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AVALIAÇÃO DE EMPRESAS AULA 4 Prof. Emerson Muniz Freitas 2 CONVERSA INICIAL Olá! Você está preparado para discutirmos os conceitos e a operacionalização da primeira metodologia de avaliação de empresas que estudaremos? Até aqui, discorremos sobre medidas de desempenho e de valor que podem ser utilizadas para analisarmos a performance de uma organização, além dos fundamentos essenciais acerca do valuation de uma entidade. Chegou a hora, então, de mensurarmos o valor de uma entidade, fazendo uso da técnica que se caracteriza como uma das mais simples e ágeis. Desejo um excelente estudo! CONTEXTUALIZANDO Atualmente, podemos acompanhar um programa televisivo que vem fazendo relativo sucesso, no qual empreendedores apresentam as ideias fundamentais de seus negócios com o intuito de angariar recursos. Os valores investidos são pertencentes a empresários com reconhecido êxito no contexto empresarial; eles formam uma banca, e cada um deles tem total liberdade para escolher aqueles empreendimentos em que irão investir, ou não. Em troca do investimento realizado, os componentes dessa banca adquirem um percentual acordado de participação societária no negócio apresentado. Processualmente falando, o programa apresenta a seguinte sequência: i) os empreendedores apresentam suas ideias à banca; ii) revelam o montante de recursos que desejam captar com os investidores; iii) estabelecem o percentual de participação societária que estão dispostos a conceder aos investidores; iv) cada membro da banca faz suas considerações sobre o empreendimento; e v) inicia-se, assim, uma negociação entre os investidores que possuem a intenção de destinar recursos ao empreendimento. Por muitas vezes, durante as considerações ou a negociação, um investidor direciona aos empreendedores a seguinte pergunta: Como você chegou a esse valuation? Na essência, o interesse do membro da banca de investidores é saber quais são os fundamentos que, na visão do empreendedor, suportam aquele valor apresentado. Por exemplo, digamos que um participante apresente sua ideia e revele que deseja captar o valor de R$ 200.000,00, destinando, ao investidor que se interessar, 10% de participação societária na empresa. Fazendo uma regra de três simples com essas condições apresentadas pelo empreendedor, 100% das 3 ações da empresa estariam valorizadas em R$ 2.000.000,00. Em virtude do diminuto tempo compreendido entre a apresentação da ideia e a decisão de investimento, os membros da banca precisam do conhecimento de técnicas que permitam avaliar se o valor apresentado corresponde ao valor justo do empreendimento. Os investidores fazem uso, portanto, de conceitos atinentes à avaliação relativa, também conhecida por “avaliação por múltiplos”. No programa, os investidores não possuem o tempo necessário para realizar uma análise mais consistente, como discutiremos aqui. Contudo, encontram na técnica a agilidade que precisam, e conseguem chegar a uma estimativa de valor que entendem como razoável, que suporta a sua decisão de investimento. Assim, nesta aula, estudaremos inicialmente os fundamentos da avaliação relativa, apresentando seu conceito e os passos que devem ser seguidos para a sua operacionalização. Na avaliação por múltiplos, alguns aspectos precisam ser observados, e discutiremos três específicos em nossa aula: seleção de empresas comparáveis; consistência e uniformidade dos múltiplos empregados; características de distribuição dos indicadores. Além disso, outro cuidado necessário no uso de avaliação relativa é o conhecimento dos fundamentos determinantes dos múltiplos, que estudaremos na última parte de nossa aula, com a apresentação dos principais múltiplos utilizados. TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA AVALIAÇÃO RELATIVA A Avaliação Relativa e o Método do Fluxo de Caixa Descontado (FCD) consistem nas técnicas mais utilizadas para a avaliação de empresas. Enquanto pelo Método FCD busca-se analisar o valor de uma entidade com base em sua geração de caixa, crescimento e risco, na Avaliação Relativa o objetivo é mensurar uma empresa com base na precificação de outras organizações similares (Damodaran, 2007). Para que isso seja possível, utilizamos métricas padronizadas dessas entidades tidas como comparáveis àquela entidade objeto de avaliação, para, assim, chegarmos ao seu valor. Na literatura financeira, é muito comum encontrarmos o conceito de Avaliação Relativa apresentado de forma análoga ao processo de precificação de um imóvel residencial, como, por exemplo, em Titman e Martin (2010) e Damodaran (2017). O emprego dessa analogia reside em sua maior proximidade com o cotidiano do leitor, levando-nos a utilizá-la também aqui em nossa disciplina. No momento em que vamos avaliar o preço de um imóvel de nosso 4 interesse, tendemos a obter informações acerca de outras residências próximas e similares para que possamos ter a ideia sobre os valores praticados na região. Contudo, não realizamos essa análise considerando o preço total de cada imóvel. Residências menores apresentarão um valor menor que aquelas com uma área maior. Isso posto, utilizamos uma forma de avaliar esse valor sob uma perspectiva capaz de permitir nossa avaliação, independentemente do tamanho do imóvel. Assim, na maioria das vezes, realizamos a divisão do valor total observado para cada residência analisada por sua respectiva área, chegando ao preço por m2. A partir de então, diante dessa métrica de avaliação padronizada entre todos os imóveis, podemos compará-los e avaliar outras características que podem justificar um preço diferenciado, como idade do imóvel, padrão de qualidade, entre outras. Ao avaliar o valor de uma entidade utilizando o método de Avaliação Relativa, fazemos algo semelhante. Diante da necessidade de realizar o valuation de uma organização, buscamos empresas que se mostrem similares àquela que estamos interessados em valorar. Em seguida, escolhemos uma métrica com a qual seja possível realizar as comparações e, assim, estimar o valor da entidade objeto de análise. No processo de valuation pelo método de Avaliação Relativa, empregamos basicamente quatro etapas (Titman & Martin, 2010, p. 244-245): 1ª etapa: identificamos entidades similares e os preços de mercado para cada uma delas. 2ª etapa: calculamos um múltiplo (métrica) de avaliação para uso no valuation da empresa. 3ª etapa: realizamos uma estimativa do valor inicial da empresa. 4ª etapa: ajustamos ou adaptamos essa estimativa inicial às características e particularidades da empresa avaliada. Para exemplificar a utilização desse método, consideremos que fomos demandados a estimar o valor de um restaurante localizado na região central de nossa cidade. Primeiramente, identificamos que, no último ano, três outros restaurantes (Alfa, Beta e Gama) foram negociados na mesma região, e que as informações relativas a essas vendas estavam disponíveis (aplicação da 1ª etapa). Para possibilitar a comparação das empresas envolvidas na análise, resolvemos relativizar os valores das entidades comparáveis às suas respectivas receitas operacionais líquidas (ROL). Assim, para chegar ao múltiplo que utilizaremos na avaliação, dividimos o preço de venda de cada um dos 5 restaurantes negociados no último ano por sua respectiva ROL dos 12 meses imediatamente anteriores à transação de venda (aplicação da 2ª etapa). O resultado desse procedimento está apresentado na Tabela 1 (optamos por não considerar as casas decimais no cálculo do múltiplo). Tabela1 – Determinação do múltiplo de avaliação Restaurante Preço de venda (R$) ROL – 12 meses acumulados (R$) Múltiplo de avaliação Alfa 500.000,00 85.000,00 6 Beta 950.000,00 325.000,00 3 Gama 1.050.000,00 160.000,00 7 Média 5 Com base nos múltiplos calculados, obtivemos um indicador médio de avaliação correspondente a cinco. Isso equivale a dizer que os restaurantes da região central da cidade são negociados, em média, por cinco vezes o valor de suas receitas anuais. O restaurante que estamos avaliando apresentou uma ROL nos últimos 12 meses que totalizou R$ 125.000,00. Assim, aplicando o múltiplo médio a esse faturamento líquido, conseguimos realizar uma estimativa inicial do valor da empresa avaliada (aplicação da 3ª etapa). Chegamos a uma estimativa inicial, portanto, de R$ 625.000,00 (R$ 125.000,00 x 5). Após esse valor