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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS CAROLINA GAIO MARTINS JOSÉ WILSON CAMPITELI TOLEDO LETÍCIA SOUZA DA SILVA NATHALIA LOPES ALVES ROBERTA CAROLINE DOS SANTOS WALESKA LAISA CORSI Viscoelasticidade REOLOGIA LONDRINA 2021 SUMÁRIO 1. VISCOELASTICIDADE ......................................................................................3 1.1 Fênomenos Envolvidos no Comportamento Viscoelástico ...........................3 1.1.1 Elasticidade .....................................................................................................3 1.1.2 Anelasticidade..................................................................................................3 1.1.3 Fluxo Viscoso...................................................................................................4 1.2 Viscoelasticidade Linear e Viscoelasticidade Não-linear ................................4 1.3 Número de Deborah.......................................................................................5 1.4 Fênomenos Característicos de Materiais Viscoelásticos ..............................6 1.4.1 Efeito Weinssenberg.........................................................................................6 1.4.2 Efeito Sifão ......................................................................................................7 1.4.3 Inchamento do Extrudado .................................................................................8 1.4.4 Fratura do Fundido ...........................................................................................8 1.5 Aplicações de Materiais Viscoelásticos ............................................................9 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 12 3 1. VISCOELASTICIDADE Os materiais viscoelásticos são materiais não-newtonianos que apresentam propriedades deformacionais tanto elásticas quanto viscosas. A reação desses materiais ao serem tensionados consiste em uma combinação de escoamento viscoso e deformação elástica. Essa propriedade está associada à existência de moléculas muito grandes e flexíveis, à presença de partículas ou sólidos dispersos no meio fluido. Nos materiais viscoelásticos as tensões dependem das deformações e taxas de deformações. Assim, materiais viscoelásticos apresentam uma recuperação parcial, normalmente dependente do tempo, correspondente à parte elástica que não se deformou. Como resultado da flexão e alongamento das ligações covalentes da cadeia principal do polímero e outros materiais, o comportamento em geral é hookeano antes do ponto de fluência (limite elástico). Depois desse ponto de fluência, o mecanismo predominante é o deslizamento irreversível das cadeias. 1.1 Fênomenos Envolvidos no Comportamento Viscoelástico 1.1.1 Elasticidade Elasticidade é a deformação reversível induzida pela carga aplicada e ocorre devido à variação no comprimento e ângulos das ligações entre os átomos. A componente elástica é dominante nos sólidos, portanto suas propriedades podem ser descritas pela Lei de Hooke: a tensão aplicada (σ) é proporcional à deformação resultante (ε), no entanto, é independente da velocidade de deformação( 𝑑𝜀 𝑑𝑡 ). 𝜎 = 𝐸𝜀 1.1.2 Anelasticidade A anelasticidade pode ser definida como a componente da deformação elástica dependente do tempo, isto é, a deformação continua aumentando após a aplicação da tensão. Ao retirar a tensão, é requerido um certo tempo para que o material se recupere 4 completamente. Em materiais metálicos, os mecanismos microscópicos, que ocorrem quando o material é deformado e que tornam a recuperação elástica dependente do tempo, são desprezíveis, entretanto a magnitude da anelasticidade é importante nos materiais poliméricos. 1.1.3 Fluxo Viscoso O fluxo viscoso é a deformação permanente ou irreversível que ocorre devido ao deslizamento dependente do tempo de uma cadeia em relação às outras. A componente viscosa é dominante nos líquidos e por isso suas propriedades podem ser representadas pela Lei de Newton. A tensão aplicada (σ) é proporcional à velocidade de deformação ( 𝑑𝜀 𝑑𝑡 ), porém é independente da deformação (ε) e do gradiente de velocidade: 𝜎 = 𝜂 𝑑𝜀 𝑑𝑡 Onde η é a viscosidade do fluido. 1.2 Viscoelasticidade Linear e Viscoelasticidade Não-linear Ao ser aplicada uma tensão em materiais viscoelásticos no limite de baixas deformações, a relaxação das tensões em relação às deformações impostas é linear, ou seja, como não há mudança na estrutura, a resposta do material independe do tempo e esforço aplicado, caracterizando a viscoelasticidade linear. Quando deformações maiores são impostas, a relação entre a relaxação de tensões e as deformações não segue um comportamento linear, devido à alteração provocada na estrutura do material, o que caracteriza a viscoelasticidade não linear. 