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HAM IV: Asma e derrame pleural. - Objetivo 1: Asma - Definição: Asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, na qual muitas células e elementos celulares têm participação. A inflamação crônica está associada à hiperresponsividade das vias aéreas, que leva a episódios recorrentes de sibilos, dispneia, opressão torácica e tosse, particularmente à noite ou no início da manhã. - Epidemiologia: A asma é uma das condições crônicas mais comuns que afeta tanto crianças quanto adultos, sendo um problema mundial de saúde e acometendo cerca de 300 milhões de indivíduos. Estima-se que, no Brasil, existem aproximadamente 20 milhões de asmáticos, se for considerada uma prevalência global de 10%. As taxas de hospitalização por asma em maiores de 20 anos diminuiram em 49% entre 2000 e 2010. Já em 2011 foram registradas pelo DATASUS 160 mil hospitalizações em todas as idades, dado que colocou a asma como a quarta causa de internações. Tal condição pode ser justificada por melhor qualidade do tratamento empregado. OBS: O risco de persistência da asma até a idade adulta aumenta com a gravidade da doença, a presença de atopia, tabagismo e gênero feminino. -Fisiopatologia: sabe-se que existem diversos fatores envolvidos na fisiopatologia da doença, como a hereditariedade – diversos genes são envolvidos na sua patogênese, embora não se tenha encontrado um que isoladamente precipite a doença – fatores ambientais e a obesidade. Entre as células inflamatórias, destacam-se os mastócitos, eosinófilos, linfócitos T, células dendríticas, macrófagos e neutrófilos. Entre as células brônquicas estruturais envolvidas na patogenia da asma, figuram as células epiteliais, as musculares lisas, as endoteliais, os fibroblastos, os miofibroblastos e os nervos. OBS: Vários mediadores inflamatórios são liberados pelos mastócitos (histamina, leucotrienos, triptase e prostaglandinas), pelos macrófagos (fator de necrose tumoral – TNF-alfa, IL-6, óxido nítrico), pelos linfócitos T (IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, fator de crescimento de colônia de granulócitos), pelos eosinófilos (proteína básica principal, ECP, EPO, mediadores lipídicos e citocinas), pelos neutrófilos (elastase) e pelas células epiteliais (endotelina-1, mediadores lipídicos, óxido nítrico). OBS: Através de seus mediadores as células causam lesões e alterações na integridade epitelial, anormalidades no controle neural autonômico (substância P, neurocinina A) e no tônus da via aérea, alterações na permeabilidade vascular, hipersecreção de muco, mudanças na função mucociliar e aumento da reatividade do músculo liso da via aérea. OBS: Esses mediadores podem ainda atingir o epitélio ciliado, causando-lhe dano e ruptura. Como conseqüência, células epiteliais e miofibroblastos, presentes abaixo do epitélio, proliferam e iniciam o depósito intersticial de colágeno na lâmina reticular da membrana basal, o que explica o aparente espessamento da membrana basal e as lesões irreversíveis que podem ocorrer em alguns pacientes com asma. Resposta inflamatória: A mucosa brônquica inflamada gera hiper-reatividade a diversos estímulos. A atopia é o fator predisponente identificável mais forte para a asma. Em mais de 90% das crianças e 60% dos adultos, a asma alérgica e tem origem iniciada pela interação de alérgenos ambientais com algumas células (fase de sensibilização mediada por células dendríticas, macrófagos) que têm como função apresentá-los ao sistema imunológico, mais especificamente os linfócitos Th2, envolve a produção de imunoglobulinas IgE. OBS: O estreitamento brônquico intermitente e reversível é causado pela contração do músculo liso brônquico, pelo edema da mucosa e pela hipersecreção mucosa. A hiper-responsividade brônquica é a resposta broncoconstritora exagerada ao estímulo que seria inócuo em pessoas normais. Outras alterações, incluindo hipertrofia e hiperplasia do músculo liso, elevação no número de células caliciformes, aumento das glândulas submucosas e alteração no depósito e degradação dos componentes da matriz extracelular, são constituintes do