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CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL Prof. Monteiro Jr. VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INTRODUÇÃO Na Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII, tem início uma série de transformações no processo de produção. A essas transformações dá-se o nome de Revolução Industrial. Em linhas gerais, a Revolução Industrial proporcionou a mecanização da indústria, com a substituição da força motriz humana por outras como o carvão, o vapor, a eletricidade, o que desencadeou grandes mudan- ças nas relações de trabalho, no uso da tecnologia, na economia dos países, na organização do espaço urbano e nos próprios fundamentos do sistema capitalista. “A Revolução Industrial assinala a mais radical transformação da vida humana já registrada em documentos escritos. Durante um bre- ve período ela coincidiu com a história de um único país, a Grã-Bretanha (...) que por isso ascendeu temporariamente a uma posição de influência e poder mundiais sem paralelo na história de qualquer país com as suas dimensões relativas, antes ou desde então, e que provavelmente não será igualada por qualquer Estado no futuro previsível.” HOBSBAWM, Eric J. da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986, p. 13. O PIONEIRISMO INGLÊS A Inglaterra foi pioneira no processo de mecanização da indústria. Foi somente na segunda metade do século XIX que a industrialização se propagou para outros países da Europa e do mundo. “Quando o reformador chinês Huang-Tsun-Hsien visitou Londres, cerca de 1890, custou-lhe a crer que, apenas um século antes, a economia da sua pátria e da Grã-Bretanha se tivessem basicamente parecido. Viu a Grã-Bretanha com suas indústrias florescentes, ao passo que a China, que acabava de deixar, era ainda uma terra de artes campesinas e arrozais. (...) Foi uma das maiores transformações da História; em cerca de cem anos, a Europa de quintas, rendeiros, e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais. Os utensílios manuais e os dispositivos mecânicos simples foram substituídos por máquinas; a lojinha do artífice pela fábrica. O vapor e a eletricidade suplantaram as fontes de energia – água, vento e músculo. Os aldeões, como as suas antigas ocupações se tornavam supérfluas, emigravam para as minas e para as cidades fabris, tornando-se os operários da nova era, enquanto uma classe profissional de empreiteiros, financeiros e empresários, de cientistas, inventores e engenheiros se salientava e se expandia rapidamente. Era a Revolução Industrial.” HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial, 1780-1914. Lisboa: Verbo Vejamos os principais elementos que favoreceram o pioneirismo inglês na Revolução Industrial: acumulação de capitais, provenientes das atividades mer- cantilistas desenvolvidas pelo país, especialmente depois que os Atos de Navegação (1651) entraram em vigor. triunfo do liberalismo político e econômico, a partir da Revolução Gloriosa (1688), que sepultou de vez o Absolutismo e as práticas intervencionistas do Estado na economia. os cercamentos (enclosures), que, ao promoverem a transformação de fazendas agrícolas em pecuaristas, provocaram desemprego no campo e a consequente migração de mão de obra para as cidades. avanços tecnológicos, como a máquina a vapor paten- teada por James Watt e os teares mecânicos e hidráulicos, que proporcionaram um significativo aumento na produção. abundância de matérias primas, como carvão, ferro, algodão e lã. REVOLUÇÃO OU EVOLUÇÃO? Uma das discussões envolvendo a Revolução Industrial trata da caracterização do processo como revolução ou evolução. Apesar do impacto que Revolução Industrial trouxe para o mundo, não podemos esquecer que a mesma proporcionou a mecanização da indústria, que já existia (na forma de manufaturas). Portanto, a Revolução Industrial não foi uma ruptura, mas sim a herdeira de toda uma cadeia de inovações tecnológicas. FIQUE POR DENTRO Propostos por Oliver Cromwell e aprovados pelo Parlamento, os Atos de Navegação (1651) impulsionaram o desenvolvimento marítimo comercial da Inglaterra, uma vez que estabeleciam que as mercadorias inglesas só poderiam ser transportadas em navios ingleses ou em navios de países com quem a Grã-Bretanha comercializasse. SAIBA MAIS A partir da segunda metade do século XVII, muitas fazendas inglesas tiveram suas terras cercadas para a criação de ovelhas, devido ao crescimento das tecelagens que produziam tecidos de lã (era lucrativo prover essas tecelagens com sua matéria prima). Esse processo, denominado cercamentos (ou enclosures), fez com que milhares de camponeses ficassem sem trabalho, uma vez que a pecuária exige menos mão de obra do que a agricultura. Sem perspectivas no campo, essa massa miserável migrou para as cidades, transformando-se num exército reserva de mão de obra abundante e barata. 2 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. AS PRINCIPAIS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O primeiro setor produtivo a se mecanizar foi o têxtil. O algodão foi sua principal matéria prima e o carvão vegetal, usado para mover as máquinas a vapor, sua principal fonte de energia. Entre as inovações tecnológicas do período, destacam-se: a máquina de fiar (1767), de James Hargreaves, com capacidade para produzir vários fios de forma simultânea, sob a assistência de um único operário. a máquina a vapor (1768), de James Watt, tornando possível o uso da energia mecâ- nica para mover diversas outras máquinas. o tear mecânico (1785), de Edmund Cartwright, movido a vapor. o descaroçador mecânico (1792), de Eli Whitney, que separava o caroço da fibra de algodão, permitindo uma espantosa produtividade a baixo custo. o navio a vapor (1807), de Robert Fulton, permitindo maior rapidez aos transportes fluviais e marítimos. a locomotiva a vapor (1814), de George Stephenson, trazendo maior rapidez aos transportes terrestres. AS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Para fins didáticos, costuma-se dividir a Revolução Industrial em dois momentos, cada um com suas características: Primeira Revolução Industrial - de 1760 a 1860; - circunscrita à Inglaterra e poucos países da Europa Ocidental; - conhecida como a “era do carvão e do ferro”; - o carvão era a principal fonte de energia; - o ferro era o principal produto da indústria de base. Segunda Revolução Industrial - de 1860 a 1914; - a expansão da industrialização atinge praticamente toda a Europa Ocidental, EUA e