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[resumo] A Educação da Vontade - Jules Payot

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A Educação da Vontade - Jules Payot
Tese geral: o trabalho intelectual é o pináculo da virtude humana e necessita de método. Constitui
problema para a sua consecução a fraqueza da vontade humana, bem marcada como preguiça.
Em seguida procede-se um estudo das limitações da vontade, seguido de um compêndio prático
destinado a fornecer meios de fortalecer a vontade. Estas são: ideia pura é fraca sobre a vontade,
por isso precisa unir-se a um sentimento; como minimizar as influências externas, como
direcioná-la, e trabalhos físicos (higiene, alimentação e exercícios)
INTRODUÇÃO
Antes a igreja formava o caráter das pessoas, mas hoje elas têm de fazer isso por si
mesmas. Para isso é necessário educar a vontade, e um erro que se comete a esse respeito é
supor que a inteligência determina a vontade. A ideia é fraca sobre o caráter pois a vontade é uma
potência sentimental. Logo para terem efeito as ideias devem colorir-se de paixão.
“Não há sentimento que, deliberadamente escolhido, não possa, pelo uso inteligente de
nossos recursos psicológicos, determinar a direção da vida inteira.”
Existem 2 teorias errôneas sobre o caráter: uma que diz ser ele imutável, e a do livre arbítrio, que
diz ser ele fácil de mudar. O caráter é mutável, mas é difícil. Mudar o caráter exige conhecer os
recursos psicológicos. É necessário aprender a cultivar os estados afetivos, criando, fortalecendo
os positivos, e aniquilando os negativos.
Diletantismo e enervação são enfermidades da vontade. As ideias exercem sobre a vontade um
papel menor que os impulsos e sentimentos.
“A vontade superior consiste em submeter nossas inclinações a ideias”
A ideia não tem diretamente nem imediatamente força contra as inclinações inferiores. Sua força é
indireta e se baseia na capacidade de influenciar estados afetivos.
“Somos livres somente se soubermos conquistar nossa liberdade com muita luta”
O caráter não é inato pois muda com a idade, com as influências externas e com a volatilidade
natural dos desejos. Busca-se um caráter com unidade, estabilidade, orientação para fins
superiores.
LIVRO I
Capítulo I
Quase todos os nossos fracassos vem da fraqueza da vontade, e esta se manifesta como horror
ao esforço prolongado, uma leviandade, como dissipação, enfim como preguiça. Para negar uma
vontade perseverante é necessária uma força contínua - preguiça, apatia, indolência e ociosidade.
As nossas paixões são transitórias: quanto mais violentas menos duram. O trabalho deve ser feito
no espaço entre as paixões. O trabalho excita o espírito no início, mas conforme se adquire a
experiência vai-se deixando de exercitar o raciocínio. Por isso é importante criar preocupações
intelectuais paralelas à carreira.
“O homem busca passar a vida despendendo o mínimo de pensamento possível”
O inimigo toma a forma de atonia que é um desânimo que perpassa todas as ações, nos leva a
perder tempo, sermos lentos, é uma moleza; não estarmos a fim das coisas. Essa atonia atinge o
prazer, pois não se alcança alegria sem dificuldades. Além disso, todo preguiçoso é invejoso e
gasta sua energia em maledicências. Daí ser necessário que nos engajemos em prazeres ativos
como passeios, leituras, composições, etc.
A preguiça não impede grandes esforços, impede esforços prolongados, ou seja, constância. Todo
esforço que não seja moderado e contínuo é trabalho preguiçoso. Trabalho contínuo implica na
continuidade da direção, ou seja, orientar todas as potências do espírito ao mesmo fim.
Ter uma variedade de interesses, saltar de coisa em coisa, é preguiça, pois estamos exercendo
apenas uma atenção espontânea e não a voluntária. O problema do preguiçoso disperso é que
mesmo trabalhando com múltiplas ideias, elas não têm tempo de se sedimentar no espírito.
