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INOVAÇÃO NO SETOR PÚBLICO Vinícius de Vargas Bacichetto Revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira Graduada em Ciências Políticas e Econômicas Especialista em Administração Financeira Mestre em Desenvolvimento Regional Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 B125i Bacichetto, Vinícius de Vargas. Inovação no setor público / Vinícius de Vargas Bacichetto, Vanessa Ramos Teixeira; [ revisão técnica: Luciana Bernadete de Oliveira]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 190 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-291-1 1. Inovação. 2. Gestão Pública. I. Teixeira, Vanessa Ramos. II. Título. CDU 351.72 02914_Inovacoes_Setor_Publico_Livro.indb 2 11/01/2018 14:24:06 A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os principais fatos históricos que levaram aos modelos burocráticos e gerencial. Apresentar os principais componentes da administração gerencial. Identi� car as perspectivas do modelo pós-burocrático. Introdução Os modelos de administração pública, implantados ou que tenham tentado implantar no Brasil, deram origem e base aos atuais e modernos modelos. Do patrimonialismo ao gerencial, todos eles tiveram alguma característica mantida do modelo burocrático. A impressão que se tem é que o viés burocrático se faz necessário quando se aborda o âmbito público. Diferentemente, o âmbito privado, que pode agir, desde que não seja ilegal, acaba sendo mais flexível e ágil, tendo resultados mais diretos. Neste capítulo você vai aprofundar mais seu conhecimento sobre o modelo gerencial. Modelo este que se aplica em diversos Estados, pois insere a metodologia de gestão da esfera privada na pública. Para isso, é necessário introduzir no ente público ferramentas mínimas que auxiliem no processo e na geração de resultados. Além disso, vamos analisar o modelo pós-burocrático, que inicia um novo processo de inserção admi- nistrativa. Não se exclui o gerencialismo, porém se agrega a ele formas mais participativas e de controle. Burocrático e gerencial: uma visão mais profunda de Administração pelo tempo A partir de agora vamos tratar sobre os modelos mais utilizados nas últimas décadas em relação à administração pública. Entender esses modelos de administrar é fundamental, pois só assim é possível entender as mudanças e transformações ocorridas na administração pública. As transformações vistas nos diferentes governos são decorrentes do debate e da compreensão sobre o verdadeiro papel do Estado, na contemporaneidade, no tempo e na vida das pessoas, bem como no grau de intervenção na economia local. Ainda nos anos 1950, um economista, Musgrave, definiu três funções do Estado, que permanecem no tempo: a) Função alocativa: trata sobre a produção, por parte do Estado, de bens e serviços que o mercado não atuava, ou seja, em que não teve oferta pela iniciativa privada. Dessa forma, o Estado deveria desempenhar essas funções para auxiliar no desenvolvimento da sociedade. b) Função distributiva: aborda os aspectos de reduzir a desigualdade e promover os ajustes necessários da distribuição de renda. c) Função estabilizadora: tem a ideia de evitar as oscilações de inflação e desemprego. No período de 1945 a 1973, o mundo viveu momentos de impacto geral com o fim da Segunda Guerra Mundial e as questões de petróleo, levando a expandir a economia mundial, denominada como “era dourada”. A partir dali, surgiu o Estado provedor de bens e serviços, ao qual foi chamado de Estado de Bem-Estar Social. Nesse período, quando o Estado foi compreendido com funções diferentes, a máquina pública se obrigou a crescer e, consequentemente, aumentou os custos públicos de manutenção. Passando pelos anos 1970, os impactos do crescimento acelerado da econo- mia mostraram os primeiros sinais de fraqueza e se começou a ter problemas na realização das atividades, resultando na queda da capacidade de atendimento das demandas sociais. A consequência dessa fase? A década de 1980 foi mar- cada pelas crises do Estado e fiscal, com perda significativa da capacidade financeira para realizar os investimentos necessários e manter o processo de atendimento à sociedade que havia se instalado até então. A crise do Estado levou ao próximo passo, que foi a perda de credibilidade na capacidade de produzir os serviços públicos adequados, em que o cidadão A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático2 começou a perceber a dificuldade do ente público e, gradativamente, o Estado ia se demonstrando mais ineficaz ainda. Diante de uma crise, não mais identificada somente como de Estado, mas também identificada como de gestão, se buscou superar o modelo burocrático. Cabe relembrar que o modelo burocrático surgiu para combater um modelo patrimonialista. Dessa forma, a origem dos estudos se deu na ênfase contra a dominação do monarca e para trazer um Estado mais controlado. Porém, o modelo burocrático de Weber também entrou em declínio junta- mente com as transformações que exigiam mudanças mais rápidas e menos rígidas no cumprimento de normas e regras, o que apresentava ineficiência estatal. Inclusive, começou a apresentar algumas características, como atrasos e autoritarismo, começando a ser visto de forma negativa pelo cidadão. Você sabia que o modelo burocrático de Weber também é caracterizado como um modelo dominador? Nesse aspecto, se destacam dois papeis: o papel de dominador, aquele que dita as regras e a forma de se comportar, influenciando as ações de outros; e o papel de dominado, aquele que segue as regras e, caso as contrarie, haverá reações para reconduzir ao que é “correto”. Lembrando que os dominados se comportavam de forma direta na sociedade, o que gerava um padrão de comportamento social. Essas características próprias da burocracia tinham como fio condutor quatro princípios básicos: a) Formalismo: a ideia de formalidade carregava consigo as codificações, ou seja, atividades e procedimentos deveriam seguir uma linha lógica de pensamento, distribuídos por códigos, etapas, fases, entre outras formas de classificação. No entanto, elas se exauriam em si mesmas, pois a ideia era evitar qualquer imprevisto. Dessa forma, nesse manancial de regras, deveriam conter todas as possibilidades. b) Impessoalidade: neste item, o que interessava era o cargo e a norma, e não a pessoa. Por esse motivo as carreiras eram bem estruturadas em relação à progressão do funcionário. Não importava quem ele era, mas, sim, suas capacidades e habilidades. Assim como a teoria trazia o julgamento mais objetivo de tratamento. 