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Introdução: De "Arthropod Borne Vírus";• São agentes que tem parte do seu ciclo de replicação nos artrópodes (possuem patas articuladas - insetos, aracnídeos, etc), podendo ser transmitidos aos seres humanos e outros animais pela picada - esse é o conceito de arbovirose, muitas pessoas confundem isso, o arbovírus não é relacionado ao vírus mas sim a forma com que eles são transmitidos e que eles têm um hospedeiro intermediário/o ciclo de replicação nos artrópodes. Dentro dos arbovírus a gente já falou de um flavivírus na última aula que é o da febre amarela, e hoje também vamos falar de um flavivírus, que é o vírus da dengue. • Arbovírus:- Assintomáticos (Dengue e Zika= 80%, Chikv = 5 a 25%) - O que é comum nessas arboviroses, principalmente dengue e zika, é ter um percentual de assintomáticos de até 80% dos casos, diferente da chikungunya que a taxa de assintomáticos é bem menor do que a taxa de zika e dengue. Então normalmente quem tem a infecção pelo o vírus da chikungunya é um paciente que vai estar sintomático. Todas elas normalmente produzem a fase inicial, que é a Doença febril indiferenciada (DF) - que foi discutida na última aula, que é o período de toxemia, que é quando o vírus está circulando na corrente sanguínea, chamada viremia que vai produzir a toxemia (que é nada mais do que resposta inflamatória, em que tem a produção de citocinas e o paciente vai ter febre, dor no corpo, cefaleia - que são sintomas muito semelhantes a todas essas doenças na fase inicial). No entanto algumas dessas arboviroses, principalmente febre amarela e zika e dengue, tem um grande potencial de produzir, fenômenos hemorrágicos (Síndromes hemorrágicas (SH) – Formas graves), não podemos esquecer que são vias diferentes - o vírus da febre amarela é hepatotrópico, então normalmente a lesão hepática altera a cascata da coagulação, consequentemente o paciente tem dificuldade de manter a sua hemostasia; já os pacientes com dengue, a produção de fenômenos hemorrágicos acontece de uma forma diferente. E algumas arboviroses podem também, produzir Doença articular (AR), que é mais frequentemente observado na chikungunya (mas pode acontecer também na dengue e na zika), e ocorrem devido a reação de antígeno-anticorpo. - Características gerais e epidemiologia dos arbovírus emergentes no Brasil:- Raissa Novelli T.67 Dengue sábado, 28 de novembro de 2020 09:03 Página 1 de INFECTO Flavivírus: Dentro dos flavivírus um dos grandes representantes é o vírus da dengue, mas existem uma gama de outros vírus que não são muito frequentes no Brasil, em que se inclui o vírus da febre amarela; • O Mayara e o Oropouche são frequentemente encontrados na região amazônica, e tem um potencial de causar dano, muito semelhante ao do vírus da dengue; • E existem os outros potenciais vírus que é o zika vírus, que vamos discutir na aula 3. • Aqui temos um quadro mostrando os principais arbovírus emergentes no Brasil, e consequentemente sua classificação por família dos vírus. Aqui temos o painel epidemiológico do número de casos de dengue no estado de minas de 2010-2019. Conseguimos observar que a dengue tem uma característica sazonal, com períodos de maior acometimento a cada 3 anos (maior número de casos em 2010, 2013, 2016 e 2019) e normalmente acontece mais no período final do verão (meses de fevereiro, março e abril são os meses de maior impacto). Página 2 de INFECTO Diferente da febre amarela, em que a circulação está associada a condição vacinal (baixa cobertura vacinal = maior número de casos). Na dengue é diferente, existem vários fatores, um deles é susceptibilidade ao subtipo do vírus (na dengue existem 4 subtipos diferentes - dengue 1, dengue 2, dengue 3, dengue 4 - diferente da febre amarela, que só tem um subtipo), então vai depender do subtipo de vírus que está circulando naquele momento no território. Então aqui, esse gráfico (1), está exemplificando quem em 2019 a curva foi um pouco pra direita. Nos anos de 2010, 2013 e 2016 o acometimento acontecia nos meses de fevereiro até março, já em 2019 ocorreram mais casos em abril e em dezembro, e na última epidemia tivemos 117 óbitos relacionado a dengue. A dengue é uma doença de potencial letal que precisa ser reconhecida porque o tratamento é relativamente simples, desde que seja instituído de forma adequada incialmente. Gráfico de monitoramento da circulação do subtipo viral. No meio da década (2014, 2015, 2016 - que foi um ano que tivemos mais de