Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Copyright© 2021 SIL ZAFIA Revisão: Sophia de Castro Capa: Sil Zafia Imagens Diagramação: Sil Zafia Diagramação: Kevin Attis ________ Dados internacionais de catalogação (CIP) SÉRIE POR TRÁS DA FAMA LIVRO 1: A VIRGEM E O ROCKSTAR 1ª Edição 1. Literatura Brasileira. 2. Literatura contemporânea. 3. Romance contemporâneo. 4. Romance erótico. Título I. ________ É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor, qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência. Todos os direitos desta edição são reservados pela autora. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009. Esta obra contém linguagem informal. Sumário Sinopse Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19 Capítulo 20 Capítulo 21 Capítulo 22 Capítulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capítulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Capítulo 31 Capítulo 32 Capítulo 33 Capítulo 34 Capítulo 35 Capítulo 36 Capítulo 37 Capítulo 38 Capítulo 39 Capítulo 40 Capítulo 41 Capítulo 42 Epílogo Referências Agradecimentos Na sequência Deguste Outras obras Redes Sociais da autora Este livro é uma adaptação da série Nos Bastidores, a história foi reescrita e os personagens ganharam novos nomes. As cenas foram reformuladas, dando leveza ao contexto. Caso tenha lido, sinta-se à vontade para reler e embarcar neste novo romance. Benicio Larsson é líder da banda de rock mais popular da década. Após uma grande decepção amorosa, decide curtir a vida e nunca mais se apaixonar novamente. Milionário e bonito, ele pode ter qualquer mulher que desejar, menos uma. Mila Costa é uma universitária doce e inocente, que sonha em trabalhar no mundo das celebridades. Com a família atolada em dívidas, ela vê uma solução para seus problemas ao aceitar o emprego de assistente da banda Swedish Legends, que Benicio Larsson divide com os amigos Vincent e Adrian. O que a virgem e tentadora assistente não imaginava, é que mexeria com a cabeça do rockstar mais cobiçado do momento. Completamente atraído por ela, mas com o coração bloqueado para uma nova paixão, o milionário propõe uma única noite de sexo a Mila, a entrega da sua virgindade e a promessa de nunca mais ficarem novamente. Ela sabe que se envolver com alguém como Benicio seria sua ruína, que o rockstar nunca poderia corresponder seus sentimentos. Mas o que fazer quando o desejo fala mais forte que a razão, e a paixão é inevitável? Será que eles vão conseguir manter a promessa de uma única noite? Me sinto um tolo, um completo idiota, enquanto o motorista dirige pelas ruas geladas de Estocolmo. É uma das piores dores que já experimentei. Toco a aliança dourada no dedo anelar e tenho vontade de atirá-la na neve, mas sou covarde demais para assumir publicamente que fui traído pela minha esposa, que sem querer encontrei nas suas coisas um celular, por onde ela vinha trocando mensagens com outro homem há quatro anos. Eu não li tudo, porque a dor crescente rasgava meu peito em dois a cada frase lida. Não sei de quem era o contato, não havia foto e estava salvo como “amor”. — Amor — resmungo, me sentindo um merda por nunca ter percebido que a mulher com quem eu era casado, não passava de uma mentirosa. O celular era usado apenas para isso, para falar com seu amante. Liguei várias vezes para o número porque queria ouvir a voz do filho da puta com quem ela transava. Freja estava na cozinha, reunida com duas amigas, quando encontrei o celular. Fui até lá, tremendo de raiva, considerando fazer uma cena, mas me controlei. Era dia três de janeiro quando descobri que meu casamento, admirado e comentado por toda a Suécia, não passava de uma palhaçada. Há menos de três semanas de um evento muito importante para minha carreira. Engoli o ódio e subi para o quarto de Liam, nosso filho de três anos. Contei uma história para ele dormir, enquanto tentava controlar a mente, que insistia em calcular que aquele caso tinha começado antes de Freja engravidar. Não queria sequer considerar a ideia de Liam ser filho de outro cara. Aquela dor poderia me derrubar, e eu sabia que precisava continuar de pé. A banda Swedish Legends, com quem eu tocava desde os dezesseis anos, havia sido convidada para um grande festival chamado Tomorrow is Mystery, no Brasil. E eu precisaria passar seis semanas hospedado em um hotel, junto com vários outros músicos, produzindo músicas novas, criando parcerias e me apresentando em diversos shows pelo quinto maior país do mundo. Para uma banda sueca de rock alternativo, era uma oportunidade irrecusável, mesmo que já tivéssemos alcançado reconhecimento em boa parte do planeta. Todas as atenções do mundo da música estariam voltadas para o Brasil nas próximas semanas, devido a grandiosidade do evento e no quanto ele era aguardado. Eu não poderia tirar o foco da banda revelando o fim do meu casamento, mesmo que fosse quase insuportável continuar fingindo ao público ainda estar casado. Éramos um casal influencer desde o namoro, tendo holofotes aonde íamos. A mídia sueca faria um estardalhaço com o anúncio de um divórcio e estragaria o momento da banda, o lançamento do próximo álbum. Eu não poderia fazer isso com meus colegas, Vincent e Adrian. Preferi engolir a mágoa e o orgulho, pedi o divórcio e exigi segredo, tanto por parte do meu advogado quanto de Freja, decidindo que só anunciaríamos o fim do casamento quando eu voltasse do Brasil. Freja concordou sem reclamar. Estava disposta a tentar me reconquistar, fez o maior teatro, mas eu sabia que não dava para perdoar uma traição que durava quatro anos. Ela não estava arrependida de ter me magoado, nem mesmo de ter arruinado a família que eu pensei que permaneceria unida para sempre. Olhei para a frente e notei os olhos do motorista me analisando, mas disfarçou assim que foi flagrado. Me perguntei se estava estampado na minha testa que eu era um idiota por ter acreditado que o meu amor valia alguma coisa para alguém. Engoli a saliva e repeti mentalmente a promessa que vinha fazendo a mim mesmo desde o começo do mês: nunca mais entregar meu coração a outra mulher para ela brincar com ele como se não significasse nada. No aeroporto, uma recepcionista loira me levou até a área VIP, onde encontrei Adrian Jacob — sempre o primeiro membro do Swedish Legends a chegar em qualquer ocasião. Vincent Cavallari apareceu alguns minutos depois. — Já sinto falta de Hannah — ele comentou, enquanto aguardávamos a hora de subir a bordo do jatinho particular da banda. — Mas resolvemos que seria melhor dar um tempo. — De novo? — perguntei, desejando dizer a ele que terminar o noivado era a melhor coisa que ele poderia fazer, que as pessoas não tinham mais consideração pelo amor, essa coisa de casamento era uma palhaçada, e eles iriam acabar se machucando no final, mas engoli todos os meus comentários. Não queria contar ainda, mesmo que aqueles dois fossem meus melhores amigos desde o fim da adolescência. Não tinha coragem de admitir ter descoberto uma traição. Conhecendo Vincent como eu conhecia, ele perguntaria se teria alguma chance de Liam não ser meu filho. Simplesmente não poderia lidar com aquela pergunta. Me sentia envergonhado, derrotado, sem saber direito o que fazer. Apenas tinha em mente a promessa de nunca mais cair naquela besteirade amor outra vez. — De novo — Vincent me respondeu. — Mas pelo menos fomos sinceros. Seis semanas é muito tempo e as mulheres brasileiras são uma perdição. — Vai pegar geral? — Adrian o questionou. — Acha que Hannah vai te perdoar, como fez das outras vezes? Adrian era um ano mais velho que eu, mas algumas vezes falava como se fosse nosso pai. Estava casado há quatro anos com uma mulher chamada Ivy e não tinha filhos. Ele era primo de Freja, foi quem nos apresentou, e foi meu padrinho de casamento. Não podia imaginar como Adrian iria reagir quando soubesse do divórcio, mas sabendo o quanto adorava a prima, iria encontrar uma maneira de me culpar por ter sido traído, como se eu não tivesse feito tudo por ela nos últimos anos, como se eu não tivesse entregado todo meu amor a primeira e única mulher com quem fui para a cama. Aquilo era algo a ser considerado. Eu era muito tímido na adolescência, conheci Freja logo quando formamos a banda. Era minha primeira namorada e, apaixonado, casei com ela. Dediquei dez anos da minha vida a ela, crescemos juntos, conquistamos muitas coisas, nunca pensei que aquela relação acabaria um dia, ainda mais da forma como terminou. Os dois estavam comentando sobre o que Vincent poderia ou não fazer, já que estava “solteiro”, quais comportamentos eram ou não adequados para a imagem da nossa banda. Tanto nossa agente, Amy, quanto Adrian, faziam questão de preservar nossa imagem desde o começo da carreira, mas Vincent era o rebelde que acabava aprontando uma vez ou outra, éramos os bons garotos, depois os maridos bem casados, e Vincent, o bad boy. Os ignorava, com a cabeça cheia, mexendo no celular, passando os olhos pelo Instagram sem realmente prestar atenção, quando recebi uma ligação de vídeo de Freja. — Não vai atender? — Adrian perguntou, se inclinando na minha direção para ver a imagem do contato. — Por que ela trocou a foto do perfil? Adrian era invasivo demais em se tratando do meu casamento. — Eu também troquei — respondi, tentando disfarçar o mau humor. — Estávamos enjoados daquela foto de casal. Atendi a ligação, mesmo sem querer. Sabia que ele não ia deixar passar batido se eu recusasse. Freja apareceu na tela com Liam no colo, segurando sua mão gordinha e o fazendo acenar para a câmera. Meu coração foi espremido dentro do peito, porque ter uma família para