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Clínica Cirúrgica I- Fios cirúrgicos Objetivo 1: Conhecer os principais tipos de fios cirúrgicos e suas características. - Introdução: A síntese cirúrgica (é um tipo de cicatrização primária que une as bordas da ferida com fio possibilitando a formação de novo tecido na área lesada) e a amarração de estruturas têm papel essencial na técnica cirúrgica. A escolha de material adequado, além de facilitar o procedimento, leva seu resultado mais próximo ao ideal. É uma prática milenar, onde o fio de sutura começou a ser usado para o fechamento das feridas 3.500 anos antes de Cristo no Egito1 e até hoje o ato de suturar continua o método mais comum para reaproximação das bordas das feridas cirúrgicas. OBS: A escolha do tipo de fio pode variar em decorrência de vários fatores de influência, como o tipo de fio, o tempo desejado para a permanência do fio no organismo, o tipo de tecido a ser suturado, o estado nutricional do paciente operado e condições patológicas pré-existente - Classificação: os fios são classificados de acordo com: OBS: Características físicas do próprio fio, a configuração física, capilaridade, capacidade de absorção de líquidos, diâmetro, resistência tensora, resistência dos nós, elasticidade e memória devem ser considerados para a escolha do fio a ser utilizado. OBS: É responsabilidade do instrumentador a inspeção de qualquer dano ao material, mesmo o fio, antes de ser utilizado na cirurgia, saber qual o tipo dado ao cirurgião e estar atento à cirurgia para antecipar o instrumental que será requisitado pelo cirurgião. - Material do fio: são classificados considerando sua degradação pelo organismo (absorvíveis ou inabsorvíveis), sua origem (orgânicos, sintéticos, mistos ou minerais) e à quantidade de seus filamentos (multifilamentados ou monofilamentados). Fios absorvíveis Apresentam como característica gerar reação de hidrólise, fagocitose ou reações de proteólise, que em contato com o tecidoperda de sua força tênsil e completa absorção. Podem ser absorvíveis de curta permanência, como o fio de catgute, ou absorvível de longa permanência, como o fio de poligalactina. •Composição: polipropileno; poliéster; aço inox; algodão; nylon; proteína colágeno; •Origem: animal, vegetal, sintético e mineral; •Cor: azul, violeta, rosa, vermelho, preto... •Método de esterilização (cobalto 60; ETA); •Resistência têxtil; •Tempo e modo de absorção (fagocitose, hidrólise ou inexistente). Fios inabsorvíveis: Podem ser definidos como fios que apresentam maior força tênsil e durabilidade maior que 60 dias. É importante salientar que ao longo do tempo estes fios também se desintegram, contudo, quando comparados aos fios absorvíveis, sua durabilidade é maior. Ex: os fios de aço, de algodão, de nylon ou de polipropileno. Apesar de não serem completamente absorvidos e eliminados pelo organismo, os fios não absorvíveis perdem sua força tênsil em tempo variável por exemplo, fio mononylon diminui 20% sua força tênsil em um ano). Porém, mesmo sem a totalidade de sua função, permanecem presentes no organismo, gerando reação de corpo estranho. OBS: Embora os fios absorvíveis sejam completamente eliminados, eles podem desencadear uma reação secundária local de corpo estranho, com consequências mais pronunciadas do que os fios inabsovíveis. OBS: Fios orgânicos geram maior reação de corpo estranho, porém são fios geralmente de menor custo. Fios minerais são os que produzem menor reação, permanecendo com suas propriedades e exercendo sua função durante tempo indefinido. Entretanto, são de difícil manuseio e sua presença e inextensibilidade podem causar lesões. Os fios sintéticos possuem características intermediárias entre os dois grupos. - Configuração: Os fios podem ser monofilamentares ou multifilamentares. Fios monofilamentares possuem apenas um filamento e, por este motivo, são menos maleáveis e possuem maior memória, o que torna mais difícil o seu manuseio e diminui a segurança de seus nós. Entretanto apresenta como vantagem provocar menos lesão ao passar por dentro dos tecidos. Multifilamentares Possuem vários filamentos trançados ou torcidos entre si, conferindo maior flexibilidade, porém causam maiores traumas ao tecido e possibilitam maior adesão bacteriana entre seus filamentos. OBS: Memória: É definida como a capacidade do fio em retornar a sua forma original após ser manipulado. É uma propriedade não desejada nos fios de sutura, uma vez que permite que os nós se desfaçam com mais facilidade. OBS: Coeficiente de fricção: É a capacidade que o fio apresenta de deslizar através do tecido e dos nós. OBS: Determinados tipos de fios de sutura podem induzir a exacerbação desta resposta inflamatória, o que pode culminar em anormalidades da cicatrização. Os fios monofilamentares inabsorvíveis são os que desencadeiam menor resposta inflamatória. Já entre os fios absorvíveis, os de origem biológica são os que desencadeiam maior reação tecidual. - Segurança dos nós: está intimamente associado ao coeficiente de fricção dos nós, sendo que os monofilamentares tendem a afrouxar com mais facilidade por possuir menor coeficiente. OBS: É importante que os fios tenham alguma coloração para que haja maior visibilidade no campo cirúrgico. Desse modo é adequado que os fios não sejam transparentes ou vermelhos, uma vez que podem ser perdidos na presença de sangue. Fatores para escolha do fio A decisão do uso de fio absorvível, inabsorvível, monofilamentar ou multifilamentar depende de uma série de fatores. Há de se considerar o tempo necessário para a ferida cicatrizar, a tensão suportada pelos tecidos durante o processo de cicatrização e a questão da necessidade temporária ou permanente do fio de sutura para garantir o suporte mecânico. Além disso, a idade do paciente e o grau de contaminação da ferida são interferentes para escolha do fio. OBS: Os fios têm diâmetros ou calibres variados expressos em número de zeros (#-0), por exemplo 2-0 ou 6-0. O número de zeros corresponde a um diâmetro capaz de determinada resistência tênsil, quanto maior a quantidade de 0 mais fino. Isto é, fios de mesmo número, por exemplo aço 3-0 e categute 3-0, podem ter diâmetros diferentes. - Tipos de fios Categute: fabricado a partir do colágeno extraído da submucosa do intestino de ovinos ou da serosa intestinal de bovinos, existe disponível sob a forma simples ou cromado. O simples perde metade da resistência após 5 a 7 dias nos tecidos e 100% após 3 a 4 semanas. O tratamento do fio com sais de cromo prolonga o tempo de absorção e aumenta sua resistência à tensão (perde 50% da força até 20 dias e 100% 5 semanas). Trata-se de um fio monofilamentar, absorvido pelo mecanismo de digestão enzimática, que provoca reação tecidual significativamente mais intensa do que os absorvíveis sintéticos. Contraindicação: em suturas de úlceras duodenais sangrantes ou perfuradas, anastomoses pancreatojejunais e anastomoses biliares, pois pode ser rapidamente desintegrado pela ação de enzimas proteolíticas. Evita-se nas suturas musculoesquelética, especialmente nos tendões e fáscias pelo fato de serem submetidos a força e tensão constantemente e tempo de cicatrização maior. Ácido poliglicólico (Dexon): Fio multifilamentar trançado, sintético, absorvível por hidrólise, na qual é liberado o monômero ácido glicólico solúvel. Foi demonstrado experimentalmente que o ácido poliglicólico perde totalmente sua resistência após 28 dias nos tecidos e é 100% absorvido decorridos 60 dias. Quanto a aderências pós-operatórias, sob a forma de gel pode reduzir a formação de aderências pericárdicas. Poliglactina 910 (Vicril): Multifilamentar, é formado por 90% de ácido glicólico e 10% de ácido lático. Cerca de 50% do fio é absorvido por hidrólise após o 28º dia pós-operatório e 100% após o 70º dia. Quando comparado coma polidioxanona (PDS) em suturas intradérmicas quanto à presença de eritema, enduração, infecção e cicatriz hipertrófica, não houve diferença significativa. OBS: Verificou-se que sua capacidade de fagocitose, de aderência, de produção de lisosima e de fator de necrose tumoral foi significativamente mais afetada pela poliglactina, em comparação com os demais fios. Polidioxanona (PDS): Fio monofilamentar produzido a partir da polimerização da paradioxanona. De cor violeta, absorvido por hidrólise, seu tempo de absorção é mais prolongado que o da poliglactina. OBS: Em média a absorção do fio inicia após 90 dias e termina após 180 dias. Anastomoses e microanastomoses realizadas mostraram que a polidioxanona provocou pequena reação inflamatória quando comparada com outros materiais de sutura. Por outro lado, em relação a função dos macrófagos, tanto ele quanto o fio de aço demonstraram menor efeito imunotóxico. Poliglecaprone (monocril): é um monofilamento absorvível copolímero da epsilon- caprolactona e glicolida. Testes laboratoriais mostraram que apresenta excelente facilidade de manuseio, resistência mínima durante a passagem através dos tecidos e resistência à tensão adequada. O tempo de absorção completa-se entre 90 e 120 dias de implantação nos tecidos, com mínima reação tecidual. Poligliconato: Monofilamentar de absorção lenta, apresenta alta resistência. Estudo clínico randômico demonstrou que o poligliconato, mesmo usado com menor diâmetro do que o ácido poliglicólico, manteve grande resistência à tensão no pós-operatório, quando empregado no fechamento de parede abdominal. A reação tecidual revelou-se mínima e a absorção completa foi seguida de regeneração total da parede vascular, demonstrando que o fio é adequado para esse tipo de tecido. - Fios Inabsorviveis Algodão, linho e seda: São fios multifilamentares de fibras naturais, possuem elevada resistência, são de fácil manuseio e proporcionam nó mecanicamente firme. Sua grande virtude é o baixo custo, razão pela qual ainda hoje são amplamente utilizados em muitos hospitais. Por serem multifilamentares de alta capilaridade, potencializam a infecção mais do que os fios monofilamentares inabsorvíveis (maior risco de formação de abscessos, fistulas). Devem ser evitados na sutura de feridas que apresentam contaminação bacteriana grosseira. A seda, em particular, exerce um considerável efeito inibidor sobre as funções dos macrófagos, prejudicando principalmente a adesividade dessas células. Poliéster: Confeccionado através da polimerização de éster resultante da combinação do etilenglicol com o ácido tereftálico, é multifilamentar, trançado, de alta resistência. Por ser um fio de alto coeficiente de atrito, o manuseio não é dos mais fáceis, o que torna seu uso limitado. Além disso, induz uma reação tecidual significativamente maior do que o polipropileno no fechamento de feridas abdominais, com maior risco de infecção, sendo evitado o seu uso em suturas contaminadas. Poliamida (Nylon): Disponível como monofilamentar e multifilamentar trançado, o nylon provoca pequena reação tecidual, pode ser utilizado e é bem tolerado em tecidos infectados na apresentação monofilamentar. É de baixo custo, de fácil manuseio, porém, os nós podem desfazer-se com muita facilidade. Tal característica obriga o cirurgião a confeccionar múltiplos nós em cada ponto de uma sutura, fazendo com que bactérias proliferem nas reentrâncias desses nós. OBS: Enzimas proteolíticas provocam a hidrólise ao atacarem o grupo amida do polímero, resultando em 1-6-hexanodiamina e ácido adípico. Estudo in vitro indicou uma provável ação antibacteriana desses produtos de degradação do nylon, capazes de reduzir o número de colônias de Staphylococcus aureus em concentrações variadas. Porém, ensaios pré-clínicos não demonstraram os mesmos efeitos. Polipropileno: Fio monofilamentar, disponível na cor azul, biologicamente inerte mesmo na presença de infecção. É de fácil manuseio, o nó é firme, tem elasticidade adequada e grande resistência química a ácidos, álcalis e enzimas. Sua resistência à tensão permaneceu imutável em testes realizados após vários anos de implantação nos tecidos. O polipropileno apresenta grande resistência à ruptura, embora possa com facilidade ser fraturado pelo porta-agulhas, como ocorre frequentemente com os fios monofilamentares. A alta resistência, aliada à adequada elasticidade, faz dele um fio adequado para anastomoses vasculares, anastomoses de tendões e suturas da parede abdominal, devendo ser evitado em cirurgias urológicas e de vias biliares pelo potencial litogênico (formação de cálculos). PTFE: É um fio monofilamentar não absorvível, testado com bons resultados na cirurgia plástica. Em estudo comparativo com 10 outros fios de sutura, foi verificado que o PTFE provocou a menor reação tecidual, tornando-o considerado o fio de escolha para a cirurgia plástica facial, onde são críticos os resultados funcionais e estéticos. Polibutester: Monofilamentar sintético não absorvível que apresenta elasticidade, flexibilidade e resistência à tensão