3A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático c) Hierarquização: exatamente por existir o princípio do formalismo, que também puxava a ideia de hierarquia, pois a cadeia de comando era longa, porém clara. As decisões tinham que passar por uma sequência lógica de poder hierárquico administrativo, detalhada e regrada em documentos e regulamentos, deixando pouca liberdade ou autonomia para o gestor. d) Rígido controle: o controle era a forma que se tinha para manter um padrão. Assim, buscava-se evitar a imprevisibilidade pelo controle contínuo do processo meio, antecipando falhas no final do processo e introduzindo correções a tempo, quando necessárias. Esses princípios básicos eram responsáveis por inserir na Administração Pública a eficiência produtiva, pois a eficiência estaria nos detalhes antecipados de como as coisas deveriam ser realizadas. Pode-se dizer que, embora o modelo burocrático tenha permeado anos e anos de governos no Brasil, ela começou a entrar em decadência ainda no período militar, momento em que, mesmo havendo o militarismo, muitos pensamentos burocráticos foram mantidos e valorizados. No entanto, o a ideia de aprimorar o Estado começou a tomar força com a inserção do gerencialismo. No entanto, Bresser-Pereira (2006) ressalta que o modeloburocrático não foi de todo ruim, assim como todo o modelo tem falhas, esse modelo também teve sua participação negativa. Entre algumas preocupações está o crescimento do Estado versus o crescimento dos serviços econômicos e sociais. Pois o aumento dos serviços, tanto social quanto econômico, foram respostas dadas ao desenvolvimento da tecnologia e da globalização econômica. De fato, todas essas circunstâncias e os fatos históricos fizeram com quem um novo modelo, necessário, surgisse e buscasse resolver alguns problemas que se tornaram perpétuos na história brasileira. Mas para que isso fosse possível, era necessário traçar a história por um novo ângulo de visão, uma vez que a ideia do modelo burocrático puro era considerada a única forma de administrar por ser um modelo racional. Vasconcelos (2002) diz que outros formatos organizacionais, considerados não burocráticos, também seriam fortemente orientados por pensamentos de racionalidade. Dessa forma, surge o modelo gerencial como uma forma de aprimorar a administração pública. Uma vez que o Estado vinha ampliando os serviços, é fundamental que suas funções sejam desempenhadas de forma eficiente por meio da efetivi- dade e da agilidade. O fato é que o aumento dos serviços surgiu em meio a A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático4 um modelo burocrático, assim ele, em vez de agilizar o processo, se tornou oposto ao desejável. Isso significa que ele ficou muito mais lento e oneroso do que se pensava. Assim, os controles, imputados pelo modelo, foram supervalorizados no lugar dos resultados. Porém, a vontade de mudança surgiu desde os anos 1970, na busca pelo antiburocrático. O modelo gerencial, vagarosamente, foi ganhando força, mas, mesmo assim, não se tinha uma ideia concreta do que se queria com uma nova reforma administrativa do Estado. Posteriormente, surgiram alguns objetivos que o novo modelo gerencial poderia trazer como ações efetivas: a) melhorar o desempenho dos órgãos estatais (efetividade e eficiência); b) melhorar o planejamento estratégico e, consequentemente, as decisões do governo; e c) garantir o sentido democrático da administração pública. As novas formas de gestão buscaram empregar as ideias da iniciativa privada. Ela traria maior agilidade ao governo e suas ações, preocupando-se de maneira especial com o aspecto fiscal, razão pela qual as ações governa- mentais de Administração Pública e concessão de serviços adequados foram colocados em xeque. Assim, como já foi falado, esse modelo voltaria para o grande desafio de melhoria e aperfeiçoamento profissional da máquina pública, além de desen- volver programas direcionados à eficiência e à maximização da qualidade dos serviços. Por outro lado, o gerencialismo chegaria com um perfil mais plural de organização, com bases no pós-burocrático. O modelo gerencial provoca a compreensão do Estado em seu dever de formular políticas públicas, bem como a regulação delas. Não significa que o Estado tem que tomar para si a execução dessas políticas, mas significa adaptar os princípios de gestão no setor público a fim de atingir sua finalidade como Estado. Da interação entre as gestões e as cópias e adaptações do modelo privado, transformando em um modelo gerencial público, resultou em oito princípios fundamentais, que são: desburocratização, descentralização, transparência, prestação de contas (accountability) – citados por unanimidade em obras de diversos autores –, ética, profissionalismo, competitividade e enfoque no cida- dão – apresentados por alguns, mas não é uma unanimidade, diferentemente do que acontece nos quatro primeiros. Igualmente, mesmo esses princípios (ética, profissionalismo, competitividade e enfoque no cidadão ética, profis- sionalismo, competitividade e enfoque no cidadão) não sendo unanimidades, indiretamente se tornam uma preocupação do Estado Democrático de Direito. 