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A Virgem e o Rockstar - Sil Zafia

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Copyright© 2021 SIL ZAFIA
Revisão: Sophia de Castro
Capa: Sil Zafia
Imagens Diagramação: Sil Zafia
Diagramação: Kevin Attis
________
Dados internacionais de catalogação
(CIP)
SÉRIE POR TRÁS DA FAMA
LIVRO 1: A VIRGEM E O ROCKSTAR
1ª Edição
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura
contemporânea. 3. Romance
contemporâneo. 4. Romance erótico.
Título I.
________
É proibida a reprodução total e parcial
desta obra, de qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico, mecânico,
inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da
internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma
obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com
acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos desta edição são
reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo
Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de
janeiro de 2009.
Esta obra contém linguagem informal.
 
 
Sumário
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Referências
Agradecimentos
Na sequência
Deguste
Outras obras
Redes Sociais da autora
 
Este livro é uma adaptação da
série Nos Bastidores, a história foi
reescrita e os personagens ganharam
novos nomes. As cenas foram
reformuladas, dando leveza ao contexto.
Caso tenha lido, sinta-se à vontade para
reler e embarcar neste novo romance. 
Benicio Larsson é líder da banda
de rock mais popular da década. Após
uma grande decepção amorosa, decide
curtir a vida e nunca mais se apaixonar
novamente. Milionário e bonito, ele
pode ter qualquer mulher que desejar,
menos uma.
Mila Costa é uma universitária
doce e inocente, que sonha em trabalhar
no mundo das celebridades. Com a
família atolada em dívidas, ela vê uma
solução para seus problemas ao aceitar
o emprego de assistente da banda
Swedish Legends, que Benicio Larsson
divide com os amigos Vincent e Adrian.
O que a virgem e tentadora
assistente não imaginava, é que mexeria
com a cabeça do rockstar mais cobiçado
do momento. Completamente atraído por
ela, mas com o coração bloqueado para
uma nova paixão, o milionário propõe
uma única noite de sexo a Mila, a
entrega da sua virgindade e a promessa
de nunca mais ficarem novamente.
Ela sabe que se envolver com
alguém como Benicio seria sua ruína,
que o rockstar nunca poderia
corresponder seus sentimentos.
Mas o que fazer quando o desejo
fala mais forte que a razão, e a paixão é
inevitável?
Será que eles vão conseguir
manter a promessa de uma única noite?
 
Me sinto um tolo, um completo
idiota, enquanto o motorista dirige pelas
ruas geladas de Estocolmo. É uma das
piores dores que já experimentei.
Toco a aliança dourada no dedo
anelar e tenho vontade de atirá-la na
neve, mas sou covarde demais para
assumir publicamente que fui traído pela
minha esposa, que sem querer encontrei
nas suas coisas um celular, por onde ela
vinha trocando mensagens com outro
homem há quatro anos.
Eu não li tudo, porque a dor
crescente rasgava meu peito em dois a
cada frase lida. Não sei de quem era o
contato, não havia foto e estava salvo
como “amor”.
— Amor — resmungo, me
sentindo um merda por nunca ter
percebido que a mulher com quem eu
era casado, não passava de uma
mentirosa.
O celular era usado apenas para
isso, para falar com seu amante. Liguei
várias vezes para o número porque
queria ouvir a voz do filho da puta com
quem ela transava.
Freja estava na cozinha, reunida
com duas amigas, quando encontrei o
celular.
Fui até lá, tremendo de raiva,
considerando fazer uma cena, mas me
controlei.
Era dia três de janeiro quando
descobri que meu casamento, admirado
e comentado por toda a Suécia, não
passava de uma palhaçada. Há menos de
três semanas de um evento muito
importante para minha carreira.
Engoli o ódio e subi para o
quarto de Liam, nosso filho de três anos.
Contei uma história para ele dormir,
enquanto tentava controlar a mente, que
insistia em calcular que aquele caso
tinha começado antes de Freja
engravidar.
Não queria sequer considerar a
ideia de Liam ser filho de outro cara.
Aquela dor poderia me derrubar, e eu
sabia que precisava continuar de pé.
A banda Swedish Legends, com
quem eu tocava desde os dezesseis anos,
havia sido convidada para um grande
festival chamado Tomorrow is Mystery,
no Brasil. E eu precisaria passar seis
semanas hospedado em um hotel, junto
com vários outros músicos, produzindo
músicas novas, criando parcerias e me
apresentando em diversos shows pelo
quinto maior país do mundo. Para uma
banda sueca de rock alternativo, era uma
oportunidade irrecusável, mesmo que já
tivéssemos alcançado reconhecimento
em boa parte do planeta. 
Todas as atenções do mundo da
música estariam voltadas para o Brasil
nas próximas semanas, devido a
grandiosidade do evento e no quanto ele
era aguardado. Eu não poderia tirar o
foco da banda revelando o fim do meu
casamento, mesmo que fosse quase
insuportável continuar fingindo ao
público ainda estar casado. Éramos um
casal influencer desde o namoro, tendo
holofotes aonde íamos. A mídia sueca
faria um estardalhaço com o anúncio de
um divórcio e estragaria o momento da
banda, o lançamento do próximo álbum.
Eu não poderia fazer isso com meus
colegas, Vincent e Adrian. 
Preferi engolir a mágoa e o
orgulho, pedi o divórcio e exigi segredo,
tanto por parte do meu advogado quanto
de Freja, decidindo que só
anunciaríamos o fim do casamento
quando eu voltasse do Brasil. Freja
concordou sem reclamar. Estava
disposta a tentar me reconquistar, fez o
maior teatro, mas eu sabia que não dava
para perdoar uma traição que durava
quatro anos. Ela não estava arrependida
de ter me magoado, nem mesmo de ter
arruinado a família que eu pensei que
permaneceria unida para sempre. 
Olhei para a frente e notei os
olhos do motorista me analisando, mas
disfarçou assim que foi flagrado. Me
perguntei se estava estampado na minha
testa que eu era um idiota por ter
acreditado que o meu amor valia alguma
coisa para alguém.
Engoli a saliva e repeti
mentalmente a promessa que vinha
fazendo a mim mesmo desde o começo
do mês: nunca mais entregar meu
coração a outra mulher para ela brincar
com ele como se não significasse nada.
No aeroporto, uma recepcionista
loira me levou até a área VIP, onde
encontrei Adrian Jacob — sempre o
primeiro membro do Swedish Legends a
chegar em qualquer ocasião.
Vincent Cavallari apareceu
alguns minutos depois.
— Já sinto falta de Hannah — ele
comentou, enquanto aguardávamos a
hora de subir a bordo do jatinho
particular da banda. — Mas resolvemos
que seria melhor dar um tempo.
— De novo? — perguntei,
desejando dizer a ele que terminar o
noivado era a melhor coisa que ele
poderia fazer, que as pessoas não tinham
mais consideração pelo amor, essa coisa
de casamento era uma palhaçada, e eles
iriam acabar se machucando no final,
mas engoli todos os meus comentários.
Não queria contar ainda, mesmo
que aqueles dois fossem meus melhores
amigos desde o fim da adolescência.
Não tinha coragem de admitir ter
descoberto uma traição. Conhecendo
Vincent como eu conhecia, ele
perguntaria se teria alguma chance de
Liam não ser meu filho. Simplesmente
não poderia lidar com aquela pergunta.
Me sentia envergonhado,
derrotado, sem saber direito o que fazer.
Apenas tinha em mente a promessa de
nunca mais cair naquela besteirade
amor outra vez.
— De novo — Vincent me
respondeu. — Mas pelo menos fomos
sinceros. Seis semanas é muito tempo e
as mulheres brasileiras são uma
perdição.
— Vai pegar geral? — Adrian o
questionou. — Acha que Hannah vai te
perdoar, como fez das outras vezes?
Adrian era um ano mais velho
que eu, mas algumas vezes falava como
se fosse nosso pai. Estava casado há
quatro anos com uma mulher chamada
Ivy e não tinha filhos. Ele era primo de
Freja, foi quem nos apresentou, e foi
meu padrinho de casamento. 
Não podia imaginar como Adrian
iria reagir quando soubesse do divórcio,
mas sabendo o quanto adorava a prima,
iria encontrar uma maneira de me culpar
por ter sido traído, como se eu não
tivesse feito tudo por ela nos últimos
anos, como se eu não tivesse entregado
todo meu amor a primeira e única
mulher com quem fui para a cama.
Aquilo era algo a ser
considerado. Eu era muito tímido na
adolescência, conheci Freja logo quando
formamos a banda. Era minha primeira
namorada e, apaixonado, casei com ela.
Dediquei dez anos da minha vida a ela,
crescemos juntos, conquistamos muitas
coisas, nunca pensei que aquela relação
acabaria um dia, ainda mais da forma
como terminou.
Os dois estavam comentando
sobre o que Vincent poderia ou não
fazer, já que estava “solteiro”, quais
comportamentos eram ou não adequados
para a imagem da nossa banda. Tanto
nossa agente, Amy, quanto Adrian,
faziam questão de preservar nossa
imagem desde o começo da carreira,
mas Vincent era o rebelde que acabava
aprontando uma vez ou outra, éramos os
bons garotos, depois os maridos bem
casados, e Vincent, o bad boy.
Os ignorava, com a cabeça cheia,
mexendo no celular, passando os olhos
pelo Instagram sem realmente prestar
atenção, quando recebi uma ligação de
vídeo de Freja. 
— Não vai atender? — Adrian
perguntou, se inclinando na minha
direção para ver a imagem do contato.
— Por que ela trocou a foto do perfil?
Adrian era invasivo demais em
se tratando do meu casamento.
— Eu também troquei —
respondi, tentando disfarçar o mau
humor. — Estávamos enjoados daquela
foto de casal.
Atendi a ligação, mesmo sem
querer. Sabia que ele não ia deixar
passar batido se eu recusasse.
Freja apareceu na tela com Liam
no colo, segurando sua mão gordinha e o
fazendo acenar para a câmera. Meu
coração foi espremido dentro do peito,
porque ter uma família para sempre era
tudo que eu mais queria, não me
importava de só ter conhecido uma
mulher, eu a amaria até que a morte nos
separasse.
Engoli o nó na garganta e tentei
dar um sorriso amarelo para o meu filho,
ignorando-a. Se ela soubesse o quanto
partia meu coração ligar assim, será que
ainda ligaria? Se imaginasse como seria
mais fácil esquecê-la se não tivesse que
ver sua imagem, será que ela
respeitaria? Imaginava que não, que
talvez ela continuasse insistindo até me
fazer perdoá-la, ligando, usando Liam,
perturbando meu juízo. Mas não dava
para perdoar alguém que não estava
arrependido.
Queria falar alguma coisa fofa
para meu filho, mas minha garganta
estava travada, por sorte, uma
comissária de voo se aproximou, nos
avisando que era hora de embarcar,
então pude encerrar a ligação.
 