que o diferenciam dos outros fios da mesma categoria. Essas características o tornam potencialmente benéfico para fechamento da parede abdominal, pois diminui o risco de cicatriz hipertrófica por possuir especial elasticidade. Aço: não é tão inerte quanto os polímeros sintéticos. O metal pode degradar-se através da corrosão ou por eletrólise, resultando em lenta transferência de íons metálicos para os tecidos. Além disso, apresenta considerável risco de infecção em relação aos outros fios e por serem rígidos, podem provocar considerável irritação mecânica nos tecidos com os movimentos dos operados, gerando desconforto. O tecido assim lesado pode tornar-se susceptível à infecção. OBS: O fio de aço é de alta resistência e de difícil manuseio pela escassa flexibilidade que apresenta. É frequentemente utilizado nas suturas em massa da parede abdominal, nas esternorrafias, na cirurgia traumato-ortopédica e nas herniorrafias. OBS: O fio de aço multifilamentar tem sido usado com bons resultados em diversos tipos de sutura de diferentes órgãos. Mcdonald et al27 demonstraram que este fio assegurou uma fixação segura ao tendão, quando comparado ao Ethibond e Supramid, apresentando mínimo alongamento do multifilamento de aço inoxidável e melhor capacidade de retenção do nó, resultando em uma maior resistência à tração final em reparos de tendões. OBS: Em um procedimento cirúrgico pode ser necessária a utilização de mais de um tipo de fio cirúrgico a depender da profundidade da incisão cirúrgica. Dessa forma, em uma laporoscopia recomenda-se utilizar os fios inabsorviveis (nylon) para aponeurose, absorvíveis para o tecido subcutâneo e qualquer 1 dos dois para pele. Objetivo 2: Descrever as características ideais de um fio cirúrgico e saber fazer a escolha correta em diversas situações. - Introdução: Em geral, os fios monofilamentares são apontados como mais vantajosos, pois os multifilamentares proporcionam condições propícias para o desenvolvimento de infecção, uma vez que colônias bacterianas são formadas nos espaços entre os filamentos. OBS: Os fios absorvíveis naturais (categute) são responsáveis pela reação inflamatória mais intensa entre todos os fios de sutura, além de apresentarem um tempo de absorção muito curto e imprevisível. Vantagens dos sintéticos: desencadeiam reações inflamatórias significativamente menores que os absorvíveis naturais. b) mantêm muito da sua resistência até que o processo de absorção tenha início e se complete. c) são disponíveis com tempos de absorção curto, médio e longo, dando oportunidade para o cirurgião escolher o fio adequado para cada caso. d) a qualidade mecânica dos nós é a mesma para todos os fios absorvíveis sintéticos testados. OBS: Colas biológicas e adesivos cirúrgicos foram desenvolvidoscom o propósito de auxiliar ou mesmo suprimir a função dos fios na síntese de tecidos. Entretanto permanecem sendo materiais pouco utilizados pelo seu preço e sua indicação restrita a sínteses de determinados tecidos (como a pele, por exemplo). OBS: Na realidade o fio ideal não existe, uma vez que nenhum fio de sutura existente contempla todas estas características desejáveis, no entanto, seguindo estas premissas podemos realizar a escolha do fio que melhor se enquadra em cada situação. OBS: Estudos experimentais revelaram que os fios de sutura em feridas da parede abdominal pararam de exercer suporte mecânico entre os dias 15 e 28 do pós-operatório, e que a aponeurose readquiriu apenas 41% de sua resistência inicial 2 meses após ter sido suturada. Além disso, as complexas relações músculos-aponeuróticas da parede abdominal e os riscos de hérnias e deiscência influenciam na escolha do tipo de fio para esse procedimento. Objetivo 3: Conhecer as formas de apresentação dos fios de sutura Suturas: A sutura constitui a aproximação das bordas de tecidos lesionados ou seccionados. Tem como propósito a manutenção de uma correta contiguidade dos tecidos, visando orientar e facilitar as fases iniciais do processo de cicatrização, ao mesmo tempo que oferece uma força tensil necessária à união dos tecidos. OBS: Apenas no século XVI, Ambroise Paré (1510-1590), considerado o fundador da ortopedia, modificou o tratamento das feridas que, até então, ainda eram cauterizadas com ferro em brasa e óleo fervente, substituindo