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GENÉTICA MÉDICA Julya Pavão - 79 SÍNDROME DE BECKWITH-WIEDEMANN SÍNDROME DE BECKWITH-WIEDEMANN · A síndrome ocorre por alterações epigenéticas na região 15.5 do braço curto do cromossomo 11 (11p15.5), que contém genes envolvidos na regulação do crescimento. · Seus principais achados são: macroglossia, onfalocele e gigantismo; · Possui grande variabilidade clínica; · Mortalidade e morbidade muito variáveis de acordo com o que é afetado · Acomete a todas as etnias; · 85% dos casos ocorrem ao acaso e 15% por herança familiar autossômica dominante. · Incidência: 1:10.000-14.000 nascidos vivos; · Em casos de inseminação artificial, o risco aumenta de 4 a 10 vezes; · Subnotificação: casos brandos e morte prematura; · Igual prevalência entre homens e mulheres; · Exceção: Gêmeos monozigóticos (prevalência feminina). · A metilação do DNA é a principal marca epigenética no estabelecimento e na manutenção do imprinting genômico. · Casos esporádicos ocorrem, principalmente, por alterações do imprinting da região cromossômica 11p15.5. · O braço curto do cromossomo 11 apresenta um cluster de genes sujeitos a impriting, abrangendo a região 11p15 (cerca de 1Mb) e é constituído por dois domínios gênicos, cada um regulado por uma região de controle de imprinting (ICR). · Gene IGF2 (insulin-like growth factor2) - codifica um fator de crescimento fetal altamente expresso em tecidos mesodérmicos e endodérmicos · Gene H19 (imprited maternally expressed transcript) - pode ter atividade de supressão tumoral. · O gene IGF2 é expresso normalmente apenas pelo alelo paterno, enquanto o gene H19 é expresso normalmente apenas pelo alelo materno (expressão monoalélica). · Gene de expressão materna CDKN1C (cyclin-dependent kinase inhibitor 1C) - Codifica uma proteína que inibe o crescimento. · Gene de expressão materna KCNQ1- família. · Gene paterno não metilado permite a expressão de KCNQ1OT1- responsável por regular a expressão gênica e acredita-se que KCNQ1OT iniba CDKN1C. · Assim, a manutenção da metilação diferencial em ICR2 assegura a expressão monoalélica do gene paterno KCNQ10T1 e expressão alélica dos demais maternos. · Principais etiologias da Síndrome de Beckwith-Wiedemann: · Duplicações paternas, patUPD(11), mutações do gene CDKN1C ou alterações epigenéticas (hipermetilação de ICR1 ou hipometilação de ICR2) causam Beckwith-Wiedemann, caracterizada principalmente pelo crescimento exarcebado intrauterino e pós-natal. · Anomalias cromossômicas incomuns também podem resultar em desequilíbrio na regulação dos genes na região 11p15.5 (em menos de 1%), por exemplo, na troca de material entre o cromossomo 11 e algum outro cromossomo (translocação). · Correlação genótipo-fenótipo: Hipermetilação de ICR1 · Macrossômicos ao nascimento; · Defeitos da parede abdominal - geralmente menores - consistentes com o aumento de órgãos; · 1/3 - anomalias renais e malformações ureterais; · Maior ocorrência de polidrâmnio. Hipometilação de ICR2 · Partos prematuros; · Hipercrescimento pós-natal; · Nevus flammeus facial; · Fossas, vincos e pregas orelha; · Onfalocele; · Menor incidência de aumento de órgãos; · Anomalias do desenvolvimento da parede abdominal (hipótese). · Hipoglicemia neonatal: · Ocorrência de aproximadamente 50% nos lactentes com BWS. · Geralmente é leve e transitória, mas pode ser persistente em casos graves. · Pode ocorrer tardiamente no 1° mês de vida. · Traz risco de sequelas no desenvolvimento neural. · Onfalocele: · Associada principalmente a alterações no ICR2 ou a uma variante patogênica heterozigótica no alelo CDKN1C de origem materna. · Podem ocorrer outros defeitos na parede abdominal, como hérnia umbilical e diástase dos músculos retos abdominais (pouco frequente). · Macrossomia: · Presente em aproximadamente 50% dos pacientes; · Observada ao nascimento ( mais comum) ou