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Análise dos discursos da Assembleia Geral da ONU Laura Pinheiro Soldatelli O presidente Donald Trump inicia seu discurso citando os grandes feitos de seu governo até então. Sem nenhuma modéstia, ele considera a sua administração a que realizou mais feitos na história dos EUA, e comentou sobre o crescimento da economia, segurança, força militar, número de empregos e produção de energia. Disse que busca atingir a paz e prosperidade com a cooperação entre os países, enfatizando diversas vezes a importância da independência e da soberania. Mais uma vez engrandecendo seus próprios feitos, Trump falou sobre o seu encontro com o líder norte coreano Kim Jong-un e o elogiou pela atitude de aproximação, visto que agora os países se encontram em boas relações diplomáticas. Sobre o conflito na Síria, o presidente estadunidense criticou o governo de al-Assad e pediu por uma solução política em defesa do povo sírio. Também criticou o Irã pelo seu programa de armas nucleares e relembrou que os EUA aplicaram sanções ao Irã por causa disso, pedindo o suporte de todas as demais nações para isolar o país enquanto ele continuar a desenvolver seu programa nuclear. Trump declarou que irá renegociar acordos comerciais que estão sendo desfavoráveis aos EUA devido ao déficit da balança comercial, principalmente em relação à China, intensificando uma postura protecionista. No que diz respeito à temática migratória, destacou os problemas da migração ilegal tanto para os países quanto para os migrantes, e afirmou que isso deve ser regulado por cada Estado, e não por um órgão internacional. Os EUA foram o único membro da ONU que não assinou o pacto global para migração, firmado em julho deste ano, mais um sinal da sua tendência contra o multilateralismo, além do seu velho problema com a imigração do México, Oriente Médio, etc. Falou sobre as ameaças da migração descontrolada e logo em seguida (não por acaso) começou a discorrer sobre a tragédia do regime socialista repressivo de Nicolás Maduro. O presidente convidou todas as nações a resistir ao socialismo e se unirem para recuperar a democracia na Venezuela, e anunciou a aplicação de novas sanções ao país. O discurso foi encerrado com a reiteração dos valores da liberdade, independência, auto governança, soberania e amor e lealdade ao seu país, característicos do perfil de Trump. Mais uma vez, os EUA parecem querer ditar as regras da dinâmica internacional e interferir mesmo onde não têm relação direta. Utilizando de seu poder para aplicar sanções econômicas e “chantagens”, como recentemente retirou recursos americanos que eram investidos em hospitais palestinos, por exemplo. Sergey Lavrov, o ministro das relações exteriores da Rússia, fez um discurso crítico ao intervencionismo do ocidente e mais focado nos problemas da região do seu continente. Falando de Oriente Médio, valorizou o papel da Rússia nas negociações de paz diplomáticas com a Síria e defendeu a coexistência de dois Estados para Israel e Palestina. Para mostrar a integração da Rússia com o Oriente Médio e o seu apoio à preservação da paz na região, o diplomata citou a cooperação russa com a Liga dos Estados Árabes e a Organização de Cooperação Islâmica. Relembrando o aniversário do Acordo de Munique, Sergey reiterou o repúdio aos grupos de apologia ao nazismo. Alertou para o crescimento do nacionalismo radical na Ucrânia e a discriminação de minorias étnicas no país. Acusou os países do ocidente de usarem o poder da OTAN para aumentar sua influência na região dos Bálcãs, e mais especificamente sobre Kosovo declarando como uma “base militar americana” a presença militar que foi autorizada pelo Conselho de Segurança da ONU. O diplomata declarou o apoio da Rússia à aproximação das Coreias, ao seu desenvolvimento, paz e segurança e juntamente com a ONU defende a desnuclearização da península. O que é contraditório pois não podemos esquecer que a Rússia (assim como os EUA) é um dos 9 países que possuem armas nucleares. Defendeu a importância do diálogo e das negociações pacíficas na resolução de controvérsias. O ministro das relações exteriores exteriores chinês, Wang Yi, começa seu discurso falando das mudanças pelas quais o mundo vem passando, sobre manter a política multilateral ou isolacionista, a ordem mundial ou deixá-la ruir, e ele mesmo dá a resposta: a China prefere o multilateralismo. Com sua integração ao sistema econômico global e contribuição de mais de 30% para o crescimento do mesmo, ele pediu por uma cooperação que seja benéfica para todas as partes. O ministro defendeu a união, justiça e igualdade entre os países, e que a cooperação internacional seja regida por regras, leis e ordem para que tenham credibilidade. Solicitou que os demais Estados paguem suas contribuições à ONU. Falando em paz e segurança global, Wang Yi declarou o apoio chinês à aproximação das Coreias pedindo pela sua desnuclearização. Sobre o conflito entre Palestina e Israel, disse que apoia uma resolução com dois Estados e contribui com assistência humanitária para os esforços de pacificação da região. Reiterou a necessidade de se ter um comércio internacional justo e que beneficie todas as partes, visto que o protecionismo e unilateralismo (uma provável indireta para os EUA) são prejudiciais à integração global. Afirmou que a China não vai recuar em relação às taxações norte americanas, que são uma amostra do protecionismo de Trump criticado por Sergey. Em favor do desenvolvimento sustentável, o discurso cobrou o cumprimento das medidas do Tratado de Paris. Para encerrar, destaque ao crescimento chinês nos últimos 40 anos em saúde, infraestrutura, economia, etc. E o papel da China na cooperação econômica global com a sua redução de tarifas para facilitar o comércio com outros países. A Rússia critica o intervencionismo do ocidente principalmente em questões militares da OTAN quando tocam na sua área de influência, a Eurásia. Sendo essa região um dos seus principais focos de desenvolvimento cooperativo econômico com os demais países. Nota-se no discurso desse país (e da China também) questões diferentes das abordadas pelos EUA por exemplo, claramente pela diferença oriente-ocidente. Rússia e China defendendo o multilateralismo se sentindo prejudicados pelo isolacionismo estadunidense. EUA se afastando de instituições internacionais para poder aplicar suas próprias diretrizes migratórias. Enquanto Rússia e China alegam defender soluções pacíficas para o conflito Israel-Palestina, Trump declara Jerusalém capital de Israel, inflamando ainda mais a controvérsia. Porém, os EUA vêm pressionando muito mais a Síria para solucionar a guerra do que as outras duas potências em questão que têm interesses comerciais com a Síria. É evidente que os interesses individuais pesam na hora de se posicionar sobre a política mundial, e que não se trata apenas de “defender a paz global”.
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