 
 
Não tem mesmo como fazer
aquela troca? — perguntei para
Sebastian, em uma última tentativa de
me livrar do Swedish Legends.
Mordisquei o lábio inferior ao me dar
conta de que tinha feito aquele pedido
em voz alta. Sebastian Roux era um dos
organizadores do primeiro Tomorrow is
Mystery Festival no Brasil. Obviamente
ele não tinha tempo nem saco para ouvir
minhas tietagens. 
— Se não quiser o estágio, suma
da minha frente agora! — ele berrou da
sua mesa.
— Eu quero. É claro que quero.
Tudo bem — respondi e murchei os
ombros, tentando imediatamente
desfazer um vinco de preocupação na
testa.
— Agora vá, garota — ele
esbravejou, fazendo sinal para a porta
do seu escritório. — E lembre-se:
aqueles três são seus donos agora. Faça
tudo que eles quiserem sem reclamar.
Faça um boquete nos três ao mesmo
tempo se esse for o desejo deles. Sua
obrigação é deixá-los satisfeitos; não
quero ser incomodado com qualquer
chilique de celebridade.
Arregalei os olhos, perplexa com
suas palavras, mas tentei engolir as
reações.
— Tudo bem. Obrigada pela
oportunidade — agradeci antes de sair
para encontrar a banda da qual seria
“babá”, por seis semanas inteiras, antes
de o Tomorrow is Mystery Festival
começar.
Segui às pressas para a saída do
Colline Hotel, que estaria fechado para
vários músicos e seus respectivos
funcionários. Eles aproveitariam as
próximas semanas para produzir
músicas que iriam estourar no
Tomorrow is Mystery Festival, em
março, além de buscarem novas
parcerias e tudo mais. Um resort com
uma propriedade gigantesca, reservado
exclusivamente para eles.
Aquele estágio deveria ser minha
porta de entrada para o ramo de
produção de festivais de música, e eu
havia batalhado muito para chegar até
ali, não poderia desapontar ninguém.
Me colocaram dentro de um
luxuoso Hummer preto, especial para
transportar bandas. A porta foi fechada
fazendo um barulho oco. Engoli em seco
tentando memorizar tudo que sabia sobre
Swedish Legends. Tremi por dentro.
Conhecia as músicas mais
famosas da banda de rock alternativo
sueca, sabia que eles tinham se juntando
ao participar de um programa de TV,
onde foram escolhidos em votação
popular por toda a Suécia e ficaram em
primeiro lugar quando estavam no final
da adolescência, tinham estourado
mundialmente ainda no álbum de estreia,
se tornado a boyband mais famosa do
seu país, e que conseguiram manter o
sucesso por uma década. Fora isso, não
sabia a respeito de suas personalidades,
gostos pessoais, particularidades, nada.
Estava ferrada.
— Vincent é o tatuado, Benicio é
o grandão, e o que sobrar é Adrian —
murmurei. — Não posso cometer a gafe
de trocar os nomes. Simplesmente não
posso fazer isso. 
O motorista ligou o Hummer e
partiu em alta velocidade para o
heliponto do resort, a dois quilômetros e
meio da recepção do hotel. Fomos
seguidos por outro utilitário, também
preto, que levava funcionários
uniformizados para carregarem a
bagagem da banda, além de um
segurança, luxos que eu não estava
acostumada a presenciar.
O carro seguiu depressa pelas
curvas sinuosas da propriedade do
Colline, por entre as montanhas de
Teresópolis, na região serrana do Rio de
Janeiro. A cada metro percorrido, meu
coração ameaçava parar. Mesmo que
precisasse seguir três marmanjos por
seis semanas, ainda estaria entre vários
dos artistas mais importantes do mundo.
Era com aquilo que eu queria trabalhar
para o resto da vida.
Fui jogada para a frente quando o
automóvel fez uma curva brusca e parou.
Olhei pela janela de vidro fumê e vi o
grande H do heliponto.
O motorista, vestindo um terno e
um quepe, abriu a porta e me estendeu a
mão para que eu saísse. Me apoiei nele
e pulei para fora do veículo.
Tentei arrumar o vestido de linho
que havia pedido emprestado a Ariele,
minha melhor amiga e companheira de
estágio. Ele era justo, cor de vinho, e
ficava perfeitamente bem no corpo
magro de Ari, mas estava apertado
demais no meu quadril.
— Não vai rasgar! —
resmunguei, sentindo o sol das quatro da
tarde tocar minha pele.
Eu não tinha dinheiro para
comprar outro vestido de marca para
minha amiga, se tivesse, certamente não
precisaria ter pegado emprestado dela.
Na verdade, quase não tinha roupas que
me fizessem parecer a assistente de uma
banda famosa, e precisava me virar com
o que tinha, mas queria passar uma boa
impressão no primeiro dia, por isso fiz
Ari me emprestar um de seus vestidos
elegantes. Só deveria ter considerado
que o tubinho iria espremer minha bunda
e seios.
— Celular pessoal — murmurei,
na tentativa de abafar as marteladas do
meu coração —, confere. Nextel
confere.
Engoli em seco.
— Fique calma — o motorista
disse. Pude ver emseu crachá que ele se
chamava Daniel. — Você é meiga, eles
vão gostar de você.
— Impossível! — minha voz
soou desesperada. Eu mal sabia falar
inglês sem gaguejar, nunca havia
conversado com ninguém tão importante
assim e jamais tinha viajado para fora
do país. Esperava não passar vergonha e
me adaptar depressa a falar em outro
idioma o dia inteiro.
Daniel era um homem de meia
idade, quase careca, uns trinta
centímetros mais alto que eu, e algo no
seu semblante me passava um pouco de
segurança.
Meu celular vibrou com uma
mensagem da minha mãe desejando,
apesar de todos os pesares, um bom
início de trabalho, que aquele era
apenas um pequeno passo de uma longa
jornada, e blá blá blá. Corri os dedos
pela tela digitando rapidamente uma
resposta.
Mãe: “Obrigada, mãe! Estou
nervosa e acabo de ver o helicóptero
deles se aproximando; ligo quando for
possível. Te amo.”
Ao ver o pontinho preto no céu
vindo em nossa direção, enquanto
ganhava forma e tamanho, minha
ansiedade adquiriu novas proporções,
chegando a me corroer por dentro. Por
mais que seguir uma banda durante suas
“férias” no vale do sol parecesse tarefa
simples, não era. Atender determinadas
exigências de artistas mimados,
arrogantes e egocêntricos poderia trazer
algumas dores de cabeça. Por esse
motivo, mesmo sabendo que os três
estavam comprometidos, já tinha para
onde ligar, caso eles pedissem
prostitutas — ou prostitutos, nunca se
sabe o gosto de cada um — e também
tinha arranjado um contato que conhecia
alguém que vendia drogas; só não sabia
se ia dar conta de fazer, como disse
Sebastian, um boquete nos três ao
mesmo tempo.
— Controle a ansiedade! — O
grito de Daniel sobressaiu ao barulho
das hélices do helicóptero, se
aproximando cada vez mais. — Seu
nervosismo está passando para mim.
Em questão de instantes eles
pousariam.
Nunca vi um helicóptero tão de
perto!
O ruído frenético das hélices
parecia estar sincronizado com as
batidas do meu coração. Em menos de
um minuto, minha vida estaria entregue
nas mãos do trio por um mês e meio.
Nunca cheguei perto de homens
que valem milhões de dólares!
O helicóptero fez uma curva e
pairou acima das nossas cabeças.
Eles são três e eu sou apenas
uma!
A aeronave começou a descer
lentamente em linha reta.
Nunca conversei com suecos!
A menos de cinco metros do solo,
o vento proporcionado pelas hélices era
feroz e jogava areia contra minha pele
que ardia.
Deus, quem é quem mesmo?
Quais são os nomes? Quem sou eu? 
O helicóptero pousou.
Deveria ter desistido quando tive
oportunidade.
Só percebi que estava
completamente catatônica quando senti o
calor da mão de Daniel no meu ombro,
fazendo uma leve pressão para que eu
acordasse daquele transe.
— Eles são seres humanos como
você e eu.
— Não, não são — respondi por
entre os dentes.
O vento e o barulho começaram a
diminuir, então percebi que o motor do
helicóptero havia sido desligado para
que os músicos descessem. Permaneci
petrificada quando o primeiro apareceu
na porta lateral e desceu.
Tinha o cabelo escuro, era alto,
esguio e usava jeans rasgado e uma fina
camiseta branca, através da qual era
possível perceber as formas do seu
abdômen.
— Vincent Cavallari. — Esbocei
um sorriso vitorioso, feliz por tê-lo
reconhecido.
Me ignorando por completo, ele
passou por mim.
Ah, não! Deveria ter dito alguma
coisa. Tudo bem. Cumprimentarei o
próximo.
Em seguida desceu Adrian Jacob,
um pouco mais forte que Vincent, alguns
centímetros mais baixo, barba curta e
cerrada, cabelo escuro e parcialmente
coberto por um boné vermelho de aba
reta que estava virado para trás.
O cumprimente!, meu cérebro
gritou quando ele passou por mim. Fale
“olá” em algum idioma, mas diga
alguma coisa! Diga! Diga! Diga!
O mais alto de todos saiu do
helicóptero vestindo uma calça de sarja
preta e uma camiseta azul, tinha cabelo
loiro escuro, queixo quadrado e
visivelmente mais atlético que qualquer
um dos outros.
— Benicio Larsson — sussurrei,
percebendo que ele tinha o porte físico
que o fazia lembrar um guerreiro viking.
Ao passar por mim, ele inclinou a
cabeça para meu lado, só que estava de
óculos escuros e eu não consegui ter
certeza se ele realmente havia me
notado.
Apenas quando os funcionários
do Colline começaram a descarregar as
malas, é que me dei conta de que Daniel
não estava mais ao meu lado. Ainda
atordoada, e sem querer acreditar que
tinha ficado ali parada feito uma estátua,
sem dirigir uma palavra que fosse para
os rapazes, girei nos calcanhares em
com o coração ainda acelerado, forcei
minhas pernas a me levarem de volta ao
Hummer.
Daniel estava ao lado da porta de
entrada dos passageiros e estendeu a
mão para que eu conseguisse subir no
carro. Pude jurar que o último olhar que
ele me lançou foi de tristeza, enquanto
deslizava a porta, como se ele estivesse
com pena de me trancar com os tigres.
No interior do carro, me sentei
no espaço vago do banco mais ao sul, ao
lado de Vincent. Apenas o frigobar
separava nossas pernas. À minha frente
estava Benicio, e ao seu lado, Adrian.
Quando o carro começou a andar
rumo ao hotel, os três me olharam, e
dois deles começaram a conversar em
sueco, então não pude entender nenhuma
palavra do que falaram a meu respeito.
— Não se esqueçam do trato —
Benicio Larsson disse, usando um
português com sotaque, mas claro e
fluente. Sua voz era rouca, mas macia
como veludo.
Eles falam português? Como?
Os outros trocaram mais algumas
palavras no seu idioma, e Adrian Jacob
foi o primeiro a falar comigo.
— Então, você é filha do
motorista — sua pronúncia, bem como a
voz, era mais suave —, amiga do
segurança, ou só está pegando uma
carona?
— Eles sempre fazem isso —
Vincent Cavallari murmurou com uma
voz grossa e o sotaque carregado.
— Ah, não — respondi
rapidamente. As palavras enfim fluíam,
ao me dar conta de que eles pensavam
que eu estava ali de penetra. —
Desculpa não ter me apresentado antes.
Me chamo Emily Costa e serei a
assistente de vocês durante o tempo que
ficarem aqui no Brasil. Mas podem me
chamar de Mila, se quiserem. 
Os três começaram a me analisar.
Benicio Larsson tirou os óculos, e pude
ver de perto seus olhos azuis escuros,
num tom bem mais bonito que o da
camisa que ele vestia.
— Então você trabalhará para
nós? — Vincent Cavallari perguntou.
— Sim — respondi depressa,
tentando demonstrar com minha postura
que eu tinha capacidade para aquele
trabalho.
— E o que exatamente você vai
fazer por nós durante esse tempo? — foi
a vez de Adrian Jacob me questionar.
— Tudo que vocês precisarem —
respondi lentamente para que eles
entendessem cada palavra do meu
português —, desde pegar um café
fresquinho até resolver detalhes de
equipamento e estúdio. Qualquer coisa
que desejarem, é só falar comigo e
tratarei com os responsáveis. Uma
ligação, viagem, ensaio, cardápio
desejado...
— Que organizados vocês são!
— Adrian comentou.
— É a primeira vez que te vejo
dizer isso. — Vincent riu. — Se precisar
de um carro, você conseguirá um para
mim?
— O mais rápido possível. —
Minha voz saiu confiante, pois sabia que
eles estavam gostando de mim, exceto
por Benicio, que estava fitando a janela
com o cenho franzido, como se seus
pensamentos estivessem a quilômetros
de distância dali. Imaginei que ele
poderia estar pensando no seu filhinho e
na esposa, uma modelo e influenciadora
chamada Freja Larsson.
— Podemos ver seus olhos? — A
voz grossa de Vincent chamou minha
atenção outra vez.
Me dei conta de que ainda estava
usando óculos escuros.
— Ah, sim! É que meus olhos
doem com a luz do sol — menti com
naturalidade.
Os retirei e enfiei-os dentro da
bolsa que estava jogada no meu banco.
Dentro dela, encontrei os rádios que
deveria dar a eles.
— Tem um rádio Nextel para
cada um, assim vocês podem me chamar
rapidamente quando eu não estiver por
perto. Meu número está salvona agenda.
Distribuí os aparelhos e tentei
relaxar no banco, enquanto Hammer
subia a rampa de acesso a entrada do
Colline, me dando conta de que já
estava mentalmente exausta nas
primeiras horas de estágio. E sabia que
a pressão só iria aumentar.
— É bom chegar antes para se
adaptar ao lugar. — O som da voz de
Benicio Larsson tomou conta do saguão
do hotel, onde o check-in dos três
precisava ser feito.
Havia algo de singular no tom da
sua voz. Nunca tinha escutado um timbre
de voz como o dele e sabia que, a partir
do momento em que o ouvi falar pela
primeira vez, reconheceria sua voz em
qualquer lugar. O modo como ele
pronunciava cada palavra em português
fazia eu me sentir estranha de alguma
maneira que não consegui entender de
imediato. Mas eu estava muito
empolgada por eles falarem português
fluente, e o que sentia em relação à voz
de Benicio era um detalhe insignificante.
Fiquei tentada a perguntar quando
eles tinham aprendido meu idioma, mas
resolvi aceitar aquilo e agradecer
porque não precisaria me arriscar a
passar vergonha com um inglês precário
de quem nunca viajou ao exterior.
 