5A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático Esse modelo pós-burocrático ainda estaria vinculado com padrões mais firmes de valores institucionais e culturais e que dificilmente poderiam ser mudados e, se fossem, passariam por uma grande resistência. Assim, a ideia não era anular totalmente os princípios da teoria de Weber, até porque a evo- lução das teorias só acontece porque existiram teorias e modelos anteriores que deram a base para o novo. Na ideia do gerencial, seu foco seria uma relação do privado para o público, ou seja, o processo e o meio das ações e atividades seriam executados com o pensamento da organização e da gestão privada, porém seu foco estaria direcionado ao público (interesse público). A importação do modelo privado ao público delineou as teorias da Nova Administração Pública (NAP) ou Nova Gestão Pública, que deram origem a um movimento evolutivo de administrar, determinados em: a) Nova Administração Pública – modelo 1: dirigido à eficiência e associado ao pensamento de Tatcher, na Grã-Bretanha, da economia política. Principal característica está no controle orçamentário e fi- nanceiro e também na definição de objetivos e monitoramento como forma avaliar o desempenho. b) Nova Administração Pública – modelo 2: dirigido ao downsizing (redução do quadro e da estrutura) e à descentralização. A ideia de organizações grandes, verticalmente, parecia ter dado o primeiro sinal de fraqueza levando à reflexão da necessidade de reestruturação. Para o setor público trouxe o desmonte e a redução, focando na flexibiliza- ção, reduzindo padronização, descentralização das responsabilidades, aumento da terceirização e ênfase nas organizações híbridas (público e privado). c) Nova Administração Pública – modelo 3: excelência é o principal objetivo do modelo. Interesse na mudança da gestão e na inserção de ações inovadoras, considerando a cultura organizacional. Insere muito mais as diretrizes da teoria de relações humanas e reduz a raciona- lidade apresentada no modelo 1. Fortalece o capital intelectual com processos de aprendizagem e desenvolve as temáticas de participação e autodesenvolvimento (abordagem ascendente). Já o ponto contrário, abordagem descendente, reconhece que o ascendente é limitado e, por esse motivo, incentiva o papel de liderança, gerenciamento da mudança cultural e utilização de formas carismáticas de liderança. Também prioriza o estabelecimento de missão, comunicação e valorização de recursos humanos. A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático6 d) Nova Administração Pública – modelo 4: orientado ao serviço pú- blico, com principal foco na qualidade e na participação dos usuários nas decisões de gestão e criação do conceito de cidadania e prestação de contas. A prestação de contas envolve o sentido de transparência e efetividade no que tange ao uso e à aplicabilidade dos recursos públicos, bem como à responsabilização do gestor pela sua ação ou omissão. Além disso, é a utilização das diversas tecnologias de gestão de ambos os setores, público e privado, e da atualização dos administradores por meio da busca de um serviço público mais bem-sucedido. Também cabe aqui a análise mais direta da relação custo-benefício. Destaca-se que os modelos não se excluem entre eles, mas se complementam em ralação à prestação de serviços que passa pelos elementos condutores do modelo 1 (racionalidade econômica e burocrática) até o modelo 4 (valorização da cidadania). Veja na Figura 1 a seguir os modelos da Nova Administração Pública. Figura 1. Modelos da Nova Administração Pública. Fonte: Guimarães (2000, p. 130). Quanto ao aparecimento da NAP e sua origem, é fato que a expressão Nova Administração Pública é a tradução da versão em inglês New Public Management. Falada e surgida por volta de 1975, a expressão começou a ser utilizada após a obra de Michel Messenet. 7A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático No entanto, há divergência de expressão para o mesmo objetivo, pois uns autores chamam de Nova GestãoPública, outros preferem denominar como Administração Gerencial e outros definem como sendo Gerencialismo, Novo Gerencialismo ou até mesmo Gerência Baseada no Desempenho. A pioneira em aplicar a nova forma de gerir o que é público foi a Austrália, chamando de Public Service Reform Act, em 1984, com uma reforma radical e de pensamento ultraliberal. Contudo, o modelo de se tornar mais gerencial não surgiu somente por motivos de agilidade dos serviços, flexibilização, redução de custos, etc., ele surgiu, também, pela necessidade de adaptar e inserir a administração pública em um contexto muito mais científico e tecnológico. Foi uma gama de fatores que incentivaram as mudanças, pois, de fato, no setor privado, esses fatores tornam a organização mais competitiva e, dessa forma, atrai mais clientes. Assim, quando se tem um Estado muito mais competitivo, ele se torna atraente, também, para investimentos com recursos que podem ser de investidores internos ou externos. O fato é que, independentemente da forma como é chamado ou da nomenclatura que é utilizada para identificar uma gestão mais “profissionalizada”, a transformação é uma consequência nas necessidades de evoluir conforme o mundo evolui e de inserir as ferra- mentas que estão à disposição para o setor público, fazendo com que as ideias iniciais do modelo gerencial possam vir a se tornar uma realidade efetiva, e não ficar, apenas, nas ideologias e projetos, como aconteceu por muitos anos, principalmente no Brasil. Relacionando as principais ferramentas do modelo gerencial O tema gerencial está na boca de muitos empreendedores, administradores, gestores e também de muitos governantes e gestores públicos, há anos. Todavia, falar é muito diferente de aplicar e, mesmo aplicando, se faz necessário entender o que é cada uma dessas ações e ferramentas que podem ser utilizadas como meio de melhoria contínua do ente público. Desta forma, o que você verá a seguir é uma explicação sobre os fatores fundamentais de gerência. Antes de mais nada, a seguinte indagação: se você fosse um gestor público e tivesse interesse em ver a sua gestão se desenvolver nas bases do gerencia- lismo (pós-burocrático), quais seriam as ferramentas que você destacaria e implantaria de imediato, com os devidos cuidados? A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático8 A partir de agora, veremos algumas