remodelamento que interfere na arquitetura da via aérea, levando à irreversibilidade de obstrução que se observa em alguns pacientes. OBS: Existe ainda a asma não eosinofilia, sendo a neutrofílica um dos seus subtipos. A asma neutrofílica envolve infiltrado inflamatório atípico, com recrutamento de neutrófilos, participação importante da IL-8 e que frequentemente é resistente ao tratamento com corticoides, bem como associada à asma grave. - Diagnóstico e manifestações clinicas Diagnóstico clínico: em período entre as crises, o paciente pode estar assintomático ou oligossintomático, além de ter um exame físico normal. Já na crise, são indicativos de asma: um ou mais dos sintomas dispnéia, tosse crônica, sibilância, aperto no peito ou desconforto torácico, particularmente à noite ou nas primeiras horas da manhã; sintomas episódicos; melhora espontânea ou pelo uso de medicações específicas para asma (broncodilatadores, anti- inflamatórios esteróides); três ou mais episódios de sibilância no último ano; variabilidade sazonal dos sintomas e história familiar positiva para asma ou atopia; e diagnósticos alternativos excluídos. A estimulação dos receptores intrapulmonares tem efeitos no centro respiratório central, aumentando a frequência respiratória e gerando a taquipneia. Além disso, o estreitamento da via aérea e o fluxo de ar mais rápido causam sobrecarga da bomba ventilatória, o que aumenta o trabalho respiratório e predispõe à necessidade do uso da musculatura acessória. Perguntas na anamnese: Tem ou teve episódios recorrentes de falta de ar (dispnéia)? Tem ou teve crises ou episódios recorrentes de chiado no peito (sibilância)? Tem tosse persistente, particularmente à noite ou ao acordar? Acorda por tosse ou falta de ar? Tem tosse, sibilância ou aperto no peito após atividade física? Apresenta tosse, sibilância ou aperto no peito após exposição a alérgenos como mofo, poeira domiciliar ou animais, irritantes como fumaça de cigarro ou perfumes, ou após resfriados ou alterações emocionais como riso ou choro? Usa alguma medicação quando os sintomas ocorrem, e com que frequência? Há alívio dos sintomas após o uso de medicação? Tem antecedentes familiares de doenças alérgicas ou asma? Tem ou teve sintomas de doenças alérgicas (especialmente rinite ou dermatite atópica)? OBS: alterações fisiológicas decorrentes desse quadro, a obstrução do fluxo de ar gera aumento da resistência das vias aéreas e redução da velocidade de fluxo em toda a capacidade vital. Além disso, durante a inspiração, a pressão pleural cai muito abaixo da pressão necessária para o fluxo aéreo; enquanto na fase expiratória, a pressão aumenta muito além da necessária, com o paciente forçando a saída de ar. As pressões pleurais baixas na inspiração tendem a dilatar as vias aéreas e, as pressões altas na expiração, a estreitá-las. OBS: Os testes diagnósticos disponíveis na prática clínica incluem espirometria (antes e após o uso de broncodilatador), testes de broncoprovocação e medidas seriadas de PFE. Exame físico: características comuns são a taquipneia (frequentemente entre 25ipm e 40ipm), taquicardia e pulso paradoxal (queda exagerada da PAS durante a inspiração). A magnitude do pulso se correlaciona com a gravidade da crise. À oximetria de pulso, comumente a saturação se encontra próxima dos 90%. OBS: A associação entre Asma e Rinite alérgica é grande, então é comum achar também sintomas altos, como dupla prega palpebral, fácies de respirador bucal, obstrução nasal, rinorreia. Espirometria: É o método de escolha na determinação da limitação ao fluxo de ar e estabelecimento do diagnóstico de asma. A avaliação funcional da asma, através da espirometria, tem três utilidades principais: estabelecer o diagnóstico; documentar a gravidade da obstrução ao fluxo aéreo; e monitorar o curso da doença e as modificações decorrentes do tratamento. O diagnóstico de limitação ao fluxo aéreo é estabelecido pela redução da relação VEF1/CVF, e a intensidade dessa limitação é determinada pela redução percentual do VEF1 em relação ao seu previsto. O diagnóstico de asma é confirmado não apenas pela detecção da limitação ao fluxo