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A Geografia do Pará em Múltiplas Perspectivas: Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial

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0 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
‘ 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 1 
 
Coordenadores 
Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol 
Everaldo Santos Melazzo 
 
Organizadores 
Antonio Cezar Leal 
Carlos Alexandre Leão Bordalo 
João Osvaldo Rodrigues Nunes 
 
Colaboradora 
Leonice Seolin Dias 
 
A GEOGRAFIA DO PARÁ EM 
MÚLTIPLAS PERSPECTIVAS 
Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
 
1a edição 
 
 
 
 
TUPÃ-SP 
ANAP 
2017 
2 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Editora 
 
 
ANAP - Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista 
Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos 
Fundada em 14 de setembro de 2003 
Rua Bolívia, nº 88, Jardim América, 
Cidade de Tupã, Estado de São Paulo. 
CEP 17.605-310 
www.editoraanap.org.br 
www.amigosdanatureza.org.br 
editora@amigosdanatureza.org.br 
 
Revisor ortográfico - Maurício Dias Marques 
Editoração e diagramação - Leonice Seolin Dias; Sandra Medina Benini 
Capa: Vila da Barca, Belém-PA. Autor: José Queiroz Miranda Neto (2008). 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
G298 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas: políticas públicas, 
gestão e desenvolvimento territorial [recurso eletrônico] / coordenadores 
Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol, Everaldo Santos Melazzo; 
organizadores Antonio Cezar Leal, Carlos Alexandre Leão Bordalo, João 
Osvaldo Rodrigues Nunes; colaboradora Leonice Seolin Dias - Tupã: ANAP, 
2017 
 
 228 p; il.; 14.8x21cm 
 ISBN: 978-85-68242-63-6 
 
 
 1. Políticas públicas. 2. Gestão. 3. Desenvolvimento territorial. 4. 
Estado do Pará. I. Hespanhol, Rosângela Aparecida de Medeiros. II. 
Melazzo, Everaldo Santos. III. Leal, Antonio Cezar. IV. Bordalo, Carlos 
Alexandre Leão. V. Nunes, João Osvaldo Rodrigues. VI. Dias, Leonice 
Seolin. VII. Título. 
 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e 
Tratamento da Informação - Diretoria Técnica de Biblioteca e 
Documentação - UNESP, Campus de Presidente Prudente 
Alessandra Kuba Oshiro Assunção - CRB-8/9013 
 
Índice para catálogo sistemático 
Brasil: Geografia 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 3 
 
Coordenadores e Organizadores 
 
 
Coordenadores 
 
Rosângela Aparecida de Medeiros Hespanhol 
Docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, Campus de Presidente Prudente; coordenadora 
do GEDRA e bolsista produtividade (PQ) do CNPq. Possui mestrado e doutorado em Geografia pela UNESP 
de Rio Claro e pós-doutorado pelo Centre de Recherche sur le Brèsil Contemporain (CRBC) da Ècole des 
Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) de Paris – França. Atua nas áreas de Geografia Humana e 
Agrária. Endereço eletrônico para contato: rosangel@fct.unesp.br 
 
Everaldo Santos Melazzo 
Economista pela Universidade Federal de Uberlândia - MG. Doutor em Geografia pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho e Mestre em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do 
Rio de Janeiro. Bolsista Produtividade do CNPq -2. É professor da Universidade Estadual Paulista - Unesp em 
Presidente Prudente- SP, junto ao Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente e docente do 
Programa de Pós-Graduação em Geografia. Membro do Conselho Fiscal da Associação Nacional de Pesquisa 
e Pós-Graduação em Geografia. Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Geografia 
acadêmico da FCT/Unesp. 
 
 
Organizadores 
 
Antonio Cezar Leal 
Geógrafo, com especialização em Ensino de Geociências, Mestre em Geociências e Meio ambiente e Doutor 
em Geociências. Professor nos cursos de graduação em Geografia, Engenharia Ambiental e Arquitetura e 
Urbanismo e dos Programas de Pós-Graduação em Geografia (Acadêmico e Mestrado Profissional) da 
Faculdade de Ciências e Tecnologia/Universidade Estadual Paulista - Campus de Presidente Prudente. 
Coordenador do Grupo de Pesquisa Gestão ambiental e Dinâmica Socioespacial - GADIS, com projetos de 
pesquisa e de extensão universitária sobre gerenciamento de recursos hídricos e gerenciamento integrado 
de resíduos sólidos urbanos, realizados com apoio do CNPq, CAPES, FEHIDRO e FAPESP. Pesquisador do 
CNPq e representante da UNESP em colegiados do sistema de gerenciamento de recursos hídricos. 
 