Por sorte, tive tempo de tomar um
banho rápido, arrumar o cabelo e vestir
uma roupa que não apertasse meu corpo,
após acomodar cada um deles em suas
suítes de luxo na cobertura do resort.
Cansada de tentar parecer mais elegante
do que eu era, vesti uma legging e uma
camiseta de mangas longas que me
manteria aquecida no ar-condicionado
do hotel. Desconsiderei os dois sapatos
de salto que havia trazido e calcei um
tênis de corrida, me sentindo quentinha e
confortável.
Imaginei que deveria sentar em
uma mesinha pequena para comer
rapidamente e os observar na espreita,
enquanto os rockstars aproveitavam a
refeição, pronta para correr até eles ao
menor sinal, em vez disso, fui convidada
para sentar à mesa com eles, me
fartando da mesma comida servida
àqueles homens milionários.
Os três aparentavam ser unidos
como irmãos, o que facilitou minha vida.
Era reconfortante saber que tudo estava
se encaminhando bem no primeiro dia.
Apesar de dois deles não serem nada
cavalheiros e falarem palavrões o tempo
todo, eu ainda não tinha precisado
comprar drogas nem tive que fazer um
boquete em nenhum. Com a boca suja
deles eu podia lidar facilmente.
Nunca ouvi tantas vezes e em
pouco tempo as palavras — se é que
poderiam ser chamadas assim —
“foder”, “boceta” e “caralho”. Era um
tal de “vou comer a boceta deles”,
“vamos fodê-los com força”, “vou foder
o caralho na boceta daquele lugar”,
“fodemos aquele lugar com penetração
dupla” entre outras coisas que não fazia
ideia do que poderiam significar. Até
dei umas boas risadas quando, sentado
ao meu lado, Vincent Cavallari se
dirigiu a Adrian Jacob a nossa frente:
— Se você me passar o sal, juro
que chupo sua buceta. 
Adrian olhou pasmo e sério de
Vincent para Benicio, que estava sério e
calado enquanto comia, me deixando
curiosa para saber se ele também tinha o
hábito de falar de forma tão vulgar como
os amigos.
— Eu nem sabia que tinha
boceta! — Adrian respondeu, me
fazendo rir mais alto do que pretendia.
Benicio não disse nada, mas
olhou na minha direção com o maxilar
trincado, como se pedisse desculpa
pelos amigos. Movi os lábios em um
silencioso “eu não ligo”, mas logo me
dei conta de que um sueco
provavelmente não conseguiria fazer
leitura labial em português.
Vincent riu ao meu lado, me
deixando ainda mais à vontade. Tive
vontade de dizer que eles eram muito
mais divertidos do que eu pensava, e
que estava feliz por trabalhar com eles,
mas, como aquele ainda era o primeiro
dia, resolvi ficar na minha.
Após o jantar, os acompanhei até
o estúdio reservado para a banda, no
décimo andar, equipado com vários
instrumentos. Munida com meu aparelho
Kindle, me acomodei em um sofá
confortável e aproveitei para ler,
enquanto eles experimentavam os
instrumentos e conversavam sobre
música.
Percebi que Benicio era o
principal compositor do trio, e já estava
com duas letras de música finalizadas.
Me senti importante, porque
provavelmente era uma das primeiras
pessoas a ouvi-las, além dos três.
Endireitei os ombros, tomada por uma
emoção que deixou os pelinhos dos
braços arrepiados ao perceber que eles
não me pediram para guardar segredo a
respeito das músicas, porque talvez
confiavam em mim.
Larguei o Kindle ao meu lado no
sofá, com o livro Meu CEO Arrogante 
aberto, me dando conta de que eles
estavam trabalhando na melodia,
acrescentando batidas eletrônicas que
me deixavam ainda mais arrepiada.
Levei a mão em concha até o
lábio, perplexa por estar presenciando a
criação de uma música que certamente
entraria no topo da Billboard. Será que
alguém acreditaria quando eu contasse?
Mais uma vez, agradeci em
pensamentos por ter ido contra minha
mãe e ter me inscrito naquele estágio
sem remuneração. Precisava ganhar
dinheiro para ajudar nas contas
atrasadas, e um estágio remunerado era
a melhor opção para as férias, mas não
pude desperdiçar a oportunidade.
Observei Benicio levantar-se de
sua cadeira giratória e ir até a bateria,
se sentando com as coxas grossas
cobertas pela calça jeans, a cintura
estreita e os ombros largos, alcançando
as baquetas e batendo no prato, enquanto
Vincent ajustava o baixo.
A música começou com uma
melodia que fez meu coração se ajustar
à batida, me deixando ainda mais
emocionada. Vincent começou a tocar
uma batida antes de Vincent adicionar as
notas eletrônicas, usando um MacBook,
então Benicio começou a cantar a letra
em inglês com sua voz macia, charmosa.
Foi quando senti vontade de
chorar pela grandiosidade do momento
que eu presenciava, que a ficha caiu.
Não poderia me deixar
deslumbrar por essa vida de glamour,
mas como seria a mesma Mila de antes
quando essas semanas passassem?
Ouvi a letra atentamente,
conseguindo traduzi-la mentalmente,
arrepiada com a letra que falava sobre
alguém que havia passado muito tempo
vivendo uma vida sem graça e que,
finalmente, tinha conseguido uma chance
de se destacar, de brilhar. A melodia era
tão envolvente que suspirei, pensando
que a letra combinava muito comigo,
levando uma vida pacata e finalmente
sendo presenteada com a oportunidade
de desabrochar e conhecer o mundo.
Benicio deu a última batida com
a baqueta e voltou seus olhos azuis
escuros para mim.
— Gostou? — ouvi sua voz
macia perguntar e precisei de um
segundo para entender que ele queria
saber minha opinião.
Arfei. Meu Deus, o vocalista do
Swedish Legends quer saber o que
achei da música que ele compôs.
— Estou toda arrepiada —
comentei, sem pensar direito.
Ele continuou me encarando,
sustentando meu olhar por um instante
constrangedor com uma expressão
indecifrável, e depois deu um sorriso
torto, fazendo aparecer uma covinha
adorável em sua bochecha.
Foi Vincent que começou a tocar
a próxima música na guitarra, mas essa
não era inédita. Ele só estava
acrescentando novos detalhes para a
próxima apresentação da banda.
Benicio se levantou e veio se
sentar ao meu lado, no sofá.
— O que está lendo? —
perguntou com o sotaque sueco
carregado, fazendo meu coração bater
um pouco mais rápido ao alcançar o
aparelho Kindle ao lado da minha coxa
e o segurar mais próximo do seu rosto.
Alcancei o Kindle e o puxei da
sua mão, porque não poderia deixar que
ele lesse a cena em que eu havia parado
a leitura. Bloqueei a tela, constrangida.
— É só um livro de autoajuda —
murmurei com o coração disparado.
— Um livro de autoajuda sobre
sexo? — Benicio perguntou com um
sussurro.
Meu rosto ardeu, porque ele
havia lido parte da cena em que Joanne
faz sexo oral em Daniel enquanto ele
filma tudo, no livro Meu CEO
Arrogante, do autor Kevin Attis.
Abaixei a cabeça, mas quando
voltei a encará-lo, suas bochechas
também estavam coradas. De perto,
dava para ver as sardas que o faziam
parecer tímido.
— Beni é o mais nerdde nós —
https://amz.run/4ZgD
Vincent disse, ao parar de tocar.
Mordi o lábio com força, não
esperava que os convidados mais
importantes do evento fossem dar tanta
atenção assim a uma estagiária.
— Desculpa por pegar o Kindle
da sua mão — pedi com a garganta
apertada de nervosismo.
— Eu não deveria ter mexido —
Benicio se desculpou.
Fiz uma careta, imaginando o que
ele poderia estar pensando de mim, mas
Adrian me chamou, e acabei esquecendo
depressa.
— Pode me conseguir um piano?
— ele quis saber.
— Um piano...? — Minha voz
soou insegura.
— Um só meu, bem ali naquele
canto — Adrian informou, apontando
para o lado leste do estúdio. — E cuide
para que ninguém além de mim toque
nele.
— Você precisa disso, tipo,
agora? — Eu estava entrando em pânico.
Onde arranjaria um piano no meio do
nada quase à meia noite?
— Hoje não! — ele deu aquele
sorriso simpático, me acalmando. — Só
preciso que seja essa semana.
— Vou dar um jeito nisso —
respondi tendo em mente que teria que
levantar no mínimo trinta minutos antes
do planejado para tentar falar com
Sebastian, aguentando seu mau humor e
gritos, e descobrir se haveria um piano
desocupado que pudesse ser de uso
exclusivo de Adrian. Caso contrário,
precisaria comprar um, além de cuidar
para que ele fosse transportado o mais
rápido possível ao Colline.
 