de ar, mas principalmente pela demonstração de significativa reversibilidade, parcial ou completa, após a inalação de um broncodilatador de curta ação. A resposta ao broncodilatador é considerada significativa e indicativa de asma quando o VEF1 aumenta, pelo menos: 200 mL e 12% de seu valor pré-broncodilatador, ou 200 mL de seu valor pré-broncodilatador e 7% do valor previsto Semiotécnica da espirometria: O exame é realizado com o paciente sentado. Ele respira normalmente usando o volume corrente e, em determinado momento, faz uma inspiração máxima forçada. Logo em seguida, faz expiração com força máxima e esforço vigoroso continuado. Essa expiração deve durar pelo menos 6 segundos. Essa manobra deve ser realizada pelo menos três vezes, de modo a conseguir três amostras de qualidade. FVC: é a capacidade vital (CV) forçada. Também conhecido como “volume expiratório forçado”, é o volume máximo de gás exalado com o esforço máximo, partindo do estado de inspiração máxima forçada. FEV6: Volume expiratório forçado em 6 segundos, podendo substituir a FVC. FEV1: é o volume máximo de ar exalado no primeiro segundo de uma expiração forçada. Seu parâmetro de normalidade é >80% do valor predito. FEV1/FVC: representa a proporção ou a porcentagem do volume que o paciente expirou no primeiro pelo volume expiratório total. Boa parte das referências utilizam VEF1/CVF < 0,7 para o diagnóstico, embora o GINA 2019 considere que adultos normais possuam relação VEF1/CVF > 0,75 a 0,8. É importante ressaltar que o VEF1, por sua boa reprodutibilidade, tem sido a medida isolada mais acurada para estabelecer a gravidade da limitação ao fluxo aéreo e a resposta imediata ao uso de broncodilatador. Uma espirometria normal não exclui o diagnóstico de asma. Pacientes com sintomas intermitentes ou asma controlada geralmente têm espirometria inteiramente normal antes do uso de broncodilatador. Em casos de dúvida em relação ao diagnóstico, a observação da variabilidade do PFE (Pico de fluxo expiratório), a repetição da espirometria durante um período sintomático ou um teste de broncoprovocação pode confirmar ou afastar a suspeita de asma. Entre os valores espirométricos mais úteis estão a CVF (litros), o volume expiratório forçado no primeiro segundo da expiração (VEF1, em litros), a relação entre o VEF1 e a CVF (porcentagem) e o fluxo expiratório forçado no meio da expiração (FEF 25-75% L/s). O volume residual impede que os alvéolos fiquem colabados, não sendo obtido pela espirometria, mas calculado pela pletismografia, caso deseja estimar seu valor. Distúrbios obstrutivos tendem a aumentar esse volume residual, diminuindo assim a capacidade vital (volume inspiratório, corrente e expiratório) e, consequentemente a renovação da ventilação pulmonar. Crianças conseguem fazer a espirometria a partir de 6 anos de idade. O diagnóstico de asma em crianças até os cinco anos de idade deve ser baseado principalmente em aspectos clínicos diante das dificuldades de se obter medidas objetivas que o confirmem. Medida do pico de fluxo expiratório: A medida é feita em equipamentos portáteis (Peek flow) que documentam o fluxo em litros por minuto. Medidas matinais e vespertinas são aferidas por uma a duas semanas, em dois momentos do dia – pela manhã e pela tarde. O menor PEF (pico de fluxo expiratório) é subtraída do maior PEF, e o resultado é divido pela média entre o maior e o menor PEF do dia. GINA 2019 traz que, nesse exame, a variação diurna no (PEF) maior do que 10% em adultos documenta a variabilidade da obstrução aérea. Teste de broncoprovocação: A hiperresponsividade pode ser medida através da inalação de substâncias broncoconstritoras (metacolina, carbacol e histamina) ou testada pelo teste de broncoprovocação por exercício. Por sua alta sensibilidade e elevado valor preditivo negativo, os testes farmacológicos são particularmente importantes para a decisão diagnóstica, especialmente nos casos com manifestações de tosse crônica ou dispneia com espirometria normal. Indicadas para pacientes com espirometria normal, porém com sinais clínicos. Não é aplicado em crianças - Classificação: O conceito de controle