sempre era tudo que eu mais queria, não me importava de só ter conhecido uma mulher, eu a amaria até que a morte nos separasse. Engoli o nó na garganta e tentei dar um sorriso amarelo para o meu filho, ignorando-a. Se ela soubesse o quanto partia meu coração ligar assim, será que ainda ligaria? Se imaginasse como seria mais fácil esquecê-la se não tivesse que ver sua imagem, será que ela respeitaria? Imaginava que não, que talvez ela continuasse insistindo até me fazer perdoá-la, ligando, usando Liam, perturbando meu juízo. Mas não dava para perdoar alguém que não estava arrependido. Queria falar alguma coisa fofa para meu filho, mas minha garganta estava travada, por sorte, uma comissária de voo se aproximou, nos avisando que era hora de embarcar, então pude encerrar a ligação. Não tem mesmo como fazer aquela troca? — perguntei para Sebastian, em uma última tentativa de me livrar do Swedish Legends. Mordisquei o lábio inferior ao me dar conta de que tinha feito aquele pedido em voz alta. Sebastian Roux era um dos organizadores do primeiro Tomorrow is Mystery Festival no Brasil. Obviamente ele não tinha tempo nem saco para ouvir minhas tietagens. — Se não quiser o estágio, suma da minha frente agora! — ele berrou da sua mesa. — Eu quero. É claro que quero. Tudo bem — respondi e murchei os ombros, tentando imediatamente desfazer um vinco de preocupação na testa. — Agora vá, garota — ele esbravejou, fazendo sinal para a porta do seu escritório. — E lembre-se: aqueles três são seus donos agora. Faça tudo que eles quiserem sem reclamar. Faça um boquete nos três ao mesmo tempo se esse for o desejo deles. Sua obrigação é deixá-los satisfeitos; não quero ser incomodado com qualquer chilique de celebridade. Arregalei os olhos, perplexa com suas palavras, mas tentei engolir as reações. — Tudo bem. Obrigada pela oportunidade — agradeci antes de sair para encontrar a banda da qual seria “babá”, por seis semanas inteiras, antes de o Tomorrow is Mystery Festival começar. Segui às pressas para a saída do Colline Hotel, que estaria fechado para vários músicos e seus respectivos funcionários. Eles aproveitariam as próximas semanas para produzir músicas que iriam estourar no Tomorrow is Mystery Festival, em março, além de buscarem novas parcerias e tudo mais. Um resort com uma propriedade gigantesca, reservado exclusivamente para eles. Aquele estágio deveria ser minha porta de entrada para o ramo de produção de festivais de música, e eu havia batalhado muito para chegar até ali, não poderia desapontar ninguém. Me colocaram dentro de um luxuoso Hummer preto, especial para transportar bandas. A porta foi fechada fazendo um barulho oco. Engoli em seco tentando memorizar tudo que sabia sobre Swedish Legends. Tremi por dentro. Conhecia as músicas mais famosas da banda de rock alternativo sueca, sabia que eles tinham se juntando ao participar de um programa de TV, onde foram escolhidos em votação popular por toda a Suécia e ficaram em primeiro lugar quando estavam no final da adolescência, tinham estourado mundialmente ainda no álbum de estreia, se tornado a boyband mais famosa do seu país, e que conseguiram manter o sucesso por uma década. Fora isso, não sabia a respeito de suas personalidades, gostos pessoais, particularidades, nada. Estava ferrada. — Vincent é o tatuado, Benicio é o grandão, e o que sobrar é Adrian — murmurei. — Não posso cometer a gafe de trocar os nomes. Simplesmente não posso fazer isso. O motorista ligou o Hummer e partiu em alta velocidade para o heliponto do resort, a dois quilômetros e meio da recepção do hotel. Fomos seguidos por outro utilitário, também preto, que levava funcionários uniformizados para carregarem a bagagem da banda, além de um segurança, luxos que eu não estava acostumada a presenciar. O carro seguiu depressa pelas curvas sinuosas da propriedade do Colline, por entre as montanhas de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. A cada metro percorrido, meu coração ameaçava parar. Mesmo que precisasse seguir três marmanjos por seis semanas, ainda estaria entre vários dos artistas mais importantes do mundo. Era com aquilo que eu queria trabalhar para o resto da vida. Fui jogada para a frente quando o automóvel fez uma curva brusca e parou. Olhei pela janela de vidro fumê e vi o grande H do heliponto. O motorista, vestindo um terno e um quepe, abriu a porta e me estendeu a mão para que eu saísse. Me apoiei nele e pulei para fora do veículo. Tentei arrumar o vestido de linho que havia pedido emprestado a Ariele, minha melhor amiga e companheira de estágio. Ele era justo, cor de vinho, e ficava perfeitamente bem no corpo magro de Ari, mas estava apertado demais no meu quadril. — Não vai rasgar! — resmunguei, sentindo o sol das quatro da tarde tocar minha pele. Eu não tinha dinheiro para comprar outro vestido de marca para minha amiga, se tivesse, certamente não precisaria ter pegado emprestado dela. Na verdade, quase não tinha roupas que me fizessem parecer a assistente de uma banda famosa, e precisava me virar com o que tinha, mas queria passar uma boa impressão no primeiro dia, por isso fiz Ari me emprestar um de seus vestidos elegantes. Só deveria ter considerado que o tubinho iria espremer minha bunda e seios. — Celular pessoal — murmurei, na tentativa de abafar as marteladas do meu coração —, confere. Nextel confere. Engoli em seco. — Fique calma — o motorista disse. Pude ver emseu crachá que ele se chamava Daniel. — Você é meiga, eles vão gostar de você. — Impossível! — minha voz soou desesperada. Eu mal sabia falar inglês sem gaguejar, nunca havia conversado com ninguém tão importante assim e jamais tinha viajado para fora do país. Esperava não passar vergonha e me adaptar depressa a falar em outro idioma o dia inteiro. Daniel era um homem de meia idade, quase careca, uns trinta centímetros mais alto que eu, e algo no seu semblante me passava um pouco de segurança. Meu celular vibrou com uma mensagem da minha mãe desejando, apesar de todos os pesares, um bom início de trabalho, que aquele era apenas um pequeno passo de uma longa jornada, e blá blá blá. Corri os dedos pela tela digitando rapidamente uma resposta. Mãe: “Obrigada, mãe! Estou nervosa e acabo de ver o helicóptero deles se aproximando; ligo quando for possível. Te amo.” Ao ver o pontinho preto no céu vindo em nossa direção, enquanto ganhava forma e tamanho, minha ansiedade adquiriu novas proporções, chegando a me corroer por dentro. Por mais que seguir uma banda durante suas “férias” no vale do sol parecesse tarefa simples, não era. Atender determinadas exigências de artistas mimados, arrogantes e egocêntricos poderia trazer algumas dores de cabeça. Por esse motivo, mesmo sabendo que os três estavam comprometidos, já tinha para onde ligar, caso eles pedissem prostitutas — ou prostitutos, nunca se sabe o gosto de cada um — e também tinha arranjado um contato que conhecia alguém que vendia drogas; só não sabia se ia dar conta de fazer, como disse Sebastian, um boquete nos três ao mesmo tempo. — Controle a ansiedade! — O grito de Daniel sobressaiu ao barulho das hélices do helicóptero, se aproximando cada vez mais. — Seu nervosismo está passando para mim. Em questão de instantes eles pousariam. Nunca vi um helicóptero tão de perto! O ruído frenético das hélices parecia estar sincronizado com as batidas do meu coração. Em menos de um minuto, minha vida estaria entregue nas mãos do trio por um mês e meio. Nunca cheguei perto de homens que valem milhões de dólares! O helicóptero fez uma curva e pairou acima das nossas cabeças. Eles são três e eu sou apenas uma! A aeronave começou a descer lentamente em linha reta. Nunca conversei com suecos! A menos de cinco metros do solo, o vento proporcionado pelas hélices era feroz e jogava areia contra minha pele que ardia. Deus, quem é quem mesmo? Quais são os nomes? Quem sou eu? O helicóptero pousou. Deveria ter desistido quando tive oportunidade. Só percebi que estava completamente catatônica quando senti o calor da mão de Daniel no meu ombro, fazendo uma leve pressão para que eu acordasse daquele transe. — Eles são seres humanos como você e eu. — Não, não são — respondi por entre os dentes. O vento e o barulho começaram a diminuir, então percebi que o motor do helicóptero havia sido desligado para que os músicos descessem. Permaneci petrificada quando o primeiro apareceu na porta lateral e desceu. Tinha o cabelo escuro, era alto, esguio e usava jeans rasgado e uma fina camiseta branca, através da qual era possível perceber as formas do seu abdômen. — Vincent Cavallari. — Esbocei um sorriso vitorioso, feliz por tê-lo reconhecido. Me ignorando por completo, ele passou por mim. Ah, não! Deveria ter dito alguma coisa. Tudo bem. Cumprimentarei o próximo. Em seguida desceu Adrian Jacob, um pouco mais forte que Vincent, alguns centímetros mais baixo, barba curta e cerrada, cabelo escuro e parcialmente coberto por um boné vermelho de aba reta que estava virado para trás. O cumprimente!, meu cérebro gritou quando ele passou por mim. Fale “olá” em algum idioma, mas diga alguma coisa! Diga! Diga! Diga! O mais alto de todos saiu do helicóptero vestindo uma calça de sarja preta e uma camiseta azul, tinha cabelo loiro escuro, queixo quadrado e visivelmente mais atlético que qualquer um dos outros. — Benicio Larsson — sussurrei, percebendo que ele tinha o porte físico que o fazia lembrar um guerreiro viking. Ao passar por mim, ele inclinou a cabeça para meu lado, só que estava de óculos escuros e eu não consegui ter certeza se ele realmente havia me notado. Apenas quando os funcionários do Colline começaram a descarregar