Carlos Alexandre Leão Bordalo 
Geógrafo pela Universidade Federal do Pará, bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Pará, 
especialização em Gestão Ambiental pela Universidade Federal do Pará, mestrado em Geografia pela 
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, e doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico 
Úmido pela Universidade Federal do Pará. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Pará, 
diretor da Faculdade de Geografia e Cartografia - FGC/UFPA, professor adjunto do Programa de Pós-Graduação 
em Geografia - PPGEO/UFPA, professor colaborador da pós-graduação do Núcleo de Meio Ambiente - 
NUMA/UFPA, professor colaborador da pós-graduação da Faculdade Integrada Brasil Amazônia 0 FIBRA 
 
Joao Osvaldo Rodrigues Nunes 
Geógrafo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1990), doutorado em Geografia pela 
Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (2002), Pós-doutorado pela Universidade de Alicante, 
Espanha (2008-2009) e Livre Docência em Geografia Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de 
Mesquita Filho (2014). Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de 
Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP/FCT), sendo Bolsista 
de Produtividade em Pesquisa 2 do CNPq. Orientador de mestrado e doutorado no Programa de Pós-
graduação em Geografia da UNESP/FCT (CAPES-nota 7). Tem experiência na área de Geografia Física, com 
ênfase em Geomorfologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Geomorfologia, mapeamento 
geomorfológico, erosão, depósitos tcnogênicos e Ambiente. 
4 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 5 
 
Conselho Editorial Interdisciplinar 
 
 
 
Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana – UNOESTE 
Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva 
Prof. Dr. Alexandre França Tetto – UFPR 
Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa – UFVJM 
Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González – UNEMAT 
Profª Drª Alina Gonçalves Santiago – UFSC – UFV 
Profª Drª Aline Werneck Barbosa de Carvalho 
Profª Drª Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão – UFPA 
Profª Drª Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa – IFAC 
Profª Drª Ana Paula Santos de Melo Fiori – IFAL 
Prof. Dr. André de Souza Silva – UNISINOS 
Profª Drª Andrea Holz Pfutzenreuter – UFSC 
Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira – UFAM 
Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos – UPE 
Profª Drª Arlete Maria Francisco – FCT/UNP 
Profª Drª Beatriz Ribeiro Soares – UFU 
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada – 
Prof. Dr. Carlos de Castro Neves Neto –UNESP/PP 
Profª Drª Carmem Silvia Maluf – Uniube 
Profª Drª Célia Regina Moretti Meirelles – UPM 
Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti – FCT/UNESP 
Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi – UFSC 
Prof. Dr. Crescencio L. Calva Alejo – Pesquisador/México 
Profª Drª Cristiane Miranda Martins – IFTO 
Profª Drª Daniela de Souza Onça – FAED/UESC 
Profª Drª Denise Antonucci – UPM 
Profª Drª Diana da Cruz Fagundes Bueno – UNITAU 
Prof. Dr. Edson L. Ribeiro – Unieuro –Ministério das Cidades- BR 
Profª Drª Eliana Corrêa Aguirre de Mattos – UNICAMP 
Profª Drª Eloisa Carvalho de Araujo – UFF 
Profª Drª Eneida de Almeida – USJT 
Prof. Dr. Erich Kellner – UFSCar 
Profª Drª Fátima Aparecida da SIlva Iocca – UNEMAT 
Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo – Centro Universitário AGES 
Profª Drª Fernanda Silva Graciani – UFGD 
Profª Drª Flávia Akemi Ikuta – UMS 
Profª Drª Flávia Maria de Moura Santos – UFMT 
Prof. Dr. Francisco Fransualdode Azevedo – UFRN 
Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior – UESPI 
Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula – UFJF 
Prof. Dr. Frederico Canuto – UFMG 
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai – UFSCar 
Profª Drª Gelze Serrat de Souza Campos Rodrigues – UFU 
Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto – UEM 
Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo – UFMS 
Prof. Dr. Gerardo Bernache Pérez – CIESAS – México 
Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza – UFU 
Profª Drª Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia – FCT/UNESP 
Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto – UEA 
Prof. Dr. João Carlos Nucci – UFPR 
Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria – FAAC/UNESP 
Prof. Dr. José Aparecido dos Santos – FAI 
Prof. Dr. José M. Mateo Rodriguez – Univ. de Havana – Cuba 
Prof. Dr. José Sobreiro Flho – UFPA 
Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg – UPC/Barcelona, 
Espanha 
Profª Drª Josinês Barbosa Rabelo – UFPE 
Profª Drª Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia – UFPB 
Profª Drª Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro – FEA 
Prof. Dr. Júnior Ruiz Garcia – UFPR 
Profª Drª Karin Schwabe Meneguetti – UEM 
Profª Drª Leda Correia Pedro Miyazaki – UFU 
Profª Drª Lidia Maria de Almeida Plicas – IBILCE/UNESP 
Profª Drª Lisiane Ilha Librelotto – UFS 
Profª Drª Luciana Ferreira Leal – FACCAT 
Profª Drª Luciana Márcia Gonçalves – UFSCar 
Prof. Dr. Marcelo Campos – FCE/UNESP 
Prof. Dr. Marcelo Real Prado – UTFPR 
Profª Drª Maria José Martinelli Silva Calixto – UFGD 
Profª Drª Márcia Eliane Silva Carvalho – UFS 
Profª Drª Marcia Aparecida da Silva Pimentel – UFPA 
Prof. Dr. Márcio José Catelan –UNESP/PP 
Prof. Dr.Marcio Douglas Brito Amaral – UFPA 
Profª Drª Margareth de Castro Afeche Pimenta – UFSC 
Profª Drª Maria Ângela Dias – UFRJ 
Profª Drª Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci – IAU 
Profª Drª Maria José M. Silva Calixto – UFGD 
Profª Drª Maria Augusta Justi Pisani – UPM 
Profª Drª Maria Betânia M. Amador – UPE – Campus Garanhuns 
Profª Drª María Glória F. Rodríguez – IEA/Cienfuegos – Cuba 
Profª Drª Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE 
Profª Drª Maria José Neto – UFMS 
Profª Drª Maristela Gonçalves Giassi – UNESC 
Profª Drª Marta Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira – UFMT 
Profª Drª Martha Priscila Bezerra Pereira – UFCG 
Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira – UNINOVE 
Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo – UEA 
Prof. Dr. Natalino Perovano Filho – UESB 
Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres – FAU/USP 
Profª Drª Olivia de Campos Maia Pereira – EESC – USP 
Profª Drª Onilda Gomes Bezerra – UFPE 
Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha – FCT/UNESP 
6 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Profª Drª Gianna Melo Barbirato – UFAL 
Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara – UFSCar 
Profª Drª Risete Maria Queiroz Leao Braga – UFPA 
Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho – UFGD 
Prof. Dr. Rodrigo Barchi – UNISO 
Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos – UFSC 
Prof. Dr. Rodrigo José Pisani – UNIFAL-MG 
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo – UFMA 
Prof. Dr. Salvador Carpi Júnior – UNICAMP 
Prof. Dr. Sérgio Augusto Mello da Silva – FEIS/UNESP 
 
Prof. Dr. Renan Antônio da Silva – UNESP – IBRC 
Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino – UNICAMP 
Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho – FEIS/UNESP 
Profª Drª Sílvia Carla da Silva André – UFSCar 
Profª Drª Silvia Mikami G. Pina – Unicamp 
Profª Drª Simone Valaski – UFPR 
Profª Drª Tânia Paula da Silva – UNEMAT 
Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira – FURG 
Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto – FCAE/UNESP 
Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior – UFCG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 7 
 
Sumário 
 
 
 
 
Prefácio 
 
 
09 
Apresentação 
 
13 
Capítulo 1 
AGENTES, PROCESSOS E DINÂMICAS ESPACIAS: o papel da Usina Hidrelétrica Belo Monte 
como evento na reestruturação da cidade de Altamira 
José Queiroz de Miranda Neto; Eliseu Savério Sposito 
 
17 
Capítulo 2 
PRECEDENTES E INTERESSES ENVOLVIDOS NA TERRITORIALIZAÇÃO DO SETOR ENERGÉTICO NA 
AMAZÔNIA E NO PROJETO DA UHE BELO MONTE 
Ivana de Oliveira Gomes e Silva; Antonio Thomaz Jr. 
 