 
Ainda recordo a sensação. Me
lembro como se fosse hoje.
O sol estava se pondo quando
coloquei o pé em terra firme e dei o
primeiro passo para seguir meus colegas
de banda, com a porra do celular
vibrando sem parar no bolso da calça.
Me perguntava como em seis anos de
casamento nunca tinha percebido o
quanto Freja era irritante. 
Ela havia me ligado diversas
vezes durante o voo de Estocolmo até
São Paulo, e de São Paulo ao Rio de 
Janeiro, para perguntar se poderia levar
minhas roupas do quarto de hóspede de
volta ao “nosso” closet, se eu já estava
com saudades, se ela poderia vir me ver
no fim de semana, para me contar que
Liam tinha feito um desenho nosso, esse
tipo de chantagem emocional, que só
fazia meu desprezo por ela aumentar.
Sozinho na minha suíte da
primeira classe do avião, expliquei pela
milésima vez que não iríamos voltar,
que eu pegaria minhas roupas do quarto
de hóspede e levaria para um lugar que
não era da sua conta quando o evento no
Brasil terminasse, e que ela precisava
assinar a droga do divórcio o mais
rápido possível.
Nossos advogados já tinham
acertado os bens que ficariam com ela, a
divisão mais justa possível, as pensões
e como compartilharíamos a guarda de
Liam. Tudo que ela precisava fazer para
me libertar daquela merda de situação
era assinar o maldito nome no divórcio,
mas parece que me perturbar era seu
novo passatempo.
Ignorei suas chamadas e caminhei
para o carro que nos esperava. Como
sempre, havia uma equipe nos esperando
alguns metros adiante. Pisquei os olhos
para me adaptar à luz do sol de verão,
então eu a vi.
Estava ao lado do motorista. Ao
longe, era apenas uma silhueta feminina,
mas de perto era notável seu corpo
curvilíneo coberto por um vestido justo.
Tinha cabelos longos e um rosto bonito.
Ao passar por ela, pensamentos
pervertidos povoaram minha mente
perturbada, mas tentei afastá-los. 
Por mais que eu estivesse em
uma crise de abstinência de sexo
miserável, com a cabeça fodida e a
ideia de que nunca mais me envolveria
emocionalmente com ninguém, não ia
ficar desejando a primeira garota
gostosa que aparecesse na minha frente.
Iria aproveitar a vida como não
tinha aproveitado nos dez anos de
carreira, conhecer muitas mulheres e
experimentar cada uma delas sem me
apegar à droga de um sentimento. 
Entrei no carro e me acomodei,
enquanto Adrian e Vincent interrogavam
a garota de lábios vermelhos
provocantes, sentada no banco à minha
frente.
Disse que seria nossa assistente,
enquanto estivéssemos no Brasil.
Deixei meus olhos a examinarem
por um instante, sem que ela notasse.
Seu pescoço era fino, os seios fartos
pareciam apertados demais dentro do
vestido. Desci o olhar pela cintura fina
até encontrar o quadril, reparando na
calcinha branca que aparecia por que o
vestido estava enrolado nas coxas, um
segundo antes dela se ajeitar e cruzar as
pernas. 
Engoli a saliva, sentindo o corpo
queimar e o coração furioso escalando
pela garganta com aquela visão, a pouco
mais de um metro de mim. Me perguntei
se Adrian, sentado ao meu lado, também
tinha visto.
Fechei a cara e passei a me
concentrar na paisagem através da
janela. Emilly, ou Mila se eu preferisse,
continuava falando sobre o seu trabalho
e, por mais que eu tentasse, meus olhos
curiosos acabavam se voltando para ela
a pequenos intervalos de tempo. Era a
primeira vez que teríamos uma
assistente. 
Vincent já tinha notado o quanto
ela era atraente. Dava para ver o jeito
como a comia com os olhos, sentada ao
seu lado no banco. Teria que lembrar a
ele que não pegaria nada bem dar em
cima da assistente da banda, mas sabia
que, se falasse dessa forma, ele só teria
mais vontade de conquistá-la, para
depois descartá-la e fazer as pazes com
a noiva. 
Fizemos o check in no hotel e
subimos para nossas suítes. Mila
mostrou primeiramente o quarto de
Adrian, logo em seguida o de Vincent e,
por último, o meu.
Enquanto ela caminhava dentro
daquele vestido cor de vinho apertado,
abrindo portas e cortinas pela suíte,
acendendo e apagando luzes, explicando
como tudo funcionava da forma mais
prestativa possível, percebi como,
apesar do corpo curvilíneo, ela era
pequena, do tipo que eu poderia
carregar no colo sem nenhum esforço.
Quando ela se virou e me olhou
bem séria, com os olhos castanhos
arregalados, percebi que ela era muito
mais sexy do que as garotas que Vin
costumava paquerar, e que seria uma
missão, tanto para mim quanto para
Adrian, fazer ele não estragar tudo.
Vincent sempre fazia isso quando
saíamos em turnê. Só que, com Mila, as
coisas seriam diferentes, ela era nossa
assistente, ele não poderia simplesmente
descartá-la.
Será que ela tinha namorado? Eu
queria perguntar, mas tinha medo de ser
mal interpretado. Seria muito mais fácil
se tivesse.
Em um gesto involuntário, Mila
jogou o cabelo de lado e umedeceu o
lábio carnudo com a ponta da língua.
— Os outros marcaram jantar às
20h. Precisa de mais alguma coisa? —
ela perguntou.
— Estou bem — menti, para
poder ter um pouco de privacidade.
Experimentei dizer seu nome e
seu apelido em voz alta quando ela saiu,
e gostei mais de como Mila soava, fazia
minha língua tocar a ponta dos dentes.
 
 
 