Japão; - conhecida como a “era do aço e da eletricidade”; - a eletricidade era a principal fonte de energia; - o aço era o principal produto da indústria de base. AS TRANSFORMAÇÕES PRODUZIDAS PELA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Revolução Industrial consolidou definitivamente o capitalismo e o trabalho assalariado, separando de vez capital e trabalho. Proporcionou o nascimento da classe operária e possibilitou a polarização da mesma com a burguesia. As manufaturas foram substituídas gradativamente pelas fábricas, caracterizadas pela mecanização no processo produtivo, que passou a ser em massa e em série. O trabalho dos artesãos sofreu desvaloriza- ção, acarretando a falência das manufaturas e corporações de ofícios. A divisão e especialização do trabalho promoveram a alienação do proletariado em relação ao processo produtivo. Especializando-se em operar uma determinada máquina, o operário se transformou numa espécie de robô, sujeito à monotonia que os repetitivos movimentos na operação das máquinas impunham.Nas indústrias têxteis inglesas predominava o trabalho de mulheres e crianças, mais barata e tida como mais dócil e obediente pelos empresários. Não havia legislação trabalhista que estabelecessem garantias ou direitos legais à classe trabalhadora. De acordo com o historiador americano Edmund Wilson, em Rumo à Estação Finlândia, a crescente demanda “(...) de mulheres e crianças nas fábricas fazia com que muitos chefes de família se tornassem desempregados crônicos, prejudicava o crescimento das meninas, facilitava o nascimento de filhos de mães solteiras e ao mesmo tempo obrigava as jovens mães a trabalharem grávidas ou antes Modelo didático da máquina a vapor, de James Watt. Instalações de uma fábrica do século XIX. No primeiro plano, aquele que parece ser o dono. Atente as condições do ambiente e a postura disciplinada e subserviente dos operários. CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. 3 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência de se recuperarem plenamente do parto, terminando por encaminhar muitas delas à prostituição; as crianças, que começavam a trabalhar nas fábricas aos cinco ou seis anosde idade, recebiam pouca atenção das mães, que também passavam o dia inteiro na fábrica, e nenhuma instrução de uma sociedade que só queria delas que executassem operações mecânicas; quando deixavam-nas sair das verdadeiras prisões que eram as fábricas, as crianças caíam exaustas, cansadas demais para lavar-se ou comer, quanto mais estudar ou brincar – às vezes can- sadas demais até para ir para casa.” As jornadas de trabalho eram extensas (em média de 15 horas diárias, sem descanso semanal remunerado ou férias), as condições de traba-lho precárias e os salários extremamente baixos. Acidentes de trabalho eram comuns e os operários vitimados pela mutilação de dedos e outros membros não tinham direito a nenhum tipo de indenização. Essas condições de trabalho e de vida levaram a classe operária a se organizar em torno de movimentos e/ou ideologias em favor dos seus direitos e interesses, como veremos no próximo capítulo. A paisagem urbana também foi afetada pela industrialização. Segundo Hobsbawm, a típica cidade industrial era “(...) uma cidade de tamanho médio, mesmo por padrões atuais, embora (...) algumas c idades (que tendiam a ser muito grandes) também se tornaram centros maiores de produção (...). A nova região industrial típica tomava em geral a forma de pequenas vilas, que se transformavam em pequenas cidades, que depois se desenvolviam transformando-se em grandes cidades.” Friedrich Engels, em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, descreve o cenário de um bairro dessas cidades industriais: “É uma massa de casas de três ou quatro andares, construídas sem plano, com ruas tortuosas, estreitas e sujas onde reina uma animação tão intensa como nas principais ruas que atravessam a cidade com a diferença que (...) só se vêem pessoas da classe operária. O mercado está instalado nas ruas: cestos de legumes e de frutos, todos naturalmente de má qualidade, e dificilmente comestíveis, ainda reduzem a passagem e deles emana, bem como dos açougues, um cheiro repugnante. As casas são habitadas dos porões aos desvãos, são tão sujas no exterior como no interior e têm um tal aspecto que ninguém as desejaria habitar. Mas isto não é nada comparado às habitações nos corredores e vielas transversais onde se chega através de passagens cobertas, e onde a sujeira e a ruína ultrapassam a imaginação; não se vê, por assim dizer, um único vidro inteiro, as paredes estão leprosas, os batentes das portas e os caixilhos das janelas estão quebrados ou descolados, as portas – quando existem – são feitas de pranchas velhas pregadas umas às outras (...). Em toda parte montes de detritos e de cinzas, e as águas vertidas em frente às portas acabam por formar charcos. É aí que habitam os mais pobres, os trabalhadores mais mal pagos, com os ladrões (...) e as vítimas da prostituição, todos misturados.” Em contrapartida, a classe burguesa habitava em magníficas e luxuosas casas localizadas em largas alamedas, os boulevares, margeadas por jardins bem cuidados, em zonas exclusivamente residenciais, distantes da sujeira, do barulho e do burburinho dos bairros operários. HISTÓRIA E ARTE Pintado por Vincent Van Gogh (1885), durante a fase em que o artista se encontrava sob a influência do realismo, “Os Comedores de Batatas” denuncia a miséria das famílias trabalhadoras do século XIX. Flagrante de crianças operárias nos EUA, século XIX. 4 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. Para conferir realismo à obra, Van Gogh destacou traços grosseiros nos trabalhadores, explorando os tons escuros, típicos da luminosidade barroca. Para Van Gogh, a escuridão também poderia ser considerada uma cor, por isso os trabalhos que o pintor produziu nessa fase são escuros e pesados. Vincent trabalhou as sombras com outros tons que, junto ao interior pouco iluminado pelo lampião, dão um aspecto frio ao ambiente. LEITURA COMPLEMENTAR I: O SISTEMA DE TRABALHO O escritor norte-americano Leo Huberman, em História da riqueza do homem, apresenta uma classificação quanto à evolução do sistema de trabalho, do período medieval à Revolução Industrial: 1 – Sistema familiar: os membros de uma família produzem artigos para o seu consumo, e não para a venda. O trabalho não se fazia com o objetivo de atender ao mercado. Princípio da Idade Média. 