Buscar

PRIMEIRA E SEGUNDA GERAÇÃO DOS ANNALES

Prévia do material em texto

PRIMEIRA E SEGUNDA GERAÇÃO DOS ANNALES: AS INFLUÊNCIAS PARA A NOVA HISTORIOGRAFIA
Adson Cleiton Ferro da Silva[footnoteRef:1] [1: Graduandos do segundo período do curso de licenciatura em História pela Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL] 
Gabriel Henrique Carvalho Magalhães
José Gabriel Cordeiro de Barros
Wesley Santana Santos 
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise de como foi iniciado e desenvolvido o movimento da escola dos Annales, passando pela perspectiva dos autores mais importantes deste período, além de demonstrar sua influência para o estudo acadêmico. A metodologia está ancorada em livro e artigos relacionados à primeira e a segunda geração da escola dos Annales, tendo como base os autores Marc Bloch, Lucien Febvre, Fernand Braudel. A finalidade deste estudo acadêmico é compreender a importância desse movimento para o influencia dessa nova maneira de estudar a historiografia.
PALAVRAS CHAVE: Escola dos Annales. Primeira e segunda geração. Nova historiografia.
INTRODUÇÃO
Outrora, nos tempos de Heródoto e Tucídides a história era escrita de várias formas como a história de memória política e tratados de antiguidades. No entanto, a forma principal de fazer história era baseada no modo narrativo, tratando dos acontecimentos da guerra e figuraras importantes desse cenário. Deste modo, esta forma de fazer historia ficou conhecida como história tradicional, seu papel na historiografia foi de suma importância para época e foi contestado apenas no século XVIII, quando se começa a pensar novos métodos historiográficos. 
A partir do século XIX, período anterior à escola dos Annales, era predominante na produção historiográfica uma história baseada nos fatos, ela tinha um de bastante importância para estudo historiográfico da época e que hoje conhecemos como “história positivista”. Dessa forma, podemos afirmar que esse modelo seguia uma lógica de análise cronológica, onde a função do historiador era apenas descrever os fatos ocorridos, se baseando nos documentos considerados “históricos”, sendo assim uma falsa sacralização dos documentos, o que dificultava uma aprofundação do estudo, pois os documentos eram vistos como uma verdade absoluta. 
Diante destes fatos, a historiografia positivista sofria criticas em relação a esse aspecto factual, um dos principais críticos era François Simiand, o qual desenvolveu um estudo intitulado como a crítica dos ídolos da tribo dos historiadores, para fazer um parecer relacionado à produção histórica voltada para a narrativa, cronológica e dos grandes homens. Sendo assim a crítica que ele denomina como “crítica dos ídolos da tribo dos historiadores” está relacionado ao ídolo a individual, cronológico e político. Na visão de Simiand os historiadores deveriam abandonar os ídolos, pois eles centravam o foco nos grandes homens e seus feitos, com isso, acabavam esquecendo a história dos fatos sociais.
Com o surgimento destes estudos os novos historiadores enxergaram a necessidade de modificar a dita historiografia tradicional e positivista, onde surge uma revista chamada Annales d’Histoire Économique et Sociale, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre. Esta revista foi de suma importância para o desenvolvimento da nova historiografia, a partir das criticas e trabalhos apresentados por esses que viriam a formar o que chamamos hoje de Escola dos Annales. 
PRIMEIRA GERAÇÃO DOS ANNALES
O movimento dos Annales na sua primeira geração teve como lideres dois historiadores: Marc Bloch (Medievalista) e Lucien Febvre (Especialista no século XVI). Marc Bloch[footnoteRef:2] foi um renomado historiador francês nascido em 06 de julho de 1886 em Lyon, estudou em Paris, Berlim e Leipzig, trabalhou durante um período como pesquisador na fundação de Thiers, onde teve que se ausentar durante o período da primeira guerra mundial, após servir ao exercito francês, Bloch ingressou na universidade Estrasburgo, nesse período ele conhece Lucien Febvre. [2: BLOCH, Marc. Disponível em: https://www.infoescola.com/biografias/marc-bloch.
] 
Lucien Febvre[footnoteRef:3] também francês, nascido no dia 22 de julho do ano de 1878, se tornou historiador e também professor, passando pela Escola Normal Superior de Paris, além da Universidade da Borgonha. Febvre no período entre guerras fundou no ano de 1929 juntamente com Marc Bloch a Revue des Annales. [3: FEBRVE, Lucien. Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Lucien_Febvre.] 