inicial estimado, podemos concluir a necessidade de realizar alguma adequação diante das particularidades da empresa avaliada ou proveniente de uma das comparáveis. Em nosso exemplo, temos que dois dos restaurantes comparáveis, assim como o objeto de avaliação, estão abertos ao público somente no horário do almoço. Entretanto, uma das entidades comparáveis, especificamente o Restaurante Beta, opera também à noite, servindo refeições no jantar. Assim, o valor do seu múltiplo está sofrendo o efeito dessa particularidade, sendo necessários ajustes em nossa avaliação. Estima-se que 60% do faturamento líquido do Restaurante Beta seja obtido no almoço, totalizando uma ROL ajustada, portanto, de R$ 195.000,00 (R$ 325.000,00 x 60%). A Tabela 2 apresenta a determinação do múltiplo médio com a adequação da ROL do Restaurante Beta. 6 Tabela 1 – Determinação do múltiplo de avaliação após adequações Restaurante Preço de venda (R$) ROL – 12 meses acumulados (R$) Múltiplo de avaliação Alfa 500.000,00 85.000,00 6 Beta 950.000,00 195.000,00 5 Gama 1.050.000,00 160.000,00 7 Média 6 Temos, agora, um múltiplo médio de 6, considerando a adequação do cálculo em virtude da diferenciação da composição da ROL do Restaurante Beta diante das demais entidades. Além disso, as instalações do empreendimento avaliado passaram recentemente por reformas, diferentemente das empresas comparáveis. Foi gasto nessas obras de melhoria um total de R$ 40.000,00, e estima-se que seja possível recuperar metade dessa importância investida em uma eventual venda do restaurante. Assim, ao atualizarmos o valor da empresa avaliada, temos de considerar esse montante proveniente da recuperação dos gastos com a reforma e também o múltiplo adequado, constante na Tabela 2. O valor estimado do restaurante avaliado é, portanto, de R$ 770.000,00 (R$ 125.000,00 x 6 + R$ 20.000,00). No exemplo apresentado, podemos ver a simplicidade do valuation utilizando a Avaliação Relativa, e isso se caracteriza como um importante fator para sua grande utilização. No decorrer desta aula, discutiremos algumas peculiaridades de sua operacionalização e das métricas mais empregadas pelos analistas, as quais devemos observar para ter maior segurança na estimativa realizada. TEMA 2 – SELEÇÃO DE EMPRESAS COMPARÁVEIS 2.1 Cuidados essenciais no uso da Avaliação Relativa A simplicidade se mostra como uma das grandes características da Avaliação Relativa e contribui, assim, para a sua ampla utilização. Entretanto, Damodaran (2007) destaca que são necessários prudência e cuidado em seu uso, para que o resultado da avaliação não seja enviesado em demasia. Assim, o autor elenca quatro aspectos que devem ser observados no emprego da avaliação por múltiplos, descrevendo-os da seguinte forma: O primeiro passo é assegurar que o múltiplo esteja definido de forma consistente e seja mensurado com uniformidade entre as empresas objeto de comparação. O segundo passo é ter consciência da 7 distribuição cross-sectional do múltiplo não só entre empresas do segmento em análise, mas também de todo o mercado. O terceiro passo é analisar o múltiplo e compreender não só quais fundamentos determinam esse múltiplo, mas também como modificações nesses fundamentos impactam alterações no múltiplo. O último passo é identificar as empresas certas para comparação e controlar as diferenças que possam persistir entre elas. (Damodaran, 2007, p. 166) O primeiro aspecto trata da definição conceitual do múltiplo utilizado, concentrando-se na importância de estabelecer previamente a definição operacional da métrica a ser empregada e também o recorte temporal de sua mensuração. Já o segundo aspecto listado por Damodaran (2007) consiste na avaliação da estatística descritiva dos múltiplos, suas medidas de centralidade e dispersão e, ainda, como essa distribuição influencia na utilização da Avaliação Relativa. Trataremos desses dois aspectos específicos nos temas 3 e 4 desta aula. O terceiro aspecto, por sua vez, destaca o fato de conhecermos as variáveis que determinam o múltiplo utilizado e qual será o efeito quando variações forem observadas nestas variáveis. Como o Tema 5 desta aula se concentrará na apresentação dos principais múltiplos utilizados, nele trataremos também desse aspecto listado por Damodaran (2007). O quarto dos aspectos listados pelo autor reside nos cuidados que devemos ter ao escolher as empresas utilizadas na comparação dos múltiplos. Discutiremos esse fator no presente tema desta aula, e a abordagem desse aspecto será realizada nas próximas páginas. Optou-se por realizar a discussão em ordem distinta da apresentada por Damodaran (2007), em virtude do momento da Avaliação Relativa, no qual teremos de tomar decisões atinentes a cada um desses aspectos, buscando uma sequência didática em consonância com sua aplicação. 2.2 Seleção de empresas comparáveis Apesar da simplicidade e da agilidade que a avaliação relativa nos proporciona, um grande desafio com o qual nos deparamos quando vamos utilizá- la concentra-se na determinação de empresas comparáveis (Damodaran, 2007). As entidades escolhidas para nos possibilitar o uso dessa metodologia demonstram semelhanças com a companhia avaliada de forma limitada, nunca sendo caracterizadas como idênticas (Manterlanc, Pasin & Pereira, 2010). De acordo com Titman e Martin (2010), duas empresas podem se mostrar comparáveis inicialmente, mas podem ter diferentes determinantes para a sua geração de fluxos de caixa. Manterlanc, Pasin e Pereira (2010) destacam a alta 8 complexidade que encontramos no ambiente empresarial, havendo diferentes características determinantes para seu desempenho, fazendo com que esses aspectos particulares de cada entidade impactem na avaliação realizada. Habitualmente, utilizamos como empresas comparáveis aquelas pertencentes ao mesmo setor de atuação da entidade avaliada. Contudo, isso não consiste em uma premissa básica da Avaliação Relativa, sendo possível a utilização de entidades de outros setores. Para Damodaran (2017, p. 67), “empresas comparáveis são aquelas com capacidades de geração de caixa, potencial de crescimento e riscos semelhantes. Em nenhum lugar dessa definição existe um componente que se relacione com a indústria ou o setor de atuação das empresas”. Vemos, portanto, que a escolha de entidades comparáveis deve se basear em seus riscos, perspectivas de crescimento e fluxos de caixa. O grande uso de entidades do mesmo setor como comparáveis demonstra a espera de que esses três elementos listados tenham maior similaridade em empresas cujas atividades se assemelhem (Damodaran, 2007). Além disso, podemos direcionar a nossa seleção considerando outros elementos semelhantes.Por exemplo, na lista de empresas do mesmo setor de atuação da entidade avaliada, podemos limitar somente à nossa seleção aquelas organizações que possuam o mesmo porte. Para determinar o porte, podemos utilizar indicadores contábeis (total de ativos ou faturamento líquido), não contábeis (número de colaboradores, por exemplo) ou, ainda, restringir nossa seleção àquelas que se assemelham em rentabilidade, com base nas medidas que discutimos em nossa primeira aula desta disciplina. Na determinação do múltiplo empregado na avaliação da empresa objeto, Damodaran (2007, p. 10) lista três formas a utilizar, as quais nos ajudam, inclusive, no controle das diferenças das organizações selecionadas: comparação direta; média do grupo de pares; média do grupo de pares ajustada para as diferenças. Na comparação direta, “os analistas tentam encontrar uma ou duas empresas quase idênticas à empresa objeto de avaliação, e estiman o valor com base na similaridade com que essas empresas são precificadas” (Damodaran, 2007, p. 10). Portanto, nessa modalidade, utilizamos um pequeno número de entidades comparáveis e realizamos o valuation da companhia avaliada mediante a aplicação de determinado múltiplo mensurado por meio dos valores apresentados pelas empresas selecionadas. Utilizamos essa forma de avaliação 9 principalmente quando temos grandes conhecimentos acerca das entidades envolvidas e segurança sobre suas semelhanças. Para ilustrar a comparação direta, vamos imaginar que estamos realizando a avaliação de uma indústria de tecelagem. Para selecionar a empresa comparável, pesquisamos as companhias de capital aberto do mesmo setor de atuação que a entidade avaliada. Assim, acessamos