41 
Capítulo 3 
GRANDES OBJETOS NA AMAZÔNIA: os impactos da Hidrelétrica de Belo Monte às escalas da vida. 
Marcel Ribeiro Padilha; Arthur Magon Whitacker 
 
67 
Capítulo 4 
A PRODUÇÃO DE LEO DE PALMA A PARTIR DA SUBORDINAÇÃO DE TERRIT RIOS CAMPONESES EM 
ASSENTAMENTOS DE RE ORMA AGR RIA NA AMAZÔNIA 
Adolfo da Costa Oliveira Neto; Bernardo Mançano Fernandes 
 
99 
Capítulo 5 
AS POLÍTICAS PÚBLICAS E OS LIMITES DA REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NO ESTADO DO PAR 
Hugo Rogério Hage Serra; Antonio Nivaldo Hespanhol 
 
 
125 
Capítulo 6 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NA AMAZÔNIA: UMA AN LISE SOBRE OS MUNICÍPIOS DE 
CAMET E SANTARÉM NO ESTADO DO PAR 
José Carlos da Silva Cordovil; Rosângela Custódio Cortez Thomaz 
 
 
153 
 
 
 
 
Capítulo 7 
AN LISE DA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA HIDROGR ICA DO RIO CAETÉ/ 
PAR – BRASIL 
Francisco Emerson Vale Costa; Antonio Cezar Leal 
 
181 
Capítulo 8 
(DES) CAMINHOS DA GESTÃO DOS RESÍDUOS S LIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE 
BARCARENA – PAR (1897-2017) 
Antônio de Pádua de Mesquita dos Santos Brasil; José Tadeu Garcia Tommaselli 
 
 
 
 
 
207 
 
 
8 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 9 
 
Prefácio 
 
 
Joao Marcio Palheta1 
 
 
“A Geografia do Pará em Múltiplas Perspectivas: políticas públicas, gestão e 
desenvolvimento territorial” é o título deste livro, coordenado e organizado por Rosângela 
Aparecida de Medeiros Hespanhol, Everaldo Santos Melazzo, Antônio Cezar Leal, Carlos 
Alexandre Leão Bordalo e João Osvaldo Rodrigues Nunes, professores/pesquisadores que 
tornaram possível a parceria CAPES/UNESP/UFPA/UEPA durante o Doutorado Interinstitucional, 
trazendo aqui importantes resultados das teses dos discentes com seus respectivos orientadores 
que fizeram a ponte aérea Belém – Presidente Prudente/SP. A parceria que se consolida neste 
livro, vem sendo construída há tempos entre os professores da Faculdade de Geografia e 
Cartografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA/Belém e do Programa de 
Pós Graduação em Geografia da FCT/UNESP, campus Presidente Prudente-SP. 
As distâncias geográficas foram superadas pela parceria e pelo caminho das 
pesquisas, estes, por sua vez, transformados em capítulos que fazem parte deste 
belíssimo livro que reúne importantes temas e pesquisadores das duas instituições; 
dividido em oito cenários que fundamentam o resultado das pesquisas desenvolvidas 
pelos autores, analisando o espaço geográfico da Amazônia Paraense em diferentes 
processos e escalas. Esses percursos geográficos começam pelos Agentes, Processos e 
Dinâmicas Espaciais: o papel da Usina Hidrelétrica Belo Monte como evento na 
reestruturação da cidade de Altamira, de autoria de José Queiroz de Miranda Neto
e 
Eliseu Savério Sposito, analisando o resultado de grandes empreendimentos que 
provocam no espaço geográfico amazônico diferentes territorialidades e impactos de 
natureza distinta, como ressaltam os autores ao destacar a ideia central do capítulo: 
“articular a noção de ‘evento’ apresentada por Santos (2014) com os efeitos produzidos 
na cidade de Altamira a partir de 2010, considerando o momento em que as ações 
 
