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Prévia do material em texto

G R A D U A Ç Ã O
DRA. MARCELA DEMITTO FURTADO
DRA. RAQUEL GUSMÃO OLIVEIRA
Saúde 
Coletiva
Híbrido
GRADUAÇÃO
Saúde Coletiva
Dra. Marcela Demitto Furtado
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
Coordenador de Conteúdo Lilian Rosana dos 
Santos Moraes.
Designer Educacional Amanda Peçanha dos 
Santos e Janaína de Souza Pontes.
Revisão Textual Érica Fernanda Ortega.
Editoração Isabela Mezzaroba Belido.
Ilustração Mateus Calmon.
Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro 
Naldei e Thiago Surmani.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação 
a Distância; FURTADO, Marcela Demitto; OLIVEIRA, Raquel 
Gusmão. 
Saúde Coletiva. Marcela Demitto Furtado; Raquel Gusmão 
Oliveira. 
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019.
152 p.
“Graduação - EAD”.
1. Saúde. 2. Coletiva. 3. EaD. I. Título. 
ISBN 978-85-459-1725-0
CDD - 22 ed. 610
CIP - NBR 12899 - AACR/2
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
Impresso por:
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e 
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos 
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William 
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. 
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James 
Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de 
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de 
Design Educacional Débora Leite; Head de 
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza 
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; 
Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie 
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel 
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
PALAVRA DO REITOR
WILSON DE MATOS SILVA
REITOR
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-
mos com princípios éticos e profissionalismo, não 
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão 
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois 
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos 
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo 
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, 
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de 
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil 
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo 
MEC como uma instituição de excelência, com 
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos 
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a 
instituição de educação precisa ter pelo menos 
três virtudes: inovação, coragem e compromisso 
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para 
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as 
quais visam reunir o melhor do ensino presencial 
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS
WILLIAM DE MATOS SILVA
PRÓ-REITOR EXECUTIVO DE EAD
Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-
munidade do Conhecimento. 
Essa é a característica principal pela qual a 
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é 
importante destacar aqui que não estamos falando 
mais daquele conhecimento estático, repetitivo, 
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global, 
democratizado, transformado pelas tecnologias 
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de 
pessoas, lugares, informações, da educação por 
meio da conectividade via internet, do acesso 
wireless em diferentes lugares e da mobilidade 
dos celulares. 
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e 
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer 
transformou-se hoje em um dos principais fatores de 
agregação de valor, de superação das desigualdades, 
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. 
Logo, como agente social, convido você a saber 
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e 
usar a tecnologia que temos e que está disponível. 
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg 
modificou toda uma cultura e forma de conhecer, 
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, 
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa 
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação 
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato 
com ambientes cativantes, ricos em informações 
e interatividade. É um processo desafiador, que 
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores 
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida 
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que 
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você 
está iniciando um processo de transformação, 
pois quando investimos em nossa formação, seja 
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, 
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma 
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível 
de desenvolvimento compatível com os desafios 
que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o 
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa-
nhará durante todo este processo, pois conforme 
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na 
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem 
dialógica e encontram-se integrados à proposta 
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação 
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como 
principal objetivo “provocar uma aproximação 
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita 
o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação 
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de 
crescimento e construção do conhecimento deve 
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos 
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar 
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas 
ao vivo e participe das discussões. Além disso, 
lembre-se que existe uma equipe de professores e 
tutores que se encontra disponível para sanar suas 
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren-
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!
Este material foi cuidadosamente preparado para você! Tendo como ob-
jetivo introduzir alguns temas da Saúde Coletiva em uma perspectiva 
atualizada, buscando ajudá-lo(a) na compreensão acerca da temática e 
subsidiar sua prática como Profissional da Saúde.
Este material está dividido em cinco Unidades:
A Unidade 1 busca discutir o binômio saúde-doença, em uma perspectiva 
atualizada, discutindo as mudanças e a evoluçãodo conceito de saúde ao 
longo dos tempos e os modelos de saúde preventivista e de promoção à 
saúde; também discute os fatores condicionantes e determinantes no pro-
cesso saúde-doença e seu impacto na realidade brasileira; e, ainda nesse 
sentido, apresenta os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
A Unidade 2 trata da História da Saúde Pública no Brasil, tendo como marco 
o Sistema Único de Saúde (SUS), descrevendo seu período antecedente, seus 
processos de construção, destacando interesses, conflitos e necessidades 
sociais que deram origem ao SUS, seus princípios e diretrizes, bem como 
as diretrizes do pacto pela Saúde e as Redes de Atenção à saúde.
A Unidade 3 discute Vigilância em saúde, os sistemas de informação em 
saúde, indicadores de saúde e os desafios atuais diante do trabalho no 
contexto da vigilância.
A Unidade 4 sintetiza as principais políticas de saúde no Brasil, relaciona-
das à Saúde da mulher, da criança, do adulto e idoso, bem como políticas 
voltadas às populações vulneráveis e à saúde mental.
Finalmente, a Unidade 5 destaca os objetivos e princípios da Política Na-
cional de Humanização (PNH), bem como suas diretrizes e os dispositivos, 
relacionando-os aos direitos e a segurança do paciente, à saúde do traba-
lhador e aos desafios de sua operacionalização no contexto hospitalar.
Nossa intenção não é esgotar o assunto, mas abrir as portas para a ampliação 
do seu conhecimento, estimulando novas buscas para que possa enriquecer 
sua área de atuação e torná-lo(a) um profissional mais crítico e reflexivo, 
capaz de atuar de forma eficiente em seu contexto de trabalho.
Um grande abraço e uma ótima leitura!
CURRÍCULO DOS PROFESSORES
Dra. Marcela Demitto Furtado
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da UEM. Mestre 
pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UEM. Pós-graduada em Enfermagem 
Pediátrica pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina - UEL 
(modalidade: Residência em Enfermagem em Saúde da Criança). Enfermeira graduada pela 
Universidade Estadual de Maringá - UEM (2007). Atualmente é professora adjunta do depar-
tamento de enfermagem da UEM, na área de saúde de criança.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8007832036059597>.
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
Doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (2018). 
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (2005). Graduada em 
Enfermagem pela Universidade Estadual de Maringá (2000). Docente do Curso de Medicina 
do Unicesumar - Maringá. Tem exercido docência no ensino superior nos últimos 10 anos, 
com ênfase em Saúde Coletiva, Saúde da Família e Gestão de Serviços de Saúde.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/7567016444404983>.
Saúde e Doença - 
uma Perspectiva 
Atualizada
 13
História da Saúde 
Pública no Brasil
 41
Vigilância em Saúde
 67
Políticas Públicas 
de Saúde no Brasil
 95
Política Nacional de 
Humanização (PNH)
125
55 Redes de Atenção à Saúde
Utilize o aplicativo 
Unicesumar Experience 
para visualizar a 
Realidade Aumentada.
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
• Discutir as mudanças e a evolução do conceito de saúde 
e doença. 
• Conhecer os modelos de saúde preventivista e de pro-
moção à saúde. 
• Compreender o conceito da determinação social na saúde. 
• Apresentar os principais determinantes sociais da saúde 
e seu impacto na realidade brasileira.
• Conhecer os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
Conceito de 
saúde e doença 
O modelo preventivista e o 
modelo de promoção à saúde
Os principais determinantes 
sociais de saúde no Brasil
Organização dos serviços 
de saúde no Brasil
Fatores condicionantes e 
determinantes no processo 
saúde-doença
Saúde e Doença - uma 
Perspectiva Atualizada
Conceito de Saúde
e Doença
Quando decidimos ser profissionais da área da saú-
de, muitas preocupações vem a nossa mente, nos 
preocupamos com as ações de saúde que podemos 
realizar, que recursos temos disponíveis, como me-
lhorar a vida das pessoas e como contribuir para 
um mundo melhor e com saúde. Isso é muito im-
portante!
Contudo, muito além de nos preocuparmos 
com tudo isso, precisamos estar cientes e com-
preender, antes de realizar ou propor qualquer 
ação, que por trás de toda ação existe um conceito 
ou um modo de entender a realidade, tendo como 
pressuposto básico que ela é dinâmica, sujeita a 
modificações, influenciadas pela cultura, política 
e momento histórico.
Vamos observar, nesta unidade, que, ao longo 
da história humana, a saúde das pessoas sempre foi 
alvo de preocupação, por isso convidamos você para 
dar uma volta na história, tanto antiga quanto atual, 
e reconhecer pensamentos e ações acerca da saúde.
O conceito de saúde sofreu mudanças no decor-
rer dos tempos, várias explicações foram dadas e, 
ainda hoje, vários entendimentos coexistem quando 
buscamos entender o processo saúde-doença.
Entretanto, queremos destacar no texto dois 
modelos explicativos acerca do processo saúde-
15UNIDADE 1
-doença: um com características biologicistas e 
outro buscando compreender o ser humano de 
forma integral, considerando sua história, cultura, 
contexto e estilos de vida.
Buscamos, também, ampliar o entendimento 
do conceito de saúde e os seus determinantes so-
ciais (estilos de vida, rede sociais e comunitárias e 
as condições de vida e de trabalho), visando uma 
compreensão da evolução do cenário da saúde da 
população brasileira e da estruturação e organização 
dos serviços de saúde ao longo dos anos.
Vamos juntos, então, nos aproximar desse uni-
verso de conhecimento tão fundamental para o 
trabalho de um profissional da saúde.
Para começar, gostaria de fazer uma pergunta: 
– O que significa ter saúde para você? Pense nisso 
por alguns minutos…
Pergunte para algumas pessoas próximas a você: 
o que é ter saúde? 