as malas, é que me dei conta de que Daniel não estava mais ao meu lado. Ainda atordoada, e sem querer acreditar que tinha ficado ali parada feito uma estátua, sem dirigir uma palavra que fosse para os rapazes, girei nos calcanhares em com o coração ainda acelerado, forcei minhas pernas a me levarem de volta ao Hummer. Daniel estava ao lado da porta de entrada dos passageiros e estendeu a mão para que eu conseguisse subir no carro. Pude jurar que o último olhar que ele me lançou foi de tristeza, enquanto deslizava a porta, como se ele estivesse com pena de me trancar com os tigres. No interior do carro, me sentei no espaço vago do banco mais ao sul, ao lado de Vincent. Apenas o frigobar separava nossas pernas. À minha frente estava Benicio, e ao seu lado, Adrian. Quando o carro começou a andar rumo ao hotel, os três me olharam, e dois deles começaram a conversar em sueco, então não pude entender nenhuma palavra do que falaram a meu respeito. — Não se esqueçam do trato — Benicio Larsson disse, usando um português com sotaque, mas claro e fluente. Sua voz era rouca, mas macia como veludo. Eles falam português? Como? Os outros trocaram mais algumas palavras no seu idioma, e Adrian Jacob foi o primeiro a falar comigo. — Então, você é filha do motorista — sua pronúncia, bem como a voz, era mais suave —, amiga do segurança, ou só está pegando uma carona? — Eles sempre fazem isso — Vincent Cavallari murmurou com uma voz grossa e o sotaque carregado. — Ah, não — respondi rapidamente. As palavras enfim fluíam, ao me dar conta de que eles pensavam que eu estava ali de penetra. — Desculpa não ter me apresentado antes. Me chamo Emily Costa e serei a assistente de vocês durante o tempo que ficarem aqui no Brasil. Mas podem me chamar de Mila, se quiserem. Os três começaram a me analisar. Benicio Larsson tirou os óculos, e pude ver de perto seus olhos azuis escuros, num tom bem mais bonito que o da camisa que ele vestia. — Então você trabalhará para nós? — Vincent Cavallari perguntou. — Sim — respondi depressa, tentando demonstrar com minha postura que eu tinha capacidade para aquele trabalho. — E o que exatamente você vai fazer por nós durante esse tempo? — foi a vez de Adrian Jacob me questionar. — Tudo que vocês precisarem — respondi lentamente para que eles entendessem cada palavra do meu português —, desde pegar um café fresquinho até resolver detalhes de equipamento e estúdio. Qualquer coisa que desejarem, é só falar comigo e tratarei com os responsáveis. Uma ligação, viagem, ensaio, cardápio desejado... — Que organizados vocês são! — Adrian comentou. — É a primeira vez que te vejo dizer isso. — Vincent riu. — Se precisar de um carro, você conseguirá um para mim? — O mais rápido possível. — Minha voz saiu confiante, pois sabia que eles estavam gostando de mim, exceto por Benicio, que estava fitando a janela com o cenho franzido, como se seus pensamentos estivessem a quilômetros de distância dali. Imaginei que ele poderia estar pensando no seu filhinho e na esposa, uma modelo e influenciadora chamada Freja Larsson. — Podemos ver seus olhos? — A voz grossa de Vincent chamou minha atenção outra vez. Me dei conta de que ainda estava usando óculos escuros. — Ah, sim! É que meus olhos doem com a luz do sol — menti com naturalidade. Os retirei e enfiei-os dentro da bolsa que estava jogada no meu banco. Dentro dela, encontrei os rádios que deveria dar a eles. — Tem um rádio Nextel para cada um, assim vocês podem me chamar rapidamente quando eu não estiver por perto. Meu número está salvona agenda. Distribuí os aparelhos e tentei relaxar no banco, enquanto Hammer subia a rampa de acesso a entrada do Colline, me dando conta de que já estava mentalmente exausta nas primeiras horas de estágio. E sabia que a pressão só iria aumentar. — É bom chegar antes para se adaptar ao lugar. — O som da voz de Benicio Larsson tomou conta do saguão do hotel, onde o check-in dos três precisava ser feito. Havia algo de singular no tom da sua voz. Nunca tinha escutado um timbre de voz como o dele e sabia que, a partir do momento em que o ouvi falar pela primeira vez, reconheceria sua voz em qualquer lugar. O modo como ele pronunciava cada palavra em português fazia eu me sentir estranha de alguma maneira que não consegui entender de imediato. Mas eu estava muito empolgada por eles falarem português fluente, e o que sentia em relação à voz de Benicio era um detalhe insignificante. Fiquei tentada a perguntar quando eles tinham aprendido meu idioma, mas resolvi aceitar aquilo e agradecer porque não precisaria me arriscar a passar vergonha com um inglês precário de quem nunca viajou ao exterior. Por sorte, tive tempo de tomar um banho rápido, arrumar o cabelo e vestir uma roupa que não apertasse meu corpo, após acomodar cada um deles em suas suítes de luxo na cobertura do resort. Cansada de tentar parecer mais elegante do que eu era, vesti uma legging e uma camiseta de mangas longas que me manteria aquecida no ar-condicionado do hotel. Desconsiderei os dois sapatos de salto que havia trazido e calcei um tênis de corrida, me sentindo quentinha e confortável. Imaginei que deveria sentar em uma mesinha pequena para comer rapidamente e os observar na espreita, enquanto os rockstars aproveitavam a refeição, pronta para correr até eles ao menor sinal, em vez disso, fui convidada para sentar à mesa com eles, me fartando da mesma comida servida àqueles homens milionários. Os três aparentavam ser unidos como irmãos, o que facilitou minha vida. Era reconfortante saber que tudo estava se encaminhando bem no primeiro dia. Apesar de dois deles não serem nada cavalheiros e falarem palavrões o tempo todo, eu ainda não tinha precisado comprar drogas nem tive que fazer um boquete em nenhum. Com a boca suja deles eu podia lidar facilmente. Nunca ouvi tantas vezes e em pouco tempo as palavras — se é que poderiam ser chamadas assim — “foder”, “boceta” e “caralho”. Era um tal de “vou comer a boceta deles”, “vamos fodê-los com força”, “vou foder o caralho na boceta daquele lugar”, “fodemos aquele lugar com penetração dupla” entre outras coisas que não fazia ideia do que poderiam significar. Até dei umas boas risadas quando, sentado ao meu lado, Vincent Cavallari se dirigiu a Adrian Jacob a nossa frente: — Se você me passar o sal, juro que chupo sua buceta. Adrian olhou pasmo e sério de Vincent para Benicio, que estava sério e calado enquanto comia, me deixando curiosa para saber se ele também tinha o hábito de falar de forma tão vulgar como os amigos. — Eu nem sabia que tinha boceta! — Adrian respondeu, me fazendo rir mais alto do que pretendia. Benicio não disse nada, mas olhou na minha direção com o maxilar trincado, como se pedisse desculpa pelos amigos. Movi os lábios em um silencioso “eu não ligo”, mas logo me dei conta de que um sueco provavelmente não conseguiria fazer leitura labial em português. Vincent riu ao meu lado, me deixando ainda mais à vontade. Tive vontade de dizer que eles eram muito mais divertidos do que eu pensava, e que estava feliz por trabalhar com eles, mas, como aquele ainda era o primeiro dia, resolvi ficar na minha. Após o jantar, os acompanhei até o estúdio reservado para a banda, no décimo andar, equipado com vários instrumentos. Munida com meu aparelho Kindle, me acomodei em um sofá confortável e aproveitei para ler, enquanto eles experimentavam os instrumentos e conversavam sobre música. Percebi que Benicio era o principal compositor do trio, e já estava com duas letras de música finalizadas. Me senti importante, porque provavelmente era uma das primeiras pessoas a ouvi-las, além dos três. Endireitei os ombros, tomada por uma emoção que deixou os pelinhos dos braços arrepiados ao perceber que eles não me pediram para guardar segredo a respeito das músicas, porque talvez confiavam em mim. Larguei o Kindle ao meu lado no sofá, com o livro Meu CEO Arrogante aberto, me dando conta de que eles estavam trabalhando na melodia, acrescentando batidas eletrônicas que me deixavam ainda mais arrepiada. Levei a mão em concha até o lábio, perplexa por estar presenciando a criação de uma música que certamente entraria no topo da Billboard. Será que alguém acreditaria quando eu contasse? Mais uma vez, agradeci em pensamentos por ter ido contra minha mãe e ter me inscrito naquele estágio sem remuneração. Precisava ganhar dinheiro para ajudar nas contas atrasadas, e um estágio remunerado era a melhor opção para as férias, mas não pude desperdiçar a oportunidade. Observei Benicio levantar-se de sua cadeira giratória e ir até a bateria, se sentando com as coxas grossas cobertas pela calça jeans, a cintura estreita e os ombros largos, alcançando as baquetas e batendo no prato, enquanto Vincent ajustava o baixo. A música começou com uma melodia que fez meu coração se ajustar à batida, me deixando ainda mais emocionada. Vincent começou a tocar uma batida antes de Vincent adicionar as notas eletrônicas, usando um MacBook, então Benicio começou a cantar a letra em inglês com sua voz macia, charmosa. Foi quando senti vontade de chorar pela grandiosidade do momento que eu presenciava, que a ficha caiu. Não poderia me deixar deslumbrar por essa vida de glamour, mas como seria a mesma Mila de antes quando essas semanas passassem? Ouvi a letra atentamente, conseguindo traduzi-la mentalmente, arrepiada com a letra que falava sobre alguém que havia passado muito tempo vivendo uma vida sem graça e que, finalmente, tinha conseguido uma chance de se destacar, de brilhar. A melodia era tão envolvente que suspirei, pensando que a letra combinava muito comigo, levando uma vida pacata e finalmente sendo