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G R U P O D A S A L V A Ç Ã O G A S T R O E N T E R O L O G I A I N T E R M E D I Á R I A Pro���m� 1 – Abe���r� 2. Explanar os diagnósticos diferenciais e sindrômicos das principais síndromes dispépticas, bem como os exames diagnósticos e complementares com enfoque no caso. GASTRITE AZER, S. A.; AKHONDI, H. Gastritis. StatPearls. 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544250/ A gastrite nada mais é do que a inflamação da mucosa do estômago. Essa inflamação desenvolve-se como uma resposta do organismo quando ocorre uma agressão à sua integridade. Entretanto, essa resposta pode ir além da normalidade e levar ao desenvolvimento de sinais e sintomas característicos dessa doença. A agressão que desencadeia o processo pode ser aguda ou crônica e, de acordo com seus tipos, podemos classificar as diversas formas de gastrite. As gastrites podem ser classificadas principalmente em: GASTRITES AGUDAS: Geralmente ocorre de forma súbita e acentuada no revestimento do estômago em casos onde são facilmente associados a um agente causador como medicamentos, infecções e estresse psíquico. A alimentação também pode influenciar muito nesse caso,quando há contaminação em casos mais extremos ou associada a uma dieta rica em refeições muito gordurosas, condimentadas ou industrializadas. GASTRITES CRÔNICAS: Na gastrite crônica, a preocupação é maior por se tratar de um processo inflamatório contínuo. Os sintomas são prolongados e se não for tratada, a gastrite crônica pode durar anos ou a vida toda. A maioria dos casos é consequência de infecção por uma bactéria chamada Helicobacter pylori (H. pylori). GASTRITE NERVOSA: É a chamada Dispepsia Funcional. Pode provocar sintomas semelhantes aos da gastrite, sem que haja o menor sinal de alteração patológica na mucosa estomacal. Diferente dos outros tipos de gastrite, a gastrite nervosa é abordada primeiramente a partir de uma perspectiva psicológica. É desencadeada por algum estresse emocional afetando a movimentação da região do estômago. Ansiedade e frustração também causam a gastrite nervosa se não forem devidamente tratados. ETIOLOGIA Helicobacter pylori (H. pylori) é a causa mais comum de gastrite em todo o mundo. Mas, algumas vezes a H. pylori não testará positiva, então podemos pensar em outra causa como tabagismo, consumo de álcool, e/ou uso de AINEs ou esteróides. Outras causas de gastrite também envolvem mecanismos autoimunes associada a anticorpos séricos anti parietal e anti-fator intrínseco; caracterizada por gastrite atrófica crônica limitada ao corpo e fundo do estômago que está causando atrofia difusa acentuada das células parietais e principais. Em outras situações podemos encontrar outros agentes causando a gastrite como Mycobacterium avium intracellulare, Herpes simplex e Citomegalovírus. A gastrite parasitária pode resultar de infecção por cryptosporidium, Strongyloides stercoralis ou anisaquíase. Além dessas, a gastrite pode ser causada pelo refluxo de ácido biliar. 60 a 70% dos indivíduos H. pylori negativos com dispepsia funcional ou refluxo gastroesofágico não erosivo também apresentaram gastrite. Também podemos ter gastrite por radiação, doença de Crohn, eosinofílica, sarcoidose, linfocítica, isquêmica, associada a vasculite sistêmica e doença de Menétrier. EPIDEMIOLOGIA Na população ocidental, há evidências de diminuição da incidência de gastrite infecciosa causada por H. pylori com uma prevalência crescente de gastrite autoimune. A gastrite autoimune é mais comum em mulheres e idosos. A prevalência é estimada em aproximadamente 2% a 5%. A gastrite crônica continua sendo uma doença relativamente comum em países em desenvolvimento. A prevalência da infecção por H. pylori em crianças na população ocidental é de aproximadamente 10%, mas cerca de 50% nos países em desenvolvimento. A origem pediátrica da infecção por H. pylori é atualmente considerada o principal determinante da gastrite associada ao H. pylori em uma comunidade. QUADRO CLÍNICO Não há manifestações clínicas típicas de gastrite. O início súbito de dor epigástrica, náusea e vômito foi descrito como acompanhando a gastrite aguda. Muitas pessoas são assintomáticas ou desenvolvem sintomas dispépticos mínimos. História de tabagismo, consumo de álcool, ingestão de AINEs ou esteróides, alergias, radioterapia ou distúrbios da vesícula biliar devem ser levados em consideração. Uma história de tratamento para doença inflamatória intestinal, distúrbios vasculíticos ou distúrbios gastrointestinais eosinofílicos pode exigir exploração se nenhuma causa de gastrite for aparente. Os achados iniciais mais comuns para gastrite crônica e autoimune são (1) distúrbios hematológicos, como anemia (deficiência de ferro) detectados em check-up de rotina. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 5 Pro���m� 1 – Abe���r� (2) exame histológico positivo de biópsias gástricas. (3) suspeita clínica com base na presença de outros distúrbios autoimunes, sintomas neurológicos (relacionados à deficiência de vitamina B12) ou história familiar positiva. A anemia por deficiência de ferro (com base no esfregaço de sangue que mostra alterações hipocrômicas microscópicas, bem como estudos de ferro) comumente se apresenta nos estágios iniciais da gastrite autoimune. A acloridria que causa o comprometimento da absorção de ferro no duodeno e no início do jejuno é a principal causa. A anemia ferropriva também pode ocorrer em outros tipos de gastrite crônica. A gastrite autoimune está associada a outras doenças autoimunes (principalmente doenças da tireoide), incluindo tireoidite de Hashimoto, mas também com doença de Addison, urticária espontânea crônica, miastenia gravis, diabetes tipo 1, vitiligo e doenças autoimunes cutâneas periorais, especialmente líquen plano oral erosivo. A gastrite pode ser completamente assintomática, principalmente nos casos crônicos. Na fase aguda, os sintomas aparecem com mais facilidade. Os sinto- mas mais frequentes são: • Desconforto na região superior do abdômen: pode ser representado por dor ou apenas um desconforto; • Alguns pacientes podem relatar queimação; • Náuseas e vômitos, geralmente acompanhando o desconforto; • Saciedade precoce, ou seja, sensação de empan- zinamento logo após a alimentação. Esse sintoma pode levar à redução e perda de apetite; • Se a gastrite levar à formação de úlceras gástricas hemorrágicas, pode haver eliminação de sangue digerido, nas fezes (que ficam escuras) ou nos vômitos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de gastrite baseia-se no exame histopatológico de tecidos de biópsia gástrica. Embora o histórico médico e os exames laboratoriais sejam úteis, a endoscopia e a biópsia são o padrão ouro para fazer o diagnóstico, identificando sua distribuição, gravidade e causa. Os testes usados para o diagnóstico de gastrite associada a H. pylori se dividem em dois grupos principais: (1) Métodos invasivos (exigindo gastroscopia e biópsias): Incluem coloração histológica (hematoxilina e eosina, coloração com azul de Alcian e coloração com prata modificada), culturas, teste rápido de urease e detecção molecular (DNA PCR). (2) Métodos não invasivos (não requerem gastroscopia e biópsias): incluem teste respiratório da urease (13C-UBT), teste de antígeno fecal e sorologia. No entanto, o tratamento simultâneo com inibidores da bomba de prótons leva a resultados falso-negativos em testes invasivos e não invasivos. Além disso, os pacientes tratados com inibidores da bomba de prótons geralmente apresentam coloração histológica negativa para H. pylori. A coloração de biópsias da mucosa gástrica por imuno-histoquímica é recomendada para detectar H. pylori. Os testes sorológicos para detecção de anticorpos contra o H. pylori não podem diferenciar entre infecção ativa e passada. O diagnóstico de gastrite auto-imune centra-se no exame laboratorial e histológico. Estes incluem: (1) gastrite atrófica do corpo gástrico (corpo) efundo do estômago, (2) autoanticorpos contra o fator intrínseco e as células parietais, (3) níveis elevados de gastrina sérica, (4) nível de pepsinogênio 1 sérico e (5) proporções de pepsinogênio 1 para pepsinogênio 2. O biomarcador sérico mais sensível na gastrite autoimune são os anticorpos das células parietais (em comparação com os anticorpos do fator intrínseco). A determinação do risco de câncer gástrico na gastrite autoimune é por (1) baixos níveis de pepsinogênio 1, (2) baixas proporções de pepsinogênio 1 / pepsinogênio 2, (3) alta gastrina sérica em jejum, (4) gastrite atrófica do corpo e fundo. Nesses pacientes, o risco de câncer é alto, independentemente de eles terem ou não infecção contínua por H. pylori. Outros testes que podem ser necessários para gastrite autoimune são gastrina-17, IgG e anti-H. anticorpos pylori, citocinas (como IL-8) e grelina (um peptídeo liberador de hormônio do crescimento que é produzido principalmente pela mucosa do fundo gástrico). DRGE OUDA, J. M. et al. Gastroesophageal Reflux Disease: A Review. Journal of the American Medical Association. 