Adrian e eu fomos os primeiros a
chegar ao restaurante do Colline.
Quando Vincent apareceu, começamos a
conversar sobre o que iríamos tocar na
primeira apresentação do Swedish
Legends no Brasil. Tentei, com toda a
minha força de vontade, focar nisso e
não ficar pensando em Freja, muito
menos em como descobrir quem era o
filho da puta com quem ela fodia.
Eu poderia contratar alguém para
descobrir, afinal tinha o número de
telefone, mas e depois? O que eu faria
com essa informação? Fazia tanta
diferença assim saber quem era o cara?
—... Outro efeito e depois os
fogos de artifício. Vão simplesmente
morrer — Vin dizia, sem fazer ideia da
confusão de pensamentos que me
atormentavam nos últimos dias. —
Vamos foder aquele lugar com
penetração dupla.
— Vamos dar conta do primeiro
show sem muito estresse — Adrian
respondeu com tranquilidade, o que era
estranho para o padrão Adrian Jacob. 
— Só vamos mandar ver — Vin
disse, enquanto passava os olhos pelo
cardápio. — Lançamos nossa primeira
música, fazemos um bom show, nada
demais. Aí poderemos focar no que
viemos fazer aqui.
— Ótimo. Vamos nos divertir
enquanto estivermos no Brasil. É disso
que se trata. — Estava comentando,
quando Mila surgiu, atravessando o
restaurante com pressa, parando sem
fôlego ao lado da nossa mesa.
O suposto namorado não era tãoimportante assim, afinal, ela tinha lhe
deixado em plena noite de domingo para
jantar com três rockeiros. 
— Boa noite — ela disse, me
olhando com um sorriso que exibia os
dentes claros, me puxando de volta das
lembranças de uma adolescência difícil,
demorei um segundo para entender que
ela iria me abraçar. Aquilo de abraçar o
tempo todo era muito comum no Brasil,
assim como em outros países latinos e,
ainda que eu fosse do sul da Suécia,
onde as pessoas são muito reservadas e
só têm esse tipo de liberdade após muito
tempo de intimidade, eu viajava muito
em turnês e já estava acostumado com
aquele tipo de carinho. 
— Boa noite — respondi,
ficando de pé. Precisei flexionar os
joelhos para que ela ficasse na altura
dos meus ombros. Mila ficou na ponta
dos pés e beijou minha bochecha,
encostando o corpo no meu por um
instante, mas foi o suficiente para eu
sentir seu cheiro doce.
Ela se afastou e me sentei outra
vez, ainda com seu aroma em volta de
mim. A observei se inclinar para
cumprimentar Adrian, quando ele não se
levantou. Ela ficou um pouco
constrangida, mas conseguiu disfarçar
muito bem.
Dando a volta na mesa, Mila
chegou até Vincent, sentado de frente
para mim, que também ficou de pé para
lhe dar boa noite, fazendo com que
Adrian parecesse um completo idiota
por ter permanecido sentado enquanto
ela ia toda educada falar com ele.
No movimento de encontrar o
pescoço de Vin, ela empinou a bunda na
minha direção e, por um segundo, não
consegui desviar os olhos. Vin apertou
Mila tão forte que os ossos dela se
estalaram. 
— O que tem de errado com
você, Beni? — Adrian quis saber. Só me
dei conta de que estava de cara fechada
quando todos se viraram para me olhar.
Obriguei meus olhos a focarem
no cardápio.
— É só... — a maldita carência
me fazendo ficar duro. Tive que
inventar uma desculpa. — Minha cabeça
dói. 
— Por que não descansou no seu
quarto? — Vincent perguntou depois de
ter soltado Mila.
— Estava ocupado.
— Com o quê? — Adrian quis
saber. 
— Trabalhando numa
composição — menti. Eu não queria
admitir nem mentalmente que tinha
batido uma pensado na nossa assistente
enquanto estava no banho. 
— Quer um remédio? — Mila
perguntou com a voz melódica.
— Não, obrigada — respondi de
imediato. O fato é que eu já não transava
com Freja muito antes de descobrir a
traição, e a carência estava fodendo com
a minha cabeça.
Adrian convidou-a para jantar
conosco e ela aceitou.
♫♫♫
No estúdio, acabei descobrindo
que ela gostava de livros eróticos.
Enquanto ela apertava o aparelho Kindle
contra o peito, constrangida por eu ter
visto um trecho do livro que ela lia, me
perguntei se ela recriava aquelas cenas
com o tal namorado. Tentei não imaginar
aquilo, mas não consegui controlar os
pensamentos. Olhei para suas mãos
pequenas, as unhas pintadas de esmalte
cor de rosa, e não encontrei nenhum anel
de compromisso nos dedos finos. Minha
mente curiosa precisava muito saber se
ela era mesmo comprometida.
— Beni é viciado em livros —
Vincent comentou, como se quisesse
esfregar na cara de Mila que eu ainda
era um nerd. — Ele tem até óculos
especiais para ler.
Talvez você não falasse tanta
besteira se lesse um pouco mais.
Era quase impossível não notar o
tom de deboche na sua voz. Franzi o
cenho, arrependido de ter me
aproximado. Vincent estava solteiro,
poderia dar em cima dela sem precisar
me diminuir. Não era seu concorrente.
Mesmo que Mila me atraísse, eu
não arriscaria levar um fora da
assistente.
— Você gosta mesmo ou ele só
está te zoando? — Mila perguntou
baixinho, deixando os lábios
entreabertos, com a respiração
acelerada.
— Não leio muitos livros
eróticos — falei baixo, para que só ela
ouvisse. — Leio mais suspense e
fantasia.
— Eu também gosto de fantasia
— ela disse, me olhando de uma forma
que fez meu coração se contrair. — Não
leio só livros eróticos. 
Assenti e voltei para a bateria,
havia muito trabalho a ser feito.
 
