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SEMIOLOGIA DO IDOSO Alice Vitória Barros da Silva – MEDICINA – UNISL DINÂMICA DA VIDA E MORTE NO 3º MILÊNIO Aumento da extensão da vida Aumento do numero de idosos Familias menores e dispersas Sobrevida com incapacidade Medicalização da vida na velhice ✔ A população que mais cresce proporcionalmente é a dos muitos idosos, ou seja, de 80 anos e mais. ✔ Com o envelhecimento populacional, verifica-se a transição entre as principais causas de morbidade e mortalidade (transição nosológica), de tal modo que as doenças não transmissíveis e as causas externas passam a predominar sobre as doenças transmissíveis, pois, à medida que as pessoas alcançam idades avançadas, aumenta o risco de que elas adquiram doenças crônicas e desenvolvam incapacidades, acarretando importante sobrecarga ao sistema de saúde. ✔ No Brasil, o que tem sido observado é uma superposição entre as duas etapas, com aumento das doenças cardiovasculares, responsáveis pela maioria das mortes, que se somam às doenças transmissíveis, ainda endêmicas ou causando epidemias, como é o caso da malária, da febre amarela e da dengue. PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E CONCEITO DE IDOSO ✔ Do ponto de vista biológico, conceitua-se o envelhecimento como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte. ✔ O envelhecimento é progressivo, gradual e variável. ENVELHECIMENTO = VULNERABILIDADE + Variabilidade + Irreversibilidade ENVELHECEMOS DE FORMA IGUAL? ✔ O processo de envelhecimento é progressivo, gradual e, principalmente, variável. O fenótipo por ele determinado é o resultado de fenômenos intrínsecos ao organismo associados a fatores ambientais, ao estilo de vida, às condições nutricionais e à ocorrência de doenças. ✔ Desse modo, ninguém envelhece igual a outro da mesma espécie, mesmo que os seus genótipos sejam praticamente idênticos, como os gêmeos monozigótico. Declínio da Fertilidade Aumento da expectativa de vida Inversão da pirâmide populacional Declínio da Mortalidade IDOSO Impossível estabelecer o momento exato em que um indivíduo se torna idoso. Ninguém chega a uma determinada idade ou o processo é considerado completo Ele só termina ao final da vida ✔ OMS – idoso 65 anos ou mais, porém, países com expectativa de vida mais baixa, pode-se reduzir o limite para 60 anos. Tanto a ONU como a OMS adotam os seguintes limites cronológicos: ■ Idosos em países de renda média ou baixa: 60 anos ou mais ■ Idosos em países de renda alta: 65 anos ou mais ■ Muito idosos: 80 anos ou mais SENESCÊNCIA: Envelhecimento fisiológico SENILIDADE: Envelhecimento patológico ✔ A separação entre senescência e senilidade não é muito nítida; por isso, procura-se distribuir os idosos entre aqueles com envelhecimento bem-sucedido e aqueles com envelhecimento comum ou usual. Neste último, os fatores extrínsecos, como dieta, atividade física e condições psicossociais, intensificariam os efeitos do tempo sobre os órgãos e sistemas, ao passo que na forma de envelhecimento bem-sucedido, esses fatores extrínsecos não existiriam ou seus efeitos seriam de pequena importância MODIFICAÇÕES SISTÊMICAS NO IDOSO ✔ Os idosos usam suas reservas fisiológicas para manter a homeostase. ✔ Quando as reservas NÃO são necessárias para suprir aumento das demandas de doenças agudas, ocorre falência dos sistemas. ALTERAÇÕES DA CONSTITUIÇÃO CORPORAL COM O ENVELHECIMENTO Diminuição da massa óssea Diminuição da massa muscular (sarcopenia) Redução da água intracelular Aumento com redistribuição da gordura corporal, que se acumula nos omentos, lóbulos das orelhas, regiões paracardíaca e perirrenais Diminuição do tecido celular subcutâneo dos membros e aumento no tronco Aumento dos diâmetros da caixa torácica e do crânio Diminuição da estatura em cerca de 1 cm por década a partir dos 40 anos, em decorrência da acentuação das curvaturas da coluna vertebral e do achatamento dos arcos dos pés e dos discos intervertebrais. ✔ A imunidade