A preguiça tem horror ao verdadeiro esforço, que consiste em coordenar esforços particulares para
um fim preciso. Também tem horror ao esforço pessoal, que consiste em armazenar na memória o
conhecimento necessário, e demanda coordenação. É preciso ser laborioso em investigar, não em
aprender.
Pensar em palavras é um erro. Refletir é necessário. O trabalho consiste em compor, eliminar
detalhes inúteis e concentrar-se. Em compensação a vida moderna é plena de múltiplos estímulos,
favorecendo a dispersão, o que leva à redução da nossa vida interior.
Capítulo II
Valemos pela energia que temos. Não se edifica sobre um homem fraco. Nosso trabalho dá a
medida aproximada do poder da nossa vontade. O trabalho intelectual é o estudo da natureza ou
das obras de alguém, ou produção pessoal A produção exige estudo. O instrumento de trabalho é
a atenção. Trabalhar é estar atento. A atenção não é fixa nem duradoura. A atenção é como um
arco tensionado, e a atenção perseverante é uma sequência de tensões e distensões que dão a
ideia de continuidade. A dificuldade dos jovens em repetir esforços de atenção se deve a eles
terem mais vida animal que vida intelectual. Os esforços intensos e perseverantes devem ser
orientados para um mesmo objetivo.
“Para que uma ideia, para que um sentimento se enraízem em nós e adquiram direito de
cidadania, há condições de habitação, de convívio, de intimidade.”
As grandes ideias devem ser repetidas, de maneira amorosa até se tornarem um centro de
organização da mente, a partir do que elas se alimentam sozinhas de nossas vivências, isso se
consegue através da meditação calma e paciente.
Toda descoberta é uma obra da vontade. Nosso objetivo então deve ser desenvolver a energia da
atenção voluntária, que se manifesta a partir do vigor, da frequência dos esforços, da orientação
clara de todos os pensamentos para um mesmo fim, e da subordinação dos sentimentos e ideias à
grande ideia.
Capítulo III
“A polêmica não deve passar de um trabalho preparatório, guardado para si (...) Para
convencer de nada serve criticar, é preciso construir.”
A preguiça espiritual vem de aceitar com passividade as sugestões da linguagem, e de pensar com
as palavras, o que oculta o que a palavra indica. O caráter é uma resultante de pensamentos,
paixões e sentimentos.
“Só comandamos a natureza humana se também lhe obedecermos.”
É necessário apenas o desejo de melhorar, não importa que ele seja fraco, pois existem meios de
fortificá-lo.
“A moral só tem necessidade de liberdade. E essa liberdade só é possível dentro e através
do determinismo. Para assegurar nossa liberdade, basta que nossa imaginação seja capaz
de conceber um plano de vida a realizar.”
LIVRO II
Capítulo I
A dificuldade reside na complexidade das relações entre os elementos da psique. Os elementos da
psique se reduzem a três: as ideias, os estados afetivos e as ações. Temos dois tipos de ideias: as
centrípetas, vindas de fora, da autoridade de alguém, e as centrífugas, gestadas por nós mesmos.
A preguiça e a sensualidade encontram suas justificativas nas ideias externas. Porém temos poder
sobre estas ideias: podemos ordená-las e desenvolvê-las . Essas ideias externas não tem poder
sobre nós, elas são palavras, falta-lhes sentimento.
“O que é a imprudência senão a visão de ameaças sem o sentimento dessas ameaças.”
Existem ideias sem penetração, mas que se beneficiam de sentimentos passageiros. Ideias
externas sem trabalho de assimilação, baseadas somente na memória são fracas (“O homem não
vive do que come, mas do que assimila”).
Abaixo destas, existem ideias externas em harmonia com nossos sentimentos fundamentais, e
confundem-se com as ideias proprias, e até mesmo com os nossos sentimentos. Os sentimentos
possuem muita força e são o sustentáculo de toda atividade prolongada. As ideias próprias vem
das profundezas do nosso ser e correspondem à tradução do nosso caráter.
