relações internacionais. 
Não se descarta a importância das empresas transnacionais ou as organizações 
internacionais estatais e não governamentais, mas é fato o eminente papel do ator 
estatal.
 Mas por que os Estados são considerados como os principais atores das 
relações internacionais? Trata-se de um questionamento de difícil explicação, 
sendo que há muitos estudiosos que rejeitam essa máxima. No entanto, tem-
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
14
se uma resposta “tradicional” no estudo da política internacional que sinaliza 
a legitimidade da supremacia destes atores nas inter-relações do ambiente 
internacional. Como antes mencionado, com o Acordo de Westfália, de 1648, os 
Estados surgem como dotados de soberania sobre determinada porção territorial. 
Nestes territórios foi convencionado um estado de liberdade intrínseca, não 
sofrendo intervenção de outras entidades soberanas estrangeiras. Em outras 
palavras, dentro destas porções territoriais, os governantes têm o direito de ação 
porque os outros agentes externos às fronteiras consideram legítima a soberania 
dentro da região.
 Na contemporaneidade, outros atores internacionais, além dos Estados, 
passaram a ser considerados de alta relevância nas relações internacionais. Isso 
se dá porque as dinâmicas que outrora aconteciam respeitando a tradicional 
visão de territorialidade agora se tornaram fluidas, de caráter transnacional 
(não estando ligadas aos territórios nacionais de forma estática). Neste contexto, 
aumentam o número e a intervenção dos Organismos Burocráticos Internacionais 
(OIs), Organizações Internacionais Não governamentais (OINGs), Empresas 
Transnacionais (ETNs) etc. Esses atores não poderiam ser contidos nas fronteiras 
territoriais estatais, passando a cumprir ou exercer algumas funções antes 
delegadas exclusivamente aos Estados.
 
 Tendo essa breve introdução apresentada, passa-se a entender o ambiente 
internacional onde os atores internacionais estabelecem suas relações. Como se 
dá a Ordem Mundial dentro de um sistema de relações denominado Sistema 
Internacional.
4 A ORDEM INTERNACIONAL E ORDEM MUNDIAL
 A ordem internacional “refere-se a um padrão de atividades que sustenta 
os objetivos elementares ou primários da sociedade dos estados, ou sociedade 
internacional” (BULL, 2002, p. 13). O autor discute a existência dessa “ordem” 
na interpretação de alguns conceitos como “Estados”, “Sistemas de Estados” e 
“Sociedade de Estados”, também chamada de Sociedade Internacional.
 Por ordem internacional ou Ordem Mundial, entende-se uma função 
à estrutura de poder das relações internacionais em um determinado período 
histórico, com sua governança estabelecida pela polaridade (multipolar, bipolar 
ou unipolar). Nesses determinados períodos se estabelece um conjunto dos valores 
sociais, morais, intelectuais e filosóficos de um determinado grupo hegemônico 
aos demais Estados.
 Assim, a Ordem Mundial dita e forma os padrões comportamentais e 
os alinhamentos dos demais países aos centros hegemônicos daquele período. 
Neste contexto, por meio da governança mundial se tem o estabelecimento do 
relacionamento internacional entre os atores no complexo cenário internacional.
TÓPICO 1 | A DISCIPLINA, CAMPO E OBJETO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
15
Governo e governança são termos diferentes. O governo representa a concessão 
de poderes do povo para uma representação política doméstica. No contexto internacional, 
por sua vez, não há um governo mundial, daí a diferença do uso dos termos governo e 
governança.
ATENCAO
Em toda a história da humanidade nunca houve um único sistema político 
que abrangesse todos os Estados ou unidades territoriais anteriores a estes. 