meio milhão de casos) o principal vírus circulante no estado, era o dengue tipo 1 e circulação muito pouca do dengue tipo 2, 3 e 4. Já em 2019 tivemos principalmente o dengue tipo 2, e isso que diferencia o surgimento de mais casos, explosão de mais casos provocando a epidemia. Nós temos um controle de 2 anos e depois explode número de casos, principalmente pela circulação do subtipo viral. Aqui em Minas, quase não tivemos dengue 3 ainda, então é um alerta pros próximos anos para possível epidemia de dengue pela circulação desse subtipo viral. Sorotipos do vírus da dengue em 2019:- Página 3 de INFECTO Aqui temos um painel geral, vendo uma circulação do vírus da dengue, é epidemiologia, maior número de casos... Temos circulação de todos os subtipos distribuídos no brasil, com preponderância de cada um desses subtipos em cada um dos estados. A epidemia sendo obtida consequentemente porque temos vários tipos de vírus circulando em diferentes territórios do Brasil. Caso Clínico 1: Paciente feminino, V.C.A.L., 18 anos. Sem comorbidades. Procura o Centro de Saúde com quadro clínico de início súbito de febre alta (início súbito de febre - importantíssimo nas doenças virais, não vale só para as arboviroses mas para todas as doenças virais, vale para covid19, influenza, infecções do trato respiratório. As doenças virais são normalmente agudas) cefaleia, mialgia, artralgia, náuseas (sinais indiretos da toxemia, o vírus circulando na corrente sanguínea provocando resposta inflamatória, e isso é comum em qualquer tipo de vírus) de início há 3 dias, com aparecimento de pontos avermelhados em tornozelos no dia da consulta. Aos finais de semana vai a sítio. Cartão vacinal em dia. A história clínica do paciente é muito importante! A febre amarela por exemplo, que é uma doença muito similar a dengue, existe vacina, então saber a história vacinal prévia e saber a situação local de onde paciente está, é importante para o quebra cabeça do diagnóstico do paciente. - Hipóteses diagnósticas?- Abordagem integrada Dengue/Chik/Zika - Zika tem predileção para causar alterações Necessário inicialmente estabelecer qual a síndrome que o paciente está apresentando para posteriormente estabelecer os diagnósticos diferenciais. Estamos falando de um paciente que tem febre, sinais de toxemia e fenômeno hemorrágico: febre hemorrágica (diagnóstico sindrômico). Raciocínio parte do diagnóstico sindrômico e pensamos no que é mais comum dentro disso e vai excluindo. Exame físico: Prostrada, corada, hidratada, anictérica. Temperatura axilar: 38,6ºC. Petéquias em MMII. Paciente prostrada. Ausência de alterações ao exame das articulações. Sem alterações respiratórias ou cardiovasculares. PA: 120 x 90 mmHg deitada; 120 x 85 em pé. - Página 4 de INFECTO Abordagem integrada Dengue/Chik/Zika - Zika tem predileção para causar alterações de hemorragia conjutival, mas também pode ser diagnóstico diferencial; • Sempre lembrar de outros diagnósticos diferenciais: História vacinal e epidemiológica é fundamental. • Febre Maculosa - precisa de um contexto epidemiológico de carrapatos;• Rubéola - é uma doença imunoprevinível, então é importante olhar história vacinal nesse contexto; tem alguns sintomas respiratórios, assim como sarampo. • Influenza;• Febre tifóide - infecção bacteriana e tem contexto epidemiológico alimentar na história clínica; • Sarampo;•Leptospirose - história clínica importante, contexto com contato com água de enchente; • Meningococemia - sintomas muito exuberantes, cefaleia importante e acometimento do SNC; • Sepse Bacteriana;• Ebola - no contexto de viagem para África;• Febre de início súbito, com duração máxima de 7 dias da fase inicial○ + ICTERÍCIA ou MANIFESTAÇÕES HEMORRÁGICAS muito exuberantes devido a alteração dos fatores de coagulação ou ELEVAÇÃO importante DE TRANSAMINASES - normalmente tem acometimento hepático final. O vírus da febre amarela é hepatotrópico, então ele tem sede do processo da sua doença no fígado, então é lá que a gente vai ver as principais manifestações ○ + Epidemiologia○ + NÃO VACINADO (o estado vacinal ignorado para febre amarela) ○ Febre Amarela - Quando suspeitar:• Essas são as principais doenças que causam febre hemorrágica: Dengue - não tem tanta alteração das transaminases, se tiver alteração vai ser mais indireta. Mas o mais frequente é a forma com que o paciente desse caso se apresentou (febre, dor de cabeça, mialgia e sinais de petéquias ou epistaxe). Outras doenças podem fazer diagnóstico diferencial, mas ai entra a história epidemiológica (se teve contato com gatos, carrapatos, água de enchente e histórico vacinal); Zika/Chik (presença de sangramento torna menos provável esta hipótese); Febre maculosa (viagem para sítio);○ Sepse, meningo;○ Leptospirose (sem história epidemiológica);○ Febre amarela (paciente vacinada).