Ideias profundas, que passaram pelo processo de assimilação, agem como substitutos manejáveis
dos sentimentos correspondentes a elas, contrariamente às ideias superficiais verbais. Essas
ideias fonte conseguem atrair os sentimentos apropriados a elas e se nutrir. Não apenas os
sentimentos inatos tem poder, os adquiridos também. Para contrapor a fraqueza da ideia vem alei
do mais forte: “um estado presente é em geral muito mais forte que um estado pensado.” (as
sensações físicas quebram as cadeias associativas). A dica é produzir estados presentes para nos
libertar de fortes associações. O movimento é adequado para isso, se aliado à linguagem tanto
melhor (falar palavras em voz alta, ler, etc). Usando essa tática podemos repetir a introdução de
estados presentes para impor a vitória da ideia que queremos assegurar.
Lei da memória: “Toda lembrança, para ser gravada profundamente, precisa de uma
repetição frequente e prolongada”
Com relação a conservar as associações presentes:
1º impedir estados estranhos ao seu objetivo;
2º buscar silêncio, e calma;
3º buscar estados presentes úteis. Escrever ajuda a fixar as meditações.
Capítulo II
Analisar os elementos envoltos em cada sentimento ⇒ a coisa central em torno da qual as outras
giram é uma inclinação. Uma inclinação implica sempre uma atividade e reflete nosso desejo de
viver. As inclinações são disciplinadas pela dor e traduzem-se por uma série de movimentos
musculares interligados, constituindo uma ação ou conjunto de ações claramente diferentes dos
outros.
A força do sentimento vem de sua grande riqueza de afetos, e poder de perturbar estados
psicológicos muito independentes dele. Toda percepção é uma interpretação de signos. Os
sentimentos falseiam a interpretação, seja gerando os medos irracionais ou os afetos. Os
sentimentos mais fortes falseiam, interferem nos sentimentos mais fracos. Nesse ponto destaca-se
que os sentimentos bons subordinam-se ao amor próprio. Os sentimentos falsificam as
lembranças, alteram-nas, deformam-nas.
“O principal uso que fazemos de nosso amor a verdade é persuadir-nos de que tudo o que
amamos é verdadeiro.”
A vontade não gosta das ordens secas da inteligência. Precisa das ordens coloridas dos
sentimentos.
“Uma vontade durável e potente deve ser sustentada por sentimentos que também devem
ser potentes e, se não constantes, ao menos frequentemente provocados.”
“Uma sensibilidade intensa é o instrumento e a condição que permite exercer sobre si
mesmo um poderoso domínio, mas ela precisa ser cultivada para isso (...) A história e a
experiência provam que são os caracteres mais apaixonados que mostram a maior
constância e o maior rigor em seu sentimento do dever, quando sua paixão foi dirigida
nesse sentido.”
Excetuando-se hábitos, toda volição é precedida de uma percepção afetiva do ato a realizar, ou
seja, a emoção precede a ação. Só fazemos o que a emoção nos diz para fazer, daí que se tenha
dificuldade em educar pessoas insensíveis. Além disso o social espelha e amplia o individual: “as
ideias só movem o mundo indiretamente e apoiando-se sobre os sentimentos.”
Toda a ação do ser no mundo é uma ação muscular, e as ações do mundo sobre o ser são as
variadas impressões. Essas impressões geram respostas musculares. O ato muscular demanda
força, que é a impressão. A impressão gera abalo psicológico, que é a emoção. Logo controlar os
sentimentos demanda controlar as reações fisiológicas a ele. Não controlamos as reações
fisiológicas das impressões, mas controlamos nossas respostas musculares a elas. O sentimento e
a sua tradução muscular estão ligados pela lei da associação:
“Quando 2 elementos quaisquer estiverem frequentemente associados , um tem a
tendência a despertar o outro.”
Uma forma de usar essa lei é que o gesto, o rito induz o sentimento a ele associado. O ponto
negativo é que se desperta sentimentos que já existem, ele não cria, serve apenas para manter o
sentimento à plena luz da consciência. Da mesma forma quando surge uma emoção podemos
impedir sua manifestação.