presenteada com a oportunidade de desabrochar e conhecer o mundo. Benicio deu a última batida com a baqueta e voltou seus olhos azuis escuros para mim. — Gostou? — ouvi sua voz macia perguntar e precisei de um segundo para entender que ele queria saber minha opinião. Arfei. Meu Deus, o vocalista do Swedish Legends quer saber o que achei da música que ele compôs. — Estou toda arrepiada — comentei, sem pensar direito. Ele continuou me encarando, sustentando meu olhar por um instante constrangedor com uma expressão indecifrável, e depois deu um sorriso torto, fazendo aparecer uma covinha adorável em sua bochecha. Foi Vincent que começou a tocar a próxima música na guitarra, mas essa não era inédita. Ele só estava acrescentando novos detalhes para a próxima apresentação da banda. Benicio se levantou e veio se sentar ao meu lado, no sofá. — O que está lendo? — perguntou com o sotaque sueco carregado, fazendo meu coração bater um pouco mais rápido ao alcançar o aparelho Kindle ao lado da minha coxa e o segurar mais próximo do seu rosto. Alcancei o Kindle e o puxei da sua mão, porque não poderia deixar que ele lesse a cena em que eu havia parado a leitura. Bloqueei a tela, constrangida. — É só um livro de autoajuda — murmurei com o coração disparado. — Um livro de autoajuda sobre sexo? — Benicio perguntou com um sussurro. Meu rosto ardeu, porque ele havia lido parte da cena em que Joanne faz sexo oral em Daniel enquanto ele filma tudo, no livro Meu CEO Arrogante, do autor Kevin Attis. Abaixei a cabeça, mas quando voltei a encará-lo, suas bochechas também estavam coradas. De perto, dava para ver as sardas que o faziam parecer tímido. — Beni é o mais nerdde nós — https://amz.run/4ZgD Vincent disse, ao parar de tocar. Mordi o lábio com força, não esperava que os convidados mais importantes do evento fossem dar tanta atenção assim a uma estagiária. — Desculpa por pegar o Kindle da sua mão — pedi com a garganta apertada de nervosismo. — Eu não deveria ter mexido — Benicio se desculpou. Fiz uma careta, imaginando o que ele poderia estar pensando de mim, mas Adrian me chamou, e acabei esquecendo depressa. — Pode me conseguir um piano? — ele quis saber. — Um piano...? — Minha voz soou insegura. — Um só meu, bem ali naquele canto — Adrian informou, apontando para o lado leste do estúdio. — E cuide para que ninguém além de mim toque nele. — Você precisa disso, tipo, agora? — Eu estava entrando em pânico. Onde arranjaria um piano no meio do nada quase à meia noite? — Hoje não! — ele deu aquele sorriso simpático, me acalmando. — Só preciso que seja essa semana. — Vou dar um jeito nisso — respondi tendo em mente que teria que levantar no mínimo trinta minutos antes do planejado para tentar falar com Sebastian, aguentando seu mau humor e gritos, e descobrir se haveria um piano desocupado que pudesse ser de uso exclusivo de Adrian. Caso contrário, precisaria comprar um, além de cuidar para que ele fosse transportado o mais rápido possível ao Colline. Ainda recordo a sensação. Me lembro como se fosse hoje. O sol estava se pondo quando coloquei o pé em terra firme e dei o primeiro passo para seguir meus colegas de banda, com a porra do celular vibrando sem parar no bolso da calça. Me perguntava como em seis anos de casamento nunca tinha percebido o quanto Freja era irritante. Ela havia me ligado diversas vezes durante o voo de Estocolmo até São Paulo, e de São Paulo ao Rio de Janeiro, para perguntar se poderia levar minhas roupas do quarto de hóspede de volta ao “nosso” closet, se eu já estava com saudades, se ela poderia vir me ver no fim de semana, para me contar que Liam tinha feito um desenho nosso, esse tipo de chantagem emocional, que só fazia meu desprezo por ela aumentar. Sozinho na minha suíte da primeira classe do avião, expliquei pela milésima vez que não iríamos voltar, que eu pegaria minhas roupas do quarto de hóspede e levaria para um lugar que não era da sua conta quando o evento no Brasil terminasse, e que ela precisava assinar a droga do divórcio o mais rápido possível. Nossos advogados já tinham acertado os bens que ficariam com ela, a divisão mais justa possível, as pensões e como compartilharíamos a guarda de Liam. Tudo que ela precisava fazer para me libertar daquela merda de situação era assinar o maldito nome no divórcio, mas parece que me perturbar era seu novo passatempo. Ignorei suas chamadas e caminhei para o carro que nos esperava. Como sempre, havia uma equipe nos esperando alguns metros adiante. Pisquei os olhos para me adaptar à luz do sol de verão, então eu a vi. Estava ao lado do motorista. Ao longe, era apenas uma silhueta feminina, mas de perto era notável seu corpo curvilíneo coberto por um vestido justo. Tinha cabelos longos e um rosto bonito. Ao passar por ela, pensamentos pervertidos povoaram minha mente perturbada, mas tentei afastá-los. Por mais que eu estivesse em uma crise de abstinência de sexo miserável, com a cabeça fodida e a ideia de que nunca mais me envolveria emocionalmente com ninguém, não ia ficar desejando a primeira garota gostosa que aparecesse na minha frente. Iria aproveitar a vida como não tinha aproveitado nos dez anos de carreira, conhecer muitas mulheres e experimentar cada uma delas sem me apegar à droga de um sentimento. Entrei no carro e me acomodei, enquanto Adrian e Vincent interrogavam a garota de lábios vermelhos provocantes, sentada no banco à minha frente. Disse que seria nossa assistente, enquanto estivéssemos no Brasil. Deixei meus olhos a examinarem por um instante, sem que ela notasse. Seu pescoço era fino, os seios fartos pareciam apertados demais dentro do vestido. Desci o olhar pela cintura fina até encontrar o quadril, reparando na calcinha branca que aparecia por que o vestido estava enrolado nas coxas, um segundo antes dela se ajeitar e cruzar as pernas. Engoli a saliva, sentindo o corpo queimar e o coração furioso escalando pela garganta com aquela visão, a pouco mais de um metro de mim. Me perguntei se Adrian, sentado ao meu lado, também tinha visto. Fechei a cara e passei a me concentrar na paisagem através da janela. Emilly, ou Mila se eu preferisse, continuava falando sobre o seu trabalho e, por mais que eu tentasse, meus olhos curiosos acabavam se voltando para ela a pequenos intervalos de tempo. Era a primeira vez que teríamos uma assistente. Vincent já tinha notado o quanto ela era atraente. Dava para ver o jeito como a comia com os olhos, sentada ao seu lado no banco. Teria que lembrar a ele que não pegaria nada bem dar em cima da assistente da banda, mas sabia que, se falasse dessa forma, ele só teria mais vontade de conquistá-la, para depois descartá-la e fazer as pazes com a noiva. Fizemos o check in no hotel e subimos para nossas suítes. Mila mostrou primeiramente o quarto de Adrian, logo em seguida o de Vincent e, por último, o meu. Enquanto ela caminhava dentro daquele vestido cor de vinho apertado, abrindo portas e cortinas pela suíte, acendendo e apagando luzes, explicando como tudo funcionava da forma mais prestativa possível, percebi como, apesar do corpo curvilíneo, ela era pequena, do tipo que eu poderia carregar no colo sem nenhum esforço. Quando ela se virou e me olhou bem séria, com os olhos castanhos arregalados, percebi que ela era muito mais sexy do que as garotas que Vin costumava paquerar, e que seria uma missão, tanto para mim quanto para Adrian, fazer ele não estragar tudo. Vincent sempre fazia isso quando saíamos em turnê. Só que, com Mila, as coisas seriam diferentes, ela era nossa assistente, ele não poderia simplesmente descartá-la. Será que ela tinha namorado? Eu queria perguntar, mas tinha medo de ser mal interpretado. Seria muito mais fácil se tivesse. Em um gesto involuntário, Mila jogou o cabelo de lado e umedeceu o lábio carnudo com a ponta da língua. — Os outros marcaram jantar às 20h. Precisa de mais alguma coisa? — ela perguntou. — Estou bem — menti, para poder ter um pouco de privacidade. Experimentei dizer seu nome e seu apelido em voz alta quando ela saiu, e gostei mais de como Mila soava, fazia minha língua tocar a ponta dos dentes. Adrian e eu fomos os primeiros a chegar ao restaurante do Colline. Quando Vincent apareceu, começamos a conversar sobre o que iríamos tocar na primeira apresentação do Swedish Legends no Brasil. Tentei, com toda a minha força de vontade, focar nisso e não ficar pensando em Freja, muito menos em como descobrir quem era o filho da puta com quem ela fodia. Eu poderia contratar alguém para descobrir, afinal tinha o número de telefone, mas e depois? O que eu faria com essa informação? Fazia tanta diferença assim saber quem era o cara? —... Outro efeito e depois os fogos de artifício. Vão simplesmente morrer — Vin dizia, sem fazer ideia da confusão de pensamentos que me atormentavam nos últimos dias. — Vamos foder aquele lugar com penetração dupla. — Vamos dar conta do primeiro show sem muito estresse — Adrian respondeu com tranquilidade, o que era estranho para o padrão Adrian Jacob. — Só vamos mandar ver — Vin disse, enquanto passava os olhos pelo cardápio. — Lançamos nossa primeira música, fazemos um bom show, nada demais. Aí poderemos focar no que viemos fazer aqui. — Ótimo. Vamos nos divertir enquanto estivermos no Brasil. É disso que se trata. — Estava comentando, quando Mila surgiu, atravessando o restaurante com pressa, parando sem fôlego ao lado da nossa mesa. O suposto namorado não era tãoimportante assim, afinal, ela tinha lhe deixado em plena noite de domingo para jantar com três rockeiros. — Boa noite — ela disse, me olhando com um sorriso que exibia os dentes claros, me puxando de volta das lembranças