2020. Doi:10.1001/jama.2020.21360 A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é geralmente uma doença vitalícia que afeta muitas pessoas, mas seu significado é frequentemente subestimado. O refluxo gástrico anormal crônico resulta em erosiva UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 6 Pro���m� 1 – Abe���r� esofagite em até 60% dos pacientes com DRGE. Estenose esofágica, esôfago de Barrett e adenocarcinoma esofágico são as complicações mais sérias da DRGE. Embora a azia e a regurgitação ácida sejam as queixas mais comuns, os sintomas extraesofágicos, como dor torácica não cardíaca, laringite, tosse e sibilância, podem ser manifestações da DRGE. Infelizmente, a gravidade dos sintomas não é um indicador confiável da gravidade da esofagite erosiva. A DRGE é causada pelo conteúdo gástrico que atinge o esôfago. Exceto por causar sintomas ou complicações esofágicas, os sucos gástricos também podem atingir mais proximalmente (ou seja, na faringe, boca, laringe e vias aéreas) e causar ou piorar vários sintomas e condições extraesofágicas, como rouquidão, respiração ruidosa, tosse e asma. Fatores de risco estabelecidos para o desenvolvimento de DRGE incluem índice de massa corporal aumentado, tabagismo e predisposição genética. Considerando que a infecção com a bactéria gástrica Helicobacter pylori pode diminuir esse risco (achei estranho, mas estava no artigo). EPIDEMIOLOGIA A prevalência de DRGE está aumentando, com taxas maiores em países de alta renda (15% -25%) do que na maioria dos países de baixa e média renda (<10%). A prevalência de DRGE depende da idade. Quase 50% dos recém-nascidos regurgitam ou vomitam diariamente, mas isso se resolve espontaneamente em 90% das crianças com 1 ano de idade. A partir daí, a prevalência da DRGE aumenta novamente com a idade. Alguns estudos apontam um risco ligeiramente maior entre as mulheres de apresentarem a doença. ETIOLOGIA O aumento do índice de massa corporal de normal para obeso está associado ao aumento do risco de desenvolver DRGE. A prevalência é 8% maior em indivíduos obesos (22%) quando comparados com não obesos (14%). Aumento da pressão intra-abdominal, maior prevalência de hérnia hiatal, maior gradiente de pressão abdominal para torácica, aumento dos níveis de estrogênio e aumento da produção de bile e enzimas pancreáticas podem contribuir para a associação entre obesidade e DRGE. Uma associação entre tabagismo e DRGE também está bem documentada. Uma meta-análise de 30 estudos comparando fumantes e não fumantes mostrou uma prevalência combinada de 19,6% entre fumantes e 15,9% em não fumantes. O tabaco pode prolongar o tempo de eliminação do ácido do esôfago e reduzir a pressão no esfíncter esofágico inferior. O terceiro fator de risco bem estabelecido é a predisposição genética. Infecção com Hpylori pode prevenir a DRGE, causando atrofia da mucosa gástrica, o que pode diminuir a produção de ácido das células parietais. O consumo de álcool e fatores dietéticos podem precipitar episódios de sintomas semelhantes em indivíduos com DRGE conhecida, mas essas exposições não foram associadas ao desenvolvimento de DRGE. QUADRO CLÍNICO Os sintomas cardinais da DRGE são azia e regurgitação ácida, mas a dor no peito também é comum. Os sintomas menos comuns, muitas vezes denotados como atípicos, incluem disfagia, sangramento, tosse crônica, asma, laringite crônica, rouquidão, erosão dentária, arrotos e inchaço. Sintomas Típicos ● Azia ● Globus de regurgitação ácida ● Dor epigástrica (leve) Dispepsia ● Náusea e / ou vômito Azia é o sintoma mais frequente da DRGE. Geralmente centra-se na área epigástrica e frequentemente irradia proximalmente em direção ao tórax ou garganta. A azia noturna ocorre em três quartos dos pacientes com sintomas frequentes de DRGE. Em pacientes com DRGE, o refluxado pode atingir e danificar o trato aerodigestivo superior, incluindo laringe, faringe, brônquios e pulmões. Quando o conteúdo gástrico reflui para a laringe e vias aéreas superiores, pode ocorrer laringite ou tosse. Na verdade, a DRGE é uma das 3 causas mais comuns de tosse crônica. Sintomas extraesofágicos ● Chiado no peito (asma ácida) ● Laringite ● Rouquidão ● Tosse crônica ● Limpeza da garganta ● Dor de garganta ● Bronquite crônica ● Apnéia do sono ● Outros: queima bucal, halitose, otalgia, estridor, paladar anormal ou perda do paladar A DRGE também pode causar sibilância, mas a relação exata entre a DRGE e a asma é mal compreendida. Gatilhos dos sintomas da DRGE ● Esforço abdominal ● Roupas justas UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 7 Pro���m� 1 – Abe���r� ● Posição do corpo (particularmente reclinado e dormindo) ● Beber bebidas alcoólicas ● Certos medicamentos (por exemplo, antagonistas dos canais de cálcio, morfina, diazepam e estrogênio) ● Certos alimentos (por exemplo, hortelã-pimenta, café, chocolate, alimentos fritos ou gordurosos) ● Tabagismo ● Gravidez ● Obesidade Sintomas de Alarme ● Disfagia ● Dor torácica atípica (não cardíaca) ● Sangramento gastrointestinal ● Perda de peso ● Falta de ar ● Sensação de asfixia COMPLICAÇÕES: A DRGE pode causar esôfago de Barrett, a lesão precursora do adenocarcinoma esofágico. O risco absoluto de adenocarcinoma de esôfago é baixo no esôfago de Barrett não displásico, mas consideravelmente maior na presença de displasia. Além de esofagite, estenose esofágica e adenocarcinoma esofágico. DIAGNÓSTICO Em pacientes com história de dor no peito, especialmente se for de início súbito ou relacionada à atividade física, patologia cardíaca deve ser suspeitado e avaliado com eletrocardiografia, exames laboratoriais, incluindo nível de troponina, e teste de esforço com eletrocardiografia. Em pacientes com azia e regurgitação ácida típicas, um diagnóstico presuntivo de DRGE pode ser feito e um tratamento experimental com um IBP pode ser iniciado. Endoscopia, manometria esofágica e monitoramento do pH esofágico são indicados se o paciente não responder ao tratamento empírico com IBP e o diagnóstico de DRGE permanecer provável, mas precisa ser mais investigado para descartar outras possíveis causas para esses sintomas. Só para ficar claro, a manometria é usada para medir a pressão no esôfago. Anormalidades na pressão do esfíncter esofágico inferior e anormalidades na contração da musculatura esofágica podem ser identificadas usando este teste. O diagnóstico pode ser feito apenas com base na história de pacientes com sintomas típicos de DRGE não complicada. Uma resposta terapêutica à terapia supressora de ácido com um inibidor da bomba de prótons é um método eficiente para diagnosticar a DRGE. A endoscopia, entretanto, é o único método confiável para diagnosticar a esofagite erosiva e determinar sua gravidade. Muitos pacientes que se apresentam com sintomas típicosde DRGE não têm lesão visível da mucosa esofágica e, portanto, são considerados portadores de doença do refluxo endoscópico-negativo (ENRD), também às vezes referida como doença do refluxo não erosiva (NERD) ou refluxo gastroesofágico sintomático doença (sGERD). Nesses pacientes, o diagnóstico é mais facilmente estabelecido se um ensaio empírico de terapia supressora de ácido resolver seus sintomas. Classificação da DRGE: ESOFAGITE MUÑOZ-MENDOZA. D.; CHAPA-RODRÍGUEZ, A.; BAHNA, S. L. Eosinophilic Esophagitis Clinical Manifestations and Differential Diagnosis. Clinic Rev Allerg Immunol. 2018. A complicação mais comum da DRGE é a esofagite, uma inflamação da mucosa do esôfago distal que causa erosões e ocorre em 18% a 25% dos pacientes com sintomas de DRGE. ESOFAGITE EOSINOFÍLICA A esofagite eosinofílica é uma doença clínico-patológica imunomediada crônica, caracterizada por sintomas relacionados à disfunção esofágica com inflamação predominantemente eosinofílica. EPIDEMIOLOGIA A prevalência geral foi de 22,7 casos por 100.000 habitantes, sendo mais elevada na América do Norte, com uma prevalência de 30,7 casos por 100.000 habitantes. A incidência combinada estimada foi de 3,7 por 100.000 UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 8 Pro���m� 1 – Abe���r� habitantes / ano, sendo maior em adultos do que em crianças (7 vs 5 por 100.000). A EEo está se tornando uma das doenças esofágicas mais prevalentes, o que pode ser devido ao crescente reconhecimento. Do ponto de vista epidemiológico, os relatórios mostram um aumento constante da incidência. O sexo masculino é mais afetado que o feminino. ETIOLOGIA Embora a etiologia da EEo não seja completamente compreendida, definitivamente há um papel para os alérgenos alimentares em sua patogênese. Vários estudos identificaram os alérgenos alimentares como desencadeadores de EEo em crianças e adultos. Os pólens também foram implicados na patogênese, que pode ser parcialmente devido à reatividade cruzada com certos alérgenos alimentares. QUADRO CLÍNICO As crianças podem ter uma grande variedade de sintomas inespecíficos devido à disfunção da motilidade esofágica. As manifestações mais comuns em bebês são dificuldades de alimentação, como engasgo, demora no avanço da introdução de alimentos sólidos e recusa de alimentos. Bebês e crianças pequenas também podem apresentar problemas de crescimento. As crianças mais velhas geralmente se queixam de náuseas, vômitos ou dor epigástrica. No entanto, dor torácica, sialorreia, distúrbios do sono ou queixas respiratórias também foram descritos. Adolescentes e adultos têm maior probabilidade de apresentar disfagia a alimentos sólidos, começando com uma sensação desagradável durante a deglutição e pode evoluir para episódios de impactação de alimentos. A disfagia se tornou o sintoma mais comum que leva à endoscopia. A impactação de alimentos deve alertar os médicos sobre a possibilidade de EEo. Pacientes com impactação de alimentos geralmente apresentam dor torácica retroesternal aguda e severa. Ruptura esofágica espontânea por náusea forçada é uma complicação rara, mas séria, que se manifesta com vômitos intensos, dor no peito e pneumomediastino (síndrome de Boerhaave). DIAGNÓSTICO Como os sintomas são em sua maioria inespecíficos, as diretrizes para o diagnóstico de EEo foram desenvolvidas e incluem achados endoscópicos e de biópsia, além da utilização empírica de inibidores de bombas de prótons (IBP) que não geram melhora. DISPEPSIA Dispepsia é definida como um distúrbio da digestão caracterizado por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrointestinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdômen, que pode estar associado à saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse. O aparecimento da dispepsia ou sintomas dispépticos pode estar associado a vários distúrbios do trato gastrointestinal superior, como, por exemplo, doença ulcerosa