○ Outras FH: Hipóteses diagnósticas?- Espectro Clínico: Assintomática X Sintomática - a dengue é uma doença que tem o perfil assintomático Página 5 de INFECTO Assintomática X Sintomática - a dengue é uma doença que tem o perfil assintomático em até 80% dos casos, então muitas das vezes o paciente pode nem apresentar sintomas, mas no espectro do sintomático tem grande potencial letal - Doença sistêmica e dinâmica de amplo espectro clínico (oligossintomáticas até óbito) - é uma doença extremamente dinâmica, daí o papel o papel do médico em reconhecer prontamente a doença e manejar a doença como tal, variando desde formas oligossintomáticas até quadros graves, e isso pode evoluir em um curto período de tempo; Febril;○ Crítica;○ De recuperação ou convalescência.○ Três fases clínicas podem ocorrer: quando sintomático é possível diferenciar 3 fases clínicas Sintomática:- As arboviroses, tirando a febre amarela que na forma grave tem uma letalidade alta mas que tem vacina, as outras arboviroses que não temos vacina a dengue é a de maior potencial letal, e é mais comum. 2 a 7 dias; 39º a 40ºC; Início abrupto; Cefaleia, adinamia, mialgia, artralgia e dor retroorbitária; 50% dos casos: exantema máculo-papular face -> tronco -> membros; Náusea, vômitos e diarréia podem ocorrer - A diarreia está presente em percentual significativo dos casos, habitualmente não é volumosa, cursando apenas com fezes pastosas numa frequência de 3 a 4 evacuações por dia, o que facilita o diagnóstico diferencial com gastroenterites de outras causas. 1. Fase Febril: Página 6 de INFECTO A primeira fase é a fase febril, é a fase de viremia quando o vírus está correndo na circulação produzindo resposta inflamatória, e que se tem os principais sintomas (que são comuns na maioria das arboviroses) que é a febre, dor no corpo, cefaleia e artralgia. Pode variar de 2 a 7 dias. A: Na primeira fase tem muito febre, B: e o paciente começa a evoluir inicialmente com uma desidratação devido ao fato que o vírus da dengue tem predileção pela célula endotelial, a lesão mais característica é a alteração na permeabilidade vascular (diferente da febre amarela que a lesão característica é lesão hepática), e isso dificulta a manutenção do líquido intravascular, então o paciente vai perdendo líquido para o terceiro espaço. Então inicialmente nessa fase, quando já começa a ter lesão endotelial (começa a ter desidratação), C: nos exames laboratoriais se observa que o hematócrito (é importantíssimo no acompanhamento da dengue) começa a ter uma queda justamente pela perda do espaço inicial para o terceiro espaço, D: e como está na fase de viremia, culmina nos principais sintomas. E: Nessa fase inicial não tem anticorpo (como qualquer doença, para ter anticorpo é no mínimo 7 dias), não adianta pedir anticorpo para nenhuma doença na fase viral, estamos falando de uma doença aguda então ainda não deu tempo de produzir anticorpo, porém a única forma de fechar o diagnóstico é identificando o vírus. Ocorre em alguns pacientes; Entre 3º e 7º dias: início com a defevercência da febre; Sinais de alarme. 2. Fase Crítica: É chamada de fase crítica porque é quando a gente observa lesões, principalmente de órgão alvo, quando a gente começa a ver que as vísceras do nosso sistema estão tendo sofrimento por conta da dengue. E a manifestação primordial da dengue é o choque hemorrágico. Então na fase crítica que é o momento em que a febre cai, é o momento em que diminui a viremia (D), diminui a resposta inflamatória (A); parte dos pacientes vão evoluir bem, vão montar uma resposta imune e vão melhorar do quadro. As pessoas Página 7 de INFECTO vão evoluir bem, vão montar uma resposta imune e vão melhorar do quadro. As pessoas que vão evoluir mal da dengue, são aquelas que não vão conseguir produzir uma resposta imune adequada nessa fase e o vírus da dengue vai se instalar na célula endotelial, causando a principal manifestação que é o choque hemorrágico da dengue. Nessa fase tem muita perda de líquido (C), então ocorre uma elevação no hematócrito (o paciente perde muito líquido, e desidrata muito), o ponto chave na dengue para ver se o paciente está piorando é o aumento do hematócrito. As