Assim, a sociedade humana até a segunda metade do século XIX era representada 
por uma Ordem Mundial que nada mais era do que a soma dos vários sistemas 
políticos que impunham ordem a diferentes partes do globo. No entanto, a partir 
do fim do século XIX e do princípio do século XX, houve o surgimento de um 
sistema político caracteristicamente global. A ordem em escala local passa para 
escala mundial com a soma da ordem existente dentro dos Estados da Europa e da 
América; nos Impérios Otomano, Chinês e Japonês e nos Sultanatos e Principados 
do Saara à Ásia, e dentro dos sistemas políticos primitivos na África e na Oceania. 
Trata-se de um sistema político que funcionava em todo o mundo, ligando todas 
essas unidades (BULL, 2002).
A transformação dessa nova realidade de uma recente ordem internacional 
foi a expansão do sistema de estados europeu por todo o globo, propiciando a sua 
transformação em um sistema de estados de dimensão global. Essa transformação 
permitiu certo grau de interação entre os sistemas políticos em todo o mundo, 
abrangendo todos os continentes. A primeira fase deste processo começou com os 
descobrimentos portugueses e espanhóis no século XV, até a partilha da África, 
no século XIX. A segunda fase na transformação da Ordem Mundial sobrepôs 
em determinado período a primeira, quando algumas regiões dominadas se 
livraram do controle europeu, assumindo seus lugares como estados membros da 
sociedade internacional. Trata-se de um período que se iniciou com a Revolução 
Americana e desencadeou a revolução anticolonialista da África e da Ásia.
NOTA
A Revolução Americana também é conhecida como a Guerra da Independência 
dos Estados Unidos ou ainda Revolução Americana de 1776, teve suas raízes na assinatura 
do Tratado de Paris, que, em 1763, finalizou a Guerra dos Sete Anos. Trata-se do evento 
revolucionário que levou a primeira colônia na história da expansão europeia a tornar-
se independente. Tal evento influenciou a Revolução Francesa (1789) e as subsequentes 
revoluções na Europa e América do Sul (HOFFMANN; PETER, 1981).
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
16
Um ponto interessante e que deve ser questionado é: a Ordem Internacional 
significa o mesmo que a Ordem Mundial? De maneira direta e sintética, a diferença 
entre estes dois conceitos é que “a ordem no conjunto da humanidade é mais 
abrangente do que a ordem entre os estados: algo mais fundamental e primordial, 
e que moralmente a precede” (BULL, 2002, p. 29). Assim, podemos dizer que 
a Ordem Mundial é mais ampla do que a ordem internacional, porque “para 
descrevê-la precisamos tratar não só da ordem entre os estados, mas também da 
ordem em escala interna ou local, existente dentro de cada Estado, assim como 
da ordem dentro do sistema político mundial mais amplo, em que o sistema de 
estados é apenas um componente” (BULL, 2002, p. 30).
Entende-se dessa forma que a Ordem Mundial é mais fundamental 
e importante do que a ordem internacional, porque as unidades primárias da 
sociedade internacional não seriam os estados, mas sim os seres humanos 
individuais, que são os elementos indissociáveis em qualquer estrutura política 
ou social do mundo. Não obstante, para se verificar o valor da ordem no conjunto 
da sociedade humana (valor maior), precisa-se da instrumentação orientada pela 
ferramenta macro das relações internacionais, a da ordem dos Estados. Neste 
contexto, verifica-se no próximo tópico uma investigação do ator mais relevante 
das relaçõesinternacionais: o Estado.
17
Neste tópico, você aprendeu que:
• As Relações Internacionais reúnem diversas forças dinâmicas que sintetizam 
e distribuem capitais de força-poder-interesse em tempo real e em diversas 
escalas (níveis de análises).
• Os questionamentos sobre as relações internacionais instigam a busca por 
entender como se organizam as sociedades, seus costumes e suas formas de 
governo.
• Há fenômenos relativos à ação humana que transcendem o espaço interno de 
determinado território.