celular declina, e ocorrem alterações da imunidade humoral, com aumento na prevalência de neoplasias e infecções e redução da resposta vacinal. Paradoxalmente, há maior predisposição à formação de autoanticorpos, processo conhecido como imunossenescência ✔ DEFORMIDADE PROGRESSIVA DA COLUNA VERTEBRAL EXAME FISICO PELE E FANEROS • Diminuição da espessura • Diminuição da elasticidade da epiderme e derme • Alteração do colágeno • Diminuição das fibras elásticas • Rede vascular visível • Redução do tecido subcutâneo com rede vascular mais visível • Redução de número e atividade das glândulas sudoríparas e sebáceas • Diminuição e alteração funcional dos melanócitos Melanose senil. Ocorre devido a redução dos melanocitos. Púrpura senil. Ocorre devido redução da espessura da pele e do subcultaneo onde com pequenos traumas surgem essas manchas vermelhas e salientes. CONSEQUENCIAS? Prejuízo na cicatrização; Diminuição na tensão da pele; Diminuição da capacidade proliferativa; Susceptibilidade a lesões como Ulceras por Pressão; Diminuição da microvasculatura; Diminuição na percepção sensorial Susceptibilidade a infecções. Canície: esbranquecimento dos cabelos. Calvície: diminuição da quantidade de bulbos capilares. Onicogrifose: unhas crescem mais lentamente e se tornam espessas e curvas. SISTEMA OSTEOARTICULAR E MUSCULAR ✔ Ocorre perda de tecido ósseo com diminuição do osso compacto e redução das laminas do osso trabecular. ✔ As suturas do crânio desaparecem e o crânio perde a elasticidade. ✔ Ocorre desgaste dos ossos maxilar e mandíbula. Observa-se anquilose das articulações costocondrais, fazendo com que a caixa torácica perca sua elasticidade e mobilidade. A espessura dos discos intervertebrais também diminui; com isso, acentuam-se as curvaturas da coluna vertebral, principalmente a torácica. As cartilagens articulares tornam-se mais delgadas e sofrem rachaduras superficiais. Perda de 1 a 2% da massa muscular ao ano após a sexta década de vida. SARCOPENIA: diminuição da massa e da força muscular Perda de peso cerebral: 1,4 a 1,7% por década, após os 15 anos; Lentificação da velocidade da condução nervosa; Redução progressiva e irreversível dos neurônios; Redução do tempo total de sono em decorrência da diminuição da duração e da frequência da fase 4 do sono não REM (aumentam-se os despertares noturnos) • Degeneração vascular amilóide; • Aparecimento de placas senis e degeneração neurofibrilar; • Comprometimento da neurotransmissão dopaminérgica e colinérgica. • Aparecimento de doenças: Alzheimer e Parkinson; • Acúmulo extracelular, em tecidos cerebrais: • De peptídeo beta-amiloide Depósitos de proteína TAU hiperfosforilada • Dorme cerca de 5h por noite; • Despertares frequentes (sono superficial); • Sonolência diurna, com cochilos frequentes; • Dorme cedo - acorda cedo; • Constantes queixas familiares. • O sistema cardiovascular sofre acentuada redução da sua capacidade funcional EXAME CLÍNICO DO IDOSO ASPECTOS PRÓPRIOS DO IDOSO • Tendência a ter múltiplas doenças • Tendência a ter doenças crônicas • Os sintomas da doença atual podem ser alterados por doenças preexistentes • As primeiras manifestações podem aparecer somente em fases avançadas • Doenças agudas mais graves e de recuperação mais lenta • Doenças com apresentação atípica • Deficiências funcionais que comprometem autonomia e independência • Maior risco de iatrogênia (sofrerdanos por tratamento ou investigações diagnósticas) • Fenômeno iceberg ✔ No momento de apresentar o plano terapêutico, o médico deve incluir um familiar ou o cuidador (pessoa que presta auxílio à outra em suas atividades da vida diária, que pode ser um familiar, amigo ou alguém contratado para essa finalidade) na discussão, mas a vontade do paciente deve ser soberana. PRINCIPIOS BASICOS • Idade cronológica guarda pouca relação com condições clínicas e prognóstico • Quanto maior a idade, maior o risco de invalidez • Existem estereótipos e preconceitos em relação à velhice • Muitos