plaquetas caem normalmente nas doenças virais, e também se tem leucopenia, mas a dengue tem mais queda de plaqueta do que as doenças virais em geral, e pode ser uma plaquetopenia importante mas isso não é sinal de gravidade. Define-se sinal de gravidade na dengue: hemoconcentração (elevação de hematócrito), é um ponto chave para ver se o paciente está evoluindo bem ou não é vigiar o hematócrito, principalmente entendendo o momento da doença, se ele já está na fase crítica que é entre o terceiro e sétimo dia (normalmente na virada do quinto para o sexto dia). Página 8 de INFECTO Essa figura exemplifica justamente a sede do processo da dengue na célula endotelial. A dengue atua diretamente alterando a permeabilidade vascular, e muitas das vezes isso é a manifestação final da doença com o choque hemorrágico e disfunção multi orgânica. Dengue - Passo a Passo: Avaliar história clínica (definir fase da infecção) - sempre tentar avaliar a história clínica, que vai definir em qual fase que ele está, se ele está na fase febril ou se já está na fase crítica, normalmente a fase crítica é um sinal de maior alerta e é a onde vamos ter que intervir; - Aferir pressão arterial em duas posições - a diferenciação entre a pressão arterial quando o paciente está em posição em pé ou deitada, vai ser um dos primeiros sinais que o paciente está tendo alteração da permeabilidade vascular, que é chamado de hipotensão ortostática. O paciente quando deitado consegue manter o nível normal e quando em pé o paciente tem uma hipotensão discreta, e isso é um dos grandes sinais clínicos que o paciente está perdendo líquido; - Pesquisar comorbidades, situações clínicas especiais e/ou risco social - a dengue pode evoluir com desfecho negativo em qualquer paciente mas ela costuma cursar de forma mais grave em quem tem comorbidades, e isso vale para qualquer doença viral; - Pesquisar sinais de alarme e/ou choque;- Realizar exame físico e pesquisar sangramentos de pele espontâneos ou induzidos - sempre pesquisar os sangramentos devido ao fato de ser uma doença com potencial hemorrágico; - Realizar prova do laço em pacientes do grupoA.- É uma forma de induzir Hemorragia no paciente, é para saber se há fragilidade vascular a ponto de provocar uma hemorragia. Não dá diagnóstico etiológico de dengue, ele só é um marcador de alteração da permeabilidade vascular; Prova do Laço: não é diagnóstico de dengue não, ele avalia a gravidade- Página 9 de INFECTO Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua - normalmente é lesão hepática, é um paciente que já está com perda de líquido para o terceiro espaço, perda de líquido no peritônio; Vômitos persistentes - paciente não consegue manter o status do tônus vascular, e o tônus de hidratação e começa a ter vômitos incoercíveis; Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural, derrame pericárdio) - o paciente começa a apresentar derrames cavitários; Hipotensão postural e/ou lipotimia - o paciente já está tendo alteração de pressão uma vez que ele já apresenta diferenciação da pressão em pé e deitado; Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal - o vírus da febre amarela é mais hepatotrópico, mas o vírus da dengue também é um flavivírus apesar da sede do processo ser na célula endotelial, o nosso organismo é dinâmico e o vírus vai chegar em qualquer célula, e no fígado ele pode causar uma inflamação, mas não vai ser no mesmo grau do da febre amarela. Quando o ocorre a inflamação o fígado pode aumentar, provocando dor abdominal; Sangramento de mucosa; Letargia e/ou irritabilidade - alteração do sistema nervoso central, se o paciente apresenta rebaixamento do sensório ou ele não está perfundindo bem o cérebro (quando o paciente entra em choque, a dificuldade do oxigênio de chegar no tecido cerebral faz com que o paciente fique confuso, podendo evoluir com rebaixamento do sensório, que é um grande sinal de gravidade) ou pode ser devido a sangramento dentro do SNC com lesão vascular; Aumento progressivo do hematócrito. Dengue com sinais de alarme: os sinais de alarme são definidores da lesão visceral, ou seja, da disfunção orgânica, é a fase crítica - Dengue Grave: Não é patognomônico da dengue; Evidência indireta da fragilidade capilar; Marcador de gravidade na dengue. 5 minutos em adultos;○ 3 minutos em crianças.○ Insuflar o manguito entre a PAS e a PAD deixando: insufla o manguito no valor da pressão arterial média > 20 petéquias dentro do quadrado em adultos; ○ > 10 petéquias em crianças.