• Alguns conceitos que são comumente usados no estudo de Relações 
Internacionais, como: Estado, Soberania estatal, Estatocentrismo (Sistema 
estatocêntrico internacional), Hegemonia, Poder, Polaridade, Lateralidade, 
Capitais de força-poder-interesse (KFPI), Padrões de Dissuasão-Normas-
Valores (PDNV), Constrangimentos (Constraints), Balança de poder, Teoria do 
poder gravitacional (TPG), Ordem Mundial, Dilemas de segurança, Lealdade 
e Controlabilidade.
• As Relações Internacionais, como objeto e disciplina, surgem pela necessidade 
de as sociedades compreenderem suas realidades internas e externas aos seus 
limites territoriais.
• A variável “poder” dominou a discussão sobre o espaço ambiental, tanto que 
no início o termo “política de poder” foi muito utilizado como sinônimo de 
política internacional.
• A evolução da ciência das relações internacionais passou a discorrer sobre 
um ambiente mais complexo, no entendimento da atuação dos Estados no 
cenário internacional. Buscava-se assim a explicação dos interesses comuns 
das comunidades no sistema internacional.
• As teorias de Relações Internacionais consideram os seguintes atores: 
Indivíduos; Órgãos Burocráticos Governamentais; Estados; Organizações 
Intergovernamentais Internacionais; Organizações Não Governamentais; e 
outros.
RESUMO DO TÓPICO 1
18
• A análise das relações internacionais se dá do nível mais micro (o indivíduo) 
ao mais macro (Sistema Internacional): indivíduos; sociedades; Estados; 
Supraestatal; e Sistema Internacional.
• A ordem internacional refere-se a um padrão de atividades que sustenta os 
objetivos elementares ou primários da sociedade dos estados, ou sociedade 
internacional.
19
1 Sobre a soberania estatal, assinale V para as assertivas verdadeiras e F para 
as falsas.
( ) Conceito derivado do latim summa potestas, a soberania é prerrogativa do 
exercício da obediência do Estado nacional aos seus cidadãos.
( ) Em sua vertente externa, a soberania diz respeito ao exercício de 
autogoverno, de poder de polícia e capacidade de organização político-
administrativa.
( ) Na sua esfera interna, a soberania diz respeito à sua presença reconhecida, 
à prerrogativa jurídica e à articulação internacional com base no jus in 
bellum (direito de decretar guerra e celebrar a paz com outros Estados).
( ) A articulação com base no jus tractum, o Estado tem direito de negociar, 
assinar, ratificar e denunciar tratados.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) F – F – F – V.
e) ( ) V – V – V – V.
2 Quanto aos atores das Relações Internacionais, associe os itens a seguir:
I- Indivíduos
II- Órgãos Burocráticos Governamentais
III- Estados
IV- Organizações Intergovernamentais Internacionais
V- Organizações Não Governamentais
VI- Outros atores
a) ( ) OMS
b) ( ) Anistia Internacional
c) ( ) Kim Jung-un
d) ( ) Coca-Cola
f) ( ) Jamahiria Árabe Popular Socialista da Líbia
e) ( ) Itamaraty
AUTOATIVIDADE
20
21
TÓPICO 2
O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O conceito de Estado mais elucidativo refere-se a sua complexidade 
institucional que confere a unidade e o reconhecimento de suas atribuições e ações 
tanto no cenário doméstico (interior) quanto internacional. Esta configuração é 
aceita pela sociedade civil e pelos demais atores internacionais, caracterizando a 
legitimidade de ser representado sob diferentes aspectos na política internacional. 
Assim, esse conceito pode ser sintetizado como:
Estado é um corpo político-jurídico-diplomático complexo dotado 
de unidade territorial, governo reconhecido interna e externamente, 
regido por um sistema jurídico-administrativo, tendo centralidade 
no plano da articulação na arena internacional e comportando uma 
determinada sociedade civil (CASTRO, 2012, p. 110).
Como dito no capítulo anterior, os Estados representam os atores mais 
importantes das relações internacionais, sendo o ponto de partida da inter-relação 
das dinâmicas além das fronteiras territoriais. Estes representam comunidades 
políticas independentes, possuindo governos próprios que afirmam sua soberania 
através de seu povo e território.
