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Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) Autor: Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 7 de Julho de 2021 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 1 1 Sumário Considerações Iniciais ......................................................................................................................................... 4 Crimes contra a Ordem Tributária (Lei n. 8.137/90) ......................................................................................... 4 1. Dos crimes contra a ordem tributária ......................................................................................................... 4 1.1. Dos crimes praticados por particulares ................................................................................................ 4 1.2. Dos crimes praticados por funcionários públicos .................................................................................. 8 1.3. Da extinção da punibilidade ............................................................................................................... 9 1.4. Da pena de multa ................................................................................................................................ 9 1.5. Da delação premiada ......................................................................................................................... 9 2. Dos crimes contra a ordem econômica ...................................................................................................... 11 3. Dos crimes contra as relações de consumo ................................................................................................ 13 Crimes contra a economia popular (Lei nº 1.521/1951) ................................................................................. 15 Crimes contra o Consumidor (Lei n. 8.078/90) ................................................................................................. 23 1. Aspectos introdutórios ............................................................................................................................... 23 2. Crimes em espécie .................................................................................................................................... 25 3. Circunstâncias agravantes......................................................................................................................... 37 4. Pena de multa ........................................................................................................................................... 38 5. Penas restritivas de direitos ...................................................................................................................... 38 Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 42 Lista de Questões .............................................................................................................................................. 63 Gabarito ........................................................................................................................................................... 73 Resumo .............................................................................................................................................................. 74 Jurisprudência Pertinente .................................................................................................................................. 84 Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 2 1 Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 4 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Olá, amigo concurseiro! Hoje estudaremos a Lei 8.137 de 1990, que trata dos Crimes contra a Ordem Tributária e ainda a Lei 1.521 de 1951 e os crimes contra o consumidor previstos na Lei 8.078 de 1990. Vamos lá!? Mãos à obra! CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI N. 8.137/90) 1. Dos crimes contra a ordem tributária 1.1. Dos crimes praticados por particulares Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: Este é um dos dispositivos mais cobrados em provas. O crime contra a ordem tributária consiste na supressão ou redução de tributo, mediante uma das condutas previstas nos arts. 1º e 2º. A redação do caput tornou-se tecnicamente imprecisa, pois menciona a supressão ou redução de tributo ou contribuição social, sendo que hoje é pacífico na Doutrina que as contribuições sociais são espécies do gênero tributo, que comporta ainda os impostos, taxas, contribuições de melhoria e empréstimos compulsórios. Vejamos agora às condutas típicas do art. 1º. I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação. Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 5 Perceba que essas condutas estão relacionadas ao descumprimento de obrigações estabelecidas pelas leis e regulamentos tributários. Em geral, as pessoas jurídicas têm o dever de manter livros contábeis, com registros detalhados de todas as transações realizadas. Além disso, há também documentos que precisam ser emitidos a cada compra, venda ou prestação de serviços: notas fiscais, duplicadas, cupons fiscais, notas de venda, etc. Caso o contribuinte não emita esses documentos ou não registre adequadamente as transações, incorrerá nas condutas previstas nos incisos II, III, IV e V. Muita atenção aqui, pois os crimes previstos nos incisos I a IV são considerados crimes materiais. Já no caso do inciso V estamos falando de um crime formal, não se exigindo o lançamento definitivo do tributo para que o crime esteja consumado, ok? O inciso I diz respeito à obrigação de o contribuinte prestar informações à autoridade fazendária. Essa obrigatoriedade se manifesta tanto nas declarações prestadas periodicamente aos órgãos fazendários, quanto às situações de fiscalização e auditoria, situação na qual o fiscal tributário pode requisitar informações ao contribuinte. Vejamos agora as condutas previstas no art. 2º. Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos; III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuiçãocomo incentivo fiscal; IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento; V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. O inciso I trata especificamente das declarações de rendas, bens e fatos. O agente que falseia ou omite informações que deveriam constar nessas declarações comete crime contra a ordem tributária. O exemplo fica por conta da famosa Declaração do Imposto de Renda, por meio da qual o contribuinte declara à Receita Federal todos os valores que recebeu no ano anterior, bem como detalhes acerca de seu patrimônio. Há uma série de outras declarações que devem ser prestadas pelas pessoas jurídicas, como, por exemplo, a declaração de recolhimento do ICMS, por meio da qual o contribuinte declara as vendas de mercadorias Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 6 realizadas durante o ano e os valores recolhidos a título de tributo. Este é um exemplo de declaração de fatos. O simples não recolhimento de tributo no prazo legal também configura crime contra a ordem tributária. Aquele que exige, paga ou recebe percentagem do valor dedutível como incentivo fiscal também incorre em crime. Esta é a conduta praticada por aqueles negociam benefício fiscal. Durante algum tempo houve discussões no STJ quanto à prática de empresários que deixavam de recolher ICMS declarado e repassado aos clientes. Julgados anteriores apontavam a conduta como inadimplência, não como o crime tipificado no art. 2º, II da Lei 8.137/1990. Tal visão não foi compartilhada pela Terceira Turma do STJ na decisão sobre o HC 399.109-SC que você confere abaixo: OPERAÇÕES PRÓPRIAS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. NÃO RECOLHIMENTO. APROPRIAÇÃO INDÉBITA TRIBUTÁRIA. A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra- se formalmente no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990 (apropriação indébita tributária), desde que comprovado o dolo. HC 399.109-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, por maioria, julgado em 22/08/2018, DJe 31/08/2018. Ainda tratando de incentivos fiscais, aquele que obtém incentivo para aplicar em determinada atividade e não o faz também incorre em crime. Considero bastante interessante a tipificação da conduta daquele que desenvolve sistema de processamento de dados que permita ao contribuinte manter informação contábil diversa daquela que é informada à autoridade fiscal. Na prática, este seria um sistema para acompanhar o “caixa dois”. É muito importante que você memorize essas condutas, por isso sistematizei a tabela a seguir, de forma a auxiliar a sua revisão. Perceba também que a pena cominada para os crimes do art. 2º é mais branda que a cominada pelo art. 1º. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA Art. 1º Art. 2º Omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; Fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; Fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; Deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos; Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 7 Falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; Exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal; Elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; Deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento; Negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação. Utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. As seguintes circunstâncias agravantes, previstas pela Lei nº 8.137/1990, podem agravar as penas de um terço à metade: Ocasionar grave dano à coletividade; Ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções lembre-se de que essas circunstâncias agravantes apenas se aplicam aos crimes cometidos por particulares. Se estes crimes forem praticados por funcionário público, estará presente a circunstância agravante. Mais adiante veremos os crimes que somente podem ser praticados por funcionários públicos, e nesse caso a condição do agente já é elementar do crime e, portanto, não pode agravar a pena; Ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde. Quero chamar sua atenção para as implicações nos crimes contra a ordem tributária trazidas pela Lei nº 9.964/2000, que instituiu o Programa de Recuperação Fiscal (Refis). Esse programa tem por finalidade a regularização dos débitos das pessoas jurídicas com a União. A pretensão punitiva do Estado quanto aos crimes dos arts. 1º e 2º será suspensa quando a pessoa jurídica relacionada com o agente dos crimes estiver incluída no Refis. Essa suspensão, todavia, só pode ocorrer se o devedor tiver entrado no Refis antes do RECEBIMENTO da denúncia criminal. Importante ressaltar que outras normas posteriores, a exemplo da Lei 10.684/2003, que criaram novos programas de refinanciamento, falam em parcelamento a qualquer momento, não havendo esse limite previsto na Lei 9.964/2000, afinal o interesse da União é receber os valores. Se a pessoa jurídica incluída no Refis honrar o parcelamento e efetuar o pagamento integral dos débitos, haverá extinção da punibilidade. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 8 Súmula Vinculante nº 24 do STF Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. Crimes materiais são aqueles que são consumados apenas com a ocorrência do resultado previsto pelo tipo penal. Não basta a ação ou omissão do agente, mas é necessário também que o resultado intentado seja alcançado. Caso o resultado não faça parte do tipo penal, estaremos diante de um crime formal, que pode se consumar apenas com a conduta do agente. Os crimes previstos no art. 1º, I a IV, são crimes materiais, e somente se aperfeiçoam com o lançamento definitivo do tributo, pois esse é o procedimento legítimo para atestar que houve supressão ou redução do tributo. Somente a partir do lançamento, que é ato privativo da autoridade fiscal, surgepara o Estado a pretensão de constranger o sujeito passivo ao pagamento. Por outro lado, os crimes previstos no art. 1º, V (negar ou deixar de fornecer nota fiscal ou documento equivalente) e no art. 2º são crimes formais. Isso significa dizer que a supressão ou redução do tributo não é essencial à sua consumação. Estes crimes, portanto, se consumam independentemente do lançamento definitivo do tributo. 1.2. Dos crimes praticados por funcionários públicos Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social; II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Os crimes cometidos por funcionário público são apenas esses três. Perceba que cada um deles tem um correspondente no Código Penal. O crime do inciso I lembra muito o de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento (art. 314 do CP). A diferença é que o crime previsto no inciso I adiciona um resultado como naturalístico: “acarretar pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social”. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 9 Já o crime do inciso II tem relação com o crime de concussão (art. 316 do CP) e o de corrupção passiva (art. 317 do CP). A diferença agora será a exigência de finalidade específica do agente: “para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente”. O inciso III, por sua vez, lembra bastante o crime de advocacia administrativa (art. 321 do CP), apenas substituindo a expressão administração pública por administração fazendária. Lembre-se dessas diferenças, ok? Não há crime funcional contra a ordem tributária que não mencione tributos ou a Administração Fazendária! 1.3. Da extinção da punibilidade O art. 14 da Lei nº 8.137/1990 originalmente previa a extinção da punibilidade nos crimes contra a ordem tributária se o agente pagasse sua dívida com o Fisco antes do recebimento da denúncia. Esse dispositivo, entretanto, foi revogado pela Lei nº 8.383/1991. A Lei nº 9.249/1995 posteriormente reestabeleceu a regra de extinção da punibilidade antes do recebimento da denúncia. Por fim, depois de muito vai e vem, a lei 10.684/2003 estabeleceu que a punibilidade pode ser extinta com o pagamento integral mesmo após o TRÂNSITO EM JULGADO, tese aceita pelo STJ (HC 362478). 1.4. Da pena de multa Acerca da pena multa, a Lei nº 8.137/1990 traz regras específicas para o cálculo. Chamo sua atenção especial para o art. 10, que confere ao juiz a faculdade de aumentar ou diminuir a multa em função do ganho obtido pelo réu com o crime da sua situação econômica. Art. 8° Nos crimes definidos nos arts. 1° a 3° desta lei, a pena de multa será fixada entre 10 (dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Parágrafo único. O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a 14 (quatorze) nem superior a 200 (duzentos) Bônus do Tesouro Nacional BTN. Art. 10 Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique a insuficiência ou excessiva onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá diminuí-las até a décima parte ou elevá-las ao décuplo. 