o endereço eletrônico da B3 (antiga BM&FBovespa) e buscamos todas as entidades inseridas no setor Consumo cíclico, no subsetor Tecidos, vestuário e calçados, segmento Fios e tecidos. A Figura 1 apresenta a visualização de busca por setores no endereço eletrônico da B3. Figura 1 – Busca de empresas no site da B3 por setor de atuação. Fonte: B3, 2017. O resultado da pesquisa retornou 11 empresas nesse segmento de atuação; em seguida, coletamos o múltiplo EV/EBITDA das entidades (coleta de dados realizada na base de dados Economática®) correspondente ao acumulado dos últimos 12 meses anteriores a 31 de dezembro de 2016. Ainda nesta aula, discutiremos os conceitos e a forma de cálculo do citado múltiplo, contudo, neste momento, ele é apresentado apenas a título de exemplificação. A Tabela 3 proporciona os dados das entidades listadas no segmento no qual se enquadra a empresa objeto de avaliação, com exceção da Cia. Industrial Cataguases e Têxtil Renauxview S.A., cujas informações não estavam disponíveis. Tabela 3 – Múltiplo EV/EBITDA das companhias do segmento de fios e tecidos Nome de pregão Razão social EV/EBITDA (em 31.12.2016) 10 Cedro Cia. Fiação Tecidos Cedro Cachoeira -4,5 Coteminas Cia. Tecidos Norte De Minas – Coteminas 12,8 Dohler Dohler S. A. 12,3 Encorpar Empresa Nac. Com. Redito Part. S. A. – Encorpar -1,3 Karsten Karsten S. A. 58,1 Pettenati Pettenati S. A. Indústria Têxtil 3,2 Santanense Cia. Tecidos Santanense 12,3 Springs Springs Global Participacões S. A. 4,6 Teka Teka – Tecelagem Kuehnrich S. A. 24,7 Vamos supor que, analisando cada uma das empresas constantes no segmento da entidade avaliada, concluímos que aquela que mais apresenta semelhanças é a Dohler S. A. Assim, utilizamos o seu múltiplo EV/EBITDA (12,3 em 31 de dezembro de 2016) para estimar o valor da empresa objeto. Vamos considerar agora que o EBITDA da entidade avaliada no exercício de 2016 tenha totalizado R$ 55 milhões. Qual seria, portanto, a estimativa inicial de valor? Para responder, basta multiplicar o EBITDA anual pelo múltiplo da empresa comparável. Chegamos, assim, a um valor de R$ 676,5 milhões (R$ 55.000.000,00 x 12,3). Já na abordagem de média do grupo dos pares utilizamos o múltiplo médio de uma série de empresas comparáveis. Para Damodaran (2007, p. 10), “essa abordagem traz implícita a premissa de que, embora as empresas possam variar muito em um setor, a média para o setor é representativa de uma empresa típica”. Dessa forma, busca-se não comparar a empresa objeto com um número limitado de empresas, mas com todas aquelas que se caracterizem como comparáveis, por intermédio de uma medida central. No exemplo apresentado – da companhia de tecelagem –, é possível verificar uma grande variabilidade nos múltiplos apresentados, tendo como mínimo o da Cedro, que totalizou um EV/EBITDA negativo de 4,5 e, como máximo, o da Karsten, cuja métrica foi de 58,1. Quando discutirmos a consistência em avaliações relativas, retornaremos a esses valores para analisar números negativos ou muito distantes das demais empresas componentes do setor. Por enquanto, consideraremos todos os valores no cálculo do múltiplo médio. Para calcular a média do múltiplo das empresas, habitualmente utilizamos a média aritmética, obtida mediante a soma de todos os valores dividida pelo número de empresas. Na literatura, entretanto, não encontramos nada que desqualifique a utilização da média ponderada, ou de outro tipo. Essa escolha será realizada pelo profissional responsável pela avaliação com base nas razões que o levaram a concluir que o resultado se apresentará mais razoável do que no uso da média aritmética. 11 Voltando ao exemplo da companhia de tecelagem, temos o múltiplo médio das empresas desse setor totalizando 13,6, calculado da seguinte forma: 𝐸𝑉/𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴𝑀é𝑑𝑖𝑎 = (−4,5 + 12,8 + 12,3 − 1,3 + 58,1 + 3,2 + 12,3 + 4,6 + 24,7) 9 𝐸𝑉/𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴𝑀é𝑑𝑖𝑎 = 122,2 9 𝐸𝑉/𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴𝑀é𝑑𝑖𝑎 = 13,6 Estimando o valor da empresa objeto com base nesse múltiplo, considerando ainda o EBITDA de R$ 55 milhões, chegamos à importância de R$ 748 milhões. Esse valor foi obtido mediante a multiplicação do EBITDA da entidade avaliada e a média do múltiplo das empresas comparáveis (R$ 55.000.000,00 x 13,6). Finalmente, na abordagem da média do grupo dos pares ajustada para as diferenças, tentamos controlar as distinções de cada uma das empresas envolvidas na avaliação para que possamos minimizar a influência de suas particularidades no valor estimado. Para isso, habitualmente padronizamos o múltiplo das empresas por uma variável que expresse suas perspectivas de crescimento, riscos ou perfil de geração de caixa, ou empregamos técnicas estatísticas – principalmente a análise de regressão múltipla – para estimar o valor da entidade. Abordaremos aqui a padronização dos múltiplos, realizada por intermédio da sua divisão pela variável representativa da diferença entre as entidades. Voltando ao caso da avaliação da empresa de tecelagem, vamos padronizar os respectivos múltiplos pelas taxas de crescimento esperadas. Na Tabela 4 estão apresentadas as taxas de crescimento de cada uma das empresas, definidas de forma arbitrária, não se caracterizando, portanto, como perspectivas de crescimento reais. Além disso, apresentamos o múltiplo padronizado obtido pela divisão de cada um dos múltiplos EV/EBITDA pelas respectivas taxas de crescimento. Tabela 4 – Múltiplos padronizados Nome de pregão EV/EBITDA (em 31.12.2016) Taxa de crescimento Múltiplo padronizado Cedro -4,5 5 -0,9 Coteminas 12,8 9 1,4 Dohler 12,3 13 0,9 Encorpar -1,3 3 -0,4 12 Karsten 58,1 8 7,3 Pettenati 3,2 15 0,2 Santanense 12,3 8 1,5 Springs 4,6 7 0,7 Teka 24,7 10 2,5 Após a padronização dos múltiplos, calculamos a sua média damesma forma que apresentamos anteriormente. No caso do múltiplo padronizado pelas respectivas taxas de crescimento, temos uma média de 1,5. Para utilizar esse múltiplo na estimativa de valor da empresa objeto de avaliação, temos de transformá-lo por meio da aplicação da sua taxa de crescimento. Se na padronização realizamos a divisão do múltiplo pela variável utilizada para controlar a diferença, temos agora de realizar a operação inversa para transformá- lo, ou seja, a multiplicação. Imaginando que a perspectiva de crescimento da empresa avaliada é de 11%, temos um múltiplo que totaliza 16,5 (1,5 x 11) para usar na estimativa. Estimando o valor da entidade avaliada, chegamos ao montante de R$ 907,5 milhões (R$ 55.000.000,00 x 16,5). Com o exemplo apresentado, é possível notar a importância da escolha de empresas comparáveis na operacionalização da Avaliação Relativa. Aplicando as três abordagens de utilização do múltiplo na estimativa de valor, obtivemos um resultado que variou entre R$ 676,5 milhões e R$ 907,5 milhões, mostrando a sensibilidade presente na Avaliação Relativa mediante nossas escolhas. TEMA 3 – DEFINIÇÃO DOS MÚLTIPLOS: CONSISTÊNCIA E UNIFORMIDADE Na definição dos múltiplos a utilizar, precisamos ter cuidado com os aspectos conceituais que os cercam para verificar se o mesmo conceito está sendo aplicado de forma consistente e uniforme – tanto na empresa avaliada como nas entidades comparáveis. Primeiramente, é necessário compreender que a Avaliação Relativa também nos direciona a duas perspectivas diferentes de mensuração, assim como observamos quando estudamos as medidas de desempenho e de valor de uma entidade. É possível ter a perspectiva do acionista, concentrando-se somente no capital próprio, e também aquela focada em todo o capital investido, considerando não somente os recursos dos detentores de capital, mas também dos credores de passivos onerosos (capital de terceiros). Diante da perspectiva do acionista, temos a avaliação somente do valor do patrimônio líquido, ou seja, o valor das ações da companhia levando em conta a expectativa futura do seu desempenho. Já o valor da empresa é obtido ao considerar todo o capital empregado, sendo 13 representativo da expectativa de geração futura de caixa com o uso dos ativos da companhia. Além disso, na literatura financeira, encontramos uma variação do valor da empresa, que é o valor do empreendimento ou dos ativos operacionais (também denominado pela expressão enterprise value). O valor do