— Mila?
Despertei num sobressalto ao
ouvir uma voz chamar meu nome. Olhei
em volta, perdida no escuro e pisquei os
olhos até me dar conta de que estava em
um quarto do Colline Hotel.
— Mila? — a voz me chamou
novamente. Era masculina e muito
charmosa.
Agarrei o rádio Nextel quando
percebi que um deles estava me
chamando. Será que eu tinha perdido a
hora?
O nome Benicio Larsson estava
na tela do rádio. O relógio marcava
8h37.
— Bom dia, Benicio —
respondi, tentando não demonstrar a voz
sonolenta.
— Acordei você? — ele quis
saber.
Sua voz era tão... sexy, que
acabei me lembrando do momento
constrangedor em que ele descobriu o
que eu lia no meu Kindle no sofá do
estúdio.
— Te acordei? — perguntou
novamente quando não respondi.
— Não. Eu já estou de pé —
menti.
— Ótimo. Preciso que vá comigo
à cidade. Pode conseguir um carro?
— Claro — garanti, como a
profissional competente que eu deseja
ser.
— Te espero na minha suíte às
nove. Tudo bem?
— Sim — menti outra vez. Eu
tinha menos de meia hora para organizar
a ida de uma celebridade a Teresópolis,
sendo que eu ainda estava na cama. —
Posso saber o que vai fazer? Só para
poder me organizar melhor.
— Nada demais — Benicio
disse. — Quero que me leve a uma
livraria.
Franzi o cenho com sua resposta.
— Te beijo daqui a pouco, Mila.
— O quê?
— Te vejo daqui a pouco, Mila.
Fiquei feito uma pateta, olhando
para o teto no quarto escuro. Ele tinha
errado a palavra ou eu é quem tinha me
enganado? Ou ele fez de propósito?
— Português não é sua primeira
língua, muito menos a segunda, Mila. É
claro que ele deve ter errado a palavra
— murmurei, batendo com a palma da
mão contra a testa. — Benicio Larsson
não quer te beijar, até porque ele é muito
bem casado.
Não havia motivos para pensar
sobre isso. Era só o sono da manhã me
fazendo ouvir coisas. Um dia de
trabalho e já estava ficando louca.
Pulei da cama e corri para o
banho, arrancando a camiseta larga que
eu usava para dormir no caminho.
Escovei os dentes embaixo do chuveiro
e liguei para o motorista de plantão,
enquanto me vestia. Esse se chamava
Roberto. Pedi que ele ficasse de
prontidão às nove em ponto,
acompanhado de um segurança, só para
garantir.
Usando o primeiro shorts e
blusinha que eu encontrei na mala,
calçando um par de tênis, com o
estômago vazio e a mente confusa, corri
para pegar o elevador.
Ao parar na porta da suíte de
Benicio Larsson, olhei no rádio e vi que
estava cinco minutos atrasada.
— Maldição! — praguejei e o
chamei no rádio. — Estou na sua porta.
Em poucos segundos ele abriu.
Falava ao telefone em sueco e gesticulou
para que eu entrasse. Lambi meu lábio
superior enquanto o seguia até o centro
da sala, percebendo o quanto ele era
alto e forte. Eu não chegava nem a altura
do seu peito e caberiam duas Milas
escondidas atrás dele tranquilamente.
Sua suíte parecia um apartamento
de luxo, com vidraças separando a sala
do quarto, lustres pendendo do teto,
abajures elegantes, detalhes dourados e
mais vidraças que davam acesso à
sacada, onde uma mesa de café da
manhã estava preparada e intocada.
Seu cheiro me envolveu. Me
peguei pensando: se ele se perfumava
assim só para ir a uma livraria de
manhã, imagina como ficava cheiroso
para ir a um encontro. Mas Benicio não
tinha encontros, ele era casado. Então
fantasiei como ele se perfumava para
sua esposa. Devia ser incrível ter um
marido como ele, educado, bonito,
talentoso. Freja Larsson era uma mulher
muito sortuda, apesar de ter um nome
bem estranho.
Fiquei tentando pronunciar
Freja[i] baixinho, enquanto ele
continuava falando ao telefone, parecia
um assunto sério, mas eu não conhecia
uma única palavra em sueco. Aproveitei
sua distração para observá-lo sem que
ele notasse. 
Devia ter mais de 1,90m de
altura, o cabelo loiro escuro ainda
estava úmido e jogado para trás, tinha
feito a barba. A camiseta branca não era
justa do tipo "meninas,olhem para mim,
agora estou indo à academia", só era do
tamanho certo. A forma de suas costas
largas aparecia no tecido. Correndo os
olhos abaixo de sua cintura, fiquei de
queixo caído.
Que bunda era aquela?
Nunca fui muito de reparar no
traseiro dos homens, mas ali estava algo
que valia a pena comentar. A calça
escura emoldurava a bunda
perfeitamente desenhada e as coxas
grossas. Ele não era como esses homens
que se matam para criar músculos nos
braços e esquecem da parte de baixo,
ficando com pernas tão finas que mais
parecem palitos de dente.
Benicio provavelmente tinha
nascido com a puta de uma sorte.
Possuía uma estrutura óssea perfeita,
muita carne e músculos para cobrir os
ossos, como um guerreiro viking muito
sensual. Na certa, ele nem perdia horas
e horas na academia, pois era gostoso
por natureza. Muito gostoso. Senti
inveja de sua esposa por um instante,
depois me dei conta do quanto esse
pensamento era tóxico e sacudi a cabeça
para afastá-lo. 
Meu estômago reclamou,
enquanto eu obrigava meus olhos a se
desgrudarem da sua bunda e focarem nas
torradas e nas frutas sobre a mesa. Uma
xícara de café cairia muito bem,
obrigada. Cruzei os braços e comecei a
bater o pé no chão, inquieta, pensando
que poderia ter comido, pelo menos, um
pãozinho.
— Já tomou café da manhã? —
Benicio perguntou ao desligar o celular
e enfiá-lo no bolso da calça.
— Já, obrigada. — Dei um
sorriso amarelo, desviando os olhos das
frutas.
— Tem certeza? Pensei ter
ouvido seu estômago roncar.
Arregalei os olhos enquanto
lambia o lábio. Que vergonha!
— Não precisa... Não se
incomode. Não quero atrapalhar. Posso
esperar no corredor ou na recepção —
falei o mais rápido que consegui.
— Tem comida suficiente para
nós dois aqui. Não é incômodo. Eu
insisto.
Tinha algo na sua voz que me
fazia querer ouvi-lo por horas. Talvez
fosse um tipo estranho de magnetismo.
Vencida pela fome, acompanhei o
gesto da sua mão estendida, me
deixando passar na frente até a varanda.
Ter Benicio atrás de mim era como
andar com um segurança particular —
não que eu realmente soubesse como era
ter um segurança —, fazia eu me sentir
protegida.
Enquanto me sentava na cadeira
oposta à sua, não fiquei pensando em
como ele era rico e importante, pelo
contrário, de algum modo, consegui me
sentir à vontade na sua presença, relaxei
e me concentrei em saciar a fome.
— É legal encontrar alguém que
lê — Benicio comentou.
— É mesmo — respondi,
passando patê de peru em uma torrada.
— Por isso te pedi para me levar
a uma livraria. Quero que me ajude a
escolher bons livros nacionais. Ler é
uma das melhores formas de se adaptar
a uma língua.
— Livraria era o último lugar do
mundo onde eu imaginava que você
fosse querer ir numa segunda de manhã
— observei, antes de dar a primeira
mordida. — Confesso que ainda estou
surpresa.
— Não tenho cara de quem gosta
de ler?
Fiz que não com a cabeça,
enquanto mastigava.
— Gosto muito. Já li alguns
livros brasileiros.
Pensei naquilo por alguns
segundos. Um homem bonito, com uma
bunda muito sexy, com esse sotaque,
covinhas, o cabelo incrível e ainda
gostava de ler... Sua esposa tinha muita
sorte mesmo! Qual era a probabilidade
de eu encontrar alguém assim?
Fiz um bico ao perceber que a
inveja estava me dominando outra vez.
Acho que ele percebeu minha mudança
de humor, porque ficou em silêncio até
terminar o café e durante toda a viagem.
— Conhece uma livraria mais
reservada? — ele quis saber quando
entramos na cidade.
Fiz que sim com a cabeça e
instruí o motorista a nos levar.
No estacionamento, ele colocou
um boné preto e óculos de grau.
Quando entramos na livraria, o
levei direto para a seção de clássicos da
literatura nacional. O ambiente estava
vazio, exceto por um funcionário que
organizava uma prateleira e não ficou
prestando atenção em nós. O apresentei
livros que já tinha lido no colegial,
alguns ele conhecia pelos títulos em
inglês. Separamos alguns e acabamos
indo parar na seção de fantasia.
Tínhamos mesmo gostos em comum.
Apreciávamos livros que narravam
sobre mundos distintos, seres mágicos,
aventuras. Livros com mais de
seiscentas páginas.
Benicio conseguiu encontrar
algumas séries que eu não tinha lido
ainda e se ofereceu para comprá-las
para mim. Recusei a princípio, me
sentindo constrangida, mas acabei
cedendo, afinal eram livros, a coisa que
eu mais gostava de comprar na vida.
— Seu namorado também lê
fantasia? — ele perguntou
despreocupado, sem me encarar,
enquanto folheava um livro aleatório.
Dei meu sorriso amarelo e puxei
um volume grosso da prateleira.
— Não tenho namorado.
Senti seus olhos me investigando
por um momento. Isso me deixou
envergonhada, mas tentei disfarçar. Virei
o rosto na sua direção. Benicio havia
tirado os óculos e me encarava com
curiosidade. Seus olhos azuis estavam
ainda mais escuros. Me lembrei de ter
lido um livro de contos, onde dizia que
olhos azuis escuros eram uma
característica do povo escandinavo.
— E sua esposa? — perguntei
baixinho. Meu coração estava
começando a bater mais forte, mas não
havia nenhuma explicação para isso.
— Não, ela não gosta de ler —
ele disse ao devolver o livro para a
prateleira, trincando o maxilar e fitando
o nada por um momento estranho, como
se a menção a ela o incomodasse.
Senti o clima ficar pesado à
nossa volta, repassei minha pergunta na
cabeça, tentando encontrar uma razão
para ele ter ficado tão tenso, mas não
consegui pensar em nada.
— Tem espaços para leitura e
café no andar de cima — comentei, na
expectativa de amenizar o clima. —
Quer ficar um pouco lá?
Ele esfregou o polegar no lábio
inferior, ainda com o olhar distante, sem
se dar conta de que estava fazendo isso,
e balançou a cabeça positivamente.
Pegamos nossas pilhas de livros
e seguimos até a escada. Fui na sua
frente, ciente de que meu shorts era curto
e que Benicio podia olhar para minhas
pernas enquanto subíamos. De certa
forma, isso não me incomodou.
Meu corpo estava quente quando
chegamos à sala de leitura. Me senti
tentada a levá-lo até a mesa mais
distante, mas acabei indo para a mais
próxima das escadas, onde colocamos
os livros e nos sentamos em poltronas
lado a lado.
Peguei um exemplar e comecei a
folheá-lo na esperança de relaxar por
alguns minutos. Mas tinha algo que não
permitia que eu me concentrasse no
prólogo. Meu coração batia muito forte,
minha pele estava sensível à brisa que
soprava por duas janelas abertas.
Mordi o lábio com força, e virei
o rosto devagar para observá-lo e o vi
com os olhos no livro aberto sobre a
mesa, tinha voltado a colocar os óculos
de leitura. Ele estava inclinado naquela
direção, parecia concentrado, com a
mão direita agora sobre o braço da
poltrona. Dava para ver as veias
saltadas que subiam do dorso na mão até
seu antebraço. A aba do boné fazia
sombra no seu rosto. Mesmo assim,
dava para ver as sardas e os pequenos
sinais em seu maxilar. Parecia um
menino tímido, perdido em um mundo de
fantasia. Era muito fácil esquecer o resto
o olhando assim.
Meu coração quase explodiu
quando estiquei a mão e toquei uma das
veias. Me senti ousada ao fazer isso.
Meu corpo ficou mais quente. Desisti de
ler. Benicio virou a palma para cima,
como se estivesse gostando do meu
toque, e eu comecei a traçar as linhas de
sua mão com a ponta do meu dedo
indicador. A pele era áspera e minha
mão pequena se perdia dentro da sua.
Passei a língua nos lábios e tentei
manter a respiração regular, mas estava
difícil. Então ele começou a acariciar as
veias do meu pulso, deixando seu dedo
escorregar para cima.
Era só um gesto simples, um
carinho inocente, mas me fazia imaginar
e sentir um monte de coisas nada
inocentes. Lambi os lábios desejando
com todas as forças que Benicio não
parasse.
— Tem alguém vindo? —
perguntou com um sussurro, passando o
dedo pelo meu antebraço. Sua voz me
fezincendiar.
— Não — respondi ao olhar para
a escada.
O senti se aproximar, o rosto se
inclinando na minha direção. A ponta do
seu nariz tocou levemente no meu
pescoço e eu estremeci.
— O que está fazendo? —
perguntei baixinho, mas fui interrompida
por uma voz que chamava meu nome no
Nextel.
Era Ariele, minha amiga que
estava estagiando como assistente de
Caleb Hayden.
Pisquei os olhos e me afastei de
Benicio. O que diabos tinha acontecido
entre nós?
— Fala. — Atendi o rádio.
— Bom dia para você também!
— Ariele disse com sarcasmo. — Está
ocupada?
— Bom dia. Estou na cidade com
Benicio Larsson. Precisa de alguma
coisa? — eu disse, tentando parecer o
mais profissional possível.
— Só liguei para saber se tinha
alguma novidade. A gente conversa
depois. Beijo.
— Beijo — respondi, ficando de
pé e enfiando o rádio no bolso. Me virei
para Benicio. — Não sei o que falaram
para você sobre as assistentes, mas por
favor, não tenha uma ideia errada a meu
respeito.
Sem esperar sua resposta, segui
para as escadas e saí da livraria, o
deixando para trás. Entrei no carro e
bati a porta com força.
— Merda! — praguejei sem me
importar com as perguntas do segurança
sobre onde estava o cantor.
Não sei o que era pior, não saber
se ele realmente tinha dado em cima de
mim ou ter gostado. 
Precisava me concentrar nos
meus deveres, manter o foco, lembrar de
quem eu era e a carreira que queria
seguir. Não podia ficar deslumbrada,
tinha que manter meus pés no chão.
Alguns minutos depois que saí da
livraria, Benicio abriu a porta do carro
e, com a ajuda de um funcionário,
colocou pilhas de livros no banco ao
meu lado. Deu uma gorjeta em euros
para o rapaz e entrou.
Passando os olhos pelas capas,
vi os que ele tinha escolhido para me
dar.
— Não vou aceitar esses livros
— murmurei, me impondo.
Benicio deu um aceno de cabeça
e começou a mexer no seu iPhone.
Minhas mãos ainda tremiam, mas me
controlei e consegui ignorá-lo durante a
viagem de volta ao Colline.
 