dessas ferramentas. Indicadores de controle O que é indicador? De onde surgiu? Para que servem os indicadores? Essas e outras perguntas são vistas todos os dias e muitas pessoas não sabem respon- der, embora se possa utilizar e, com toda certeza, você já utilizou de alguma maneira um indicador. A palavra indicador surge do latim indicare, que significa dar sentido, revelar ou demonstrar. O indicador faz parte de um processo de mensuração, principalmente no campo do desempenho, seja ele produtivo, administrativo, financeiro, econômico, inovador e público. Eles surgem com base da importância de gerir as situações e os processos organizacionais. Kapan e Norton, os criadores da ferramenta de gestão BSC, que tinha como objetivo mensurar quatro áreas das organizações de forma integrada, somadas aos fatores externos, diziam que o que não se pode me- dir, não se pode gerenciar. Deming também dizia que não se gerencia o que não se mede. De fato, quando não se consegue mensurar, ou seja, dar uma quantificação, valoração ou peso, não se tem como gerenciar, pois fica muito mais no campo do abstrato. Os indicadores são formas encontradas de tornar mais visível aquilo que é muito abstrato. O indicador é uma medida que ilustra e informa os fenômenos mais com- plexos, se tornando muito simples sua visualização e interpretação, incluindo a possibilidade de comparações que possam apontar perspectivas de ação e/ou tendências. Mas essa capacidade de informar tendências não foi sempre assim. Nos tempos mais remotos, do surgimento dos indicadores, se predomi- nava como uma forma de quantificar, simplesmente. Isso significava que o indicador era sinônimo de quantidade ou classificação. Após os anos de 1920, e depois da Segunda Guerra Mundial, os indicadores começaram a ser inseridos em outras áreas de atuação, deixando de ser algo exclusivo da área estatística, o que deu abertura para agências e divisões públicas utilizarem, uma vez que os indicadores econômicos evidenciavam o índice de crescimento do país. Mas, afinal, o que ele mede? Principalmente, o indicador pode ser aplicado a inúmeras áreas. Ele pode ser utilizado na gestão de pessoas, no setor financeiro, no desempenho do setor de marketing, na controladoria, no orçamento público, na gestão de licitações, nos processos judiciais e em inúmeras outras áreas de atuação, tanto no âmbito do privado quanto no âmbito do público. 9A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático Indicadores são instrumentos de medir o desempenho como forma de mensurar e analisar os resultados e objetivos, geralmente estipulados em um espaço de tempo determinado e delimitados. Atualmente ele é uma das formas de gestão organizacional com capacidade suficiente de informar e indicar sinais da organização a ponto de se tornar muito mais competitiva no mercado, bem como pode ser uma forma de indicar a eficiência do setor público em atender às demandas da sociedade. Porém, o indicador precisa de outras variáveis, tais como base de dados, critérios e princípios para que os objetivos da organização possam ser atendidos. Eles podem medir dados sociais, desempenho de produtividade, atendimento à comunidade, grau de qualidade na prestação do serviço público, execução do orçamento público indicando folga de recursos, recursos exatos ou recursos utilizados além do planejado, implantação de políticas públicas e outros. Diante do exposto, pode se verificar que os indicadores são um conjunto de ferramentas que auxiliam o ente público a entender a realidade presente, bem como a traçar tendências de futuro, seja ele de formar ou trazer uma informação sobre determinada realidade ou, então, apresentar valores quando a ele for agregado. Controle orçamentário/financeiro Nos últimos anos, o Brasil passou por transações necessárias de um regime autoritário para um regime mais democrático. Nesse período, turbulências políticas foram assolando o Brasil e, após a crise do Estado, a economia sofreu fortes impactos. A queda no crescimento brasileiro reflete os percentuais e os investimentos realizados no atendimento básico das necessidades de uma sociedade, em que a Constituição Federal obriga o Estado a conceder o mínimo para a dignidade humana. No entanto, esses efeitos fizeram com que a economia brasileira viesse a fracassar a cada tentativa de uma nova política econômica, fazendo com que o combate à inflação se tornasse o ponto mais importante de combate em todas as medidas econômicas. Com as reformas administrativas que ocorreram, um novo movimento surgiu: a descentralização do capital público, dividindo parte desse recurso com Estados-membros e Municípios. Com esse fato, a Constituição propôs uma nova forma de organizar os planos orçamentários do Brasil. A partir daquele momento, surgiram ferramentas orçamentárias, buscando a uniformização. A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático10 De fato, a forma de conduzir os planos orçamentários do Estado recebeu um novo significado, sendo reconhecida como uma ferramenta de gestão de maior importância e uma das mais antigas da Administração Pública. Os governos utilizam o orçamento público para poder organizar os recursos, dando forma e contorno aos investimentos e às receitas públicas. Com o tempo, novos instrumentos foram sendo incrementados, objetivando o controle e as formalidades legais orçamentárias. Porém, a contemporaneidade trouxe novas funções. Além das questões políticas, recebe as funções adminis- trativa, gerencial, contábil, financeira e, mais recentemente, de planejamento, queé desenvolvido por meio de programas. Não se pode negar que o orçamento público está diretamente vinculado ao controle, pois ele surgiu com a ideia de impedir a discricionariedade, ou seja, a livre-escolha de onde aplicar os recursos sem um planejamento adequado e técnico de investimentos. Dessa forma, se tornou obrigatório o detalhamento tanto da receita quanto da despesa. A ideia do orçamento-programa foi concretizada em 1974, quando ob- jetivava a descrição das atividades e dos orçamentos para