A parceria entre Marc Bloch e Lucien Febvre se deu no período em que eles são chamados para ingressar na universidade de Estrasburgo, uma universidade relativamente pequena, onde se tinha uma interação entre os professores de toda universidade e não só do seu curso especifico, o que permitia a interdisciplinaridade, com isso, abrindo um leque para novas concepções. Sendo assim, a interdisciplinaridade foi usada depois por Marc Bloch e Lucien Febvre na criação da revista dos Annales, onde suas influências viam da sociologia de Durkheim, da geografia de Vidal de la Blache, das críticas de F. Simiand, dessa maneira, passaram a desenvolver novos métodos de se estudar a história, a partir da geo-história e dos estudos das mentalidades.
Em 15 de Janeiro de 1929 é lançada a primeira edição da revista dos Annales. Seu principal intuito era romper com a concepção histórica positivista e tradicional, tendo como prioridade a interdisciplinaridade, pois na edição da revista não havia apenas historiadores (antigos e modernos), mas também sociólogos, economistas, cientistas políticos e geógrafos. O conceito promovido pela revista conhecido como interdisciplinaridade diz respeito a questão da comunicação entre as matérias de tal maneira auxiliando no desenvolvimento de novas teorias e nas suas contribuições históricas, revolucionando não apenas a forma de pensar, mas também a maneira de escrever a história. 
A revista foi planejada, desde o seu início, para ser algo mais do que uma outra revista histórica. Pretendia exercer uma liderança intelectual nos campos da história social e econômica. Seria o porta-voz, melhor dizendo, o alto-falante de difusão dos apelos dos editores em favor de uma abordagem nova e interdisciplinar da história. (BURKE, Peter. 1992. p.23.).
A escola dos Annales veio propor um novo modelo historiográfico que tem como base na ideia de uma historia problema, esta concepção é desenvolvida por meio de questionamentos, deixando de concentrar seus estudos apenas nos fatos políticos e diplomáticos e nas figuras heroicas e de importância histórica, seu principal foco de estudo a partir deste momento vai ser a historia das sociedades e seus indivíduos das classes menos favorecidas. 
Um dos grandes influenciadores de Marc Bloch foi Émile Durkheim, seus estudos eram voltados para o fato social e a consciência coletiva da sociedade, usando o homem como um objeto de estudo, vinculando a ele uma linha de raciocínio, de tal maneira influenciando o desenvolvimento historiográfico da primeira geração dos Annales, dessa forma a compressão sobre características e costumes sobre o objeto estudado se demonstra mais fácil de ser entendida, analisava-se dessa forma questões relacionadas à realidade, diferente de Bloch que analisava as ideias. 
Ainda sobre as influencias de Bloch, François Simiand foi de grande importância no seu pensamento, principalmente com a sua crítica do ídolo da tribo dos historiadores. O primeiro ídolo que ele crítica é o individual, que no qual o historiador deve abandonar esse ídolo, que é o foco excessivo nos ditos grandes homens, para passar o foco para o estudo dos fatos sociais, outro ídolo que os historiadores devem é o político, que é a preocupação centrada na história dos eventos, dos fatos políticos e das guerras, por fim, o ídolo cronológico que é a busca incessante dos historiadores na busca das origens. No entanto, Simiand negava a importância história e esse é o ponto de divergência entre os dois, mas Bloch reconhecia a critica dos ídolos e aprofundou-se nesses estudos. 
A influência para Lucien Febvre veiodo geografo chamado Vidal de La Blache, onde ele faz um estudo da geografia humana, a geografia vidalina tratava sobre grupos sociais em uma ampla duração, que incluía o presente ligado aos fatos estabelecidos a uma estrutura e os comparando. Dessa maneira, Lucien Febvre a partir das influências de Vidal de La Blache desenvolve os estudos da Geo-história, pegando as estruturas da geografia e trazendo para a historiografia.
Marc Bloch e Lucien Febvre foram os criadores da revista e os principais teóricos da primeira geração dos Annales, um dos principais livros de Bloch onde está centrado a sua teoria é o livro chamado Les Rois Thaumaturges. Em seu texto Bloch traz as concepções da historia das mentalidades, onde ele vai fazer o estudo da França e da Inglaterra no século XII ao XVIII partindo da análise do toque real, para entender a crença dos indivíduos daquele período, onde ele faz uma análise comparativa das duas nações nesse dado período, utilizando de seu método regressivo (este método busca fazer uma análise sobre a linha temporal dos fatos e pensamentos, regressando para estuda-los) para fazer este estudo.