empreendimento considera tanto o valor do patrimônio líquido quanto os passivos onerosos, diferenciando-se por ser mensurado com a subtração das disponibilidades (caixa e equivalentes de caixa) da entidade. Essa desconsideração do disponível da empresa reside no fato de que ele não se caracteriza como ativos que contribuem diretamente na geração de resultados operacionais, e sim proporcionando retorno financeiro. Com isso, os recursos concentrados no grupo contábil de disponibilidades reúnem ativos com riscos diferentes daqueles observados na operação da entidade. Podemos, portanto, utilizar as seguintes notações para resumir os valores avaliados: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 × 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑎çõ𝑒𝑠 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝐸𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 + 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑜𝑛𝑒𝑟𝑜𝑠𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝐸𝑚𝑝𝑟𝑒𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝐸𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 − 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 O entendimento dos diferentes tipos de valor é importante também quando falamos dos demais métodos de avaliação, como, por exemplo, a Metodologia do Fluxo de Caixa Descontado. Contudo, por intermédio dessa distinção, na Avaliação Relativa, é que podemos avaliar a consistência de um múltiplo. Como destaca Damodaran (2007, p. 167), Cada múltiplo possui um numerador e um denominador. [...] Um dos principais testes a realizar com um múltiplo é examinar se numerador e denominador estão definidos de forma consistente. Se o numerador para um múltiplo for um valor do patrimônio líquido, o denominador deve ser um valor de patrimônio líquido também. Se o numerador for um valor de empresa, o denominador deve ser igualmente um valor de empresa. Assim, a consistência reside no fato de utilizarmos todos os elementos da formação do múltiplo (numerador e denominador) de uma mesma natureza. Por exemplo, um dos múltiplos que estudaremos adiante é o P/L, que tem em seu numerador o preço de mercado da ação da companhia e, no denominador, o lucro por ação. Temos no numerador a cotação da ação, que se caracteriza como a menor fração do capital de uma entidade, concentrando-se, portanto, em seu patrimônio líquido. No denominador, por sua vez, temos a mensuração por 14 intermédio do lucro que, como estudamos em aulas anteriores, é o resultado residual disponível ao acionista apurado após a remuneração de todos os demais agentes, inclusive os outros financiadores de capital (terceiros). Sendo assim, o denominador também se concentra no patrimônio líquido da entidade. Outro múltiplo que estudaremos e que, inclusive, utilizamos em exemplos anteriores nesta aula é o EV/EBITDA, mensurado por intermédio da divisão do valor do empreendimento – Enterprise Value (EV) – e o seu resultado operacional. O valor do empreendimento mostra-se como uma variação do valor da empresa, ao passo que o EBITDA é apurado desconsiderando o resultado financeiro, no qual expressa a remuneração de terceiros pelo financiamento de capital da entidade. Portanto, temos nesse múltiplo ambos os elementos (numerador e denominador) enfatizando o valor da empresa. Ao abordar esse aspecto da Avaliação Relativa, Costa, Costa e Alvim (2007, p. 246), o denominam de “consistência grandeza-tempo”. Essa preocupação em ter numerador e denominador focados em uma mesma natureza de valor caracteriza-se, segundo os autores, como a “consistência nas grandezas”. A consistência temporal, por sua vez, reside no período utilizado para a formação do múltiplo. Nesse aspecto, podemos ter um índice corrente, retrospectivo ou prospectivo (Damodaran, 2017, p. 58). Assim, mensuramos o múltiplo com o desempenho obtido pela empresa no último exercício social (índice corrente) e o acumulado de períodos passados (índice retrospectivo), ou com a expectativa de resultados futuros da companhia (índice prospectivo). Dessa forma, na mensuração do múltiplo, todos os valores empregados para formá-lo (numerador e denominador) deverão considerar o mesmo período de apuração. Além de nos preocuparmos com a consistência da natureza e do período de mensuração dos múltiplos utilizados na Avaliação Relativa, precisamos garantir que esses índices se mostrem uniformes entre as entidades envolvidas na avaliação. Por exemplo, se utilizaremos o resultado operacional do último exercício social da companhia objeto da avaliação, temos de nos assegurar de fazer uso do mesmo período para a mensuração dos múltiplos das empresas comparáveis. É necessário verificar também a data de encerramento do exercício social de cada entidade. Grande parte das entidades utiliza o dia 31 de dezembro de cada ano como sua data de fechamento, mas podemos identificar empresas cuja data difere. Dependendo das características das entidades envolvidas na avaliação, uma diferença de período de encerramento pode apresentar efeito no resultado da avaliação (Damodaran, 2007). 15 TEMA 4 – CARACTERÍSTICAS DE DISTRIBUIÇÃO DOS MÚLTIPLOS De acordo com Damodaran (2017), ao iniciarmos o valuation de uma entidade por meio da Avaliação Relativa, nem sempre temos consciênciade como classificar os múltiplos como altos ou baixos. Assim, o autor recomenda que sejam calculadas as estatísticas descritivas (medidas centrais e de dispersão) do indicador escolhido para que possamos obter maior familiaridade com os dados. Mostra-se importante realizar essa exploração inicial dos múltiplos não somente com as informações das empresas selecionadas como comparáveis, mas também considerando como essas empresas estão em relação às demais entidades do setor, e igualmente em comparação com o mercado, englobando todos os setores. Dependendo da finalidade para a qual o valuation foi demandado, o ramo de atuação das entidades pode não se apresentar como fator decisivo na avaliação, estando todas as entidades, de diferentes setores, competindo pelos valores disponíveis por investidores no mercado (Damodaran, 2007). Por exemplo: se o objetivo da avaliação é suportar a decisão de aplicação de recursos no mercado de capitais, o fato de adquirir ações de uma entidade do setor de tecnologia ou de energia pode ser indiferente para o investidor. Com a análise das estatísticas descritivas dos múltiplos envolvidos na análise, podemos chegar à conclusão de que adotar a média para realizar a comparação entre as empresas selecionadas nem sempre é o mais adequado (Damodaran, 2017). Para ilustrar esse fato, a Figura 2 apresenta a distribuição do múltiplo EV/EBITDA para uma amostra de 205 empresas brasileiras de capital aberto. Essa análise foi realizada com base no estudo de Damodaran (2007, p. 168), com empresas norte-americanas. Figura 2 – Distribuição do múltiplo EV/EBITDA (em 31.12.2016) 16 Para a análise da distribuição, foram obtidos os múltiplos EV/EBITDA das entidades de capital aberto na base de dados Economática®. Em seguida, foram excluídas aquelas entidades que apresentavam um múltiplo negativo em virtude de terem apurado prejuízo operacional no período analisado. Esse filtro resultou em 205 empresas, utilizadas para a elaboração do gráfico. Nas colunas do gráfico, apresenta-se o número de empresas que apurou o múltiplo em cada classe utilizada, com início na classe 0 Ͱ 2, que engloba as empresas que apresentaram um múltiplo maior ou igual a zero e menor do que 2. Na classe 2 Ͱ 4 estão as entidades cujo indicador superou 2, inclusive, e foram inferior a 4. O mesmo racional é aplicável às demais classes, exceto à última, 40 Ͱ ∞, em que temos todas as empresas com um múltiplo EV/EBITDA superior a 40. Já a linha verde do gráfico representa a distribuição normal das empresas nas referidas classes (linha denominada em estatística como “Curva de Gauss”). Observando o gráfico é possível notar que o maior número de empresas apurou o múltiplo EV/EBITDA entre 4 e 10, mais concentradas em três classes distintas. Analisando a linha de distribuição, é admissível concluir que as classes mais baixas apresentam grande parte das empresas, enquanto a frequência de entidades vai diminuindo conforme se avança nas classes. Assim, temos que a distribuição de empresas analisadas se caracteriza como positivamente assimétrica, pois o maior volume de empresas está concentrado nas classes iniciais. Caso tivéssemos uma curva simétrica, as estatísticas centrais (média e mediana) se mostrariam próximas. Contudo, em uma distribuição assimétrica existe um distanciamento entre esses valores; quando a assimetria é positiva (como na Figura 2), ao calcularmos a média, temos valores superiores à mediana. 