péptica, doença do refluxo gastrointestinal, gastrites, neoplasias do trato gastrointestinal superior, doença do trato biliar e dispepsia funcional. Nesse tópico vamos focar em dispepsia funcional. Dispepsia funcional ou dispepsia não ulcerosa ou síndrome dispéptica é uma desordem heterogênea caracterizada por períodos de abrandamentos e exacerbações, e seu diagnóstico é em geral empregado quando, em uma avaliação completa em um paciente que apresenta dispepsia, não se consegue identificar a causa para os seus sintomas. O mecanismo fisiopatológico ainda é desconhecido e o tratamento ainda não totalmente estabelecido. Embora várias definições sejam usadas para descrever dispepsia funcional, a mais comum, de acordo com os consensos Roma II e Roma III, é aquela de dor, queimação ou desconforto crônico ou recorrente com sensação subjetiva desagradável, que pode estar associada a saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo, distensão abdominal, localizados no UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 9 Pro���m� 1 – Abe���r� abdômen superior, com a ausência de provável doença orgânica que justifique os sintomas e ausência de evidências de que os sintomas melhorem ou estejam associados a alterações no ritmo ou nas características das evacuações intestinal. Além disso, os sintomas apresentam duração mínima de 3 meses (12 semanas), contínuos ou intermitentes, e apresentam no mínimo 6 a 12 meses anteriores de história de acordo com os consensos Roma II e III. O consenso propõe ainda diferentes tipos de dispepsia: ➢ Dispepsia funcional, em que os sintomas não estão relacionados a doenças de base orgânica e os achados de endoscopia são normais ou menores (gastrite); ➢ Dispepsia orgânica, em que os sintomas dispépticos estão relacionados a uma doença orgânica, como a úlcera péptica; ➢ Dispepsia não diagnosticada, quando os sintomas dispépticos ainda não foram investigados e para a qual o consenso propõe apenas algumas regras gerais de abordagem. Propõe-se ainda que, quando os sintomas predominantes do paciente sejam pirose retrosternal, azia (sensação de regurgitação ácida ou azeda) ou regurgitação, anteriormente defi nindo a dispepsia tipo refl uxo, ele seja diagnosticado como portador da DRGE e abordado como tal. ETIOLOGIA Esvaziamento gástrico lento ou gastroparesia primária ou idiopática é uma condição em que ocorre um retardo no esvaziamento gástrico na ausência de obstrução mecânica. Esta condição pode ocorrer em até 30% dos pacientes com diagnóstico de dispepsia funcional e pode contribuir para os sintomas. A dispepsia funcional também está associada ao uso de vários medicamentos, automedicação, absenteísmo e perda de produtividade. Alguns possíveis mecanismos sugerem distúrbios na acomodação gástrica ou relaxamento receptivo, hipersensibilidade à distensão gástrica, sensibilidade duodenal alterada a lipídios ou ácidos, motilidade duodenojenunal anormal, suscetibilidade familiar, alterações da função neuro-hormonal, disfunção autonômica, hipersensibilidade visceral a ácido ou distensão mecânica, infecção por Helicobacter pylori, infecções do trato gastrointestinal, co-morbidade psicossocial e estresse. H. pylori é uma bactéria espiralada Gram-negativa que pode estar presente no muco que cobre a superfície do estômago. Printttttttt EPIDEMIOLOGIA Cerca de 65% da população é infectada pelo H. Pylori. QUADRO CLÍNICO De acordo com o consenso Roma III, os principais sintomas observados na dispepsia funcional são: ❖ empachamento pós-prandial ❖ saciedade precoce ❖ dor epigástrica ❖ queimação epigástrica (pirose) Pode haver outros sintomas que sugiram doença de esôfago: ❖ pirose retroesternal ❖ azia ❖ regurgitação ❖ disfagia e a odinofagia; ❖ Sintomas inespecíficos como a eructação excessiva e a aerofagia; ❖ Sintomas amplos: náuseas e vômitos Apesar da dor abdominal na dispepsia ser uma dor dotipo visceral, portanto sem uma relação direta com o sítio anatômico afetado, o consenso também propõe que dores localizadas fora do epigástrio não sejam consideradas sintomas dispépticos. Localizadas no andar superior do abdômen, quando no hipocôndrio direito são mais sugestivas de doença biliar, e a investigação vai exigir ultra-sonografia. Quando no hipocôndrio esquerdo pode estar mais relacionada ao intestino. Sintomas do aparelho digestório alto associados as do aparelho digestório baixo também não devem ser considerados como sintomas de dispepsia, porque a síndrome do intestino irritável se sobrepõe à dispepsia, com fisiopatologia semelhante, existindo mesmo quem considere que ela deva ser chamada de síndrome do aparelho digestório irritável. O uso de antiinflamatórios e alguns outros medicamentos podem determinar lesões gastrintestinais, mais freqüentemente úlceras e erosões, principalmente de características agudas. Podem ser acompanhadas de sangramento digestivo e caracterizam uma doença orgânica bem definida: lesões gastrintestinais por medicamentos e assim não devem ser abordadas, em princípio, como quadros de dispepsia. DIAGNÓSTICO ➢ End�copi� inicia� A endoscopia de início tem sido proposta como abordagem que faz o diagnóstico da dispepsia precocemente. Tranqüiliza o paciente e identifica tanto os casos de dispepsia funcional (a maioria dos casos), que são benignos e não vão exigir muitos recursos no seu UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 10 Pro���m� 1 – Abe���r� acompanhamento, bem como os casos de neoplasia gástrica. ➢ Test� � trat� A estratégia do “teste e trate”, que consiste em erradicar o H. pylori em pacientes dispépticos jovens e sem sinais de alarme, apresenta uma relação custo benefício melhor que a endoscopia inicial e pode economizar até 30% de exames. Porém é necessária a disponibilidade dos testes não invasivos para o H. pylori. ÚLCERA PÉPTICA Úlcera péptica é a erosão em um segmento de mucosa gástrica, classicamente no estômago (úlcera gástrica) ou nos primeiros centímetros do duodeno (úlcera duodenal), que penetra a mucosa muscular. A úlcera péptica é uma doença de evolução em geral crônica, com surtos de ativação e períodos de acalmia, resultantes de perda circunscrita de tecido em regiões do trato digestivo capazes de entrar em contato com a secreção cloridropéptica do estômago. É diferenciada das erosões pelo fato destas não atingirem a submucosa e, portanto, não deixarem cicatriz ao se curarem. ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA H. pylori e os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) prejudicam as defesas e a capacidade de reparação da mucosa, tornando-a mais suscetível ao ácido gástrico. H. pylori é a causa da infecção em 50 a 70% dos pacientes com úlcera duodenal e em 30 a 50% dos pacientes com úlcera gástrica. O uso de AINE responde por mais de 50% das úlceras pépticas. O tabagismo é um fator de risco do desenvolvimento de úlceras e suas complicações. O tabagismo também interfere na cicatrização e aumenta a incidência de recorrência. Embora o álcool seja um potente estimulante da secreção ácida, não existem dados definitivos ligando o consumo moderado de álcool ao desenvolvimento ou aumento do tempo de cicatrização das úlceras. Antecedentes familiares estão presentes em 50 a 60% das crianças com úlcera duodenal. QUADRO CLÍNICO O conceito básico é: a acidez gástrica produz dor e sua neutralização a alivia. Os sinais e sintomas dependem da localização da úlcera e da idade do paciente; muitos pacientes, em particular os idosos, são oligossintomáticos ou assintomáticos. A dor é o sintoma mais comum, em geral localizada no epigástrico e aliviada com a alimentação ou uso de antiácidos. (LEMBRE DO CONCEITO BÁSICO!!) Os sintomas da úlcera gástrica não seguem um padrão consistente (p. ex., a alimentação às vezes exacerba os sintomas, em vez de melhorá-los). Isto é especialmente verdadeiro para úlceras do canal pilórico, que em geral são associadas a sintomas de obstrução (p. ex., distensão, náuseas, vômitos) causados por edema e cicatrização. As úlceras duodenais tendem a produzir uma dor mais consistente. O paciente acorda sem dor, mas a dor aparece no meio da manhã e melhora com a alimentação, mas volta de 2 a 3 horas depois da refeição. Dor que acorda o paciente no meio da noite é comum e bastante sugestiva de úlcera duodenal. Em neonatos, perfuração e hemorragia podem ser as primeiras manifestações de úlcera duodenal. A hemorragia pode também ser o primeiro sinal na infância, embora vômitos de repetição ou evidência de dor abdominal possam ser sugestivos. PRINCIPAIS Sintomas: ❖ dor epigástrica, tipo queimação, com ritmicidade ❖ dor noturna ❖ A dor pode durar dias ou semanas e sumir, voltando a aparecer anos ou meses depois (geralmente pior) Abaixo uma úlcera duodenal Abaixo uma úlcera gástrica: UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 11 https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastrite-e-doen%C3%A7a-ulcerosa-p%C3%A9ptica/infec%C3%A7%C3%A3o-por-helicobacter-pylori https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/gastrite-e-doen%C3%A7a-ulcerosa-p%C3%A9ptica/infec%C3%A7%C3%A3o-por-helicobacter-pylori Pro���m� 1 – Abe���r� DIAGNÓSTICO A confirmação diagnóstica é realizada através da endoscopia digestiva alta que, além de mais sensível que a radiologia, permite a realização de biópsias. Os testes de secreção gástrica, dosagem de gastrina sérica e ecoendoscopia são utilizados apenas em situações especiais ou em ambiente de investigação clínica. Paralelo ao diagnóstico da cratera ulcerosa, impõe-se a pesquisa da presença do HP, que pode ser efetuada durante o procedimento endoscópico, por pesquisa histológica ou pelo teste da urease, ou por meios não invasivos como o teste respiratório com uréia marcada com carbono 13 ou 14, determinação de antígenos fecais e por testes sorológicos com a pesquisa de anticorpos anti-HP. ÚLCERA DE ESTRESSE MACHADO, André Sant'Ana; TEIXEIRA, Cassiano. Profilaxia para úlcera de estresse nas unidades de terapia intensiva: estudo observacional multicêntrico. Rev. bras. ter. intensiva , São Paulo, v. 18, n. 3, pág. 229-233, setembro de 2006. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S0103-507X2006000300003&lng=en&nrm=iso>. acesso em 18 de maio de 2021. A úlcera de estresse define as lesões erosivas ou ulceradas da mucosa gástrica, associadas a estresse fisiológico extremo (sepse, politraumatismo ou queimadura grave). Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), atualmente estima-se uma incidência de 1,5% de sangramento digestivo clinicamente importante secundário a úlcera de estresse (SDUE). O típico estado de hipersecreção ácida, fator comum na formação das úlceras duodenais de diagnóstico ambulatorial, não representa o principal mecanismo patogênico nas lesões dos pacientes criticamente enfermos. Ou seja, não existe problema na produção de ácido gástrico!!! Os antiácidos, bloqueadores histaminérgicos (BH2), inibidor de bomba de prótons (IBP), prostaglandinas e protetores da mucosa já demonstraram efetividade no tratamento da úlcera péptica, porém na profilaxia da formação da úlcera, ainda tem seus benefícios questionáveis. PARASITOSES Vou trazer sobre as principais parasitoses que têm sintomas no TGI. GIARDÍASE A giardíase é uma infecção do intestino delgado causada pelo parasita Giardia, um protozoário unicelular. As pessoas adquirem a infecção ao beber água ou ingerir alimentos contaminados com fezes contendo Giardia ou ao entrar em contato com fezes de uma pessoa infectada. QUADRO CLÍNICO Os principais sintomas são: ❖ cólicas abdominais e diarreia são os principais ❖ gases ❖ eructação ❖ diarreia (aquosa de odor fétido) ❖ enjoo ❖ cansaço ❖ perda de apetite ❖ o pct pode desenvolver intolerância a lactose ❖ perda de peso DIAGNÓSTICO Fazer Exames de fezes A maneira mais fácil de fazer o diagnóstico de giardíase é examinar as fezes para detectarproteínas (antígenos) liberadas pela Giardia lamblia ou seu DNA. O exame das amostras das fezes ao microscópio também pode detectar o parasita. Porém, como as pessoas que estiveram infectadas durante muito tempo tendem a expelir os parasitas em intervalos imprevisíveis, pode ser necessário repetir os exames das fezes. Caso dê negativo os exames acima, pode-se utilizar um tubo de visualização flexível (endoscópio) para examinar a parte superior do trato digestivo. ESTRONGILOIDÍASE Estrongiloidíase é a infecção causada por Strongyloides stercoralis. QUADRO CLÍNICO A estrongiloidíase aguda e crônica pode ser assintomática. Na estrongiloidíase aguda, a manifestação inicial pode ser um exantema pruriginoso e eritematosa no local em que as larvas entraram na pele. Pode-se desenvolver tosse à medida que as larvas migram pelos pulmões e pela UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 12 Pro���m� 1 – Abe���r� traqueia. Larvas e vermes adultos no trato gastrointestinal podem causar dor abdominal, diarreia e anorexia. A estrongiloidíase crônica pode persistir por anos em razão da autoinfecção. Pode ser assintomática ou caracterizada por sintomas gastrointestinais, pulmonares e/ou cutâneos. As queixas gastrointestinais são dor abdominal, diarreia e constipação intermitentes. Sintomas pulmonares são incomuns, embora infecções intensas possam causar a síndrome de Löffler, com tosse, sibilos e eosinofilia à medida que as larvas autoinfectantes atravessam os pulmões. Os sintomas pode sugerir asma alérgica ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). ➢ Síndrom� d� hiperinfecçã�: Sintomas gastrointestinais e pulmonares são frequentemente proeminentes. A bacteremia pode se desenvolver quando as larvas invadem o intestino ou os pulmões. Íleo, obstrução, sangramento gastrointestinal volumoso, má absorção intensa e peritonite podem ocorrer. Sintomas pulmonares incluem dispneia, hemoptise e insuficiência respiratória. Infiltrados podem ser vistos em radiografia de tórax. Outros sintomas dependem dos órgãos envolvidos. O comprometimento do sistema nervoso central pode ser por meningites parasitárias, abscesso cerebral e invasão difusa do cérebro. A infecção do fígado pode resultar em hepatite colestática e granulomatosa. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é pautado em: ● Identificação das larvas por exame microscópico das amostras, como fezes ou aspirado duodenal e, em indivíduos com a síndrome de hiperinfecção, lavagens brônquicas, escarro ou outros líquidos fisiológicos OU ● Imunoensaio enzimático para anticorpos (sangue) TOXOPLASMOSE A toxoplasmose é uma infecção causada por Toxoplasma gondii, um protozoário unicelular. A Toxoplasma gondii está presente em todo o mundo onde há gatos. As pessoas adquirem a infecção ao transferir os ovos de parasita de um objeto contaminado para a boca ou pela ingestão de alimentos contaminados. A maioria das infecções causa poucos ou nenhum sintoma. A infecção grave geralmente se desenvolve apenas em fetos e nas pessoas com um distúrbio que enfraqueça o sistema imunológico (como a AIDS ou câncer, ou em quem utiliza medicamentos que suprimem o sistema imunológico (imunossupressores), principalmente aqueles usados para suprimir a rejeição a um transplante de órgão. Mulheres que se infectam durante a gravidez podem transmitir o parasita ao feto, por vezes causando um aborto espontâneo, natimorto ou problemas sérios no bebê. QUADRO CLÍNICO ❖ Linfonodomegalia sem dor (até 20%) ❖ Febre baixa intermitente ❖ Mal-estar ❖ Mialgia ❖ Dor de garganta ❖ Os sintomas desaparecem por si só, geralmente depois de várias semanas. ➢ T�oplasm�� congênit� As crianças nascidas com toxoplasmose congênita podem ficar gravemente doentes e morrer antes ou logo depois de nascer, ou podem apresentar defeitos congênitos ou outros sintomas. Outras parecem saudáveis no início, mas desenvolvem sintomas (como convulsões, incapacidade intelectual e coriorretinite) meses ou até mesmo anos depois. Os sintomas típicos em recém-nascidos podem incluir ● Infecção do revestimento na parte posterior do globo ocular e da retina (coriorretinite) ● Aumento do volume do fígado e do baço ● Icterícia ● Erupção cutânea ● Facilidade de hematoma ● Convulsões ● Cabeça grande causada por acúmulo de líquido no cérebro (hidrocefalia) ● Cabeça pequena (microcefalia) UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 13 https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7as-pulmonares-intersticiais/s%C3%ADndrome-de-l%C3%B6ffler https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-eosinof%C3%ADlicos/eosinofilia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/asma-e-doen%C3%A7as-relacionadas/asma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/asma-e-doen%C3%A7as-relacionadas/asma https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-e-doen%C3%A7as-relacionadas/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-dpoc https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/doen%C3%A7as-decorrentes-de-imunodefici%C3%AAncia/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-imunodefici%C3%AAncias#v871506_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/doen%C3%A7as-decorrentes-de-imunodefici%C3%AAncia/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-imunodefici%C3%AAncias#v871506_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/c%C3%A2ncer/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-c%C3%A2ncer/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-c%C3%A2ncer https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/doen%C3%A7as-decorrentes-de-imunodefici%C3%AAncia/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-imunodefici%C3%AAncias#v779056_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/doen%C3%A7as-decorrentes-de-imunodefici%C3%AAncia/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-imunodefici%C3%AAncias#v779056_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-oftalmol%C3%B3gicos/uve%C3%ADte-e-dist%C3%BArbios-relacionados/uve%C3%ADte#v14459899_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/hidrocefalia https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/microcefalia Pro���m� 1 – Abe���r� ● Deficiência intelectual A coriorretinite pode causar visão embaçada, dor ocular, sensibilidade à luz e cegueira. ➢ Sintoma� e� pessoa� qu� p�sue� u� sistem� imunológic� debilitad� Os sintomas de toxoplasmose em pessoas com um sistema imunológico enfraquecido dependem do local da infecção, como nas seguintes: ● Toxoplasmose do cérebro (encefalite): sintomas como fraqueza em um lado do corpo, dificuldade para falar, problemas de visão, dor de cabeça, confusão, convulsões e coma. ● Toxoplasmose que se disseminou por todo o corpo (toxoplasmose disseminada aguda): erupção cutânea, febre, calafrios, dificuldade em respirar e fadiga ● Pode causar também: pneumonite, miocardite ou hepatite. DIAGNÓSTICO ● Exames de sangue para detectar anticorpos contra o parasita (infecção nova) ● Se eventualmente o cérebro estiver afetado, uma tomografia computadorizada ou imagem por ressonância magnética, seguida por punção lombar (punção na coluna vertebral) ● Tecido do cérebro ou de outro órgão afetado examinado microscopicamente e testado para detectar o DNA do parasita TENÍASE E CISTICERCOSE A teníase do intestino ocorre principalmente quando as pessoas comem carne de porco, de boi ou peixe de água doce crus ou mal cozidos ou, no caso de tênia anã, água ou alimentos contaminados. Cisticercose: ocorre quando as pessoas que ingeremos ovos da tênia de porco podem se tornar um hospedeiro intermediário da tênia (as pessoas não podem ser hospedeiras intermediárias de tênias de vaca e peixe). Como em hospedeiros animais intermediários, os ovos se desenvolvem em esferas contendo larvas (oncosferas) ao atingir o intestino. As esferas penetram na parede intestinal e se deslocam para o cérebro, músculos, outros órgãos ou para o tecido sob a