no pós-natal; · Proeminente em todos os subtipos moleculares; · Estatura e peso >p97; · Hipercrescimento na primeira infância; · A taxa de crescimento diminui entre 7 e 8 anos; · Gigantismo (88% - Eliott et al) · Hemi-hiperplasia: · Anormalidade de proliferação celular (⬆ número) que leva a um crescimento exacerbado e assimétrico; · Pode afetar regiões segmentares do corpo ou órgãos e tecidos selecionados; · Ipsilateral ou contralateral; · Pode tornar-se mais ou menos evidente à medida que a criança cresce; · Geralmente, presente em pacientes com UPD. · Macroglossia: · Presente em aproximadamente 90% dos pacientes; · Presente em todos os subtipos moleculares; · Observada ao nascimento (mais comum) ou no pós-natal; · Macroglossia sintomática: · Dificuldade respiratória; · Infecções incontroláveis da região superior: · Dificuldade de alimentação; · Melhora com o tratamento cirúrgico da redução. · Neoplasias e tumores embrionários: · Risco aumentado de mortalidade associada à neoplasia; · Tumores mais frequentes: tumor de Wilms e hepatoblastoma. · Outros: neuroblastoma, carcinoma adrenocortical e rabdomiossarcoma. · Idade média da maioria das crianças com SBW que desenvolverão um tumor: ≅ 2 anos. · Risco de tumores é ⬆4x em pacientes com hemi-hipertrofia ou nefromegalia, e eles aparecem no abdômen em 95% dos casos e antes dos 4 anos de vida. · Transmitir a informação aos pais. · Outras anomalias: · Visceromegalia: · Hepatoesplenomegalia (muito frequente). · Anormalidades renais: · Rim espongiomedular; · Nefromegalia. · Nefrocalcinose: · Em 22% dos indivíduos com BWS; · Relacionado à hipercalciúria. · Outras alterações como sistema coletor duplicado, divertículos e alterações císticas podem ser encontradas. · Citomegalia adrenocortical fetal: · Patognomônica. · Polidrâmnio; · Parto prematuro; · Pé torto (equinovaro); · Idade óssea avançada; · Erupção prematura dos dentes; · Malformação capilar: · Nevus flammeus facial. · Cordão umbilical longo; · Placenta aumentada. · Alterações metabólicas: hipotireoidismo, hiperlipidemia, hipercolesterolemia e policitemia. · Cardiomegalia (em 20%; geralmente desaparece sem tratamento); · Vincos, fossas ou pregas na orelha (76% - Eliott et al); · Fenda palatina (pouco presente); · Perda auditiva (pouco relatada). · No adulto, o prognóstico é geralmente favorável, embora possam ocorrer complicações, como displasia medular renal e subfertilidade em homens. · Fenótipo grave associado a altos níveis de mosaicismo somático para UPD de 11p15. · Desenvolvimento neural: · Normal. · Anormalidades cromossômicas: · Duplicação de origem paterna na região 11p; · Malformação cerebral; · Hipóxia; · Hipoglicemia; · Há alguns relatos de problemas neurocomportamentais, como transtorno do espectro do autismo. · Diagnóstico: · O diagnóstico é baseado nas características clínicas; · Ainda não existe um consenso quanto aos critérios de diagnóstico para essa síndrome; · Vários autores sugeriram o que seriam critérios maiores e menores para o diagnóstico da síndrome; · A síndrome de Beckwith-Wiedemann (SBW) deve ser considerada como um espectro clínico, mesmo o indivíduo afetado tendo apenas um ou dois achados clínicos sugestivos; · O diagnóstico também pode ser estabelecido quando se tem a confirmação de uma alteração epigenética ou genômica que leva à metilação anormal em 11p15.5 ou uma variante patogênica causadora de SBW heterozigótica em CDKN1C na presença de um ou mais achados clínicos. · Testes genéticos: · Estudos de metilação do DNA; · Teste de um gene único; · Microarray cromossômico; · Cariótipo; · Uso de painéis multigênicos que incluem genes na região crítica da SBW; · FISH. · Diagnóstico pré-natal: · Estudo citogenético, através da amniocentese; · Estudo genético molecular; · Determinação de marcadores bioquímicos maternos; · Estudo ultrassonográfico fetal. · É de extrema