o ano seguinte, servindo como uma espécie de roteiro orçamentário. A contar dos anos 2000, essa ferramenta foi revogada, sendo criada uma estrutura programática aos planos plurianuais de cada esfera federal. Dessa forma, vincularia o orçamento com o planejamento dos recursos e das ações de governo. Nessa perspectiva, a ferramenta orçamentária passaria a ser muito mais que um simples documento que estimava as receitas e despesas, passaria a ser um documento programado, com metas, objetivos e resultados a serem alcançados. Esse conjunto de documentos formais e obrigatórios clarificam as ideias do governo, explicando como serão gastos os recursos que são arre- cadados por meio de impostos, contribuições e demais fontes de receitas que são pagas pela população. No Brasil, a lei orçamentária tem como base três ferramentas que se comple- tam e fazem cumprir o prometido nas campanhas eleitorais: Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual. Destaca-se que mesmo existindo os princípios da Administração Pública, o orçamento também passa pelo crivo dos princípios orçamentários próprios, que são: a) Anualidade: a lei orçamentária é compreendida pelo ano civil, ou seja, inicia em 1° de janeiro e finda em 31 de dezembro do mesmo ano. Dessa forma, o orçamento deve ser revisto e projetado, no mínimo, uma vez ao ano, com vistas às receitas e despesas para o exercício seguinte. 11A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático b) Equilíbrio: o orçamento deve seguir a regra básica orçamentária. Assim, as despesas devem corresponder às receitas, não gastando mais do que a capacidade financeira de quitação. c) Exclusividade: a lei orçamentária abordará e tratará apenas de questões de caráter financeiro, não podendo abordar outros temas em seu documento. d) Legalidade: o orçamento só é válido quando transformado em lei. Dessa forma, é necessário que haja um tratamento adequado para sua validade. Esse processo passa pela elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual, que será guiado pelos projetos elencados na Lei de Diretrizes Orçamentárias e no Plano Plurianual (que será explicado em seguida). Após sua elaboração, o Executivo encaminha para o Legislativo, que discutirá em suas comissões próprias, levando ao plenário e colocando em votação. Após aprovado, o projeto retorna para o chefe do Executivo, que sanciona e promulga. e) Publicidade: de caráter público, o orçamento deve ser publicado nos devidos meios de comunicação impressa, para que a população tome conhecimento do emprego dos recursos financeiros públicos e possa participar de forma mais efetiva da gestão. Além disso, Municípios que não tenham o Diário Oficial ou imprensa local, poderão disponibilizar informações no hall de entrada do ente público e nos meios tecnológicos (internet). f) Unidade: os Municípios, os Estados e a União, cada um deles, têm seus próprios Projetos e Leis Orçamentárias. De acordo com o que foi tratado até o presente momento, cada um deles colocará em um único documento todas as projeções de receitas e despesas. g) Universalidade: todas as receitas e despesas devem ser colocadas na lei. Nenhum recurso extra, tanto para receita quanto para despesa, deve estar fora da lei, tampouco deve ocorrer fora desse documento orçamentário. Também deve estar na lei orçamentária toda e qualquer empresa, autarquia e fundação que receba ou gerencie recursos públicos. Ao todo, são três leis que devem completar o ciclo orçamentário em qualquer uma das três esferas governamentais. Partimos, agora, para a explicação de cada uma delas: a) Plano Plurianual (PPA): é um planejamento que visa a projetar as inten- ções de governo para um período de médio e longo prazo e compreende diretrizes, estratégias e metas. Tem como duração o período de quatro anos, em que se traçam as estratégias e as diretrizes do governo. No A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático12 entanto, não completa os quatro anos do governo eleito. O PPA acaba sendo executado a partir do segundo ano de governo até o primeiro ano do governo seguinte. b) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): definirá as prioridades de um governo para o período de um ano. Isso significa que na LDO estarão contidas as obras e os investimentos mais importantes para aquele ano em que ela se destina e as regras que deverão ser observadas para a formulação da Lei Orçamentária Anual. c) Lei Orçamentária Anual (LOA): apresenta todas as receitas e despesas para o ano seguinte, de forma mais concreta. A LOA é a execução e o controle direto dos recursos. Para clarear o entendimento dessas três leis, vamos comparar a um jogo de futebol: o PPA é a estratégia do time, em que o treinador estipula as diretrizes maiores de como o time de jogar, a LDO são as regras do jogo e a LOA é o jogo efetivamente. Os jogadores estão em campo e devem seguir as estratégias maiores, objetivando vencer aquele campeonato seguindo as regras estipuladas pela LDO. Dessa forma, as leis orçamentárias são ferramentas de controle, plane- jamento, metas e objetivos para o governo exercitar em um determinado período. Lembrando que todas as ações governamentais contidas na LDO e na LOA devem ser diretamente vinculadas ao PPA. Não se pode deixar de frisar a importância de criar indicadores de controle, pois a qualidade no serviço público e os investimentos na cidade, Estado-membro e União só acontecem com o bom uso dos recursos públicos. O orçamento público brasileiro, assim como os serviços públicos, é um documento formal e legal, pois a projeção orçamentária para o ano seguinte ocorre pela aprovação do Legislativo, que transforma em uma lei, autorizando o Executivo a realizar os devidos investimentos e gastos públicos para manter a máquina estatal funcionando, bem como atender às necessidades dos cidadãos em todas as suas esferas. 