17 Isso porque a mensuração da média é influenciada pelos valores que estão nas classes superiores, enquanto a mediana, por representar o ponto em que se divide a amostra em dois grupos de igual tamanho, reflete melhor a centralidade das entidades estudadas. Na Tabela 5, temos as estatísticas descritivas do múltiplo EV/EBITDA das empresas utilizadas para construir a Figura 2. Além disso, observamos também os mesmos parâmetros, considerando somente as entidades do segmento de fios e tecidos, utilizado em exemplo anterior. Ressalta-se que, para a mensuração das estatísticas descritivas apresentadas na Tabela 5, foram desconsideradas as empresas do segmento analisado que apresentaram indicador menor que zero, consistindo esta análise, desse modo, com a condição aplicada na delimitação das empresas que representam todos os setores. Isso fez com que o número de observações fosse reduzido para sete, ao passo que, anteriormente, construímos nosso exemplo considerando nove empresas do segmento de fios e tecidos. Tabela 5 – Estatísticas descritivas do múltiplo EV/EBITDA em 31.12.2017 Estatísticas descritivas Amostra geral Segmento fios e tecidos Média 10,9 18,3 Mediana 7,9 12,3 Desvio-padrão 10,3 18,9 Mínimo 0,1 3,2 Máximo 73,4 58,1 Nº de observações 205 7 Na Tabela 5 é possível verificarmos que, tanto na amostra geral como nas empresas do segmento de fios e tecidos, a média dos múltiplos EV/EBITDA se mostrou superior à sua mediana. Além disso, destaca-se a grande dispersão existente no múltiplo, evidenciada pelo seu alto desvio-padrão e pelo elevado intervalo compreendido entre os valores mínimos e máximos do indicador. Essa acentuada dispersão exerce influência no cálculo da média, o que se mostra amenizado no caso da mediana. Por isso, em muitos casos de Avaliação Relativa, o uso da mediana se mostra mais aplicável do que o valor médio, algo a ser analisado e ponderado pelo profissional que realizar a avaliação. Talvez você esteja se perguntando o motivo pelo qual as empresas que apresentaram um indicador negativo foram excluídas da análise descritiva que realizamos até aqui. Esse é um ponto que também requer uma decisão nossa, no momento em que estivermos realizando a avaliação, não havendo na literatura um consenso sobre o tratamento desses casos. Se estivermos utilizando mais de 18 uma empresa comparável, a exclusão de entidades que apresentaram múltiplos menor que zero resultará valores médios superiores, o que pode não representar adequadamente as empresas envolvidas na análise (Damodaran, 2007). Essa diferença na média pode ser observada no exemplo que utilizamos do segmento de fios e tecidos. Enquanto a média mensurada com os dados apresentados na Tabela 3 foi de 13,6 (incluídas duas entidades com múltiplo EV/EBITDA), a média passou para 18,3, conforme demonstrado na Tabela 5, após a exclusão dessas empresas. Caso utilizemos somente uma ou poucas empresas comparáveis, nossos resultados podem não apresentar sentido econômico. Vamos imaginar que estamos utilizando somente uma entidade comparável, e que ela apresentou um múltiplo negativo. Ao calcular o valor da entidade objeto usando esse indicador, chegaríamos a uma estimativa inicial de valor negativa em nosso valuation. Em termos práticos, isso representaria que os acionistas da entidade avaliada, caso tivessem interessem em vendê-la, teriam de pagar para que alguém assumisse o controle da companhia, o que parece não ser racional do ponto de vista econômico. Seria mais aplicável, portanto, a utilização de metodologias que apurassem o valor de liquidação dos ativos da entidade de forma segregada, conforme discutimos na aula anterior. Outro ponto que a literatura financeira salienta na análise descritiva dos dados reside no tratamento dos valores discrepantes – com grande diferença em relação à observação típica. Esses valores também fazem com que o valor médio se mostre mais elevado (os profissionais também preferem a sua exclusão da amostra). Existem aqueles que optam por estipular os valores mínimos e máximos para o múltiplo e desconsiderar as empresas que apresentem indicadores foradesse intervalo, ou então realizar essa delimitação por meio do desvio-padrão. Em virtude dos julgamentos e das decisões que acontecem durante a execução da Avaliação Relativa, a sua operacionalização se mostra mais complexa do que o simples cálculo matemático de um multiplicador. Tratando-se do comportamento da distribuição dos múltiplos, destaca-se o fato da sua variabilidade no decorrer do tempo. Isso faz com que não seja adequada a utilização de múltiplos apurados anteriormente em um novo valuation, mostrando- se necessária a sua atualização. Na Figura 3, temos os valores médios e medianos das empresas brasileiras de capital aberto, considerando a exclusão dos valores negativos. Figura 1 – Variação temporal do múltiplo EV/EBITDA de 31.12.2011 a 31.12.2016. 19 É possível verificar, na Figura 3, que os valores sempre apresentaram uma oscilação em relação ao período imediatamente anterior. Apenas de 2012 para 2013 a variação da média se mostrou menor, o que não se repetiu na mediana. Entretanto, podemos utilizar os parâmetros centrais de diferentes períodos para empregar como múltiplo. Por exemplo: calculando as estatísticas descritivas das empresas analisadas para os anos de 2011 a 2016 do múltiplo EV/EBITDA, chegaríamos a uma média de 9,8 e a uma mediana de 8,0. Assim, utilizaríamos a média ou a mediana temporal em substituição das métricas de um único período. Essa oscilação é ainda mais representativa quando temos um menor número de observações, como, por exemplo, em um único setor ou entidade. Vamos voltar ao segmento de fios e tecidos na Tabela 6, na qual temos o valor do múltiplo EV/EBITDA das empresas que compõem esse segmento e também as respectivas estatísticas descritivas, mensuradas, inicialmente, considerando todas as entidades e, em seguida, delimitando-se àquelas que apresentaram múltiplos maiores que zero. 20 Tabela 6 – Variação temporal do múltiplo EV/EBITDA das empresas do segmento fios e tecidos de 31.12.2011 a 31.12.2016 Nome de pregão 31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016 Empresas do segmento Cedro 6,3 7,5 7,3 13,2 - -4,5 Coteminas 8,8 6,9 8,5 11,1 13 12,8 Dohler 4,1 4,4 4,3 4,4 6,7 12,3 Encorpar 1,5 -8,3 - - - -1,3 Karsten -9 5,7 15,3 -7,4 12,8 58,1 Pettenati 16,6 13,3 6,2 7,9 4,3 3,2 Santanense 4,3 3,5 5,3 9,8 -39,8 12,3 Springs 7,4 5,7 6,6 4,6 4,1 4,6 Teka -11,5 0,9 -6,8 -13,1 37 24,7 Estatísticas descritivas – considerando todas as empresas Média 3,2 4,4 5,8 3,8 5,4 13,6 Mediana 4,3 5,7 6,4 6,3 6,7 12,3 Desvio-padrão 8,7 5,8 6,1 9,3 22,9 18,9 Mínimo -11,5 -8,3 -6,8 -13,1 -39,8 -4,5 Máximo 16,6 13,3 15,3 13,2 37,0 58,1 Estatísticas descritivas – desconsiderando os múltiplos negativos Média 7,0 6,0 7,6 8,5 13,0 18,3 Mediana 6,3 5,7 6,6 8,9 9,8 12,3 Desvio-padrão 4,9 3,6 3,6 3,5 12,4 18,9 Mínimo 1,5 0,9 4,3 4,4 4,1 3,2 Máximo 16,6 13,3 15,3 13,2 37,0 58,1 Na Tabela 6 é possível verificar que as estatísticas descritivas apresentaram maiores valores nos últimos três períodos abordados em comparação com os exercícios sociais anteriores. Essa variabilidade é observada tanto ao considerar todas as empresas quanto ao levar em conta estatísticas referentes àquelas que apresentaram múltiplo positivo. Essa oscilação se mostrou mais elevada do que aquela demonstrada pelos valores médios da amostra geral de empresas (utilizada no exemplo anterior). Ressalta-se o fato de que, em duas empresas específicas (Cedro e Encorpar), o múltiplo para alguns exercícios não estava disponível, o que não impacta as estatísticas dos períodos nos quais o dado estava ausente. TEMA 5 – PRINCIPAIS MÚLTIPLOS EMPREGADOS NA ANÁLISE RELATIVA Durante a presente aula, introduzimos alguns múltiplos nos exemplos apresentados sem realizar um detalhamento a seu respeito. Nesta seção, focaremos a abordagem dos principais múltiplos utilizados e discutiremos os principais aspectos conceituais que os cercam. Ao tratarmos a consistência 21 necessária