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AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO ENDÓCRINA Em geral, os distúrbios do sistema endócrino resultam de alterações na secreção hormonal ou na responsividade da célula-alvo à ação hormonal. As alterações na resposta das células-alvo podem ser decorrentes de um aumento ou uma diminuição da responsividade biológica a determinado hormônio. A abordagem inicial para a avaliação da função endócrina consiste na medição dos níveis plasmáticos hormonais. Medições dos hormônios As concentrações dos hormônios nos líquidos biológicos são medidas por imunoensaios. Esses ensaios dependem da capacidade de anticorpos específicos de reconhecer hormônios específicos. A especificidade para a dosagem de um hormônio depende da capacidade dos anticorpos de reconhecer sítios antigênicos hormonais. Os níveis dos hormônios podem ser medidos em amostras de plasma, soro, urina ou outra amostra biológica. As determinações dos hormônios na urina de 24 horas fornecem uma avaliação integrada da produção de um hormônio ou seu metabólito, que pode variar consideravelmente durante o dia, como no caso do cortisol. Interpretação das medições hormonais Devido à variabilidade dos níveis circulantes de hormônios em consequência da liberação pulsátil, dos ritmos circadianos, do ciclo sono/vigília e do estado nutricional, a interpretação de medições isoladas dos níveis plasmáticos hormonais deve ser feita sempre com muita cautela e com o conhecimento dos componentes do eixo hormonal em questão. Esses componentes serão identificados para cada um dos sistemas hormonais discutidos. As determinações dos hormônios no plasma só refletem a função endócrina quando interpretadas no contexto correto. Pode-se identificar uma anormalidade da função endócrina pelas medições dos níveis hormonais, dos pares de hormônios- nutrientes ou hormônios-hormônios tróficos, ou por provas funcionais do estado hormonal, com a avaliação clínica do indivíduo. É importante ter em mente que os níveis circulantes de determinado hormônio refletem o estado imediato do indivíduo. A regulação da liberação hormonal é um processo dinâmico, que se modifica constantemente para se adaptar às necessidades de manutenção da homeostasia do indivíduo. Por exemplo, os níveis plasmáticos de insulina refletem o estado pós-prandial ou de jejum; os níveis de estrogênio e progesterona refletem a fase do ciclo menstrual. Além disso, os níveis hormonais podem refletir o momento do dia em que foi obtida a amostra. Por exemplo, devido ao ritmo circadiano de liberação do cortisol, os níveis de cortisol apresentam-se mais elevados pela manhã do que no final da tarde. A idade, o estado de saúde, o sexo e o padrão de sono estão entre os inúmeros fatores que influenciam os níveis hormonais. As doenças e os períodos de iluminação de 24 horas, como os encontrados em uma unidade de terapia intensiva, alteram a pulsatilidade e o ritmo de liberação hormonal. Alguns aspectos gerais a considerar quando se interpretam as medições hormonais são os seguintes: 1. Os níveis dos hormônios devem ser avaliados com seus fatores reguladores apropriados (p. ex., insulina com glicose, cálcio com paratormônio, hormônio tireoidiano com TSH). 2. A elevação simultânea dos pares (elevação tanto do hormônio quanto do substrato por ele regulado, como níveis plasmáticos elevados de glicose e insulina) sugere um estado de resistência hormonal. 3. A excreção urinária do hormônio ou de seus metabólitos em 24 horas em indivíduos com função renal normal pode constituir uma melhor estimativa da secreção hormo nal do que uma única medição dos níveis plasmáticos. 4. O excesso de hormônio-alvo deve ser avaliado com o hormônio trófico apropriado para excluir a possibilidade de produção hormonal ectópica, que em geral é causada por um tumor secretor de hormônio. O aumento dos níveis de hormônio trófico com baixos níveis do hormônio-alvo indica uma insuficiência primária do órgão endócrino-alvo. O aumento dos níveis do hormônio trófico com a elevação dos níveis hormonais da glândula-alvo indica uma secreção autônoma do hormônio trófico ou a incapacidade do hormônio da glândula- alvo de suprimir a liberação de hormônio trófico (comprometimento dos mecanismos de retroalimentação negativa). Os baixos níveis de hormônio trófico com baixos níveis de hormônio da glândula-alvo indicam uma deficiência de hormônio trófico, como a observada na insuficiência hipofisária. Os baixos níveis de hormônio trófico com níveis elevados de hormônio da glândula-alvo indicam uma secreção hormonal autônoma pelo órgão endócrino- alvo. Medições dinâmicas da secreção hormonal Em alguns casos, a detecção de concentrações hormonais anormalmente elevadas ou baixas pode não ser suficiente para estabelecer, de modo conclusivo, o local da disfunção endócrina. As medições dinâmicas da função endócrina fornecem mais informações do que aquelas obtidas pela determinação dos hormônios e seus pares, e baseiam-se na integridade dos mecanismos de controle por retroalimentação que regulam a liberação hormonal. Essas provas de função endócrina têm como base a estimulação ou a supressão da produção hormonal endógena. 1. Testes de Estimulação :Os testes de estimulação têm por objetivo determinar a capacidade da glândula-alvo de responder a seu mecanismo de controle, seja um hormônio ou um substrato que estimula sua liberação. Como exemplos desses testes, destacam-se o uso do ACTH para estimular a liberação de cortisol e a administração de uma carga de glicose oral para estimular a liberação de insulina. 2. Testes de Supressão :Esses testes são utilizados para determinar a integridade dos mecanismos de retroalimentação negativa que controlam a liberação hormonal. Um exemplo é o uso da dexametasona, um glicocorticoide sintético, para suprimir a secreção de ACTH e a liberação do cortisol das glândulas suprarrenais. Medições dos receptores de hormônios. A determinação da presença, do número e da afinidade dos receptores hormonais tornou-se um instrumento diagnóstico útil, particularmente na instituição da terapia hormonal para o tratamento de alguns tumores. As medições dos receptores efetuadas em Princípios gerais da fisiologia endócrina 23 amostras de tecido obtidas cirurgicamente permitem determinar a responsividade do tecido ao hormônio e deduzir a responsividade do tumor à terapia hormonal. Um exemplo é a avaliação dos receptores de estrogênio nos tumores da mama para determinar a aplicabilidade da terapia hormonal.
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