1 Graduado em Licenciatura e Bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Pará, Mestrado em Planejamento 
doDesenvolvimento pela Universidade Federal do Pará/NAEA e Doutorado em Geografia pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho/Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT/UNESP) de Presidente Prudente-SP. Atualmente é 
professor Associado II da Universidade Federal do Pará, pertencente à Faculdadede Geografia e Cartografia e Coordenador 
do Programa de Pós-graduação em Geografia- UFPA. E-mail: jmarciopalheta@uol.com.br. 
10 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
direcionadas à construção de Belo Monte tornam-se mais evidentes”. Seguindo os cenários 
pelos Precedentes e Interesses Envolvidos na Territorialização do Setor Energético na 
Amazônia e no Projeto da UHE Belo Monte, de autoria de Ivana de Oliveira Gomes e Silva e 
Antônio Thomaz Jr. Os autores buscam analisar a inserção da Amazônia de “forma particular, 
considerando as políticas de aproveitamento hidrelétrico dos rios que constituem sua extensa 
bacia hidrográfica, destacando os conflitos presentes no processo de construção da Usina 
Hidrelétrica de Belo Monte”, um dos grandes empreendimentos que impactaram as dinâmicas 
territoriais no espaço geográfico paraense. 
Continuamos a leitura pelos cenários dos grandes empreendimentos com os autores 
Marcel Ribeiro Padilha e Arthur Magon Whitacker na sua Análise dos Grandes Objetos na 
Amazônia: das Velhas Lógicas Hegemônicas às Novas Centralidades Insurgentes, os Impactos 
da Hidrelétrica de Belo Monte às Escalas da Vida. Os autores explicam que “os impactos, de 
natureza socioespacial, causados pela construção de grandes empreendimentos, ― os Grandes 
Projetos, à escala da vida das pessoas há muito localizadas nos espaços onde são implantados 
estes empreendimentos”, destacando os impactos territoriais na escala da vida na subregião da 
Transamazônica e Xingu no estado paraense. 
A leitura segue pelos Territórios Subordinados: Análise da Política de 
Desenvolvimento Territorial a partir da Produção de Óleo de Palma Pela Agropalma em 
Assentamentos de Reforma Agrária no Pará,
de Adolfo da Costa Oliveira e Bernardo Mançano 
Fernandes. Neste capítulo os autores analisam o espaço geográfico e seus impactos territoriais a 
partir do “avanço do cultivo de palma no Brasil para atender à demanda presente no mercado 
nacional e internacional de óleo de palma aberto pela indústria de agrocombustíveis, 
farmacêutica, industrial e alimentícia”, tema importante e fundamental para a compreensão das 
lógicas capitalistas de produção e seu rebatimento no território amazônico. 
O leitor continuará sua caminhada pela Amazônia Paraense com As Políticas 
Públicas e os Limites da Regionalização do Turismo no Estado do Pará, dos autores Hugo 
Rogério Hage Serra e Antônio Nivaldo Hespanhol. Neste capítulo destaca-se a importância 
das “políticas públicas de turismo no território paraense que foram regionalizadas em seis 
regiões-polo: Belém, Araguaia-Tocantins, Amazônia-Atlântica, Marajó, Tapajós e Xingu”. Os 
autores escolheram duas dessas regiões para sua análise: a região-polo de Turismo Belém e 
região-polo de Turismo Araguaia-Tocantins. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 11 
 