13A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático Eficiência e eficácia na administração pública A fi nalidade do Estado sempre foi, desde seu início, atender às necessidades da coletividade, defi nição até mesmo do seu princípio básico do interesse público, ou seja, suas ações devem ser direcionadas ao público. A eficiência, nos anos 1930, ganhou uma intenção política de agir, no governo Vargas, quando surgiu a intenção de reestruturação do Estado, que- brando com as raízes oligárquicas. Com essas mudanças, o governo objetivava desonerar a máquina pública, conter os abusos e adequar o orçamento. A busca pela eficiência atravessou anos e décadas, passou os governos de Vargas, Kubitschek, Jânio, Ranieri, Goulart, Figueiredo e tantos outros: todos pela busca da reforma administrativa perfeita que resultasse em um Estado mais eficiente, eficaz e, também, mais efetivo. A implantação de um Estado mais eficiente passa, inicialmente, pelo co- nhecimento e entendimento do que realmente significa. Dessa forma, pode-se verificar que diferentes áreas do conhecimento trabalham com o significado de eficiência destinado às ciências administrativa, contábeis, de gestão e de administração pública. À frente dessa palavra, eficiência, está o entendimento mais profundo do que o encontrado nos dicionários. Dessa forma, eficiência é a análise entre os recursos consumados e os resultados que se deseja alcançar, buscando otimizar os meios em função dos fins. Alguns autores citam que eficiência tem relação com o custo-benefício de um objeto ou processo. Chiavenato,por exemplo, diz que é a correta utilização dos recursos. Dessa maneira, significando a melhor forma de realizar uma atividade, tornando mais racional. Diante do exposto, pode-se concluir que eficiência é a forma como o ente público trata os “meios” de um processo, objetivando os fins. Desta forma, significa olhar ou trazer um novo ângulo de visão para transformar o mesmo processo de forma mais econômica e racional, diminuindo o tempo e utilizando recursos mais limitados. Já a eficácia, por sua vez, é o alcance, ou seja, está diretamente relacionada com o resultado, fazendo as coisas certas. Nem sempre eficiência e eficácia andam de mãos dadas. Às vezes, o ente público pode ser eficiente, mas não ser eficaz, e pode ser eficaz sem ser eficiente. É importante dizer que algumas visões sobre a eficácia recaem mais a nível estratégico, pois se referem a escolher os objetivos adequados ou as alternativas mais corretas. É o grau em que as metas foram efetivamente alcançadas, por A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático14 exemplo busca pela qualidade, reeducação de despesas em folha de pagamento, redução de correções e manutenções de equipamentos entre outros. Assim, de fato, temos uma eficiência que se preocupa com os meios do processo e a eficácia com os fins do processo, seus objetivos. Porém, como falado anteriormente, para saber se a Administração Pública está sendo eficiente e eficaz é necessário criar indicadores que possam medir os dois aspectos, caso contrário, não se tem como comparar ou chegar a uma conclusão no processo de melhoria dos serviços públicos. Claro que, para a Administração Pública, se juntarmos todos os aspectos vistos até agora, podemos chegar à conclusão de que tudo está interligado. A busca por prestar um serviço de qualidade passa pela forma como ela é prestada e se busca atender os fins deste serviço, não esquecendo que é necessário fazer reduzindo os recursos e maximizando os resultados. Isso só é possível se a Administração Pública tiver um programa de indicadores que possa fazer essa mensuração e apresentar indicadores e dados necessários para poder atuar de forma mais concreta e efetiva no serviço público. Aliás, outra relação ligada a esses dois conceitos está na produtividade e na qualidade. Quanto à qualidade, pode-se destacar que a evolução dessa prática se deu em quatro fases. A primeira fase, denominada adequação ao padrão, tinha o foco na qualidade obtida pela inspeção. A ideia era que o projeto estivesse de acordo e que a qualidade fosse um problema de verificar a conformidade do resultado com o projeto. Na segunda fase, denominada adequação ao uso, o principal objetivo era a qualidade do projeto. Ele deveria garantir que o cliente receberia a satisfação das necessidades atendidas se o projeto tivesse sido bem elaborado. Na terceira fase, surge a adequação ao custo, ou seja, a qualidade da conformidade era de acordo com as necessida- des do cliente. Nesse aspecto, o objetivo primário era atender ao cliente com custo baixo, ou seja, o projeto tinha que ser desenvolvido com o menor custo possível. Por fim, a quarta fase era baseada na adequação às necessidades latentes. Assim, o olhar era voltado à criação do produto ou serviço que vinha a dar satisfação e aprovação pelo cliente. No entanto, com o passar do tempo, o conceito de qualidade passou a ser voltado para o mercado, antecipando as vontades dos consumidores. Ela dei- xou de ser tratada de forma isolada e passou a ser tratada, nas organizações, de forma integrada tanto verticalmente quanto horizontalmente. A evolução mais dinâmica do conceito mostrou que a aplicação da qualidade total não é a única forma de obter a qualidade e entregar isso ao cliente final, que, no caso da Administração Pública, é cada cidadão que busca o serviço público. 