idosos tem seus próprios preconceitos - ’’é da velhice .... Não tem tratamento” • Envelhecer não é tornar-se criança novamente • Sintomas apresentados pelo paciente não são explicados por uma única doença • No momento de estabelecer o plano de cuidado deve incluir o cuidador ou familiar RECOMENDAÇÕES PRATICAS • Presença de familiar ou cuidador • Barreiras de linguagem • Conforto do paciente • Deficiência auditiva • Deficiência visual • Deficiência cognitiva ANAMNESE História longa e demanda muitos encontros para ser completadas Oportunidade de expressar suas preocupações e receber atenção é comprovadamente terapêutica Ideal ser atendido por uma equipe multidisciplinar É preciso assegurar-se da confiabilidade dos dados fornecidos pelo paciente Quando necessário deve-se requisitar a ajuda do familiar ou cuidador Portadores de múltiplas doenças crônicas e tendem a apresenta-las de forma atípica. Queixa do paciente X queixa do familiar TESTE DA SACOLA DE REMÉDIOS ✔ Os medicamentos que estão sendo usados e aqueles que foram utilizados recentemente pelo paciente merecem atenção especial. Os pacientes devem ser encorajados a levar os medicamentos ou, pelo menos, uma lista por escrito. ✔ Deve-se perguntar insistentemente sobre automedicação. PROBLEMAS QUE DEVEM SER AVALIADOS – IMPORTANTES NO INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO Deficiência de memória Distúrbios de comportamento Deambulação compulsiva (paciente que perambula) Tonturas Alterações da marcha e uso de equipamentos de adaptação (bengalas, andadores) Problemas com os pés Quedas Perda visual Perda auditiva Problemas dentários e uso de próteses Distúrbios alimentares, dietas especiais e perda de peso Modificações do sono Fadiga Dor Incontinência Úlceras de pressão Sintomas depressivos e ansiedade Sexualidade MEDICAMENTOS ✔ O aumento da gordura corporal, redução da água corporal, redução do metabolismo hepático e da excreção renal, aumentam significativamente o risco de reac ̧ões adversas a drogas e podem desencadear declínio funcional, incapacidades, internac ̧ão e óbito. ✔ Cuidados paliativos para alívio de sintomas como dor, dispneia, náuseas, vômitos, constipação intestinal, ansiedade e depressão devem ser instituídos logo que se tenha o diagnóstico de uma doença crônica sem perspectiva de cura. HISTÓRIA PREGRESSA Diagnósticos prévios, Internações, Cirurgias e os procedimentos diagnósticos, Tabagismo, Etilismo, Sexualidade, Atividade física, Direc ̧ão veicular, Imunização e Uso de órteses ou próteses. EXAME FÍSICO ✔ Deve ser completo e minucioso • Pacientes agitados ou em estado grave – exame mais direcionado na primeira avaliação, priorizando-se os problemas que oferecem risco à vida e que demandam intervenção terapêutica imediata; porém, deve ser completado o mais breve possível, inclusive com a realização da avaliação funcional. • Se inicia quando o paciente entra no consultório ✔ Observam-se postura, fácies, deambulação, gestos, modo de sentar e levantar, como ele se despe e acomoda-se na mesa para exame. ✔ É importante que o examinador se lembre de elevar a cabeceira da mesa de exame devido afecções que causam dispneia de decúbito. É necessário dispor de um pequeno travesseiro, porque muitos são portadores de artrose cervical ou de doença de Parkinson, que causam rigidez e dificultam o apoio da cabeça no mesmo plano do dorso. POSTURA E MARCHA ✔ Devemos lembrar que, com o avançar da idade, a cabeça desloca-se para frente e ocorre diminuição da lordose lombar normal. • Marcha senil: caracteriza-se por aumento da flexão dos cotovelos, cintura e quadril. Diminui também o balanço dos braços, o levantamento dos pés e o comprimento dos passos (marcha de pequenos passos) • Teste ”levantar e andar”: Paciente sentado em uma cadeira, você pede pra ele levantar e andar 3 metros com passos seguros e girar 180 graus e retornar, sentando- se na cadeira. Você cronometrar o tempo que esse idoso leva para realizar essa tarefa. O normal é até 