Capítulo III
O passo mais importante na conquista de si é a ligação das ideias com as condutas, formando um
hábito, de tal forma que o ato siga idéia com a precisão e o vigor de um reflexo. Associar ideias e
sentimentos é possível, demanda esforço, perseverança e tempo. Normalmente precisamos
associar vários sentimentos menores à uma ação para ela ganhar corpo.
É importante projetar todos os sentimentos bons decorrentes da realização da tarefa a ser
executada. Isso é bom para enriquecer os sentimentos favoráveis à vontade. Meditar sobre a
brevidade da vida e evitar distrações também é muito importante.
Os sentimentos mais complexos são associações de sentimentos elementares. A atenção vigorosa
sobre um estado de espírito, mantê-lo à plena luz da consciência desperta as associações dele.
Aquele estado se torna o centro de organização do espírito.
“Nossa atenção, da qual dispomos, desempenha a função do poder criador que nos falta.”
O sentimento é volumoso, difícil de despertar. Além disso, ele tem fluxos e refluxos, períodos de
calmaria, de apatia. Por isso, quando surge um sentimento favorável deve-se usá-lo para
impulsionar a realização da vontade. Durante esse período é necessário o pensamento constante,
para gerar a associação com a ideia. Assim, quando o sentimento passa, ele já foi associado à
ideia, e a ideia consegue despertar o sentimento suficiente para o ato.
“Temos poder unicamente sobre nossos músculos e sobre o curso de nossas ideias.”
Emoções negativas, contrárias à vontade: podemos negar-lhes a expressão muscular, sufocá-las
dentro de nós, mas a energia delas não pode ser destruída. Irão irritar o cérebro, desordenando as
ideias e os sentimentos associados. Emoções negativas são como o fogo - devemos favorecê-lo às
vezes para apaziguá-la e assim extingui-lo. Ceder um pouco para diminuir a intensidade dele.
“Também o primeiro efeito de toda paixão, de todo desejo, é perverter a inteligência, a fim
de se legitimar”⇒ identificar esses sofismas e os refutar.
“A forte paixão impede o despertar do espírito crítico, mas se a detratação voluntária do
objeto de paixão é possível, a paixão corre o risco de perecer”⇒ essa técnica funciona se ao
invés de sofismas houver mentiras voluntárias, ou verdades inconvenientes ao domínio de si. A
mentira é favorecida pela memória, retirando-lhe ela cai. A lei mais geral da memória é que toda
lembrança que não é ativada de tempos em tempos vai perdendo sua clareza, tornando-se cada
vez mais pálida e confusa. Devido a essa lei podemos, por meio da atenção, selecionar o que
pensar e acreditar.
Leibniz: “Podemos obrigar-nos a crer (...) naquilo que quisermos crer, desviando a atenção
de um objeto desagradável para aplicar-nos a um outro que nos agrada: o que faz com
que, considerando mais as razões de uma decisão favorita, acabemos acreditando que ela
é mais verossímil.”
A convicção resulta dos motivos presentes ao espírito. É necessário realizar um inquérito para os
motivos. Podemos deixar o inquérito incompleto não considerando os motivos desfavoráveis, e
depois, ao apreciar os motivos, determo-nos nos que nos agradaram e superestimar seu peso.
Aumentar o poder interior do motivo com influências exteriores: usar a memória do passado para
reforçar, imaginar o futuro e sentí-lo; escolher livros e estímulos que favoreçam o propósito e
eliminar os que não favorecem; desvencilhar-se de pessoas que estimulem ou endossem nossa
indolência.
“Não podemos esquecer que todos os alimentos de que a paixão pode se nutrir são as
ideias, e que essas ideias que a paixão tende a associar a seu favor, podemos tentar
associá-las a nosso favor.”
Quando assaltados por uma inclinação forte, se não for possível resistir-lhe, questioná-la e lembrar
dos motivos contrários a ela. Isso reduz sua força.
“Devemos até renunciar com frequência à luta direta, por exemplo acalmar os movimentos
sensuais levantando-nos, saindo para passear, fazendo uma visita, etc. Em suma, tratando
de eliminar a ideia fixa, de esgotá-la, desmontá-la, obrigá-la ao menos a dividir a
consciência com outros estados induzidos artificialmente.”