Marc Bloch também desenvolve outro livro intitulado Apologia da História ou O Ofício do Historiador, onde o livro busca desconstruir a escola historiográfica anterior, que chamam de história tradicional e positivista, criando um novo método para os historiadores. Buscando a interdisciplinaridade e com um diálogo com as ciências sociais, buscando a problematização a dita história problema, onde o livro torna-se um manual do historiador e de suma importância para a nova historiografia.
Lucien Febvre também desenvolveu livros importantes na primeira geração, um deles intitulado O Problema da Incredulidade no Século XVI: A Religião de Rabelais, onde ele utiliza da teoria do anacronismo para falar sobre a ideia de ateísmo dada a Rabelais, assim sendo, ele quebra essa ideia pela ausência de tal termo na época abordada no texto, sendo mais correto o uso do termo cristão desiludido. 
A historiografia dos Annales seria “a ciência dos homens no tempo”, o conhecimento de uma humanidade plural, marcada de suas durações. Bloch já compreendia a história como “dialética da duração”: para ele, o tempo dos homens é feito de continuidade, a mudança e, na mudança, a continuidade. A influência das ciências sociais sobre Bloch e os Annales aparecerá na consideração na consideração da não mudança, o que a história tradicional sempre se recusou a analisar. (PARADA, Maurício. 2013, p.268.).
O fim da primeira geração é iniciado com a morte de Marc Bloch nos campos de concentração nazista, ele fazia parte da resistência francesa na segunda guerra mundial, em 1944 acabou sendo capturado e fuzilado, com a sua morte a história perdeu um dos maiores pensadores do mundo historiográfico. Após a morte de Bloch, Febvre ficou responsável pela revista dos Annales até o ano de 1946, assim passando a direção da revista para Fernand Braudel que era seu discípulo, Febvre morre em 1956 em Saint-Amour na França, após esse acontecimento Braudel se torna seu herdeiro e principal teórico da segunda geração.
SEGUNDA GERAÇÃO DOS ANNALES
	
	A segunda geração da escola dos Annales teve como principal teórico Fernand Braudel, ele ficou conhecido principalmente pela sua principal obra O Mediterrâneo, e pelas suas inovações na historiografia, como a história de longa duração, história serial e quantitativa. Braudel[footnoteRef:4] nasceu em 24 de Agosto de 1902 em Luméville-em-Ornois na França, estudou Grego e Latim, se tornou professor de história aos 20 anos quando recebe o cargo de agrégé, com a criação da Universidade de São Paulo (USP), ele junto com Lévi-Strauss teve como destino o Brasil, pois foram chamados para serem professores de tal Universidade. [4: BRAUDEL, Fernand. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernand_Braudel] 
	Em 1923 Braudel cruza o mediterrâneo pela primeira vez, aonde chega à Argélia, o contato com essa região encantou Braudel, no qual o faz refletir: “é o mesmo mediterrâneo dos fenícios, dos gregos, das galeras de D. João de Áustria”. (PARADA, Maurício. 2013, p.280). A partir disso, Braudel vai desenvolver o seu livro na ideia da longa duração e de uma história total para falar sobre a importância do mediterrâneo na conquista das sociedades, ao concluir a sua obra, os grandes ensinamentos do medievalista Braudel, que colocou no centro da discussão, uma grande mutação, na passagem de um mediterrâneo unificado por Roma e compartilhada por três civilizações: Bizâncio, Islã e o Ocidente. 
	As principais ideias do seu livro o mediterrâneo estavam centradas na questão das mudanças econômicas, que para ele estavam ligadas ao espaço geográfico, nesse sentido podemos afirmar que Braudel estava amplamente relacionado com a geo-história, em sua obra ele faz uma divisão em três partes, cada um com uma abordagem e exemplos divergentes relacionados ao passado. Primeiramente a ideia de “quase sem tempo”, representando uma situação “imóvel”, é abordada diante a relação do homem com o ambiente, surge então ao longo do texto a historia mutante sobre estruturas tais como social, politica e econômica, a partir desse momento o texto foca na historia dos acontecimentos, correlacionando todos estes aspectos para o melhor entendimento do seu estudo.