pele, onde formam cistos. QUADRO CLÍNICO ❖ Pode ser assintomático ❖ desconforto abdominal na parte superior do abdome ❖ diarreia ❖ perda de peso/apetite ❖ anemia (a tênia absorve vit, B12) ❖ as pessoas infectadas com tênias podem sentir um pedaço da tênia se mover pelo ânus ou ver nas fezes parte da tênia similar a uma fita. A cisticercose não causa sintoma relevante no TGI. DIAGNÓSTICO ● Para infecção por tênia intestinal, exame de uma amostra de fezes ● Para verificar se há cisticercose, tomografia computadorizada ou imagem por ressonância magnética e às vezes exames de sangue ESQUISTOSSOMOSE Esquistossomose é a infecção causada por trematódeos sanguíneos do gênero Schistosoma, adquiridos transcutaneamente ao nadar ou entrar em contato com águas contaminadas. Os parasitas infectam os vasos do trato GI QUADRO CLÍNICO ➢ Febr� d� Katayam� agud�: A febre de Katayama pode ocorrer com a oviposição, tipicamente entre 2 a 4 semanas após exposição intensa. Os sintomas incluem febre, calafrios, tosse, náuseas, dor abdominal, mal-estar, mialgia, exantema urticariforme e eosinofilia marcante, assemelhando-se à doença do soro. ➢ Esquist�som�� crônic�: A esquistossomose crônica resulta principalmente de respostas do hospedeiro a ovos retidos nos tecidos. No início, ulcerações na mucosa intestinal causadas por S. mansoni ou S. japonicum podem sangrar e produzir diarreia sanguinolenta. Com o progredir das lesões, podem se desenvolver fibrose focal, estenose, fístulas e papilomas no intestino. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 14 https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/diagn%C3%B3stico-de-doen%C3%A7as-do-c%C3%A9rebro,-da-medula-espinhal-e-dos-nervos/testes-para-diagn%C3%B3stico-de-doen%C3%A7as-do-enc%C3%A9falo-da-medula-espinhal-e-do-nervo#v734178_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/diagn%C3%B3stico-de-doen%C3%A7as-do-c%C3%A9rebro,-da-medula-espinhal-e-dos-nervos/testes-para-diagn%C3%B3stico-de-doen%C3%A7as-do-enc%C3%A9falo-da-medula-espinhal-e-do-nervo#v734178_pt Pro���m� 1 – Abe���r� Reações granulomatosas aos ovos de S. mansoni e S. japonicum no fígado geralmente não comprometem a função hepática, mas podem produzir fibrose e cirrose, capazes de levar à hipertensão porta, causando esplenomegalia e varizes esofágicas. As varizes esofágicas podem sangrar, causando hematêmese. Ovos nos pulmões podem produzir granulomas e arterite obliterante focal, que essencialmente pode resultar em hipertensão pulmonar e cor pulmonale. Com S. haematobium, ulcerações na parede da bexiga podem provocar disúria, hematúria e poliúria. Com o passar do tempo, cistite crônica se desenvolve. DIAGNÓSTICO ● Exame microscópico das fezes ou urina (S. haematobium) para ovos ● Testes sorológicos Dependendo dos antígenos utilizados, testes sorológicos podem ser sensíveis e específicos para infecção, mas não fornecem informação sobre cargas parasitárias, estado clínico, ou prognóstico. Se os pacientes não residirem em áreas endêmicas, deve-se fazer as sorologias em ≥ 6 a 8 semanas após a última exposição à água doce para que os esquistossomas tenham tempo para se transformarem em adultos e para que os anticorpos sejam produzidos. DOR DE ORIGEM PANCREÁTICA A manifestação dolorosa abdominal constitui o principal sintoma das afecções pancreáticas e, geralmente, é sua primeira manifestação clínica, independentemente da natureza do envolvimento glandular, se inflamatória (p. ex., pancreatite aguda e crônica), neoplásica (p. ex., adenocarcinoma do pâncreas) ou devida a malformações (p. ex., pâncreas divisum). A dor de origem pancreática situa-se no andar superior do abdome, e sua localização topográfica no andar supramesocólico depende da região do pâncreas envolvida, tendo sido bem estudada por Bliss et al., em 1950, por meio da estimulação elétrica das diferentes regiões do pâncreas. O comprometimento da cabeça, do corpo ou da cauda da glândula pancreática manifesta-se por dor, respectivamente no hipocôndrio direito, no epigástrio ou no hipocôndrio esquerdo, e é em faixa se o envolvimento abrange todo o órgão. Trata-se, em geral, de dor contínua, intensa, por vezes insuportável, com etiopatogenias distintas e com certas peculiaridades de acordo com o tipo de afecção pancreática que a determina. Pancreatite aguda (PA) O principal sintoma da PA é dor, independentemente da etiologia do quadro pancreático, pois ocorrem infamação e edema da glândula, o que gera ativação direta dos receptores da dor em resposta à lesão tecidual. Inúmeras substâncias decorrentes da infamação, que permeiam o espaço intersticial na PA, são responsáveis pela ativação direta das fibras nervosas aferentes. Além disso, a distensão dos ductos também é responsável pelo impulso nervoso pelo estiramento das fibras nervosas. O próprio edema e a inibição do fluxo sanguíneo podem provocar anoxia e alteração do pH intersticial, iniciando impulsos que serão transmitidos pelos nervos pancreáticos. A dor típica da PA é intensa, muitas vezes referida pelo paciente como insuportável, de início súbito, incessante. Em geral, apresenta caráter contínuo pelo edema do órgão e pela hemorragia, que resultam no estiramento do peritônio que envolve a glândula ou em peritonite. Pode ser também em cólica, intermitente, seja pela possibilidade da presença de distensão abdominal e intestinal ou íleo paralítico, seja pela presença de obstrução do ducto biliar comum por cálculo. A localização usual da dor é na região do epigástrio e pode se manifestar no quadrante superior direito do abdome e se irradiar para o dorso. A posição supina é desconfortável, fazendo que o paciente procure alívio fletindo o tronco, adotando a posição de prece maometana ou genupeitoral. Localização incomum, porém relatada na literatura, é o quadrante inferior direito do abdome, atribuída a lesões no processo uncinado. → A incidência da pancreatite aguda varia de 4,8 a 24,2 casos/100.000 habitantes em países desenvolvidos, mas não há dados concretos a respeito de sua incidência no Brasil. Acredita-se, todavia, que ela se encontra subestimada, pois, em nosso meio, a ingestão de álcool em quantidades capazes de provocar lesão pancreática é bastante comum, e a disponibilidade de meios diagnósticos e de assistência médica adequada é bastante heterogênea no território nacional. A mortalidade na pancreatite aguda respeita um padrão bimodal. Nas primeiras duas semanas, costuma ocorrer em virtude da resposta inflamatória sistêmica e das disfunções orgânicas por ela induzidas. Após esse período, costuma acontecer por causa de complicações infecciosas da doença. O melhor conhecimento a respeito da fisiopatologia da doença e o desenvolvimento e implementação de medidas terapêuticas reduziram a mortalidade dos casos graves, embora ela ainda atinja 30% em algumas casuísticas. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 15 https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-hep%C3%A1ticos-e-biliares/abordagem-ao-paciente-com-doen%C3%A7a-hep%C3%A1tica/hipertens%C3%A3o-portal https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-do-ba%C3%A7o/esplenomegalia https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/hipertens%C3%A3o-pulmonar/hipertens%C3%A3o-pulmonar https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-cardiovasculares/insufici%C3%AAncia-card%C3%ADaca/cor-pulmonale Pro���m� 1 – Abe���r� É interessante ressaltar que as pancreatitesgraves geralmente são de etiologia biliar. QUADRO CLÍNICO Dor abdominal é a principal queixa da maioria dos pacientes com pancreatite aguda. Sua intensidade é variável, desde um desconforto sutil à dor incapacitante. Caracteristicamente é contínua, mal definida, localizada no epigástrio ou andar superior do abdome, irradiando-se para o dorso, mas também podendo atingir os flancos direito ou esquerdo. Seu alívio ocorre na posição genupeitoral e há agravamento com posição supina e com esforço. Em 90% dos casos, a dor é acompanhada de náuseas e vômitos, possivelmente relacionados à intensidade da dor ou à inflamação da parede posterior do estômago. O exame físico desses pacientes varia conforme a gravidade do quadro. Na doença leve, revela desconforto abdominal à palpação do epigástrio e andar superior do abdome, em que pode ser notado "plastrão" (massa) infamatório. Não são habitualmente notados sinais de distensão abdominal ou descompensação hemodinâmica. Nas formas graves, notam-se paciente agudamente enfermo, com sinais de toxemia, abdome doloroso, distendido, com respirações superficiais em virtude de irritação frênica pelo processo inflamatório, e evidências de irritação peritoneal. Outros sinais de gravidade incluem: hipotensão, taquicardia, febre e íleo paralítico. Hipotensão não é infrequente nessa situação. Alterações sensoriais podem ser notadas, caracterizando a chamada encefalopatia pancreática. Até 25% dos pacientes encontram-se ictéricos por causa de litíase biliar, seja por coledocolitíase com ou sem colangite aguda, seja pela passagem do cálculo biliar pela via biliar principal associada a edema da papila duodenal. Hemorragia digestiva pode ocorrer em função de úlceras de estresse ou de síndrome de Mallory-Weiss secundária a vômitos intensos. DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico de pancreatite aguda, utilizam-se os seguintes critérios: 1) dor abdominal persistente, de forte intensidade, localizada no andar superior do abdome, com irradiação para o dorso e associada a náuseas e vômitos; 2) amilase e/ou lípase ≥ 3 vezes o limite superior da normalidade; e 3) achados tomográficos compatíveis com pancreatite aguda. Dosagem das enzimas pancreáticas é o exame laboratorial mais indicado para diagnóstico da pancreatite aguda, mas, apesar disso, podem se encontrar alterada em grande número de condições pancreáticas e não pancreáticas, de modo que elevações discretas devem ser analisadas dentro de um contexto