“O poder de quem jamais desespera é maravilhoso.”
Guardar o amargor das derrotas da vontade para usar como combustível no futuro.
LIVRO III
Capítulo I
Os meios interiores devem ser utilizados antes dos meios exteriores. Os meios interiores paracriar,
fortalecer ou destruir certos estados afetivos são a reflexão meditativa e a ação.
A reflexão meditativa é diferente do devaneio, pois exige atenção; e difere do estudo pois tende a
forjar a alma, não movê-la. Na reflexão meditativa o objetivo é criar movimentos de amor e ódio na
alma, a verdade não importa.
“Toda nossa investigação é dominada exclusivamente por um propósito de utilidade.”
É requisito da reflexão meditativa o autoconhecimento das causas dos atos intelectuais, das
volições, das relações entre as duas; suas influências recíprocas, e conhecer as influências dos
ambientes físico, intelectual e moral.
A ação é o todo do homem, ele vale em proporção ao bem que realiza. As ações são provocadas
por estados afetivos.
Cristalização: mantendo-se determinada ideia ou pensamento tempo suficiente na mente eles vão
atraindo outros que lhes são correspondentes.
“A forma mais eficaz de chegar a posse de si mesmo é suscitar na própria alma vigorosos
afetos e veementes repulsas”⇒ evitar a dispersão.
“Em vez de pensar com palavras, como o homem vulgar, desejará ver de forma concreta e
circunstanciada aquilo sobre o que refletirá.”
“Ver em geral, e como que de passagem, é o métodos dos espíritos preguiçosos. Os
espíritos que refletem, ao contrário, deixam destilar gota a gota e ‘fazer seu mel’ no
pensamento os diversos pontos de meditação.”
Não basta enumerar os motivos, há que se imaginá-los visualmente (imaginação ativa).
Procede-se da mesma forma para as razões contrárias ao que não queremos.
“Devemos não apenas detestar a vida preguiçosa, esse miserável estado em que o espírito
desocupado, vazio, devora-se a si mesmo, torna-se vítima de preocupações mesquinhas,
ridículas, mas precisamos também abster-nos de invejar a existência dos ociosos, de falar
deles. Devemos odiar os colegas que nos dispõe à vadiagem, os prazeres que nos
conduzem a ela.”
“O grande segredo para fortificar em nós um sentimento, seja ele qual for, é manter na
consciência por muito tempo e frequência as ideias a que ele está ligado. É dar a essas
ideias um relevo, um vigor, uma precisão muito grande. E para fazer isso, é indispensável
ver concretamente, no detalhe vivo e característico. Além disso, esse método permite que o
sentimento se desenvolva pela própria atração que exerce sobre os sentimentos similares e
pela riqueza das considerações que despertam sobre os outros."
Ler obras que falam dos benefícios dos estudos, por exemplo, biografias de homens intelectuais.
“Os bons movimentos, se não os reiteramos, não produzirão a colheita dos atos.”
O pensamento, como a vida, implica a ordem e a constância. O caos é impensável. Pensar é
organizar, é classificar.
“Não escolher é ainda escolher. Aceitar uma vida de preguiça e de prazeres é aceitar na
prática a hipótese de que a vida humana só tem valor como instrumento de prazer. Ora,
não é porque essa hipótese seja simples e ingênua que ela deixa de ser eminentemente
metafísica.”
“...fixado o objetivo, não o atingiremos de uma só feita e não o atingiremos se não
quisermos os meios que levam a ele. (...) É preciso querer esses meios, e toda volição
implica uma resolução. Mas essas resoluções parciais tornam-se singularmente fáceis
quando a grande resolução foi bem e corretamente feita. Podemos entretanto, se nos custa
tomar uma resolução particular, pensar nas considerações que nos podem dar gosto por
essa tarefa.”
O agitado é o contrário do homem de ação. Todos os sucessos na vida se obtêm pela continuidade
de esforços numa mesma direção. A atividade orientada, segura de si mesma, exige a meditação
profunda.