2 – Sistema de corporações: produção realizada por mestres artesãos independentes, com dois ou três empregados, para o mercado, pequeno e estável. Os trabalhadores eram donos tanto da matéria prima que utilizavam como das ferramentas com que trabalhavam. Não vendiam o trabalho, mas o produto do trabalho. Durante toda a Idade Média. 3 – Sistema doméstico: produção realizada em casa para um mercado em crescimento, pelo mestre-artesão com ajudantes, tal como no sistema de corporações. Com uma diferença importante: os mestres já não eram independentes; tinham ainda a propriedade dos instrumentos de trabalho, mas dependiam, para a matéria prima, de um empreendedor que surgira entre eles e o consumidor. Passaram a ser simplesmente tarefeiros assalariados. Do século XVI ao XVIII. 4 – Sistema fabril: produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de casa, nos edifícios do empregador e sob uma rigorosa supervisão. Os trabalhadores perderam completamente sua independência. Não possuem a matéria prima, como ocorria no sistema de corporações, nem os instrumentos, tal como no sistema doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante como antes, devido ao maior uso da máquina. O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do século XIX até hoje.” LEITURA COMPLEMENTAR II: OUTRO OLHAR SOBRE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Uma história bem conhecida da Revolução Industrial é a dos trabalhadores “ludistas”, aqueles que se revoltaram contra as máquinas por acharem que elas destruíam empregos e impunham uma concorrência desleal. Esses protestos são tão antigos quanto as primeiras máquinas. Tão logo o carpinteiro e tecelão James Hargreaves começou a vender sua fiandeira jenny, vizinhos e colegas invadiram sua casa e destruíram os equipamentos. Os quebra-quebras ganharam força a partir de 1811, quando costureiros da cidade Nottingham se armaram com machados e porretes, invadiram fábricas de tecidos e arruinaram 60 fiandeiras mecânicas. Basta olhar para o lado para constatar como os ludistas fracassaram. Daquela época até hoje, as fábricas foram tomadas por uma onda inescapável de engrenagens, máquinas, motores elétricos, esteiras rolantes, computadores e robôs; as cidades passarama abrigar carros, trens, tratores, aviões e lâmpadas elétricas; o celular no bolso das pessoas tem processadores mil vezes mais potentes que os usados na Apollo 11. E qual foi o resultado desse enorme fracasso dos protestos dos trabalhadores? O contrário do que eles imaginaram. O número de empregos na Inglaterra (cerca de 6 milhões em 1750) não só não caiu como acompanhou o enorme crescimento populacional, chegando a 30 milhões hoje. Foi uma elevação tão intensa que os ingleses – e boa parte dos países industrializados – precisaram contratar estrangeiros para cumprir a demanda por empregos. O erro da idéia de que as máquinas roubam empregos é achar que os desejos humanos, e os empregos para satisfazer esses desejos, são finitos. Desse ponto de vista, se uma máquina tira a função de um artesão, não vai sobrar outra atividade para sustentá-lo. Quem primeiro espalhou esse equívoco foi Karl Marx. “O instrumento de trabalho, quando toma a forma de uma máquina, se torna imediatamente um concorrente do operário. A expansão do capital por meio da máquina está na razão direta do número de trabalhadores cujas condições de existência ela destrói”, escreveu ele. Não é nenhum milagre o fato de que, desde os primeiros protestos ludistas até hoje, o número de empregos cresceu tanto quanto o de máquinas. A produção em série diminuiu o custo dos produtos que ficaram acessíveis a mais pessoas ao redor do mundo, que criaram uma demanda maior, que só pode ser cumprida com mais trabalhadores para operar as máquinas, mais vendedores, maquinistas e marinheiros para transportá-las, mais operários para construir as próprias máquinas, assim como trens, navios etc. É o caso da produção de roupas. Feitos a mão, casacos e vestidos custavam quase o salário de um ano de um empregado doméstico e constavam em testamentos e heranças. A concorrência livre e a mecanização fizeram o preço das roupas baixar continuamente. Com mais gente podendo comprar roupa, mais fábricas foram construídas. Em 1820, já havia na Inglaterra mais de 1.200 fábricas de tecidos de algodão, 1.300 de lã e mais de 600 moinhos de linho e seda. Além disso, a mão de obra das pessoas que perderam o emprego para teares movidos a vapor no século 19 ou tratores nas fazendas do século 20 foi liberada para atividades mais produtivas ou criativas. É verdade que a “destruição criativa” das inovações provoca falências de empresas, demissões, migrações, uma completa instabilidade e reorganização do trabalho. Mas, no fim das contas, há um benefício para todos. “A grande causa do aumento dos padrões de vida das nações industrializadas é o capital sendo usado para substituir trabalho, afirma o economista americano Walter Williams. O exemplo mais evidente disso é o sistema de produção de alimentos. Nos Estados CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. 5 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência Unidos do fim do século 18, mais de 90% das pessoas trabalhavam nos campos de cultivo e pecuária. Para que alimentos chegassem à boca de quase 4 milhões de habitantes, era preciso que 19 a 20 americanos adultos trabalhassem nas fazendas. Dois séculos depois, a mecanização da agricultura liberou 18 deles: hoje, apenas um em cada 20 trabalhadores americanos contribui para cultivar alimentos aos mais de 300 milhões de habitantes. O que aconteceria se alguma lei do governo proibisse a introdução de máquinas no campo e impedisse as demissões nas plantações e fazendas? Vale imaginar um pouco mais: e se os manifestantes ingleses tivessem conseguido que o governo proibisse máquinas para preservar empregos? O resultado seria que os descendentes daqueles trabalhadores teriam hoje uma vida imensamente mais difícil. Não só os alimentos e as roupas custariam mais, como não haveria gente para projetar edifícios, carros, telefones celulares, máquinas de lavar roupa, sistemas de internet e para escrever livros. Nada de iluminação elétrica na rua, em respeito ao emprego dos acendedores de lampião a gás (que trabalharam no Rio de Janeiro até 1933). Páginas da internet não poderiam mostrar mapas de graça, para não acabar com o trabalho dos cartógrafos. Seria preciso ligar para uma telefonista para completar cada ligação telefônica, pagar a ascensoristas nos elevadores não