da asma compreende dois domínios distintos: o controle das limitações clínicas atuais, como sintomas mínimos durante o dia e ausência de sintomas à noite, necessidade reduzida de medicação de alívio dos sintomas; ausência de limitação das atividades físicas; e redução de riscos futuros, como exacerbações, perda acelerada da função pulmonar e efeitos adversos do tratamento. A asma pode ser classificada em controlada, parcialmente controlada e não controlada. OBS: A classificação em intermitente não é mais aplicada e a persistência moderada é classificada apenas em moderada. Os fatores que influenciam a resposta ao tratamento da asma incluem: diagnóstico incorreto; falta de adesão; uso de drogas que podem diminuir a resposta ao tratamento (anti-inflamatórios não esteroidais e β-bloqueadores); exposição domiciliar (por exemplo, poeira ou fumaça); exposição ocupacional; tabagismo; e outras comorbidades. - Tratamento: O tratamento da asma tem por objetivo atingir e manter o controle atual da doença e prevenir riscos futuros. Com isso a abordagem é multidisciplinar, incluindo tratamento farmacológico, educação do paciente, plano de ação por escrito, treinamento do uso do dispositivo inalatório e a revisão da técnica inalatória a cada consulta. Tratamento farmacológico: A base do tratamento medicamentoso da asma é constituída pelo uso de CI (corticoide inalatório) associado ou não a um long-acting β2 agonist (LABA, β2-agonista de longa duração), associado de acordo com cada estágio do paciente, como mostra a tabela abaixo. - Objetivo 2: Derrame pleural (parte fisiopatológico acessar o arquivo da tutoria). - Exame físico: Inspeção: verificar a existência de abaulamento do hemitórax acometido e dos seus espaços intercostais. Desvio do ictus cordis e da traqueia contralateral são observados em derrames volumosos. Assimetria do tórax pode ser verificado a partir de derrames moderados. Redução da expansibilidade e aumento da frequência de respiratória. OBS: O sinal de Lemos Torres consiste no abaulamento expiratório intercostal nas bases pulmonares na face lateral do hemitorax com derrame moderado. Palpação: redução da expansibilidade e redução ou ausência do frêmito tóraco-vocal. Percussão: macicez ou submacicez. Sinal de Signorelli. Ausculta: o murmúrio vesicular estará normal ou reduzido, presença de estertores finos na pulmonar acima do derrame. Egofonia (voz crapina) no limite superior ao derrame (o paciente pronuncia i, e o médico percebe ausculta o e). Respiração brônquica e atrito pleural (presente na fase inicial ou na fase de resolução, no derrame de grandes volumes não estará presente). Exame de imagem: é necessário para confirmar e determinar a acometimento de outras regiões e sua extensão. Radiografia: perda do seio costofrênico, perda do contorno diafragmático, hipotransparência regular, desvio do mediastino contralateral e Sinal da Parábola de Damoiseau ou do menisco. É o exame mais comumente utilizado nas incidências PA, perfil e Lawerell (utilizado para identificar e confirmar que os achados da incidência PA realmente se tratam de derrame pleural [se é livre ou loculado- formato de D], além de determinar se o liquido é ou não puncionavel. Será puncionável se for identificado liquido livre > 10mm de espessura. O paciente fica em decúbito lateral e os raios horizontais). A incidência de perfil é indicada para identificar derrame de pequenos volumes. USG: detecta pequenos volumes TC: É o método de imagem mais sensível para avaliar o derrame pleural, podendo detectar pequenos volumes. Indicações de diagnóstico diferencial, analise de outras estruturas torácica (se tem abscesso, se é loculado, homolateral ou bilateral). OBS: Edema de reexpansão é a consequência da torococentese provocada pela drenagem de grandes volumes, > do que o limite preconizado ou não cessar após o paciente iniciar a tossir. Isso ocorre porque o derrame pleural provoca atelectasia dos alvéolos do pulmão ipsilateral, com isso a reexpansão de forma súbita desse parênquima pode liberar citocinas pró- inflamatórias e levar ao quadro de síndrome do desconforto respiratório agudo a depender do grau de