Os Estados, até o século XX, foram como os únicos atores internacionais 
no cenário internacional. Apesar da entrada de novos atores nas dinâmicas do 
ambiente internacional, a autonomia dos Estados continua sendo indiscutível e 
indissolúvel, mesmo frente às novas dinâmicas de mercado e do fluxo tecnológico. 
O que irá se diferenciar entre os Estados é a importância relativa entre um e outro, 
baseada nas suas capacidades de poder e negociação, ou seja, suas possibilidades 
internas e externas que definiram suas condições de soberania. Com o fim da 
Guerra de 30 anos e o acordo de Westfália, a determinação do território e o 
reconhecimento dos outros Estados em fazer valer a soberania foram ratificados. 
Neste momento, tais atores têm sua origem jurídica no Direito Internacional lhes 
garantindo a plena autonomia de ação e decisão dentro das suas fronteiras.
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
22
O Estado fundamenta-se em três aspectos materiais: o território, a 
população e o governo.
O Estado, personalidade originária de direito internacional público, 
ostenta três elementos conjugados: uma base territorial, uma 
comunidade humana estabelecida sobre essa área, e uma forma de 
governo não subordinada a qualquer autoridade exterior (REZEK, 
2005, p. 161).
 A apreciação desses três aspectos materiais é detalhada no quadro a 
seguir segundo Pecequilo:
QUADRO 2 – TRÊS ASPECTOS MATERIAIS DO ESTADO
• Território: Este aspecto está relacionado ao espaço geográfico de cada Estado, 
tendo as fronteiras delimitadas e reconhecidas por outros Estados. Nesta 
unidade política individual existem a soberania e a autonomia política. 
Ou seja, dentro desta arena, o Estado tem poder total sobre sua população, 
realizando ações de acordo com seus interesses domésticos (internos). Esses 
interesses têm uma racionalização que vislumbra os custos e benefícios de 
todas suas ações, nas quais os outros Estados não podem interferir (pelo 
menos diretamente) nos fluxos internos. Assim, o reconhecimento do poder 
do Estado é soberano e supremo dentro das suas fronteiras. Trata-se do 
princípio da territorialidade.
• População: Trata-se do quadro de habitantes de um Estado que possuem 
uma identidade comum e estão inseridos dentro de uma unidade política, 
linguística, cultural, econômica e social. Existem muitos Estados formados 
por uma única nação, conferindo uma nacionalidade. No entanto, a maioria 
dos Estados modernos é formada por povos de diferentes nacionalidades, 
não constituindo um grupo homogêneo. O Brasil, por exemplo, é um Estado 
em que sua população é proveniente de diversos povos oriundos da Europa, 
África e Ásia. Tais povos integram-se formando um grupo que tem uma 
unidade cultural e linguística nacional comum, a nacionalidade brasileira. No 
caso do Brasil, essa interação é pacífica, o que não ocorre em muitos lugares 
do mundo, como aconteceu na ex-Iugoslávia.
• Governo: Trata-se do terceiro elemento material do Estado representado 
pela centralização das autoridades dentro do território nacional. O governo 
representa a organização do comando político e da administração pública do 
Estado. Pode-se dizer que o governo seria uma das instituições que compõem 
o Estado, o responsávelpor administrar o Estado. Os governos podem mudar 
e apresentar diferentes formas, variando de um lugar para outro. O governo 
detém o monopólio da força legítima, comandando os fluxos internos de sua 
sociedade. Esse é aceito legal e legitimamente nas suas relações domésticas 
pela sua sociedade. 