importância para definir o seguimento perinatal: · Modo de parto. · Cuidado pediátrico decorrente de: · Hipoglicemia neonatal; · Obstrução das vias aéreas superiores; · Risco de malignidade dos tumores; · Teste genético nos familiares. · Nos casos em que, em gestações anteriores, já se tenhahistórico confirmado de SBW ou se teve suspeita devido a algumas características do feto, é recomendado: · Prática de testes moleculares genéticos em células fetais obtidas por amniocentese; · Estudo do cariótipo; · Medidas bioquímicas no soro materno: · Elevação anormal de marcadores bioquímicos: alfa-fetoproteína, estriol e gonadotrofina coriônica humana. · Estudos ultrassonográficos especializados: · Determinação da translucência nucal (entre 11 e 14 semanas); · Busca por achados típicos de SBW. · Tratamento e manejo: · RISCO DE TUMORES: · Palpação abdominal frequente (a cada 3-4 meses); · Realizar US abdominal para identificar tumorações; · Cirurgia; · Radio/quimioterapia; · Monitorar a concentração sérica de alfa-fetoproteína (AFP) a cada 2-3 meses nos primeiros 4 anos de vida – hepatoblastoma. · MACROGLOSSIA: · Antes dos 2 anos: mamilos de silicone para auxiliar a alimentação; · Uso de sonda nasogástrica; · Ressecção cirúrgica parcial durante primeiros 3 anos de vida; · Tratamento fonoaudiológico. · HIPOGLICEMIA NEONATAL: · Monitoramento rigoroso e serial na glicemia; · Administração endovenosa de soro com glicose; · Evitar distúrbios neurológicos. · HEMI-HIPERPLASIA: · Acompanhamento rigoroso e contínuo; · Intervenção cirúrgica: epifisiodese para equalização dos membros; · Cirurgia craniofacial. · HÉRNIA UMBILICAL/ INGUINAL: · Acompanhar regressão espontânea; · Caso não regrida, é realizada cirurgia. · ACHADOS RENAIS, CARDIOLÓGICOS E DO TGI: · Encaminhamento aos profissionais especializados. GENÉTICA MÉDICA Julya Pavão - 79 SÍNDROME DE BECKWITH - WIEDEMANN SÍNDROME DE BECKWITH - WIEDEMANN · A síndrome ocorre por alterações epigenéticas na região 15.5 do braço curto do cromossomo 11 (11p15.5), que contém genes envolvidos na regulaçã o do crescimento. · Seus principais achados são: macroglossia, onfalocele e gigantismo ; · Possui grande variabilidade clínica ; · Mortalidade e morbidade muito variáveis de acordo com o que é afetado · Acomete a todas as etnias ; · 85% dos casos ocorrem ao acaso e 15% por herança familiar autossômica dominante . · Incidência: 1:10.000 - 14.000 nascidos vivos ; · Em casos de inseminação artificial, o risco aumenta de 4 a 10 vezes ; · Subnotificação: casos brandos e morte prematura ; · Igual prevalência entre homens e mulheres ; · Exceção: Gêmeos monozigóticos (prevalência feminina) . · A metilação do DNA é a principal marca epigenética no estabelecimento e na manutenção do imprinting genômico. · Casos esporádicos ocorrem, principalmente, por alterações do imprinting da região cromossômica 11p15.5. · O braço curto do cromossomo 11 apresenta um cluster de genes sujeitos a impriting, abrangendo a região 11p15 (cerca de 1Mb) e é constituído por dois domínios gênicos, cada um reg ulado por uma região de controle de imprinting (ICR). · Gene IGF2 (insulin - like growth factor2) - codifica um fator de crescimento fetal altamente expresso em tecidos mesodérmicos e endodérmicos · Gene H19 (imprited maternally expressed transcript) - pode t er atividade de supressão tumoral . · O gene IGF2 é expresso normalmente apenas pelo alelo paterno, enquanto o gene H19 é expresso normalmente apenas pelo alelo matern o (expressão monoalélica) . · Gene de expressão materna CDKN1C (cyclin - dependent kinase inhibitor 1C) - Codifica uma proteína que inibe o crescimento . · Gene de expressão materna KCNQ1 - família . · Gene paterno não metilado permite a expressão de KCNQ1OT1 - responsável por regular a expressão gênica e acredita - se que KCNQ1OT iniba CDKN1C.
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