a cauterização por sutura com fios. No entanto, o uso dos fios se fazia de forma não asséptica, o que trazia uma eminente chance de infecções e complicações no sítio da ferida. OBS: As suturas podem ser classificadas quanto: 1) à permanência, em absorvíveis (temporárias) ou inabsorvíveis (permanentes); 2) à técnica, em sutura descontínua ou sutura contínua; 3) aos planos, em planos separados ou planos conjuntos; 4) à posição das bordas, em coaptante, eversante ou inversante. Além disso, vários fatores interferem para sua qualidade, destacando- se: lavagem, antissepsia, apresentação adequada das bordas, hemostasia prévia, analgesia, escolha adequada do material, remoção de tecido morto e/ou corpos estranhos e ausência de tensão. Objetivo 4: Conhecer as agulhas utilizadas para sutura - Caracteristicas gerais: as agulhas devem ter a capacidade de transfixar os tecidos causando a menor lesão possível. Portanto, para sua escolha devem-se considerar o tipo e a acessibilidade do tecido que será suturado, conferindo maior ou menor facilidade a sua transecção. Ex: intestino delgadoagulha cilíndrica/ peleagulha triangular cortante. Dividem-se em fundo (região em contato com o fio), corpo e ponta. - Classificação: Podem ser classificadas em traumáticas e atraumáticas, em relação ao fundo da agulha. As agulhas antigas que necessitavam da inserção do fio eram mais traumáticas por terem sua extremidade distal alargada e estão em desuso, já as agulhas acopladas ao fio tem um amplo uso na atualidade e causam um trauma necessário apenas para a passagem do fio. OBS: Além disso as agulhas também podem ser classificadas em cilíndricas, triangulares (cortantes) ou espatuladas. Seu corpo varia entre retangular, redondo e espatulado, fazendo uma transição entra a ponta e a inserção do fio. As agulhas cortantes facilitam a técnica, todavia tecidos mais delicados como fígado e córnea, exigem menor trauma possível, de modo a indicar utilização de agulhas rombas ou espatuladas. OBS: Quanto ao seu formato, podem ser retas ou circulares. As redondas têm curvatura relacionada à fração de um círculo (1/4, 3/8, ½, 5/8). Diferentes curvaturas facilitam determinado movimento durante sua utilização. Objetivo 5: Conhecer os tipos de suturas mecânicas - Introdução: buscando nivelar os cirurgiões durante a realização das suturas, foram desenvolvidos dispositivos automatizados ao longo do tempo que permitissem a execução das suturas sem a habilidade necessária de toda a técnica manual. A sutura mecânica é mais rápida que a manual. Isso reduz o tempo operatório, o que é bastante significativo para pacientes clinicamente graves quando submetidos a cirurgias. Outra vantagem, é o seu uso no caso de anastomoses em localizações anatômicas desfavoráveis para a sutura manual, como nos casos de anastomoses retais baixas ou esofagianas. O custo da utilização da sutura mecânica é elevado e sua indicação deve ser baseada na real vantagem de seu emprego. OBS: Humer Hultz, cirurgião húngaro, em 1908, foi o primeiro a utilizar sutura mecânica com esta finalidade. Apesar do grande sucesso na época, o dispositivo foi abandonado por suas desvantagens: peso excessivo e complexidade de uso. Com base nos estudos de Ravitch e Steichen em 1965, empresas nos EUA entraram no mercado, oferecendo grampeadores mais leves e de concepção mais moderna que ofereciam maior segurança na sutura, e que foram baseados nos modelos russos. - Princípios básicos de funcionamento dos grampeadores: A realização de suturas mecânicas envolve a tecnologia de aplicação de grampos de forma seqüencial e ordenada, visando promover a fixação segura dos tecidos e garantindo sua integridade e vascularização. A concepção de Hultz de utilizar grampos, que ao serem aplicados, assumem o formato de "B" permanece até hoje. O que foi aprimorado diz respeito ao desenho do equipamento de aplicação e ao desenvolvimento de materiais como o titânio que é inerte e bem tolerado pelos tecidos. OBS: Outro avanço é a aplicação em seqüência de duas, ou até mesmo três, fileiras de grampos intercalados garantindo o aporte sanguíneo ao tecido. A sutura mecânica isoladamente não é hemostática. A pressão exercida pelos grampeadores mais recentes é de 8g/mm2. Esta pressão é suficiente para que pequenos vasos passem por entre