automatizados, passar a maior parte do tempo na roça cultivando os próprios alimentos e usar o fim de semana para tricotar casacos, já que as roupas continuariam pouco acessíveis aos pobres. Ou esperar meses até que elas chegassem à cidade por meio do sistema de carroças (em respeito ao emprego dos fabricantes de carroça e dos criadores de cavalo, trens e caminhões de carga seriam banidos). Por causa de uma lei imposta pelos sindicatos do transporte coletivo para evitar demissões, todo ônibus urbano teria, além do motorista, um entediado cobrador (ops, esse ainda existe). As pessoas que perdem o emprego para as máquinas não são vítimas do progresso. São consumidores que usufruem dos prazeres infinitos que a inovação, a concorrência desleal e as máquinas tornaram acessíveis. NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do mundo. São Paulo: Leya, 2013, p. 106-110. LEITURA COMPLEMENTAR III: DEPOIMENTO Perante uma comissão do Parlamento inglês, em 1816, John Moss, capataz de aprendizes numa tecelagem de algodão, prestou o depoimento a seguir, acerca das condições de trabalho envolvendo crianças: Eram aprendizes órfãos? – Todos aprendizes órfãos. E com que idade eram admitidos? – Os que vinham de Londres tinham entre 7 e 11 anos. Os que vinham de Liverpool tinham de 8 a 15 anos. Até que idade eram aprendizes? – Até 21 anos. Qual o horário de trabalho? – De 5 da manhã até 8 da noite. Quinze horas diárias era um horário normal? – Sim Quando as fábricas paravam para reparos ou falta de algodão, tinham as crianças, posteriormente, de trabalhar mais para recuperar o tempo parado? – Sim. As crianças ficavam de pé ou sentadas para trabalhar? – De pé. Durante todo o tempo? – Sim. Havia acidentes nas máquinas com as crianças? – Muito frequentemente.” (HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1983, p. 191.) LEITURA COMPLEMENTAR IV: O TRABALHO DAS MULHERES Depoimento de Betty Harris, 37 anos: Casei-me aos 23 anos, e foi somente depois de casada que eu desci à mina; não sei ler nem escrever. Trabalho para Andrew Knowles, da Little Bolton (Lancashire). Puxo pequenos vagões de carvão; trabalho das 6 da manhã às 6 da tarde. Há uma pausa de cerca de uma hora, ao meio dia, para o almoço; dão-me pão e manteiga, mas nada para beber. Tenho dois filhos, porém eles são jovens demais para trabalhar. Eu puxava esses vagões, quando estava grávida. Conheci uma mulher que voltou para casa, se lavou, se deitou, deu à luz e retornou o trabalho menos de uma semana depois. Tenho uma correia em volta da cintura, uma corrente que passa por entre as minhas pernas e ando sobre as mãos e os pés. O caminho é muito íngrime, e somos obrigados a segurar uma corda – e quando não há corda, nós nos agarramos a tudo o que podemos. Nos poços onde trabalho, há seis mulheres e meia dúzia de rapazes e garotas; é um trabalho muito duro para uma mulher. No local onde trabalho, a cova é muito úmida e a água sempre cobre os nossos sapatos. Um dia, a água chegou até minhas coxas. E o que cai do teto é terrível! Minhas roupas ficam molhadas durante quase o dia todo. Nunca fiquei doente em minha vida, a não ser na época dos partos. Estou muito cansada quando volto à noite para casa, às vezes adormeço antes de me lavar. Não sou mais tão forte como antes, mas não tenho mais a mesma resistência no trabalho. Puxei esses vagões até arrancar a pele; a correia e a corrente são ainda piores quando se espera uma criança.”(Depoimento extraído de um relatório parlamentar inglês, 1842.) 6 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. CINEMATECA Filmes relacionados com o tema do capítulo: A Nós, a Liberdade (1931), do diretor René Clair, estabelece um paralelo entre o trabalho forçado numa prisão e numa fábrica. Tempos Modernos (1936), dirigido por Charles Chaplin, apresenta uma crítica à exploração dos trabalhadores e sua transformação em ferramenta de trabalho. Oliver Twist (1948), do diretor David Lean, narra a trajetória de um garoto de 12 anos, em meio à Revolução Industrial. Germinal (1993), dirigido por Claude Berri, retrata o cotidiano de uma comunidade de mineiros de carvão na França rural do século XIX. Ver-te-ei no Inferno (1969), do diretor Martin Ritt, a trama gira em torno de uma comunidade de mineiros de origem irlandesa na Pensilvânia do século XIX. CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. 7 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM Questão 01 A expressão Revolução Industrial tem sido utilizada para designar um conjunto de transformações econômicas, sociais e tecnológicas que teve início na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. Em pouco tempo, essas mudanças afetariam outros países da Europa e outros continentes, alterando definitivamente as relações entre as sociedades humanas. FIGUEIRA, D. G. "História". São Paulo: Ática, 2005. p. 193. Sobre a temática exposta no texto, pode-se inferir que a) a produção de tecidos foi um dos primeiros setores a desenvolver o processo industrializador juntamente com a metalurgia do aço. b) ao aumentar a produtividade de cada trabalhador, aumentou a oferta de mercadoria e, por consequência, possibilitou uma redução nos preços dos produtos. c) o sucesso da Revolução Industrial foi tão significativo que facilitou uma ampla melhoria das condições materiais da sociedade como um todo. d) a industrialização foi um processo urbano com poucas relações com o meio rural e) a indústria eliminou a produção artesanal e manufatureira na Europa. Questão 02 "Um fato saliente chamou a atenção de Adam Smith, ao observar o panorama da Inglaterra: o tremendo aumento da produtividade resultante da divisão minuciosa e da especialização de trabalho. Numa fábrica de alfinetes, um homem puxa o fio, outro o acerta, um terceiro o corta, um quarto faz-lhe a ponta, um quinto prepara a extremidade para receber a cabeça, cujo preparo exige duas ou três operações diferentes: colocá-la é uma ocupação peculiar; prateá-la é outro trabalho. Arrumar os alfinetes no papel chega a ser uma tarefa especial; vi uma pequena fábrica desse gênero, com apenas dez empregados, e onde consequentemente alguns executavam duas ou três dessas operações diferentes. E embora fossem muito pobres, e portanto mal acomodados com a maquinaria necessária, podiam fazer entre si 48.000 alfinetes num dia, mas se tivessem trabalhado isolada e independentemente, certamente cada um não poderia fazer nem vinte, talvez nem um alfinete por dia." FARIA, Ricardo de Moura et all. "História". Vol. 1. Belo Horizonte: Lê, 1993. [adapt.]