20 segundos. FÁCEIS ✔ Algumas expressões fisionômicas que caracterizam fácies típicas de algumas doenças, como o hipotireoidismo, hipertireoidismo, depressão, e mesmo da síndrome parkinsoniana, podem não ser observadas nos idosos. PESO E ALTURA ✔ O peso nem tanto, mas a altura é um parâmetro quase sempre negligenciado no exame físico do paciente idoso. ✔ A estatura é provavelmente menor do que a que o paciente alcançou ao final de sua fase de crescimento. Isso resulta do encurtamento da coluna vertebral por redução da altura dos corpos vertebrais e dos discos intervertebrais, além do aumento de todas as suas curvaturas. Em algumas doenças, como a osteoporose, esse fenômeno acentua-se ainda mais HIDRATAÇÃO ✔ As alterações da pele (diminuição do turgor), da mucosa oral e da língua (menos umedecidas por diminuição da produção de saliva) e das conjuntivas (diminuição da secreção lacrimal) que ocorrem com o envelhecimento dificultam a avaliação do estado de hidratação do paciente idoso. No entanto, mesmo com tantas dificuldades, essa avaliação deve ser sempre feita, já que os distúrbios hidreletrolíticos ocorrem com mais frequência e são mais graves nessa faixa etária. PELE ✔ Pesquisar a existência de lesões sugestivas de maus-tratos (equimoses), de úlceras por pressão e as condições de higiene do paciente. ✔ A PELE SENIL apresenta diminuição da elasticidade, do turgor, da espessura, das secreções sudorípara e sebácea pela ação ambiental principalmente dos raios ultravioleta (podem ocorrer zonas de hipo e hiperpigmentação e de hiperqueratinização), além das afecções que frequentemente acometem os idosos (neoplasias, micoses). ✔ Devem-se buscar sinais de carências nutricionais, principalmente vitamínicas, pois elas são mais comuns nos idosos, destacando-se as alterações tegumentares da pelagra e do escorbuto. PRESSÃO ARTERIAL ✔ É um dado que não pode ser esquecido durante o exame físico do idoso. Com o envelhecimento, a pressão arterial sistólica eleva-se (hipertensão sistólica isolada do idoso), o que constitui um fator de risco para as doenças cerebrovasculares, além do fato de que, entre esses pacientes, a prevalência da hipertensão arterial essencial também é maior. HIPOTENSÃO POSTURAL E ORTOSTÁTICA ✔ É reconhecida quando ocorre uma redução de 20 mmHg ou mais na pressão sistólica e/ou 10 mmHg ou mais na diastólica ao passar-se da posição deitada para a posição de pé. ✔ Para detectá-la, é preciso obedecer à seguinte técnica: (1) determinar a pressão arterial do paciente em decúbito dorsal, depois de 2 a 3 min de descanso; (2) em seguida, com o paciente sentado, e, após ficar de pé, com intervalo de 1 e 3 min. (Se a suspeita de hipotensão postural for grande, pode-se fazer uma nova medida depois que o paciente der alguns passos.) ✔ É importante tomar o pulso e contar a frequência cardíaca durante todas as etapas da pesquisa de hipotensão postural, pois este pode ser um dado importante no diagnóstico etiológico. Em indivíduos normais, ela se eleva de 6 a 12 bpm na posição ereta. ✔ A falta de elevaçãoda frequência cardíaca na queda da pressão arterial indica falha do sistema nervoso autônomo. ✔ Acentuado aumento na frequência de pulso (maior que 20 bpm), na posição supina, sugere hipovolemia. EXAME DA CABEÇA E PESCOÇO Tamanho do crânio: ele pode aumentar na doença de Paget dos ossos Dentição / próteses Palpar tireoide Palpar e ausculta pulsos arteriais Palpar cadeias ganglionares e as paróridas EXAME DO TÓRAX • Cifose torácica • Alargamento ântero-posterior • DPOC, osteoporose • Diminuição do murmúrio vesicular • Nunca ruídos adventícios • Bulhas cardíacas hipofonéticas • Quarta bulha pode surgir sem significado patológico como consequência da redução da complacência do ventrículo esquerdo que acompanha o processo de envelhecimento • Estalido protossistólico e/ou sopro ejetivo • Sopro sistólico regurgitativo em foco mitral • Sopro diastólico • Estenose de aorta, o sopro quase sempre se acompanha de frêmito, alteração de pressão e pulsos • Os sopros diastólicos sempre indicam disfunção valvar. EXAME DO ABDOME • Palpar e auscultar o trajeto da aorta abdominal • Palpação suprapúbica: é importante nos casos de diminuição do volume urinário ou incontinência, sob pena de deixar passar uma bexiga distendida • Toque retal: devido as doenças prostáticas, os fecalomas e as neoplasias do reto EXAME DAS EXTREMIDADES • Deformidades: alterações da tíbia com arqueamento das pernas, são sugestivas de doença de Paget dos ossos. • Doenças osteoarticulares: nódulos de Heberden das articulações interfalangianas distais são comuns na osteoartrite, que também é uma doença mais frequente na velhice. • Trofismo muscular • Pulsos • Edema EXAME NEUROLÓGICO • Deve ser realizado em todos os idosos • Doenças neurológicas apresenta sintomas inespecíficos: como é o caso da doença de Parkinson, que pode ocorrer sem tremor e o paciente procurar o médico por depressão e/ou quedas. • Avaliar nervos de pares craniano e movimentação ocular • Força e trofismo muscular • Reflexos testados, podem estar diminuídos (patelares e aquileus) • Sinais de comprometimento piramidal e extrapiramidal: (sinal de Babinski, hiper- reflexia) e extrapiramidal (rigidez, tremores, coreia, bradicinesia) devem ser pesquisados, pois as doenças neurodegenerativas que acometem os idosos podem afetar esses sistemas. AVALIAÇÃO FUNCIONAL DO IDOSO AVALIAÇÃO GERIATRICA AMPLA (AGA) ✔ A Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), também denominada Avaliação Geriátrica Global (AGG), é uma expressão utilizada para denominar um procedimento de avaliação multidimensional, frequentemente interdisciplinar, que tem como objetivo determinar as deficiências, incapacidades e desvantagens apresentadas pelo paciente idoso, visando ao planejamento do cuidado e ao seguimento. • Padrão-ouro para o manejo da fragilidade do idoso. • Sua duração média varia de 60 a 90 minutos. • Necessária a aplicação de diversos instrumentos ou escalas de avaliac ̧ão funcional e de avaliac ̧ões específica. • Diagnóstico clínico-funcional deve ser capaz de reconhecer as incapacidades, tanto no que se refere à independe ̂ncia e autonomia nas atividades de vida diária (funcionalidade global) PRINCIPAIS OBJETIVOS DA AGA Melhorar a acurácia diagnóstica. Avaliar a capacidade funcional do indivíduo qualitativa e quantitativamente. Estabelecer parâmetros para acompanhamento do paciente. Orientar a decisão de medidas que visam preservar e restaurar a saúde. Identificar fatores que predisponham à iatrogenia e estabelecer medidas para sua prevenção. Identificar os indivíduos de alto risco e orientar quanto a seus riscos. Servir de guia para modificações e adaptações do ambiente em que o idoso vive, visando à preservação de sua independência. Estabelecer critérios para indicar reabilitação, internação, institucionalização e alta ✔ Os idosos considerados de alto risco para rápida deterioração clínica e cuja avaliação pela AGA é imperativa apresentam as seguintes características: o Têm idade superior a 80 anos o Vivem sós o Estão de luto ou deprimidos o Apresentam deficiência cognitiva o Sofrem quedas frequentes o Têm incontinência urinária e/ou fecal o Não souberam lidar adequadamente com acontecimentos do passado e com as perdas que uma vida longa pode trazer (resiliência diminuída). ✔ Os parâmetros especialmente avaliados na AGA são os seguintes: Equilíbrio, mobilidade e risco de quedas: Equilibrio estático x equilíbrio dinâmico ( Teste de levantar e andar). Durante o teste, observam-se a mobilidade, o equilíbrio e a marcha do paciente. ✔ Os escores e sua interpretação são: 1 – normalidade, 2 – anormalidade leve, 3 – anormalidade média, 4 – anormalidade moderada, 5 – anormalidade grave. ✔ Indivíduos com pontuação de 3 e mais apresentam risco aumentado de quedas. ✔ Os escores e sua interpretação são: ≤ 10 segundos – indivíduo independente sem alterações no equilíbrio; 11 a < 20 segundos – independente em