○ Contar o número de petéquias em um quadrado de 2,5cm de lado - positivo se: Página 10 de INFECTO Como se comporta a fisiopatologia da dengue grave? O vírus causa diretamente aumento da permeabilidade vascular, devido a lesão endotelial, e isso vai provocar extravasamento plasmático, ou seja, perda de liquido para o terceiro espaço -> A partir disso podemos ter derrames cavitários (ascite, derrame pleural..) -> e a gente começa a observar uma elevação no hematócrito (houve perda de líquido, mas não há perda de conteúdo celular) -> A partir desse contexto, estamos perdendo líquido dentro do conteúdo intravascular e o paciente começa a evoluir com choque, e como é devido a perda de volume, é um choque hipovolêmico -> A partir disso, a gente começa a ter dificuldade de manter a perfusão adequada dos demais tecidos do organismo como um todo (hipoperfusão), não consegue levar oxigênio suficiente para órgãos nobres (SNC, miocárdio, rim), então o paciente entra em um status de hipoperfusão orgânica, e começa ocorrer respiração anaeróbia -acidose metabólica- (na febre amarela a lesão ocorre basicamente no fígado, aqui ocorre uma forma indireta de lesar todos os sistemas devido a hipoperfusão) -> a partir disso, ocorre disfunção grave de órgãos, e o desfecho final é morte uma vez que o paciente não consegue manter a perfusão tecidual adequada, não consegue levar oxigênio suficiente para órgãos nobres, e esses órgãos entram em apoptose entram em lesão múltipla; outra forma de lesão da dengue além da hipoperfusão que causa a disfunção de órgãos, é a hemorragia, a lesão intravascular/endotelial é tão grande, que o paciente começa a perder sangue também, então vira um ciclo mais importante ainda, porque já não chegava oxigênio por falta de volume e começa a não chegar por falta de hemácia -> no final da doença, o hematócrito está baixo porque a lesão endotelial é tão importante que além da perda do líquido está havendo perda do conteúdo celular (hemácia). É importante entender a dinâmica da doença. Página 11 de INFECTO Essa tabela mostra as fases da dengue e as alterações nos parâmetros hemodinâmicos principais que temos que estar em alerta. Quando o paciente já está super grave, que seria no contexto de disfunção orgânica que ele não consegue manter a perfusão tecidual, que é quando o choque já está instalado, então está ocorrendo resposta adrenérgica, então o paciente tem taquicardia, extremidades frias e úmidas, redução do pulso periférico, enchimento capilar prolongado, hipotensão, compensação da acidose metabólica (devido a respiração anaeróbio, o organismo tenta compensar, para fazer a troca do ácido lático com gás carbônico, aumenta-se a frequência respiratória) e oligúria (porque não tem perfusão urinaria), quando já tem tudo isso já não é o momento de identificar o paciente, temos que fazer isso antes (quando ele está no choque compensado que temos que atuar). Os principais preditores no choque compensado é a diferença entre da pressão arterial deitado e em pé, se houver diferença da PAS maior ou igual a 20mmHg em relação a PAD o paciente está em hipotensão ortostática, e esse paciente precisa de reposição volêmica imediata. Quando compensado ele pode nem apresentar taquicardia, nem um dos outros sinais, o primeiro sinal é a hipotensão ortostática. Conduta: Leucopenia pode indicar outra infecção viral;○ Leucocitose não afasta a doença.○ Leucograma é variável e inespecífico: Plaquetopenia não constitui necessariamente fator de risco para sangramento; Ausência da plaquetopenia não exclui dengue. Exames laboratoriais: o hemograma vai ser para avaliar o hematócrito, ele é o foco de atenção sempre na dengue, porque é partir dele que se define a conduta. As infecções virais em geral causam leucopenia, mas a leucocitose não afasta a doença. O hemograma não é diagnóstico, ele é norteador da gravidade da doença. A plaquetopenia é muito comum na dengue, e ela é multifatorial, mas não é fator para sangramento, mas não ter não exclui a dengue. - Página 12 de INFECTO Ausência da plaquetopenia não exclui dengue. Normalmente, devido a alteração da Função medular e decréscimo na produção;○ ↑ destruição (megacariócitos);○ ↑ consumo (por conta de deposição de imunocomplexos).