A leitura do livro volta-se novamente para as políticas públicas de turismo e 
continua seu caminho pelo capítulo Políticas Públicas de Turismo na Amazônia: Uma 
Análise Sobre os Municípios de Cametá e Santarém no Estado do Pará, dos autores José 
Carlos da Silva Cordovil e Rosângela Custódio Cortez Thomaz, dando-se ênfase também para 
os municípios de Cametá e Santarém. 
Os rios, de fundamental importância aos povos amazônidas, debatidos em verso e 
prosa, como as estradas e caminhos das comunidades tradicionais, principalmente, que 
vivem e sobrevivem das relações com os recursos naturais, voltam a ser foco de análise 
através das bacias hidrográficas, com a Análise da Gestão dos Recursos Hídricos na Bacia 
Hidrográfica do Rio Caeté/ Pará – Brasil, autoria de Francisco Emerson Vale Costa e Antônio 
Cezar Leal, que analisam as políticas públicas voltadas para o sistema de gestão dos recursos 
hídricos no espaço geográfico paraense, tendo como locus dessa análise a bacia hidrográfica 
do rio Caeté, uma das mais importantes bacias hidrográficas do espaço geográfico paraense, 
e a importância da gestão dos recursos hídricos numa região como a Amazônia. 
O livro termina sua brilhante análise sobre o espaço geográfico do estado paraense 
com os (Des) Caminhos da Gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos no Município de Barcarena – 
Pará (1897-2017), dos autores Antônio de Pádua de Mesquita dos Santos Brasil
e José Tadeu 
Garcia Tommaselli. Os dois pesquisadores percorrem analiticamente o modelo de gestão de 
resíduos sólidos urbanos, com ênfase no município de Barcarena, e seus rebatimentos das 
políticas públicas no território e, assim, analisam o espaço geográfico paraense diante de novos 
tempos e novas territorialidades no contexto globalizante dos usos dos territórios no cenário 
internacional, do qual cada parte dessas pesquisas neste livro não deixou de relacionar. 
Este importante livro para o cenário amazônico paraense, serve para todos os 
geógrafos comprometidos com as mudanças socioambientais e com uma geografia cada vez 
mais presente no nosso dia a dia, destacando o todo e suas partes, os espaços e seus 
territórios, as redes e as suas sociedades, os recursos naturais e seus diferentes usos, dentro 
de um contexto contemporâneo, de mudanças socioeconômicas e ambientais. Este livro é 
para ler e aproveitar a leitura geográfica, resultado de uma parceria que continuará forte e 
responsável, entre as universidades brasileiras, demonstrando que é possível construir a 
geografia em parceria e com qualidade. 
12 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Parabéns à UEPA e à UNESP, campus de Presidente Prudente-SP, pelo desafio de 
aceitar e compartilhar suas experiências e qualidade científico-acadêmica com a 
Universidade Federal do Pará, que só tem a ganhar com essa parceira. 
 
 Ótima leitura a todos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 13 
 
 
Apresentação 
 
 
 
Os textos que compõem o livro “A Geografia do Pará em Múltiplas Perspectivas: 
políticas públicas, gestão e desenvolvimento territorial” são resultantes do Doutorado 
Interinstitucional – DINTER, realizado entre a Universidade Estadual Paulista “Júlio de 
Mesquita Filho”, Campus de Presidente Prudente, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a 
Universidade Estadual do Pará (UEPA), com financiamento da CAPES. 
Os DINTERs visam qualificar os docentes de regiões distantes dos "centros de 
excelência", a partir da sua participação e titulação nos Programas de Pós-Graduação stricto-
sensu em nível de doutorado já consolidados no país. No Estado do Pará, tal necessidade era 
ainda maior, já que, até 2013, não havia na Região Norte, nenhum curso de pós-graduação em 
Geografia, em nível de doutorado. Porém, havia na região uma significativa demanda para a 
qualificação dos docentes que atuavam, sobretudo, nos cursos de Graduação em Geografia da 
Universidade Federal do Pará e da Universidade Estadual do Pará. Tal demanda tornou-se ainda 
mais relevante em decorrência da realização de concursos públicos pelas duas instituições nos 
últimos anos, tendo sido contratado um corpo docente jovem e que atua nas diversas unidades 
das duas instituições, as quais estão distribuídas em todo o território paraense. 
A realização deste DINTER em Geografia também se justificou: 
a) pela afinidade entre os temas das pesquisas dos docentes das duas instituições 
paraenses com as Linhas de Pesquisa do Programa de Doutorado da instituição promotora, no 
caso o Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNESP, Campus de Presidente Prudente; 
b) pelo intercâmbio já existente entre alguns docentes que compõem o corpo 
docente da UFPA, que foram alunos do Programa de Mestrado e Doutorado em Geografia 
na FCT-UNESP/Presidente Prudente; 
c) pelos vínculos já existentes entre essas instituições a partir dos Grupos de 
Pesquisa, sediados na UNESP, que contam coma participação de docentes da instituição 
receptora, e de Grupos de Pesquisa da UFPA, que contam com a participação de docentes da 
instituição promotora; 
d) pelos laços constituídos por meio de eventos, em que docentes da UNESP de 
Presidente Prudente participaram e colaboraram com as atividades da UFPA e vice-versa. 
14 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
A realização do DINTER poderá contribuir para o fortalecimento e consolidação do 
Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA, com novas oportunidades de formação 
acadêmica para os estudantes e profissionais da região norte do país, seja no mestrado ou 
com a implantação do curso de doutorado, tendo em vista a titulação dos professores da 
UFPA e da UEPA. 
A titulação dos docentes, possibilitada pelo DINTER, certamente reforçará a 
capacidade de intervenção desses profissionais na realidade regional do Pará e favorecerá o 
estreitamento dos vínculos das Universidades participantes com a sociedade civil e com os 
poderes públicos nos níveis municipal, estadual e federal, ampliando ainda mais a 
importância das instituições por meio das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. 
Para o Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, esse DINTER 
também se revestiu de especial importância, em decorrência de ter propiciado a sua atuação 
mais direta na região amazônica, em especial no Estado do Pará, o que gerou novos temas e 
reforçou as linhas de pesquisa do programa. 
Nesse contexto, o DINTER teve como objetivos principais: 
- Qualificar parte do corpo docente dos cursos de Geografia da UFPA e da UEPA, da 
capital e do interior do Estado do Pará, contribuindo para o fortalecimento das atividades de 
pesquisa e para a formação de recursos humanos visando aprimorar o ensino em seus 
diferentes níveis; 
- Fortalecer as relações interinstitucionais já existentes entre a Faculdade de Ciências e 
Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT/UNESP), Campus de Presidente Prudente, 
como promotora, e as Universidades Federal e Estadual do Pará, como receptoras; 
- Contribuir para a consolidação dos Grupos de Pesquisa, qualificando a formação docente; 
- Favorecer para a consolidação do Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado) 
na UFPA junto à CAPES; 
- Consolidar a interiorização dos cursos de licenciatura e bacharelado em Geografia 
nos municípios paraenses, tais como Altamira, Marabá, Cametá, entre outros, oferecidos 
pela UFPA e UEPA; 
- Aprofundar as pesquisas e reflexões sobre a dinâmica territorial da Região Norte 
com vistas a verticalizar as análises sobre o desenvolvimento regional sustentável no campo 
e na cidade, com respeito e valorização da diversidade sociocultural e dos diversos 
ecossistemas amazônicos; 
- Fortalecer a relação entre a UFPA e a UEPA, com vista a ampliação das atividades 
desenvolvidas em parceria, no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 15 
 