1.5. Da delação premiada Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 10 Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou coautoria, o coautor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. Qualquer pessoa pode trazer informações diretamente ao Ministério Público a respeito dos crimes contra a ordem tributária. Perceba que não é necessário que haja inquérito policial ou qualquer outra atuação da Polícia. O Ministério Público goza de poderes próprios de investigação e pode subsidiar o oferecimento da ação penal com informações obtidas por outros meios. O parágrafo único traz a nossa já conhecida delação premiada. A redução de pena aplicável neste caso é de um a dois terços, e deve ser concedida ao agente que espontaneamente relevar toda a trama delituosa. Os crimes contra a ordem tributária são de ação penal pública incondicionada, devendo a representação fiscal ser encaminhada pela autoridade fazendária ao Ministério Público quando houver a constituição definitiva do crédito tributário. Isso significa que, se o sujeito passivo de tributo questionar na esfera administrativa a exigência do tributo, a representação fiscal somente pode ser enviada ao Ministério Público após a decisão administrativa definitiva. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 11 DELAÇÃO PREMIADA A pena do agente que espontaneamente relevar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa será reduzida de um a dois terços. 2. Dos crimes contra a ordem econômica Nestes crimes, o bem jurídico tutelado é a ordem econômica, que deve ser entendida como o sistema que contempla a produção e comercialização de bens materiais, que podem ser avaliados e negociados. A manutenção da boa ordem econômica é de interesse de toda a sociedade, pois todos possuem bens e direitos que, de uma forma ou de outra, circulam por meio das trocas econômicas. Segundo a Constituição de 1988, a ordem econômica tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. A Constituição determina, ainda, em seu art. 173, §4º, que “a lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”. Daí as sanções severas que veremos mais adiante. Estes crimes, assim como os crimes contra a ordem tributária, são de ação penal pública incondicionada. Art. 4° Constitui crime contra a ordem econômica: I - abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante qualquer forma de ajuste ou acordo de empresas; II – formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando: a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas; b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas; c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. Equipe Legislação Específica Estratégia ConcursosAula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 12 O inciso I criminaliza a conduta de quem, de forma genérica, abusa do poder econômico. É muito difícil definir esse abuso, mas podemos dizer que ele ocorre quando o detentor do poder econômico de alguma forma o utiliza para prejudicar os consumidores e seus concorrentes, praticando conduta desleal, que atenta contra a competitividade. O dumping é uma prática lesiva à concorrência que consiste na operação de uma empresa abaixo das condições habituais de mercado, com a finalidade de eliminar. Seria o caso, por exemplo, de um grande fabricante de sapatos que decide começar a operar em uma nova localidade vendendo abaixo do preço de custo por um tempo, forçando os concorrentes menores a “quebrar”. A Lei nº 8.137/1990 punia o especificamente quem praticava dumping. Apesar de hoje não haver mais dispositivo específico sobre o assunto, em alguns casos pode ser possível enquadrar a conduta no inciso I do art. 4º. Já o inciso II criminaliza a conduta bastante conhecida por todos nós: a formação de cartel. Esta conduta antieconômica ocorre quando empresários se unem para “dividir entre si o mercado”, ajustando os preços a serem praticados, as quantidades de mercadorias que serão produzidas e comercializadas, o controle de redes de fornecedores ou o controle do mercado por regiões. Há cartel, por exemplo, quando empresas comerciais do mesmo ramo combinam que cada uma abrirá lojas em determinadas áreas da cidade, ou quando vários donos de postos de gasolina combinam um “preço de tabela” a ser praticado por todos. O cartel é crime de mera conduta. Não é necessário que o grupo efetivamente consiga o que pretende, mas somente que se reúna e faça o acordo. Atenção! O monopólio ocorre quando apenas uma pessoa é capaz de fornecer determinado bem ou serviço em certa localidade. A constituição de monopólio, por si só, não é crime. Cabe ao poder público, todavia, desenvolver mecanismos de forma a incentivar a concorrência ou, quando isso não for possível, limitar os preços praticados pelo monopolista. DUMPING Já foi, no passado, criminalizado especificamente pela Lei nº 8.137/1990, mas hoje não é mais; CARTEL É crime previsto no art. 4º, II; MONOPÓLIO Não é crime. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 13 3. Dos crimes contra as relações de consumo Esta parte da Lei n° 8.137/1990 aparece pouco em provas. Eu sempre costumo dizer que esse tipo de assunto pode ser o seu diferencial, pois se aparecer uma questão sobre este tema, muita gente vai errar. A defesa do consumidor é dever do Estado, assegurada pela Constituição de 1988 em seu art. 5°, XXXII. A lei em estudo, bem como o próprio Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/1990) surgem para garantir eficácia ao dispositivo constitucional, regulando as relações de consumo e criminalizando certas condutas lesivas aos interesses dos consumidores. As relações de consumo são protegidas enquanto bem jurídico imaterial, supra-individual e difuso. Os bens jurídicos relacionados a cada consumidor especificamente são secundários. As normas penais têm por objetivo proteger principalmente a integridade da relação de consumo e a adequação da informação dada pelo fornecedor ao consumidor. Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: I - favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores; II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial; III - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os demais mais alto custo; IV - fraudar preços por meio de: a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço; b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto; c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado; d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços; V - elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais; VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação; VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação publicitária; Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 14 VIII - destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou de terceiros; IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria- prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo; Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. Uma questão relacionada à Jurisprudência do STJ, e que já foi cobrada pelo Cespe, diz respeito ao crime previsto no inciso IX. O STJ entende que o crime de exposição à venda de mercadoria imprópria para consumo é crime formal, de perigo abstrato. Não se exige, portanto, que haja qualquer consequência naturalística para que esteja consumado o crime. Além disso, também é importante saber que o STJ entende que, para configuração do crime de expor à venda mercadorias impróprias para consumo, é necessária a realização de prova pericial. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ALIMENTOS IMPRÓPRIOS PARA O CONSUMO. PRAZO DE VALIDADE VENCIDO. PERÍCIA TÉCNICA PARA AFERIR O ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO. NECESSIDADE. […] "Da leitura do artigo 7º, inciso IX, da Lei 8.137/1990, percebe-se que se trata de delito contra as relações de consumo não transeunte, que deixa vestígios materiais, sendo indispensável, portanto, a realização de perícia para a sua comprovação, nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal" (RHC 49.221/SC, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 28/4/2015). "Inexistente prova pericial, produzida diretamente sobre os produtos alimentícios apreendidos, falta justa causa para a persecução penal, sendo insuficiente concluir pela impropriedade para o consumo exclusivamente em virtude da ausência de informações obrigatórias na rotulagem do produto e/ou em decorrência do prazo de sua validade estar vencido" (RHC 69.692/SC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, DJe 13/6/2017). No caso em exame, verifica-se, conforme descrito na denúncia, que os ora pacientes "tinham em depósito para venda aditivos e matérias-primas para fabricação de linguiças com prazo de validade vencido". Na hipótese de delito em que deixa vestígios, revela-se indispensável a realização de exame pericial para atestar a impropriedade da mercadoria para o consumo, nos termos do art. 158 do Código de Processo Penal. Precedentes. [...] STJ, HC 4121180/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, DJe 19.12.2017 Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE(Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 15 Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-se a modalidade culposa, reduzindo-se a pena e a detenção de 1/3 (um terço) ou a de multa à quinta parte. Por incrível que pareça, este disposto é o mais cobrado em provas até hoje no que tange aos crimes contra as relações de consumo. Atenção! É possível que os seguintes crimes sejam cometidos na modalidade culposa: CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO ADMITEM MODALIDADE CULPOSA II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial; III - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os demais mais alto custo; IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo. Ainda tratando deste tema, quero chamar sua atenção para o disposto no parágrafo único do art. 11, que traz disposição acerca da situação em que o fabricante estabelece ou sugere o preço de venda a ser praticado pelo comerciante. Parágrafo único. Quando a venda ao consumidor for efetuada por sistema de entrega ao consumo ou por intermédio de outro em que o preço ao consumidor é estabelecido ou sugerido pelo fabricante ou concedente, o ato por este praticado não alcança o distribuidor ou revendedor. Não há, portanto, responsabilidade solidária ou subsidiária do revendedor ou distribuidor quando o fabricante praticar conduta tipificada como crime contra as relações de consumo. Atenção, pois este assunto foi cobrado recentemente em concursos. CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR (LEI Nº 1.521/1951) Os Crimes contra a Economia Popular basicamente estão relacionadas a atos que prejudicam a livre concorrência ou que estejam relacionados à formação de cartéis, oligopólios ou monopólios, à manipulação de preços e de tendências do mercado. Segundo definição de Nelson Hungria, o crime contra a economia popular é “todo o fato que represente um dano efetivo ou potencial ao patrimônio de um número indeterminado de pessoas”. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 16 A Lei nº 1.521/1951 é curta e fácil de entender. Não se trata de uma das leis mais importantes, e muitos doutrinadores consideram que boa parte dela foi revogada por leis posteriores. Antes de aprendermos quais são os tipos penais apresentados pela lei, vamos estudar alguns aspectos processuais que também se apresentam, ok? Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial. Esta é uma hipótese de recurso de ofício (ou reexame necessário), aplicável sempre que os acusados forem absolvidos, ou quando for determinado o arquivamento do inquérito policial. Basicamente significa que, independentemente da interposição de recurso, o Juiz deve enviar o processo para julgamento pela instância superior. É uma regra um pouco estranha tratando-se de Direito Processual Penal, mas foi cobrada em concursos recentemente. Portanto, fique atento! Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 17 Haverá recurso de ofício sempre que os acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública forem absolvidos, ou quando for determinado o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial. Quanto ao procedimento, a lei determina a aplicação do rito sumário, mas traz prazos e parâmetros distintos do que hoje se segue nesse rito. Além disso, a lei determina que a retardação injustificada, pura e simples, dos prazos processuais importa em crime de prevaricação. Há ainda a previsão de julgamento por um júri composto por um Juiz e vinte cidadãos sorteados. Este júri, porém, foi extinto pelo Decreto-Lei nº 2/1966, e, posteriormente, a Emenda Constitucional nº 1/1969 determinou a competência do tribunal do júri, que hoje julga apenas crimes dolosos contra a vida. Agora vamos conhecer os tipos penais, que estão na tabela abaixo, adicionados de alguns comentários. São diversos crimes, mas as questões de prova não costumam se aprofundar, e em geral cobram apenas o conhecimento sobre as condutas descritas. CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR Art. 2º. São crimes desta natureza: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de dois mil a cinqüenta mil cruzeiros. I - recusar individualmente em estabelecimento comercial a prestação de serviços essenciais à subsistência; sonegar mercadoria ou recusar vendê-la a quem esteja em condições de comprar a pronto pagamento; Aqui há dois tipos penais. Na primeira parte temos a recusa de prestação de um serviço individual, que se pode entender, de acordo com o § Único do mesmo artigo, como sendo gêneros, artigos e mercadorias de primeira necessidade e indispensáveis à subsistência do indivíduo. A recusa deve ocorrer no interior do estabelecimento e de forma direta. Na segunda parte temos a modalidade de “sonegação de estoques”, mas esta foi revogada pelo art. 7.º, VI, da Lei 8.137/1990, com redação ampliada de modo a não mais tratar apenas dos serviços essenciais. II - favorecer ou preferir comprador ou freguês em detrimento de outro, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores; Revogado pelo artigo 7.º, I, da Lei 8.137/1990. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 18 III - expor à venda ou vender mercadoria ou produto alimentício, cujo fabrico haja desatendido a determinações oficiais, quanto ao peso e composição; Revogado pelo artigo 7.º, II, da Lei 8.137/1990. IV - negar ou deixar o fornecedor de serviços essenciais de entregar ao freguês a nota relativa à prestação de serviço, desde que a importância exceda de quinze cruzeiros, e com a indicação do preço, do nome e endereço do estabelecimento, do nome da firma ou responsável, da data e local da transação e do nome e residência do freguês; Revogado pelo artigo 1º, V, da Lei 8.137/1990. V - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, expô-los à venda ou vendê-los, como puros; misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para expô-los à venda ou vendê-los por preço marcado para os de mais alto custo; Revogado pelo artigo 7º, III, da Lei 8.137/1990. VI - transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à venda ou oferecer ao público ou vender tais gêneros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado, assim como não manter afixadas, em lugar visível e de fácil leitura, as tabelas de preços aprovadas pelos órgãos competentes; Revogado pelo artigo 6º, da Lei 8.137/1990. VII - negar ou deixar o vendedor de fornecer nota ou caderno de venda de gêneros de primeira necessidade, seja à vista ou a prazo, e cuja importância exceda de dez cruzeiros, ou de especificar na nota ou caderno - que serão isentos de selo - opreço da mercadoria vendida, o nome e o endereço do estabelecimento, a firma ou o responsável, a data e local da transação e o nome e residência do freguês; Revogado pelo artigo 1º, V, da Lei 8.137/1990. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 19 VIII - celebrar ajuste para impor determinado preço de revenda ou exigir do comprador que não compre de outro vendedor; Mais uma vez aqui há dois tipos penais. O primeiro é a imposição de preço, que normalmente ocorre quando há conluio de empresas do mesmo ramo, com a implantação de cartel. O segundo tipo penal trata da cláusula de exclusividade, proibindo o comprador de adquirir a mercadoria junto a outro fornecedor. IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos ("bola de neve", "cadeias", "pichardismo" e quaisquer outros equivalentes); Aqui estamos falando da exploração fraudulenta da credulidade pública. A principal diferença desse crime em relação ao estelionato é que ele é praticado contra um número indeterminado de pessoas. O crime estará consumado mesmo que o agente não consiga auferir qualquer ganho. O dispositivo traz exemplos de algumas práticas, mas trata-se de um rol exemplificativo, ok? A “bola de neve” é a compra um bem de maior valor pagando apenas uma parcela menor, conseguindo parceiros para solver as demais e, estes, por sua vez procederão da mesma forma. “Cadeias” ou “correntes da felicidade” ou ainda “pirâmides” são práticas que beneficiam apenas os primeiros organizadores, pois num determinado momento ela se rompe, trazendo prejuízos aos participantes. "Pichardismo" diz respeito ao autor do famoso golpe, o italiano Manuel Severo Pichardo, que consiste na promessa fraudulenta, ao comprador, do fornecimento de determinada mercadoria e, após algum tempo, restituir-lhe os valores pagos, em sistema de "corrente". Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 20 X - violar contrato de venda a prestações, fraudando sorteios ou deixando de entregar a coisa vendida, sem devolução das prestações pagas, ou descontar destas, nas vendas com reserva de domínio, quando o contrato for rescindido por culpa do comprador, quantia maior do que a correspondente à depreciação do objeto. Mais uma vez o que diferencia este tipo penal do estelionato ou da apropriação indébita é o grande número de vítimas. XI - fraudar pesos ou medidas padronizados em lei ou regulamentos; possuí-los ou detê-los, para efeitos de comércio, sabendo estarem fraudados. A primeira modalidade do crime trata da fraude no peso ou medida da mercadoria, normalmente por meio da alteração dos equipamentos de pesagem. A segunda está relacionada à posse ou detenção de bens fraudados. Art. 3º. São também crimes desta natureza: Pena - detenção, de 2 (dois) anos a 10 (dez) anos, e multa, de vinte mil a cem mil cruzeiros. I - destruir ou inutilizar, intencionalmente e sem autorização legal, com o fim de determinar alta de preços, em proveito próprio ou de terceiro, matérias-primas ou produtos necessários ao consumo do povo; II - abandonar ou fazer abandonar lavoura ou plantações, suspender ou fazer suspender a atividade de fábricas, usinas ou quaisquer estabelecimentos de produção, ou meios de transporte, mediante indenização paga pela desistência da competição; Aqui o agente paga para que o que outro desista da competição. Os dois, portanto, tiram vantagem da situação, em detrimento dos outros concorrentes. III - promover ou participar de consórcio, convênio, ajuste, aliança ou fusão de capitais, com o fim de impedir ou dificultar, para o efeito de aumento arbitrário de lucros, a concorrência em matéria de produção, transportes ou comércio; IV - reter ou açambarcar matérias- primas, meios de produção ou produtos necessários ao consumo do povo, com o fim de dominar o mercado em qualquer ponto do País e provocar a alta dos preços; Revogado pelo artigo 4.º, IV, da Lei 8.137/1990. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 21 V - vender mercadorias abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência. Revogado pelo artigo 4.º, VI, da Lei 8.137/1990. VI - provocar a alta ou baixa de preços de mercadorias, títulos públicos, valores ou salários por meio de notícias falsas, operações fictícias ou qualquer outro artifício; Esta é uma das principais condutas capazes de abalar a economia popular. Para que o crime esteja consumado, não é necessário que ocorra efetiva alteração dos preços, bastando a utilização dos artifícios para atingir tal fim. VII - dar indicações ou fazer afirmações falsas em prospectos ou anúncios, para fim de substituição, compra ou venda de títulos, ações ou quotas; Revogado pelo art. 67 da Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor). VIII - exercer funções de direção, administração ou gerência de mais de uma empresa ou sociedade do mesmo ramo de indústria ou comércio com o fim de impedir ou dificultar a concorrência; O sujeito ativo deve ser pessoa qualificada para exercer mais de uma função de direção, administração ou gerência. O delito ocorre com o exercício de chefia em mais de uma empresa do mesmo ramo e exige o dolo específico de impedir a concorrência. IX - gerir fraudulenta ou temerariamente bancos ou estabelecimentos bancários, ou de capitalização; sociedades de seguros, pecúlios ou pensões vitalícias; sociedades para empréstimos ou financiamento de construções e de vendas e imóveis a prestações, com ou sem sorteio ou preferência por meio de pontos ou quotas; caixas econômicas; caixas Raiffeisen; caixas mútuas, de beneficência, socorros ou empréstimos; caixas de pecúlios, pensão e aposentadoria; caixas construtoras; cooperativas; sociedades de economia coletiva, levando-as à falência ou à insolvência, ou não cumprindo qualquer das cláusulas contratuais com prejuízo dos interessados; Este tipo penal foi parcialmente revogado pelo art. 4.º da Lei 7.492/1986, que passou a prever o crime de gestão fraudulenta de instituições financeiras. Entretanto, o crime continua existindo quando a conduta envolver empresas não financeiras. O legislador procurou coibir o mau administrador dos recursos de terceiros. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 22 X - fraudar de qualquer modo escriturações, lançamentos, registros, relatórios, pareceres e outras informações devidas a sócios de sociedades civis ou comerciais, em que o capital seja fracionado em ações ou quotas de valor nominativo igual ou inferior a um mil cruzeiros com o fim de sonegar lucros, dividendos, percentagens, rateios ou bonificações, ou de desfalcar ou de desviar fundos de reserva ou reservas técnicas. Este crime é uma espécie de falsidade, que lesa os sócios ou acionistas da empresa. Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de cinco mil a vinte mil cruzeiros. a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágiosuperior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito; A alínea “a” trata da usura pecuniária, que é a obtenção de lucros exagerados, através de juros cobrados por empréstimos, ou por meio de contratos que tenham por objetivo negócios pecuniários. O tipo penal prevê três condutas diferentes, duas na forma de cobrar e uma na de emprestar. A primeira tipifica-se por cobrar juros superiores ao permitido por lei. A segunda compreende a cobrança de ágio superior à taxa de câmbio, sobre a compra ou venda de moeda estrangeira. E a terceira se refere ao empréstimo mediante penhor. b) obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida. § 1º. Nas mesmas penas incorrerão os procuradores, mandatários ou mediadores que intervierem na operação usuária, bem como os cessionários de crédito usurário que, cientes de sua natureza ilícita, o A alínea “b” aborda a usura real, que consiste numa vantagem em bens de qualquer natureza, inclusive imóveis, inserida em contratos. Na usura real há uma grande desproporção entre o preço justo e o lucro a ser auferido. São contratos desequilibrados, em geral fruto do desespero de uma das partes. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 23 fizerem valer em sucessiva transmissão ou execução judicial. § 2º. São circunstâncias agravantes do crime de usura: I - ser cometido em época de grave crise econômica; II - ocasionar grave dano individual; III - dissimular-se a natureza usurária do contrato; IV - quando cometido: a) por militar, funcionário público, ministro de culto religioso; por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima; b) em detrimento de operário ou de agricultor; de menor de 18 (dezoito) anos ou de deficiente mental, interditado ou não. CRIMES CONTRA O CONSUMIDOR (LEI N. 8.078/90) 1. Aspectos introdutórios A Constituição Federal de 1988 prevê a defesa do consumidor como uma de suas cláusulas pétreas, decorrentes dos direitos e garantias fundamentais por ela assegurados. A legislação específica para defesa do consumidor encontra amparo no art. 5o, XXXII, que dispõe que o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Dada a necessidade de regulamentação do assunto,em 1990 foi promulgado o Código de Defesa do Consumidor, que regula as relações de consumo e garante a busca pela tutela jurisdicional com maior peso e força. O CDC é uma lei bastante abrangente, que trata de vários aspectos atinentes às relações de consumo. Há disposições acerca da responsabilidade civil do fornecedor, além de disposições administrativas e penais. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 24 Claro que o conteúdo que nos interessa é o penal, que conta inclusive com a tipificação de crimes, que estudaremos a partir de agora. Para que possamos compreender os tipos penais, porém, é necessário conhecer algumas definições básicas trazidas pelo CDC. A seguir apresento essas informações no formato de uma tabela, para facilitar sua memorização. DIREITO DO CONSUMIDOR – DEFINIÇÕES BÁSICAS Relação de consumo É a que se estabelece entre fornecedor e consumidor, tendo como objeto produtos e serviços. Consumidor É toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (art. 2o do CDC). Equipara-se também a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo (art. 2o, parágrafo único). Fornecedor É toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços (art. 3o). Produto Qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (art. 3o, §1o). Serviço Qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de créditos e securitária, salvo as decorrentes de relações de caráter trabalhista (art. 3o, §2o). Ainda na Constituição Federal, temos, em seu art. 173, §5o, a previsão de uma lei que estabeleça a responsabilidade do dirigente da pessoa jurídica que incorrer em irregularidades. Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. [...] § 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. Os crimes descritos na Lei n. 8.078/1990 não são crimes contra a economia popular, e por isso a responsabilização de penal de pessoas jurídicas nesses casos não é possível. Além disso, o CDC não prevê a responsabilização da pessoa jurídica, e, portanto, mesmo que esta seja fornecedora ou prestadora de serviço, a punição somente pode recair sobre seu titular ou, em alguns casos, um funcionário. Como exemplo, podemos citar o crime do art. 74, que tipifica a conduta de não entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido. Neste caso é preciso investigar se o titular do Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 25 estabelecimento determinou que seus empregados adotassem a conduta, e, se tal fato for comprovado, deverá ser ele punido. A questão da responsabilização dos dirigentes é detalhada pelo art. 75 do CDC. Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas. Numa primeira leitura você até poderia ter essa impressão, mas o art. 75 NÃO cria uma hipótese de responsabilidade objetiva. Na realidade, o dispositivo determina que só serão punidos aqueles que concorrerem para o crime. Além disso, os diretores, administradores e gerentes somente poderão ser responsabilizados criminalmente por fatos que tenham chegado ao seu conhecimento, e cujo resultado poderiam ter evitado, dentro de sua esfera de atuação na empresa. Na maior parte dos crimes contra as relações de consumo não há dificuldade na identificação dos responsáveis, já que a conduta típica somente pode ser praticada por determinada pessoa. Fica claro, portanto, que a situação é bem diferente da esfera cível, na qual a empresa poderá responsabilizada em relação à obrigação de indenizar. Em termos de objetividade jurídica, podemos dizer que os crimes que estudaremos a partir de agora tutelam as relações de consumo. Em alguns casos a vítima é apenas um consumidor, mas em outros a infração penal atinge a universidade dos consumidores. Independentemente da possibilidadede individualização do sujeito passivo, a finalidade dos dispositivos é a proteção dos consumidores de maneira geral. 2. Crimes em espécie Antes de estudarmos os tipos penais um a um, você deve saber que os crimes contra as relações de consumo não estão presentes apenas no Código de Defesa do Consumidor. Outras leis também tratam do tema, além do próprio Código Penal, mas na aula de hoje nosso objeto de estudo será a Lei n. 8.078/1990. Devemos ainda lembrar que há alguns princípios que guiam especificamente o Direito do Consumidor, entre eles a proteção ao consumidor, que surge em decorrência de sua situação de hipossuficiência econômica, quando diante dos grandes conglomerados da indústria e do comércio. Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes. Em geral, os crimes contra as relações de consumo são crimes de perigo abstrato, ou seja, a conduta do agente é capaz de colocar em risco o bem jurídico tutelado pelo tipo penal. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 26 O dolo de perigo é considerado elemento subjetivo do ilícito. Existe, portanto, uma presunção absoluta de perigo. Isso significa que não é necessária a comprovação de que a conduta do agente efetivamente colocou em risco o bem jurídico tutelado. Passaremos agora ao estudo dos tipos penais, um a um. Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. § 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado. § 2° Se o crime é culposo: Pena- Detenção de um a seis meses ou multa. Os doutrinadores dizem que este tipo penal tem o condão de reforçar o que o CDC determina em seu art. 9º, pois ratifica a obrigação que o fornecedor tem de informar nos rótulos dos produtos e nas mensagens publicitárias acerca dos aspectos de nocividade e periculosidade do produto ou serviço. Vamos ver o que dizem os arts. 8o e 9º? Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. [...] Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto. Além deste, o art. 31 do CDC também determina que a “oferta e apresentação dos produtos devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa” acerca dos riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. A nocividade e a periculosidade do produto ou serviço são elementos normativos do tipo penal, pois se o produto ou serviço não for nocivo ou perigoso, não pode haver crime. A nocividade está relacionada à certeza de dano, enquanto a periculosidade diz respeito ao seu potencial. No que diz respeito ao §1º, estendeu-se a abrangência da norma penal aos prestadores de serviços perigosos e ou nocivos à vida ou segurança dos consumidores. O crime conta ainda com uma modalidade culposa, para a qual a pena será mais branda. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 27 Por fim, o crime do art. 63 é omissivo próprio e, por isso, não é possível punir a tentativa. A consumação do crime se dá quando o produto é lançado no mercado sem os necessários dizeres ou quando há lançamento publicitário sem o alerta. Na hipótese do §1o o agente poderá alertar o consumidor até o momento da prestação do serviço, e por isso o crime só consuma quando a prestação do serviço se inicia. Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo. A conduta tipificada pelo dispositivo é a omissão de informações sobre riscos conhecidos posteriormente à introdução no mercado do produto ou serviço. É o caso do comerciante que começa a vender a mercadoria e só então descobre que ela é nociva ou perigosa. Perceba que o tipo penal trata tanto da comunicação às autoridades quanto da informação aos consumidores. A doutrina diverge sobre o assunto, mas para fins de prova é suficiente que você lembre que se a comunicação é feita a um dos dois, não haverá crime. A interpretação deixa o leitor um pouco desconfortável, mas o tipo penal utiliza a conjunção “e”, e, como estamos falando de uma norma incriminadora, não podemos dar interpretação mais rigorosa. Esse tipo penal reforça o direito assegurado ao consumidor pelo art. 6º, I do CDC: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; Será ainda apenado por esse crime quem deixar de retirar do mercado os produtos nocivos ou perigosos, quando determinado pela autoridade competente, conforme o parágrafo único do dispositivo em estudo. O tipo penal é omissivo próprio, e a conduta só será punida quando for dolosa. Quando à consumação, precisamos apenas considerar a necessidade de ter decorrido tempo suficiente para que o fornecedor informe o mercado e as autoridades acerca da nocividade ou periculosidade do produto descoberta após o seu lançamento. Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. § 1º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte. § 2º A prática do disposto no inciso XIV do art. 39 desta Lei também caracteriza o crime previsto no caput deste artigo. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 28 Como regra geral, quem contraria determinação de autoridade competente incorre no crime de desobediência, tipificado no art. 330 do Código Penal. O CDC, porém, prevê infração mais grave para o fornecedor que, ao desobedecer a determinação da autoridade, realiza serviço de alto grau de periculosidade. Em decorrência da imprecisão da expressão “alto grau de periculosidade”, o crime em estudo é considerado norma penal em branco. Alguns doutrinadores trazem como exemplo o serviço prestado em brinquedos de parques de diversões de forma contrária à determinação das autoridades. Trata-se de um delito de mera conduta, comissivo e doloso. É admissível a tentativa, pois trata-sede crime comissivo e plurissubsistente. Apesar dessa possibilidade, ao menos teórica, a caracterização da interrupção do serviço não é uma tarefa muito fácil. O objeto jurídico tutelado é o direito do consumidor de ter sua vida, saúde e segurança protegidas. O sujeito ativoé qualquer prestador de serviço que contrariar determinação de autoridade competente na execução do serviço perigoso. Os sujeitos passivos por sua vez são a coletividade, os consumidores difusamente considerados e o exposto diretamente ao serviço perigoso prestado. Quanto ao §1o, peço licença para reproduzir as palavras de Eliana Passarelli: “Em síntese, o fornecedor que deixa de observar a determinação da autoridade competente acerca da execução de um serviço entendendo como de alto grau de periculosidade, e em decorrência vem a matar uma pessoa, atenta contra dois objetos jurídicos diversos (as relações de consumo e a vida humana), devendo ser punido pela violação de ambos”. A Lei n. 13.245/2017 incluiu ainda o §2o, que enquadra no crime do art. 65 a prática prevista no inciso XIV do art. 39. Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: [...] XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa como máximo. Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. § 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta. § 2º Se o crime é culposo; Pena- Detenção de um a seis meses ou multa. Aqui, a finalidade do legislador foi de proteger o direito do consumidor à informação clara e não contraditória, assegurado pelo art. 30 e seguintes do CDC. Luc Bihl diz que “só um consumidor completamente informado pode contratar, em pleno conhecimento de causa, com os fornecedores e desempenhar o papel que deve ser o seu, o de parceiro econômico”. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 29 A responsabilidade criminal aqui pode atingir inclusive o responsável pela entidade que veicula a informação, posto que o CDC, no seu art. 75, dispõe que quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes nele referidos, incide nas penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou oferta e prestação de serviços nas condições legalmente proibidas. O crime conta com uma modalidade comissiva (fazer afirmação falsa ou enganosa) e outra omissiva (omitir informação relevante). Somente na modalidade comissiva é possível a tentativa. Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. Numa primeira olhada, este tipo penal parece ser próprio dos profissionais que criam e produzem publicidade, além dos responsáveis por sua veiculação, mas muitos doutrinadores entendem que quem contrata os serviços desses profissionais, ou seja, o fornecedor, também pode ser sujeito ativo do crime. Nesse sentido, as palavras de Antonio Herman Benjamin (grifos nossos): "O ato de publicidade tem três sujeitos: o anunciante, a agência e o veículo, este último também chamado de meio de suporte. O responsável principal, embora não exclusivo, é o anunciante, já que a aprovação final do anúncio é sua. O direito cria, em relação ao anunciante, uma obrigação de vigilância, cabendo-lhe controlar, antes de sua difusão, todo o conteúdo da publicidade, na medida em que é ele o melhor posicionado para fazê-lo." Omissão de informação relevante sobre... natureza característica qualidade garantia quantidade segurança desempenho durabilidade preço Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 30 O crime conta ainda com uma modalidade de dolo direto (sabe) e uma de dolo eventual (deveria saber). Alguns autores enxergam nessa última possibilidade uma modalidade culposa, mas a Doutrina majoritária entende pela existência de dolo eventual, pois o crime culposo deve sempre ser previsto expressamente. A tentativa é admissível. O próprio CDC, em seu art. 37, proíbe a publicidade enganosa e abusiva e faz as definições apropriadas. Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Alguns doutrinadores, ao analisar o crime do art. 67, fazem menção ao art. 27 do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, do CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), que traz as regras que devem ser seguidas nas campanhas publicitárias, e cujo desrespeito pode configurar o crime que estamos estudando. O dispositivo é um pouco longo, mas a leitura vale a pena. Artigo 27 O anúncio deve conter uma apresentação verdadeira do produto oferecido, conforme disposto nos artigos seguintes desta Seção, onde estão enumerados alguns aspectos que merecem especial atenção. § 1º - Descrições No anúncio, todas as descrições, alegações e comparações que se relacionem com fatos ou dados objetivos devem ser comprobatórias, cabendo aos Anunciantes e Agências fornecer as comprovações, quando solicitadas. § 2º - Alegações O anúncio não deverá conter informação de texto ou apresentação visual que direta ou indiretamente, por implicação, omissão, exagero ou ambigüidade, leve o Consumidor a engano quanto ao produto anunciado, quanto ao Anunciante ou seus concorrentes, nem tampouco quanto à: a. natureza do produto (natural ou artificial); b. procedência (nacional ou estrangeira); c. composição; d. finalidade. § 3º - Valor, Preço, Condições O anúncio deverá ser claro quanto a: Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 31 a. valor ou preço total a ser pago pelo produto, evitando comparações irrealistas ou exageradas com outros produtos ou outros preços: alegada a sua redução, o Anunciante deverá poder comprová-la mediante anúncio ou documento que evidencie o preço anterior; b. entrada, prestações, peculiaridades do crédito, taxas ou despesas previstas nas operações a prazo; c. condições de entrega, troca ou eventual reposição do produto; d. condições e limitações da garantia oferecida. § 4º - Uso da Palavra "Grátis" a. O uso da palavra "grátis" ou expressão de idêntico significado só será admitido no anúncio quando não houver realmente nenhum custo para o Consumidor com relação ao prometido gratuitamente; b. nos casos que envolverem pagamento de qualquer quantia ou despesas postais, de frete ou de entrega ou, ainda, algum imposto, é indispensável que o Consumidor seja esclarecido. § 5º - Uso de Expressões Vendedoras O uso de expressões como "direto do fabricante", "preço de atacado", "sem entrada" e outras de igual teor não devem levar o consumidor a engano e sóserão admitidas quando o Anunciante ou a Agência puderem comprovar a alegação. § 6º - Nomenclatura, Linguagem, "Clima" a. O anúncio adotará o vernáculo gramaticalmente correto, limitando o uso de gíria e de palavras e expressões estrangeiras, salvo quando absolutamente necessárias para transmitir a informação ou o "clima" pretendido. Todavia, esta recomendação não invalida certos conceitos universalmente adotados na criação dos anúncios e campanhas. O primeiro deles é que a publicidade não se faz apenas com fatos e idéias, mas também com palavras e imagens; logo, as liberdades semânticas da criação publicitária são fundamentais. O segundo é que a publicidade, para se comunicar com o público, tem que fazer uso daquela linguagem que o poeta já qualificou como " Língua errada do povo / Língua certa do povo / Porque ele é que fala gostoso / O português no Brasil"; b. na publicidade veiculada pelo Rádio e pela Televisão, devem os Anunciantes, Agências e Veículos zelar pela boa pronúncia da língua portuguesa, evitando agravar os vícios de prosódia que tanto já estão contribuindo para desfigurar o legado que recebemos de nossos antepassados; c. todo anúncio deve ser criado em função do contexto sociocultural brasileiro, limitando-se o mais possível a utilização ou transposição de contextos culturais estrangeiros; d. o anúncio não utilizará o calão; e. nas descrições técnicas do produto, o anúncio adotará a nomenclatura oficial do setor respectivo e, sempre que possível, seguirá os preceitos e as diretrizes da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT e do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO. § 7º - Pesquisas e Estatísticas a. o anúncio não se referirá a pesquisa ou estatística que não tenha fonte identificável e responsável; b. o uso de dados parciais de pesquisa ou estatística não deve levar a conclusões distorcidas ou opostas àquelas a que se chegaria pelo exame do total da referência. § 8º - Informação Científica Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 32 O anúncio só utilizará informação científica pertinente e defensável, expressa de forma clara até para leigos. § 9º - Testemunhais a. O anúncio abrigará apenas depoimentos personalizados e genuínos, ligados à experiência passada ou presente de quem presta o depoimento, ou daquele a quem o depoente personificar; b. o testemunho utilizado deve ser sempre comprovável; c. quando se usam modelos sem personalização, permite-se o depoimento como "licença publicitária" que, em nenhuma hipótese, se procurará confundir com um testemunhal; d. o uso de modelos trajados com uniformes, fardas ou vestimentas características de uma profissão não deverá induzir o Consumidor a erro e será sempre limitado pelas normas éticas da profissão retratada; e. o uso de sósias depende de autorização da pessoa retratada ou imitada e não deverá induzir a confusão. Para a punição do crime do art. 67 do CDC, é preciso que o agente saiba que a publicidade é falsa ou abusiva ou que deva saber disso. Tradicionalmente a doutrina penalista indica que a expressão “deve saber” indica dolo eventual. Na prática, porém, devemos entender que podem também ser punidos aqueles quem, diante da situação concreta, não tinham como deixar de perceber que a publicidade era falsa ou abusiva. Por fim, podemos dizer que a infração penal do art. 67 é um crime formal, consumando-se no momento em que a publicidade é veiculada, independentemente de qualquer resultado. Além disso, trata-se de um crime de perigo abstrato, considerando que uma universalidade indeterminada de consumidores é exposta às práticas de desleais de anúncio de produtos e serviços. Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança: Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa. Este crime normalmente é chamado de publicidade abusiva. Como se trata de um delito que cuida diretamente da vida e segurança do consumidor, o legislador cominou uma pena que é duas vezes maior que a do crime anterior. Neste delito, o legislador tratou de uma modalidade específica de publicidade abusiva: “aquela capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança”. Podemos concluir, portanto, que só haverá crime quando a propaganda induzir o comportamento do consumidor de tal maneira que coloque em risco a sua saúde ou segurança. Se esse risco não for observado, e houver publicidade abusiva ou enganosa, o crime praticado será o tipificado pelo art. 67. Ainda assim, a maior parte dos doutrinadores identifica aqui um crime de perigo abstrato. Por fim, o crime tem como elemento subjetivo o dolo, sendo possível a tentativa. Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade: Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br 1872412 40695016300 - Márcio Lima Bezerra 33 Pena- Detenção de um a seis meses ou multa. É crime próprio, pois o sujeito ativo é só o fornecedor, uma vez que a ele se impõe o dever de arquivar os dados, nos termos do art. 36, parágrafo único, do CDC: Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem. Antes da veiculação da publicidade, o empresário deverá obter dados que embasem a sua campanha, sob pena de incorrer neste crime. Se a mensagem diz que 90% dos consumidores de determinado produto estão satisfeitos, essa informação deverá ser resultado de pesquisa tecnicamente apurada e adequadamente documentada. O fornecedor deverá ainda manter esses dados arquivados para consulta de eventuais interessados (consumidores, órgãos de defesa do consumidor, Ministério Público, Poder Judiciário e outras autoridades) por pelo menos 3 anos contados da veiculação da campanha publicitária. Trata-se de crime omissivo próprio, caracterizado pelo núcleo do tipo “deixar”. Como elemento subjetivo do tipo, temos o dolo. A consumação ocorre quando a publicidade é veiculada. Se o agente não organiza os dados, mas a publicidade não chega a ser veiculada, o fato é atípico. Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor: Pena - Detenção de três meses a um ano e multa. Esse artigo protege expressamente o direito conferido pelo art. 21 do CDC: Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. Se o consumidor procura empresa de assistência técnica de produto que se encontra em garantia e o empresário troca a peça com problemas por outra usada se a autorização do consumidor, responderá pelo crime do art. 70. Por outro lado, se o consumidor for induzido a erro e pagar o preço de uma peça nova, estará configurado outro tipo penal, mais severo (fraude no comércio, tipificado pelo art. 175, II, do Código Penal). O mesmo ocorre se o empresário utiliza uma peça não original. Equipe Legislação Específica Estratégia Concursos Aula 06 PC-CE (Inspetor da Polícia) Legislação Penal Extravagante - 2021 (Pós-Edital) www.estrategiaconcursos.com.br
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