○ Trombocitopenia: Multifatorial ATENÇÃO! Hemograma tem como finalidade principal avaliar o hematócrito, para identificação de hemoconcentração, a qual define a necessidade de hidratação e resposta à terapia de reposição instituída (hematócrito > 10% do basal). os que foram, mostrando que não faz diferença transfundir ou não na dengue, a recuperação da plaqueta foi a mesma nos dois grupos. E quando se transfunde, existem riscos de fenômenos transfusionais, chance de incompatibilidade, então existem mais riscos do que benefício. Classificação de Risco e Manejo do paciente: Esse é o ponto mais crítico, temos que estadear a dengue, você precisa definir se o paciente é crítico (tem que tomar medidas agora) ou não (pode observar ele, e pedir Aqui um estudo que mostrou que plaquetopenia não é sinal de gravidade, que é multifatorial e não está associado a risco de sangramentos e não necessita de transfusão. A curva em azul, paciente que não foram transfundidos e em vermelho Página 13 de INFECTO paciente é crítico (tem que tomar medidas agora) ou não (pode observar ele, e pedir para voltar depois. Para fazer isso temos que categorizar o paciente, se ele égrupo: A, B, C ou D, quando grupo D tem que internar e monitorizar a disfunção orgânica. Pacientes grupo A e B podem ser observados com mais tranquilidade, o paciente pode ir para casa, mas devemos sempre monitorizar os sinais de alarme. Obs.: 3 pontos fundamentais: 1. pesquisar sinais de alarme e/ou choque; 2.pesquisar sangramentos espontâneos ou induzidos, comorbidades, situações clínicas especiais ou risco social; 3. Iniciar a hidratação o mais precoce possível (o tratamento da dengue é hidratar, depois que se entende a fisiopatologia da dengue de que a lesão é na alteração vascular e perda de líquido, sabe-se que tem que hidratar). Exames laboratoriais complementares ACM - são pacientes, que não necessariamente vão precisar fazer exames, se o paciente não apresenta sinais de alarme podemos apenas recomendar conduta e mandar para casa (hidratação oral, o tratamento é suporte clínico); Sintomáticos (paracetamol, dipirona, anti-histaminico) - como está na fase de toxemia, se faz tratamento com sintomáticos, para abaixar a febre e analgésicos, o anti-histaminico é porque o paciente pode ter prurido generalizado; Não utilizar salicilatos ou anti-inflamatórios não esteróides - porque já existe lesão na permeabilidade vascular e essas medicações são conhecidas por aumentar risco de sangramento, principalmente no trato gastrointestinal, então não faz sentido utiliza-los, é contraindicado; Adultos: 60 ml/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina e no início com volume maior. Para os 2/3 restantes, orientar a ingestão de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco etc.), utilizando-se os meios mais adequados à idade e aos hábitos do paciente. ○ Orientar repouso e prescrever hidratação oral: Manter a hidratação durante todo o período febril e por até 24-48 horas após a defervescência da febre (fase crítica); Orientar o paciente a retornar imediatamente se sangramentos e/ou sinais de alarme - temos que deixar claro quais são os sinais de alarme, para que o paciente possa voltar caso esses sintomas apareçam; Agendar o retorno para reavaliação clínica no dia de melhora da febre (possível início da fase crítica); caso não haja defervescência, retornar no 5º dia de doença para que a gente avaliar se ele está indo para fase crítica ou não. Grupo A: Paciente sem sinais de alarme (não tem vômitos persistentes, não tem hipotensão, não tem alteração do SNC, não tem hepatomegalia, não tem nenhuma disfunção orgânica); Paciente sem comorbidades ou grupos de risco - Hemograma obrigatório -> resultado no máximo 4 horas c/ Hidratação oral (= A) Grupo B: Com comorbidades ou grupos de risco, é um paciente que não tem sinal de alarme, mas é um paciente que tem comorbidades ou é grupo de risco, ou é um paciente que já tem sinal de alteração da permeabilidade, que tem Sangramento espontâneo pele ou sangramento provocado (petéquias ou Prova do laço positiva). Quando é grupo b esse paciente tem que ficar em observação, porque o grupo B é transitório, ele não fica nele muito tempo, e ao avaliar o hematócrito se redefine o grupo do paciente. - Página 14 de INFECTO Hemograma obrigatório -> resultado no máximo 4 horas c/ Hidratação oral (= A) enquanto aguarda resultado // Outros exames ACM - é obrigatório fazer o hemograma, e até ele sair fazemos hidratação nesse paciente, que pode ser por via oral Sintomáticos SN - caso tenha febre ou dor no corpo; Normal: alta com hidratação oral (= grupo A) + reavaliaçao médica diária até 48h após queda da febre ou imediatamente se sinais de alarme; ○ Aumentado: conduzir como grupo C.