“Quem não medita, quem não tem sempre na memória o objetivo geral a que se deve
chegar, quem não busca assiduamente os melhores meios para atingir os fins particulares,
torna-se necessariamente um joguete das circunstâncias: o imprevisto perturba-o e
obriga-o a cada instante a dar respostas improvisadas, que acabam fazendo com que
perca a direção geral que deve seguir.”
A massa detesta o esforço, especialmente o intelectual, por isso a linguagem é tão pobre e volta
seus recursos para vilanizar o esforço e engrandecer a sensualidade. É necessário revisar a
linguagem, manter-se tão alto quanto possível, mergulhar na experiência e depois depurá-la pela
meditação. Romper com as incitações das inclinações da linguagem, dos colegas, do mundo e do
ambiente.
“...é claro que ele pode se refugiar na mais profunda solidão e viver pelo pensamento no
meio do mundo. A solidão que propomos consiste em recusar acesso às preocupações
mesquinhas, a obrigar-se a somente aceitar os objetos e as considerações capazes de
despertar na alma os sentimentos que se quer experimentar.”
Todas as grandes coisas que mudaram a humanidade foram feitas por homens meditativos. Os
agitados fazem tolices. A sociedade só reconhece a agitação.
“Todas as nossas desgraças vem dessa fatal necessidade de agir imediatamente,
necessidade estimulada pelos louvores da opinião.”
“O imprevisto desmonta as vontades fracas.”⇒ eliminar o imprevisto, ocasião de dissipação.
“É apenas para os fracos que a vida é feita de improviso.”
Ter o objetivo claro e sempre em mente.
“... para quem se detém frequentemente a ‘retornar ao ponto’ e a retificar a direção, nada é
imprevisto; mas para tanto é necessário tomar clara consciência daquilo que somos, de
nossas faltas habituais, das causas que de ordinário nos fazem perder tempo - e traçar a
partir disso uma linha de conduta para nós mesmo; não devemos em nenhum caso,
perdermos de vista.”
Além dos benefícios anteriores da reflexão meditativa, ela é rica em resultados indiretos: extrair da
experiência de cada dia regras inicialmente provisórias, que confirmadas por novas observações
viram princípios diretores da conduta. Essas regras, formuladas em máximas bem claras, ajudam a
disciplinar os desejos mutáveis, por duas causas. A primeira é uma lei absoluta em psicologia:
“Toda ideia de uma ação a realizar ou de uma ação a não realizar, se for bem distinta, tem
na ausência de estados afetivos hostis, um poder de realização que se explica pelo fato de
que, entre a ideia e o ato, não há uma diferença essencial. Uma ação concebida é já uma
ação começada.”
O segundo pensamento exige abstração, a abreviação de muitos casos particulares numa palavra,
num símbolo. Acontece o mesmo com os sentimentos, substituídos no uso corrente por palavras.
“Quando a meditação provocou na alma movimentos afetuosos ou de repulsa, como eles
logo desaparecem, é bom conservar uma fórmula que possa recordá-los em caso de
necessidade e que os resuma de alguma maneira.”
Capítulo II
Meditar pressupõe pensamentos e pensamos com palavras. Aprendemos primeiro as palavras sem
conhecer, experimentar aquilo a que elas se referem. Nossa fala é muito vaga, as palavras não têm
realidade para nós. Meditar é substituir as palavras pelas coisas. Coisas em detalhes:
“Devemos sempre particularizar nosso pensamento, torná-lo concreto.”
“É também descendo aos mínimos detalhes da análise que chegaremos a dissipar as
sugestões da linguagem, as ilusões da paixão, verificando meticulosamente as afirmações
enganosas.”
“Para ajudar-nos em nossas meditações, devemos evitar o ruído, recolher-nos, depois
consultar os livros que tratem do assunto da atual meditação, reler nossas notas, e enfim
por um trabalho enérgico de imaginação.”
“devemos, na reflexão meditativa, quando não vier a inspiração, recorrer a leituras
especialmente apropriadas ao nosso objetivo, deveremos manter nossa atenção através de
palavras pronunciadas em voz alta.”