Agora, compare as respostas. Você, certamente, 
vai perceber que a ideia de saúde entre as pessoas é 
diferente, cada uma possui um entendimento acerca 
do que é ter saúde.
Ao longo da história, muitas explicações foram 
dadas acerca do que é ter saúde ou estar doente: as 
explicações mágico-religiosas, a explicação natu-
ralística, o olhar bacteriológico, a explicação mul-
ticausal e a produção social da saúde e da doença.
Vejamos um pouco dessas explicações. 
As Explicações 
Mágico-religiosas
Na Antiguidade, acreditava-se que as doenças 
poderiam ser causadas por elementos naturais 
ou sobrenaturais. Nesse período, a compreensão 
das doenças era por meio da filosofia religiosa, 
partiam do princípio de que ela era resultado de 
ação de forças alheias ao organismo, eram conse-
quência de pecado ou de maldição, um sinal de 
desobediência ao mandamento divino. Tal ideia 
perdurou por muito tempo e teve seu ápice na 
Idade Média (SCLIAR, 2007).
Na Idade Média europeia, a influência da reli-
gião cristã manteve a concepção da doença como 
resultado do pecado e a cura como questão de fé; o 
cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue 
a ordens religiosas, que administravam, inclusive, 
o hospital, o qual era visto não como um lugar de 
cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes 
(SCLIAR, 2007).
A Unicausalidade
No início da modernidade, a concepção religiosa 
foi superada devido ao desenvolvimento do co-
nhecimento na época. A evolução da mecânica 
influenciou as ideias de René Descartes (1596-
1650), no século XVII, que postulava um dualismo 
mente-corpo e o funcionamento do corpo como 
uma máquina. Com o desenvolvimento da ana-
tomia, identificou-se que a doença era localizada 
nos órgãos (SCLIAR, 2007). No final do século 
XIX, os estudos de Louis Pasteur (1822-1895) e a 
descoberta do microscópio revelou a existência de 
micro-organismos causadores de doença, possibi-
litando a introdução de soros e vacinas. 
Foi uma revolução, pois, pela primeira vez, fa-
tores causais, até então desconhecidos, estavam 
sendo identificados;as doenças, agora, poderiam 
ser prevenidas e curadas. Para cada doença, um 
agente etiológico deverá ser identificado e com-
batido por meio de vacinas ou produtos químicos 
(SCLIAR, 2007). 
16 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
A Multicausalidade
A insuficiência da formulação unicausal só ficou evidente no início 
do séc. XX, devido ao processo de mudanças ocorridas na sociedade 
e na insuficiência de dar explicações sobre a saúde e a doença das 
pessoas e das comunidades, bem como o efeito da transição epide-
miológica - fenômeno no qual evidencia a diminuição de doenças 
infecciosas e o aumento de doenças crônicas degenerativas, em que 
o homem passa a ser considerado como um ser biopsicossocial. 
Nesse sentido, a saúde e a doença são reconhecidas como o 
equilíbrio e/ou desequilíbrio entre o ambiente, o agente e o hos-
pedeiro, envolvendo dimensões subjetivas e não apenas biologica-
mente científicas e objetivas. No entanto, a crítica a tal explicação 
se dá ao fato de não considerar as variações das doenças verificadas 
historicamente, em relação ao seu aparecimento e desaparecimen-
to, aumento ou diminuição de sua frequência, da menor ou maior 
importância, que adquirem nas variadas formas de organização 
social (BACKES et al., 2009).
Uma nova proposta de consenso sobre saúde ocorreu em 7 de 
abril de 1948 (desde então, o Dia Mundial da Saúde), implicando 
o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na 
promoção e proteção da saúde. “Saúde é o estado do mais com-
pleto bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de 
enfermidade” (SCLIAR, 2007). 
O conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) reflete, 
de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos sociais do 
pós-guerra: o fim do colonialismo, a ascensão do socialismo. Saúde 
deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações, um 
conceito amplamente difundido, mas que carrega em si um estado 
inatingível de equilíbrio em um cenário de neutralidade, que o 
torna pouco operacional e prático (BACKES et al., 2009).
O livro de Moacyr Scliar, intitulado Do Mágico ao Social: trajetória da 
saúde pública, apresenta, de uma forma mais detalhada, os caminhos 
percorridos pela condição humana no contexto da saúde e da doença, 
em uma perspectiva histórica, apontando olhares e características das 
matrizes do pensamento sobre o paradoxo saúde-doença.
17UNIDADE 1
A Produção Social 
da Saúde e da Doença
Um novo paradigma surge diante da crise de 
desenvolvimento das sociedades modernas: o 
reconhecimento de que tudo o que existe é pro-
duto da ação humana. 
A saúde de um indivíduo, de um grupo de indi-
víduos ou de uma comunidade, depende, também, 
de coisas que o homem criou e faz, das interações 
dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo go-
verno, inclusive os próprios mecanismos de aten-
ção à doença, do ensino voltado para os cursos da 
área da saúde, da educação e das intervenções sobre 
o meio ambiente (SANTOS; WESTPHAL, 1999). 
Nesse sentido, Santos e Westphal (1999) res-
saltam que ter saúde não pode ser apenas não 
estar doente, significa, também, a possibilidade 
de atuar, de produzir a sua própria saúde, quer 
mediante cuidados tradicionalmente conheci-
dos, quer por ações que influenciam o seu meio 
– ações políticas para a redução de desigualdades, 
educação, cooperação intersetorial, participação 
da sociedade civil nas decisões que afetam sua 
existência – para, usando uma expressão bem 
conhecida, o exercício da cidadania. 
Para que uma população possa ser saudável, 
no paradigma da história social da saúde, é ne-
cessário: paz (contrário de violência); habitação 
adequada em tamanho por habitante, em condi-
ções adequadas de conforto térmico; educação, 
pelo menos fundamental; alimentação imprescin-
dível para o crescimento e desenvolvimento das 
crianças e necessária para a reposição da força de 
trabalho; renda decorrente da inserção no mer-
cado de trabalho, adequada para cobrir as neces-
sidades básicas de alimentação, vestuário e lazer; 
ecossistema saudável preservado e não poluído; 
justiça social e equidade, garantindo os direitos 
fundamentais dos cidadãos (DE OTAWA, 1986).
No Brasil, o movimento de Reforma Sanitária, 
articulado nos anos 80, formulou um “conceito 
ampliado de saúde” e passou a entendê-la como 
um estado resultante das condições de alimenta-
ção, habitação, educação, renda, meio ambiente, 
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, 
acesso à terra e aos serviços de saúde, apontan-
do, assim, para a determinação social e cultural 
da saúde e da doença.
Para operar com o conceito ampliado de saúde, precisamos pensar na saúde como um processo em 
detrimento da concepção de saúde como um atributo (tenho/não tenho).
(Stela Nazareth Meneghel)
18 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
O Modelo 
Preventivista 
e o Modelo de 
Promoção à Saúde 
É possível verificar que o conceito de saúde foi 
influenciado, no decorrer dos tempos, por ques-
tões sociais, culturais e econômicas. Vale destacar 
que as ações de saúde e a forma de organização da 
assistência também acompanham as mudanças 
do conceito de saúde.
Na tentativa de explicar essas mudanças, di-
versos autores propuseram modelos explicativos 
do processo saúde-doença. Vejamos dois deles: 
o modelo de Atenção à Saúde Preventivista e o 
Modelo da Promoção à Saúde.
O Modelo Preventivista
O modelo preventivista surge devido à crise do 
capitalismo e à incapacidade dos governos de ar-
carem com os custos da saúde no contexto médi-
co hospitalar, com base na proposta de Leavell e 
Clarck do modelo da história natural da doença 
(evolução natural da doença).
19UNIDADE 1
Quadro 1 - Modelo da História Natural da Doença
Período pré-patogênese Patogênese precoce Patogênese avançada Recuperação, incapacidade ou morte
Interação entre agente e 
hospedeiro
Doença subclínica
Horizonte clínico
Alterações celulares
Doença com manifes-
tação clínica
Ultrapassagem do ho-
rizonte clínico
Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária
Promoção 
à saúde
Proteção 
específica Diagnóstico Precoce Limitação do dano Reabilitação
Fonte: Meneghel (2015).
O modelo pressupõe que toda doença tem um percurso natural 
de pré-patogênese, patogênese e de recuperação, e que, para cada 
momento da história natural da doença, preconiza ações sanitárias 
que correspondem aos três níveis de prevenção: primário, secun-
dário e terciário (MENEGHEL, 2015).
No período pré-patogênico, os agentes causadores de doenças 
e o indivíduo vivem em equilíbrio com o ambiente. No perío-
do patogênico, inicialmente, não há sinais e sintomas da doença, 
também chamado de período de incubação, só então aparecem 
as manifestações clínicas da doença, que podem evoluir para re-
cuperação, incapacidade ou morte.
As intervenções nos diferentes estágios da doença são chama-
das de prevenção primária, secundária e terciária e têm como obje-
tivo prevenir doenças ou seu agravamento. As ações de prevenção 
primária podem ser medidas gerais e educativas de resistência 
e bem-estar geral dos indivíduos; as de prevenção secundária 
buscam a redução de fatores de risco; e as de prevenção terciária 
reduzem e intervêm nas sequelas de doenças.
A crítica a esse modelo se dá pelo fato dele não considerar os 
efeitos positivos e negativos das condições de vida e de trabalho e 
a inserção social dos indivíduos nos níveis de saúde da população, 
o que reduz o conceito de saúde como estritamente biológico, ig-
norando a dimensão social que envolve o processo saúde-doença 
(MENEGHEL, 2015). 