de uma adolescência difícil, demorei um segundo para entender que ela iria me abraçar. Aquilo de abraçar o tempo todo era muito comum no Brasil, assim como em outros países latinos e, ainda que eu fosse do sul da Suécia, onde as pessoas são muito reservadas e só têm esse tipo de liberdade após muito tempo de intimidade, eu viajava muito em turnês e já estava acostumado com aquele tipo de carinho. — Boa noite — respondi, ficando de pé. Precisei flexionar os joelhos para que ela ficasse na altura dos meus ombros. Mila ficou na ponta dos pés e beijou minha bochecha, encostando o corpo no meu por um instante, mas foi o suficiente para eu sentir seu cheiro doce. Ela se afastou e me sentei outra vez, ainda com seu aroma em volta de mim. A observei se inclinar para cumprimentar Adrian, quando ele não se levantou. Ela ficou um pouco constrangida, mas conseguiu disfarçar muito bem. Dando a volta na mesa, Mila chegou até Vincent, sentado de frente para mim, que também ficou de pé para lhe dar boa noite, fazendo com que Adrian parecesse um completo idiota por ter permanecido sentado enquanto ela ia toda educada falar com ele. No movimento de encontrar o pescoço de Vin, ela empinou a bunda na minha direção e, por um segundo, não consegui desviar os olhos. Vin apertou Mila tão forte que os ossos dela se estalaram. — O que tem de errado com você, Beni? — Adrian quis saber. Só me dei conta de que estava de cara fechada quando todos se viraram para me olhar. Obriguei meus olhos a focarem no cardápio. — É só... — a maldita carência me fazendo ficar duro. Tive que inventar uma desculpa. — Minha cabeça dói. — Por que não descansou no seu quarto? — Vincent perguntou depois de ter soltado Mila. — Estava ocupado. — Com o quê? — Adrian quis saber. — Trabalhando numa composição — menti. Eu não queria admitir nem mentalmente que tinha batido uma pensado na nossa assistente enquanto estava no banho. — Quer um remédio? — Mila perguntou com a voz melódica. — Não, obrigada — respondi de imediato. O fato é que eu já não transava com Freja muito antes de descobrir a traição, e a carência estava fodendo com a minha cabeça. Adrian convidou-a para jantar conosco e ela aceitou. ♫♫♫ No estúdio, acabei descobrindo que ela gostava de livros eróticos. Enquanto ela apertava o aparelho Kindle contra o peito, constrangida por eu ter visto um trecho do livro que ela lia, me perguntei se ela recriava aquelas cenas com o tal namorado. Tentei não imaginar aquilo, mas não consegui controlar os pensamentos. Olhei para suas mãos pequenas, as unhas pintadas de esmalte cor de rosa, e não encontrei nenhum anel de compromisso nos dedos finos. Minha mente curiosa precisava muito saber se ela era mesmo comprometida. — Beni é viciado em livros — Vincent comentou, como se quisesse esfregar na cara de Mila que eu ainda era um nerd. — Ele tem até óculos especiais para ler. Talvez você não falasse tanta besteira se lesse um pouco mais. Era quase impossível não notar o tom de deboche na sua voz. Franzi o cenho, arrependido de ter me aproximado. Vincent estava solteiro, poderia dar em cima dela sem precisar me diminuir. Não era seu concorrente. Mesmo que Mila me atraísse, eu não arriscaria levar um fora da assistente. — Você gosta mesmo ou ele só está te zoando? — Mila perguntou baixinho, deixando os lábios entreabertos, com a respiração acelerada. — Não leio muitos livros eróticos — falei baixo, para que só ela ouvisse. — Leio mais suspense e fantasia. — Eu também gosto de fantasia — ela disse, me olhando de uma forma que fez meu coração se contrair. — Não leio só livros eróticos. Assenti e voltei para a bateria, havia muito trabalho a ser feito. — Mila? Despertei num sobressalto ao ouvir uma voz chamar meu nome. Olhei em volta, perdida no escuro e pisquei os olhos até me dar conta de que estava em um quarto do Colline Hotel. — Mila? — a voz me chamou novamente. Era masculina e muito charmosa. Agarrei o rádio Nextel quando percebi que um deles estava me chamando. Será que eu tinha perdido a hora? O nome Benicio Larsson estava na tela do rádio. O relógio marcava 8h37. — Bom dia, Benicio — respondi, tentando não demonstrar a voz sonolenta. — Acordei você? — ele quis saber. Sua voz era tão... sexy, que acabei me lembrando do momento constrangedor em que ele descobriu o que eu lia no meu Kindle no sofá do estúdio. — Te acordei? — perguntou novamente quando não respondi. — Não. Eu já estou de pé — menti. — Ótimo. Preciso que vá comigo à cidade. Pode conseguir um carro? — Claro — garanti, como a profissional competente que eu deseja ser. — Te espero na minha suíte às nove. Tudo bem? — Sim — menti outra vez. Eu tinha menos de meia hora para organizar a ida de uma celebridade a Teresópolis, sendo que eu ainda estava na cama. — Posso saber o que vai fazer? Só para poder me organizar melhor. — Nada demais — Benicio disse. — Quero que me leve a uma livraria. Franzi o cenho com sua resposta. — Te beijo daqui a pouco, Mila. — O quê? — Te vejo daqui a pouco, Mila. Fiquei feito uma pateta, olhando para o teto no quarto escuro. Ele tinha errado a palavra ou eu é quem tinha me enganado? Ou ele fez de propósito? — Português não é sua primeira língua, muito menos a segunda, Mila. É claro que ele deve ter errado a palavra — murmurei, batendo com a palma da mão contra a testa. — Benicio Larsson não quer te beijar, até porque ele é muito bem casado. Não havia motivos para pensar sobre isso. Era só o sono da manhã me fazendo ouvir coisas. Um dia de trabalho e já estava ficando louca. Pulei da cama e corri para o banho, arrancando a camiseta larga que eu usava para dormir no caminho. Escovei os dentes embaixo do chuveiro e liguei para o motorista de plantão, enquanto me vestia. Esse se chamava Roberto. Pedi que ele ficasse de prontidão às nove em ponto, acompanhado de um segurança, só para garantir. Usando o primeiro shorts e blusinha que eu encontrei na mala, calçando um par de tênis, com o estômago vazio e a mente confusa, corri para pegar o elevador. Ao parar na porta da suíte de Benicio Larsson, olhei no rádio e vi que estava cinco minutos atrasada. — Maldição! — praguejei e o chamei no rádio. — Estou na sua porta. Em poucos segundos ele abriu. Falava ao telefone em sueco e gesticulou para que eu entrasse. Lambi meu lábio superior enquanto o seguia até o centro da sala, percebendo o quanto ele era alto e forte. Eu não chegava nem a altura do seu peito e caberiam duas Milas escondidas atrás dele tranquilamente. Sua suíte parecia um apartamento de luxo, com vidraças separando a sala do quarto, lustres pendendo do teto, abajures elegantes, detalhes dourados e mais vidraças que davam acesso à sacada, onde uma mesa de café da manhã estava preparada e intocada. Seu cheiro me envolveu. Me peguei pensando: se ele se perfumava assim só para ir a uma livraria de manhã, imagina como ficava cheiroso para ir a um encontro. Mas Benicio não tinha encontros, ele era casado. Então fantasiei como ele se perfumava para sua esposa. Devia ser incrível ter um marido como ele, educado, bonito, talentoso. Freja Larsson era uma mulher muito sortuda, apesar de ter um nome bem estranho. Fiquei tentando pronunciar Freja[i] baixinho, enquanto ele continuava falando ao telefone, parecia um assunto sério, mas eu não conhecia uma única palavra em sueco. Aproveitei sua distração para observá-lo sem que ele notasse. Devia ter mais de 1,90m de altura, o cabelo loiro escuro ainda estava úmido e jogado para trás, tinha feito a barba. A camiseta branca não era justa do tipo "meninas,olhem para mim, agora estou indo à academia", só era do tamanho certo. A forma de suas costas largas aparecia no tecido. Correndo os olhos abaixo de sua cintura, fiquei de queixo caído. Que bunda era aquela? Nunca fui muito de reparar no traseiro dos homens, mas ali estava algo que valia a pena comentar. A calça escura emoldurava a bunda perfeitamente desenhada e as coxas grossas. Ele não era como esses homens que se matam para criar músculos nos braços e esquecem da parte de baixo, ficando com pernas tão finas que mais parecem palitos de dente. Benicio provavelmente tinha nascido com a puta de uma sorte. Possuía uma estrutura óssea perfeita, muita carne e músculos para cobrir os ossos, como um guerreiro viking muito sensual. Na certa, ele nem perdia horas e horas na academia, pois era gostoso por natureza. Muito gostoso. Senti inveja de sua esposa por um instante, depois me dei conta do quanto esse pensamento era tóxico e sacudi a cabeça para afastá-lo. Meu estômago reclamou, enquanto eu obrigava meus olhos a se desgrudarem da sua bunda e focarem nas torradas e nas frutas sobre a mesa. Uma xícara de café cairia muito bem, obrigada. Cruzei os braços e comecei a bater o pé no chão, inquieta, pensando que poderia ter comido, pelo menos, um pãozinho. — Já tomou café da manhã? — Benicio perguntou ao desligar o celular e enfiá-lo no bolso da calça. — Já, obrigada. — Dei um sorriso amarelo, desviando os olhos das frutas. — Tem certeza? Pensei ter ouvido seu estômago roncar. Arregalei os olhos enquanto lambia o lábio. Que vergonha! — Não precisa... Não se incomode. Não quero atrapalhar. Posso esperar no corredor ou na recepção — falei o mais rápido que consegui. — Tem comida suficiente para nós dois aqui. Não é incômodo. Eu insisto. Tinha algo na sua voz que me fazia querer ouvi-lo por horas. Talvez fosse um tipo estranho de magnetismo. Vencida pela fome, acompanhei o gesto da sua mão estendida, me deixando passar na frente até a varanda. Ter Benicio atrás de mim era como andar com um segurança particular — não que eu realmente soubesse como era ter um segurança —, fazia eu me