. O documento sobre a Revolução Industrial, na Inglaterra, a) relaciona a divisão de trabalho com a alta produtividade, situação bem diferente da produção artesanal característica da Idade Média. b) enfatiza o trabalho em série e as condições do trabalhador nas fábricas, reforçando a importância das leis trabalhistas, no início da Idade Moderna. c) demonstra que a produtividade está diretamente relacionada ao número de empregados da fábrica, ao contrário das Corporações de Ofício, em que a produção artesanal dependia do mestre. d) destaca a importância da especialização do trabalho para o aumento da produtividade, situação semelhante à que ocorria nas Corporações de Ofício, de que participavam aprendizes, oficiais e mestre. e) evidencia as ideias fisiocráticas e mercantilistas, ao realçar a divisão do trabalho, características marcantes da Revolução Comercial. Questão 03 Tendo como base de análise a figura e os aspectos que definiram a Primeira Revolução Industrial, considere as afirmativas a seguir: I. Inicia-se nas últimas décadas do século XVIII e estende-se até meados do século XIX. A invenção da máquina a vapor e o uso do carvão como fonte de energia primária marcam o início das mudanças nos processos produtivos. II. O Reino Unido foi o primeiro país a reunir condições básicas para o início da industrialização devido à intensa acumulação de capitais no decorrer do Capitalismo Comercial. III. Os mais destacados segmentos fabris desta fase foram o têxtil, o metalúrgico e o de mineração. IV. As transformações produtivas desta fase atingiram rapidamente outros países como a Alemanha, França e Estados Unidos ainda no Século XVIII recrutando operários com salários atrativos promovendo, assim, um intenso êxodo rural. Estão corretas a) apenas I, II e III. b) apenas I, II e IV. c) apenas II, III e IV. d) apenas I, III e IV. e) I, II, III e IV. 8 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. Questão 04 "O duque de Bridgewater censurava os seus homens por terem voltado tarde depois do almoço; estes se desculparam dizendo que não tinham ouvido a badalada da 1 hora, então o duque modificou o relógio, fazendo-o bater 13 badaladas." Este texto revela um dos aspectos das mudanças oriundas do processo industrial inglês no final do século XVIII e início do século XIX. A partir do conhecimento histórico, pode-se afirmar que a) os trabalhadores foram beneficiados com a diminuição da jornada de trabalho em relação à época anterior à revolução industrial. b) a racionalização do tempo foi um dos aspectos psicológicos significativos que marcou o desenvolvimento da maquinofatura. c) os empresários de Londres controlavam com mais rigor os horários dos trabalhadores, mas como compensação forneciam remuneração por produtividade para os pontuais. d) as fábricas, de modo em geral, tinham pouco controle sobre o horário de trabalho dos operários, haja vista as dificuldades de registro e a imprecisão dos relógios naquele contexto. e) os industriais criaram leis que protegiam os trabalhadores que cumpriam corretamente o horário de trabalho. Questão 05 O aumento populacional, a Revolução Industrial e o crescimento das cidades proporcionaram novos estilos de vida, tanto para a classe média urbana quanto para a classe trabalhadora urbana. Sobre essas mudanças, pode-se afirmar que a) o principal investimento da maioria da classe trabalhadora era a educação dos filhos, pois garantia a mobilidade social. b) as moradias da classe média, localizadas nas proximidades das indústrias, simbolizavam lucro e prosperidade. c) o acesso ao mercado de trabalho, nas fábricas, restringiu-se às mulheres oriundas da classe média, enquanto as de classe baixa dedicavam-se ao trabalho doméstico. d) a contratação de mulheres e crianças, em lugar dos homens, provocava desagregação no sistema de vida familiar. e) o aumento da produção de bens duráveis (eletrodomésticos) garantiu o acesso a esses produtos por parte dos operários. Questão 06 Cenas do filme Tempos Modernos (Modern Times), EUA, 1936, Direção: Charles Chaplin, Produção: Continental. A figura representada por Charles Chaplin critica o modelo de produção do início do século XX, nos Estados Unidos da América, que se espalhou por diversos países e setores da economia e teve comoresultado a) a subordinação do trabalhador à máquina, levando o homem a desenvolver um trabalho repetitivo. b) a ampliação da capacidade criativa e da polivalência funcional para cada homem em seu posto de trabalho. c) a organização do trabalho que possibilitou ao trabalhador o controle sobre a mecanização do processo de produção. d) o rápido declínio do absenteísmo, o grande aumento da produção conjugado com a diminuição das áreas de estoque. e) as novas técnicas de produção que provocaram ganhos de produtividade, repassados aos trabalhadores como forma de eliminar as greves. Questão 07 Até o século XVII, as paisagens rurais eram marcadas por atividades rudimentares e de baixa produtividade. A partir da Revolução Industrial, porém, sobretudo com o advento da revolução tecnológica, houve um desenvolvimento contínuo do setor agropecuário. São, portanto, observadas consequências econômicas, sociais e ambientais inter-relacionadas no período posterior à Revolução Industrial, as quais incluem a) a erradicação da fome no mundo. b) o aumento das áreas rurais e a diminuição das áreas urbanas. c) a maior demanda por recursos naturais, entre os quais os recursos energéticos. d) a menor necessidade de utilização de adubos e corretivos na agricultura. e) o contínuo aumento da oferta de emprego no setor primário da economia, em face da mecanização. CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. 9 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência Questão 08 Este considerável aumento de produção que, devido à divisão do trabalho, o mesmo número de pessoas é capaz de realizar, é resultante de três circunstâncias diferentes: primeiro, ao aumento da destreza de cada trabalhador; segundo, à economia de tempo, que antes era perdido ao passar de uma operação para outra; terceiro, à invenção de um grande número de máquinas que facilitam o trabalho e reduzem o tempo indispensável para o realizar, permitindo a um só homem fazer o trabalho de muitos. (Adam Smith. “Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações (1776)”. In: Adam Smith/Ricardo. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1984.) O texto, publicado originalmente em 1776, destaca três características da organização do trabalho no contexto da Revolução Industrial: a) a introdução de máquinas, a valorização do artesanato e o aparecimento da figura do patrão. b) o aumento do mercado consumidor, a liberdade no emprego do tempo e a diminuição na exigência de mão de obra. c) a escassez de mão de obra qualificada, o esforço de importação e a disciplinarização do trabalhador. d) o controle rigoroso de qualidade, a introdução do relógio de ponto e a melhoria do sistema de distribuição de mercadorias. e) a especialização do trabalhador, o parcelamento de tarefas e a maquinização da produção. 10 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Questão 01 Leia as informações a seguir. Em meados do século XVIII, James Watt patenteou na Inglaterra seu invento, sobre o qual escreveu a seu pai: “O negócio a que me dedico agora se tornou um grande sucesso. A máquina de fogo que eu inventei está funcionando e obtendo uma resposta muito melhor do que qualquer outra que tenha sido inventada até agora”. Disponível em: <http://www.ampltd.co.uk/digital_guides/ind-rev-series-3-parts-1-to- 3/detailed-listing-part-1.aspx>. Acesso em: 29 out. 2012. (Adaptado). A revolução histórica relacionada ao texto, a fonte primária de energia utilizada em tal máquina e a consequência ambiental de seu uso são, respectivamente, a) puritana, gás natural e aumento na ocorrência de inversão térmica. b) gloriosa, petróleo e destruição da camada de ozônio. c) gloriosa, carvão mineral e aumento do processo de desgelo das calotas polares. d) industrial, gás natural e redução da umidade atmosférica. e) industrial, carvão mineral e aumento da poluição atmosférica. Questão 02 A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que seu poder. DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado). Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Industrial Inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX? a) A facilidade em se estabelecerem relações lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revelava os avanços da engenharia e da arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene. Questão 03 O consumo diário de energia pelo ser humano vem crescendo e se diversificando ao longo da História, de acordo com as formas de organização da vida social. O esquema apresenta o consumo típico de energia de um habitante de diferentes lugares e em diferentes épocas. Segundo esse esquema, do estágio primitivo ao tecnológico, o consumo de energia per capita no mundo cresceu mais de 100 vezes, variando muito as taxas de crescimento, ou seja, a razão entre o aumento do consumo e o intervalo de tempo em que esse aumento ocorreu. O período em que essa taxa de crescimento foi mais acentuada está associado à passagem a) do habitante das cavernas ao homem caçador. b) do homem caçador à utilização do transporte por tração animal. c) da introdução da agricultura ao crescimento das cidades. d) da Idade Média à máquina a vapor. e) da Segunda Revolução Industrial aos dias atuais. Questão 04 "... Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um terceiro corta, um quarto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça do alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes, ..." SMITH, Adam. A Riqueza das Nações. Investigação sobre a sua Natureza e suas Causas. Vol. I. São Paulo: Nova Culturas, 1985. A respeito do texto e do quadrinho são feitas as seguintes afirmações: I. Ambos retratam a intensa divisão do trabalho, à qual são submetidos os operários. CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. 11 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência II. O texto refere-se à produção informatizada e o quadrinho, à produção artesanal. III. Ambos contêm a ideia de que o produto da atividade industrial não depende do conhecimento de todo o processo por parte do operário. Dentre essas afirmações, apenas a) I está correta. b) II está correta. c) III está correta. d) I e II estão corretas. e) I e III estão corretas. Questão 05 Homens da Inglaterra, por que arar para os senhores que vos mantêm na miséria? Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas que vossos tiranos vestem? Por que alimentar, vestir e poupardo berço até o túmulo esses parasitas ingratos que exploram vosso suor — ah, que bebem vosso sangue? SHELLEY. Os homens da Inglaterra. Apud HUBERMAN, L. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. A análise do trecho permite identificar que o poeta romântico Shelley (1792-1822) registrou uma contradição nas condições socioeconômicas da nascente classe trabalhadora inglesa durante a Revolução Industrial. Tal contradição está identificada a) na pobreza dos empregados, que estava dissociada na riqueza dos patrões. b) no salário dos operários, que era proporcional aos seus esforços nas indústrias. c) na burguesia, que tinha seus negócios financiados pelo proletariado. d) no trabalho, que era considerado uma garantia de liberdade. e) na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a produziam. Questão 06 Considere o papel da técnica no desenvolvimento da constituição de sociedades e três invenções tecnológicas que marcaram esse processo: invenção do arco e flecha nas civilizações primitivas, locomotiva nas civilizações do século XIX e televisão nas civilizações modernas. A respeito dessas invenções são feitas as seguintes afirmações: I - A primeira ampliou a capacidade de ação dos braços, provocando mudanças na forma de organização social e na utilização de fontes de alimentação. II - A segunda tornou mais eficiente o sistema de transporte, ampliando possibilidades de locomoção e provocando mudanças na visão de espaço e de tempo. III - A terceira possibilitou um novo tipo de lazer que, envolvendo apenas participação passiva do ser humano, não provocou mudanças na sua forma de conceber o mundo. Está correto o que se afirma em: a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. Questão 07 O modelo T foi um sucesso. Ford aprimorou seus métodos de produção reduzindo o trabalhador a uma mera engrenagem, diminuindo o tempo de montagem – em fins de 1913 o tempo de produção os chassis passara de 12 horas e meia para duas horas e quarenta minutos – e baixando os preços. Ford aumentou os salários e reduziu a carga horária. Um modelo T saia da linha de montagem a cada 24 segundos e o preço estava em 290 dólares quando sua produção foi interrompida em 1927. FURTADO, Peter. 