20 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
O Modelo de Promoção 
à Saúde
Com as mudanças ocorridas na sociedade pós-
-guerra, os estudiosos descreveram um fenômeno 
denominado de transição demográfica e epidemio-
lógica no mundo todo. 
Tal fenômeno apontou para incapacidade do 
Modelo da história natural da doença dar expli-
cações para várias doenças e agravos, como as 
doenças crônicas, os acidentes, a crescente violên-cia, entre outros. Diante disso, diversas propostas 
foram elaboradas no sentido de buscar uma visão 
e atenção mais integral da saúde. 
Discussões acerca do tema “saúde integral” 
foram realizadas no cenário Internacional. A 
Conferência realizada em Alma-Ata, em 1978, é 
considerada um marco para a discussão de uma 
visão de saúde integral, pois reconhece, em seu 
relatório, que a saúde é um direito; também vale 
destacar a I Conferência Internacional de Pro-
moção à Saúde, realizada no Canadá, em 1986, 
que redigiu a Carta de Otawa, a qual propõe um 
conceito amplo de saúde, relacionando-a ao bem-
-estar dos indivíduos e na ampla causalidade do 
processo saúde doença, em que a saúde é consi-
derada um recurso para a vida e não objetivo de 
vida (WESTPHAL, 2012).
Em uma visão ampliada da saúde, considera-se 
os fatores socioambientais na produção e determi-
nação da saúde e da doença, sendo que a promoção à 
saúde prevê uma visão holística e socioambiental do 
mesmo processo, colocando-se como uma prática 
emancipatória e um imperativo ético, com foco no 
cidadão, na família, na coletividade, nas condições 
de vida, nas iniquidades e potencialidades do territó-
rio em que vivem e trabalham (WESTPHAL, 2012).
A teoria da transição epidemiológica, proposta por Omran (1971), foca nas complexas mudanças 
dos padrões saúde-doença e nas interações entre eles, determinantes demográficos, econômicos e 
sociais, e suas consequências. As ideias a seguir destacam em sua teoria:
I. O processo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento são longos, as pandemias 
por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos.
II. As mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mu-
lheres jovens.
III. As mudanças são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que cons-
tituem o complexo da modernização.
IV. As variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mu-
danças na população diferenciam três modelos básicos de transição epidemiológica: o modelo 
clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.
Fonte: Duarte e Barreto (2012).
21UNIDADE 1
Quadro 2 - Visão socioambiental da saúde, determinantes 
e estratégias e programas de saúde
Conceitos 
de saúde
Bem-estar biopsicossocial.
Necessidades de saúde.
Determi-
nantes de 
saúde
Condições de riscos diversas.
Estratégias
Ação política, espaços sau-
dáveis, empoderamento da 
população, desenvolvimento 
de habilidades e reorientação 
de serviços.
Desenvol-
vimento 
de progra-
mas
Comunidade em diálogo crítico 
com profissionais e agências.
Fonte: Westphal (2012).
A agenda 2030 da ONU prevê 17 medidas para 
a transformação do mundo, a terceira trata da 
saúde - Assegurar uma vida saudável e promover 
o bem-estar para todos, em todas as idades.
A promoção de saúde é considerada uma estra-
tégia fundamental para enfrentar as iniquidades 
sociais e de saúde. Juntamente com outras 16 
medidas, dando a ideia de um conceito ampliado 
de saúde.
(Organização das Nações Unidas)
22 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
Fatores Condicionantes 
e Determinantes do 
Processo Saúde-Doença
Porque as pessoas adoecem?
Desde as primeiras investigações acerca da saú-
de de grupos e populações, foi possível identificar as 
diferenças sociais existentes das condições de vida 
e da situação de trabalho, dentre estas destacam-se 
Engels, que investigou os trabalhadores ingleses; 
Snow, que descobriu a cólera em Londres; Louis, 
trabalhadores na França; e Virchow, o Tifo na Si-
lésia, ressaltando o excesso de risco de adoecer e 
morrer entre as camadas mais pobres da população 
(BARATA, 2012).
Na América Latina, estudos sobre desigualdades 
sociais e saúde são recentes, datam da segunda meta-
de do século XX, surgindo devido às consequências 
da globalização sobre as condições de vida e a situa-
ção de saúde dos povos sob a ótica da exclusão social.
O Processo Saúde Doença – está diretamente 
atrelado à forma como o ser humano, no decor-
rer de sua existência, apropria-se da natureza para 
transformá-la, buscando o atendimento às suas ne-
cessidades, representando um conjunto de relações 
e variáveis que produz e condiciona o estado de 
saúde e doença de uma população, que se modifica 
nos diversos momentos históricos e do desenvol-
vimento científico da humanidade; não sendo um 
23UNIDADE 1
conceito abstrato, ele varia segundo a época em que vivemos, assim como os interesses dos diversos grupos 
sociais (GUALDA; BERGAMASCO, 2004).
Diante disso, é necessário conhecer os determinantes mais complexos do comportamento humano, 
além das condições materiais de vida, para que seja possível a efetivação das práticas de promoção e 
prevenção da saúde e a diminuição das desigualdades, visto que o Brasil ocupa a 11ª posição entre os 
lugares mais desiguais do mundo (COMISSÃO NACIONAL, 2008, on-line)2.
Re
des
 Socia
is e Comunitárias
Idade, Sexo e
Fatores hereditários
Produção
Agrícola de
Alimentos
Educação
Ambiente 
de Trabalho
Condições de Vida
e de Trabalho
Desemprego
Água e
Esgoto
Serviços
Sociais de
Saúde
Habitação
Co
nd
içõ
es S
ocio
econô
micas, Culturais e Ambientais e Gerais
Es
tilo
s de
 Vida dos Indivíduos
Idade, Sexo e
Fatores hereditários
Produção
Agrícola de
Alimentos
Educação
Ambiente 
de Trabalho
Condições de Vida
e de Trabalho
Desemprego
Água e
Esgoto
Serviços
Sociais de
Saúde
Habitação
Figura 1 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
Há uma vasta literatura sobre aspectos concei-
tuais e modelos de referência relacionados aos de-
terminantes sociais e iniquidades em saúde.
A Comissão Nacional de Determinantes So-
ciais de Saúde os define como “fatores sociais, eco-
nômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e 
comportamentais que influenciam a ocorrência 
de problemas de saúde e seus fatores de risco na 
população” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007, p. 
78). E adotou o modelo de determinação social 
da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead 
(WESTPHAL, 2012). 
Desigualdades sociais em saúde
Diferença na inserção social dos indivíduos, re-
partição do poder e propriedade.
Positiva = valores de cooperação e solidariedade.
Negativa = exploração, dominação e produção 
de doença.
(Rita Barradas Barata)
O modelo entende que a saúde compreende três 
dimensões: a biológica, a social e cultural (BA-
RATA, 2012).
A dimensão biológica compreende as caracte-
rísticas biológicas marcadas pela interação genó-
tipo-fenótipo, ou seja, a genética e a modulação 
das potencialidades são herdadas pelas condi-
ções concretas da existência que irão resultar nas 
manifestações fenotípicas, como a idade/sexo e 
fatores hereditários X estilo de vida. Na dimen-
são social, inclui os grupos sociais e as formas 
de consciência e condutas resultantes de suas 
interações, bem como a forma de constituição 
dessas comunidades.
24 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
A dimensão cultural inclui as condições de 
vida e de trabalho e suas formas de organização 
que compreende as condições socioeconômicas, 
culturais e ambientais gerais.
O relatório da Comissão Nacional de determi-
nantes sociais de saúde (COMISSÃO NACIONAL, 
2008, on-line)2, ao analisar a situação de saúde de 
uma população, relacionando os Determinantes 
sociais de saúde, considera os seguintes itens:
1. Situação e tendências da evolução de-
mográfica, social e econômica do país: 
traça um panorama geral de referência 
para a análise da situação de saúde, des-
crevendo a evolução desses macrodeter-
minantes, particularmente nas últimas 
quatro décadas. Inclui dados sobre cresci-
mento populacional, fecundidade, morta-
lidade, migrações, urbanização, estrutura 
do mercado de trabalho, distribuição de 
renda e educação.
2. A estratificação socioeconômica e a saú-
de: apresenta a situação atual e tendências 
da situaçãode saúde no país, destacando 
as desigualdades de saúde segundo va-
riáveis de estratificação socioeconômica, 
como renda, escolaridade, gênero e local 
de moradia.
3. Condições de vida, ambiente e traba-
lho: apresenta as relações entre situação 
de saúde e condições de vida, ambiente 
e trabalho, com ênfase nas relações entre 
saneamento, alimentação, habitação, am-
biente de poluição, acesso à informação e 
serviços de saúde e seu impacto nas con-
dições de saúde dos diversos grupos da 
população.
4. Redes sociais, comunitárias e saúde: 
inclui evidências sobre a organização co-
munitária e redes de solidariedade e apoio 
para a melhoria da situação de saúde, des-
tacando, particularmente, o grau de de-
senvolvimento dessas redes nos grupos 
sociais mais desfavorecidos.
5. Comportamentos, estilos de vida e saú-
de: inclui evidências existentes no Brasil 
sobre condutas de risco, como hábito de 
fumar, alcoolismo, sedentarismo, die-
ta inadequada, entre outros, segundo os 
diferentes estratos socioeconômicos da 
população.