 
No restaurante do hotel, na hora
do almoço, os três se reuniram para
comer e conversar. Sentei junto com eles
e fiquei feliz por Vincent Cavallari e
Adrian Jacob me tratarem muito bem e
me deixarem participar da conversa,
enquanto Benicio Larsson fazia uma
chamada de vídeo com sua bela esposa.
Não queria ficar reparando, mas sua
mandíbula ficou tensa durante toda a
chamada, como tinha ficado quando
perguntei se Freja gostava de ler.
Queria com todas as forças
esquecer o toque da sua mão, mas era
como se seus dedos tivessem deixado
um rastro de fogo na minha pele. Eu
tinha que esquecer, estava começando a
considerar que Benicio e sua esposa
tinham problemas conjugais, e a última
coisa que eu queria era ficar pensando
naquilo.
— Já está apaixonada? — O
sussurro de Ariele contra meu ouvido
me fez saltar na cadeira.
— O quê? — perguntei mais alto
do que pretendia.
Agachada ao meu lado, ela o
indicou com o queixo.
— Você está olhando para
Benicio Larsson como uma boba
apaixonada — cochichou para que só eu
ouvisse.
— Começou a usar drogas? —
perguntei com ironia. — Você só pode
estar drogada para falar uma merda
dessas.
— Não se faça de besta! Não
culpo você, ele tem cara de quem tem
um beijo muito gostoso — ela sussurrou
com malícia.
Dei um tapa nada delicado no seu
ombro.
— Ai! — ela gritou, o que fez
com que os três nos olhassem.
— Essa é Ariele Ribeiro,
assistente de Caleb Hayden — a
apresentei depressa para os rapazes da
banda. — Ela é uma grande fã de vocês.
A indiscreta da minha melhor
amiga os cumprimentou, um a um, com
um abraço e um beijo no rosto, antes de
dizer que precisava ir. Por sorte, não
tinha dado nenhuma demonstração de
tietagem, o que era contra as regras dos
assistentes.
— Não sei se você pesquisou no
Google sobre eles — ela sussurrou no
meu ouvido ao se despedir de mim —,
mas, caso não tenha feito, saiba que
Benicio é casado. Tem até filho.
— Vou matar você! — gritei,
descontrolada com as idiotices dela. —
Juro que vou!
— Tem alface grudado no seu
dente — ela ainda teve o atrevimento de
dizer em alto e bom som antes de se
afastar.
Quase a chamei de vaca, mas
estava ocupada passando a língua nos
dentes e abrindo a câmera frontal do
celular, só para constatar que ela tinha
blefado.
Vincent estava rindo.
— Vocês devem ser muito amigas
para serem tão gentis uma com a outra
— ele brincou.
— Você nem faz ideia —
respondi.
Me policiei para não deixar
Benicio entrar no meu campo de visão
novamente.
♫♫♫
— Já conseguiu o piano que te
pedi? — Adrian Jacob perguntou ao se
virar para mim na sua cadeira giratória
do estúdio gelado.
— Ainda não — respondi no
susto. A ida com Benicio à livraria me
distraiu tanto que acabei esquecendo de
fazer isso. — Mas já estou
providenciando.
Era mentira.
Urgh!
Ele concordou com a cabeça e
me pediu para buscar bebidas e
petiscos.
Benicio me seguiu para fora do
estúdio.
— Se precisar de alguma coisa, é
só pedir que eu busco — comentei.
— Só quero caminhar um pouco
— ele disse e depois fez uma careta,
como se tivesse falado alguma besteira.
Mordi o lábio e comecei a andar
na direção do elevador. Benicio seguiu
ao meu lado, com os ombros largos, as
coxas grossas por baixo da calça. Pensei
que ele poderia tranquilamente me
defender de qualquer ameaça se
estivéssemos em um livro de fantasia.
Se me encontrasse ferida, Benicio me
pegaria no colo e me seguraria bem
perto do seu peito, me passando
segurança.
Ri baixinho dos meus
pensamentos quando chegamos ao
elevador mais próximo. O que ele diria
se soubesse o que se passava na minha
cabeça nesse momento?
Acima da porta de aço polido,
observei os números dos andares por
onde o elevador passava, e parecia estar
parando em cada um deles.
— Concordei quando você disse
que não queria os livros, mas eu
adoraria que aceitasse — ele disse com
gentileza, encarando a porta à nossa
frente.
Pensei por um instante, mas não
consegui encontrar nenhuma desculpa
para recusar.
— Podemos ir até a minha suíte
pegá-los? — Benicio continuou.
— Primeiro os petiscos e as
cervejas — o lembrei.
— Tudo bem e... — ele disse e
fez uma pausa, se virando para me
encarar. Era preciso erguer o queixo
para olhá-lo. — Não tenho nenhuma
ideia errada sobre você.
O encarei, pasma, sem saber o
que dizer, mas por sorte, o elevador
chegou. Apertei o botão do restaurante e
a porta se fechou. Todos os lados do
elevador, incluindo a porta, eram
revestidos com espelhos que me davam
uma ampla visão de nós dois.
Ostentação.
Havia duas garotas lá dentro.
Uma era ruiva, cheia de sardas e a outra
era uma garota de pele marrom e rosto
de anjo.
Sabia que a ruiva se chamava
Abigail e que havia sido selecionada
para ser assistente de Nils Edberg, um
DJ sueco famoso, de quem eu era muito
fã. A menina com rosto de anjo era da
mesma turma que eu na faculdade, se
chamava Vitória e estava estagiando
como assistente de um cantor canadense
chamado Norman Green. As
cumprimentei e tentei ficar o mais
distante de Benicio possível. Ele usava
jeans escuro e uma camiseta preta. Meus
olhos foram atraídos para sua bunda,
mas consegui me controlar. Sorri
vitoriosa.
No segundo andar, as garotas
saíram do elevador, nos deixando a sós.
— Meu casamento não está bem
— ele disse assim que as portas se
fecharam, me pegando de surpresa com
sua revelação. — Mas ninguém sabe
disso, nem mesmo Vin ou Adrian.
— E por que está me contando?
— perguntei, sem saber o que pensar,
zonza com a forma inesperada como meu
coração acelerou.
— Eu não sei — murmurou,
olhando para os próprios pés antes de
me encarar com os olhos azuis tão
profundos que dava vontade de
mergulhar dentro deles.
— Foi por isso que ficou tenso
quando perguntei se ela gostava de ler?
— Não era para você perceber
— ele disse e deu um sorriso tímido,
como se tivesse sido pego no flagra.
— Maseu percebi. Acho que
você se entregou — comentei, ouvindo o
plim de sinal da porta do elevador
sendo aberta. De certa forma, por mais
que meu coração quase explodisse
dentro do meu peito a cada palavra que
Benicio dizia, era incrível conversar
com ele, me dava vontade de ouvir sua
voz e de ficar perto dele pelo resto da
noite.
— Não quero que ninguém saiba,
por favor.
— Não vou comentar — o
garanti, caminhando na direção da
despensa da cozinha, onde ficava o
estoque de comida do hotel. — Nem
mesmo com Ariele, que é minha melhor
amiga e super fã de vocês. Pode ficar
tranquilo.
— Obrigado.
Senti meu coração reagir
estranho. Eu queria acreditar que ele
estava falando a verdade, que realmente
passava por problemas no casamento,
mas por que não tinha contado nem para
os amigos de banda? Por que guardar
segredo deles?
Ele deve estar mentindo para
você, sua tola.
Mas por que Benicio mentiria
sobre isso?
Por que ele quer te comer!, as
vozes da minha cabeça responderam em
tom debochado. Soltei um riso
sarcástico e silencioso, respondendo a
elas mentalmente que Benicio Larsson
não queria me comer.
Então por que ele te seguiu até
aqui?, uma das vozes insistiu.
Sacudi a cabeça para silenciá-
las.
— O que foi? — ele quis saber.
— Não é nada.
Senti meu rosto arder por ele ter
reparado na minha reação. Na entrada
da despensa, notei que ele reparava
mais em mim do que era esperado que
um rockstar como ele reparasse em uma
reles estagiária.
Quando entramos, tratei de
encher uma grande sacola com
salgadinhos e outros petiscos o mais
rápido que consegui, nervosa por minhas
mãos esbarrarem nas suas a todo
instante. Ele insistia em me ajudar.
Saímos da despensa, com
Benicio carregando três engradados com
garrafinhas do tipo long neck de
Heineken. Mesmo eu tendo insistido
sobre ser capaz de levar tudo sozinha ou
pedir ajuda a algum funcionário, ele nem
me deu bola.
Quando pegamos o elevador
novamente, havia alguém lá dentro.
Nils Edberg nos cumprimentou
quando entramos, no mesmo sotaque
sueco do Swedish Legends. Meu
coração saltitou no peito, porque era o
Nils Edberg! Meu DJ favorito, para
quem eu desejava tanto estagiar. Usei
todas as forças para não me atirar em
cima dele como uma fã desesperada.
Além de ser ridículo, com Benicio ao
nosso lado, agarrá-lo iria contra as
normas dos assistentes do evento: “é
proibido abraçar, tentar rasgar as
roupas, pedir autógrafos, ou qualquer
outra manifestação de tietagem”.
Droga! Não era assim que eu
deveria vê-lo pela primeira vez:
carregando sacolas e acompanhada. Nils
Edberg era quase tão alto quanto
Benicio, só que bem mais magro — me
fazia lembrar um geek viciado em jogos
eletrônicos. Ele tinha a minha idade,
vinte e dois anos. Usava roupas simples:
calça jeans, camiseta cinza e boné com a
aba virada para trás. O cabelo era loiro
claro; e o rosto, simplesmente lindo.
Apesar de ser louca por Nils, se
eu tivesse que escolher entre um dos
dois, ficaria com Benicio, por causa da
sua bunda, do seu jeito fofo, do timbre
de sua voz e das coisas que ele fazia eu
sentir — se fosse, solteiro, claro.
Como se algum deles fosse te
querer. Esqueceu que você levou um pé
na bunda do único cara com quem
namorou? E Alison nem era tão bonito,
muito menos famoso, se poupe!, as
vozes na minha cabeça debocharam.
Os dois trocaram algumas
palavras em sueco e, enquanto eu
apertava o botão do décimo andar,
pensava que seria bom tomar um banho
gelado para acabar com a devassa que
queria se libertar dentro de mim.
Quando voltamos ao estúdio,
Benicio disse para os amigos que já ia
dormir e que eu também poderia ir
descansar. Relaxei, agradecida e
cansada, quando Vincent e Adrian
concordaram.
O segui para a caixa de espelhos
e fomos até sua suíte. Os livros estavam
empilhados no sofá de couro branco da
sala. Pela porta de vidro, vi a cama do
quarto, enorme e arrumada com lençóis
e colchas brancas. Por um segundo,
fiquei me perguntando como era ter uma
vida tão confortável e glamourosa.
Ariele havia me dito que Freja,
sua esposa, não era ninguém quando se
conheceram, que ela só virou modelo e
influencer depois de começar a namorar
Benicio, que já era muito famoso.
Como algumas pessoas podiam
ter tanta sorte assim, enquanto minha
mãe e eu mal conseguíamos pagar as
contas mais básicas de casa? Murchei os
ombros, ainda encarando o quarto,
envergonhada da minha vida cheia de
privações. Em seguida, fiquei
envergonhada por sentir vergonha, o que
foi ainda mais frustrante.
— Vamos? — Benicio me
chamou.
— Pelo menos me deixe carregar
os livros.
— É o mínimo que eu posso
fazer, enquanto você tem que ficar
acordada até essa hora por nossa culpa.
— É o meu trabalho —
argumentei, mesmo que não estivesse
sendo paga por isso. Seria compensada
com a experiência de estagiar em algo
tão importante. — Sou perfeitamente
capaz de carregar alguns livros.
— Mas sou incapaz de deixar
você fazer o trabalho pesado — ele
respondeu.
— Você é Benicio Larsson,
vocalista do Swedish Legends, eu sou a
assistente.
Ele me encarou por um instante,
como se eu tivesse dito alguma coisa
idiota, então, segurando junto ao
abdômen a pilha com mais de uma dúzia
de livros com apenas uma das mãos,
gesticulou para que eu fosse na frente.
 