sentir protegida. Enquanto me sentava na cadeira oposta à sua, não fiquei pensando em como ele era rico e importante, pelo contrário, de algum modo, consegui me sentir à vontade na sua presença, relaxei e me concentrei em saciar a fome. — É legal encontrar alguém que lê — Benicio comentou. — É mesmo — respondi, passando patê de peru em uma torrada. — Por isso te pedi para me levar a uma livraria. Quero que me ajude a escolher bons livros nacionais. Ler é uma das melhores formas de se adaptar a uma língua. — Livraria era o último lugar do mundo onde eu imaginava que você fosse querer ir numa segunda de manhã — observei, antes de dar a primeira mordida. — Confesso que ainda estou surpresa. — Não tenho cara de quem gosta de ler? Fiz que não com a cabeça, enquanto mastigava. — Gosto muito. Já li alguns livros brasileiros. Pensei naquilo por alguns segundos. Um homem bonito, com uma bunda muito sexy, com esse sotaque, covinhas, o cabelo incrível e ainda gostava de ler... Sua esposa tinha muita sorte mesmo! Qual era a probabilidade de eu encontrar alguém assim? Fiz um bico ao perceber que a inveja estava me dominando outra vez. Acho que ele percebeu minha mudança de humor, porque ficou em silêncio até terminar o café e durante toda a viagem. — Conhece uma livraria mais reservada? — ele quis saber quando entramos na cidade. Fiz que sim com a cabeça e instruí o motorista a nos levar. No estacionamento, ele colocou um boné preto e óculos de grau. Quando entramos na livraria, o levei direto para a seção de clássicos da literatura nacional. O ambiente estava vazio, exceto por um funcionário que organizava uma prateleira e não ficou prestando atenção em nós. O apresentei livros que já tinha lido no colegial, alguns ele conhecia pelos títulos em inglês. Separamos alguns e acabamos indo parar na seção de fantasia. Tínhamos mesmo gostos em comum. Apreciávamos livros que narravam sobre mundos distintos, seres mágicos, aventuras. Livros com mais de seiscentas páginas. Benicio conseguiu encontrar algumas séries que eu não tinha lido ainda e se ofereceu para comprá-las para mim. Recusei a princípio, me sentindo constrangida, mas acabei cedendo, afinal eram livros, a coisa que eu mais gostava de comprar na vida. — Seu namorado também lê fantasia? — ele perguntou despreocupado, sem me encarar, enquanto folheava um livro aleatório. Dei meu sorriso amarelo e puxei um volume grosso da prateleira. — Não tenho namorado. Senti seus olhos me investigando por um momento. Isso me deixou envergonhada, mas tentei disfarçar. Virei o rosto na sua direção. Benicio havia tirado os óculos e me encarava com curiosidade. Seus olhos azuis estavam ainda mais escuros. Me lembrei de ter lido um livro de contos, onde dizia que olhos azuis escuros eram uma característica do povo escandinavo. — E sua esposa? — perguntei baixinho. Meu coração estava começando a bater mais forte, mas não havia nenhuma explicação para isso. — Não, ela não gosta de ler — ele disse ao devolver o livro para a prateleira, trincando o maxilar e fitando o nada por um momento estranho, como se a menção a ela o incomodasse. Senti o clima ficar pesado à nossa volta, repassei minha pergunta na cabeça, tentando encontrar uma razão para ele ter ficado tão tenso, mas não consegui pensar em nada. — Tem espaços para leitura e café no andar de cima — comentei, na expectativa de amenizar o clima. — Quer ficar um pouco lá? Ele esfregou o polegar no lábio inferior, ainda com o olhar distante, sem se dar conta de que estava fazendo isso, e balançou a cabeça positivamente. Pegamos nossas pilhas de livros e seguimos até a escada. Fui na sua frente, ciente de que meu shorts era curto e que Benicio podia olhar para minhas pernas enquanto subíamos. De certa forma, isso não me incomodou. Meu corpo estava quente quando chegamos à sala de leitura. Me senti tentada a levá-lo até a mesa mais distante, mas acabei indo para a mais próxima das escadas, onde colocamos os livros e nos sentamos em poltronas lado a lado. Peguei um exemplar e comecei a folheá-lo na esperança de relaxar por alguns minutos. Mas tinha algo que não permitia que eu me concentrasse no prólogo. Meu coração batia muito forte, minha pele estava sensível à brisa que soprava por duas janelas abertas. Mordi o lábio com força, e virei o rosto devagar para observá-lo e o vi com os olhos no livro aberto sobre a mesa, tinha voltado a colocar os óculos de leitura. Ele estava inclinado naquela direção, parecia concentrado, com a mão direita agora sobre o braço da poltrona. Dava para ver as veias saltadas que subiam do dorso na mão até seu antebraço. A aba do boné fazia sombra no seu rosto. Mesmo assim, dava para ver as sardas e os pequenos sinais em seu maxilar. Parecia um menino tímido, perdido em um mundo de fantasia. Era muito fácil esquecer o resto o olhando assim. Meu coração quase explodiu quando estiquei a mão e toquei uma das veias. Me senti ousada ao fazer isso. Meu corpo ficou mais quente. Desisti de ler. Benicio virou a palma para cima, como se estivesse gostando do meu toque, e eu comecei a traçar as linhas de sua mão com a ponta do meu dedo indicador. A pele era áspera e minha mão pequena se perdia dentro da sua. Passei a língua nos lábios e tentei manter a respiração regular, mas estava difícil. Então ele começou a acariciar as veias do meu pulso, deixando seu dedo escorregar para cima. Era só um gesto simples, um carinho inocente, mas me fazia imaginar e sentir um monte de coisas nada inocentes. Lambi os lábios desejando com todas as forças que Benicio não parasse. — Tem alguém vindo? — perguntou com um sussurro, passando o dedo pelo meu antebraço. Sua voz me fezincendiar. — Não — respondi ao olhar para a escada. O senti se aproximar, o rosto se inclinando na minha direção. A ponta do seu nariz tocou levemente no meu pescoço e eu estremeci. — O que está fazendo? — perguntei baixinho, mas fui interrompida por uma voz que chamava meu nome no Nextel. Era Ariele, minha amiga que estava estagiando como assistente de Caleb Hayden. Pisquei os olhos e me afastei de Benicio. O que diabos tinha acontecido entre nós? — Fala. — Atendi o rádio. — Bom dia para você também! — Ariele disse com sarcasmo. — Está ocupada? — Bom dia. Estou na cidade com Benicio Larsson. Precisa de alguma coisa? — eu disse, tentando parecer o mais profissional possível. — Só liguei para saber se tinha alguma novidade. A gente conversa depois. Beijo. — Beijo — respondi, ficando de pé e enfiando o rádio no bolso. Me virei para Benicio. — Não sei o que falaram para você sobre as assistentes, mas por favor, não tenha uma ideia errada a meu respeito. Sem esperar sua resposta, segui para as escadas e saí da livraria, o deixando para trás. Entrei no carro e bati a porta com força. — Merda! — praguejei sem me importar com as perguntas do segurança sobre onde estava o cantor. Não sei o que era pior, não saber se ele realmente tinha dado em cima de mim ou ter gostado. Precisava me concentrar nos meus deveres, manter o foco, lembrar de quem eu era e a carreira que queria seguir. Não podia ficar deslumbrada, tinha que manter meus pés no chão. Alguns minutos depois que saí da livraria, Benicio abriu a porta do carro e, com a ajuda de um funcionário, colocou pilhas de livros no banco ao meu lado. Deu uma gorjeta em euros para o rapaz e entrou. Passando os olhos pelas capas, vi os que ele tinha escolhido para me dar. — Não vou aceitar esses livros — murmurei, me impondo. Benicio deu um aceno de cabeça e começou a mexer no seu iPhone. Minhas mãos ainda tremiam, mas me controlei e consegui ignorá-lo durante a viagem de volta ao Colline. No restaurante do hotel, na hora do almoço, os três se reuniram para comer e conversar. Sentei junto com eles e fiquei feliz por Vincent Cavallari e Adrian Jacob me tratarem muito bem e me deixarem participar da conversa, enquanto Benicio Larsson fazia uma chamada de vídeo com sua bela esposa. Não queria ficar reparando, mas sua mandíbula ficou tensa durante toda a chamada, como tinha ficado quando perguntei se Freja gostava de ler. Queria com todas as forças esquecer o toque da sua mão, mas era como se seus dedos tivessem deixado um rastro de fogo na minha pele. Eu tinha que esquecer, estava começando a considerar que Benicio e sua esposa tinham problemas conjugais, e a última coisa que eu queria era ficar pensando naquilo. — Já está apaixonada? — O sussurro de Ariele contra meu ouvido me fez saltar na cadeira. — O quê? — perguntei mais alto do que pretendia. Agachada ao meu lado, ela o indicou com o queixo. — Você está olhando para Benicio Larsson como uma boba apaixonada — cochichou para que só eu ouvisse. — Começou a usar drogas? — perguntei com ironia. — Você só pode estar drogada para falar uma merda dessas. — Não se faça de besta! Não culpo você, ele tem cara de quem tem um beijo muito gostoso — ela sussurrou com malícia. Dei um tapa nada delicado no seu ombro. — Ai! — ela gritou, o que fez com que os três nos olhassem. — Essa é Ariele Ribeiro, assistente de Caleb Hayden — a apresentei depressa para os rapazes da banda. — Ela é uma grande fã de vocês. A indiscreta da minha melhor amiga os cumprimentou, um a um, com um abraço e um beijo no rosto, antes de dizer que precisava ir. Por sorte, não tinha dado nenhuma demonstração de tietagem, o que era contra as regras dos assistentes. — Não sei se você pesquisou no Google sobre eles — ela sussurrou no meu ouvido ao se despedir de mim —, mas, caso não tenha feito, saiba que Benicio é casado. Tem até filho. — Vou matar você! — gritei, descontrolada com as idiotices dela. — Juro que vou! — Tem alface grudado no seu dente — ela