FONTE: Pecequilo (2010, p. 43)
TÓPICO 2 | O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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NOTA
A Federação Iugoslava ou antiga Iugoslávia originou-se após a Primeira Guerra 
Mundial, a partir de territórios que faziam parte dos Impérios Austro-Húngaro e Turco-
Otomano. Era composta por diferentes povos: croatas, eslovenos, sérvios, muçulmanos, 
albaneses, macedônios, entre outros. Esses povos tinham diferentes características culturais, 
como a língua, os hábitos e a religião, tão específicos que chegaram a entrar em conflito 
várias vezes no decorrer da história. Estes conflitos geraram os seguintes estados: Eslovênia, 
Croácia, Macedônia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Sérvia e Kosovo (este último é um 
Estado de reconhecimento limitado, sendo que somente 111 dos 193 países que pertencem 
à ONU reconhecem sua independência) (SPENCER TUCKER, 2005).
Nesse contexto, os Estados possuem prerrogativas privativas e inerentes 
às suas condições, remetendo-os como principais “engrenagens” das relações 
internacionais. Dentre essas prerrogativas têm-se: população permanente, 
território reconhecido, governo aceito e exercício de soberania interna e externa. 
Destarte, o sistema estatal instrumentaliza o conceito de summa potestas 
(soberania). 
A soberania reflete o exercício pleno, efetivo e de direito de poder decretar 
guerra e celebrar a paz com outros Estados. Também, de ter representação 
diplomática e consular, de celebrar tratados, de solicitar prestação jurisdicional 
em tribunais internacionais e de representar e ser representado em instâncias 
multilaterais com exercício de voto, de voz e de agenda. Em suma, O Estado é 
uma macroprojeção dos indivíduos, de suas instituições e seus processos internos 
e com relação ao exterior que estão tutelados sob sua summa potestas (CASTRO, 
2012, p. 110). 
A Figura 2 apresenta um esquema com os quatro elementos constitutivos 
do Estado: População permanente adstrita ao jus dominium próprio, 
Reconhecimento (interna e externamente), Governo aceito e Soberania interna e 
externa.
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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FIGURA 2 – ESQUEMA SINTÉTICO SOBRE OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO
FONTE: Castro (2012, p. 111)
 A Convenção Interamericana de Direitos e Deveres dos Estados, firmada 
em Montevidéu em 1933 (CONVENÇÃO DE VIENA, 1933), entende que a 
população de determinado Estado representa a coletividade de indivíduos, 
nacionais e estrangeiros, que habitam o território em determinado momento. Essa 
expressão demográfica, como mencionada na primeira parte do capítulo, está 
ligada ao seu jus dominium (direito de governar). Ou seja, dentro do território, o 
governo tem sua autonomia de gestão política, institucional e poder de polícia. 
 O reconhecimento do Estado, conjuntamente ao começo das relações 
diplomáticas bilaterais, é de real significância para o surgimento e confirmação 
do Estado. Trata-se de uma concretização da aceitação da personalidade jurídica 
internacional não só para o Estado que reconhece, como para todos os demais no 
âmbito multilateral das organizações internacionais. Representa o início dos atos 
com fé pública do novo Estado, revelando sua existência e sua oficialidade como 
ator internacional. Tal ação discricionária, unilateral e soberana no reconhecimento 
dos Estados preexistentes aos novos, representa uma prerrogativa política de 
cada Estado individualmente (CASTRO, 2012).
 O reconhecimento do Estado pode ser explícito ou implícito, individual 
ou coletivo:
• O reconhecimento explícito se dá por nota, declaração ou acordo diplomático 
do Estado já existente ao novo Estado.
• O reconhecimento implícito pode ocorrer através de tratado comercial ou 
envio de representação diplomática mútua entre os Estados pactuantes.
• O reconhecimento individual se dá através de uma relação bilateral ou 
unilateral de um país independente ou liberto do jugo colonial.
• O reconhecimento coletivo se dá quando um grupo de novos Estados passa a 
ser reconhecido por uma organização internacional ou por um único Estado.
Duas questões estão diretamente associadas ao reconhecimento de novos 
Estados: a retroatividade e a irrevogabilidade (MELLO, 2002). 