5 1.3 Número de Deborah A distinção entre o comportamento de um fluido e de um sólido pode ser feita por meio do número de Deborah. O número de Deborah (De), representado pela equação abaixo, é uma grandeza adimensional que permite distinguir, em função da sua magnitude, se um determinado material apresenta comportamento mais próximo de um fluido ou de um sólido (SANTOS, 2008). 𝐷𝑒 = 𝜆 𝑡 Onde: λ = tempo de relaxação (tempo necessário para ocorrer algum movimento molecular); De = Número de Deborah (relação entre as forças elásticas e viscosas que atuam no material; t = tempo do experimento (tempo de aplicação da tensão ou deformação). A relação entre o tempo de relaxação (λ) e o tempo de observação (t) mostra que pequenos valores de número de Deborah (De<1) caracterizam materiais com comportamento de fluidos, posto que há tempo suficiente do material atingir um estado de relaxação. Por outro lado, os materiais que apresentam um valor elevado de número de Deborah (De>1) estão mais próximos do comportamento de um material sólido, nesse caso o material não tem tempo suficiente para relaxar e dissipar a energia fornecida, a qual pode é recuperada ao retirar o esforço (SANTOS, 2008). Os materiais viscoelásticos, caracterizados por números de Deborah próximos de 1, possuem um comportamento mecânico intermediário entre os puramente viscosos e os puramente elásticos, apresentando propriedades de ambos e sua equação constitutiva será uma intermediária entre as propostas por Hooke e Newton (SILVA; SILVA; PINTO, 2019). 6 1.4 Fênomenos Característicos de Materiais Viscoelásticos Alguns fenômenos associados ao comportamento viscoelástico, como Efeito Weissenberg, Efeito Sifão, Inchamento do Extrudado e Fratura do Fundido serão discutidos a seguir. 1.4.1 Efeito Weinssenberg O efeito Weissenberg é observado em fluidos poliméricos ou em solução quando um bastão gira dentro de um recipiente contendo esses materiais, conforme representado na Figura 1. Figura 1 – Efeito Weissenberg (a) Fluido Newtoniano; (b) Fluido não- Netoniano. PA = pressão no ponto A e PB = pressão no ponto B. Fonte: Bretas e Àvila (2005). Quando o fluido em contato com o bastão é Newtoniano, observa-se que o nível do fluido na região adjacente (ponto A) diminui formando um vórtice “para baixo”. Por outro lado, fluidos poliméricos ou em solução, conforme o bastão gira, há um deslocamento do material para o centro do recipiente, isto é, o fluido sobe pelo bastão formando um vórtice “para cima”. Esse fenômeno ocorre principalmente pelo surgimento de diferenças de tensões normais. O fluxo tangencial imposto pelo bastão causa uma orientação nas moléculas adjacentesa ele. Uma vez que o polímero sempre tende a retornar ao estado de equilíbrio representado por conformações aleatórias das cadeias, as macromoléculas exercem uma tensão na camada de fluido mais próxima, contra o 7 bastão, o que promove o surgimento de tensões normais de maior intensidade (PB<PA) (BRETAS; ÀVILA, 2005). O aparecimento desse efeito é usual em polímeros fundidos e mostra o conceito de que no escoamento desses materiais, existe uma diferença entre tensões normais diferente de zero, ao contrário do que ocorre nos casos dos fluidos Newtonianos. Essa diferença de tensões normais é uma medida da elasticidade do material, já que reflete uma tentativa de retornar as conformações aleatórias de equilíbrio (BRETAS; ÀVILA, 2005). 1.4.2 Efeito Sifão No caso de fluidos newtonianos, o sifão é utilizado para o transporte de líquidos entre reservatórios, onde o líquido é transportado de um reservatório em um nível superior para outro em um nível inferior. Isso é possível devido à força da gravidade e pelo fato de parte do “nariz” do tubo estar imerso no líquido. No entanto, quando o fluido é viscoelástico, é possível após alguns instantes afastar o “nariz” do tubo do reservatório e continuar a observar o efeito, conforme mostrado na Figura 2 (FIGUEIREDO, 2016). Esse efeito faz com que uma determinada solução polimérica mantenha o fluxo mesmo tendo sido o tubo elevado acima do nível do fluido que se encontra em um recipiente. Esse comportamento viscoelástico é nítido nos polímeros devido às estruturas macromoleculares que geram interações intermoleculares e se distinguem das moléculas de pequeno tamanho, como a da glicerina, que tem comportamento newtoniano ideal. (MANRICH, 2005). Figura 2 – Efeito Sifão: (a) fluido Newtoniano, (b) solução polimérica flui no sifão situado acima do nível do líquido no recipiente. Fonte: Manrich (2005). 