○ Conduta conforme hematócrito: 10ml/kg na 1ª hora! - não pode ser por via oral, tem que ser por via endovenosa e tem que ser imediata. ○ REPOSIÇÃO VOLÊMICA IMEDIATA! Obrigatórios: hemograma, albumina, transaminases;○ Recomendados: Rx Tx + USG abdome - para avaliar a presença de derrames cavitários; ○ Outros: ACM.○ Exames: e nesses casos tem que fazer outros exames, não tem que olhar só o hematócrito, temos que olhar se o paciente tem disfunção orgânica Exames para confirmação de dengue são obrigatórios; Internação até estabilização clínica e por no mínimo 48 horas. Grupo C: Presença de sinais de alarme, independente se tem comorbidades ou se é grupo de risco, se o paciente chega com hipotensão postural, ou ascite ou derrames cavitários, ou alteração do sensório, é grupo C. Os sinais de alarme definem o choque, e sem tem presença de choque é um paciente grave - O manejo do paciente do grupo C: Fase de expansão que se dar por reposição volêmica, sendo obrigatório na primeira hora 10mg/kg -> Após a 1 hora, se faz a reavaliação clínica, olha a PA, os sinais vitais, FC, glasgow. E após a 2 hora, faz-se a reavaliação do hematócrito de novo -> se ele estiver melhor (ou seja, se ele não hemoconcentrou e reduziu) e o paciente estiver bem -> passa para fase de manutenção, mantem-se 25mg/kg por 6 horas de soro por via endovenosa, e depois por 8 horas. Então o paciente vai ficar 48 horas internado recebendo soro; Se nessa segunda hora, ao reavaliar Página 15 de INFECTO paciente vai ficar 48 horas internado recebendo soro; Se nessa segunda hora, ao reavaliar o hematócrito e ele piorou -> repete a fase de expansão em até 3 vezes, faz 10mg/kg na primeira hora ou até 20mg/kg em 2 horas -> repete o hematócrito de novo -> se não melhorou ou se piora -> redefine o paciente como Grupo D, o paciente já está em disfunção orgânica. Resumindo: 1 fase (fase de expansão) + reavaliação clínica e laboratorial -> se melhora -> fase de manutenção; se não melhorou -> repete em até 3 vezes desde a fase de expansão -> se não melhora, o paciente está em grupo D e tem que ir pra UTI. Reposição volêmica imediata! Obrigatórios: hemograma, albumina, transaminases;○ Recomendados: Rx Tx + USG abdome;○ Outros: ACM.○ Exames - iguais ao do grupo C PCR ou isolamento viral até 5º dia;○ Sorologia após 5º dia - é melhor após o sétimo dia.○ Exames para confirmação de dengue são obrigatórios Internação até estabilização clínica e por no mínimo 48 horas em UTI e após em leito de enfermaria. Grupo D: Choque instalado, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos- A fase de expansão do grupo D não é em 1 hora, ela tem que ser em 20 minutos, tem Página 16 de INFECTO A fase de expansão do grupo D não é em 1 hora, ela tem que ser em 20 minutos, tem que dar muito volume para tentar manter o tônus vascular, para tentar fazer perfusão adequada -> a cada 15-30 min se faz reavaliação clínica e após 2 horas reavaliação do hematócrito -> se melhora, passa para a fase de expansão do Grupo C, começa no início do fluxograma do grupo C (10mg/kg na primeira hora, sendo no máximo 20mg/kg em duas horas e repete o hematócrito em duas horas -> se melhora do hematócrito pode passar para a fase de manutenção do grupo C); se não tem melhora, repete em até 3 vezes a fase de expansão do grupo D -> se o hematócrito está em ascenção ainda tem que fazer algo para tentar manter o líquido dentro do espaço (por exemplo se você dá 5L para o paciente e o hematócrito continua subindo, significa que todo esse líquido que você deu está indo para o terceiro espaço) -> e nesses casos ao invés de se dar soro se usa expansores plasmáticos, como a albumina, para tentar concentrar esse líquido dentro do espaço intravascular e conseguir manter perfusão tecidual; se não tem melhora temos que ficar de olho porque pode ser que esse paciente esteja sangrando, e ai temos que olhar o hematócrito, porque na fase mais grave da doença o hematócrito cai (porque tá perdendo líquido e hemácia para o terceiro espaço), -> então tem que olhar se ele está tendo sangramento no TGI ou algum outro sangramento, porque nesses casos não tem que só dar volume para esse paciente tem que dar sangue (transfundir concentrado de hemácia), e deveser feito também uma avaliação hepática (análise dos fatores de coagulação); se melhora do choque, sem sangramento e surgimento de novos sinais de alarme -> temos que lembrando que estamos dando muito volume para esse paciente, e por exemplo se esse paciente não tem capacidade cardiovascular, como