na definição dos múltiplos, estudamos que existem aqueles focados no valor do patrimônio líquido da entidade e também os que se concentram no valor da empresa ou de seus ativos operacionais. Na Figura 4 temos os principais indicadores para cada uma dessas perspectivas de avaliação. Figura 4 – Principais múltiplos utilizados na avaliação relativa Fonte: Adaptado de Costa, Costa e Alvim, 2010, p. 247. O múltiplo é sempre formado por meio da divisão entre duas grandezas. No numerador, seja na avaliação pela ótica do patrimônio líquido ou dos ativos, teremos como variável aquela que representa o valor. Lembre-se de que esse valor pode ser expresso sob duas diferentes perspectivas: a do acionista ou a da empresa, tendo, esta última, uma variante ao introduzirmos o conceito de enterprise value. O numerador, por conseguinte, apesar de apresentar particularidades, tratadas a seguir, será composto ou do valor de mercado do patrimônio líquido, no caso dos múltiplos sob a perspectiva do capital próprio, ou do valor da empresa ou do empreendimento, quando a ótica for a dos ativos. É no denominador que teremos uma maior variabilidade de elementos para a formação dos múltiplos. Nas duas óticas, existem aquelas grandezas que representam a lucratividade, o capital e as receitas. Na perspectiva do patrimônio líquido, temos também grande utilização de uma variável relacionada a fluxos de P ri n c ip a is m ú lt ip lo s Ótica do Patrimônio Líquido Valor / Lucros P / L P / LPA P / L / C Valor / Valor Contábil do PL P / BV Valor / Receitas P / ROL Valor / Fluxo de caixa P / FCDA Ótica dos Ativos Valor / Lucros EV / EBITDA EV / EBIT EV / NOPAT Value / EBITDA Value / EBIT Value / NOPAT Valor / Valor Contábil dos Ativos EV / VCA Value / VCA Valor / Receita EV / ROL Value / ROL Valor / Variável de Atividade 22 caixa, enquanto métricas ligadas à atividade da companhia aparecem na ótica dos ativos. Nesta seção, primeiramente discutiremos os aspectos dos principais múltiplos sob a ótica do patrimônio líquido; na sequência, o foco estará naqueles indicadores relacionados aos ativos das entidades objeto da avaliação. Por fim, trataremos dos determinantes relacionados aos principais múltiplos utilizados na Avaliação Relativa. 5.1 Principais múltiplos sob a ótica do patrimônio líquido Na visão de Damodaran (2007, p. 177), “no caso das empresas de capital aberto, medir o valor de mercado do patrimônio líquido pode parecer um exercício trivial, já que há, afinal, apenas um preço de ação [...]”. Diante dessa perspectiva, o valor de mercado do patrimônio líquido poderia ser mensurado pela seguinte expressão, estudada em nossas aulas anteriores: 𝑉𝑀 = (𝑄𝑇𝐷𝑜𝑟𝑑𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎𝑠 × 𝑃𝑈 𝑜𝑟𝑑𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎𝑠) + (𝑄𝑇𝐷𝑝𝑟𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠 × 𝑃𝑈 𝑝𝑟𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠) Sendo: QTD – quantidade de ações PU – preço unitário das ações Como temos duas classes de ações, as ordinárias e as preferenciais, para mensurar o valor de mercado do patrimônio líquido faz-se necessário somente o número total de cada um dos tipos de ações da companhia e seus respectivos preços. No caso das cotações, podemos utilizar aquela observada para cada ação em determinada data e a média de determinado período, dependendo do tipo de indicador que utilizaremos: retrospectivo, corrente ou prospectivo. Entretanto, a determinação do valor de mercado do patrimônio líquido pode ser materialmente afetada por três decisões que devemos tomar (Damodaran, 2007, p. 177-178): i) uso do valor totaldo patrimônio líquido ou diluído por ação; ii) desconto ou não do saldo de disponibilidades do valor do patrimônio líquido; iii) inclusão dos efeitos de opções de patrimônio líquido ou de títulos conversíveis em ações. O próprio autor destaca que, na prática, dificilmente os profissionais consideram os efeitos das duas últimas decisões no momento de utilizar a Avaliação Relativa. Dessa forma, do ponto de vista da operacionalização dos 23 múltiplos, encontraremos apenas o primeiro aspecto listado mais frequentemente. Em virtude desse fato, concentraremos nossa discussão apenas na decisão de utilizar o valor por ação ou agregado ao patrimônio líquido. Diante dessa decisão, temos a possibilidade de utilizar, no numerador do múltiplo, o valor total de mercado do patrimônio líquido, mensurado conforme expressão apresentada anteriormente, sendo o produto da quantidade e da cotação de cada um dos tipos de ação. Outra forma a empregar consiste em sopesar o preço da ação não englobando o número de títulos emitidos. Assim, o múltiplo seria calculado considerando o valor unitário da ação, sendo necessária a transformação dos denominadores também para a mesma base. Por exemplo: utilizaríamos o lucro por ação para determinarmos o múltiplo Preço/Lucro (P/L) em substituição ao lucro líquido total. O que dificulta o uso do preço unitário da ação é o fato de que as companhias, em muitos casos, possuem diferentes tipos de ações, negociadas a preços diferentes (Damodaran, 2007). Logo, essa forma de mensuração do múltiplo é mais aplicável quando a companhia possui somente uma categoria de título patrimonial. Destaca-se que, mesmo quando utilizamos o valor total do patrimônio líquido, encontramos na literatura financeira o numerador dos múltiplos representado pela expressão Preço (P). Voltando à Figura 4, podemos notar que todos os principais indicadores apresentados sob a ótica do patrimônio líquido têm em seu numerador a letra P. No caso do denominador dos múltiplos sob a ótica do patrimônio líquido, podemos incluir variáveis relacionadas aos lucros, aos fluxos de caixa, ao valor contábil do patrimônio líquido e das receitas. Damodaran (2007), para este último, destaca que o múltiplo se mostra inconsistente, pois a receita da companhia é uma métrica representativa de toda a empresa, gerada pelos seus ativos operacionais, não sendo, portanto, exclusiva dos acionistas. O autor chama a atenção para o fato de que, apesar dessa inconsistência, a receita representa um indicador amplamente utilizado no mercado, principalmente em setores que se caracterizam por ter empresas pouco endividadas (o valor de mercado do patrimônio líquido e o da empresa seriam próximos). Sua utilização é pautada no argumento de ser menos comum encontrarmos entidades que não apresentam receitas do que empresas com prejuízos no período de avaliação ou até mesmo patrimônio negativo. Tendo uma variável representativa de lucros no denominador, os principais múltiplos utilizados são: Preço/Lucro (P/L) e Preço/Lucro/Crescimento (P/L/C). Para manter a consistência, temos de utilizar a métrica de lucratividade da 24 empresa líquida de qualquer remuneração aos financiadores de capital que não se caracterizem como acionistas. Assim, para a mensuração dos múltiplos, deve ser utilizado o Lucro Líquido da Companhia. Com o intuito de fazer com que o múltiplo seja melhor comparável, recomenda-se a exclusão de qualquer item extraordinário que possa ter impactado o resultado utilizado na avaliação. Para a mensuração do índice P/L, utilizamos as seguintes expressões: 𝑃 𝐿⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 Ou: 𝑃 𝐿⁄ = 𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜 No caso do índice P/L/C, devemos incluir uma nova divisão, tendo como novo denominador a taxa de crescimento do lucro líquido (gL), mensurado como estudamos em aulas anteriores. Esse múltiplo tem a finalidade de padronizar o índice P/L pelo crescimento esperado de cada empresa, incorporando as diferentes perspectivas de incremento na geração de benefícios futuros. Sua notação segue: 𝑃 𝐿⁄ 𝐶 ⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑔𝐿𝐿 Ou: 𝑃 𝐿⁄ 𝐶 ⁄ = 𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑑𝑎 𝑎çã𝑜 𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜 𝑔𝐿𝐿 Utilizando no denominador uma variável representativa dos fluxos de caixa, temos o múltiplo Preço/Fluxo de Caixa Disponível ao Acionista (P/FCDA). Recorde-se que, na segunda aula, quando estudamos os indicadores de free cash flow, verificamos que temos índices para representar as duas perspectivas, a do acionista e a da empresa. Desse modo, para ter consistência no múltiplo, temos de utilizar a ótica do detentor do capital, por isso o emprego do FCDA. Para