transferências básicas com baixo risco de quedas; ≥ 20 segundos – dependente em várias atividades de vida diária e na mobilidade com alto risco de quedas ✔ Outro teste muito utilizado é o Teste de equilíbrio e marcha de Tinetti, que na adaptação realizada no Brasil recebeu o nome de POMA-Brasil. ✔ Nas situações de comprometimento das sensibilidades proprioceptivas conscientes ou da esfera vestibular, utiliza-se a pesquisa do sinal de Romberg, realizada com o indivíduo em posição ereta, pés unidos e olhos fechados. O teste é positivo quando há o aparecimento de oscilações corpóreas, podendo ocorrer queda em qualquer direção. Pode ser necessária a realização de manobras especiais, como a colocação de um pé na frente do outro ou o apoio em um só pé, sendo aqui denominado Romberg sensibilizado ✔ A massa muscular é avaliada pela circunferência da panturilha ✔ A avaliação da força muscular de um determinado segmento do corpo pode ser feita solicitando ao paciente que realize determinado movimento contra a resistência oposta pelo examinador, sendo que a quantificação vai de grau 0 (nenhum movimento do músculo) até grau 5 (força normal). Nas situações em que é impossível a realização da força de preensão palmar (artrite, sequela de AVC), pode-se realizar o chamado “teste da subida da cadeira”, que mede a quantidade de tempo necessário para o paciente subir 5 vezes a partir da posição sentada. Neste caso, o ponto de corte para sarcopenia é > 15 segundos para 5 subidas ✔ Função cognitiva e condições emocionais COGNIÇÃO: • É́ um conjunto de capacidades mentais que permitem ao indivíduo compreender e resolver os problemas do cotidiano. • Inicia-se com a investigac ̧ão sobre a presenc ̧a de esquecimento. • Inicialmente devem ser valorizados a auto-percepção, o tipo e a evoluc ̧ão do esquecimento. • A presença de esquecimento percebido pelo paciente (P) de forma desproporcional à percepção dos familiares (F) sugere duas possibilidades: demência ou depressão. • F>P o diagnóstico de demência deve ser considerado. • F<P o diagnóstico mais provável é a depressão ou ansiedade. • F=P o diagnóstico mais provável é de comprometimento cognitivo leve. • Tipos de esquecimento: tipo memória de trabalho e tipo memória episódica. • O esquecimento tipo memória de trabalho é frequente entre os idosos, pois tende a aumentar com o envelhecimento. • O esquecimento do tipo memória episódica é mais preocupante, pois traz repercussões mais evidentes nas tarefas do cotidiano mais complexas e sugere o diagnóstico de demência. Frequentemente associado ao “sinal do pescoço” (Head Turning Sign) ou “sinal do olhar para o lado”. • O caráter progressivo do esquecimento deve ser valorizado como uma forte evide ̂ncia de doenc ̧a neuro degenerativa.✔ No Brasil, em 2003, propôs a padronização do MEEM • Por escolaridade • Para analfabetos: 20 • Para 1 a 4 anos: 25 • Para 5 a 8 anos: 26,5 • Para 9 a 11 anos: 28 • Para mais de 11 anos: 29 ✔ Outros instrumentos de rastreio: teste do relógio, teste de fluência verbal semântica (animais), teste de memória de figuras e o teste de lista de palavras TESTE DO RELÓGIO • Mais fácil aplicação. Reflete o funcionamento frontal e temporoparietal. • Avalia habilidades visuoespaciais / construcionais • Sensibilidade de 78% e especificidade de 96% ✔ Capacidade funcional: capaz de realizar atividades de vida diária (AVDs), tanto as básicas quanto as instrumentais, sendo mensuradas por instrumentos de avaliação específicos (escalas e testes) HUMOR/COMPORTAMENTO ✔ O humor é uma função indispensável para a preservação da autonomia do indivíduo, sendo essencial para a realizac ̧ão das atividades de vida diária. ✔ O espectro dos problemas associados ao rebaixamento do humor ou baixa motivac ̧ão varia desde a tristeza isolada até a depressão maior. • Síndrome psiquiátrica caracterizada por humor deprimido, perda do interesse ou prazer, alterações do funcionamento biológico, com repercussões importantes na vida do indivíduo e com uma duração de meses a anos. ✔ Fluência verbal: Solicita-se que o indivíduo diga o maior número de itens de uma categoria semântica (p. ex., animais, frutas) ou fonêmica (palavras indicadas por determinada letra) durante 1 minuto. ✔ O escore é a soma do número de itens corretos (excluindo-se as repetições). Indivíduos normais com escolaridade menor que 8 anos devem falar no mínimo 9 itens, e os com escolaridade de 8 e mais anos, mínimo de 13 itens. ✔ Deficiências sensoriais: teste do sussurro para deficiência auditiva. Deficiências visual e auditiva têm importância fundamental na funcionalidade do idoso. ✔ Perguntas sobre déficit visual, a avaliação da visão pode ser feita solicitando que o paciente leia palavras impressas de diversos tamanhos, em uma revista ou jornal. A melhor opção, no entanto, é a utilização do Cartão de Jaeger, que é colocado a 35 cm do indivíduo, testando um olho de cada vez. O rastreio é positivo quando o indivíduo é incapaz de ler com o olho testado além de 20/40 no cartão. ✔ Condições socioambientais: ✔ Utilizados para avaliar a satisfação do indivíduo com a família e os amigos. São compostos por cinco perguntas que se repetem nos dois questionários, apenas sendo substituída a palavra “familiares” por “amigos” ✔ Estado e risco nutricionais: A avaliação nutricional é realizada pela história clínica, por exame físico, medidas antropométricas, exames laboratoriais, escalas e, em alguns casos, exames que medem a composição corporal, como a bioimpedância e a densitometria corporal total. ✔ Avaliar: perda ou ganho de peso, alterações do padrão alimentar, sintomas gastrintestinais, avaliação da capacidade funcional, demanda metabólica, antecedentes patológicos, uso de medicamentos, história social, história dietética. ✔ Avaliar peso, altura, IMC, circunferência abdominal, circunferência da cintura, circunferência do braço, circunferência da panturrilha. ✔ Polifarmácia e medicamentos inapropriados: Ressalta-se que a utilização de cinco ou mais medicamentos pode ser necessária e correta, mas mesmo assim o risco de eventos adversos é aumentado. ✔ Outro item a ser avaliado é a utilização de medicamentos inapropriados para o idoso, aqueles em que não há evidência clara de eficácia ou que os riscos excedam os benefícios clínicos, podendo ser substituídos por outros. ✔ Multimorbidades: Definida como a presença de duas ou mais doenças crônicas no mesmo indivíduo. Como a prevalência de doenças crônicas aumenta com a idade, no indivíduo idoso a presença de multimorbidades é muito frequente, o que aumenta a possibilidade de desfechos desfavoráveis, além da complexidade terapêutica. ✔ Autoavaliação de saúde: Diversos estudos demonstram relação direta entre a autoavaliação de saúde e indicadores da capacidade funcional, destacando-se relação com atividades instrumentais de vida diária (AIVDs), velocidade de marcha e força de preensão palmar. Ou seja, quanto pior cada parâmetro, pior a autoavaliação de saúde e vice-versa. Nos pacientes em que há comprometimento da cognição, esse parâmetro não tem como ser avaliado (sem condições). ✔ Uma sugestão de aplicação é perguntar ao paciente o que ele acha de sua saúde e oferecer as seguintes opções: ( ) Muito boa; ( ) Boa; ( ) Regular; ( ) Ruim; ( ) Muito ruim; ( ) Sem condições de responder ✔ Outros parâmetros CLASSIFICAÇÃO CLÍNICO FUNCIONAL ✔ Em 1963, Katz (Katz et al., 1963) desenvolveu um índice capaz de estratificar os indivíduos conforme o graude depende ̂ncia nas atividades de vida diária relacionadas ao autocuidado. • Independente: realiza todas as atividades básicas de vida diária de forma independente; • Semi-dependente: apresenta comprometimento de uma das func ̧ões (banhar-se e/ou vestir-se e/ou usar o banheiro); • Dependente incompleto: apresenta comprometimento de uma das func ̧ões vegetativas simples (transferência e/ou contine ̂ncia), além de ser dependente para banhar-se, vestir-se e usar o banheiro • Dependente completo: apresenta