ainda teve o atrevimento de dizer em alto e bom som antes de se afastar. Quase a chamei de vaca, mas estava ocupada passando a língua nos dentes e abrindo a câmera frontal do celular, só para constatar que ela tinha blefado. Vincent estava rindo. — Vocês devem ser muito amigas para serem tão gentis uma com a outra — ele brincou. — Você nem faz ideia — respondi. Me policiei para não deixar Benicio entrar no meu campo de visão novamente. ♫♫♫ — Já conseguiu o piano que te pedi? — Adrian Jacob perguntou ao se virar para mim na sua cadeira giratória do estúdio gelado. — Ainda não — respondi no susto. A ida com Benicio à livraria me distraiu tanto que acabei esquecendo de fazer isso. — Mas já estou providenciando. Era mentira. Urgh! Ele concordou com a cabeça e me pediu para buscar bebidas e petiscos. Benicio me seguiu para fora do estúdio. — Se precisar de alguma coisa, é só pedir que eu busco — comentei. — Só quero caminhar um pouco — ele disse e depois fez uma careta, como se tivesse falado alguma besteira. Mordi o lábio e comecei a andar na direção do elevador. Benicio seguiu ao meu lado, com os ombros largos, as coxas grossas por baixo da calça. Pensei que ele poderia tranquilamente me defender de qualquer ameaça se estivéssemos em um livro de fantasia. Se me encontrasse ferida, Benicio me pegaria no colo e me seguraria bem perto do seu peito, me passando segurança. Ri baixinho dos meus pensamentos quando chegamos ao elevador mais próximo. O que ele diria se soubesse o que se passava na minha cabeça nesse momento? Acima da porta de aço polido, observei os números dos andares por onde o elevador passava, e parecia estar parando em cada um deles. — Concordei quando você disse que não queria os livros, mas eu adoraria que aceitasse — ele disse com gentileza, encarando a porta à nossa frente. Pensei por um instante, mas não consegui encontrar nenhuma desculpa para recusar. — Podemos ir até a minha suíte pegá-los? — Benicio continuou. — Primeiro os petiscos e as cervejas — o lembrei. — Tudo bem e... — ele disse e fez uma pausa, se virando para me encarar. Era preciso erguer o queixo para olhá-lo. — Não tenho nenhuma ideia errada sobre você. O encarei, pasma, sem saber o que dizer, mas por sorte, o elevador chegou. Apertei o botão do restaurante e a porta se fechou. Todos os lados do elevador, incluindo a porta, eram revestidos com espelhos que me davam uma ampla visão de nós dois. Ostentação. Havia duas garotas lá dentro. Uma era ruiva, cheia de sardas e a outra era uma garota de pele marrom e rosto de anjo. Sabia que a ruiva se chamava Abigail e que havia sido selecionada para ser assistente de Nils Edberg, um DJ sueco famoso, de quem eu era muito fã. A menina com rosto de anjo era da mesma turma que eu na faculdade, se chamava Vitória e estava estagiando como assistente de um cantor canadense chamado Norman Green. As cumprimentei e tentei ficar o mais distante de Benicio possível. Ele usava jeans escuro e uma camiseta preta. Meus olhos foram atraídos para sua bunda, mas consegui me controlar. Sorri vitoriosa. No segundo andar, as garotas saíram do elevador, nos deixando a sós. — Meu casamento não está bem — ele disse assim que as portas se fecharam, me pegando de surpresa com sua revelação. — Mas ninguém sabe disso, nem mesmo Vin ou Adrian. — E por que está me contando? — perguntei, sem saber o que pensar, zonza com a forma inesperada como meu coração acelerou. — Eu não sei — murmurou, olhando para os próprios pés antes de me encarar com os olhos azuis tão profundos que dava vontade de mergulhar dentro deles. — Foi por isso que ficou tenso quando perguntei se ela gostava de ler? — Não era para você perceber — ele disse e deu um sorriso tímido, como se tivesse sido pego no flagra. — Maseu percebi. Acho que você se entregou — comentei, ouvindo o plim de sinal da porta do elevador sendo aberta. De certa forma, por mais que meu coração quase explodisse dentro do meu peito a cada palavra que Benicio dizia, era incrível conversar com ele, me dava vontade de ouvir sua voz e de ficar perto dele pelo resto da noite. — Não quero que ninguém saiba, por favor. — Não vou comentar — o garanti, caminhando na direção da despensa da cozinha, onde ficava o estoque de comida do hotel. — Nem mesmo com Ariele, que é minha melhor amiga e super fã de vocês. Pode ficar tranquilo. — Obrigado. Senti meu coração reagir estranho. Eu queria acreditar que ele estava falando a verdade, que realmente passava por problemas no casamento, mas por que não tinha contado nem para os amigos de banda? Por que guardar segredo deles? Ele deve estar mentindo para você, sua tola. Mas por que Benicio mentiria sobre isso? Por que ele quer te comer!, as vozes da minha cabeça responderam em tom debochado. Soltei um riso sarcástico e silencioso, respondendo a elas mentalmente que Benicio Larsson não queria me comer. Então por que ele te seguiu até aqui?, uma das vozes insistiu. Sacudi a cabeça para silenciá- las. — O que foi? — ele quis saber. — Não é nada. Senti meu rosto arder por ele ter reparado na minha reação. Na entrada da despensa, notei que ele reparava mais em mim do que era esperado que um rockstar como ele reparasse em uma reles estagiária. Quando entramos, tratei de encher uma grande sacola com salgadinhos e outros petiscos o mais rápido que consegui, nervosa por minhas mãos esbarrarem nas suas a todo instante. Ele insistia em me ajudar. Saímos da despensa, com Benicio carregando três engradados com garrafinhas do tipo long neck de Heineken. Mesmo eu tendo insistido sobre ser capaz de levar tudo sozinha ou pedir ajuda a algum funcionário, ele nem me deu bola. Quando pegamos o elevador novamente, havia alguém lá dentro. Nils Edberg nos cumprimentou quando entramos, no mesmo sotaque sueco do Swedish Legends. Meu coração saltitou no peito, porque era o Nils Edberg! Meu DJ favorito, para quem eu desejava tanto estagiar. Usei todas as forças para não me atirar em cima dele como uma fã desesperada. Além de ser ridículo, com Benicio ao nosso lado, agarrá-lo iria contra as normas dos assistentes do evento: “é proibido abraçar, tentar rasgar as roupas, pedir autógrafos, ou qualquer outra manifestação de tietagem”. Droga! Não era assim que eu deveria vê-lo pela primeira vez: carregando sacolas e acompanhada. Nils Edberg era quase tão alto quanto Benicio, só que bem mais magro — me fazia lembrar um geek viciado em jogos eletrônicos. Ele tinha a minha idade, vinte e dois anos. Usava roupas simples: calça jeans, camiseta cinza e boné com a aba virada para trás. O cabelo era loiro claro; e o rosto, simplesmente lindo. Apesar de ser louca por Nils, se eu tivesse que escolher entre um dos dois, ficaria com Benicio, por causa da sua bunda, do seu jeito fofo, do timbre de sua voz e das coisas que ele fazia eu sentir — se fosse, solteiro, claro. Como se algum deles fosse te querer. Esqueceu que você levou um pé na bunda do único cara com quem namorou? E Alison nem era tão bonito, muito menos famoso, se poupe!, as vozes na minha cabeça debocharam. Os dois trocaram algumas palavras em sueco e, enquanto eu apertava o botão do décimo andar, pensava que seria bom tomar um banho gelado para acabar com a devassa que queria se libertar dentro de mim. Quando voltamos ao estúdio, Benicio disse para os amigos que já ia dormir e que eu também poderia ir descansar. Relaxei, agradecida e cansada, quando Vincent e Adrian concordaram. O segui para a caixa de espelhos e fomos até sua suíte. Os livros estavam empilhados no sofá de couro branco da sala. Pela porta de vidro, vi a cama do quarto, enorme e arrumada com lençóis e colchas brancas. Por um segundo, fiquei me perguntando como era ter uma vida tão confortável e glamourosa. Ariele havia me dito que Freja, sua esposa, não era ninguém quando se conheceram, que ela só virou modelo e influencer depois de começar a namorar Benicio, que já era muito famoso. Como algumas pessoas podiam ter tanta sorte assim, enquanto minha mãe e eu mal conseguíamos pagar as contas mais básicas de casa? Murchei os ombros, ainda encarando o quarto, envergonhada da minha vida cheia de privações. Em seguida, fiquei envergonhada por sentir vergonha, o que foi ainda mais frustrante. — Vamos? — Benicio me chamou. — Pelo menos me deixe carregar os livros. — É o mínimo que eu posso fazer, enquanto você tem que ficar acordada até essa hora por nossa culpa. — É o meu trabalho — argumentei, mesmo que não estivesse sendo paga por isso. Seria compensada com a experiência de estagiar em algo tão importante. — Sou perfeitamente capaz de carregar alguns livros. — Mas sou incapaz de deixar você fazer o trabalho pesado — ele respondeu. — Você é Benicio Larsson, vocalista do Swedish Legends, eu sou a assistente. Ele me encarou por um instante, como se eu tivesse dito alguma coisa idiota, então, segurando junto ao abdômen a pilha com mais de uma dúzia de livros com apenas uma das mãos, gesticulou para que eu fosse na frente. Quando o elevador se fechou, com todas as paredes revestidas de espelhos, minha visão foi atraída pelo corpo de Mila. Fiquei imóvel, olhando para sua bunda arredondada, com o corpo pulsando de desejo. Ela era gostosa pra caralho, mas eu nunca tentaria algo com ela, mesmo que já estivesse publicamente divorciado, não iria me envolver com ninguém além de uma noite de sexo, pelo menos nos próximos dez anos. Não dava para estragar a convivência com Mila só porque meu pau ficava duro sempre que ela chegava perto. Por sorte, a porta do elevador se abriu no oitavo andar e um casal entrou de mãos dadas. — Mila — o rapaz, que não deveria ter mais que vinte três anos, cumprimentou minha