as linhas dos grampos permitindo a manutenção da vascularização e como conseqüência a vitalidade das bordas a serem suturadas. OBS: Existe também a questão do princípio básico sobre as suturas do tubo digestório que devem ter invertidas as bordas suturadas, motivo pelo qual, muitos cirurgiões aplicam uma "sobre-sutura" após o uso do grampeador. Estudos experimentais mostraram, entretanto, que quando não é necessário fazer a hemostasia, esta segunda sutura de inversão é dispensável. - Tipos de grampeadores: os grampeadores são de aplicações internas (órgãos internos) ou externa (pele); com ou sem lâmina cortante, lineares ou circulares. Cada um deles com calibre e tamanho diferente. Seu uso é especifico e o resultado final da sutura também é dependente do uso do aparelho adequado para cada caso. Grampeadores Simples: São aqueles em que os grampos são aplicados um a um de forma a aproximar superfícies ou fixar estruturas. Neste grupo temos os grampeadores cutâneos usados para o fechamento da pele. Estes possuem configuração completamente diferente daqueles que são usados em vísceras. Possuem forma de ++ e devem ser retirados no pós-operatório. OBS: Há também os clipes hemostáticos, que podem tanto ser de uso em cirurgia convencional como em videolaparoscopia. Temos também os grampos de fixação, como aqueles usados para fixar telas em herniorrafias realizadas por laparoscopia. Grampeadores que suturam: Seu uso está em geral relacionado situações em que há necessidade de suturas contínuas. São utilizados quando há necessidade do fechamento de um segmento ou coto. Sua aplicação é ampla na cirurgia do tubo digestório, sendo de grande utilidade em diversas cirurgias, tais como no fechamento do reto nas ressecções anteriores ou no procedimento de Hartmann. Podem ser usados também em procedimentos no tórax, como em biópsias apicais, ressecções em cunha e fechamento de brônquios. Grampeadores mistos (cortam e suturam): Este grupo de aparelhos associa a capacidade de corte à capacidadede suturar, permitindo a realização de anastomoses entre vísceras ocas. Podem ser divididos em: Lineares cortantes: servem não só para seccionar e suturar mas também para realização de anastomoses. A presença da lâmina, que corta o tecido ao mesmo tempo em que a sutura é realizada pela aposição seqüencial dos grampos, facilita a confecção de anastomoses na maioria das vezes laterolaterais. São de grande utilidade na execução de gastroenteroanastomoses e enteroenteroanastomoses. Circulares: são compostos de duas partes: uma menor removível, chamada ogiva, que é fixada em um dos segmentos a serem anastomosados e a outra maior e circular, que introduzida pelo outro segmento a ser anastomosado, encaixa-se à ogiva. Ao mesmo tempo em que sutura, uma lâmina circular interna corta o tecido a ser anastomosado. São utilizados para anastomoses entre vísceras ocas. Suas principais aplicações são nas anastomoses colorretais e esofagojejunais. São equipamentos com diâmetros variados. OBS: Um cuidado que se deve ter após o grampeamento, é a verificação da integridade dos anéis seccionados, que não devem ter rupturas, o que significa que nenhum ponto da sutura ficou sem grampos. Algumas vezes, quando as condições de sutura não são totalmente favoráveis, impõe-se uma sutura manual de segurança. OBS: As complicações mais frequentes de seu uso são: sangramento, fístula e estenose. Essas complicações estão intimamente relacionadas aos cuidados prévios no preparo das bordas dos tecidos a serem suturados, às condições intrínsecas do paciente e ao conhecimento do cirurgião no uso dos aparelhos de sutura mecânica. OBS: A fistula, complicação mais grave, quase sempre aparece do terceiro ao sétimo dia de pós- operatório, de modo semelhante às anastomoses manuais. Esta complicação pode ser minimizada ou mesmo evitada se após a confecção da sutura, o cirurgião verificar a integridade da anastomose através da integridade dos "anéis" que ficam nos grampeadores circulares, e também através de manobras em que se procura por escapamentos pela linha de sutura. A estenose é uma complicação mais tardia e está relacionada com o uso inadequado do grampeador (calibres incompatíveis), mas pode estar relacionada com reação cicatricial.
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