15A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático O foco principal, na Administração Pública, é atender ao cidadão ou usuário o serviço e os resultados esperados, compreendendo de forma clara as reais demandas, bem como a implantação da eficiência e da eficácia. Mesmo falando em adoção da qualidade, é importante estabelecer os ins- trumentos de modernização necessários, que passam pelo entendimento da dimensão da reforma administrativa do Estado. O resultado disso é simples: proporcionar melhor qualidade vida. Assim se define qualidade: a entrega de produtos e serviços que atendam à necessidade do cliente, em todos os seus aspectos. Quanto à produtividade, pode ser definida como a eficiência que se aplica no processo produtivo em relação aos insumos que são transformados, seja do serviço ou do produto. Isso significa que é a ferramenta utilizada para obter o que se deseja no processo de transformação. Dessa forma, percebe-se que não é tão fácil integrar todos esses fatores, pois temos uma demanda da sociedade, em que a Administração Pública, para ser caracterizada como eficiente e eficaz, deveria entregar serviços públicos realizados da forma mais rápida e certa, observando a forma como são produzidos, atendendo às necessidades do usuário. No entanto, até o momento, foram integrados os fatores em que se trabalhou até agora, porém, não podemos esquecer que, além disso, esses processos devem estar alinhados ao planejamento estratégico da Administração Pública, ou seja, tudo que foi falado só será possível se o planejamento for inserido nesse processo. Planejamento estratégico no setor público Planejamento estratégico sempre foi uma das ferramentas tratadas dentro dos conceitos e dos estudos administrativos. Antes de seguir em diante, tratando sobre o que é planejamento estratégico e o inserindo no setor público, é bom destacar o que não é planejamento estratégico. Dessa forma, planejamento estratégico não é um caixa de mágicas, na qual se escolhe o melhor truque para enganar os telespectadores. Também não é uma previsão, pois não é necessário prever. Não é trabalhar com perspectivas de futuro, pelo contrário, ele traça o futuro com a situação atual e, por fim, não é uma tentativa de reduzir ou eliminar riscos de operações da organização. O planejamento estratégico é uma forma sistêmica e organizada de desen- volver e manter os recursos e objetivos organizacionais diante das mudanças de mercado. Também pode ser definido como uma maneira de tomar decisões para o futuro com risco reduzido. A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático16 Ansoff dizia que o planejamento estratégico era uma série de diretrizes que detalhavam a posição da organização no mercado, bem como o caminho que ela seguiria, como isso seria feito e com quais ferramentas. Nos tempos mais modernos, o conceito de planejamento estratégico se transformou e se define como sendo etapas inter-relacionadas e interdepen- dentes em que a cúpula administrativa apoia baseando-se na definição da missão, na análise do ambiente, nos objetivos, nas metas, na formulação de estratégias e no plano de ação. Essas etapas devem ser precedidas de processos de avaliação frequente, controle dos indicadores e feedbacks. No entanto, no ambiente público, é muito difícil encontrar na gestão do ente público pessoas capazes de gerir, administrar e proporcionar a satisfação aos usuários do setor público. Dessa forma, o planejamento estratégico público aparece como ferramenta que norteia e direciona as ações de governo pelo período de médio e longo prazos, determinando metas e objetivos e reduzindo decisões equivocadas. Em suma, é possível afirmar que o planejamento estratégico público é o documento que aponta os caminhos e os trilhos a serem seguidos nos próximos anos de governo, fazendo com que os objetivos maiores sejam atendidos, por meio do controle de indicadores, acompanhando os recursos financeiros e orçamentários, buscando ofertar serviços de qualidade com tempos menores de produção e que atendam às necessidades do cidadão ou do usuário. Claro que, ao mesmo tempo, pareceum tanto quanto utópico, pois se tem presente um conglomerado de normas e regras a que se deve atentar, somado ao arcabouço legal que se deve seguir para não enfrentar atos ilegais. Se pegarmos a primeira parte deste parágrafo e retornarmos às ideias do modelo burocrático, nos deparamos inseridos em um modelo gerencial com premissas burocráticas, uma vez que as ferramentas gerenciais estão inseridas juntamente com as normas e regras. Nesse contexto, se pergunta: e como será o futuro da administração pública, diante de tanta necessidade de reformular sua forma de pensar e, ao mesmo tempo, com tantas regras e rotinas a cumprir? Influências do pós-burocrático Tendo em vista as evoluções históricas das reformas no Brasil, o modelo de gestão mais moderno está calçado nos conceitos de administração pública no pós-burocrático. Esse tipo de administração deve atender a uma realidade que cada vez se torna mais complexa e plural. 17A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático O contexto plural está na utilização de diversas organizações que estão disponíveis, tais como internacional, nacional, microrregional, local e muni- cipal, as quais estão ligadas por um sistema de rede corporativa, incluindo ONGs, bem como profissionais e usuários de computador. Ao que tudo indica, a administração pública, em um sistema trabalhando em rede, passa a ser muito mais pública e democrática do que estava sendo nas últimas décadas, quando se dizia público um lugar dominado por interesses capitalistas. A sociedade civil também acaba sendo reformulada e recebendo nova definição, como espaço público não estatal, havendo uma nova articulação entre as relações de Estado e sociedade. O que anteriormente era uma relação entre sociedade e Estado, centrada no próprio Estado, agora passa a ser uma matriz centrada na sociedade. Ainda sobre os aspectos pluralistas de ser, pode caracterizar idealizações democráticas liberais, em que a autoridade permanece sobre os jogos livres de interesses dos grupos que se assemelham com o governo. Por outro lado, a visão de plural é aquela em que diferentes grupos negociam e lutam por um equilíbrio do poder, usando influências para, a partir das diferenças, gerar a unidade necessária de governança de um Estado. Claro que esse jogo de interesses e da própria característica plural pode gerar resultados positivos e negativos. Tudo vai depender da forma como os conflitos gerados vão proceder na resolução positiva. O grande desafio, ou uma das perspectivas do Estado moderno, é vencer as barreiras do burocrático, tornando mais pública a Administração, mais acessível e menos estatal. É reconhecer a heterogeneidade dos grupos e, também, dos interesses, buscando encontrar um consenso entre a disputa que ocorre dentro de um ambiente plural. É abrir as