8 1.4.3 Inchamento do Extrudado Durante o processo de extrusão, os polímeros tem suas cadeias orientadas na direção do fluxo quando deformados por cisalhamento entre as paredes de uma matriz. Há uma tentativa de recuperar essa deformação elástica ainda dentro da matriz, entretanto, devido ao desequilíbrio entre os fenômenos de deformação e recuperação, permanece uma parcela da deformação que somente é recuperada fora dos canais. A quantidade de deformação depende do tempo de relaxação do polímero, que, por sua vez, é influenciado pela temperatura, taxa de cisalhamento, coeficiente de fricção, comprimento do paralelo da matriz e seu diâmetro (D) ou espessura (H). Em vista disso, a recuperação da deformação fora da matriz, onde as moléculas desorientam, o diâmetro ou espessura do extrudado aumenta (MANRICH, 2005). 1.4.4 Fratura do Fundido Quando a massa polimérica, durante o processo de extrusão, passa de regiões mais amplas ou largas para outras mais estreitas, ocorre um aumento localizado de energia nesse ponto de convergência. Essa energia pode ser muito alta e o polímero não tem tempo suficiente para responder e deformar viscosamente. Mesmo assim, ocorre uma deformação na forma de fratura, sem deslizamento das camadas da massa. Essa fratura do fundido, quando muito profunda, permanece até sair da matriz, gerando diversos tipos de defeitos, conforme mostra a Figura 3 (MANRICH, 2005). 9 Figura 3 – Exemplos de Fratura do Fundido. Fonte: Adaptado de Tao e Huang (2003). Nem sempre a fratura do fundido é visível, muitas vezes a fratura ocorre e ao passar pelo paralelo da matriz a massa elimina as marcas ou fraturas, extrudando um perfil visualmente liso. No entanto, pode existir solda mal formada a partir da fratura, que futuramente poderá comprometer o desempenho do material por meio de propagação de microtrincas (MANRICH, 2005). 1.5 Aplicações de Materiais Viscoelásticos Os materiais viscoelásticos são altamente versáteis. Desse modo, é possível encontrá-los na composição de uma variedade de produtos, desenvolvidos por diversas indústrias, sendo uma das principais a de espumas para bancos automotivos e para motos, cadeiras de escritórios, travesseiros, colchões, bancos de bicicleta, entre outros produtos, garantindo conforto (PURCOM). A Figura 4 e a Figura 5 mostram alguns exemplos de materiais confeccionados com espumas viscoelásticas. 10 Figura 4 – Exemplos de materiais confeccionados com espumas viscoelásticas: (a) Travesseiro e (b) Poltronas. Fonte: Purcom. Figura 5 – Bancos de bicicletas confeccionados com espumas viscoelásticas. Fonte: Purcom. Em outras áreas também se observa grande utilização de materiais viscoelásticos, na estética, por exemplo, o colágeno e compósitos de colágeno-ramsana (materiais com viscoelasticidade) são utilizados como géis injetáveis para correções a) b) 11 plásticas (PAULA; MARTINS; GOISSIS, 2000). Na área de cosméticos, cremes para pele e géis para cabelo são exemplos de materiais viscoelásticos (ANTON PAAR). 12 REFERÊNCIAS ANTON PAAR. Investigação reológica de cosméticos e farmacêuticos. Disponível em: <https://wiki.anton-paar.com/br-pt/fundamentos-da-reologia/investigacao-reologica- de-cosmeticos-e-farmaceuticos/>. Acesso em: 13 maio 2021. BRETAS, R. E. S.; ÁVILA, M A. d'. Reologia de polímeros fundidos. 2. ed. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2005. 257 p. ISBN 8576000482. FIGUEIREDO, A. R. Simulação numérica de escoamentos viscoelásticos multifásicos complexos. 2016. 35 p. Tese (Doutorado - Programa de Pós-Graduação em Ciências de Computação e Matemática Computacional) – Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2016. MANRICH, S. Processamento de Termoplásticos: rosca única, extrusão e matrizes, injeção e moldes. São Paulo: Artliber, 2005. PAULA, M. de; MARTINS, V. C. A; GOISSIS, G. Estudo do Comportamento Vsicoelástico de Colágeno na Presença de Ramsana. Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 2000. PURCOM. Viscoelástico. Disponível em: <https://www.purcom.com.br/viscoelastico#:~:text=O%20viscoel%C3%A1stico%20%C3 %A9%20um%20material,el%C3%A1stica)%2C%20apresentando%20bastante%20visc osidade>. Acesso em 13 maio 2021. SANTOS, J. P. L. Análise de Modelos Reológicos Viscoelásticos Através de Formulações Mistas em Elementos Finitos. 2008. 123 p. Dissertação (Mestrado) – Ciências em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 13 SILVA, C. M. da; SILVA Jr. T. L; PINTO Jr, I. M. CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA DE FLUIDOS NÃO NEWTONIANOS E SUA APLICABILIDADE NA INDÚSTRIA. Ciências Exatas e Tecnológicas, v. 5, n. 2, p. 285-300, maio 2019. TAO, Zhenghong; HUANG, Jan-Chan. Observation of melt fracture of polypropylene resins in capillary flow. Polymer, [S.L.], v. 44, n. 3, p. 719-727, jan. 2003. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/s0032-3861(02)00830-3.
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