6. Saúde materno-infantil e saúde indí-
gena: por sua importância social e por 
apresentarem necessidades específicas de 
políticas públicas, são dedicadas seções 
especiais sobre saúde materno-infantil e 
saúde indígena.
Além disso, podem ser incluídos: saúde e am-
biente nas grandes cidades; seguridade social e 
saúde; cultura e promoção da saúde; distribuição, 
acesso e utilização de serviços de saúde em áreas 
urbanas; violência e saúde; iniciativas comunitá-
rias de promoção e proteção da saúde; desempre-
go e saúde, entre outros.
A COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE foi criada, em 2006, para 
produção de conhecimentos e informações sobre os determinantes sociais e de saúde (DSS), bem 
como revisão e análise de políticas e programas de intervenção sobre os DSS e comunicação sobre 
a importância e possibilidades de atuação sobre eles.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
25UNIDADE 1
Os Principais 
Determinantes 
Sociais de Saúde 
no Brasil 
E a saúde do Brasil, como vai? 
A situação de saúde, vida e trabalho da po-
pulação brasileira vem passando por grandes 
transformações nas quatro últimas décadas, in-
fluenciadas pelas mudanças econômicas, sociais 
e demográficas ocorridas no país, é o que mostra 
o Relatório elaborado pela Comissão Nacional 
sobre os Determinantes Sociais da Saúde.
A seguir, elaboramos uma síntese com base 
no Relatório, destacando os principais aspec-
tos que marcam a evolução demográfica, social 
e econômica relacionadas à saúde, questões de 
vida, ambiente e trabalho, as redes sociais e o 
comportamento e estilo de vida dos brasileiros, 
agrupados em três grandes itens: 1) Tendências 
demográfica, social e econômica; 2) Redes socias, 
e 3) Condições de vida e de saúde (COMISSÃO 
NACIONAL, 2008, on-line)2. 
26 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
1. Tendências demográficas, social e 
econômica
A urbanização foi apontada como um fator impor-
tante de mudanças, em que, a partir da década de 
70, influenciada pela industrialização, promoveu 
mudanças no setor econômico e na forma de viver 
das pessoas que, saindo do campo para viver na ci-
dade, buscavam trabalho e melhores condições de 
vida; no entanto, a oferta de infraestrutura e servi-
ços urbanos não acompanhou a grande demanda, 
a tal ponto que, em 1980, havia 38,2 milhões de 
moradores em domicílios urbanos inadequados.
O PIB per capita passou de 2.060 dólares, em 
1960, para 5.250, em 2000 e 5.720, em 2006. En-
tretanto, esse extraordinário aumento da riqueza 
produzida e a modernização da economia não 
significaram melhoria na distribuição e urbaniza-
ção; o crescimento do transporte e das indústrias, 
assim como a expansão da fronteira agrícola, cria-
ram as condições propícias para uma permanente 
exposição de contingentes populacionais, pro-
gressivamente maiores à poluição atmosférica e 
dos corpos hídricos. 
Alterações na fecundidade: a taxa média geo-
métrica de crescimento anual da população pas-
sou de 2,89%, no período 1960/1970, para 1,64%, 
no período 1991/2000. A taxa de fecundidade, que 
se mantinha estável desde 1940, passou a cair de 
maneira acelerada a partir de 1960.
Envelhecimento da população e aumento da 
expectativa de vida: a proporção de jovens de 0 a 
14 anos que era de 42,6%, em 1960, passou para 
30%, em 2000, e deverá atingir 18% em 2050, en-
quanto que a de idosos maiores de 65 anos, que 
era de 2,7%, em 1960, passou para 5,4%, em 2000, 
e no ano de 2050 deverá superar a de jovens, al-
cançando 19%.
Quanto à esperança de vida ao nascer, houve um 
ganho de mais de 20 anos, entre 1960 e 2006, para 
o Brasil como um todo. O valor de 72,4 anos, em 
2006, é 9 anos inferior ao do Japão, país com a maior 
expectativa de vida ao nascer em todo o mundo. 
O crescimento rápido do peso relativo dos ido-
sos tem um impacto importante na economia e 
na sociedade, obrigando a definição de políticas 
públicas que possam fazer frente a esse fenômeno 
sem paralelo na experiência mundial.
O Brasil gasta 7% do Produto Interno Bruto 
(PIB) em saúde, cerca de 530 dólares per capita, 
abaixo de Argentina (US$ 1.045), Chile (US$ 827) 
e Uruguai (US$ 781), para citar alguns países do 
Cone Sul.
2. Redes sociais
Diversos estudos mostram que não são as socie-
dades mais ricas que possuem melhores níveis 
de saúde, mas as que são mais igualitárias e com 
alta coesão social. Nessas sociedades, as pessoas 
são mais envolvidas com a vida pública, vivem 
mais, são menos violentas e avaliam melhor sua 
própria saúde.
Um importante indicador da riqueza do ca-
pital social é relação de confiança entre as pes-
soas. Segundo dados da Pesquisa Social Brasileira 
(PSB), que realizou 2.363 entrevistas entre julho 
e outubro de 2002, as relações de confiança, no 
Brasil, são extremamente débeis, praticamente 
limitando-se à confiança em familiares; enquanto 
84% das pessoas confiam na família, apenas 15% 
confiam na maioria das pessoas.
3. Condições de vida e de saúde
Os índices de cobertura dos serviços de água e 
esgoto, no período de 1999 a 2004, têm aumentado. 
Entretanto, enquanto nas regiões Sul e Sudeste, res-
pectivamente, 83% e 91% da população estava co-
berto pela rede geral de abastecimento de água, na 
região Norte, a cobertura desses serviços alcançava 
apenas 54,8% da população, e no Nordeste 72%. Es-
27UNIDADE 1
tudos apontam para o fato que 53% da população 
brasileira ainda não teria acesso a um saneamento 
adequado, e no atual ritmo de ampliação do acesso 
à universalização só se daria em 115 anos.
Quanto à educação, em 1940, 56% da popula-
ção brasileira era analfabeta, percentual que cai 
para 40%, em 1960, e 13,6%, no ano 2000. No nível 
fundamental, a cobertura é quase universal, en-
tre 7 a 14 anos em todas as regiões, tanto na área 
urbana como rural; já no ensino médio, a taxa 
de frequência entre 15 a 17 anos ainda é bastan-
te baixa para o Brasil como um todo; no ensino 
superior, é possível observar que quanto maior a 
renda, maior é o acesso ao ensino superior público 
em todas as regiões.
Os efeitos do nível de instrução se manifestam 
das mais diferentes formas: na percepção dos 
problemas de saúde; na capacidade de entendi-
mento das informações sobre saúde; na adoção 
de estilos de vida saudáveis; no consumo e uti-
lização dos serviços de saúde; e na adesão aos 
procedimentos terapêuticos.
O acesso equitativo aos serviços de saúde é de 
grande importância para a qualidade de vida e de 
saúde de um país; os números do SUS impressio-
nam pela magnitude. No ano de 2005, foram reali-
zadas cerca de 450 milhões de consultas médicas; 
11,8 milhões de internações; 2,6 milhões de partos; 
250 milhões de exames laboratoriais; 40 milhões 
de vacinações; 80 mil cirurgias cardíacas e 20 mil 
transplantes de órgãos. 
O Programa de saúde da família, iniciado em 
1994, conta, em 2008, com cerca de 27,5 mil equi-
pes (mais de 150 mil profissionais) atuando em 
5.131 municípios (92% do total de municípios 
brasileiros,com cobertura de 44% da população). 
O Programa Nacional de Imunização (PNI) al-
cançou uma cobertura praticamente universal 
em menores de um ano de idade, a partir de 1999, 
quando chegou a 94,7%, enquanto que, em 1978, 
atingia somente 40% das crianças.
No entanto, o relatório aponta que, apesar des-
ses inegáveis avanços na produção de serviços e 
dos princípios de universalidade e equidade que 
regem o SUS, ainda se observam importantes de-
sigualdades na oferta de recursos e serviços, assim 
como uma forte influência da posição social dos 
indivíduos no acesso, utilização e qualidade dos 
serviços de saúde.
Quanto à situação de saúde, a taxa de mor-
talidade infantil (TMI), que era de 124 óbitos no 
primeiro ano de vida para cada mil nascidos vivos, 
em 1960, caiu para 48,3, em 1990; 35,26, em 2000; 
e 25,1, em 2006. 
A proporção de mortes de menores de um 
ano de idade, sobre o total de óbitos, reduziu-se 
de 24%, em 1980, para 5%, em 2005, variando de 
11,3%, na Região Norte, a 3,4%, na Região Sul. Em 
2003, 58% dos óbitos informados ocorreram na 
faixa de 60 ou mais anos de idade, com variações 
de 43%, na Região Norte, a 62%, na Região Sul.
Quanto à mortalidade masculina e a feminina, 
entre 1960 e 2006, a sobremortalidade masculina 
cresceu acentuadamente, principalmente na faixa 
dos 20 aos 24 anos de idade: em 1960, a chance de 
um homem com 20 anos de idade morrer antes 
de passar para o grupo etário seguinte (25 a 29 
anos) era 1,1 vez maior que a de uma mulher do 
mesmo grupo etário. 
Em 2006, a chance masculina, na mesma com-
paração com a chance feminina, no mesmo grupo 
etário (20 a 24 anos), aumentou para 4,1 vezes. A 
principal causa do aumento da sobremortalidade 
masculina são os óbitos por causas externas (ou 
violentos).
Nas regiões Sudeste e Sul, pela primeira vez, a 
mortalidade por doenças cardiovasculares superou 
a mortalidade por doenças infecciosas, o que viria 
a ocorrer nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-
-Oeste duas décadas depois, durante os anos 80. 