portas para a participação e a negociação. Os modelos tradicionais se transformam assumindo papeis de mercado. Os departamentos, antigamente grandes e lotados, passam por uma reformulação e acabam sendo divididos em pequenos centros de formulação de políticas. A parte operacional é designada para conjuntos satélites que terão a função de implantar as políticas criadas. A população passa a não mais aceitar respostas medianas, exigindo res- postas rápidas e firmes. A necessidade da excelência emerge nas organizações e a resolução das demandas dos clientes, no caso do público também visto como usuário, é questão preponderante. Também não se trata de apenas reduzir a estrutura pública, mas de adaptá- -la à nova realidade social e às conjunturas atuais. Sem dúvida, a redução da máquina poderá ser uma consequência, porém o enxugamento não é o foco A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático18 principal, e sim a reformulação de sua função como Administração Pública de um Estado. A era do pós-burocrático também pode ser chamada de pós-moderno, quando os estudos se voltam para a nova forma de organizações privadas e públicas, na qual suas características principais estão na descentralização, na estruturação em rede e na conectividade tecnológica das informações. Também cabe a esse modelo a resolução de conflitos mais imediatos, em que os líderes são muito mais participativos e comprometidos. É realmente uma forma diferente de se pensar o ente público. É no pós-burocrático que as organizações se tornam mais intensas, pro- piciam um ambiente de mais diálogo e ficam mais abertas. Para Vasconcelos (2002), algumas características são destacadas nesse modelo organizacional, tais como: criação de grupos de trabalhos flexíveis, que têm por objetivo a execução de uma determinada atividade e são estabelecidos para o atingimento dos objetivos mais claros e de forma temporária; criação de uma cultura de confiança mútua e dialogada; missão se torna ferramenta estratégica dos ob- jetivos da organização; disseminação da informação e criação de um ambiente mais propenso ao conhecimento, oportunizando as ferramentas necessárias para o fácil acesso e a recuperação deste; e, por fim, a criação de mecanismos de retornos e avaliação de desempenho. Mas, afinal, realmente a forma de administrar está se afastando das ideias weberianas? A resposta não é tão simples, uma vez que autores afirmam que organizações no modelo pós-burocrático são raridades e que, como um modelo de organização, é consenso que entes assim, tanto no público como no privado, não existem, questionando a existência do próprio modelo. Uma vez que não é fácil encontrar organizações nesses moldes, fica muito mais difícil encontrar e definir o modelo como ele é. Nesse contexto, cabe uma reflexão sobre o cuidado dos modelos burocrático e pós-burocrático, pois quando tratados como teoria organizacional, surgem ideias de que o a ruptura entre o modelo de Weber e o pós-burocrático não ocorreu de fato, o que aconteceu foi uma adaptação dos modelos conforme o tempo. Assim como aconteceu em outros modelos que passaram por tentati- vas de reformas no Estado, todas elas são fortemente vinculadas ao modelo burocrático de gerir. É mister dizer que o modelo pós-burocrático ainda não está totalmente completo e está, apenas, em fase inicial, porém duas áreas de reflexão dessa nova forma de administrar podem ser destacadas. Uma delas é o formato ge- rencial, que já foi abordado anteriormente, a outra é por meio de participação cidadã e controle social. 19A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático Diante disso, aparecem alguns pensadores sobre a temática, que dizem que a nova forma de organização está vista de duas maneiras. A primeira está voltada à lógica de ação diferente da instrumental, o que significaria o primeiro sinal de um modelo mais moderno. A segunda maneira é vista como um aperfeiçoamento da abordagem contingencial, que trata as ações da organização de acordo com a situação, ou seja, o ente público daria as repostas necessárias conforme a ocasião e sua decisão poderia ser diferente em situações similares. No que tange ao trabalho em rede na administração pública, se destaca a ideia da biologia, em que a soma das partes gera o todo, ou seja, a soma dos diversos órgãos humanos forma o corpo e, assim, funciona um sistema organizacional. O conceito de rede revela a importante ideia voltada, exatamente, para as ciências políticas, uma vez que ela surge com abordagens modernas de resolução de problemas entre as relações interorganizacional e do pluralismo, conforme falado anteriormente. Dessa forma, trabalhar em rede é trabalhar com diferentes canais de co- municação que permitam uma rápida interação, além de transparência. Como uma das consequências em um modelo em rede é a participação mais efetiva dos colaboradores. Mesmo com ideias diferentes, acabam sendo engajados e, desta forma, contribuindo ao ponto de enriquecer a experiência com os serviços prestados. Isso se deve ao fato de que a administração em rede veio para ficar. Embora tardia, ela não tem como ser“excluída” desse processo todo. Além disso, o trabalho em rede aproxima as informações e os setores, que, por algum motivo, ainda continuam verticalizados, e, ainda, integra informações com as administrações indiretas e, quem sabe, com os agentes externos ao setor público. Por outro lado, o trabalho em rede da administração pública fomenta a articulação de indivíduos e organizações, focando na resolução de problemas mais complexos aliados aos interesses comuns. Além do mais, o modelo (rede) vem se apresentando como sinônimo de democracia e participação, tendenciando as ideias horizontais, abertas e plurais, em que o poder não está centralizado e não existe a hierarquização organizacional, principalmente no que tange à tomada de decisão. A administração pública gerencial ou o modelo pós-burocrático20 GUIMARÃES, T. A. A nova administração pública e a abordagem da competência. 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