População permanente adstrita ao jus dominium próprio
reconhecido (interna e externamente)
Governo aceito
Soberania interna e externa
Efetiva e reconhecida
Estado nacional:
(Sistema de Território 
Westphalia)
Jus tractum
Jus in bellum
Jus legationis
Jus petitionis
Jus representationis
TÓPICO 2 | O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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• Princípio da retroatividade: o reconhecimento de um Estado é válido desde 
o momento em que ele surgiu e não pode ser suspenso. 
• Princípio da irrevogabilidade: uma vez aceito o novo Estado, não se pode 
mais retirar o reconhecimento desse Estado, pois isso produziria uma enorme 
instabilidade nas relações interestatais.
 A seguir tem-se um exemplo do reconhecimento do Estado Palestino com 
fronteiras anteriores ao ano de 1967, por parte do Estado brasileiro, que ocorreu 
em 3 de dezembro de 2010. Este reconhecimento foi explícito por meio de carta 
oficial enviada pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chefe de Estado 
Mahmoud Abbas (ITAMARATY, 2018):
QUADRO 3 – CARTA OFICIAL 
Carta do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Mahmound Abbas a respeito 
do Reconhecimento pelo Governo Brasileiro do Estado Palestino nas Fronteiras 
de 1967
03/12/2010
Carta do Prezidente Luiz Inácio Lula da Silva:
"À sua Excelência 
Mahmound Abbas
Presidente da Autoridade Nacional Palestina 
Senhor Presidente, 
Li com atenção a carta de 24 de novembro, por meio da qual Vossa Excelência solicita 
que o Brasil reconheça o Estado palestino nas fronteiras de 1967.
Como sabe Vossa Excelência, o Brasil tem defendido historicamente, e em particular 
durante meu Governo, a concentralização da legítima aspiração do povo palestino a
um Estado coeso, seguro, democrático e economicamente viável, coexistindo em paz
com Israel. 
Temos nos empenhado em favorecer as negociações de paz, buscar a estabilidade na 
regiãoe e aliviar a crise humanitária por que passa boa parte do povo palestino.
Condenamos quaisquer atos terroristas, praticados sob qualquer pretexto. 
Nos últimos anos, o Brasil intensificou suas relações diplomáticas com todos os países 
da região, seja pela abertura de novos postos, inclusive um Escritório de Representação
em Ramalá; por uma maiorfrequência de visitas de alto nível, de que é exemplo minha 
visita a Israel, Palestina e Jordânia em marco último; ou pelo aprofundamento das 
UNIDADE 1 | GÊNESE, DESENVOLVIMENTO E ATORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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relações comerciais, como mostra a série de acordos de livre comércio assinados ou 
em negociaçao. 
Nos contatos bilaterais, o Governo brasileiro notou os esforços bem sucedidos da 
Autoridade Nacional Palestina para dinamizar a economia da Cisjordânia, prestar 
serviços à sua população e melhorar as condições de segurança nos Territórios 
Ocupados.
 
Por considerar que a solicitação apresentada por Vossa Excelência é justa e coerente 
com os princípios defendidos pelo Brasil para a Questão Palestina, o Brasil, por meio 
desta carta, reconhece o Estado palestino nas fronteiras de 1967.
 
Ao fazê-lo, quero reiterar o entendimento do Governo brasileiro de que somente o
diálogo e a convivência pacífica os vizinhos farão avançar verdadeiramente a 
causa palestina. Estou seguro de que este é também 0 pensamento de Vossa Excelência 
 
O reconhecimento do Estado palestino é parte da convicção brasileira de que um 
processo negociador que resulte em dois Estados convivendo pacificamente e em 
segurança é o melhor caminhopara a paz no Oriente Médio, objetivo que interessa 
a toda a humanidade. O Brasil estará sempre pronto a ajudar no que for necessário.
 
Desejo a Vossa Excelência e à Autoridade Nacional Palestina êxito na condução 
de um processo que leve à construção do Estado palestino democrático, próspero e 
pacífico a que todos aspiramos.
Aproveito a ocasião para reiterar a Vossa Excelência a minha mais alta estima e 
consideração.
 O reconhecimento interno do Estado está baseado na legitimidade, em 
que sua população passa a reconhecer tanto o território como o governo que 
se instaura sobre ele. Esse tipo de reconhecimento é tão importante quanto 
o reconhecimento externo, pois é um fator essencial para que as atividades 
políticas possam se desenvolver dentro do território. Voltando ao caso da ex-
Iugoslávia, verifica-se que o processo de desmantelamento do Estado se deu em 
função dos conflitos multidimensionais entre os povos que foram vinculados 
naquele território. As questões étnicas e religiosas acabaram por não permitir 
uma identidade comum e o não reconhecimento do Estado da Iugoslávia por sua 
própria população, ocasionando um sucessivo processo de desmembramento de 
outros Estados que queriam sua independência política.
FONTE: Itamaraty (2018)
TÓPICO 2 | O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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FIGURA 3 – MAPA DA ANTIGA IUGOSLÁVIA E A SEPARAÇÃO DE NOVOS ESTADOS
FONTE: <http://bit.ly/2ZcPM77>. Acesso em: 15 jan. 2019.
 Outro elemento constitutivo do Estado é o Governo aceito, ou seja, 
a legitimidade do poder exercido pelo governo que é delegado pelo povo 
aos seus representantes eleitos. Este elemento está intimamente ligado ao 
elemento soberania. O Governo aceito representa um conjunto complexo de 
funcionalidades imprescindíveis para a conservação das determinações jurídicas 
e da administração pública (CANAL FORENSE, 2017).
 Existe diferença entre reconhecimento de Estado e de Governo aceito. Os 
governos (forma regiminis) são dinâmicos a partir de condicionantes eleitorais 
domésticos, espelhando a pluralidade das forças partidárias dos Estados. Por 
sua vez, os Estados (forma imperi), como pessoa jurídica de Direito Público, 
permanecem de forma perene, embora se reconheça, na doutrina do Direito 
Internacional, a sucessão e a extinção de Estados, bem como sua união real e 
pessoal, transformando substancialmente sua existência, sua continuidade e sua 
personalidade jurídica perante o cenário internacional (CASTRO, 2012).
 Assim, com essa breve introdução do principal ator internacional, o 
Estado e seus elementos constitutivos, passa-se a verificar no próximo capítulo 
importantes componentes que irão modelar as ações dos Estados dentro do 
Sistema Internacional.
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2 COMPONENTES MODELADORES DO COMPORTAMENTO 
DOS ESTADOS
 Para verificar como os Estados se comportam no Sistema Internacional, 
não se pode estudar o Estado como um “ser” independente, pois sobre ele se 
insere uma variedade de necessidades e circunstâncias que irão modelar seu modo 
de agir e inter-relacionar. Dessa maneira, é preciso considerar as diversas forças 
vinculadas à governabilidade e as decorrentes transformações internacionais 
advindas de cada atividade política no Estado. Desta maneira, destacam-se nesse 
capítulo três forças principais: os Partidos Políticos, os Grupos de Interesse e a 
Opinião Pública nacional e internacional.
2.1 OS PARTIDOS POLÍTICOS
 No interior da estrutura institucional dos Estados, os partidos políticos 
representam elementos organizados da ação política que têm a tarefa de 
representar os anseios da sociedade civil. Esses partidos, por meio das eleições, 
disputam as vagas de poder, representando constantes e permanentes fóruns de 
negociação. Estes têm a capacidade de influenciar a formação de políticas públicas 
e tomada de decisão em dada sociedade. Os partidos políticos são os mediadores 
entre o poder público e a sociedade, sendo considerados como “agentes da 
conquista e exercício do poder político” (MERLE, 1981, p. 228). Ou seja, são 
fatores extrainstitucionais que estão numa posição privilegiada (PECEQUILO, 
2010).
 Os partidos políticos têm diferentes características ideológicas e, 
consequentemente, prioridades almejadas. Além da força, a ação dos partidos 
políticos está relacionada à condição das regras do sistema partidário e do jogo de 
poder dentro dos Estados. Sua atuação se dá mais no ambiente doméstico, porém 
também atuam na agenda internacional, de acordo com os anseios da população 
interna, que lhes confere poder.
 As questões internacionais são recorrentes quando estas produzem 
significativo impacto dentro do Estado ou quando são úteis para o interesse da 
ampliação do poder de um partido.
Motivados pelos grandes temas da agenda internacional na década de 
1980, os partidos passaram a se interessar pelas relações internacionais 
brasileiras. Começa-se a buscar explicações para essa mudança 
comportamental dos partidos. De atores marginalizados, os partidos 
políticos passam a atores-chave no processo de discussão e formulação 
da política externa atual (MESQUITA, 2012, p. 151).
 Alguns exemplos de como os partidos tendem a politizar nas relações 
internacionais, se aproximando dos assuntos de política externa são os casos de 
oposição e defesa da participação do Brasil na crise de Honduras; a tentativa de atuar 
como mediador nas questões nucleares iranianas; o tema dos direitos humanos; as 
discussões englobando a expansão do Mercosul etc. (MESQUITA, 2012)
TÓPICO 2 | O ESTADO – PRINCIPAL ATOR DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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NOTA
Status quo é uma expressão do latim que significa “estado atual”. Neste sentido, 
quando se diz que “devemos manter o status quo”, significa que a intenção é manter o atual 
cenário, situação ou condição.
 Os partidos políticos representam grupos que são ouvidos em matérias 
complexas, como renegociação de dívida externa, negociações comerciais, 
políticas de desarmamento, questões ambientais etc. Ou seja, os partidos políticos 
não estão à margem da formulação e da execução das políticas externas do Estado, 
mas atuam como influenciadores na tomada de decisão do governo vigente e a 
nova postura de ações consonantes com o Congresso e o Poder Executivo.
 Em regimes democráticos, os partidos políticos exercem sua função de 
maneira a permitir que dentro do Estado ocorra uma alternância de poder, que 
Castro (2012, p. 132) chama de uma “oxigenação na alternância de poder do 
Estado”. Ou seja, os partidos políticos aglomeram iniciativas e ideários comuns 
sobre projetos estatais e plataformas políticas de seus interesses, e com isso, há 
uma possibilidade cíclica de uma renovação no exercício do poder. Em suma, todo 
partido político deseja conquistar o poder político e exercê-lo em consonância 
com seus ideais, prolongando sua permanência ao máximo no exercício de suas 
atribuições (DUVERGER,1970).
 Por outro lado, também existe uma dinâmica específica em sistemas 
autoritários. Esses regimes, geralmente, têm uma censura considerável que inibe 
o livre exercício partidário, materializando frequentemente um único partido. 
É compreensível que nesses sistemas autoritários haja o sufocamento da livre 
iniciativa de associação partidária. E ainda, quando há um direcionamento de 
vinculação partidária nesses regimes autoritários, essa se dá por meio de rebeliões 
e guerras civis visando à modificação do status quo (CASTRO, 2012).
2.2 OS GRUPOS DE INTERESSE E A OPINIÃO PÚBLICA 
NACIONAL E INTERNACIONAL
 Também exercem influência nas relações internacionais dos Estados os 
chamados Grupos de Interesse. Esses seriam grupos privados com objetivos 
próprios, que usam sua influência frente aos partidos políticos e governos na 
busca por benefícios.
 Os grupos de interesse aprovam ou desaprovam as diversas ações 
governamentais de acordo com os seus objetivos, influenciando a política externa 
do Estado. Fazem parte dessa

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