Observa-se um processo de transição nutri-
cional, que consiste na substituição de um pa-
28 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
drão alimentar, baseado no consumo de cereais, 
feijões, raízes e tubérculos, por uma alimentação 
mais rica em gorduras (especialmente hidroge-
nadas) e açúcares, além da crescente ingestão de 
ingredientes químicos, aumentando o risco de 
sobrepeso e obesidade, aparecimento de doenças 
crônicas e incapacidades.
Os fatores relacionados a comportamentos e 
estilos de vida, como tabagismo, baixo consumo 
de frutas, de legumes e de verduras e o consumo 
de álcool são os principais fatores de risco para 
morte por câncer em países de baixa e média ren-
da, o que é o caso brasileiro. 
Estima-se que o tabagismo seja responsável 
por 18% das mortes por câncer; o baixo consumo 
de frutas, legumes e verduras por 6%; e o consumo 
de álcool por 5%. 
A saúde do trabalhador também é uma preo-
cupação, pois os problemas de saúde dos traba-
lhadores estão intimamente relacionados com o 
grau de desenvolvimento alcançado por um país 
ou uma região. 
A esses problemas se associam o deteriora-
mento das condições de trabalho e crescentes da-
nos ambientais. Os acidentes de trabalho são um 
dos subprodutos dessas tendências, juntamente 
com uma grande carga de doenças profissionais 
e doenças relacionadas ao trabalho, cujas con-
sequências contribuem para o agravamento dos 
problemas sociais que o país enfrenta.
No Brasil, verifica-se a presença de algumas 
doenças já controladas em países desenvolvidos, 
como a silicose e outras pneumoconioses, enve-
nenamento por chumbo, asbestose, síndrome do 
túnel do carpo, doenças dermatológicas causadas 
por compostos químicos, além dos sintomas e 
desordens mentais relacionadas ao stress, como 
a síndrome do Burnout. 
A poluição também é uma preocupação, devi-
do aos efeitos adversos sobre a saúde das popula-
ções expostas. Estima-se que o número de mortes 
causadas por problemas decorrentes da poluição 
atmosférica no mundo é de cerca de 3 milhões por 
ano, o que representa 5% do total de 55 milhões 
de mortes que ocorrem anualmente no mundo. 
Em algumas populações, cerca de 30% a 
40% dos casos de asma e 20% a 30% de todas as 
doenças respiratórias podem ser relacionadas à 
poluição atmosférica. Outros efeitos referem-se 
a perdas econômicas, aumento no absenteísmo 
escolar, dias de trabalho perdidos e nebulizações.
Busque saber sobre os membros da Comis-
são Nacional de Determinantes Sociais de Saú-
de (CNDSS) e reflita sobre a importância da 
diversidade de olhares sobre os determinantes 
de saúde.
Para saber mais e se inteirar, acesse o relatório da comissão nacional sobre os determinantes sociais 
da saúde, intitulado “As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil”.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
29UNIDADE 1
É possível observar as mudanças ocorridas nas 
condições de vida e de saúde da população bra-
sileira, condicionadas aos fatores econômicos, 
socioculturais e políticos, ao longo dos anos.
Agora, quando tomamos como foco os servi-
ços de saúde no Brasil, é possível observar mudan-
ças significativas no decorrer dos anos, do mesmo 
modo, influenciados por fatores econômicos, so-
cioculturais e políticos.
Diversos autores fazem análises e escrevem 
sobre o sistema de saúde brasileiro, mas tomamos 
por referência a análise de Carvalho, Martin e 
Cordoni Jr (2001), os quais identificaram quatro 
tendências: Sanitarismo Campanhista, período de 
Transição, Modelo médico assistencial privatista 
e o Modelo plural.
Vejamos um pouco de cada uma dessas ten-
dências.
Organização dos Serviços 
de Saúde no Brasil
30 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
1. Sanitarismo Campanhista
Tal tendência vigorou no país do início do século 
XX até 1945 e recebeu esse nome porque tinha, 
nas campanhas sanitárias, sua principal estratégia 
de saneamento.
O Brasil tinha sua economia baseada na agri-
cultura e na exportação do café; o comércio e o es-
paço nos portos era prioridade, devendo ser livre 
de doenças e saneados. Devido a isso, o sistema de 
saúde adotado foi o modelo das campanhas sanitá-
rias, com foco no combate das endemias urbanas e 
rurais. A assistência individual era privada, hospitalar 
com caráter de assistência social e as Santa Casas de 
Misericórdia atendiam quem não podia pagar. 
Em 1923, com a Lei Elói Chaves, surge a as-
sistência previdenciária no país e a criação das 
Caixas de Aposentadoria e Pensão nas empresas 
de estradas de ferro para os empregados, as quais 
ofereciam benefícios de aposentadorias e pen-
sões, assistência médica e farmacêutica; logo em 
seguida, os portuários e marítimos criaram seus 
Institutos de Previdência, nascendo uma nova 
estrutura de previdência social por categoria de 
trabalhadores, denominadas de Institutos de Apo-
sentadorias e Pensão (IAP). 
Em 1930, o ministério da Educação e Saúde 
passa a coordenar as ações de saúde coletiva. 
2. Período de Transição
Esse período é compreendido entre 1945 a 1960, 
marcado pelo pós-guerra e a crise previdenciária. 
Nesse período, a previdência social passa a ter 
grande importância e a ser utilizada como instru-
mento político; também foi nesse período que o 
Ministério da Saúde foi criado (1953). 
Ocorre, também, a unificação dos Institutos 
(IAPs), em 1967, e a criação do Instituto Nacional 
de Previdência Social (INPS), marcada pela exclusão 
de trabalhadores e empregados da gestão pela cres-
cente influência da indústria farmacêutica, médico 
hospitalares e os proprietários de hospitais. 
3. Modelo médico assistencial privatista
O modelo médico assistencial privatista marca o 
período entre 1960 a 1980, caracterizado pela prá-
tica médica curativa, individual, assistencialista e 
especializada em detrimento da saúde pública e 
a criação com intervenção estatal de um comple-
xo médico privado, organizando o estado como 
financiador, o setor privado nacional como pres-
tador de serviços e o setor privadointernacional 
como produtor de insumos. 
O Brasil vivia o período da ditadura militar, 
marcado por atos institucionais e decretos pre-
sidenciais de cunho arbitrário e que alteravam 
direitos de cidadania, informação, organização 
social e política. 
A saúde, que estava ligada à assistência social, 
tem sua ampliação na década de 70, com a cober-
tura para os trabalhadores rurais, as empregadas 
domésticas e os trabalhadores autônomos domés-
ticos. Em 1974, cria-se o Ministério da Previdência 
e Assistência Social, que atua no atendimento mé-
dico assistencial individualizado e o Ministério da 
Saúde se volta ao atendimento coletivo e vigilância 
sanitária. 
Com a crise econômica no final da década de 
70, foi impulsionado o Movimento da Reforma 
Sanitária que discutia reformas nas políticas de saú-
de, surgindo as ideias de medicina comunitária e 
o conceito de Atenção Primária à Saúde (OMS). 
O Movimento da Reforma Sanitária ajuda a 
fortalecer o processo de Transição democrática, 
ocorrido em 1984 com a 8° conferência Nacional 
de Saúde, em 1986, em que se discutiu a criação 
do Sistema Único de Saúde (SUS) e culminou 
com sua promulgação na Constituição em 1988. 
31UNIDADE 1
4. Modelo plural
A partir de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) 
foi incluído ao sistema de saúde brasileiro privado, 
garantindo acesso universal e igualitário às ações e 
serviços de saúde a todos os brasileiros, colocando 
a saúde como direito de todos e dever do estado. 
O setor lucrativo privado de atenção médica 
supletiva, que iniciou-se em 1954, fortalece na dé-
cada de 80 pela precariedade dos serviços públicos, 
criando, assim, a medicina de grupo, as cooperati-
vas médicas, e os seguro saúde. Regulamentados 
e fiscalizados pelo Estado, aliado ao setor não lu-
crativo, as instituições filantrópicas (Santas Casas) 
configuram o sistema de saúde atual brasileiro. 
Em síntese, gostaria de trazer o pensamento de 
Cohn (2012) acerca da política de saúde brasileira, 
o qual considera que tanto sua configuração e 
implementação são processos complexos de jo-
gos de interesses e valores múltiplos existentes 
na sociedade e que, em nossa sociedade desigual, 
as políticas sociais e de saúde devem priorizar os 
segmentos socialmente mais vulneráveis, com a 
lógica da universalização, integralidade e da equi-
dade da atenção à saúde, o que depende tanto 
da vontade política dos governantes quanto da 
sociedade, para que os direitos sociais se consti-
tuam como uma realidade marcada com maior 
justiça social.
Ao prestar a assistência ao indivíduo, à família 
ou à comunidade, deve ser considerado quem é 
ou quem são os usuários, como se apresentam na 
situação de necessidade de saúde, seus direitos, 
deveres, valores e prerrogativas. O ser humano é 
complexo e não há como abranger sua totalidade 
por uma única definição. Mesmo que a pessoa seja 
considerada um ser biopsicossocial e espiritual, 
não consegue expressar toda sua individualidade 
e singularidade. Os profissionais da saúde apren-
dem sobre estrutura e função humana por meio 
do estudo da anatomia, da fisiologia, da psicolo-
gia, da sociologia e da patologia, além das várias 
maneiras de assistir, de abordar e se relacionar 
profissionalmente com o indivíduo, a família ou 
a comunidade.