A ideia de tempo para Braudel, diz respeito à longa, média e curta duração. A longa duração refere-se às mudanças quase imperceptíveis e prolongadas que são tratadas desde o começo de dado fato histórico até o seu fim, já a média duração está inclusa no tempo da longa duração, e trata-se de mudanças de um período menor em relação a longa duração e são perceptíveis pelos contemporâneos, por fim a curta trata as mudanças momentâneas que são perceptíveis diante de um curto intervalo de tempo (anos e meses), no entanto, para Braudel a curta duração é enganosa pois são apenas recortes de um determinado tempo tornando algo muito especifico e superficial, por isso ele utilizava as ideias de longa, média e curta duração relacionando-as para poder ter um melhor entendimento da história, de forma ele aponta que o estudo da longa duração com é uma complexa interação entre a politica, economia, sociedade e a cultura.
Outro conceito importante de Braudel foi a historia quantitativa, sua teoria tinha em vista a questão econômica, inicialmente tratava da historia dos preços, mais a diante passou a abordar também as questões da historia social, um fator importante para o nascimento desse tipo de pensamento foram às crises econômicas da Europa e a quebra da bolsa de Wall Street em 1929. Ainda nas teorias de Braudel, existe o conceito de macro história, essa teoria é um método de analise histórica que tem como objetivo a identificação das tendências gerais ou de longo prazo, esse tipo de método está normalmente associado a tradição científica estruturalista, sendo assim utilizando essas teorias como a história quantitativa e a macro história para fazer o estudo do “todo”.
Após a morte de Lucien Febvre, Braudel se torna o historiador mais influente da sua geração, ele foi responsável por dirigir a revista dos Annales durante toda a sua segunda geração, até que em 1962 ele decide convidar outros historiadores para participar da revista agregando seus pontos de vista nas questões historiográficas, com o intuito de renovar a historiografia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse ensaio, podemos analisar e entender a estrutura da escola dos Annales e suas influências para o sistema de estudo historiográfico, a síntese de matérias para se complementarem e dessa forma expandirem as visões sobre a sociedade e os próprios fatos históricos demonstrou um avanço no modo de análise acadêmica, teorias e visões que se entrelaçavam que criariam as raízes de nossa base histórica hoje em dia. O movimento foi de suma importância, renovou o modo de estudo retirando influências antigas e limitadas a uma sacralização dos documentos e organizou de melhor forma o meio com qual poderíamos estudar, Marc Bloch e Lucien Febvre renovaramuma matéria em si, o auxilio da revista expandiu essa questão e a evolução da escola fez com que Fernand Braudel continuasse seus trabalhos.
A escola dos Annales teve uma grande importância na renovação historiográfica, nas sua primeira e segunda geração, podemos perceber a aparição de novas teorias e modelos de se fazer história, interesse de Marc Bloch, Lucien Febvre e Braudel em renovar a historiografia teve um impacto enorme no modo como hoje fazemos historia, a partir de suas teorias. Diante dessas abordagens hoje conseguimos observar essas mudanças com clareza, diferentemente da historia tradicional e da positivista, essa nova historia busca se livrar da historia cronológica, dos fatos, da narrativa e dos heróis políticos, fazendo uma análise do homem no tempo, estudando as mentalidades, os espaços geográficos e a economia das sociedades passadas.
REFERÊNCIAS 
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro. Ed.  Zahar, 2001.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales: a revolução francesa da historiografia. São Paulo, Editora Universidade Estadual Paulista, 1991.
CORDEIRO JR., R. B. Lucien Febvre (1878 – 1956) e o novo saber histórico. In: PARADA, Maurício (org.). Os Historiadores: Clássicos da História - Vol. 2. Petrópolis – RJ: Vozes: PUC – Rio, 2013. p. 227 a 253.
LIMA, Luís Corrêa. Fernand Braudel (1902 – 1985). In: PARADA, Maurício (org.). Os Historiadores: Clássicos da História - Vol. 2. Petrópolis – RJ: Vozes: PUC – Rio, 2013. p. 278 a 299.
REIS, José Carlos. Escola dos Annales, a Inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
REIS, José Carlos. Marc Bloch (1886 – 1944), O paradigma da história estrutural. In: PARADA, Maurício (org.). Os Historiadores: Clássicos da História - Vol. 2. Petrópolis – RJ: Vozes: PUC – Rio, 2013. p. 255 a 277.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes