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apostila IPH/cap 10 - Geração de escoamento.pdf I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Geração de escoamento azão é o volume de água que passa por uma determinada seção de um rio dividido por um intervalo de tempo. Assim, se o volume é dado em litros, e o tempo é medido em segundos, a vazão pode ser expressa em unidades de litros por segundo (l.s-1). No caso de vazão de rios, entretanto, é mais usual expressar a vazão em metros cúbicos por segundo (m3.s-1), sendo que 1 m3.s-1 corresponde a 1000 l.s-1 (litros por segundo). A vazão de um rio é o resultado da interação entre a precipitação e a bacia, e depende das características da bacia que influenciam a infiltração, armazenamento e evapotranspiração. O escoamento em uma bacia é, normalmente, estudado em duas partes: geração de escoamento e propagação de escoamento. O escoamento tem origens diferentes dependendo se está ocorrendo um evento de chuva ou não. Durante as chuvas intensas, a maior parte da vazão que passa por um rio é a água da própria chuva que não consegue penetrar no solo e escoa imediatamente, atingindo os cursos d’água e aumentando a vazão. É desta forma que são formados os picos de vazão e as cheias ou enchentes. O escoamento rápido que ocorre em conseqüência direta das chuvas é chamado de escoamento superficial (figura 10.1). Nos períodos secos entre a ocorrência de eventos de chuva a vazão de um rio é mantida pelo esvaziamento lento da água armazenada na bacia, especialmente da água subterrânea. Assim, o escoamento lento que ocorre durante as estiagens pode ser chamado de escoamento subterrâneo, porque a maior parte da água está chegando ao rio via fluxo de água através do subsolo. Capítulo 10 V Escoamento superficial ocorre durante e imediatamente após a chuva. Escoamento subterrâneo é o que mantém a vazão dos rios durante as estiagens. 105 Figura 10.1: Hidrograma de um rio como resposta a um evento de chuva: durante e imediatamente após a chuva predomina o escoamento superficial, enquanto durante a estiagem predomina o escoamento subterrâneo. Geração de escoamento durante a chuva No capítulo 7 é analisado o processo de infiltração de água da chuva no solo. Dependendo da intensidade da chuva, parte da água não consegue infiltrar no solo e começa a se acumular na superfície. Em determinadas condições a água começa a escoar sobre a superfície, formando pequenos córregos temporários ou escoando na forma de uma lâmina em superfícies mais lisas. O escoamento gerado desta forma é denominado escoamento superficial, e é importante porque gera os picos de vazão nos rios, como resposta aos eventos de chuva. A geração do escoamento é um dos temas mais complexos da hidrologia porque a variabilidade das características da bacia é muito grande, e porque a água pode tomar vários caminhos desde o momento em que atinge a superfície, na forma de chuva, até o momento em que chega ao curso d’água. Existem dois principais processos reconhecidos na formação do escoamento superficial: precipitação de intensidade superior à capacidade de infiltração; e precipitação sobre solos saturados. 106 Se uma chuva com intensidade de 30 mm.h-1 atinge um solo cuja capacidade de infiltração é de 20 mm.h-1, uma parte da chuva (10 mm.h-1) se transforma em escoamento superficial. Este é o processo de geração de escoamento por excesso de chuva em relação à capacidade de infiltração, também conhecido como processo Hortoniano, porque foi primeiramente reconhecido por Horton (1934). O processo Hortoniano é importante em bacias urbanas, em áreas com solo modificado pela ação do homem, ou em chuvas muito intensas, mas é raramente visto em bacias naturais durante chuvas menos intensas, onde o escoamento superficial é quase que totalmente originado pela parcela da precipitação que atinge zonas de solo saturado. Solos saturados são normalmente encontrados próximos à rede de drenagem, onde o nível do lençol freático está mais próximo da superfície. Volume de escoamento: método SCS Um dos métodos mais simples e mais utilizados para estimar o volume de escoamento superficial resultante de um evento de chuva é o método desenvolvido pelo National Resources Conservatoin Center dos EUA (antigo Soil Conservation Service – SCS). De acordo com este método, a lâmina escoada durante uma chuva é dada por: ( ) ( )SIaP IaP Q +− − = 2 quando IaP > e 0=Q quando IaP ≤ 254 25400 −= CN S onde Q é a lâmina escoada ou volume de escoamento dividido pela área da bacia (mm) também chamada “chuva efetiva”; P é a precipitação durante o evento (mm); S é um parâmetro que depende da capacidade de infiltração e armazenamento do solo (parâmetro adimensional CN – veja tabela 10.1); e Ia é uma estimativa das perdas iniciais de água, dado por Ia=S/5. 107 Tabela 10.1: Valores aproximados do parâmetro CN para diferentes condições de cobertura vegetal, uso do solo e tipos de solos (A: solos arenosos e de alta capacidade de infiltração; B: solos de média capacidade de infiltração; C solos com baixa capacidade de infiltração; D solos com capacidade muito baixa de infiltração). Condição A B C D Florestas 41 63 74 80 Campos 65 75 83 85 Plantações 62 74 82 87 Zonas comerciais 89 92 94 95 Zonas industriais 81 88 91 93 Zonas residenciais 77 85 90 92 (adaptado de Tucci et al., 1993) EXEMP LO 1) Qual é a lâmina escoada superficialmente durante um evento de chuva de precipitação total P = 70 mm numa bacia com solos do tipo B e com cobertura de florestas? A bacia tem solos do tipo B e está coberta por florestas. Conforme a tabela anterior o valor do parâmetro CN é 63 para esta combinação. A partir deste valor de CN obtém-se o valor de S: 254 25400 −= CN S = 149,2 mm A partir do valor de S obtém-se o valor de Ia: 829 5 S Ia ,== Como P > Ia, o escoamento superficial é dado por: ( ) ( )SIaP IaP Q +− − = 2 = 8,5 mm. Portanto, a chuva de 70 mm provoca um escoamento de 8,5 mm. O método do SCS também pode ser utilizado para calcular o escoamento superficial de uma bacia durante um evento de chuva complexo, em que existem informações de 108 precipitação para vários intervalos de tempo. Esta alternativa é interessante quando se deseja saber, além do valor do escoamento total, como foi sua distribuição temporal. Para calcular o escoamento em diferentes intervalos de tempo, utilizando o método do SCS, deve se primeiramente calcular valores acumulados de chuva. A partir dos valores acumulados de chuva são calculados os valores acumulados de escoamento superficial, usando a mesma metodologia do exemplo anterior. Finalmente, a partir dos valores acumulados de escoamento superficial são calculados os valores incrementais de escoamento superficial. EXEMP LO 2) Qual é a lâmina escoada superficialmente durante o evento de chuva dado na tabela abaixo numa bacia com solos com média capacidade de infiltração e cobertura de pastagens? Tempo (min) Precipitação (mm) 10 5 20 6 30 14 40 11 A bacia tem solos de média capacidade de infiltração, o que corresponde ao tipo B. A cobertura vegetal é de pastagens. Conforme a tabela anterior o valor do parâmetro CN é 75 para esta combinação. A partir deste valor de CN obtém-se o valor de S: 254 25400 −= CN S = 84,7 mm A partir do valor de S obtém-se o valor de Ia = 16,9. A chuva de cada intervalo de tempo é somada à chuva total até o final do intervalo de tempo anterior, resultando na chuva acumulada, como mostra a tabela a seguir. Tempo (min) Precipitação (mm) Precipitação acumulada (mm) 10 5 5 20 6 11 30 14 25 40 11 36 Para cada intervalo de tempo, pode se usar o método do SCS para calcular o escoamento total acumulado até o final do intervalo de tempo. Enquanto a precipitação acumulada é inferior a Ia, o 109 escoamento acumulado é zero. A partir do intervalo de tempo em que a precipitação acumulada supera o valor de Ia, o escoamento acumulado é calculado por ( ) ( )SIaP IaP Q +− − = 2 como mostra a tabela a seguir. Tempo (min) Precipitação (mm) Precipitação acumulada (mm) Escoamento acumulado (mm) 10 5 5 0,0 20 6 11 0,0 30 14 25 0,7 40 11 36 3,5 Observa-se que o momento de máximo escoamento superficial ocorre entre os 30 e 40 minutos da duração da chuva. Nestes 10 minutos o escoamento é de 3,5 mm. É interessante observar que este não é o momento de máxima intensidade de precipitação. O método do SCS pode ser utilizado quando uma bacia não tem cobertura vegetal homogênea, ou quando existem dois ou mais tipos de solos na bacia. Neste caso, o valor do CN é calculado como uma média ponderada dos valores de CN. EXEMP LO 3) Qual é o valor do coeficiente CN de uma bacia em que 30% da área é urbanizada e em que 70% é rural? Considere que os solos são extremamente argilosos e rasos. Solos rasos e muito argilosos normalmente tem capacidade de infiltração baixa ou muito baixa, por isso pode-se considerar que os solos são do tipo D, de acordo com a classificação do SCS. Na área rural não está especificado se são plantações (CN=87), campos (CN=85) ou florestas (CN=80). Considerando que a área rural é coberta por campos, adota-se o CN=85. Na área urbana não está especificado se são áreas industriais, comerciais ou residenciais, mas os valores de CN são sempre relativamente próximos de 93, por isso adotamos este valor. O CN médio da bacia pode ser obtido por CN = 0,3 . 93 + 0,7 . 85 = 87,4 110 Exercícios 1) Como se origina o escoamento superficial em uma bacia durante as chuvas? 2) Em que parte de uma bacia hidrográfica ocorre preferencialmente a geração de escoamento superficial? 3) O que é a chuva efetiva? 4) Qual é a lâmina escoada superficialmente durante um evento de chuva de precipitação total P = 60 mm numa bacia com solos do tipo B e com cobertura de florestas? 5) O que ocorreria com o escoamento no problema anterior caso as florestas fossem substituídas por plantações? 6) Qual é a lâmina escoada superficialmente a cada intervalo de tempo durante o evento de chuva dado na tabela abaixo numa bacia rural com solos com alta capacidade de infiltração? Qual é o intervalo de tempo em que é gerado o máximo escoamento superficial? Tempo (min) Precipitação (mm) 10 5 20 16 30 14 40 11 50 5 7) Qual o incremento de escoamento total que ocorre se a bacia do exercício anterior for urbanizada? E qual o incremento no escoamento máximo? apostila IPH/cap 11 - Hidrograma unitário.pdf I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A O Hidrograma Unitário ma bacia pode ser imaginada como um sistema que transforma chuva em vazão. A transformação envolve modificações no volume total da água, já que parte da chuva infiltra no solo e pode retornar à atmosfera por evapotranspiração, e modificações no tempo de ocorrência, já que existe um atraso na ocorrência da vazão em relação ao tempo de ocorrência da chuva. No capítulo sobre geração de escoamento está descrito o processo da separação da chuva em uma parte que infiltra no solo e outra que escoa superficialmente. A fração da chuva ocorrida num evento que gera escoamento superficial é conhecida como chuva efetiva. A chuva efetiva é responsável pelo crescimento rápido da vazão de um rio durante e após uma chuva. No capítulo anterior foi apresentado um método simplificado para estimar a chuva efetiva, com base em um parâmetro que está relacionado às características da bacia, como o tipo de solo e o tipo de vegetação ou ocupação humana. Nem toda a chuva efetiva gerada numa bacia chega imediatamente ao curso d’água. A partir dos locais em que é gerado, o escoamento percorre um caminho, com velocidades variadas de acordo com características como a declividade e o comprimento dos trechos percorridos, e a resposta da bacia a uma entrada de chuva depende destas características. Em particular, se imaginamos um pulso de chuva de curta duração, a bacia hidrográfica é um sistema que transforma uma entrada quase imediata em uma saída distribuída ao longo do tempo, como mostrado na figura a seguir. A figura mostra um gráfico de vazão (hidrograma) resultante de uma chuva efetiva na bacia. Considera-se que o hidrograma corresponda a medições realizadas na saída (exutório) da bacia. Imediatamente após, e mesmo durante a ocorrência da chuva a vazão começa a aumentar, refletindo a chegada da água que começou a escoar na região mais próxima do exutório, como indicado. Após algum tempo é atingido o valor máximo e, Capítulo 11 U 112 finalmente, inicia uma recessão, quando a água da chuva efetiva gerada na região mais distante da bacia atinge o exutório. No final da recessão o escoamento superficial cessa. Figura 11. 1: Imaginando uma bacia hidrográfica como um sistema que transforma um evento de chuva em um hidrograma distribuído no tempo. A resposta de uma bacia a um evento de chuva depende das características físicas da bacia e das características do evento, como a duração e a intensidade da chuva. Chuvas de mesma intensidade e duração tendem a gerar respostas de vazão (hidrogramas) semelhantes. Chuvas mais intensas tendem a gerar mais escoamento e hidrogramas mais pronunciados, enquanto chuvas menos intensas tendem a gerar hidrogramas mais atenuados, com menor vazão de pico. Para simplificar a análise e para simplificar os cálculos, é comum admitir-se que existe uma relação linear entre a chuva efetiva e a vazão, lembrando que a chuva efetiva é a parcela da chuva que gera escoamento superficial. Uma teoria útil, mas não inteiramente correta, baseada na relação linear entre chuva efetiva e vazão em uma bacia é a teoria do Hidrograma Unitário. Conceitualmente o Hidrograma Unitário (HU) é o hidrograma do escoamento direto, causado por uma chuva efetiva unitária (por exemplo, uma chuva de 1mm ou 1 cm), por isso o método é chamado de Hidrograma Unitário. A teoria do hidrograma 113 unitário considera que a precipitação efetiva e unitária tem intensidade constante ao longo de sua duração e distribui-se uniformemente sobre toda a área de drenagem. Adicionalmente, considera-se que a bacia hidrográfica tem um comportamento linear. Isso significa que podem ser aplicados os princípios da proporcionalidade e superposição, descritos a seguir. Com a teoria do hidrograma unitário é possível calcular a resposta da bacia a eventos de chuva diferentes, considerando que a resposta é uma soma das respostas individuais. Proporcionalidade Para uma chuva efetiva de uma dada duração, o volume de chuva, que é igual ao volume escoado superficialmente, é proporcional à intensidade dessa chuva. Como os hidrogramas de escoamento superficial correspondem a chuvas efetivas de mesma duração, têm o mesmo tempo de base, considera-se que as ordenadas dos hidrogramas serão proporcionais à intensidade da chuva efetiva, como mostra a Figura 11. 2. Na figura observa-se que o hidrograma resultante da precipitação efetiva de 2 mm é duas vezes maior do que o hidrograma resultante da chuva efetiva de 1 mm, que é o hidrograma unitário. A vazão do ponto A é duas vezes menor do que a vazão no ponto B e a vazão no ponto D é duas vezes maior do que a do ponto C, e assim para todos os valores de vazão dos hidrogramas é respeitada a mesma proporção. Superposição As vazões de um hidrograma de escoamento superficial, produzidas por chuvas efetivas sucessivas, podem ser encontradas somando as vazões dos hidrogramas de escoamento superficial correspondentes às chuvas efetivas individuais. Figura 11. 2: Ilustração do princípio da proporcionalidade na teoria do hidrograma unitário. 114 A Figura 11. 3 ilustra o princípio da superposição, mostrando como o hidrograma de resposta de duas chuvas unitárias sucessivas pode ser obtido somando dois hidrogramas unitários deslocados no tempo por uma diferença D, que, neste caso, é a duração da chuva. Convolução Aplicando os princípios da proporcionalidade e da superposição é possível calcular os hidrogramas resultantes de eventos complexos, a partir do hidrograma unitário. Este cálculo é feito através da convolução. Em matemática, particularmente na área de análise funcional, convolução é um operador que, a partir de duas funções, produz uma terceira. O conceito de convolução é crucial no estudo de sistemas lineares invariantes no tempo, como é o caso da teoria do hidrograma unitário (veja definição na Wikipedia). O hidrograma unitário é, normalmente, definido como uma função em intervalos de tempo discretos. A vazão em um intervalo de tempo t é calculada a partir da convolução entre as funções Pef (chuva efetiva) e h (ordenadas do hidrograma unitário discreto). ∑= = +− t 1i 1itit hPefQ para t < k ∑= +−= +− t 1kti 1itit hPefQ para t ≥ k onde: Qt é a vazão do escoamento superficial no intervalo de tempo t; h é a vazão por unidade de chuva efetiva do HU; Pef é a precipitação efetiva do bloco i; k é o número de ordenadas do hidrograma unitário, que pode ser obtido por k = n – m +1, onde m é o número de pulsos de precipitação e n é o número de valores de vazões do hidrograma. 0 5 10 15 20 25 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 Tempo (horas) V az ão (l /s ) P1 Q1=f (P1) Q2=f (P2) Q total P2 Figura 11. 3: Ilutração do princípio da superposição de hidrogramas. 115 A convolução discreta fica mais clara quando colocada na forma matricial. Considerando uma chuva efetiva formada por 3 blocos de duração D cada um, ocorrendo em seqüência, e uma bacia cujo hidrograma unitário para a chuva de duração D é dado por 9 ordenadas de duração D cada uma, a aplicação da convolução para calcular as vazões Qt no exutório da bacia seria: Neste caso m=3 porque a chuva é definida por três blocos, k=9 porque o hidrograma unitário tem 9 ordenadas e n=11 porque a duração total do escoamento resultante é de 11 intervalos de duração D cada um. A convolução para o cálculo das vazões usando o HU é uma tarefa trabalhosa. Normalmente o HU é utilizado como um módulo dentro de um modelo hidrológico, e sua aplicação é facilitada. E XEM P LO 1) Repetidas medições mostraram que uma pequena bacia respondia sempre da mesma forma à chuvas efetivas de 10 mm e de meia hora de duração, Q1 = Pef1.h1 Q2 = Pef2.h1+ Pef1.h2 Q3 = Pef3.h1 +Pef2.h2+ Pef1.h3 Q4 = Pef3.h2+ Pef2.h3+Pef1.h4 Q5 = Pef3.h3+Pef2.h4+Pef1.h5 Q6 = Pef3.h4+Pef2.h5+Pef1.h6 Q7 = Pef3.h5+Pef2.h6+Pef1.h7 Q8 = Pef3.h6+Pef2.h7+Pef1.h8 Q9 = Pef3.h7+Pef2.h8+Pef1.h9 Q10 = Pef3.h8+Pef2.h9 Q11= Pef3.h9 116 apresentando um hidrograma unitário definido pela tabela A abaixo. Calcule qual é a resposta da bacia ao evento de chuva definido pela tabela B. Tabela A: Hidrograma unitário Intervalo de tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (horas) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 H (m 3 .s -1 /10mm) 0,5 2,0 4,0 7,0 5,0 3,0 1,8 1,5 1,0 Tabela B: Evento de chuva Intervalo de Tempo Tempo (horas) Chuva efetiva (mm) 1 0,5 20 2 1,0 25 3 1,5 10 A resposta da bacia é calculada por convolução da função Pef que é a chuva efetiva e da função H que é a função que descreve o hidrograma unitário, como mostrado abaixo. Portanto o hidrograma de saída tem 11 intervalos de tempo de meia hora cada um, e a vazão máxima ocorre no quinto intervalo, atingindo 31,5 m3.s-1. Ordenadas do Hidrograma unitário 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Intervalo de Tempo Chuva efetiva mm Chuva efetiva (multiplos de 10 mm) 0.5 2.0 4.0 7.0 5.0 3.0 1.8 1.5 1.0 Q 1 20 2.0 1.0 1.0 2 25 2.5 1.3 4.0 5.3 3 10 1.0 0.5 5.0 8.0 13.5 4 2.0 10.0 14.0 26.0 5 4.0 17.5 10.0 31.5 6 7.0 12.5 6.0 25.5 7 5.0 7.5 3.6 16.1 8 3.0 4.5 3.0 10.5 9 1.8 3.8 2.0 7.6 10 1.5 2.5 4.0 11 1.0 1.0 117 Obtenção do Hidrograma Unitário em uma bacia com dados de chuva e vazão O hidrograma unitário de uma bacia hidrográfica pode ser estimado observando a sua resposta a chuvas de curta duração. A forma do hidrograma unitário depende da duração da chuva. Para determinar o HU em uma bacia hidrográfica, é necessário dispor de registros de vazão e precipitação simultâneos. Recomenda-se identificar eventos causados por chuvas que tenham uma duração entre 1/3 a 1/5 do tempo de concentração. De preferência são utilizados eventos simples, com chuvas de curta duração e mais ou menos constantes. Para cada evento de chuva e vazão com estas características, o hidrograma unitário para esta duração de chuva pode ser obtido através dos passos descritos a seguir. 1) Calcular o volume de água precipitado sobre uma bacia hidrográfica, que é dado por Vtot = Ptot . A onde: Vtot é o volume total precipitado sobre a bacia; Ptot: é a precipitação; e A é a área de drenagem da bacia. 2) Fazer a separação do escoamento superficial, onde para cada instante t, a vazão que escoa superficialmente é a diferença entre a vazão observada e a vazão de base Qe = Qobs – Qb onde: Qe é a vazão que escoa superficialmente; Qobs é a vazão observada no posto fluviométrico; e Qb é a vazão base. 3) Determinar o volume escoado superficialmente, calculando a área do hidrograma superficial, que pode ser obtida conforme Ve = ΣQei . ∆t onde: Vê é o volume escoado superficialmente; Qei é a vazão que escoa superficialmente; e ∆t: intervalo de tempo dos dados. 4) Determinar o coeficiente de escoamento tot e V V C = 118 onde: Ve é o volume escoado superficialmente; Vtot: volume total precipitado sobre a bacia hidrográfica. 5) Determinar a chuva efetiva, multiplicando-se a chuva total pelo coeficiente de escoamento Pef = C . Ptot onde: Pef é a chuva efetiva; C é o coeficiente de escoamento e Ptot é a precipitação total. 6) Determinar as ordenadas do HU e ef u u Q P P Q ×= onde: Qu é a ordenada do hidrograma unitário; Pu é a chuva chuva unitária (10 mm, 1 mm); Pef é a precipitação efetiva; Qe é a ordenada do hidrograma de escoamento superficial. Analisando graficamente vários hidrogramas de eventos de chuvas intensas e de duração curta, todos eles apresentando mais ou menos a mesma duração de chuva, é possível identificar as características do hidrograma unitário da bacia para esta duração, como mostra a Figura 11. 4. Neste caso estão apresentados 4 hidrogramas resultantes de chuvas de curta duração em uma mesma bacia. Embora a intensidade das chuvas tenha sido diferente em cada um dos eventos, e as vazões máximas tenham sido diferentes em cada caso, os hidrogramas foram adimensionalizados pelo total de chuva efetiva, conforme descrito antes, e apresentam mais ou menos a mesma vazão de pico e o mesmo volume. Figura 11. 4: Hidrogramas observados adimensionalizados sobrepostos para gerar o HU de uma bacia com dados (adaptado de Dingman, 2002). 119 Outro método para obter o hidrograma unitário em uma bacia com dados de chuva e vazão é baseado na deconvolução, ou a convolução inversa. Neste caso repete-se o procedimento descrito no exemplo de aplicação da convolução, porém considerando como incógnitas as ordenadas do hidrograma unitário, e como conhecidas as vazões de saída do hidrograma em cada intervalo de tempo. Os valores das ordenadas do hidrograma unitário podem ser obtidos por otimização, minimizando as diferenças entre as vazões finais calculadas e observadas. Para eventos relativamente simples é possível utilizar a ferramenta Solver da planilha Excel para resolver este problema. Neste caso o objetivo da otimização pode ser minimizar a soma das diferenças entre as vazões calculadas e observadas elevadas ao quadrado. Uma planilha Excel disponível na página Web da disciplina ilustra este procedimento. Existem muitas dificuldades para a obtenção do hidrograma unitário a partir dos dados de chuva e vazão observados na bacia. Em primeiro lugar, os dados são de chuva observada não de chuva efetiva. É necessário estimar a chuva efetiva em cada intervalo de tempo. Em segundo lugar, a vazão observada inclui parte de escoamento subsuperficial ou subterrâneo (escoamento de base), e por isso o HU obtido vai depender das hipóteses feitas na separação de escoamento. Hidrograma Unitário sintético A situação mais freqüente, na prática, é o da inexistência de dados históricos. Neste caso é necessário utilizar um hidrograma unitário sintético, ou um hidrograma unitário obtido a partir da análise do relevo, denominado hidrograma unitário geomorfológico. Os hidrogramas unitários sintéticos foram estabelecidos com base em dados de algumas bacias e são utilizados quando não existem dados que permitam estabelecer o HU, conforme apresentado no item a seguir. Os métodos de determinação do HU baseiam-se na determinação do valor de algumas características do hidrograma, como o tempo de concentração, o tempo de pico, o tempo de base e a vazão de pico. A Figura 11. 5 apresenta um hidrograma resultante da ocorrência de uma chuva, em que se conhece o valor da chuva efetiva em três intervalos de tempo. Figura 11. 5: Características importantes do hidrograma para a definição de HU sintético. 120 O tempo de concentração é definido como o intervalo de tempo entre o final da ocorrência de chuva efetiva e o final do escoamento superficial, conforme mostrado na figura. O tempo entre picos é definido como o intervalo entre o pico da chuva efetiva e o pico da vazão superficial. O tempo de retardo é definido como o intervalo de tempo entre os centros de gravidade do hietograma (chuva efetiva) e do hidrograma superficial. O tempo de pico é definido como o tempo entre o centro de gravidade do hietograma (chuva efetiva) e o pico do hidrograma. Com base nestas definições é que pode-se caracterizar o Hidrograma Unitário Sintético adimensional do SCS. Hidrograma Unitário Sintético triangular do SCS A partir de um estudo com um grande número de bacias e de hidrogramas unitários nos EUA, técnicos do Departamento de Conservação de Solo (Soil Conservation Service – atualmente Natural Resources Conservation Service) verificaram que os hidrogramas unitários podem ser aproximados por relações de tempo e vazão estimadas com base no tempo de concentração e na área das bacias. Para simplificar ainda mais, o hidrograma unitário pode ser aproximado por um triângulo, definido pela vazão de pico e pelo tempo de pico e pelo tempo de base, conforme a Figura 11. 6. As relações identificadas, que permitem calcular o hidrograma triangular são descritas abaixo, de acordo com o texto de Chow et al. (1988). O tempo de pico tp do hidrograma pode ser estimado como 60% do tempo de concentração: cp t60t ⋅= , Figura 11. 6: Forma do hidrograma unitário sintético triangular do SCS. 121 onde tp é o tempo de pico (veja Figura 11. 6) e tc é o tempo de concentração da bacia, que pode ser estimado por uma das equações apresentadas no capítulo 3. O tempo de subida do hidrograma Tp pode ser estimado como o tempo de pico tp mais a metade da duração da chuva D, assim: 2 D tT pp += O tempo de base do hidrograma (tb) é aproximado por: ppb T671Tt ⋅+= , o que significa que o tempo de recessão do hidrograma triangular, a partir do pico até retornar a zero, é 67% maior do que o tempo de subida. A vazão de pico do hidrograma unitário triangular é estimada por: p p T A2080 q ., = onde Tp é dado em horas, a área da bacia (A) é dada em Km 2, e o resultado qp é a vazão de pico por mm de chuva efetiva. E XEM P LO 2) Construa um hidrograma unitário para a chuva de duração de 10 minutos em uma bacia de 3,0 Km2 de área de drenagem, comprimento do talvegue de 3100 m, ao longo do qual existe uma diferença de altitude de 93 m. A primeira etapa é calcular o tempo de concentração da bacia. Utilizando a equação de Watt e Chow (ver capítulo 3) temos: horas251 3100 93 13 687 S L 687t 790 50 790 50c , , ,, , , , , = ⋅= ⋅= A duração da chuva D é de 10 minutos, conforme definido no enunciado do problema. O tempo de subida do hidrograma Tp, pode ser calculado a partir da duração da chuva e do tempo de pico. Na elaboração do HUT do SCS admite-se que o tempo de pico é igual a 60% do tempo de concentração. 122 horas750t60t cp ,, =⋅= e o tempo de subida do hidrograma é: horas8330 260 10 750 2 D tT pp ,, = ⋅ +=+= O tempo de base do hidrograma (tb) é aproximado por: horas222T672T671Tt pppb ,,, =⋅=⋅+= A vazão de pico do hidrograma unitário triangular é: mm 1 s m 7490 8330 032080 T A2080 q 3 p p ⋅=== , , ,.,., A figura e a tabela a seguir mostram o hidrograma unitário triangular resultante. 123 Tempo (minutos) Vazão (m3/s por mm) 0 0.00 10 0.15 20 0.30 30 0.45 40 0.60 50 0.75 60 0.66 70 0.57 80 0.48 90 0.39 100 0.30 110 0.21 120 0.12 130 0.03 Hidrograma Unitário Sintético adimensional do SCS O hidrograma unitário sintético adimensional do SCS é semelhante em alguns aspectos com o hidrograma unitário triangular, porém apresenta uma forma mais suave, definida pelos valores da Tabela 11. 1 e pela Figura 11. 7. O HU sintético adimensional é mais realista do que o hidrograma triangular, porque aproxima a resposta como uma curva suavizada, mas o HU triangular é muito popular, porque é simples. Tabela 11. 1: Hidrograma unitário sintético adimensional do SCS. t/Tp q/qp t/Tp q/qp t/Tp q/qp 0 0,000 1,1 0,990 2,4 0,147 0,1 0,030 1,2 0,930 2,6 0,107 0,2 0,100 1,3 0,860 2,8 0,077 0,3 0,190 1,4 0,780 3,0 0,055 0,4 0,310 1,5 0,680 3,2 0,040 0,5 0,470 1,6 0,560 3,4 0,029 0,6 0,660 1,7 0,460 3,6 0,021 0,7 0,820 1,8 0,390 3,8 0,015 0,8 0,930 1,9 0,330 4,0 0,011 0,9 0,990 2,0 0,280 4,5 0,005 1,0 1,000 2,2 0,207 5,0 0,000 124 Figura 11. 7: Hidrograma unitário sintético adimensional do SCS. Histograma Tempo-Área Uma forma de estimar a resposta de uma bacia hidrográfica às chuvas é o Histograma Tempo-Área. Neste método procura-se definir os tempos de deslocamento do escoamento superficial desde o local de origem até o exutório da bacia. Como cada porção da bacia tem um tempo de deslocamento diferente, em função da distância e da declividade, a resposta da bacia pode ser analisada na forma de um histograma. O Histograma Tempo-Área (HTA) pode ser obtido identificando linhas isócronas sobre a bacia e medindo a área entre cada par de isócronas, ou analisando uma bacia através do modelo digital de elevação. As isócronas são as linhas que definem um mesmo tempo de deslocamento até o exutório da bacia. É possível construir um Hidrograma Unitário a partir do Histograma Tempo-Área, porém o HU resultante pode ter uma resposta muito rápida e resultar em superestimativas da vazão máxima. Isto ocorre porque o HTA representa o processo de translação da água na bacia, mas subestima o armazenamento ao longo dos cursos d’água. 125 Uma forma de corrigir os problemas do HU obtido a partir do HTA é combinar o HTA com um reservatório linear simples. Este procedimento é conhecido como Hidrograma Unitário de Clark. Hidrograma Unitário e a vazão de base O HU é aplicado para representar a resposta da bacia à entrada de chuva efetiva. A vazão calculada pelo HU refere-se somente ao escoamento superficial. Normalmente, a bacia também apresenta uma vazão de base, cuja origem é o escoamento subterrâneo, que não é levada em conta nos cálculos com o HU. Para considerar a vazão de base é necessário somar a resposta da bacia, calculada usando o HU, aos valores da vazão de base. Em muitos casos a vazão de base representa apenas uma pequena fração da vazão total durante um evento de chuva mais intenso. Assim, quando o objetivo do cálculo é estimar a vazão máxima em uma pequena bacia, a vazão de base pode até mesmo ser desprezada, especialmente se a bacia for fortemente urbanizada. E XEM P LO 3) Uma bacia tem um HU para o evento de 10 mm de chuva efetiva e meia hora de duração dado na tabela A. Calcule qual é a resposta da bacia ao evento de chuva definido pela tabela B. Considere uma vazão de base constante e igual a 2 m3.s-1. Tabela A: Hidrograma unitário Intervalo de tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (horas) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 H (m 3 .s -1 /10mm) 0,5 2,0 4,0 7,0 5,0 3,0 1,8 1,5 1,0 Tabela B: Evento de chuva Intervalo de Tempo Tempo (horas) Chuva efetiva (mm) 1 0,5 20 2 1,0 25 3 1,5 10 126 A resposta da bacia é calculada por convolução da função Pef que é a chuva efetiva e da função H que é a função que descreve o hidrograma unitário, como no exemplo 1, e ao final é acrescido o valor da vazão de base. Hidrograma Unitário para chuvas de diferentes durações O HU depende da duração da chuva. Uma bacia pode ter um HU para o evento de chuva de 1 hora de duração e outro, ligeiramente diferente, para o evento de chuva de 2 horas de duração. Quando o HU para uma determinada duração de chuva é conhecido, é possível calcular o HU para outra duração qualquer. Se a duração desconhecida for um múltiplo da duração conhecida basta aplicar os princípios da superposição e proporcionalidade. Se existe um HU de 1 hora (entende-se causado por uma chuva de 1 hora de duração), é possível achar o HU resultante de uma chuva unitária de 2 h, plotando dois HUs de 1 hora, deslocados de 1 hora e extraindo a média aritmética das ordenadas. Nos casos gerais o HU para uma duração de chuva qualquer pode ser obtido através da curva S. A curva S é o HU de resposta de uma bacia a uma precipitação unitária de duração infinita. A curva S pode ser obtida a partir de um HU conhecido, acumulando progressivamente as ordenadas do HU original. A grande utilidade da curva S é que ela permite o cálculo de HUs de qualquer duração; para isso se desloca a curva S um intervalo de tempo D2, igual à duração do HU P efet. P efet. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 t mm (mult. 10 mm) 0.5 2.0 4.0 7.0 5.0 3.0 1.8 1.5 1.0 Qsup Qbase Qtotal 1 20 2.0 1.0 1.0 2.0 3.0 2 25 2.5 1.3 4.0 5.3 2.0 7.3 3 10 1.0 0.5 5.0 8.0 13.5 2.0 15.5 4 2.0 10.0 14.0 26.0 2.0 28.0 5 4.0 17.5 10.0 31.5 2.0 33.5 6 7.0 12.5 6.0 25.5 2.0 27.5 7 5.0 7.5 3.6 16.1 2.0 18.1 8 3.0 4.5 3.0 10.5 2.0 12.5 9 1.8 3.8 2.0 7.6 2.0 9.6 10 1.5 2.5 4.0 2.0 6.0 11 1.0 1.0 2.0 3.0 127 desejado. As ordenadas desse HU procurado são calculadas pela diferença entre as duas curvas S, corrigidas pela relação D1/D2 (onde D1 é a duração da chuva que originou a curva S e D2 é a duração da chuva do novo HU). E XEM P LO 4) Use o HU obtido para a chuva de 1 hora de duração para estimar o HU correspondente à chuva de 1 ½ hora de duração no mesmo local. Tabela A: Hidrograma unitário Intervalo de tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (horas) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 H (m 3 .s -1 /10mm) 0,5 2,0 4,0 7,0 5,0 3,0 1,8 1,5 1,0 Em construção... Limitações do Hidrograma Unitário A idéia do Hidrograma Unitário é muito útil para representar o comportamento de uma bacia no que se refere à geração de escoamento. Hidrogramas Unitários sintéticos formam a base de muitos modelos hidrológicos amplamente utilizados para calcular vazões máximas de projeto, e tem funcionado relativamente bem. Entretanto, boa parte das premissas utilizadas não são inteiramente corretas: tempo de base igual; chuva efetiva gerada uniformemente na bacia; chuva efetiva gerada de forma idêntica em todos os eventos; lineariedade (podemos somar efeitos). O escoamento não é gerado de forma uniforme em toda a bacia. As áreas preferenciais de geração de escoamento são as áreas impermeabilizadas por ação do homem ou as áreas com solos saturados ou próximos da saturação, localizadas na região próxima à rede de drenagem. O escoamento ocorre mais rapidamente para eventos maiores do que para eventos menores. Assim a lineariedade não se mantém. 128 Exercícios 1) Elabore o Histograma Temp-Área para a bacia da figura abaixo, considerando que o escoamento de cada célula segue a direção das setas e que o tempo de passagem através de cada célula é de 20 minutos, independentemente da direção do escoamento. O exutório está identificado pela seta mais escura. 2) Utilize o Excel para calcular o hidrograma de resposta de uma bacia com HU conhecido (tabela A), considerando conhecida a chuva total (não efetiva) sobre a bacia (tabela B). Considere que o valor do coeficiente CN é 80. Tabela A: Hidrograma unitário Intervalo de tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Tempo (horas) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 H (m 3 .s -1 /10mm) 0,5 2,0 4,0 7,0 5,0 3,0 1,8 1,5 1,0 Tabela B: Chuva total ocorrida na bacia. Tempo (min) Precipitação (mm) 30 9 60 18 90 24 120 16 150 9 129 3) Construa um hidrograma unitário para a chuva de duração de 15 minutos em uma bacia de 7,0 Km2 de área de drenagem, comprimento do talvegue de 10 Km, ao longo do qual existe uma diferença de altitude de 200 m. 4) Calcule a resposta da bacia do problema anterior à chuva total dada na tabela abaixo. Considere que o valor do coeficiente CN é 75. Tabela C: Chuva total ocorrida na bacia. Tempo (min) Precipitação (mm) 15 29 30 28 45 4 60 26 apostila IPH/cap 12 - Escoamento de base.pdf I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Escoamento de base conhecimento do comportamento da vazão de um rio durante longos períodos de estiagem é fundamental em diversos problemas na hidrologia e gestão de recursos hídricos. É durante as estiagens que, em geral, ocorrem as situações mais críticas do ponto de vista ambiental. Também é durante as estiagens que os conflitos entre os diferentes usos da água tendem a ser mais intensos. Durante os períodos sem chuva, o escoamento natural nos rios é, as vezes, denominado escoamento de base, porque apresenta uma variação muito menor do que a variação observada durante os eventos chuvosos. O escoamento de base é mantido pela água subterrânea existente nos aqüíferos da bacia. A água subterrânea tem sua origem principal na água da chuva que infiltra no solo e percola para camadas mais profundas. Ao longo de um período longo de chuvas é grande a quantidade de água que atinge os aqüíferos, especialmente o aqüífero superficial. Durante estes períodos o nível da água subterrânea se eleva. Por outro lado, ao longo de períodos secos, a água armazenada no subsolo vai sendo descarregada para as nascentes dos rios e o nível da água subterrânea diminui. Entretanto, ao contrário do escoamento superficial, o fluxo de água subterrânea é, normalmente, muito lento. A parte decrescente de um hidrograma após um evento de chuva, conhecida como recessão do hidrograma, reflete a diminuição do nível da água no ou nos aqüíferos de uma bacia ao longo do tempo. O momento a partir do qual pode se dizer que toda a vazão de um rio tem origem subterrânea corresponde ao momento final da chuva mais o período de tempo correspondente ao tempo de concentração da bacia, aproximadamente. A recessão dos hidrogramas freqüentemente tem a forma de uma exponencial decrescente. Em regiões com chuvas marcadamente sazonais isto pode ser facilmente verificado. Como exemplo, a próxima figura apresenta um hidrograma de vazões observadas no rio dos Bois, no Estado de Goiás, ao longo de quatro anos entre 1990 e 1993. Nesta região as chuvas se concentram no período de dezembro a março e os Capítulo 12 O 131 meses de junho a setembro são extremamente secos. O hidrograma reflete esta característica climática apresentando vários picos de vazão nos meses de verão e uma longa recessão, raramente interrompida por pequenos aumentos da vazão, ao longo dos meses de inverno. Destacando o período de estiagem de junho a setembro de 1991, é possível verificar o comportamento típico da recessão do hidrograma deste rio, como mostra a próxima figura. Quando representado em escala logarítmica, o hidrograma durante a estiagem mostra um comportamento semelhante a uma linha reta. Isto sugere que o comportamento da vazão do rio dos Bois ao longo deste período pode ser representado por uma equação do tipo: ( ) k t t eQQ − ⋅= 0 (12.1) onde t é o tempo; Q0 é a vazão num instante t0; Q(t) é a vazão num instante t (por exemplo: t dias após t0); e é a base dos logaritmos naturais; e k é uma constante (em unidades de t). Esta aproximação da curva de recessão de vazão utilizando uma equação exponencial decrescente é válida para um grande número de casos e pode ser utilizada para prever qual será a vazão de um rio após alguns dias, conhecendo a vazão no tempo atual, considerando que não ocorra nenhuma chuva. A maior dificuldade para resolver este tipo de Figura 12. 1: Hidrograma do rio dos Bois, em Goiás, de 1990 a 1993, com respostas às chuvas de verão e recessões durante os meses de inverno. Figura 12. 2: a) Hidrograma do rio dos Bois (GO) durante os meses de estiagem de 1991; b) o mesmo hidrograma representado em escala logarítmica e aproximado por uma linha reta. 132 problema é estimar o valor da constante k, mas isto pode ser feito utilizando dois valores conhecidos de vazão espaçados por um intervalo de tempo ∆t., e rearranjando a equação exponencial, como mostra a equação a seguir: ( ) ( ) ∆− = ∆+ t tt Q Q t k ln (12.2) O valor de k depende das características físicas da bacia, em especial as suas características geológicas. Bacias localizadas em regiões onde predominam as rochas sedimentares normalmente tem maior capacidade de armazenamento de água subterrânea e os rios que drenam estas áreas apresentam valores de k relativamente altos. Bacias localizadas em regiões de rochas pouco porosas, como o basalto, tendem a apresentar valores de k mais baixos. E XEM P LO 1) Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas duas medições de vazão, com quatro dias de intervalo entre si, conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão esperada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento de chuva neste período? Data Vazão 14/agosto 60.1 15/agosto - 16/agosto - 17/agosto - 18/agosto 57.6 Espera-se que o comportamento do hidrograma na recessão seja bem representado por uma curva exponencial decrescente. A constante k pode ser estimada considerando os dois valores de vazão conhecidos (60,1 e 57,6), separados por 4 dias. 94 1,60 6,57 ln 4 ≅ − =k Portanto, a constante k tem valor de 94 dias. A vazão no dia 31 de agosto pode ser estimada a partir da vazão do dia 18, considerando a diminuição que ocorre ao longo dos 13 dias que separam estas duas datas: 133 ( ) 2,506,57 94 13 ≅⋅= − eQ t Portanto, a vazão esperada no dia 31 de agosto seria de 50,2 m3.s-1. A idéia do reservatório linear simples O balanço hídrico geral de água subterrânea em uma bacia hidrográfica pode ser representado pelas mesmas equações apresentadas nos capítulos iniciais: QEG t V −−= ∆ ∆ onde ∆V é a variação do volume de água armazenado no aqüífero da bacia (m3); ∆t é o intervalo de tempo considerado (s); G é a percolação do solo para o aquífero (m3.s-1); E é a evapotranspiração (m3.s-1); e Q é o escoamento (m3.s-1). Normalmente a evapotranspiração diretamente a partir do aqüífero é nula e num período de estiagem o fluxo de percolação entre o solo e o subsolo (G) pode ser considerado desprezível. Assim, a equação acima pode ser reescrita, para um intervalo de tempo infinitesimal: Q dt dV −= Aproximar a curva de recessão de um hidrograma durante uma longa estiagem por uma equação exponencial decrescente equivale a admitir a idéia que a relação entre armazenamento de água subterrânea e descarga do aqüífero para o rio é linear, como na equação a seguir: k V Q = ou kQV ⋅= onde V é o volume de água armazenado pelo aqüífero (m3); Q é a vazão que passa pelo rio durante a estiagem, que é equivalente à descarga do aqüífero (m3.s-1); e k é uma constate com unidades de tempo (s). Substituindo a relação linear na equação de balanço hídrico simplificada, obtém-se a relação: Q dt dQ k = 134 A solução desta equação diferencial resulta numa equação exponencial decrescente, como apresentada na seção anterior deste capítulo: ( ) k t t ecQ − ⋅= ou ( ) k t t eQQ − ⋅= 0 Isto significa que, apesar de toda a complexidade existente no armazenamento e no fluxo de água subterrânea de uma bacia, a relação entre volume de água armazenado e vazão é aproximadamente linear. Esta afirmação é válida para condições de estiagem, na maior parte dos rios do mundo. Separação de escoamento Hidrogramas observados em postos fluviométricos podem ser analisados com o objetivo de identificar a parcela do escoamento que tem origem no escoamento superficial e a parcela do escoamento que tem origem no escoamento subterrâneo. Esta análise é baseada em métodos de separação de escoamento. Ao longo do tempo diversos métodos foram propostos para a separação do escoamento. A separação de escoamento pode servir para separar apenas o escoamento superficial de uma bacia, o que é importante em estimativas do hidrograma unitário. Por outro lado, o cálculo da parcela do escoamento subterrâneo pode ser utilizado para estimar a recarga média dos aqüíferos em uma análise regional. Em estimativas expeditas, não muito confiáveis, a relação entre a Q90 e a Q50 de uma curva de permanência de um rio (veja capítulo de estatística) pode ser usada para estimar a proporção de escoamento de base, ou subterrâneo, em relação ao escoamento total. Em estimativas mais complexas podem ser utilizados isótopos, ou análises químicas, para identificar as diferentes origens da água que escoam num rio a cada momento. Mais comuns, entretanto, são os métodos de separação de escoamento baseados na análise dos hidrogramas. Estes métodos têm uma certa base física, mas têm, também, uma boa dose de componentes arbitrários para definir a linha que separa o escoamento subterrâneo do superficial durante um evento de chuva. Um método muito utilizado está ilustrado na Figura 12. 3 e supõe que o escoamento superficial termina D dias após o pico de vazão, sendo que D pode ser estimado por uma equação empírica proposta por Linsley: 20A8270D ,, ⋅= (12.3) Durante uma estiagem uma bacia se comporta de forma semelhante a um reservatório linear simples, em que a vazão descarregada é proporcional ao volume armazenado. 135 onde A é a área da bacia em Km2 e D é dado em dias. A duração D permite identificar o ponto c na figura, que é o momento a partir do qual o escoamento subterrâneo volta a responder por 100% da vazão do rio. O ponto a é identificado como o momento em que inicia a ascensão do hidrograma, e o ponto b é obtido estendendo a curva de recessão a partir do ponto a até o tempo em que ocorre o pico de vazão. Outros métodos de separação de escoamento, definem o ponto de término do escoamento superficial como o ponto de inflexão (derivada segunda igual a zero) ou de máxima curvatura (derivada segunda máxima) da recessão do hidrograma. Alguns destes métodos estão ilustrados na Figura 12. 4. Os métodos de separação de escoamento ilutrados nestas figuras podem ser aplicados com relativa facilidade a eventos isolados de chuva, que provocam um hidrograma simples, com ascensão, pico e recessão bem caracterizados. No entanto, em hidrogramas mais extensos, ao longo de um ano ou mais de observações, por exemplo, estas técnicas são um pouco limitadas. Neste caso é mais adequado estimar o escoamento de base usando filtros digitais, ou filtros numéricos. Separação de escoamento usando filtros Filtros numéricos ou digitais podem ser utilizados para separar hidrogramas em suas componentes superficial e subterrânea, de forma aproximada. Na aplicação de filtros supõe-se que a vazão total do hidrograma (y) num certo intervalo de tempo (i) é Figura 12. 3: Separação de escoamento superficial e subterrâneo através da análise da forma do hidrograma e de estimativa de duração do escoamento superficial. Figura 12. 4: Métodos de separação de escoamento superficial. 136 formada por duas componentes: escoamento superficial (f) e escoamento subterrâneo (b). Isto significa que num intervalo de tempo qualquer: iii bfy += (12.4) onde i representa o intervalo de tempo considerado. Considerando que existe uma relação linear entre armazenamento de água nos aqüíferos e vazão, durante os períodos de estiagem, pode-se considerar que, nos períodos sem recarga do aqüífero a equação abaixo é válida: k t ebb i1i ∆− ⋅=+ (12.5) onde k é a constante de recessão e ∆t é o tamanho do intervalo de tempo entre i e i+1. Esta mesma equação pode ser expressa por: abb i1i ⋅=+ (12.6) onde k t ea ∆− = (12.7) Uma forma simples de estimar o valor de bi para cada intervalo de tempo i foi proposta por Lyne e Hollick em 1979 e depois modificada por Chapman, em 1991 (veja Eckhardt, 2008): i1ii y a2 a1 b a2 a b ⋅ − − +⋅ − = − (12.8) onde o termo a está explicado acima no texto. Se a aplicação desta equação resultar em um valor bi > yi, então bi = yi. Este tipo de filtro funciona relativamente bem para bacias com relativamente pouca contribuição de escoamento subterrâneo no escoamento total. No caso de bacias com contribuição subterrânea maior, um filtro com dois parâmetros foi proposto por Eckhardt (2005): ( ) ( ) max maxmax BFIa1 yBFIa1baBFI1 b i1i i ⋅− ⋅⋅−+⋅⋅− = − (12.9) limitado a valores bi menores ou iguais a yi, como no caso anterior, e onde a está definido acima e BFImax é o máximo percentual de escoamento subterrâneo que o filtro permite calcular. Os valores sugeridos para BFImax são: 137 BFImax = 0,80 (rios perenes e aqüíferos porosos); BFImax = 0,50 (rios efêmeros ou intermitentes e aqüíferos porosos); BFImax = 0,25 (rios perenes e aqüíferos impermeáveis). Uma forma alternativa de estimar BFImax poderia ser obtida estendendo a curva de recessão, de trás para frente no tempo: a b b 1i i += (12.10) limitado a valores bi menores ou iguais a yi, como nos casos anteriores. A Figura 12. 5 mostra o hidrograma do rio dos Bois durante um período chuvoso entre duas estações secas. A aplicação do filtro A (equação 12.8) resulta num escoamento de base extremamente afastado do hidrograma observado, o que está incorreto, especialmente no período de recessão a partir do mês de maio. A aplicação do filtro B (equação 12.9) resulta num escoamento de base mais próximo do hidrograma observado, e com boa concordância no período de recessão a partir de maio. Para a aplicação da equação 12.9 foi utilizado o valor de k (coeficiente de recessão) calculado como no exemplo 1, e o valor de BFImax foi calculado a partir de uma separação inicial do escoamento por uma equação de recessão aplicada inversamente no tempo (equação 12.10), de acordo com a equação a seguir: ∑ ∑ = =≈ N 1i i N 1i i y r BFI max (12.11) Figura 12. 5: Hidrograma do rio dos Bois com separação de escoamento segundo diferentes métodos. 138 onde ri é o hidrograma obtido a partir da aplicação da recessão (equação 12.10) e N é o número de intervalos de tempo do hidrograma. No exemplo da figura anterior o valor de BFImax obtido pela aplicação das equações 12.10 e 12.11 foi de 0,81. A aplicação do filtro da equação 12.9 com BFImax=0,81 resultou num hidrograma de escoamento de base cujo volume total representa 75% do volume total (BFI = 0,75). Este resultado sugere que 74% da vazão média anual do rio dos Bois neste local tenha origem no escoamento subterrâneo. E XEM P LO 2) No período de 06 a 29 de junho de 2002 o rio Pelotas (SC e RS) no posto fluviométrico Passo do Socorro apresentou a série de vazões apresentada na tabela abaixo. Com base em recessões do hidrograma em períodos secos o valor da constante de recessão k foi estimado em 20 dias. Utilize um filtro para estimar o hidrograma da vazão de base. data Qobs 06/06/2002 58,8 07/06/2002 69,5 08/06/2002 284,0 09/06/2002 787,5 10/06/2002 773,5 11/06/2002 633,5 12/06/2002 1355,0 13/06/2002 2275,0 14/06/2002 1571,0 15/06/2002 1503,5 16/06/2002 914,2 17/06/2002 791,0 18/06/2002 1071,0 19/06/2002 433,2 20/06/2002 320,2 21/06/2002 279,0 22/06/2002 261,6 23/06/2002 220,0 24/06/2002 187,4 25/06/2002 164,0 26/06/2002 142,6 27/06/2002 137,5 28/06/2002 125,6 29/06/2002 113,7 A bacia do rio Pelotas apresenta solos e geologia que não favorecem a infiltração da água. Portanto espera-se um escoamento de base relativemente baixo. Neste caso pode ser utilizado o filtro da equação 12.8. Considerando que k=20 dias, e que o intervalo de tempo entre os dados observados é de 1 dia: 950eea 20 1 k t ,≅== −∆− 139 Com base neste valor o filtro fica: i1ii1ii y0470b9070y a2 a1 b a2 a b ⋅+⋅=⋅ − − +⋅ − = −− ,, Considerando que no primeiro intervalo de tempo 100% da vazão tem origem subterrânea a equação acima pode ser utilizada para estimar a vazão de base nos intervalos de tempo seguintes: b1 = y1 = 58,8 b2 = 0,907b1+0,047y2 =56,5 e assim por diante, resultando na tabela abaixo: data Dia Qobs Filtro 06/06/2002 1 58,8 58,8 07/06/2002 2 69,5 56,5 08/06/2002 3 284,0 64,5 09/06/2002 4 787,5 95,1 10/06/2002 5 773,5 122,2 11/06/2002 6 633,5 140,3 12/06/2002 7 1355,0 190,3 13/06/2002 8 2275,0 278,4 14/06/2002 9 1571,0 325,5 15/06/2002 10 1503,5 365,2 16/06/2002 11 914,2 373,7 17/06/2002 12 791,0 375,8 18/06/2002 13 1071,0 390,6 19/06/2002 14 433,2 374,4 20/06/2002 15 320,2 320,2 21/06/2002 16 279,0 279,0 22/06/2002 17 261,6 261,6 23/06/2002 18 220,0 220,0 24/06/2002 19 187,4 187,4 25/06/2002 20 164,0 164,0 26/06/2002 21 142,6 142,6 27/06/2002 22 137,5 135,7 28/06/2002 23 125,6 125,6 29/06/2002 24 113,7 113,7 O gráfico correspondente está apresentado na figura acima. A soma das duas últimas colunas da tabela permite calcular o percentual da vazão total que corresponde ao escoamento de base (cerca de 35%). A subtração da vazão total menos a vazão de base permite estimar o escoamento superficial em cada intervalo de tempo. 140 Leituras adicionais O assunto dos filtros para separação de escoamento é clássico em hidrologia e um texto interessante sobre este assunto é “How to construct recursive digital filters for baseflow separation” de K. Eckhardt, publicado em Hydrological Processes Vol. 19 pp. 507-515 em 2005. Exercícios 1) Explique como os filtros para separação de escoamento podem ser utilizados para estimar recarga de aqüíferos. 2) Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas duas medições de vazão, conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão esperada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento de chuva neste período? data Vazão (m 3 .s -1 ) 14/ago 60.4 15/ago - 16/ago - 17/ago - 18/ago - 19/ago 51.7 3) Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas seis medições de vazão, conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão esperada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento de chuva neste período? Considere que durante a estiagem a bacia se comporte como um reservatório linear. Data vazão 14/ago 123.1 15/ago 116.2 16/ago 109.6 17/ago 103.2 18/ago 97.3 19/ago 91.8 apostila IPH/cap 13 - Medição de vazão.pdf I N T R O D U Z I N D O H I D R O L O G I A Medição de vazão azão é o volume de água que passa por uma determinada seção de um rio dividido por um intervalo de tempo. Assim, se o volume é dado em litros, e o tempo é medido em segundos, a vazão pode ser expressa em unidades de litros por segundo (l.s-1). No caso de vazão de rios, entretanto, é mais usual expressar a vazão em metros cúbicos por segundo (m3.s-1), sendo que 1 m3.s-1 corresponde a 1000 l.s-1 (litros por segundo). Escoamento permanente e uniforme em canais O escoamento em rios e canais abertos é um fenômeno bastante complexo, sendo fortemente variável no espaço e no tempo. As variáveis fundamentais são a velocidade, a vazão, e o nível da água. Quando estas variáveis não variam ao longo do tempo em um determinado trecho do canal, o escoamento é chamado permanente. Quando as variáveis vazão, velocidade média e nível não variam no espaço o escoamento pode ser chamado de uniforme. A velocidade média de escoamento permanente uniforme em um canal aberto com declividade constante do fundo e da linha da água pode ser estimada a partir de equações relativamente simples, como as de Chezy e de Manning. A equação de Manning, apresentada a seguir, relaciona a velocidade média da água em um canal com o nível da água neste canal e a declividade. n SR u h 2 1 3 2 ⋅ = onde u é a velocidade média da água em m.s-1; Rh é o raio hidráulico da seção transversal (descrito a seguir); S é a declividade (metros por metro, ou adimensional); e n é um coeficiente empírico, denominado coeficiente de Manning. Capítulo 13 V 142 A Figura 13. 1 apresenta um perfil longitudinal de um canal escoando em regime permanente e uniforme. Figura 13. 1: Perfil de um trecho de canal em regime de escoamento permanente e uniforme. A Figura 13. 2 apresenta uma seção transversal do canal, supondo que o canal tem a forma retangular. A profundidade de escoamento é y e a largura do canal é B. Figura 13. 2: Seção transversal de um canal em regime de escoamento permanente e uniforme. Denomina-se perímetro molhado a soma dos segmentos da seção transversal em que a água tem contato com as paredes, isto é: P = B + 2y onde P é o perímetro molhado (m); B é a largura do canal (m); e y é a profundidade ou nível da água (m). O raio hidráulico é a relação entre a área de escoamento e o perímetro molhado, ou seja: 143 P A R h = onde A é a área (B.y) e P o perímetro molhado. Das equações anteriores se deduz que quanto maior o nível da água y, maior a velocidade média da água no canal. O coeficiente n de Manning varia de acordo com o revestimento do canal. Canais com paredes muito rugosas, como os canais revestidos por pedras irregulares e os rios naturais com leito rochoso tem valores altos de n. Canais de laboratório, revestidos de vidro , por exemplo, podem ter valores relativamente baixos de n. Alguns valores de n de Manning para diferentes tipos de canais são dados na tabela a seguir. Tabela 13. 1: Valores de n de Manning para canais com diferentes tipos de revestimento de fundo e paredes (Hornberger et al., 1998). Tipo de revestimento n de Manning Vidro (laboratório) 0,01 Concreto liso 0,012 Canal não revestido com boa manutenção 0,020 Canal natural 0,024 a 0,075 Rio de montanha com leito rochoso 0,075 a >1,00 A vazão em um canal pode ser calculada pelo produto da velocidade média vezes a área de escoamento, ou seja: n SR AAuQ h 2 1 3 2 ⋅ ⋅=⋅= EXEMP LO 1) Qual é a vazão que escoa em regime permanente e uniforme por um canal de seção transversal trapezoidal com base B = 5 m e profundidade y = 2 m, considerando a declividade de 25 cm por km? Considere que a parede lateral do canal tem uma inclinação dada por m = 2, e que o canal não é revestido mas está com boa manutenção. Em um canal trapezoidal a área de escoamento é dada por ( ) 2 2 yymBB A ⋅⋅⋅++ = onde B é a largura da base, y é a profundidade e m = cotg α, de acordo com a figura abaixo. 144 O perímetro molhado é dado por ( )222 ymyBP ⋅+⋅+= Portanto A = 18 m2 e P = 13,9 m. O raio hidráulico é Rh = 1,3 m. A declividade de 25 cm por km corresponde a S = 0,00025 m.m-1,o coeficiente de Manning para um canal não revestido com boa manutenção é de 0,020, então a vazão no canal é dada por ( ) ( ) 020,0 00025.03,1 18 2 1 3 2 2 1 3 2 ⋅ ⋅= ⋅ ⋅= n SR AQ h = 16,9 m3.s-1 Portanto, a vazão no canal é de 16,9 m3.s-1. Medição de vazão A medição de vazão em cursos d’água é realizada, normalmente, de forma indireta, a partir da medição de velocidade ou de nível. Os instrumentos mais comuns para medição de velocidade de água em rios são os molinetes, que são pequenos hélices que giram impulsionados pela passagem da água. Em situações de medições expeditas, ou de grande carência de recursos, as medições de velocidade podem ser feitas utilizando flutuadores, com resultados muito menos precisos. Os molinetes são instrumentos projetados para girar em velocidades diferentes de acordo com a velocidade da água. A relação entre velocidade da água e velocidade de rotação do molinete é a equação do molinete. Esta equação é fornecida pelo fabricante do molinete, porém deve ser verificada periodicamente, porque pode ser alterada pelo desgaste das peças. 145 Figura 13. 3: Molinete para medição de velocidade da água. A velocidade da água é, normalmente, maior no centro de um rio do que junto às margens. Da mesma forma, a velocidade é mais baixa junto ao fundo do rio do que junto à superfície. Em função desta variação da velocidade nos diferentes pontos da seção transversal, utilizar apenas uma medição de velocidade pode resultar em uma estimativa errada da velocidade média. Por exemplo, a velocidade medida junto à margem é inferior à velocidade média e a velocidade medida junto à superfície, no centro da seção, é superior à velocidade média. Para obter uma boa estimativa da velocidade média é necessário medir em várias verticais, e em vários pontos ao longo das verticais, de acordo com a Figura 13. 4 e a Figura 13. 5. A Tabela 13. 2, adaptada de Santos et al. (2001), apresenta o número de pontos de medição em uma vertical de acordo com a profundidade do rio e a Tabela 13. 3 apresenta o número de verticais recomendado para medições de vazão de acordo com a largura do rio. A Tabela 13. 2 mostra que são recomendados muitas medições na vertical, porém, freqüentemente, as medições são feitas com apenas dois pontos na vertical, mesmo em rios com profundidade maior que 1,20 m. Figura 13. 4: Perfil de velocidade típico e pontos de medição recomendados. 146 Figura 13. 5: Seção transversal com indicação de verticais onde é medida a velocidade. Tabela 13. 2: Número e posição de pontos de medição na vertical recomendados de acordo com a profundidade do rio (Santos et al. 2001). Profundidade (m) Número de pontos Posição dos pontos 0,15 a 0,60 1 0,6 p 0,60 a 1,20 2 0,2 e 0,8 p 1,20 a 2,00 3 0,2; 0,6 e 0,8 p 2,00 a 4,00 4 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8 p > 4,00 6 S; 0,2; 0,4; 0,6; 0,8 p e F Tabela 13. 3: Distância recomendada entre verticais, de acordo com a largura do rio (Santos et al., 2001). Largura do rio (m) Distância entre verticais (m) < 3 0,3 3 a 6 0,5 6 a 15 1,0 15 a 30 2,0 30 a 50 3,0 50 a 80 4,0 80 a 150 6,0 150 a 250 8,0 > 250 12,0 Portanto, a medição de vazão está baseada na medição de velocidade em um grande número de pontos. Os pontos estão dispostos segundo linhas verticais com distâncias conhecidas da margem (d1, d2, d3, etc.) (Figura 13. 6). A integração do produto da velocidade pela área é a vazão do rio. Considera-se que a velocidade média calculada numa vertical é válida numa área próxima a esta vertical de acordo com a Figura 13. 7. 147 Figura 13. 6: Exemplo de medição de vazão em uma seção de um rio, com a indicação das verticais, distâncias (d) e profundidades (p) – os pontos indicam as posições em que é medida a velocidade no caso de utilizar apenas dois pontos por vertical. Figura 13. 7: Detalhe da área da seção do rio para a qual é válida a velocidade média da vertical de número 2. A área de uma sub-seção, como apresentada na Figura 13. 7 é calculada pela equação abaixo: ( ) ( ) ( ) − ⋅= + − + ⋅= −+−+ 2 dd p 2 dd 2 dd pA 1i1ii i1i1ii ii onde o índice i indica a vertical que está sendo considerada; p é a profundidade; d é a distância da vertical até a margem. Na anterior, por exemplo, a área da sub-seção da vertical 2 é dada por: 148 ( ) − ⋅= 2 dd pA 1322 As pequenas áreas próximas às margens que não são consideradas nas sub-seções da primeira nem da última vertical (Figura 13. 8) não são consideradas no cálculo da vazão. Assim, a vazão total do rio é dada por: ∑ = ⋅= N 1i ii AvQ onde Q é a vazão total do rio; vi é a velocidade média da vertical i; N é o número de verticais e Ai é a área da sub-seção da vertical i. Figura 13. 8: As áreas sombreadas junto às margens não são consideradas na integração da vazão. EXEMP LO 2) Uma medição de vazão realizada em um rio teve os resultados da tabela abaixo. A largura total do rio é de 23 m. Qual é a vazão total do rio? Qual é a velocidade média? Vertical 1 2 3 4 5 Distância da margem (m) 2,0 5,0 8,0 17,0 22,0 Profundidade (m) 0,70 1,54 2,01 2,32 0,82 Velocidade a 0,2xP (m.s-1) 0,23 0,75 0,89 0,87 0,32 Velocidade a 0,8xP (m.s-1) 0,15 0,50 0,53 0,45 0,20 Para cada uma das verticais de medição é determinada a área da sub-seção correspondente. Considera- se, para isso, que as velocidades medidas na vertical ocorrem em uma região retangular de profundidade pi e largura 0,5x(di+1 – di-1) . A vazão total é dada pela soma das vazões de cada sub-seção. 149 Vertical 1 2 3 4 5 Total Distância da margem (m) 2,0 5,0 8,0 17,0 22,0 23 Profundidade (m) 0,70 1,54 2,01 2,32 0,82 Largura da vertical (m) 2,50 3,0 6,0 7,0 3,0 Área da sub-seção (m2) 1,75 4,62 12,06 16,24 2,46 37,13 Velocidade a 0,2xP (m.s-1) 0,23 0,75 0,89 0,87 0,32 Velocidade a 0,8xP (m.s-1) 0,15 0,50 0,53 0,45 0,20 Velocidade média na vertical (m.s-1) 0,19 0,63 0,71 0,66 0,26 Vazão na sub-seção (m3.s-1) 0,33 2,91 8,56 10,72 0,64 23,16 A vazão total é de 23,16 m3.s-1. Este valor pode ser arredondado para 23,2 m3.s-1 porque normalmente os erros das medições de velocidade, distância e profundidade não justificam tanta precisão. A velocidade média é igual à vazão total dividida pela área total, ou seja, 62,0 13,37 16,23 v == A velocidade média é de 0,62 m.s-1. A curva-chave O ciclo hidrológico é um processo dinâmico, governado por processos bastante aleatórios, como a precipitação. Para caracterizar o comportamento hidrológico de um curso d’água ou de uma bacia não basta dispor de uma medição de vazão, mas sim de uma série de medições. É desejável que esta série estenda-se por, pelo menos, alguns anos, e é necessário que o intervalo de tempo entre medições seja adequado para acompanhar os principais processos que ocorrem na bacia, isto é, permitam acompanhar as cheias e estiagens. Em um rio muito grande, de comportamento lento, isto pode significar uma medição por semana. Por outro lado, em um rio com uma área de drenagem pequena, em uma região montanhosa, com rápidas respostas durante as chuvas, pode ser necessária uma medição a cada minuto. A medição de vazão, conforme descrita no item anterior, é um processo caro, o que impede medições de vazão muito freqüentes. Normalmente a medição de vazão em rios exige uma equipe de técnicos qualificados e equipamentos como molinete, guincho e barcos. Em função disso, as medições de vazão são realizadas com o objetivo de determinar a relação entre o nível da água do rio em uma seção e a sua vazão. Esta relação entre o nível (ou cota) e a vazão é denominada a curva-chave de uma seção. Com a curva-chave é possível transformar medições diárias de cota, que são relativamente baratas, em medições diárias de vazão. 150 Para gerar uma curva-chave representativa é necessário medir a vazão do rio em situações de vazões baixas, médias e altas. A Figura 13. 9 apresenta, de forma gráfica, o resultado de 62 medições de vazão realizadas entre 1992 e 2002, no rio do Sono no posto fluviométrico Cachoeira do Paredão, no Estado de Minas Gerais. Cada ponto no gráfico corresponde a uma medição de vazão. Observa-se que há mais medições de vazão na faixa de cotas e vazões baixas. Isto ocorre porque as vazões altas ocorrem apenas durante as cheias, que podem ser bastante rápidas e raramente coincidem com os dias programados para as medições de vazão. Figura 13. 9: Dados de medição de vazão do rio do Sono, de 1992 a 2002. A curva chave é uma equação ajustada aos dados de medição de vazão. Normalmente são utilizadas equações do tipo potência, como a equação a seguir: ( )b0hhaQ −⋅= onde Q é a vazão; h é a cota; h0 é a cota quando a vazão é zero; e a e b são parâmetros ajustados por um critério, como erros mínimos quadrados. A Figura 13. 10 apresenta uma equação do tipo acima ajustada aos dados do rio do Sono. 151 Figura 13. 10: Equação do tipo potência ajustada aos dados de medição de vazão do rio do Sono de 1992 a 2002. A curva chave de uma seção de rio pode se alterar com o tempo, especialmente em rios de leito arenoso. Modificações artificiais, como aterros e pontes, também podem modificar a curva chave. Por isto é necessário realizar medições de vazão regulares, mesmo após a definição da curva. Em trechos de rios próximos à foz, junto ao mar, lago ou outro rio, a relação entre cota e vazão pode não ser unívoca, isto é, a mesma vazão pode ocorrer para cotas diferentes, e cotas iguais podem apresentar vazões diferentes. Nestes casos o escoamento no rio está sob controle de jusante. O nível do rio, lago ou oceano, localizado a jusante, controla a vazão do rio e não é possível definir uma única curva- chave. Este problema pode ser superado gerando uma família de curvas-chave, através da combinação da vazão, da cota local e da cota de jusante (Santos et al., 2001). É claro que esta alternativa é bastante trabalhosa e deve ser evitada, dando-se preferência à instalação de postos fluviométricos em locais livres da influência da maré, ou do nível de jusante. Extrapolação da curva-chave A curva-chave é a forma de obter informações sobre a vazão de um rio em um dado local com base na observação da cota da superfície da água neste mesmo local, o que simplifica a medição, já que é mais fácil medir cotas do que vazões. Uma extrapolação da curva-chave é necessária quando as cotas observadas no posto fluviométrico superam as máximas cotas medidas simultaneamente às medições de 152 vazão, ou quando as cotas observadas são inferiores às menores cotas medidas simultaneamente às medições de vazão, como mostra a Figura 13. 11. Figura 13. 11: Curva chave com extrapolação para cotas acima de, aproximadamente, 670 cm (Sefione, 2002). Quando a extrapolação é para cotas observadas superiores às utilizadas na elaboração da curva-chave, denomina-se extrapolação superior. Quando é para cotas inferiores às cotas utilizadas na elaboração da curva-chave, a extrapolação é chamada inferior. A extrapolação superior de curvas-chave é muito importante porque dificilmente existirão medições de vazão coincidentes com as maiores cheias observadas. Além disso, quando ocorrem as grandes cheias o rio extravasa da sua calha normal, inundando a região adjacente, modificando diversos aspectos do escoamento. Nesta situação a rugosidade aumenta devido à presença de obstáculos e vegetação, e a relação entre área da seção transversal e nível da água se modifica, pelo alargamento da largura inundada. Existem vários métodos para extrapolação superior da curva-chave. Um dos métodos mais conhecidos e utilizados é chamado de método de Stevens. Neste método considera-se que existe uma relação constante entre a vazão e o produto da área da seção vezes a raiz quadrada do raio hidráulico (como na equação de Chezy). 153 Figura 13. 12: Ilustração do princípio utilizado no Método de extrapolação da curva chave de Stevens (Sefione, 2002). Vertedores e calhas Em cursos d’água de menor porte é possível construir estruturas no leito do rio que facilitam a medição de vazão. Este é o caso das calhas Parshal e dos vertedores de soleira delgada. Vertedores de soleira delgada são estruturas hidráulicas que obrigam o escoamento a passar do regime sub-crítico (lento) para o regime super-crítico (rápido) para as quais a relação entre cota e vazão é conhecida. Assim, o nível a água medido a montante com uma régua ou linígrafo pode ser utilizado para estimar diretamente a vazão (Figura 13. 13). 154 Figura 13. 13: Vertedor triangular para medição de vazão em pequenos cursos d’água. Um vertedor triangular de soleira delgada com ângulo de 90º (Figura 13. 14), por exemplo, tem uma relação entre cota e vazão dada por: 5,2h42,1Q ⋅= onde Q é a vazão em m3.s-1 e h é a carga hidráulica em metros sobre o vertedor que é a distância do vértice ao nível da água (Figura 13. 14), medido a montante do vertedor, conforme indicado na Figura 13. 13. Esta relação pode ser utilizada diretamente, embora na maioria dos casos seja desejável a verificação em laboratório. Figura 13. 14: Vertedor triangular com soleira delgada em ângulo de 90º. A Calha Parshal é um trecho curto de canal com geometria de fundo e paredes que acelera a velocidade da água e cria uma passagem por escoamento crítico. A medição de nível é feita a montante da passagem pelo regime crítico, e pode ser relacionada diretamente à vazão. As calhas Parshal são dimensionadas com diferentes tamanhos, de forma a permitir a medição em diferentes faixas de vazão. A principal vantagem das calhas e dos vertedores é que existe uma relação direta e conhecida, ou facilmente calibrável, entre a vazão e a cota. A calha ou o vertedor tem a 155 desvantagem do custo relativamente alto de instalação. Além disso, durante eventos extremos estas estruturas podem ser danificadas ou, até mesmo, inutilizadas. Figura 13. 15: Calha Parshall para medição de vazão em pequenos córregos ou canais. Medição de vazão com equipamento Doppler Nos últimos anos as medições de velocidade de água com molinetes tem sido substituídas por medições de velocidade por efeito Doppler em ondas acústicas. Estes medidores funcionam emitindo pulsos acústicos (ultrasom) em uma freqüência conhecida, e recebendo de volta o eco do ultrasom, refletido nas partículas imersas na água A diferença das freqüências dos sons emitidos e refletidos é proporcional à velocidade relativa entre o barco e as partículas imersas na água. A suposição básica desse método é que as partículas dissolvidas na água se deslocam com a mesma velocidade do fluxo. Um sistema como o apresentado na Figura 13. 16, com um emissor de ultrasom e três receptores, dispostos da maneira apresentada na figura, permite estimar a velocidade da água num volume de controle segundo três eixos, perpendiculares aos sensores. A 156 partir destas componentes da velocidade no sistema de eixos do instrumento são calculadas as componentes transversal, longitudinal e vertical de velocidade na seção do rio. O medidor de velocidade pode ser utilizado com uma haste, como o ilutrado na Figura 13. 16, quando se deseja conhecer a velocidade de um ponto específico, ou quando o curso d’água é pequeno. Figura 13. 16: Medidor de velocidade Doppler para pequenos cursos d’água, com indicação do transmissor acústico, dos três receptores acústicos, e do volume de controle para o qual é válida a medida de velocidade. Em rios médios ou grandes, alguns medidores de velocidade usando o mesmo princípio do efeito Doppler são usados para estimar a velocidade em vários pontos de uma vertical e em várias verticais automaticamente, e substituem os molinetes com grandes vantagens. Estes instrumentos são chamados perfiladores, porque permitem medir o perfil de velocidades, desde a superfície até o fundo, com muita rapidez. Além disso, estes instrumentos comunicam-se diretamente a microcomputadores, transferem os dados de velocidade e calculam a vazão automaticamente, reduzindo substancialmente o tempo necessário para preencher planilhas no campo e para digitar estes dados, posteriormente, no escritório. A grande desvantagem destes instrumentos é o custo de aquisição. Apesar disto, estes equipamentos vêm se tornando cada vez mais comuns, e possivelmente levarão, em poucos anos, ao abandono completo das medições com molinetes. 157 No caso dos medidores perfiladores, a velocidade da água é medida em vários volumes de controle. A posição do volume de controle é controlada pelo tempo de viagem do pulso de ondas acústicas. O volume de controle aumenta de tamanho a medida que o local medido se afasta do instrumento, como mostra a Figura 13. 17. Figura 13. 17: Perfilador acústico por efeito Doppler para medir velocidade da água em várias posições. Os perfiladores podem ser utilizados acoplados a uma embarcação, tripulada ou não, que percorre a seção do rio de uma margem até a outra, lentamente. A velocidade da embarcação é medida pelo próprio perfilador, com base na resposta (eco) recebido do fundo do rio, cuja intensidade é maior do que o eco das partículas imersas na água e, portanto, fácil de distinguir pelo aparelho. A Figura 13. 18 apresenta uma medição de vazão realizada com um perfilador acústico Doppler no rio Solimões (Amazonas) no posto fluviométrico de Manacapuru (AM). Observa-se que uma faixa próxima à superfície não apresenta medições válidas e uma faixa junto ao fundo (entre as linhas pretas) também não apresenta medições válidas. A espessura desta faixa depende da freqüência com que trabalha o equipamento. Para equipamentos de baixa freqüência, adequados para rios profundos, esta faixa é relativamente grande. Para equipamentos de alta freqüência esta faixa é relativamente estreita. A faixa sem medições próxima à superfície deve-se ao fato que o aparelho precisa de um tempo mínimo para distinguir as respostas, o que exige uma distância mínima até o primeiro volume de controle. A faixa sem medições junto ao fundo ocorre porque nesta região começa a haver um efeito forte do eco junto ao fundo do rio. As medições acústicas são complementadas nestas faixas por estimativas baseadas em perfis teóricos de velocidade. O impacto destas estimativas na exatidão das vazões medidas é 158 relativamente pequeno se o equipamento utilizado tiver uma freqüência compatível com a profundidade do rio. Figura 13. 18: Resultado de medição de vazão com perfilador acústico
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