“devemos mesmo escrever nossas meditações.”
O tempo mais conveniente para essas meditações é a última semana das férias. Mas reiterar
sempre as meditações (semanalmente). Nos períodos de descanso usar as resoluções para
fortalecer a mente.
Capítulo III
A reflexão meditativa precisa de hábitos, ações para concretizar seu objetivo. Para esse propósito
concorre a lei do hábito - tendo feito a primeira vez,a dificuldade diminui. É a ação que cria os
hábitos.
“Agir, parao estudante, é realizar uma multidão de atos especiais, e assim como não há
vontade, mas somente atos voluntários, também não há ação, mas somente ações
particulares.“
“Raras são na vida as ocasiões para realizar ações estrondosas (...) Agir é, portanto,
realizar milhares de pequenas ações.”
“Basta pouco a cada dia se a cada dia realizamos esse pouco.”
A vontade se tempera nas milhares de pequenas coisas que não queremos de pronto fazer. Nunca
ceder à preguiça. Cada pequeno esforço fortalece o hábito e torna os próximos mais fáceis.
A ação sustenta o pensamento (escrever, recitar, formular precisamente as objeções). A ação
também proclama nossa vontade:
“Nossos atos engajam-nos publicamente em um partido.”
O objetivo do estudante deve ser estar sempre ativo. Atividade implica descansar quando
necessário, com atividades estimulantes. Não perder tempo em atividades cotidianas e esforçar-se
sempre na leitura. Jamais dormir sem fixar precisamente a tarefa que se deve fazer no dia
seguinte. Não desperdiçar os intervalos de tempo, aquelas esperas.
“O tempo nunca falta para quem o sabe usar.”
Lamentar não ter tempo é admitir fraquezas. Perda de tempo é ligada à indeterminação da tarefa a
seguir ⇒ não se propor objetivos gerais. Ser específico nas tarefas. Além de determinar
claramente a tarefa a ser cumprida, é importantíssimo sempre terminá-la. O ideal é nunca precisar
retornar.
“Não há regra mais essencial para o trabalho: Age quod agis; fazer cada coisa no seu
tempo, a fundo, sem pressa, sem agitação. “
“Uma atividade que não sabe dobrar-se a lei de só fazer de cada vez é uma atividade
desordenada.”
Evitar engajar-se em muitos projetos ao mesmo tempo.
“São as coisas começadas e não acabadas que nos fazem perder mais tempo.”
“O que vale para um trabalho interrompido vale também para um trabalho que se deve
fazer e não é feito.”
“Um sábio não é aquele que sabe mais detalhes, mas aquele que tem um espírito sempre
ativo, sempre trabalhando.”
“Nada melhor para a felicidade que trocar preocupações por ocupações, e quem diz
felicidade diz saúde.”
As causas da fadiga são os excessos da sensualidade, inquietudes, emoções egoístas, mal
método de trabalho, ter muitas coisas inacabadas. Nunca o trabalho em si.
Capítulo IV
Importância da saúde. Cuidar da alimentação, da respiração, do exercício. Um passeio leve facilita
a digestão. Não toma mais tempo agir de forma saudável que não agir. É necessário mastigar bem
a comida (facilita a digestão). Evitar as posições curvadas por muito tempo. Passear no quarto, ler
e falar em voz alta (músculos respiratórios). Interromper com frequência os trabalhos e fazer
ginástica respiratória.
A ginástica respiratória, segundo Lagrange: amplas inspirações artificiais, erguer os braços
inspirando, baixar os braços expirando. Ao erguer os braços, esticar-se na ponta dos pés.
A importância propriamente dita do exercício consiste em fazer o sangue circular mais rapidamente
nos pulmões, melhorando a capacidade cardíaca e pulmonar.
O exercício físico desenvolve a vontade, mas deve ser moderado. O que se consome de energia
física falta ao mental.
“A organização dos conhecimentos é bem mais importante que sua aquisição (...) para
essa organização duas coisas são necessárias: o tempo e o trabalho espontâneo do
pensamento.”
A caminhada, o exercício ao ar livre são propícios à organização do pensamento e à meditação.