assistente. — Oi, Dennis — ela respondeu com um leve aceno de cabeça. Notei que eles já deviam ter intimidade, já que ele a chamava de Mila e não de Emily. Senti o cheiro de álcool invadir o elevador e observei a garota morena que o acompanhava. Os dois aparentavam estar bêbados. Passaram para os fundos do elevador, ao meu lado, e começaram a se pegar sem o menor pudor. Dei alguns passos à frente e parei ao lado de Mila. Ela estava respirando pela boca enquanto, pelo espelho, eu podia ver o rapaz erguendo a saia da morena. A mulher gemeu. Mila arfou. Seus olhos estavam arregalados, seu peito subia e descia enquanto ela tentava manter a atenção em suas mãos. O casal começou a transar atrás de nós. Pornô gratuito. Eu teria lidado bem com a situação se não fosse pela garota ao meu lado e pela pilha de livros na minha mão, me fazendo parecer o virgem nerd que eu era no ensino médio. Me dei conta do quanto queria fazer aquilo com ela: sexo bem ali, no elevador, sem vergonha, sem planos, sem rotina, só ceder ao tesão violento que estava me consumindo. Queria afogar dentro dela os meses de carência, as frustrações, acabar com aquela tortura, encontrar um alívio. Vi Mila erguer as mãos para apertar um botão do elevador, provavelmente tentando descer antes do seu andar. Meu corpo inteiro queimava, enquanto o rapaz entrava e saía da garota atrás de nós. Segurei a mão de Mila antes que ela apertasse o botão e entrelacei nossos dedos. Naquele instante, esqueci das minhas promessas de não me envolver com ela. Esfreguei meus dedos nos seus. Sua mão era macia, quente e pequena. Tínhamos só alguns segundos até o elevador chegar ao segundo andar. Virei o rosto na sua direção e ela fez o mesmo, enquanto meus dedos acariciavam a palma da sua mão. Então Mila me lançou o olhar com um brilho carregado de desejo. Meu corpo incendiou e o pau latejou quando ela mordeuo lábio inferior. Nós dois queríamos aquilo. Levei sua mão até a altura do meu rosto, acima da pilha de livros e, sem raciocinar, inclinei a cabeça para baixo e mordi a pele que cobria os nós dos seus dedos. Virei o corpo na sua direção, sem um pingo de juízo, pronto para matar meu desejo de agarrá-la, quando a maldita porta do elevador se abriu. Ela puxou a mão da minha e saiu. Levei um segundo para piscar os olhos e me dar conta do que quase tinha feito. Deixei o casal promíscuo para trás e dei alguns passos largos até alcançá- la, estudando seu rosto com receio. — Não acredito no que acabei de ver — Mila comentou, enquanto caminhava, por sorte, não parecia chateada comigo, só constrangida. — Como eles não ficaram com vergonha de nós. — Nunca me senti tão nerd na minha vida, carregando um monte de livros de fantasia, enquanto um casal fodia atrás de mim — brinquei, a fazendo rir. — Mas todo mundo faz sexo, né? — Eu não faço — ela murmurou, parando diante da porta do quarto duzentos e dois. Ela é virgem? Não poderia ser. Ela era bonita demais, sexy demais. Uma mulher como ela não ficaria sozinha por tanto tempo. Mas ela não tem namorado, minha mente insistiu. Eu era virgem quando conheci Freja, mas ela não. Nunca pensei que poderia ser o primeiro homem na vida de uma mulher. Mas isso tinha sido antes daquela vagabunda destruir tudo. Trinquei a mandíbula, pensando em como ela costumava reclamar do tempo que eu passava lendo, de como não tínhamos quase nada em comum. Iludido, eu pensava que os opostos se atraíam muito mais. Era a merda de uma mentira. — Mais uma vez, obrigada pelos livros. Não precisava gastar dinheiro comigo — ela disse quando entrou no quarto. Entrei e coloquei os livros sobre a pequena mesinha junto à parede leste e dei uma boa olhada no quarto. Parecia com os quartos de hotéis onde ficávamos hospedados nas primeiras semanas da competição no programa de TV, que formou nossa banda. Tudo era simples: duas camas de solteiro, uma janela estreita com cortinas de um marrom deprimente, espelho de corpo inteiro, um armário estreito com alguns cabides vazios, uma mesinha, um par de cadeiras, além da mala de Mila jogada num canto do chão, provavelmente cheia de calcinhas tentadoras. — É um quarto muito mais simples que o seu — Mila comentou, segurando o encosto da cadeira com as duas mãos. Não consegui decifrar seu tom de voz, e as mechas de cabelo escuro e comprido cobriam parte do seu rosto, descendo até a altura da cintura. Estiquei a mão e afastei o cabelo, o colocando atrás da sua orelha. Mila me encarou com os lábios entreabertos, como se respirasse com dificuldade. — Nos vemos amanhã — murmurei, mesmo tentado a ficar um pouco mais. Fui até a porta que ainda estava aberta. Mila me seguiu e se inclinou para me abraçar, ficando na ponta dos pés, mas se deteve antes de tocar em mim. Me inclinei e beijei sua face quente, mais perto dos seus lábios do que pretendia. — Boa noite — ela disse, mas sentir sua boca tão perto da minha me desconcertou. Fiquei parado no corredor, sem conseguir desviar os olhos dos seus lábios carnudos. — Não acha que seria estranho ser visto entrando no meu quarto? — ela quis saber, segurando a porta. Ergui o rosto e vasculhei pelo teto, encontrando a câmera de segurança. — Seria péssimo — comentei, voltando a encará-la. — Ainda mais com os problemas no seu casamento — Mila acrescentou, seu humor tinha mudado depressa. — Não deveria ficar parado aqui, alguém pode contar para sua esposa. Eu queria dizer que não tinha mais esposa. O único problema de ser visto ali é que poderia pegar mal pra ela ter um homem “casado” na porta do seu quarto. Minha separação ainda era um segredo. Não queria que Mila se prejudicasse de alguma forma, ainda mais por minha culpa. As pessoas iriam julgá-la antes de saber a verdade, se o vídeo daquela câmera de segurança vazasse. A última coisa que queria era prejudicá-la Ia dizer isso a Mila, mas ela já tinha batido a porta do quarto na minha cara. Nos dois dias seguintes, tentei me concentrar na música. Acordei cedo, fiz uma hora de corrida pela propriedade do hotel, passei uma hora e meia na academia, tentando descontar as frustrações nos exercícios, e passei os dias e noites trabalhando na letra e melodia de duas canções. Na metade do quinto dia, meu advogado ligou e disse que Freja havia finalmente assinado o divórcio. Considerei pegar um avião e ir até Estocolmo para verificar se estava tudo certo, mas ele me garantiu que estava tudo em ordem e que só precisávamos esperar que o juiz marcasse a audiência para estarmos legalmente divorciados. Ele era advogado da nossa empresária Amy e da banda, e eu o conhecia há dez anos, por isso confiava nele para resolver tudo. A meu pedido, ele mandou uma cópia em pdf do pedido de divórcio assinado por Freja. Imprimi uma cópia na impressora do estúdio, sem que nem Adrian nem Vin soubessem e a levei para a minha suíte. Deitei na espreguiçadeira da varanda e fiquei olhando para o papel, tentando organizar meus sentimentos. Pensei que ficaria triste quando ela enfim assinasse, em luto pelos anos de relacionamento estarem terminados, mas só conseguia sentir alívio por em breve não ser mais ligado a ela, a não ser por Liam. Eu faria uma postagem nas redes sociais assim que o Tomorrow is Mystery Festival estivesse concluído, e então comemoraria meu estado civil com grande estilo. Meu coração ainda doía pela traição, mas não me sentia mais apaixonado por ela, curiosamente, eu não conseguia sequer lembrar do sentimento que tive por Freja. Era como se o amor já viesse morrendo há anos e a descoberta da traição fosse apenas a última pá de terra. Era noite. Pela sacada, dava para ouvir a música alta e as risadas, vindas da suíte de Caleb Hayden, que estava dando uma festa exclusiva para as pessoas solteiras hospedadas no hotel. — Solteiras — murmurei, rindo. Eu seria aceito se contasse? Pensei na bebida, nas drogas e nas mulheres que encontraria naquela festa, mas não me senti tentado a ir. Um jantar com Mila me parecia uma forma bem mais agradável de comemorar. Não um encontro, só um jantar para conversar sobre livros e séries. Sem nenhuma outra intenção. Conferi as horas, me perguntando se ela já tinha comido, e a chamei no rádio. — Mila? Ela não respondeu na primeira chamada, assim como na segunda e na terceira. Me perguntei se podia estar chateada por alguma coisa. Não havíamos conversado nos últimos dias, mas imaginei que ela deveria estar dando atenção aos outros membros da banda. Talvez ela ainda estivesse irritada pelo episódio na porta do seu quarto. Tomei um banho rápido, passei perfume e desci até o quarto duzentos e dois. — Emily? — a chamei pelo nome, insistindo uma última vez. — Oi, Benicio! Desculpa, eu estava no banheiro e não ouvi você chamar antes — ela respondeu depressa, parecia empolgada com algo. — Estou do lado de fora da sua suíte — informei, desconfiado. — Só um minuto. A porta se abriu alguns segundos depois, mas não foi Mila quem abriu. Fui atendido por uma garota ruiva e cheia de sardas. Ela estava usando um vestido sem alças vermelho e sandálias de salto. — Benicio Larsson — ela disse meu nome e suspirou. — Entra, Mila está aqui. Franzi o cenho e dei um passo para dentro do quarto, sem dar a mínima para a câmera lá fora. Levei um susto ao ver uma das camas de solteiro ocupada. Meu coração se apertou e senti o estômago revirar ao ver Vincent deitado na cama. Usava jeans, camiseta regata branca e coturnos. Mexia no celular, acomodado nos lençóis de Mila como se fosse íntimo dela. Senti minhas narinas inflamarem e minha garganta se fechar. — Precisa de alguma coisa? — ouvi Mila perguntar e me virei. Não estava preparado para vê-la linda daquele jeito. Vestia uma saia preta
Compartilhar