comprometimento de todas as funções influenciadas pela cultura e aprendizado e, também, das func ̧ões vegetativas simples, incluindo a capacidade de alimentar-se sozinho. Representa o grau máximo de dependência funcional. < 5 pontos = normal 5-10 pontos = depressão leve > 10 pontos = depressão moderada a grave MAUS TRATOS ✔ TIPOS: Abuso físico (tapas, beliscões, contusões, queimaduras, contenção física) Abuso psíquico ou emocional (insultos, humilhações, tratamento infantilizado, amedrontamentos) Abuso material (apropriação indevida de proventos, dinheiro, bens, propriedades) Abuso sexual (contato sexual de qualquer tipo, sem consentimento) Negligência (não fornecer os cuidados de que a pessoa necessita SITUAÇÕES QUE SUGEREM MAUS TRATOS Lesões físicas (contusões, lacerações, hematomas, feridas cortantes, queimaduras, fraturas inexplicáveis) Descuido com a higiene Desidratação e desnutrição difíceis de serem explicadas O paciente é levado ao hospital por outra pessoa que não seu cuidador Explicações vagas de ambas as partes sobre quaisquer tipos de lesões Diferenças entre a história relatada pelo paciente e a contada pelo familiar ou cuidador Demora entre o aparecimento dos sintomas ou lesão e a solicitação de atendimento médico Visitas frequentes ao médico por piora de uma doença crônica, apesar de tratamento correto FATORES DE RISCO 1. Do idoso Doença e queda funcional (fragilidade) Alteração cognitiva Distúrbio de comportamento Incontinência Distúrbio do sono 2. Do cuidador Toxidependência Etilismo Transtorno mental Dependência material em relação à vítima Ignorância e incapacidade Sobrecarga de trabalho 3. Do ambiente Carência de recursos materiais Isolamento social Ambiente violento EXAMES COMPLEMENTARES ✔ Ao interpretar o resultado de exame de um idoso, dois tipos de erro devem ser evitados: por excesso e por falta. A regra mais importante é valorizar os dados obtidos do exame clínico HEMOGRAMA ERITRÓCITOS LEUCÓCITOS PLAQUETAS VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO (VHS) FERRO SÉRICO E FERRITINA ELETROFORESE DE PROTEINAS UREIA, CREATININA E CLEARANCE DA CREATININA ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (ATS OU TGO), ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT OU TGP), FOSFATASE ALCALINA E AMILASE. ELETROLITOS ACIDO URICO COAGULAÇÃO GLICEMIA E TESTE DE TOLERANCIA A GLICOSE LIPIDIOS SANGUINEOS HORMONIOS SEXUAIS FUNÇÃO TIREOIDIANA REAÇÕES SOROLOGICAS PRA SIFILIS E PESQUISAS DE AUTOANTICORPOS EXAME DE URINA DOSAGEM DE VITAMINAS GASOMETRIA ARTERIAL ELETROCARDIOGRAMA RADIOGRAFIA DE TÓRAX TESTE ERGOMETRICO ECOCARDIOGRAMA RADIOGRAFIA ABDOMINAL ULTRASSON ABDOMINAL RADIOGRAFIA DO CRÂNIO ELETROENCEFALOGRAMA TC DE CRANIO E RNM EXAME DE LIQUOR SINDROMES GERIÁTRICAS ✔ Alguns problemas clínicos, comuns na velhice, com múltiplas causas, curso crônico, embora não impliquem risco à vida iminente, comprometem a qualidade de vida e constituem um desafio diagnóstico e terapêutico. ✔ Esses problemas inicialmente receberam a denominação de “gigantes da geriatria” ou “5 Is”, e compreendiam insuficiência cognitiva, incontinência urinária e/ou fecal, instabilidade postural e quedas, imobilidade e iatrogenia. ✔ As principais características de uma síndrome geriátrica são: É mais frequente em idosos e sua prevalência aumenta com a idade. Sua apresentação clínica resulta não só de uma única doença bem definida, pois é multifatorial Não se enquadra em categorias distintas de doenças Associa-se a desfechos desfavoráveis, como perda funcional, incapacidade, dependência, necessidade de cuidados de longa duração, hospitalizações e morte Aumenta o risco de que doenças, em especial as afecções agudas, manifestem-se de forma atípica Pode ocorrer concomitantemente e/ou compartilhar fatores de risco com outra síndrome geriátrica Contribui para o aparecimento de outra síndrome geriátrica Seu tratamento adequado requer uma abordagem multidimensional.
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