envolvimento do parênquima pulmonar. OBS: Quando o liquido seroso aplica-se o critério de Light e sua correção para determinar se é exsudato ou transudato. - Objetivo 3: DPOC - Definição: como doença prevenível e tratável caracterizada por uma limitação persistente do fluxo respiratório, em geral progressiva e associada a aumento da inflamação crônica das vias respiratórias e pulmão em decorrência da exposição a partículas e gases nocivos. Ela é causada principalmente pelo tabagismo. Embora a DPOC afete os pulmões, ela também apresenta consequências sistêmicas significativas. - Epidemiologia: é importante causa de morbimortalidade por doença crônica, há subnotificação dos quadros e está intimamente associada ao tabagismo. Geralmente não é diagnosticada até os quadros serem moderadamente grave. Há uma intima relação com o tabagismo, no qual a sua prevalência na população brasileira é estimada em 32% e que os dados epidemiológicos mostram que cerca de 15% dos tabagistas desenvolvem DPOC clinicamente significativa. Estima- se que se torne a 3ª causa de mortalidade global em 2030, sendo atualmente no Brasil a 4ª causa mais importante de internação. - Etiologia: O tabagismo é de longe o principal fator de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Ele é responsável por 40% a 70% dos casos de DPOC e exerce seus efeitos causando uma reação inflamatória, disfunção ciliar e lesão oxidativa. A poluição do ar e a exposição ocupacional são outras etiologias comuns. O estresse oxidativo e o desequilíbrio das proteinases e antiproteinases também são fatores importantes na patogênese da DPOC, especialmente em pacientes com deficiência de alfa 1-antitripsina, que têm enfisema panacinar, que surge geralmente em idade precoce. Outras causas consistem em exposição a gases e poeiras ocupacionais, irritantes químicos, fuma de lenha e infecções respiratórias na infância. - Fisiopatologia: cascata de inflamação desencadeada pelos agentes lesivosativação de macrófagos, linfócitos T CD8 e neutrófiloscitocinas como leucotrieno, IL-8, TNF- alfadanificar as estruturas pulmonarespadrão crônico envolvendo diferentes proteases e oxidantes. Com isso, ocorrem alterações do tecido pulmonar (fibrose, metaplasia), obstrução das vias, declínio da função pulmonar e destruição tecidual. OBS: Em contraste com a asma, os eosinófilos não desempenham nenhum papel na DPOC, exceto nas exacerbações agudas ocasionais. OBS: No enfisema (destruição do parênquima pulmonar, geralmente centrolobular), um subtipo da DPOC, o desfecho final das reações inflamatórias é a decomposição da elastina e a subsequente perda de integridade alveolar, levando a hiperinsuflação pulmonar responsável pela dispneia. Na bronquite crônica, outro fenótipo da DPOC, essas alterações inflamatórias causam disfunção ciliar e ao aumento do tamanho e do número das células caliciformes, ocasionando o excesso de secreção de muco, responsável pela tosse produtiva. Essas alterações são responsáveis pela diminuição do fluxo aéreo, hipersecreção e tosse crônica. Em ambas as condições, as alterações são progressivas e geralmente não reversíveis. OBS: A limitação do fluxo aéreo, associado à destruição do parênquima pulmonar, predispõe os pacientes de DPOC à hipóxia, sobretudo durante o esforço. A hipóxia progressiva causa o espessamento do músculo liso vascular com subsequente hipertensão pulmonar, que é um desenvolvimento tardio que resulta em um prognóstico desfavorável. - Diagnóstico Manifestações clínicas: exposição à fatores de risco, dispneia, tosse crônica e produção de expectoração são os principais achados na anamnese que sugerem DPOC. A dispneia é progressiva, persistente e piora com o esforço. A tosse pode ser intermitente e não produtiva, muitos desses sintomas são considerados ‘próprios de fumante’ ou como parte integrante de envelhecimento. Outras apresentações incluem perda de peso, hemoptise, cianose e cefaleias matinais depois de uma hipercapnia. Achados físicos: pode apresentar taquipneia, desconforto respiratório, uso de músculos acessórios e retração intercostal. Tórax em tonel (ou em barril) é uma observação comum (hiperinsuflação). Pode haver hiperressonância/timpanismo à percussão, expansibilidade reduzida e murmúrio vesicular diminuído à ausculta pulmonar. Pode haver sibilância, crepitação grossa, baqueteamento digital e cianose, bem como sinais de insuficiência cardíaca do lado direito (veias jugulares distendidas, hiperfonese da segunda bulha no foco pulmonar [P2], hepatomegalia, refluxo hepatojugular e edema no membro inferior). Ocasionalmente, os pacientes podem exibir asterixis (flapping) - perda de controle postural nos braços esticados (comumente conhecida como flap ou flapping) causada por hipercapnia. Espirometria: A espirometria é o primeiro teste para o diagnóstico da DPOC e para o monitoramento do progresso da doença. Os pacientes com DPOC têm um padrão diferente do da espirometria, com redução no VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo) e na razão de VEF1/CVF (capacidade vital forçada). A presença de limitação do fluxo aéreo é definida pelos critérios da Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) como um VEF1/CVF de pós-broncodilatador <0.70. OBS: A radiografia torácica é raramente um diagnóstico, mas pode ajudar a descartar outros diagnósticos, como neoplasias, bronquiectasias, infecções, pneumotórax, etc. A oximetria de pulso faz o rastreamento da hipóxia. A gasometria arterial deve ser realizada em pacientes severos e naqueles com saturação de O2 <90%. A dosagem de alfa-1-antitripsina é recomendada para pacientes que desenvolveram enfisema antes dos 45 anos. As tomografias computadorizadas mostram alterações anatômicas, mas sua utilidade no diagnóstico é restrita a pacientes com possibilidade de tratamento cirúrgico e para descartar outras patologias. Diagnóstico diferencial: o principal a ser realizado é com a asma, a qual possui início precoce, relação com atopia, histórico familiar e reversibilidade do padrão obstrutivo à espirometria (principalmente após uso do broncodilatador). Nas bronquiectasias há hipersecreção pulmonar e infecções de repetição, embora presente também em pacientes com DPOC. Estadiamento: Além da limitação do fluxo aéreo (espirometria), as diretrizes GOLD reconhecem a importância das exacerbações quanto à interferência na evolução natural da DPOC e enfatizam a avaliação dos sintomas, dos fatores de risco das exacerbações e das comorbidades. O questionário modificado do Medical Research Council (mMRC) ou o Teste de Avaliação da DPOC (CAT) são recomendados para avaliar os sintomas. OBS: O número de exacerbações tratadas anteriormente (2 ou mais por ano) é o melhor preditor para ter outra exacerbação. Além das exacerbações prévias, a limitação do fluxo aéreo <50% é um preditivo de exacerbações. A exacerbação é definida como um episódio agudo caracterizado por agravamento dos sintomas respiratórios do paciente e requer mudança na medicação. Os grupos de acordo com o GOLD são: Grupo A: baixo risco (0-1 exacerbação por ano, sem necessidade de hospitalização) e menos sintomas (mMRC 0-1 ou CAT <10); Grupo B: baixo risco (0-1 exacerbação por ano, sem necessidade de hospitalização) e mais sintomas (mMRC ≥2 ou CAT ≥10) Grupo C: alto risco (≥2 exacerbações por ano, ou uma ou mais exacerbações com necessidade de hospitalização) e menos sintomas (mMRC 0-1 ou CAT <10) Grupo D: Grupo D: alto risco (≥2 exacerbações por ano, ou uma ou mais exacerbações com necessidade de hospitalização) e mais sintomas (mMRC ≥2 ou CAT ≥10). OBS: A tabela abaixo apresenta essa relação, sendo que os valores de exacerbação são classificados de acordo com os critérios de GOLD para espirometria, apresentado acima. OBS: O hemograma pode ser considerado para avaliar a gravidade de uma exacerbação e pode exibir policitemia (hematócrito >55%), anemia e leucocitose. O teste ergométrico pode ser de grande valor em pacientes com um grau desproporcional de dispneia em relação à espirometria. Pode ser realizada em um cicloergômetro, esteira ergométrica ou com um simples teste de marcha cronometrada Tratamento: o tratamento inclui abordagem não medicamentosa, como cessação do tabagimos, atividade fisica e vacinação.
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