mensurar o múltiplo, usamos a seguinte notação: 𝑃 𝐹𝐶𝐷𝐴⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝐹𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑖𝑥𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛í𝑣𝑒𝑙 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑜 𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑖𝑠𝑡𝑎 25 Temos ainda o indicador Preço/Book Value (P/BV), que apresenta em seu denominador o valor contábil do patrimônio líquido. Damodaran (2007) destaca que, se algum ajuste for realizado no valor de mercado do PL, proveniente da decisão acerca das disponibilidades ou dos títulos conversíveis em ações, essas adequações serão necessárias também para o valor contábil do PL. Esse múltiplo é mensurado da seguinte forma: 𝑃 𝐵𝑉⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑐𝑜𝑛𝑡á𝑏𝑖𝑙 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 Ou: 𝑃 𝐵𝑉⁄ = 𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚𝑜𝑛𝑖𝑎𝑙 𝑝𝑜𝑟 𝑎çã𝑜 Por fim, no caso do múltiplo calculado com base nas receitas da companhia, utilizamos a Receita Operacional Líquida (ROL). O indicador P/ROL é mensurado pela expressão: 𝑃 𝑅𝑂𝐿⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 Ressalta-se, finalmente, que o valor da entidade objeto de avaliação mensurado por meio de qualquer um dos múltiplos aqui demonstrados representará a estimativa de valor do seu patrimônio líquido. Para estimar o valor da empresa, temos de somar ao resultado o valor das dívidas. Se o objetivo for mensurar o valor do empreendimento, acrescentaremos ao resultado o valor das dívidas líquidas da disponibilidade da companhia. 5.2 Principais múltiplos sob a ótica dos ativos Na Avaliação Relativa com o uso de múltiplos sob a ótica dos ativos da companhia, o numerador do indicador pode ser expresso por duas medidas: o valor da empresa (encontrado nos múltiplos pela expressão Value) ou o valor do empreendimento (EV). Destaca-se, entretanto, que, na prática, é mais comum encontrar os múltiplos calculados com o emprego da segunda medida. No que tange à definição desse numerador, Damodaran (2007, p. 207-209) enfatiza que, além de parte das decisões que são necessárias também na utilização de múltiplos representativos do patrimônio líquido, acrescentam-se outros dois aspectos que podem influenciar na definição do valor da empresa ou 26 do empreendimento. Assim, as decisões que temos de tomar quanto ao valor do numerador são: i) Desconto ou não do saldo de disponibilidades do valor do patrimônio líquido. ii) Inclusão dos efeitos de opções de patrimônio líquido ou de títulos conversíveis em ações. iii) Tratamento dos investimentos em participação societária. iv) Mensuração da dívida da entidade. As duas primeiras decisões não costumamser objeto de ajustes na prática de avaliação de empresas. Quanto ao tratamento de participação societária em outras entidades, como estudaremos em outra disciplina do nosso curso (Aquisições e reestruturações de empresas), a norma contábil estabelece diferentes formas de reconhecimento do valor das empresas investidas nos demonstrativos contábeis da entidade investidora (aquela que detém a participação societária). Dependendo do poder de influência ou de determinação nas decisões, a investidora precisará reconhecer a variação do patrimônio líquido da investida em seu ativo (por intermédio da contabilização de equivalência patrimonial ou pela apresentação de seus demonstrativos contábeis de forma consolidada). Quando o investimento é atualizado por equivalência patrimonial, o valor da empresa que detém a participação societária incorpora o valor atualizado do patrimônio líquido da investida. Contudo, não engloba parte do saldo de sua dívida ou de seu caixa, números utilizados para estimar o valor da empresa ou do empreendimento (Damodaran, 2007). Assim, para calcular o valor correto da empresa investidora, seria necessário calcular o montante de dívida e de caixa relativos ao percentual de participação societária, a fim de acrescentar a estimativa realizada. No caso da consolidação das demonstrações contábeis, o saldo consolidado da dívida e o caixa evidenciado apresentam o montante total da empresa investida, não desconsiderando o valor representativo da participação societária dos acionistas minoritários, ou seja, aquele percentual de ações que não pertence à empresa investidora. Teríamos de mensurar essa participação minoritária na dívida e no caixa para, nesse caso, subtrairmos esse valor da estimativa realizada. Para fins didáticos, não consideraremos em nossa disciplina os ajustes provenientes de investimento em participação societária. Essa opção baseia-se na necessidade de conhecermos primeiramente os aspectos 27 operacionais relacionados aos critérios de avaliação de participação no capital de outras entidades. No caso da dívida, a discussão reside na utilização do seu valor contábil ou no seu valor de mercado. Na literatura, encontramos aqueles que defendem a realização de uma estimativa do valor de mercado da dívida e aqueles que entendem que o saldo contábil se aproxima do seu valor de mercado, não sendo necessária a realização de ajustes. Adotaremos aqui o próprio valor contábil da dívida na mensuração dos múltiplos. Ao tratar do denominador de múltiplos sob a ótica dos ativos, podemos considerar variáveis relativas aos lucros, ao capital investido, às receitas ou às atividades da entidade. Essa última variável se caracteriza como específica para cada segmento, pois é determinada em consonância com as particularidades operacionais das empresas que nele estão inseridas. Por exemplo: em empresas de tecnologia, podemos ter uma variável relacionada ao número de usuários ou de acessos aos seus aplicativos. Em empresas ferroviárias, muitas vezes encontramos o indicador Tonelada Quilometro Útil (TKU), que busca ponderar a carga transportada pela distância percorrida. No tocante à variável relacionada ao lucro da entidade, temos de considerar o seu resultado operacional, expresso pelo Nopat, Ebit ou EBITDA. Diante disso, surgem os múltiplos: 1) Valor/Resultado Operacional Líquido (EV/Nopat e Value/Nopat); 2) Valor/Resultado Operacional (EV/Ebit e Value/Ebit); 3) Valor/Capacidade Operacional de Geração de Caixa (EV/EBITDA e Value/EBITDA), todos buscando identificar o escalonamento entre o valor da entidade e o seu resultado operacional. O múltiplo EV/EBITDA é aquele que encontramos de forma mais frequente na prática do valuation. Para mensurá-los, temos as seguintes notações: 𝐸𝑉 𝑁𝑂𝑃𝐴𝑇⁄ = (𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 − 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠) 𝑁𝑂𝑃𝐴𝑇 𝑉𝑎𝑙𝑢𝑒 𝑁𝑂𝑃𝐴𝑇⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑁𝑂𝑃𝐴𝑇 𝐸𝑉 𝐸𝐵𝐼𝑇⁄ = (𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 − 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠) 𝐸𝐵𝐼𝑇 𝑉𝑎𝑙𝑢𝑒 𝐸𝐵𝐼𝑇⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 𝐸𝐵𝐼𝑇 28 𝐸𝑉 𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴⁄ = (𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 − 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠) 𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴 𝑉𝑎𝑙𝑢𝑒 𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 𝐸𝐵𝐼𝑇𝐷𝐴 Empregando no denominador uma variável representativa do valor contábil dos ativos, temos o múltiplo Valor/VCA (EV/VCA e Value/VCA). Aqui, destaca-se que não utilizamos o ativo total para essa mensuração, e sim o capital investido, como já aprendemos. Determinamos esse múltiplo pelas seguintes expressões: 𝐸𝑉 𝑉𝐶𝐴⁄ = (𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 − 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠) 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑢𝑒 𝑉𝐶𝐴⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 Por fim, utilizando uma variável de receitas no denominador, temos o múltiplo Valor/Receita Operacional Líquida (EV/ROL e Value/ROL), calculado da seguinte forma: 𝐸𝑉 𝑅𝑂𝐿⁄ = (𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 − 𝐷𝑖𝑠𝑝𝑜𝑛𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠) 𝑅𝑂𝐿 𝑉𝑎𝑙𝑢𝑒 𝑅𝑂𝐿⁄ = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 𝑃𝐿 + 𝐷í𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑅𝑂𝐿 Cabe salientar a forma como devemos, a partir desses indicadores, chegar ao valor do patrimônio líquido da entidade avaliada. Para isso, é preciso subtrair o valor das dívidas, sejam elas brutas (quando usarmos um indicador com Value no numerador) ou líquidas das disponibilidades (ao termos um múltiplo indicado por EV). 