clínico bastante amplo. O intervalo de tempo entre o início dos sintomas e a dosagem das enzimas deve ser mantido em mente, pois elevações persistentes das enzimas após a resolução do quadro sugerem presença de complicações, como pseudocistos. Elevações superiores a 3 vezes o limite superior da normalidade são consideradas mais específicas para o diagnóstico de pancreatite aguda. Os níveis séricos dessas enzimas não têm qualquer implicação prognóstica. Há divergência a respeito da efcácia da combinação desses dois ensaios para diagnóstico da pancreatite. Os Quadros 81.5 e 81.6 apresentam os achados laboratoriais e radiológicos na pancreatite aguda. Pancreatite crônica (PC) A crise dolorosa abdominal é o sintoma mais frequente (503/545 − 93,2%) e, geralmente, revela da afecção. Trata-se de dor intensa, contínua, localizada no andar superior do abdome, com duração de 1 a 3 dias, precipitada pelo abuso alimentar, sobretudo de gordurosos, e pela ingestão alcoólica, com períodos de acalmia variáveis de meses a anos, que pode melhorar com a adoção da posição em prece maometana (genupeitoral). Os mecanismos responsáveis pela dor são, em geral, complexos, multifatoriais e envolvem várias vias periféricas e centrais, não estando o conhecimento desse complexo sistema ainda totalmente elucidado, com várias hipóteses postuladas tanto sobre a gênese quanto sobre a perpetuação da dor na PC. Tais hipóteses incluem o aumento da pressão intrapancreática (dutos e parênquima), a fibrose pancreática por estenose isolada ou múltipla ductal, a isquemia, os pseudocistos, a infamação do pâncreas e a alteração dos nervos pancreáticos, além de causas extrapancreáticas menos comuns, como a estenose do ducto biliar comum e do duodeno, causadas por extensa infamação ou fibrose pancreática. → A estimativa da real incidência da pancreatite crônica é dificultada pela ausência de critérios ideais para o diagnóstico da doença e pela heterogeneidade da metodologia utilizada pelos estudos, alguns utilizando parâmetros clinicorradiológicos, com ultrassonografia (US), tomografia computadorizada (TC), ecoendoscopia ou mesmo pancreatocolangiografia e outros utilizando parâmetros morfológicos, na maioria das vezes em UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 16 Pro���m� 1 – Abe���r� material de necrópsia. Apesar disso, acredita-se que a incidência da doença seja maior em locais onde o consumo alcoólico e a alimentação rica em gorduras e proteínas são elevados. Por outro lado, regiões fageladas pela desnutrição, sobretudo a proteica, como a Ásia tropical e certos países africanos, também apresentam uma incidência relativamente alta de pancreatite crônica, principalmente em indivíduos jovens. A pancreatite crônica ocorre no Brasil em especial na região Sudeste, pelo consumo excessivo de álcool, pelo elevado teor alcoólico existente na bebida mais consumida no País – a aguardente de cana – e pelo seu baixo custo. Qualquer tipo de bebida alcoólica, fermentada ou destilada, pode resultar na lesão pancreática crônica, desde que a quantidade de etanol consumida durante determinado tempo supere a dose considerada crítica para que o pâncreas seja cronicamente comprometido (80 e 100 mL de etanol puro diário, respectivamente, para o sexo feminino e para o masculino, por um período superior a cinco anos). QUADRO CLÍNICO As pancreatites crônicas, particularmente as alcoólicas, predominam em homens entre 30 e 40 anos de idade. As formas hereditárias e nutricionais afetam indivíduos mais jovens, na 1a ou 2a década de vida, ao passo que as formas obstrutivas, as metabólicas e as idiopáticas prevalecem em indivíduos acima dos 40 anos. As manifestações clínicas observadas geralmente são características, sem variações importantes de um caso a outro, salvo as inerentes à própria fase evolutiva do processo. A dor é sintoma habitualmente presente e, em geral, a primeira exteriorização clínica da doença (Figura 82.2). Manifesta-se sob a forma de crises dolorosas recorrentes, intensas, localizadas no andar superior do abdome, com duração de 1 a 7 dias, intercaladas por períodos de acalmia variáveis de meses a anos, precipitadas, quase sempre, pelo abuso alcoólico e/ou por alimentação gordurosa. A sua fsiopatologia não é adequadamente conhecida, mas seu aparecimento é atribuído à hipertensão ductal provocada pela presen-ça de rolhas proteicas nas fases iniciais da doença e por estenoses ductais nas fases mais tardias; infamação perineural dos nervos intra e peripancreáticos também pode contribuir para o quadro doloroso. Atualmente, o ponto mais importante para que a dor seja corretamente abordada é a evidência de alterações em todos os níveis do sistema nervoso, central e periférico, naqueles pacientes portadores de pancreatite crônica com dor, estando as alterações neuronais bem demonstradas, bem como os receptores PAR-2 e TRPV1 para a dor; as modifcações neuronais observadas só ocorrem em portadores de pancreatite crônica e de carcinoma de pâncreas. A dor é considerada a principal causa de indicação cirúrgica em portadores de pancreatite crônica. A redução do peso corporal é notada, pelo menos temporariamente, em quase todos os pacientes; o grau de emagrecimento depende, inicialmente, da frequência e da intensidade das crises dolorosas e, em seguida, do grau de envolvimento do parênquima glandular, determinando má absorção e diabete. A má absorção e o diabete melito são manifestações tardias da afecção, surgindo, em média, dez anos após o início das crises dolorosas, quando já houve comprometimento de mais de70% do parênquima pancreático. Resultam, respectivamente, da substituição do parênquima secretor exócrino e endócrino pela fbrose. As complicações clínicas das pancreatites crônicas podem surgir em qualquer fase da doença, porém, são mais frequentes em suas fases mais iniciais, quando ainda não houve extenso comprometimento do parênquima pancreático. Podem ser locais ou sistêmicas (Quadro 82.1), e sua incidência é elevada em nosso meio, sobretudo em relação a outras grandes casuísticas. A icterícia, clínica e/ou laboratorial, observada em aproximadamente 25% dos pacientes, resulta da compressão do colédoco terminal, retropancreático, por aumento do volume da cabeça do pâncreas, secundário a edema, nódulos fbróticos, cálculos pancreáticos ou cistos cefálicos. Trata-se, em geral, de icterícia discreta, fugaz e apirética, com frequência e intensidade não relacionadas à fase evolutiva da doença, e sim com a relação anatômica entre colédoco terminal e cabeça da glândula. Os cistos, presentes em aproximadamente ⅓ dos pacientes, podem surgir em qualquer fase evolutiva da afecção, sendo pequenos, intraglandulares (cistos de retenção) ou maiores, extraglandulares (cistos necróticos). Podem, eventualmente, ser sede de complicações, como compressões de órgãos ou estruturas vizinhas (estômago, cólon, vesícula, colédoco), infecção (abscessos), hemorragia, fstulização para vísceras ocas ou para o peritônio livre (ascite) e, em cerca de 70% dos casos, têm resolução espontânea. Ascite, derrame pleural e, raramente, derrame pericárdico podem surgir durante a evolução da pancreatite crônica, sendo a ascite a mais frequente. Esta, quando presente, deve-se à fstulização de pseudocisto ou do próprio ducto pancreático principal para a cavidade abdominal. Durante a evolução das pancreatites crônicas, os pacientes podem desenvolver hemorragia digestiva, exteriorizada sob a forma de hematêmese ou melena, causada, em geral, pela ruptura de varizes esofagogástricas, secundárias à compressão ou trombose da veia esplênica, pela presença de cisto ou pelo aumento de volume do pâncreas. Pode originar-se, também, da ruptura de vasos intracísticos e da formação de UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 17 Pro���m� 1 – Abe���r� pseudomicroaneurismas. Podem estar presentes necrose pancreática, estéril ou infectada, abscessos e fístulas, mas são complicações raras. A associação com cirrose hepática nas fases iniciais das pancreatites crônicas é excepcional, mas, com a evolução da doença, após a instalação da má absorção do diabete melito, o fígado começa a se comprometer morfofuncionalmente. Alguns pacientes apresentam, concomitantemente ao envolvimento pancreático, tuberculose pulmonar; outros, em longo prazo, têm maior incidência de cânceres relacionados a álcool-tabagismo (p. ex., boca, orofaringe, pulmão etc.). Alguns trabalhos mencionam maior incidência de câncer de pâncreas em PCC, fato não observado em nosso grupo. DIAGNÓSTICO O diagnóstico das pancreatites crônicas depende de um contexto clínico apropriado (p. ex., homem jovem com intenso e prolongado consumo alcoólico e dor abdominal típica, perda ponderal, insuficiência exócrina e/ou endócrina) associado a exames que reflitam a perda da função pancreática e a presença de anormalidades anatômicas compatíveis. A dosagem das enzimas pancreáticas, em particular da amilase e da lipase, pode estar alterada no sangue durante as crises de exacerbação da doença, especialmente em suas fases iniciais, quando o parênquima pancreático ainda se encontra relativamente preservado. Nas fases finais da afecção, é relativamente comum encontrar níveis normais dessas enzimas, o que se justifica pela escassez da produção enzimática, secundária à extensa substituição do parênquima pancreático por fibrose. Quando houver colestase, a fosfatase alcalina e a gamaglutamiltransferase, além das bilirrubinas séricas, também podem se elevar. Nos derrames cavitários (abdominal, pleural ou pericárdico), a quantificação da amilase e da proteína total no líquido obtido por punção possibilita a caracterização da origem pancreática do derrame, já que ambos os parâmetros estão elevados, especialmente a proteína. No suco duodenal ou no suco pancreático puro, obtidos respectivamente pela tubagem duodenal ou por cateterismo transpapilar, a