1001 dias que abalaram o mundo. Rio de Janeiro: Sextante, 2009, p.629. A respeito das inovações técnicas introduzidas nas fábricas de Henry Ford a partir de 1908 pode-se inferir que a) os resultados obtidos deveram-se muito mais a uma nova disciplinarização da mão de obra do que da tecnologia das máquinas. b) não foram capazes de serem aplicados em outros tipos de produção, ficando restritas ao setor automobilístico. c) a difusão do modelo fordista garantiu o aumento significativo dos salários dos trabalhadores europeus. d) tornaram-se hegemônicas dentro da organização das fábricas capitalistas sem nenhum tipo de sistema concorrente até a atualidade. e) ao baratearem excessivamente os preços contribuíram para a estagnação do capitalismo nas décadas de 30 a 70 do século XX. Questão 08 Uma rua de um bairro pobre de Londres (Dubley Street); gravura de Gustave Doré de 1872. (fonte: BENEVOLO, 1999) A gravura do artista remete a um momento de grande ruptura tecnológica e social ocorrida na Inglaterra como se depreende em uma das afirmativas abaixo: a) A população também foi beneficiada de imediato pelos avanços da criação de novas máquinas. b) Aqueles que passavam necessidade eram na maioria pessoas que não buscavam trabalho nas indústrias. c) A falta de emprego gerada pelo avanço das máquinas gerou fome e miséria por toda Inglaterra durante o século XVIII. 12 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. d) A pobreza e a miséria eram vistas apenas nos bairros mais pobres não chegando a afetar as altas classes sociais protegidas em seus castelos. e) A burguesia tentando amenizar as crises sociais, rapidamente ampliou os direitos e salários dos trabalhadores. Questão 09 O assalariado na sociedade capitalista é um homem livre. Não pertence a um dono, como na escravidão, nem está preso ao solo, como no regime feudal da servidão. (...) ele foi “libertado” não só do senhor, mas também dos meios de produção. Vimos como os meios de produção (terra, instrumentos, máquinas etc.) passaram a ser propriedade de um pequeno grupo e já não eram distribuídos geralmente entre todos os trabalhadores. Os que não são donos dos meios de produção só podem ganhar a vida empregando-se – por salários – aos que são donos. É evidente que o trabalhador não se vende ao capitalista (isso faria dele um escravo), mas vende a única mercadoria que possui – sua capacidade de trabalhar, sua força de trabalho. HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. 21. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1959. A descrição do mundo do trabalho e da propriedade dos meios de produção retratados no texto acima se refere ao contexto histórico a) das grandes navegações, quando o capitalismo comercial se consolidou como meio de produção, impondo o modelo de trabalho assalariado. b) do nascimento das corporações de ofícios nas cidades medievais, que baniu o trabalho escravo da sociedade europeia. c) do renascimento comercial e urbano europeu, na Baixa Idade Média, quando o trabalho servil foi substituído pelo modelo assalariado. d) da revolução industrial, onde a alienação do trabalhador facilitou o processo de acumulação de riquezas pela burguesia. e) do entre guerras do século XX, quando todos os resquícios do feudalismo foram banidos da Europa, em função do desmembramento dos impérios continentais europeus. Questão 10 Considere a gravura. Fundição de cobre em Swansea, Gales, século XIX (In: Divalte Garcia Figueira. "História". São Paulo: Ática, 2005. p. 193) A partir da segunda metade do século XVIII, as chaminés expelindo rolos de fumaça, como as da gravura, passaram a fazer parte da paisagem de algumas regiões inglesas, alterando o equilíbrio natural. Essas chaminés eram, na verdade, apenas parte mais visível da fábrica que alterou completamente a sociedade humana. Dentre as alterações econômicas e sociais advindas do fenômeno apresentado na gravura, pode-se destacar a) o processo de desconcentração urbana, haja vista a decisão da burguesia de construir as unidades fabris longe dos centros urbanos. b) a melhoria do padrão de vida do trabalhador fabril, já que a máquina o libertou das condições degradantes do trabalho rural. c) a preocupação do poder público com a questão ambiental, impondo rapidamente uma legislação que eliminou os efeitos da poluição ambiental. d) a redução do lucro dos capitalistas ingleses porque eram obrigados a pagar elevadas indenizações aos operários que adoeciam nas fábricas. e) o crescimento populacional próximo às fábricas, dando origem a graves problemas de urbanização, como a proliferação de cortiços. Questão 11 Leia os dois textos seguintes. "No Ocidente Medieval, a unidade de trabalho é o dia [...] definido pela referência mutável ao tempo natural, do levantar ao pôr-do- sol. [...] O tempo do trabalho é o tempo de uma economia ainda dominada pelos ritmos agrários, sem pressas, sem preocupações de exatidão, sem inquietações de produtividade". (Jacques Le Goff. "O tempo de trabalho na 'crise' do século XIV".) "Na verdade não havia horas regulares: patrões e administradores faziam conosco o que queriam. Normalmente os relógios das fábricas eram adiantados pela manhã e atrasados à tarde e em lugar de serem instrumentos de medida do tempo eram utilizados para o engano e a opressão". (Anônimo. "Capítulos na vida de um menino operário de Dundee", 1887.) Entre as razões para as diferentesorganizações do tempo do trabalho, pode-se citar: a) a predominância no campo de uma relação próxima entre empregadores e assalariados, uma vez que as atividades agrárias eram regidas pelos ritmos da natureza. b) o impacto do aparecimento dos relógios mecânicos, que permitiram racionalizar o dia de trabalho, que passa a ser calculado em horas no campo e na cidade. c) as mudanças trazidas pela organização industrial da produção, que originou uma nova disciplina e percepção do tempo, regida pela lógica da produtividade. d) o conflito entre a Igreja Católica, que condenava os lucros obtidos a partir da exploração do trabalhador, e os industriais, que aumentavam as jornadas. e) a luta entre a nobreza, que defendia os direitos dos camponeses sobre as terras, e a burguesia, que defendia o êxodo rural e a industrialização. CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. 