 
 
Quando o elevador se fechou,
com todas as paredes revestidas de
espelhos, minha visão foi atraída pelo
corpo de Mila. Fiquei imóvel, olhando
para sua bunda arredondada, com o
corpo pulsando de desejo.
Ela era gostosa pra caralho, mas
eu nunca tentaria algo com ela, mesmo
que já estivesse publicamente
divorciado, não iria me envolver com
ninguém além de uma noite de sexo, pelo
menos nos próximos dez anos. Não dava
para estragar a convivência com Mila só
porque meu pau ficava duro sempre que
ela chegava perto.
Por sorte, a porta do elevador se
abriu no oitavo andar e um casal entrou
de mãos dadas.
— Mila — o rapaz, que não
deveria ter mais que vinte três anos,
cumprimentou minha assistente.
— Oi, Dennis — ela respondeu
com um leve aceno de cabeça.
Notei que eles já deviam ter
intimidade, já que ele a chamava de
Mila e não de Emily.
Senti o cheiro de álcool invadir o
elevador e observei a garota morena que
o acompanhava. Os dois aparentavam
estar bêbados. Passaram para os fundos
do elevador, ao meu lado, e começaram
a se pegar sem o menor pudor. Dei
alguns passos à frente e parei ao lado de
Mila.
Ela estava respirando pela boca
enquanto, pelo espelho, eu podia ver o
rapaz erguendo a saia da morena. A
mulher gemeu. Mila arfou. Seus olhos
estavam arregalados, seu peito subia e
descia enquanto ela tentava manter a
atenção em suas mãos.
O casal começou a transar atrás
de nós. Pornô gratuito. Eu teria lidado
bem com a situação se não fosse pela
garota ao meu lado e pela pilha de
livros na minha mão, me fazendo
parecer o virgem nerd que eu era no
ensino médio.
Me dei conta do quanto queria
fazer aquilo com ela: sexo bem ali, no
elevador, sem vergonha, sem planos,
sem rotina, só ceder ao tesão violento
que estava me consumindo. Queria
afogar dentro dela os meses de carência,
as frustrações, acabar com aquela
tortura, encontrar um alívio.
Vi Mila erguer as mãos para
apertar um botão do elevador,
provavelmente tentando descer antes do
seu andar. Meu corpo inteiro queimava,
enquanto o rapaz entrava e saía da
garota atrás de nós. Segurei a mão de
Mila antes que ela apertasse o botão e
entrelacei nossos dedos.
Naquele instante, esqueci das
minhas promessas de não me envolver
com ela. Esfreguei meus dedos nos seus.
Sua mão era macia, quente e pequena.
Tínhamos só alguns segundos até o
elevador chegar ao segundo andar. Virei
o rosto na sua direção e ela fez o
mesmo, enquanto meus dedos
acariciavam a palma da sua mão. Então
Mila me lançou o olhar com um brilho
carregado de desejo. Meu corpo
incendiou e o pau latejou quando ela
mordeuo lábio inferior. 
Nós dois queríamos aquilo.
Levei sua mão até a altura do meu rosto,
acima da pilha de livros e, sem
raciocinar, inclinei a cabeça para baixo
e mordi a pele que cobria os nós dos
seus dedos. Virei o corpo na sua
direção, sem um pingo de juízo, pronto
para matar meu desejo de agarrá-la,
quando a maldita porta do elevador se
abriu. Ela puxou a mão da minha e saiu.
Levei um segundo para piscar os
olhos e me dar conta do que quase tinha
feito. Deixei o casal promíscuo para trás
e dei alguns passos largos até alcançá-
la, estudando seu rosto com receio.
— Não acredito no que acabei de
ver — Mila comentou, enquanto
caminhava, por sorte, não parecia
chateada comigo, só constrangida. —
Como eles não ficaram com vergonha de
nós.
— Nunca me senti tão nerd na
minha vida, carregando um monte de
livros de fantasia, enquanto um casal
fodia atrás de mim — brinquei, a
fazendo rir. — Mas todo mundo faz
sexo, né?
— Eu não faço — ela murmurou,
parando diante da porta do quarto
duzentos e dois.
Ela é virgem? Não poderia ser.
Ela era bonita demais, sexy demais.
Uma mulher como ela não ficaria
sozinha por tanto tempo. 
Mas ela não tem namorado,
minha mente insistiu.
Eu era virgem quando conheci
Freja, mas ela não. Nunca pensei que
poderia ser o primeiro homem na vida
de uma mulher. Mas isso tinha sido antes
daquela vagabunda destruir tudo.
Trinquei a mandíbula, pensando em
como ela costumava reclamar do tempo
que eu passava lendo, de como não
tínhamos quase nada em comum. Iludido,
eu pensava que os opostos se atraíam
muito mais. Era a merda de uma
mentira. 
— Mais uma vez, obrigada pelos
livros. Não precisava gastar dinheiro
comigo — ela disse quando entrou no
quarto.
Entrei e coloquei os livros sobre
a pequena mesinha junto à parede leste e
dei uma boa olhada no quarto. Parecia
com os quartos de hotéis onde
ficávamos hospedados nas primeiras
semanas da competição no programa de
TV, que formou nossa banda. Tudo era
simples: duas camas de solteiro, uma
janela estreita com cortinas de um
marrom deprimente, espelho de corpo
inteiro, um armário estreito com alguns
cabides vazios, uma mesinha, um par de
cadeiras, além da mala de Mila jogada
num canto do chão, provavelmente cheia
de calcinhas tentadoras.
— É um quarto muito mais
simples que o seu — Mila comentou,
segurando o encosto da cadeira com as
duas mãos.
Não consegui decifrar seu tom de
voz, e as mechas de cabelo escuro e
comprido cobriam parte do seu rosto,
descendo até a altura da cintura.
Estiquei a mão e afastei o cabelo, o
colocando atrás da sua orelha. Mila me
encarou com os lábios entreabertos,
como se respirasse com dificuldade.
— Nos vemos amanhã —
murmurei, mesmo tentado a ficar um
pouco mais.
Fui até a porta que ainda estava
aberta. Mila me seguiu e se inclinou
para me abraçar, ficando na ponta dos
pés, mas se deteve antes de tocar em
mim. Me inclinei e beijei sua face
quente, mais perto dos seus lábios do
que pretendia.
— Boa noite — ela disse, mas
sentir sua boca tão perto da minha me
desconcertou.
Fiquei parado no corredor, sem
conseguir desviar os olhos dos seus
lábios carnudos.
— Não acha que seria estranho
ser visto entrando no meu quarto? — ela
quis saber, segurando a porta.
Ergui o rosto e vasculhei pelo
teto, encontrando a câmera de segurança.
— Seria péssimo — comentei,
voltando a encará-la.
— Ainda mais com os problemas
no seu casamento — Mila acrescentou,
seu humor tinha mudado depressa. —
Não deveria ficar parado aqui, alguém
pode contar para sua esposa.
Eu queria dizer que não tinha
mais esposa. O único problema de ser
visto ali é que poderia pegar mal pra ela
ter um homem “casado” na porta do seu
quarto. Minha separação ainda era um
segredo. Não queria que Mila se
prejudicasse de alguma forma, ainda
mais por minha culpa. As pessoas iriam
julgá-la antes de saber a verdade, se o
vídeo daquela câmera de segurança
vazasse. A última coisa que queria era
prejudicá-la
Ia dizer isso a Mila, mas ela já
tinha batido a porta do quarto na minha
cara.
 
 
Nos dois dias seguintes, tentei me
concentrar na música. Acordei cedo, fiz
uma hora de corrida pela propriedade
do hotel, passei uma hora e meia na
academia, tentando descontar as
frustrações nos exercícios, e passei os
dias e noites trabalhando na letra e
melodia de duas canções. 
Na metade do quinto dia, meu
advogado ligou e disse que Freja havia
finalmente assinado o divórcio.
Considerei pegar um avião e ir
até Estocolmo para verificar se estava
tudo certo, mas ele me garantiu que
estava tudo em ordem e que só
precisávamos esperar que o juiz
marcasse a audiência para estarmos
legalmente divorciados.
Ele era advogado da nossa
empresária Amy e da banda, e eu o
conhecia há dez anos, por isso confiava
nele para resolver tudo. A meu pedido,
ele mandou uma cópia em pdf do pedido
de divórcio assinado por Freja. Imprimi
uma cópia na impressora do estúdio,
sem que nem Adrian nem Vin soubessem
e a levei para a minha suíte.
Deitei na espreguiçadeira da
varanda e fiquei olhando para o papel,
tentando organizar meus sentimentos.
Pensei que ficaria triste quando ela
enfim assinasse, em luto pelos anos de
relacionamento estarem terminados, mas
só conseguia sentir alívio por em breve
não ser mais ligado a ela, a não ser por
Liam.
Eu faria uma postagem nas redes
sociais assim que o Tomorrow is
Mystery Festival estivesse concluído, e
então comemoraria meu estado civil
com grande estilo.
Meu coração ainda doía pela
traição, mas não me sentia mais
apaixonado por ela, curiosamente, eu
não conseguia sequer lembrar do
sentimento que tive por Freja. Era como
se o amor já viesse morrendo há anos e
a descoberta da traição fosse apenas a
última pá de terra.
Era noite. Pela sacada, dava para
ouvir a música alta e as risadas, vindas
da suíte de Caleb Hayden, que estava
dando uma festa exclusiva para as
pessoas solteiras hospedadas no hotel.
— Solteiras — murmurei, rindo.
Eu seria aceito se contasse?
Pensei na bebida, nas drogas e nas
mulheres que encontraria naquela festa,
mas não me senti tentado a ir.
Um jantar com Mila me parecia
uma forma bem mais agradável de
comemorar. Não um encontro, só um
jantar para conversar sobre livros e
séries. Sem nenhuma outra intenção.
Conferi as horas, me perguntando
se ela já tinha comido, e a chamei no
rádio.
— Mila?
Ela não respondeu na primeira
chamada, assim como na segunda e na
terceira. Me perguntei se podia estar
chateada por alguma coisa. Não
havíamos conversado nos últimos dias,
mas imaginei que ela deveria estar
dando atenção aos outros membros da
banda.
Talvez ela ainda estivesse
irritada pelo episódio na porta do seu
quarto.
Tomei um banho rápido, passei
perfume e desci até o quarto duzentos e
dois.
— Emily? — a chamei pelo
nome, insistindo uma última vez.
— Oi, Benicio! Desculpa, eu
estava no banheiro e não ouvi você
chamar antes — ela respondeu depressa,
parecia empolgada com algo.
— Estou do lado de fora da sua
suíte — informei, desconfiado.
— Só um minuto.
A porta se abriu alguns segundos
depois, mas não foi Mila quem abriu.
Fui atendido por uma garota ruiva e
cheia de sardas. Ela estava usando um
vestido sem alças vermelho e sandálias
de salto.
— Benicio Larsson — ela disse
meu nome e suspirou. — Entra, Mila
está aqui.
Franzi o cenho e dei um passo
para dentro do quarto, sem dar a mínima
para a câmera lá fora.
Levei um susto ao ver uma das
camas de solteiro ocupada.
Meu coração se apertou e senti o
estômago revirar ao ver Vincent deitado
na cama. Usava jeans, camiseta regata
branca e coturnos. Mexia no celular,
acomodado nos lençóis de Mila como se
fosse íntimo dela.
Senti minhas narinas inflamarem
e minha garganta se fechar.
— Precisa de alguma coisa? —
ouvi Mila perguntar e me virei.
Não estava preparado para vê-la
linda daquele jeito. Vestia uma saia
preta

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