determinação quantitativa dos componentes do suco pancreático (secreções hidroeletrolítica e enzimática), após estímulo hormonal com secretina e colecistocinina (ou ceruleína), é, até o presente momento, o melhor método de avaliação da função exócrina do pâncreas. No entanto, esse exame não é passível de realização habitual entre nós, haja vista o alto custo para importação dos hormônios. Nas fezes, a pesquisa qualitativa de gordura pode sugerir a síndrome de má absorção relacionada à insuficiência pancreática. A dosagem de gordura, após dieta padronizada (balanço de gordura fecal), é útil para o diagnóstico do grau de envolvimento do pâncreas. Outro teste que tem sido utilizado é a dosagem fecal da elastase pancreática por técnica de ELISA. Tal exame reflete a reserva funcional do pâncreas exócrino por quantificar nas fezes essa enzima pancreática, que sofre pouca degradação durante o trânsito intestinal. No entanto, é pouco sensível, por não identificar pacientes com função pancreática minimamente reduzida. Quanto menores são os níveis de elastase fecal, mais grave é a insuficiência exócrina apresentada pelo paciente. Após a introdução da US, da TC e da ressonância nuclear magnética (RNM) abdominais, os exames contrastados do tubo digestivo, a colangiografia venosa, a esplenoportografia e a arteriografia seletiva do tronco celíaco e da artéria mesentérica superior são realizados excepcionalmente. O exame radiológico simples do abdome, sem preparação, pela facilidade de realização e pelas informações que traz, revelando a presença da calcificação pancreática em cerca de 50% dos pacientes com pancreatite crônica, deve ser o ponto de partida, com a US abdominal, para a investigação diagnóstica, sobretudo nos pacientes com história clínica sugestiva de comprometimento pancreático há mais de cinco anos. A ausência de calcificação pancreática ao exame radiológico simples do abdome não afasta o diagnóstico de comprometimento crônico da glândula, pois sabe-se que os cálculos surgem, em média, 5 a 10 anos após o início das manifestações clínicas. A US abdominal, método não invasivo e que pode ser repetido várias vezes, tem elevada especificidade diagnóstica e detecta eventuais complicações, sendo as principais alterações ecográficas observadas a textura heterogênea do parênquima, a presença de calcificações e a dilatação e tortuosidade do ducto pancreático principal. A TC abdominal, sobretudo a helicoidal, é útil no diagnóstico das afecções pancreáticas, possibilitando o acesso ao retroperitônio, com observação direta da glândula pancreática e dos tecidos adjacentes, sendo os principais achados tomográficos os cálculos intra-ductais, a dilatação do ducto pancreático principal e as alterações do parênquima glandular por edema, fibrose ou necrose e atrofia (Figura 82.3). Possibilita, também, como a US, UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 18 Pro���m� 1 – Abe���r� diagnosticar e acompanhar determinadas complicações das pancreatites crônicas, em particular os cistos intra ou extraglandulares, ascite, necrose (infecta- da ou não), fístulas, abscessos, coleções líquidas, além de dilatações das vias biliares intra ou extra-hepáticas. A pancreatocolangiorressonância magnética é útil para a observação de alterações do ducto pancreático principal, da via biliar principal e de complicações como os cistos de pâncreas. Gradativamente, com o aprimoramento das imagens que fornece, ocupa cada vez mais espaço no estudo dos pancreatopatas crônicos, especialmente em relação aos métodos endoscópicos. Nos raros casos em que se verifica a presença de uma massa pancreática e permaneçam dúvidas quanto a tratar-se de uma pancreatitecrônica em fase de re-exacerbação ou de uma neoplasia pancreática, a TC por emissão de pósitrons (PET – positron emission tomography) pode ser de grande valia. Durante esse exame, fornece-se ao paciente um radiofármaco contendo glicose,a qual é avidamente captada por células neoplásicas, diferentemente do que ocorre com as lesões inflamatórias. Esse efeito pode ser flagrado por uma câmara de cintilação modificada, e o método, embora não seja suficientemente sensível, tem alta especificidade. A colangiopancreatografia endoscópica permite detalhado delineamento da anatomia ductal, mas,com o desenvolvimento de técnicas não invasivas, é reservada atualmente para o pré-operatório de cirurgias pancreáticas ou para situações nas quais seu potencial terapêutico seja necessário. É particularmente útil nos casos que evoluem com derrames cavitários (ascítico e pleural), por permitir, na maioria das vezes, localizar a fístula pancreática ou mesmo um cisto roto. Não é um exame isento de riscos, e sua principal complica ção relaciona-se à infecção, tanto do pâncreas quanto das vias biliares, condição mais comum nos casos com ducto pancreático principal muito dilatado, com cis tos com comunicação com os ductos pancreáticos ou quando há compressão do colédoco (Figura 82.4). A ecoendoscopia realiza detalhado estudo anatômico do parênquima pancreático e do sistema ductal, sem sofrer com a interposição gasosa que limita a US convencional. Os principais achados de uma ecoendoscopia são a textura heterogênea do parênquima, os cistos, as dilatações e irregularidades ductais e as calcificações. Além das imagens obtidas, essa técnica permite punção aspirativa por agulha fna do próprio parênquima ou de cistos, sendo fundamental para o diagnóstico diferencial de lesões císticas pancreáticas. Quando o fator etiológico para a pancreatite crônica não for esclarecido, não deve ser esquecida a possibilidade da presença de mutações genéticas, especialmente no CFTR, relacionado à fibrose cística, e no PRSS1, relacionado à pancreatite crônica hereditária. Para investigar as PCAs, além da busca de doenças autoimunes concomitantes, níveis elevados de IgG4 sérica ou em tecido reforçam a hipótese diagnóstica, embora sua ausência não a afaste. Aumento da pressão intrapancreática A hipertensão canalicular pode estar relacionada com a secreção na presença de obstrução do ducto pancreático. A hipótese de que o aumento da pressão intraductal por estenose única ou múltiplas e/ou cálculo seja responsável pela dor na PC tem como base observações clínicas de que descompressão do ducto pancreático ou de pseudocisto frequentemente aliviam a dor, porém, não o fazem na totalidade dos casos. Observações de que 30% dos pacientes tratados com cirurgias descompressivas (derivações) voltam a apresentar episódios recorrentes de dor e de que muitos pacientes com grau avançado de insuficiência pancreática apresentam dor demonstram que o aumento da pressão intraductal não é o único fator a ser considerado. Outra hipótese sugere que a dor seria induzida quando ocorre aumento da pressão intraductal e do parênquima determinando isquemia, tendo estudos experimentais demonstrado que o aumento da pressão intersticial se correlaciona com a diminuição do fluxo sanguíneo. A fibrose pancreática é também aceita habitualmente como fator contribuinte para o aumento da pressão intraductal na PC, a qual geraria dor durante o curso da doença. No entanto, recentemente foi demonstrado que o grau da fibrose pancreática não apresenta influência significativa sobre o aparecimento da dor. Os pseudocistos pancreáticos estão implicados na gênese da dor pancreática quando se comunicam com um ducto estenosado, causando aumento da pressão intracística. A redução do tamanho do cisto e o seu eventual desaparecimento resultam na redução da dor em grande porcentagem dos casos; o aumento dos pseudocistos, causando compressão de estruturas adjacentes, por sua vez, é a razão para o surgimento da dor. Crise de agudização A dor decorrente da inflamação aguda do pâncreas na PC (crise de agudização) apresenta, provavelmente, a mesma patogênese da dor na pancreatite aguda, e em muitos pacientes as crises recorrentes de inflamação aguda causam dor abdominal intensa. Alteração dos nervos pancreáticos UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 19 Pro���m� 1 – Abe���r� Há evidências de alterações dos nervos intrapancreáticos, as quais se relacionam a interações neuroimunes e a lesões neuropáticas propriamente ditas. Em relação às interações neuroimunes, a camada perineural dos nervos intrapancreáticos encontra-se frequentemente infiltrada por células imunes. A lesão da bainha dos nervos expõe axônios e o tecido conectivo ao seu redor às substâncias nocivas e citocinas presentes na matriz extracelular, surgindo, como consequência, uma neurite local que se correlaciona ao grau de intensidade da dor. O neuropeptídeo P, entre outros, encontra-se envolvido na infamação neural, sendo sintetizado por fibras sensoriais C, já mencionadas anteriormente como responsáveis pela condução lenta da dor. Considera-se que a liberação desse peptídeo no corno posterior da medula, após intensa estimulação periférica, promove excitabilidade central e aumenta a percepção da dor, além de mediar o cross-talk entre o sistema nervoso e o sistema imune. Além disso, o neuropeptídeo P modula a liberação de citocinas como TNF-alfa, IL-l, IL-2, IL-6 e IL-8 no tecido inflamado, via ativação do NK-IR. Não menos importante, o fator de crescimento neural (NGF) também participa da regulação das interações neuroimunes, com a sensibilização de nociceptores via NGF, resultando no aumento da liberação do neuropeptídeo P e CGRP no corno posterior da medula, além de haver relação entre níveis de NGF mRNA, fibrose pancreática e lesão acinar. Quanto à neuropatia dos nervos pancreáticos, essa hipótese baseia-se no encontro de maiores número e diâmetro dos nervos pancreáticos no estroma da glândula dos portadores de PC dolorosa, achado este associado à severidade da dor. Vários fatores neurotróficos, como o NGF e seu receptor TrkA, apresentam envolvimento na proliferação e na maturação. Adenocarcinoma de pâncreas O adenocarcinoma