O repouso é tão importante quanto o exercício, mas repouso não é preguiça. O melhor repouso é o
sono calmo e profundo, para o qual vale uma única regra: não se deitar muito tarde e saltar da
cama logo ao acordar.
O trabalho prolongado até meia-noite é condenado. A noite deve-se reservar para trabalhos que
exijam menos raciocínio, como trabalhos materiais, notas feitas à lápis (recolhê-las), busca de
passagens a citar, esclarecimentos, etc.
Não se deve prolongar demais à cama, pois o sangue se torna “espesso” e isso gera uma moleza
ao acordar. ⇒ levantar ao acordar.
Além do sono existem as recreações, e estas atuam nos centros nervosos.
“O trabalho intelectual não se dá sem um ativo trabalho nos centros nervosos.
Inversamente, um trabalho ativo nos centros nervosos resulta sempre, mesmo se esse
trabalho é feito sem nenhuma consciência, num avanço em nossas investigações
intelectuais.”
Os centros nervosos continuam atuantes após o trabalho, fazendo a fixação e a elaboração de
lembranças. Dessa maneira é tolice passar logo de um trabalho a outro, pois se impede o trabalho
inconsciente de fixação dos centros nervosos, e se tem de readaptar os fluxos sanguíneos
cerebrais. A forma correta é desligar-se de um trabalho com um pouco de repouso e um pouco de
exercício. O repouso serve para renovar as energias e não constitui um fim em si.
É necessário escolher as distrações com cautela. As boas características de uma distração são:
acelera a circulação e o ritmo respiratório, provocam trabalho amplo dos músculos do tórax, da
coluna vertebral e do abdome, repousam a visão. As melhores nesses quesitos são: caminhar ao
ar livre, patinação, natação, jardinagem.
LIVRO VI
Capítulo I
Os dois inimigos do trabalho são a sensualidade e a preguiça.A preguiça é a mãe de todos os
vícios. Identificar os sentimentos negativos avaliando se eles colaboram com a preguiça. É
necessário ter cuidado redobrado com a voluptuosidade e a masturbação.
Os devaneios e fantasias servem como alternativas a um trabalho chato, é preciso tomar cuidado
com elas e vigiá-las. Os devaneios mais comuns são os sexuais, por isso é necessário cuidar para
evitar estímulos à sensualidade, o tanto quanto possível. Lembrar-se de cultivar os prazeres
sublimes (artísticos e intelectuais).
“... numa época heróica ninguém se dava ao trabalho de pensar nisso (amor/sexo), e muito
menos de falar nisso.”
Combater as causas da sensualidade: deitar somente quando cansado; levantar logo depois de
acordar; evitar camas muito macias, evitar alimentos excitantes, excesso de carnes e vinhos; evitar
ficar muito tempo sentado; sair à noite, meditando sobre o trabalho do dia seguinte (caminhar até
se cansar e depois deitar); impor-se esses passeios não importa o clima; evitar a todo custo pensar
em coisas sensuais.
A preguiça e a sensualidade andam juntas. O vazio do pensamento abre espaço para a
sensualidade, e existe uma necessidade intrínseca de prazer - se ele não vier do intelecto será
pedido ao corpo. Por isso é necessário manter o espírito ocupado, e essa ocupação tem de ser
prazerosa. O trabalho disperso, a atenção espalhada não traz alegria, traz irritação e acaba por
despertar paixões, assim como o ócio.
“A vitória completa é quase impossível, mas nesse combate, não ser vencido
frequentemente e jamais aceitar suas derrotas passivamente, já é ser vitorioso.”
Sensualidade também é vaidade. Tem-se prazer em exibir-se para os outros suas conquistas,
contar histórias. Isso é baseado na falsa crença de que aproveitar a vida é dedicar-se aos sentidos.
Para combater essa crença cabe agir da seguinte maneira: a cada noite de prazer contabilizar em
duas colunas as vantagens e os aborrecimentos provenientes disso.
O vício em masturbação reflete o vazio do espírito. Ocupar-se é a solução.

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