Para saber mais da história do sistema brasileiro 
de saúde, leia o texto de Paim et al(2011) “O 
sistema de saúde brasileiro: história, avanços 
e desafios”, disponível em: <http://download.
thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/
brazilpor1.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018.
O artigo, publicado em 2011 pelo periódico The 
Lancet, faz parte de uma série de publicações que 
analisam as melhorias nas condições de saúde e 
na expectativa de vida da população brasileira. 
Nesse artigo, é apresentado um panorama das 
principais conquistas e desafios relativos às 
políticas públicas de saúde no Brasil, com especial 
destaque ao Sistema Único de Saúde (SUS).
32 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada
Não podemos nos esquecer de que o am-
biente é o local onde a pessoa se encontra com 
as coisas ao seu redor e que exercem nela in-
fluências, afetando-a de várias maneiras. É ne-
cessário compreender as condições impostas 
como passíveis de interferência e atentar para 
não culpar os indivíduos quando tais condições 
forem insalubres e interferirem em seu estilo 
de vida. Trabalhar com as condições de vida 
impostas requer um trabalho interdisciplinar 
e intersetorial. A área da saúde, sozinha, não 
consegue assegurar qualidade de vida e, conse-
quentemente, de saúde. É na esfera da ética que 
compreenderemos a necessidade do empenho 
de parte significativa da sociedade para assegu-
rar a dignidade da vida humana.
Cabe aos profissionais da saúde rever em sua 
prática, buscando entender que não basta traba-
lhar com as doenças, é necessário compreender 
o indivíduo no todo como alguém que vive a ex-
periência da necessidade, do adoecimento, carre-
gada de valores e significados subjetivos, únicos, 
capazes de interferir na qualidade do cuidado 
prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da 
saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias 
para conceber a saúde no âmbito da atenção bá-
sica de forma mais solidária e menos punitiva na 
convivência com os estilos de vida individuais.
33
1. O grande desafio do conceito ampliado de saúde é a operacionalização de suas 
particularidades pelos trabalhadores da saúde, em especial aqueles que lidam 
diretamente com a população. Diante disso, em relação às premissas a seguir, 
assinale a alternativa que possibilita a concretude e expressão do conceito nas 
práticas cotidianas dos serviços.
a) Criando ambientes favoráveis à saúde, reforçando a ação comunitária, aumen-
tando o número de serviços de saúde.
b) Reforçando a ação comunitária, desenvolvendo habilidades pessoais e forman-
do um maior número de profissionais de saúde.
c) Criando ambientes favoráveis à saúde, reforçando a ação comunitária, desen-
volvendo habilidades pessoais.
d) Reforçando a ação comunitária, educando a população e formando um maior 
número de profissionais de saúde.
e) Aumentando o número de serviços de saúde, formando mais profissionais de 
saúde e criando ambientes favoráveis à saúde.
2. Procure uma música ou um filme que traga uma percepção da situação de saú-
de ou noção de saúde, ou que retrate a “cara” da sociedade em que vivemos, 
registre em seu caderno e justifique a escolha com base nos determinantes 
sociais de saúde.
3. De acordo com a Visão Socioambiental da saúde, descreva o conceito de saúde, 
seus determinantes, as estratégias e os programas de saúde.
4. Explique o modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e 
Whitehead.
5. Qual a crítica ao Modelo Plural de saúde brasileiro?
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
34
Tratado de Saúde Coletiva
Gastão Wagner de Sousa Campos
Editora: Hucitec
Sinopse: o livro apresenta um panorama dos principais assuntos de que se 
ocupa a saúde coletiva, estabelecendo um diálogo com docentes e discentes 
de graduação e pós-graduação das profissões de saúde.
LIVRO
Visite o portal da saúde do Ministério da Saúde. Você encontrará: Blog da saúde, 
Web rádio saúde e Canal saúde, que contribuem com informações e notícias 
sobre a saúde, aberto a todos os cidadãos, trabalhadores e gestores de saúde 
e Ministério da Saúde.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
WEB
35
Políticas de saúde no brasil: Um século de luta pelo direito à saúde
Ano: 2006
Sinopse: O documentário conta a história das políticas de saúde em nosso país, 
mostrando como ela se articulou com a história política brasileira, destacando 
os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas 
de Aposentadorias e Pensões até a implantação do SUS. Sua narrativa central 
mostra que a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da po-
pulação, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado, 
de modo articulado aos interesses do capital,e como, no decorrer do século, 
por meio da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser considerada, 
a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado. 
Toda essa trajetória é contada por meio de uma narrativa ficcional, vivida por 
atores, com reconstrução de época, apoiada por material de arquivo. Para tor-
nar a narrativa mais leve e atraente, o filme se vale da linguagem dos meios de 
comunicação dominantes em cada época, como o jornal, o rádio, a TV Preto e 
branco, a TV colorida e, por fim, a internet. 
O filme foi realizado por iniciativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Partici-
pativa, do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana 
da Saúde - OPAS e a Universidade Federal Fluminense/UFF. A obra, de caráter 
formativo, terá distribuição gratuita em todo o país, dirigida especialmente aos 
Conselhos de Saúde, instituições de ensino e movimentos sociais ligados à saúde. 
Estimula-se que o filme seja utilizado nas etapas municipais e estaduais da 13ª 
Conferência Nacional de Saúde. Uma versão legendada em espanhol e inglês 
está sendo discutida com a OPAS, para divulgação junto a países da América 
Latina, Caribe e África, que buscam no SUS uma referência. O documentário 
é composto por 5 capítulos, que podem ser assistidos em sequência, com 60 
minutos de duração, ou separadamente; cobrindo os seguintes períodos: 1900 
a 1930; 1930 a 1945; 1945 a 1964; 1964 a 1988; e 1988 a 2006.
FILME
36
BACKES, M. T. S. et al. Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antro-
pológico. Rev. enferm. UERJ, v. 17, n. 1, 2009.
BARATA, R. B. Desigualdades sociais e saúde. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde coletiva. São 
Paulo: Hucitec, 2012.
BATISTELLA, C. et al. O território e o processo saúde-doença. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.
CARVALHO, B. G.; MARTIN, G. B.; CORDONI JR., L. A organização do sistema de saúde no Brasil: Bases 
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COHN, A. O estudo das políticas de saúde-implicações e fatos. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde 
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DUARTE, E. C.; BARRETO, S. M. Transição demográfica e epidemiológica: a Epidemiologia e Serviços de Saúde 
revisita e atualiza o tema. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 21, n. 4, p. 529-532, 2012.
GUALDA, D. M. R.; BERGAMASCO, R. B. Enfermagem, cultura e o processo saúde-doença. São Paulo: 
Ícone, 2004.
MENEGHEL, S. N. Epidemiologia: exercícios indisciplinados. In: ______. Epidemiologia: exercícios indisci-
plinados. Porto Alegre: Tomo, 2015.
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coletiva. São Paulo: Hucitec, p. 635-668, 2012.
REFERÊNCIA ON-LINE
1Em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 18 out. 2018.
2Em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf>. Acesso em: 18 out. 2018.
37
1. C.
2. O aluno é livre na escolha, mas deve justificá-la relacionando os determinantes sociais de saúde (biológico, 
social e cultural).
3. 
Conceitos de saúde
Bem-estar biopsicossocial.
Necessidades de saúde.
Determinantes de 
saúde Condições de riscos diversas.
Estratégias
Ação política, espaços saudáveis, empoderamento 
da população, desenvolvimento de habilidades, reo-
rientação de serviços.
Desenvolvimento 
de programas
Comunidade em diálogo crítico com profissionais 
e agências.
4. O modelo entende que a saúde compreende três dimensões: a biológica, a social e cultural.
A dimensão biológica compreende as características biológicas marcadas pela interação genótipo-fenótipo, 
ou seja, a genética e a modulação das potencialidades são herdada pelas condições concretas da existência 
que irão resultar nas manifestações fenotípicas, como exemplo, a idade/sexo e fatores hereditários X estilo 
de vida. Na dimensão social, inclui os grupos sociais e as formas de consciência e condutas resultantes de 
suas interações, bem como a forma de constituição dessas comunidades. A dimensão cultural inclui as 
condições de vida e de trabalho, suas formas de organização que compreende as condições socioeconô-
micas, culturais e ambientais gerais.
5. “E um sistema público de saúde dual, políticas de saúde centralizadas e verticalizadas, tradição histórica 
da saúde vinculada ao mercado de trabalho, o sistema privado prestador com origem na década de 20 
como fruto da política previdenciária, distribuição de equipamentos de saúde altamente desigual, modelo 
de atenção comandado pela lógica médica e hospitalocêntrico, duplo comando da previdência social que 
prestava serviços de assistência à saúde e o Ministério da Saúde relativos a ações coletivas, dualidade 
na assistência dos trabalhadores por categorias (década de 30), e na diferenciação do acesso segundo a 
posição no mercado de trabalho (década de 70), herança de um setor privado de produção de assistência 
médica que se constituiu sob as sombras e financiamento do Estado”.
38
39
40
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Conhecer brevemente a história que antecedeu o SUS.
• Identificar os interesses, conflitos e necessidades sociais 
que deram origem ao SUS.
• Conhecer os objetivos e princípios do SUS.
• Descrever as diretrizes contidas nos pactos intergestores: 
Pacto pela vida, Pacto em defesa do SUS e Pacto de gestão.
• Compreender o conceito de rede de atenção e seus com-
ponentes.
Antecedentes do SUS
O processo de construção do SUS Pactos pela saúde
Redes de atenção à saúdeEntendendo o SUS
Dra. Marcela Demitto Furtado
História da Saúde 
Pública no Brasil
Antecedentes do SUS
Olá, caro(a) aluno(a). Já demos o primeiro passo 
na compreensão do processo saúde-doença quan-
do estudamos, na unidade anterior, um pouco 
sobre alguns conceitos, os fatores determinantes 
e condicionantes do processo saúde-doença e a 
realidade brasileira, bem como os modelos de 
Atenção à Saúde.
Para compreendermos um pouco mais como 
esse processo se dá na atualidade, é fundamen-
tal resgatarmos um pouco de história, afinal, to-
dos nós somos frutos de um passado e de uma 
história, sofremos influências ao longo da vida, 
fazemos escolhas, e tudo isso contribuiu para a 
formação da pessoa que somos hoje.
Da mesma forma, o setor saúde também foi 
construído com base na história. O contexto po-
lítico-social, a economia, o desenvolvimento da 
ciência e pesquisa e a situação geral do Brasil, bem 
como acontecimentos a nível mundial, ao longo 
dos anos, refletiram diretamente na saúde e cons-
trução das políticas públicas.
43UNIDADE 2
Nesta unidade, estudaremos a história e a evo-
lução da saúde pública no Brasil, destacando a cria-
ção do Sistema Único de Saúde (SUS), que é um 
dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. 
Abordaremos seus objetivos e suas diretrizes fi-
losóficas e organizativas, bem como as reformas 
institucionais que deram origem aos Pactos pela 
Saúde, além de discutirmos sobre as mudanças no 
modelo de atenção com a implantação das Redes 
de Atenção à Saúde.
O conhecimento adquirido aqui será funda-
mental para a compreensão das demais unidades, 
além de permitir uma visão mais ampliada e crítica 
sobre a organização dos serviços de saúde no Brasil, 
contexto no qual o profissional da saúde irá atuar.
Vamos, então, mergulhar nessa linha do tempo, 
buscando entender um pouco mais desse uni-
verso tão vasto de informaçõesno contexto da 
Saúde Pública.
Para conhecer a história da saúde no Brasil pre-
cisamos entender um pouco da história do nosso 
país, já que os acontecimentos sociais, políticos e 
econômicos refletiram diretamente na construção 
da saúde pública. 
Como é de conhecimento de todos, em meados 
de 1500, a saúde retratava a brutalidade imposta 
pela colonização portuguesa: abandono social do 
homem livre, extermínio de bandeirantes e civili-
zações indígenas, escravidão dos negros africanos, 
os quais viviam em senzalas, sob tortura e sem con-
dições mínimas de higiene.
As doenças, nesse período, eram vistas, muitas 
vezes, como castigos divinos pelo pecado do ho-
mem. Para o tratamento, as pessoas procuravam 
por feiticeiros, curandeiros, boticários e, também, 
pelas Casas de Saúde filantrópicas ligadas à Igreja 
Católica ou aos militares. Tudo isso custava di-
nheiro, logo, quem não podia pagar ficava sem 
assistência. A estratégia de controle adotada nessa 
época para as doenças pestilenciais, como lepra e 
varíola, era o confinamento, tratando-se, portanto, 
de uma medicina de exclusão.
Você sabia que a lepra é uma das doenças mais antigas do mundo, mas que hoje tem tratamento e cura?
A lepra, também conhecida como hanseníase, é uma doença infecciosa, contagiosa, causada por uma 
bacilo chamado Mycobacterium leprae, que afeta nervos e pele. A transmissão se dá pelas vias aéreas, 
como secreções nasais, gotículas da fala, tosse e espirro de pacientes considerados bacilíferos, ou 
seja, sem tratamento. Antigamente, as pessoas doentes ficavam nos leprosários, isoladas da socie-
dade. Hoje, todos os casos têm tratamento e cura. Os pacientes podem ser tratados gratuitamente 
no Sistema Único de Saúde. 
Fonte: Brasil (2008).
44 História da Saúde Pública no Brasil
A partir do século XIX, com a vinda da família 
real ao Brasil, é que se começou a pensar em po-
líticas públicas de saúde; afinal, era preciso uma 
estrutura sanitária mínima que pudesse dar su-
porte ao poder que se instalava na cidade do Rio 
de Janeiro (POLIGNANO, 2001).
Até meados de 1850, a saúde pública estava 
limitada às juntas municipais e ao controle de na-
vios e saúde dos portos (BERTOLOZZI; GRECO, 
1996).
Com a Proclamação da República, em 1889, o 
país adotou uma forma de organização capitalista. 
O período compreendido entre 1889 e 1930, deno-
minando de Primeira República, foi marcado pelo 
surgimento das primeiras indústrias e investimen-
to estrangeiro (BERTOLOZZI; GRECO, 1996).
Com a falta de um modelo sanitário, a saúde 
tornou-se caótica, caracterizada pelo predomínio 
de diversas doenças graves, como tuberculose, sífi-
lis, varíola, febre amarela, entre outras. Tal situação 
gerou sérias consequências, tanto para a saúde 
coletiva quanto para o setor do comércio exterior, 
já que os navios estrangeiros não queriam mais 
atracar no porto do Rio de Janeiro (POLIGNA-
NO, 2001).
Nesse período, Rodrigues Alves, o atual pre-
sidente do Brasil, nomeou Oswaldo Cruz como 
Diretor do Departamento Federal de Saúde Pú-
blica, com a finalidade de erradicar a epidemia da 
febre amarela. Assim, várias condutas arbitrárias 
e que não haviam sido esclarecidas à população 
foram tomadas para combater o mosquito que 
transmite a doença, o que gerou insatisfação e re-
volta da população. Esse modelo de intervenção 
ficou conhecido como campanhista (SINGER; 
CAMPOS, 1978).
Somado a isso, em 1904, a Lei federal n° 1.261 
instituiu a vacinação obrigatória anti-varíola para 
todo o território nacional, o que culminou com 
vários conflitos entre a população e as forças do 
governo (policiais e militares). Essa manifestação 
popular ficou conhecida como Revolta da Vacina 
(SINGER; CAMPOS, 1978).
Mesmo permeado por abusos, o modelo cam-
panhista obteve conquistas no controle das epide-
mias, conseguindo, por exemplo, erradicar a febre 
amarela do Rio de Janeiro. Ainda nesse período, 
foi incorporado o registro demográfico que per-
mitiu conhecer a população e suas necessidades, 
o laboratório para auxiliar no diagnósticos das 
doenças e a fabricação de produtos profiláticos 
(BERTOLLI FILHO, 1996). 
Com a 1° Guerra Mundial (1914-1918), envol-
vendo as grandes potências do mundo, o Brasil so-
freu consequências na sua economia, o que gerou 
desemprego, redução de salários e elevação do cus-
to de vida. Atrelado a isso, as péssimas condições 
de trabalho e a falta de direitos trabalhistas deram 
origem às greves gerais (BERTOLLI FILHO, 1996).
A partir de então, os trabalhadores passam a 
conquistar alguns direitos sociais que, a princípio, 
relacionam-se apenas ao trabalho e depois abran-
gem a questão da saúde. 
Discutiremos esse assunto no próximo tópico!
45UNIDADE 2
Uma série de eventos, cujas datas serão apresen-
tadas a seguir, contribuíram para a construção do 
SUS como a principal política pública de saúde 
do Brasil. 
Em 1923, foi criada a lei Eloy Chaves – que 
estabelece as Caixas de Aposentadoria e Pensões 
(CAPs) –, marco inicial da Previdência Social no 
Brasil. Tal lei visava garantir pensão aos trabalha-
dores em caso de algum acidente ou afastamento 
do trabalho por doença, e uma futura aposenta-
doria. Com as CAPs, inicia-se o debate sobre a 
importância de atender às necessidades dos traba-
lhadores (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001).
Na Era Vargas, foram criados o Ministério da 
Educação e da Saúde Pública e o Ministério do 
Trabalho; este último com o intuito de atender os 
direitos dos trabalhadores, o que, até o momento, 
era inexistente (BERTOLLI FILHO, 1996).
Em 1932, buscando ampliar o papel das CAPs, 
foram criados os Institutos de Aposentadoria e 
Pensões (IAPs), os quais eram organizados por 
categoria profissional. Assim, foram criados o Ins-
tituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos 
(IAPM), dos Bancários (IAPB), dos Comerciários 
(IAPC), dentre outros; e o Estado passou a parti-
O Processo de 
Construção do SUS
46 História da Saúde Pública no Brasil
cipar da sua administração, controle e financia-
mento (ANDRADE; PONTES; JUNIOR, 2000).
Nesse período, ainda se mantinha o formato do 
vínculo contributivo formal do trabalhador para a 
garantia do benefício, ou seja, aquele que não con-
tribuísse estava excluído do sistema de proteção, o 
que se configurava como uma injustiça social, já 
que não havia o mesmo direito para todos.
Em 1966, com a unificação dos IAPs, foi criado 
o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), 
que permitia que todo trabalhador urbano com 
carteira assinada se tornasse, automaticamente, 
contribuinte e beneficiário do sistema. Tal órgão 
gerou uma certa insatisfação nos contribuintes 
dos institutos com mais benefícios, pois, com a 
unificação, os mais pobres iriam receber mais be-
nefícios (ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001).
Em 1977, foi criado o Instituto Nacional de As-
sistência Médica e Previdência Social (INAMPS), 
grande órgão governamental que prestava assis-
tência médica apenas aos trabalhadores da eco-
nomia formal, com carteira assinada, e seus de-
pendentes. Tal assistência à saúde estava atrelada 
basicamente à custa de compra de serviços médi-
co hospitalares e especializados do setor privado 
(BAPTISTA, 2003). 
A década de 80 foi marcada por movimentos 
de contestação ao sistema de saúde. Um evento 
que marcou a história foi a realização da VIII 
Conferência de Saúde, que aconteceu em março 
de 1986, presidida pelo médico Sérgio Arouca, 
contudo, pela primeira vez, com a participação 
da comunidade (ANDRADE; PONTES; JU-
NIOR, 2000).
47UNIDADE 2
A VIII Conferência Nacional de Saúde difundiu 
a proposta da reforma sanitária, consagrando um 
conceito ampliado de saúde e reconhecendo esta 
como direito universal e dever do Estado.
Em 1987, ocorreu a implantação do Sistema Uni-
ficado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um 
convênio entre o INAMPS e os governos esta-
duais. O SUDS avançou na política de descentra-
lização da saúde, bem como na descentralização 
orçamentária, ocorrendo o que chamamos de 
“estadualização”, ou seja, todo o poderconferido 
Sérgio Arouca é considerado um dos principais 
teóricos e líderes do movimento da reforma 
sanitária. Falecido em agosto de 2003, aos 61 
anos, devido a um câncer no intestino, Arouca 
é reconhecido por sua importante participação 
na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Internacionalmente, foi consultor da Organização 
Pan-Americana de Saúde (Opas), atuando em 
vários países da América Latina.
Fonte: adaptado de Fiocruz ([2018], on-line)1.
A Reforma Sanitária diz respeito a “…um processo 
de transformação da norma legal e do aparelho 
institucional que regulamenta e se responsabiliza 
pela proteção à saúde dos cidadãos”.
(Sonia Fleury Teixeira )
ao INAMPS, agora, era repassado às secretarias 
estaduais de saúde (ANDRADE; SOARES; JU-
NIOR, 2001).
O SUDS possuía como principais diretrizes a 
universalização e equidade no acesso aos serviços 
de saúde; a descentralização das ações de saúde, 
como citado anteriormente; a integralidade do 
cuidado; e a implementação de distritos sanitários 
(ANDRADE; SOARES; JUNIOR, 2001).
Em 1988, é promulgada a Constituição da Re-
pública, denominada Constituição Cidadã, a qual 
foi fundamental na definição de ações prioritárias 
na área de saúde pública (BRASIL, 2000a). Vamos 
relembrar que foi nessa Constituição que ficou 
estabelecido que “a saúde é direito de todos e dever 
do Estado”.
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) 
se deu em 19 de setembro de 1990, por meio da 
lei 8.080, que “dispõe sobre as condições para a 
promoção, proteção e recuperação da saúde, a 
organização e o funcionamento dos serviços cor-
respondentes” (BRASIL, 8.080/1990). De forma 
geral, essa primeira lei do SUS detalha sobre os 
objetivos e diretrizes do SUS, os quais serão dis-
cutidos no próximo tópico.
Logo em seguida, em dezembro de 1990, foi 
criada a lei 8.142, que “dispõe sobre a participação 
da comunidade na gestão do Sistema Único de 
Saúde (SUS) e sobre as transferências intergover-
namentais de recursos financeiros na área da saúde 
e dá outras providências” (BRASIL, 8.142/1990). 
Essas duas leis (8.080 e 8.142), denominadas 
“Leis Orgânicas de Saúde”, foram objeto de muita 
disputa política.
Assim, finalmente estava construído o arca-
bouço jurídico do Sistema Único de Saúde. Po-
rém, novas lutas ainda estavam por vir e, claro, 
inúmeras conquistas também!
48 História da Saúde Pública no Brasil
Entendendo o SUS
Nesse tópico, vamos abordar, especialmente, os 
objetivos e princípios do SUS, bem como alguns 
marcos importantes que irão facilitar a sua com-
preensão acerca dessa política pública de saúde.
De acordo com a lei 8.080, já abordada ante-
riormente, os objetivos do SUS são: a identificação 
e divulgação dos fatores condicionantes e determi-
nantes da saúde; a formulação de políticas de saú-
de; a assistência às pessoas por intermédio de ações 
de promoção, proteção e recuperação da saúde, 
com realização integrada das ações assistenciais e 
das atividades preventivas (BRASIL, 8.080/1990).
Em relação aos princípios do SUS, os que com-
põem a sua base, referindo-se aos objetivos fina-
lísticos do sistema de saúde, são denominados de 
doutrinários (ou éticos), sendo eles: universalida-
de, equidade e integralidade (PAIM; SILVA, 2010).
O princípio de universalidade reafirma o que 
já foi previsto na Constituição de 1988, que a saú-
de é um direito de todos e dever do Poder Público; 
é a garantia de atenção à saúde de todos os cida-
dãos. “No SUS, universalidade supõe que todos os 
brasileiros tenham acesso igualitário aos serviços 
de saúde e respectivas ações, sem qualquer barrei-
ra de natureza legal, econômica, física ou cultural” 
(PAIM; SILVA, 2010, p. 114).
49UNIDADE 2
 “
A integralidade diz respeito a atender as 
necessidades específicas de cada indivíduo 
ou grupo de pessoas, de modo a garantir e 
promover ações de prevenção, promoção, 
assistência e reabilitação. De certa forma, 
é, também, compreender o homem como 
um ser integral, biopsicossocial, o que irá 
proporcionar um atendimento holístico 
(MACHADO et al., 2007).
A Integralidade é o próprio caminho que vai 
transformando as pessoas e construindo algo 
melhor. Busca uma assistência ampliada, trans-
formadora, centrada no indivíduo e não aceita 
a redução deste nem à doença, nem ao aspecto 
biológico. Além do atendimento integral, envolve 
a valorização do cuidado e o acolhimento (FON-
TOURA; MAYER, 2006, p. 532-533).
O princípio de equidade está atrelado à ne-
cessidade de diminuir as desigualdades, sejam 
elas sociais e/ou econômicas, muito presentes em 
nosso país quando, por exemplo, comparamos 
diferentes regiões. Porém, a equidade não é o mes-
mo que igualdade, visto que as pessoas, por serem 
diferentes, possuem necessidades diferentes. Logo, 
esse princípio busca suprir a necessidade de as-
sistência de saúde de acordo com a igualdade de 
condições (PAIM; SILVA, 2010).
Figura 1 - Igualdade e Equidade
Fonte: Marta - O meu canto (2017, on-line)2.
50 História da Saúde Pública no Brasil
Os princípios que regem a organização do SUS 
são chamados de Organizacionais ou Operati-
vos, são eles: Regionalização, Hierarquização, 
Resolubilidade, Descentralização e Participação 
comunitária (BRASIL, 2001a).
O entendimento dos princípios de regiona-
lização e hierarquização diz respeito à forma de 
organização dos serviços entre si e com a popu-
lação. A regionalização vai além da delimitação 
rígida de uma base territorial, usuários e serviços; 
leva-se em conta, também, a divisão político-ad-
ministrativa do país (OLIVEIRA et al., 2009).
A hierarquização significa que a organização 
do sistema de saúde deve acontecer em níveis 
crescentes de complexidade, considerando as ca-
racterísticas específicas de cada área geográfica e 
de cada cliente (OLIVEIRA et al., 2009).
Sabendo que o usuário do serviço de saúde 
pode percorrer por vários níveis de atenção du-
rante seu atendimento é que se faz necessário 
incorporar o sistema de referência e contrarre-
ferência, a fim de integrar as redes de saúde e, as-
sim, obter maior eficiência no cuidado ao usuário 
(SERRA; RODRIGUES, 2010).
A resolubilidade diz respeito à necessidade do 
serviço de saúde apresentar-se resolutivo até o 
nível de sua competência para aquilo que é pro-
posto (BRASIL, 1990).
O princípio de descentralização pode ser 
entendido como uma forma de redistribuir as 
responsabilidades sobre a saúde da população 
entre as três esferas do governo, acreditando que 
quanto mais perto a solução estiver do problema, 
maior serão as chances de acerto.
De acordo com Palha e Villa (2003), a des-
centralização dos serviços de saúde tem sido 
o eixo norteador para a operacionalização dos 
princípios organizativos e diretivos do SUS. Nesse 
sentido, a descentralização tem ênfase na munici-
palização, ou seja, os municípios assumindo um 
papel cada vez mais importante na prestação e 
gerenciamento dos serviços de saúde (BARATA; 
TANAKA; MENDES, 2004).
E, por fim, a participação da comunidade re-
fere-se à valorização da população nos processos 
decisórios do país, o que refletiu no chamado 
“movimento sanitário”, o qual contou com a par-
ticipação de intelectuais, usuários e trabalhadores 
de saúde na luta pela reforma do sistema de saúde.
Com o objetivo de colocar em prática a par-
ticipação social na saúde é que a lei 8.142 (Lei 
Complementar da Saúde) propôs a formação dos 
Conselhos de Saúde, os quais devem acontecer 
nas três esferas do governo e contar com a pre-
sença de representantes do governo, prestadores 
de serviços, profissionais de saúde e usuários 
(BRASIL, 8.142/1990).
A organização operacional do SUS se deu pela 
criação das Normas Operacionais Básicas (NOB), 
as quais possuem três edições (1991, 1993 e 1996), 
devido à necessidade de aperfeiçoamento ao lon-
go dos anos (BRASIL, 2000b).
Para atender ao princípio de descentralização, 
as negociações e pactuações acerca da saúde se 
dão nos três níveis de governo (nacional, esta-
dual e municipal). Nesse sentido, em 1991, foram 
criadas

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