do pâncreas parece ter afinidade pelos nervos. A proliferação celular envolve e continua ao longo do nervo pancreático, de modo que a bainha epineural seja substituída pelas células tumorais que invadem o nervo, lesando as fibras nervosas. A lesão nervosa crônica transmite impulsos anormais como descargas ectópicas, originadas não só no nervo lesado, mas também nos neurônios dos gânglios da raiz dorsal (esta contém o corpo das células dos neurônios aferentes, ou neurônios sensoriais, que transmitem impulso ao sistema nervoso central – SNC). Como a maioria dos nervos do pâncreas passa pelo tronco esplênico e pelo gânglio celíaco, procedimentos que interrompam as descargas nervosas nessas regiões podem tratar a dor do câncer pancreático. Os tumores do pâncreas tendem a invadir e infiltrar estruturas adjacentes, como o estômago ou o duodeno, e a localização da dor depende, portanto, não apenas da localização e do tamanho do tumor, mas também do acometimento de estruturas vizinhas. Localiza-se no abdome superior, apresenta intensidade variável, podendo se irradiar para o dorso, piorando, em geral, com a alimentação e em decúbito dorsal. A dor pancreática é de difícil controle não somente por ser consequência de um complexo processo gerado parcialmente no sistema periférico e parcialmente no SNC, mas principalmente pelo desconhecimento dessa interação. Pesquisas recentes têm contribuído para melhor entendimento dos fatores responsáveis pela gênese da dor pancreática, o que certamente propiciará tratamento mais adequado desse sintoma. DOR DE ORIGEM BILIAR As vias biliares extra-hepáticas compreendem a vesícula biliar e os ductos biliares. As manifestações dolorosas serão descritas separadamente, de acordo com as principais doenças que acometem essas estruturas. Litíase biliarA litíase biliar cursa, em geral, sem dor em 60 a 80% dos pacientes. A correta caracterização da dor de origem litiásica é fundamental por ser o fator determinante para a adequada conduta terapêutica. Nos pacientes sintomáticos, a dor, erroneamente denominada cólica biliar, caracteriza-se por ter caráter contínuo, não em cólica, no quadrante superior direito do abdome ou epigástrio, apresentar início abrupto, de intensidade moderada a intensa, correspondendo à obstrução transitória do ducto cístico ou do ducto biliar comum por um cálculo e que, pela distensão da vesícula, causa dor visceral. Geralmente precipitada pela ingestão de alimentos gordurosos, a dor atinge seu pico em 1 hora e tende a se resolver gradativamente após 1 a 5 horas, quando o cálculo se desloca. Caso o quadro se prolongue (> 5 horas), deve-se suspeitar de complicações (p. ex., colecistite aguda, pancreatite biliar aguda, obstrução biliar). A associação da dor biliar com náusea, vômito é frequente, porém, a presença de febre, icterícia e leucocitose indica complicação que requer internação e tratamento. Colecistite aguda É a complicação mais frequente da litíase biliar. Decorre de resposta inflamatória por causas mecânicas, geralmente causada pela obstrução do ducto cístico por litíase biliar, que impede o esvaziamento vesicular e gera inflamação da mucosa da vesícula, ou, ainda, determinada UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 20 Pro���m� 1 – Abe���r� por causas químicas ou bacterianas. A distensão da vesícula biliar e o aumento da pressão intraluminar podem ocasionar isquemia da mucosa e da parede vesicular, podendo determinar a instalação de gangrena e, possivelmente, perfuração do órgão. A colecistite aguda está associada à colelitíase em mais de 90% dos casos. A dor referida como contínua, no quadrante superior direito ou no epigástrio, ocorre na maioria dos casos, podendo apresentar irradiação em faixa, para o dorso, e cede de forma gradual em 12 a 18 horas. Os pacientes descrevem muitas vezes episódios prévios de dor biliar e, por vezes, têm caráter pós-prandial, particularmente após refeições gordurosas. A infecção bacteriana secundária pode ocasionar empiema, necrose e perfuração da vesícula, e a inflamação da vesícula pode irritar o peritônio parietal e mudar a localização da dor do epigástrio para o quadrante superior direito. Náuseas, vômitos e anorexia são comumente associados à colecistite aguda. Alguns pacientes apresentam o sinal de Murphy ao exame físico, o que corresponde à inibição da inspiração durante a palpação profunda sob a margem costal direita. A colecistite aguda acalculosa representa a minoria dos casos, cerca de 5 a 10%. A obstrução do ducto cístico nesses casos pode ser decorrente de neoplasia da vesícula biliar, pólipos da vesícula biliar, parasitas ou corpos estranhos, compressão por linfonodos aumentados, artéria cística ou hepática anômalas, aderências ou de vólvulo da vesícula biliar com angulação acentuada do ducto cístico. É uma afecção necroinflamatória cuja patogênese é multifatorial e em geral resultante de estase biliar, isquemia ou ambos. Fatores de risco associados à colecistite aguda acalculosa são trauma grave, choque, queimaduras, nutrição parenteral e infecção. As manifestações clínicas são variáveis, podendo o paciente apresentar desde vaga dor abdominal até um quadro semelhante ao da colecistite aguda calculosa, com dor no quadrante superior direito, náuseas, vômitos, anorexia e febre. Nos pacientes críticos, deve-se manter alto grau de suspeição diante de febre e leucocitose persistentes, como diagnóstico de exclusão. → Embora seja mais frequente no sexo feminino, o número de pacientes do gênero masculino aumenta com o avanço das faixas etárias, chegando a 30% dos casos acima dos 65 anos. Apresenta-se como uma emergência cirúrgica e geralmente requer hospitalização para tratamento. Está associada com significativa morbimortalidade, especialmente em doentes idosos. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico mais frequente consiste de dor epigástrica forte, em cólica, irradiada para o hipocôndrio direito ou esquerdo, às vezes até para a escápula, precórdio ou dorso, acompanhada de náuseas e vômitos reflexos. A dor persiste por mais de 12 horas, com pouca melhora com analgésicos, diferentemente da cólica biliar, que é limitada. Durante a evolução, quando a serosa é acometida, a dor localiza-se no hipocôndrio direito e piora com a movimentação e inspiração profunda. A icterícia é observada em apenas 20% dos pacientes adultos e é mais frequente em crianças. Geralmente, é devida à inflamação pericoledociana e regride nas primeiras 24 horas. O aumento dos níveis de bilirrubina durante a evolução sugere a presença de coledocolitíase. É comum o surgimento de febre em torno de 38°C. A palpação do hipocôndrio é dolorosa e obriga o paciente a interromper o movimento inspiratório quando se comprime um ponto na intersecção da bainha do músculo reto com o rebordo costal direito. Essa manobra é conhecida como sinal de Murphy e é aceita como sinal patognomônico de colecistite aguda. Podem ser palpados tanto a vesícula distendida quanto um plastrão infamatório formado pelo epíplon e estruturas vizinhas aderidas em bloqueio à serosa vesicular infamada. Normalmente, a palpação é prejudicada pela contração muscular causada pela irritação peritoneal, e a descompressão brusca dolorosa pode estar presente, assim como sinais de íleo paralítico. Esse quadro clínico típico está ausente em um terço dos pacientes, os quadros atípicos ocorrem justamente nos casos em que a decisão rápida é fundamental: pacientes com refexos diminuídos: idosos, diabéticos, imunossuprimidos e pacientes em estado crítico internados em terapia intensiva, inclusive crianças. Pessoas nessas condições apresentam sinais de sepse (febre, confusão mental, alterações de perfusão periférica e taquipneia) ou de insuficiência orgânica, mas não mostram sinais de defesa peritoneal sendo, às vezes, possível palpar a vesícula ou um plastrão infamatório. Em doentes com aids, o quadro é ainda mais atípico, com evolução protraída de febre e emagrecimento, sendo a queixa mais frequente a dor no hipocôndrio direito, e o sinal de Murphy, encontrado em apenas 50% dos casos. DIAGNÓSTICO Um aspecto importante no diagnóstico é que a maior parte dos pacientes não tem histórico anterior, em torno de 60% dos casos a colecistite aguda é a primeira manifestação da presença de cálculos. Outro aspecto é que os quadros atípicos ocorrem nos casos mais graves em que não pode haver demora para estabelecer uma conduta. Esses casos incluem os idosos, os diabéticos, os imunossuprimidos por corticoides e por leucemia etc. O quadro clínico da colecistite aguda é variável e pode se confundir com outras causas de abdome agudo e mesmo com a cólica biliar. Cerca de 30% dos pacientes com abdome agudo de diversas causas apresentam também cálculos na vesícula; dessa forma, é necessária uma análise criteriosa dos dados para estabelecer ou afastar a colecistite aguda como responsável pelo quadro abdominal agudo. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 21 Pro���m� 1 – Abe���r� Os exames laboratoriais contribuem indiretamente porque são pouco específcos. O hemograma geralmente apresenta leucocitose que pode ser pouco acentuada em pacientes mais graves. A bilirrubina direta pode ou não estar aumentada, a elevação acentuada e progressiva sugere a presença de coledocolitíase, sem, entretanto, afastar o diagnóstico de colecistite aguda. A amilase pode estar elevada, podendo atingir níveis de até 500 UI; elevações maiores sugerem o diagnóstico de pancreatite aguda. A elevação da fosfatase alcalina pode ser um indicador de colecistite aguda em pacientes críticos submetidos à alimentação parenteral.12 Em doentes com aids as transaminases podem estar elevadas, e nesse grupo a leucocitose também é raramente observada. A elevação da proteína C-reativa (PCR) tem maior valor discriminativo que a contagemde leucócitos e representa
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