na ICC, ele pode evoluir com congestão pulmonar, o paciente pode evoluir com dificuldade respiratória -> nesses casos deve-se diminuir a hidratação, e pode ser que haja necessidade de tratar a doença cardiovascular. Recapitulando o Caso 1: Mulher jovem / sem comorbidades / quadro febril agudo há 3 dias + petéquias- Dengue Grupo B - essa paciente não tem comorbidade, mas ela já tem petéquias, ou seja, ela já tem sinal de alteração da permeabilidade vascular (fragilidade vascular) Estadiamento:- Coleta de hemograma; Hidratação oral no hospital até resultado de exame (repete o hemograma em até 2 horas). Conduta:- Ht = 40,1% Plaq = 152.000 GL = 2.500 TGO = 132 - leve alteração nas transaminases Colhido hemograma:- Hidratação oral 60 ml/kg/d – 1/3 SRO; Retorno a partir do 5º dia de doença ou na defervescência. Conduta? Alguma mudança? Não há nenhuma mudança, a paciente vira grupo A- Como investigar a etiologia: Na fase inicial, de viremia, é achar o vírus na corrente Página 17 de INFECTO Como investigar a etiologia: Na fase inicial, de viremia, é achar o vírus na corrente sanguínea Isolamento viral dengue;• NS1 (dengue) - teste rápido, ele acha antígenos do vírus, quando positivo ele auxilia no diagnóstico, mas quando negativo ele não exclui; • PCR febre amarela;○ Sorologia febre maculosa.○ Devido ao possível diagnóstico diferencial:• Entre Primeiro e Quarto/Quinto dia de doença:- Sorologia IgM dengue/febre amarela; Sorologia febre maculosa (14-21d após 1a amostra). A partir do Sexto dia de doença: já cai a viremia, e é possível identificar anticorpo- Obs.: Sorologia para casos suspeitos -> conforme momento epidemiológico. Recapitulando o Caso 1: NS1; Sorologia febre maculosa (1ª amostra) - apesar de não ter um histórico. Como investigar a etiologia do caso apresentado?- Paciente procura UPA após 48h relatando melhora da febre, mas piora de náuseas com alguns episódios de vômitos e refere dor abdominal na madrugada anterior (a paciente está apresentando sinais de alarme). Nega sangramento de mucosa. Corada, desidratada (+/4+). PA 90 x 60 mmHg (deitada e sentada), FC 108 bpm (taquicardia). Ausência de rigidez de nuca (não parecia ser meningite). Leve desconforto à palpação em hipocôndrio D, com fígado palpável a 1cm do RCD. Ht = 38,3% - houve queda no hematócrito○ Plaq = 108.000 - queda nas plaquetas○ GL = 2.900○ TGO = 57 - redução nas transaminases○ TGP = 45○ Resultado de hemograma coletado na urgência: Evolução do quadro:- Grupo D - a paciente passou a apresentar hipotensão, que é um sinal claro e evidente de choque; Maculosa (?); Febre amarela (?) - pouco provável, transaminases baixas/vacinação. Reestadiamento:- Internação. Monitoramento do hematócrito. Função hepática, renal; Indução EV com 20 ml/kg em 20 minutos; Antibioticoterapia empírica (incluir doxiciclina no esquema); Sorologia para febre maculosa e protocolo de Febre Hemorrágica; Conduta? A paciente tem que ser encaminhada para UTI, e fazer todo aquele fluxograma (fase de expansão, avaliar o hematócrito e depois refazer o estadiamento) - Página 18 de INFECTO Sorologia para febre maculosa e protocolo de Febre Hemorrágica; Hemoculturas, VDRL, Anti-HIV. Critérios de alta hospitalar: Estabilização hemodinâmica durante 48 horas; Ausência de febre por 48 horas; Melhora visível do quadro clínico - dados vitais estáveis, glasgow bom; Hematócrito normal e estável por 24 horas - melhora laboratorial; Plaquetas em elevação e acima de 50.000/mm3 - melhora laboratorial. Os pacientes precisam preencher TODOS os 6 critérios a seguir:- Obs.: Antigamente havia vacina (Dengvaxia), mas o grande problema com ela foi que pessoas que não tinham casos de dengue anterior a vacina piorava o quadro quando ele tinha o episódio de dengue. Por exemplo, nunca tive dengue e fui vacinado com a dengvaxia, caso eu entre em contato com o vírus da dengue, mesmo que seja o primeiro contato, eu tenho maior chance de ter uma doença mais exuberante/mais grave, ao contrário do fato que se eu já tive dengue anteriormente a vacina funciona substancialmente, diminui a chance de efeitos graves em até 90%. Então desde de 2017 mudou-se a recomendação da vacinação da dengue. A recomendação para vacinação é: adultos até 45 anos e quem já teve dengue antes (quem nunca teve dengue antes não deve ser vacinado porque a vacina pode piorar caso venha ter um episódio futuramente). A vacina da dengue não é utilizada na política pública. Página 19 de INFECTO
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