13 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência Questão 12 Analise os três textos seguintes. Eu vi o ferro incandescente sair da fornalha; eu o vi como se tecer em barras e fitas, com uma velocidade e facilidade que pareciam maravilhosas. (Engenheiro James Nasmyth, 1830) ... como parecia estranho viajar naquilo, sem nenhuma causa visível do avanço a não ser a máquina mágica, com sua flutuante exalação branca e marcha ritmada, invariável, entre aquelas paredes rochosas ... Senti como se nenhum conto de fadas fosse tão maravilhoso quanto a metade do que via. (Atriz Fanny Kemble, 1829) Pobreza, pobreza, pobreza, em perspectivas quase infindáveis: e carência e desgraça cambaleando de braços dados por essas ruas miseráveis ... Ali, cerca de quinze pés abaixo da calçada, agachada numa imundice indescritível, com a cabeça inclinada, estava a figura do que fora uma mulher. Seus braços azuis cingiam no colo lívido duas coisas mirradas como crianças, que se inclinavam em direção a ela, uma de cada lado. A princípio eu não sabia se estavam vivas ou mortas. (Herman Melville, 1839) O contexto histórico dos textos apresentados refere-se a) ao conflito entre capital e trabalho, na cidade e no campo, provocado por migrações e pobreza nas pequenas cidades inglesas, onde estavam os antigos centros manufatureiros. b) ao grande desenvolvimento industrial norte-americano e à pobreza vivida por operários na cidade de Nova Iorque. c) à segunda etapa da Revolução Industrial, realizada pela expansão da indústria do aço, e ao empobrecimento da população como consequência das revoltas operárias. d) à expansão do imperialismo inglês na África e à miséria desencadeada pela imposição às populações locais de um modo de vida urbano e segregacionista. e) às contradições geradas pela Revolução Industrial inglesa, que promoveu desenvolvimento tecnológico e, ao mesmo tempo, gerou desemprego e pobreza. Questão 13 "Estas ruas são em geral tão estreitas que se pode saltar de uma janela para a da casa em frente, e os edifícios apresentam por outro lado uma tal acumulação de andares que a luz mal pode penetrar no pátio ou na ruela que os separa. Nesta parte da cidade não há nem esgotos nem lavabos públicos (...) nas casas, e é por isso que as imundícies, detritos ou excrementos de, pelo menos, 50.000 pessoas são lançados todas as noites nas valetas (...) que não só ferem a vista e o olfato, como, por outro lado, representam um perigo extremo para a saúde dos habitantes. (...) Os alojamentos da classe pobre são em geral muito sujos e aparentemente nunca são limpos (...) e compõem-se, na maior parte das casas, de uma única sala (...) que muitas vezes é úmida e fica no subsolo, sempre mal mobiliada e perfeitamente inabitável, a ponto de um monte de palha servir frequentemente de cama para uma família inteira, cama onde se deitam, numa confusão revoltante, homens, mulheres, velhos e crianças." (The Artisan, 1843. In: Friedrich Engels. A Situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Tradução Porto: Afrontamento, 1975. p.69.) O artigo da revista inglesa mostra as contradições de vida a) dos camponeses que trabalhavam no interior das propriedades burguesas logo após a realização dos cercamentos das terras. b) dos trabalhadores artesãos que viviam na periferia das cidades industriais, exercendo, com seus próprios instrumentos, atividades em pequenas oficinas. c) das famílias dos operários, que se aglomeravam nas cidades industriais a partir da Revolução Industrial. d) dos mendigos de Londres que viviam marginalizados na sociedade porque não se adaptavam ao trabalho disciplinado da fábrica. e) dos desempregados, já que não conseguiam pagar os aluguéis das habitações sanitárias pelos industriais para as famílias operárias. Questão 14 "É curioso que quando a fabricação de algodão apenas começava, todas as operações, desde o preparo da matéria-prima até a sua transformação em tecido, se completavam sob o teto da cabana do tecelão. O processo da manufatura determinou que o fio seria fiado nas fábricas e seria tecido nas cabanas. Na época atual, quando a manufatura chegou a sua etapa de maturidade, todas as operações voltam a realizar-se em um único edifício, recorrendo-se a meios superiores e máquinas mais complexas." Guest, O efeito do tear mecânico sobre a produção. O fragmento de texto anteriormente transcrito se refere: a) à consolidação das estruturas capitalistas de produção, com a valorização do trabalho artesanal. b) às transformações verificadas na produção a partir da chamada segunda fase da Revolução Industrial. c) ao processo de evolução da produção têxtil, observado a Inglaterra durante a transição feudal/capitalista. d) ao desenvolvimento de um sistema econômico fundamentado no trabalho de produtores autônomos. e) à queima de etapas perceptível na industrialização dos chamados países capitalistas de segunda geração. 14 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE HISTÓRIA GERAL – Prof. Monteiro Jr. Questão 15 Analise os textos: A indústria foi modernizada na Inglaterra, durante o século XIX, mas os velhos métodos de exploração do trabalho não mudaram: as jornadas de trabalho foram prolongadas e os salários diminuídos, fazendo crescer os lucros, especialmente nas minas de carvão, com o trabalho infantil. Os escrúpulos humanitários resumiram-se às casas para trabalhadores desvalidos, sobre as quais escreveu Charles Dickens, em Oliver Twist: ‘os pobres têm duas escolhas, morrer de fome lentamente se permanecem no depósito, ou de repente, se saem de lá’. ARRUDA, J. Nova História Moderna e Contemporânea. Bauru, SP: Edusc 2005, v. 2, p. 40. Quando examinei as três cabanas de barro que servem de hospital aos nativos em Leopoldville, todas deterioradas e duas com o teto de palha praticamente destruído, encontrei dezessete pacientes com doença do sono, homens e mulheres, jogados na pior sujeira. A maioria jazia no chão nu – muitos do lado de fora, em frente às casas e, pouco antes da minha chegada, uma mulher em estágio final de insensibilidade tinha caído no fogo e se queimado horrivelmente. FARIA, R.; MIRANDA, M., CAMPOS, H. Estudos de História, 2. São Paulo: FTD, 2009, p. 178. (adaptado) Os textos relatam duas manifestações do(a) a) racismo dos europeus em relação aos nativos africanos. b) espoliação dos trabalhadores na etapa imperialista do capitalismo. c) falência das políticas assistenciais propostas pelos socialistas. d) despreparo das autoridades para lidar com moléstias pouco conhecidas. e) insuficiência da missão civilizadora restringida à dimensão religiosa. GABARITO 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 E E E EE B A C D E 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 C E C C B __ __ __ __ __
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