29 5.3 Determinantes dos múltiplos De acordo com Damodaran (2007), os múltiplos empregados na Avaliação Relativa são determinados por diferentes fundamentos das entidades. Para entender melhor o resultado obtido com a aplicação da Avaliação Relativa no valuation de uma entidade, mostra-se importante compreender o comportamento desses fundamentos nas empresas envolvidas na análise (empresa objeto e comparáveis). Além disso, apesar de diferentes fundamentos impactarem o múltiplo, Damodaran (2007) destaca que sempre existe uma medida que será dominante em relação às demais, denominando-a de variável acompanhante, que representa o fundamento essencial para entender se uma empresa está subavaliada ou não. O Quadro 1 apresenta os fundamentos determinantes para alguns múltiplos estudados aqui, e também a sua variável acompanhante. Quadro 1 – Fundamentos que determinam os múltiplos e suas variáveis acompanhantes Múltiplo Determinantes fundamentais Variável acompanhante P/L Crescimento esperado ( ), pagamento de dividendos ( ), risco () Crescimento esperado P/BV Crescimento esperado ( ), pagamento de dividendos ( ), risco (), ROE ( ) ROE P/ROL Crescimento esperado ( ), pagamento de dividendos ( ), risco (), margem líquida ( ) Margem líquida Valor/EBITDA Crescimento esperado ( ), taxa de reinvestimento (), risco (), Roic ( ), alíquota tributária efetiva () Taxa de reinvestimento Valor/VCA Crescimento esperado ( ), taxa de reinvestimento (), risco (), ROIC ( ) ROIC Valor/ROL Crescimento esperado ( ), taxa de reinvestimento (), risco (), margem operacional ( ) Margem operacional Fonte: Adaptado de Damodaran, 2017, p. 66-67. No Quadro 1, cada um dos determinantes dos múltiplos está acompanhado pelo direcionamento da relação que possuem. Portanto, quando o fundamento estiver acompanhado do sinal ( ), há uma alteraçãonesta variável que implicará um reflexo no múltiplo na mesma direção, ou seja, um acréscimo no fundamento resultará um aumento no múltiplo. Já o sinal () estabelece que a relação entre o fundamento e o indicador é inversa: um aumento na variável refletirá uma diminuição do múltiplo. Quanto à variável acompanhante, temos de analisar como se comporta seu valor em comparação ao múltiplo ao qual ela está vinculada. Para ilustrar essa análise, vamos utilizar o múltiplo Valor/VCA, cuja variável acompanhante é o Roic. 30 Se uma entidade apresenta um múltiplo baixo em relação às empresas comparáveis, mas demonstra um Roic elevado, significa dizer que as ações dessa entidade estão subavaliadas. Para exame de aquisição de participação societária de empresas, essa análise da variável acompanhante mostra-se relevante. TROCANDO IDEIAS No portal Yahoo Finanças (br.financas.yahoo.com) é possível encontrar alguns múltiplos de empresas brasileiras de capital aberto (na Figura 5, por exemplo, temos o resultado da busca pela Companhia BRF S. A.). Para encontrar os múltiplos, temos de selecionar a opção “Estatísticas” após a pesquisa da empresa escolhida. Figura 5 – Medidas de avaliação da BRF S. A. em 28 de dezembro de 2017 Fonte: Portal Yahoo Finanças, 2017. Que tal realizar a busca por índices de outras empresas de capital aberto que conhecemos para verificar como se encontram seus respectivos múltiplos? 31 NA PRÁTICA Para ilustrar o cálculo dos múltiplos, vamos voltar ao exemplo da Companhia XYZ, que abordamos em aulas anteriores. O Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados da entidade estão expressos a seguir: Tabela 7 – Balanço Patrimonial/Demonstração de Resultados da Companhia XYZ Companhia XYZ – Balanço Patrimonial (em milhares de reais) ATIVO R$ PASSIVO R$ ATIVO CIRCULANTE 550 PASSIVO CIRCULANTE 500 Disponibilidades 70 Passivo oneroso (Empréstimos e financiamentos) 110 Demais ativos circulantes 480 Passivo de funcionamento (Não oneroso) 390 ATIVO NÃO CIRCULANTE 1.950 PASSIVO NÃO CIRCULANTE (Financiamentos) 600 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.400 TOTAL DO ATIVO 2.500 TOTAL DO PASSIVO 2.500 Companhia XYZ (em milhares de reais) Demonstração de Resultado R$ Receitas operacionais 650 Custo das vendas (200) Lucro bruto 450 Despesas operacionais (20) Depreciação, amortização e exaustão (60) Resultado financeiro (70) Lucro antes do Imposto de Renda 300 Provisão para IRPJ/CSLL (102) Lucro líquido do exercício 198 Para ajudar na mensuração dos índices, listamos dados informados ou calculados nas aulas anteriores: Informações adicionais Quantidade de ações preferenciais 60.000 unidades Quantidade de ações ordinárias 60.000 unidades Cotação das ações preferenciais no fechamento do exercício R$ 13,55 Cotação das ações ordinárias no fechamento do exercício R$ 14,75 Taxa de crescimento do Lucro Líquido (gLL) 10,21% Fluxo de Caixa Disponível ao Acionista (FCDA) R$ 83.200,00 Resultado operacional (EBIT) R$ 370.000,00 Resultado operacional líquido (NOPAT) R$ 244.200,00 Resultado operacional antes da depreciação e amortização (EBITDA) R$ 430.000,00 Capital Investido R$ 2.110.000,00 Vamos calcular os múltiplos sob a ótica do Patrimônio Líquido e dos ativos que estudamos nesta aula? Vamos também imaginar que a Companhia XYZ se 32 caracterize como comparável à Companhia ASD, para a qual precisamos realizar o valuation. No último exercício, a empresa objeto de avaliação apurou um EBITDA de R$ 870.000,00; em seu Balanço Patrimonial, apresentou um saldo de Disponibilidades de R$ 645.000,00 e uma dívida onerosa total de R$ 1.890.000,00. Precisamos, agora, calcular o valor de mercado, do empreendimento e do valor justo do patrimônio líquido da Companhia ASD, considerando que não são necessários ajustes às estimativas iniciais calculadas. FINALIZANDO No decorrer de nossa aula, discutimos os aspectos inerentes à Avaliação Relativa, também conhecida como Avaliação por Múltiplos. Primeiramente, aprendemos que a avaliação relativa consiste em estimar o valor da entidade por intermédio de indicadores padronizados de outras organizações similares. Assim, para implementar a Avaliação por Múltiplo, faz-se necessário seguir as seguintes etapas: i) identificação de entidades similares e seus respectivos preços de mercado; ii) cálculo dos múltiplos de avaliação para empregar no valuation da empresa objeto; iii) realização da estimativa de valor inicial da entidade; iv) ajuste da estimativa inicial considerando as particularidades da empresa avaliada. Em seguida, discutimos os cuidados necessários quando utilizamos a Avaliação Relativa no que tange à seleção de empresas comparáveis, à consistência e à uniformidade necessárias na mensuração dos múltiplos, às características descritivas das métricas utilizadas e às variáveis que as determinam. Por fim, estudamos os principais múltiplos utilizados. Todo múltiplo, seja ele representativo da ótica do patrimônio líquido ou dos ativos operacionais da entidade, será mensurado tendo uma medida de valor no numerador, que poderá ser representativo do preço das ações, do valor da empresa ou dos ativos operacionais. No denominador, utilizaremos variáveis que representam lucros, fluxos de caixa, valores contábeis, receitas ou a própria atividade da entidade. 33 REFERÊNCIAS B3. Empresas listadas. BM&FBovespa, São Paulo, 2017. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e- derivativos/renda-variavel/empresas-listadas.htm>. Acesso: 6 fev 2018. BRF S. A. Yahoo Finanças, 2017. Disponível em: <https://br.financas.yahoo.com/quote/BRFS3.SA/key-statistics?p=BRFS3.SA>. Acesso: 6 fev 2018. COSTA, L. G. T. A.; COSTA, L. R. T. A.; ALVIM, M. A. Valuation: manual de avaliação e reestruturação econômica de empresas. São Paulo: Atlas, 2010. DAMODARAN, A. Avaliação de empresas. Tradução de Sônia Midori Yamamoto e Marcelo Arantes Alvim. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. _____. Valuation: como avaliar empresas e escolher as melhores ações. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro: LTC, 2017. MANTERLANC, R.; PASIN, R.; PEREIRA, F. Avaliação de empresas: um guia para fusões & aquisições e private equity. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. TITMAN, S.; MARTIN, J. D. Avaliação de projetos de investimentos: valuation. Tradução de Heloísa Fontoura. Porto Alegre: Bookman, 2010.
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