A realização do DINTER em Geografia consolidou a parceria entre os Programas de 
Pós-Graduação em Geografia da FCT/UNESP, Campus de Presidente Prudente, e da UFPA, e 
possibilitou a construção de novos vínculos com a UEPA. 
O Programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT-UNESP, dado o caráter 
abrangente de sua área de concentração (Produção do Espaço Geográfico), pode acolher 
uma diversidade de temas e problemáticas que estão expressos nos oito (8) textos que 
compõem este livro. 
Realizado entre os anos de 2013 e 2017, o referido DINTER envolveu 
docentes/doutorandos da UFPA e da UEPA e professores do Programa de Pós-graduação em 
Geografia da UNESP – Campus de Presidente Prudente, muitos dos quais ministraram 
disciplinas no Estado do Pará e/ou na UNESP, Campus de Presidente Prudente. Além disso, 
muitos docentes realizaram trabalhos de campo com os docentes/doutorandos sob sua 
orientação em diversas localidades do Estado do Pará que se constituíam nos recortes 
territoriais das pesquisas. Os docentes/doutorandos, por sua vez, permaneceram na UNESP, 
Campus de Presidente Prudente, em diferentes etapas do curso de doutorado para cursar 
disciplinas e participar dos Seminários de Doutorado oferecidos pelo programa, bem como 
para se integrarem aos grupos de pesquisa que estruturam o Programa de Pós-Graduação 
em Geografia, vivenciando, assim, a Universidade e suas atividades acadêmicas. 
Os textos publicados no livro enfocam, sob diferentes perspectivas teórico-
metodológicas, diversos temas realizados à realidade do espaço geográfico amazônico e, em 
particular, do espaço geográfico paraense que se vinculam a diferentes processos que 
ocorrem em diversas escalas. Desvendar essa realidade, a partir das contribuições dos 
autores, é uma das possibilidades proporcionadas pelo DINTER. Esperamos que essa parceria 
tenha continuidade e seja fortalecida ao longo do tempo para que resulte em novos frutos 
de boa qualidade, como é o caso desta obra. 
 
Os Coordenadores e Organizadores 
Tupã-SP, 2017. 
 
 
 
 
16 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 17 
 
Capítulo 1 
 
 
AGENTES, PROCESSOS E DINÂMICAS ESPACIAIS: 
 
o papel da Usina Hidrelétrica Belo Monte como evento na reestruturação da cidade de Altamira 
 
José Queiroz de Miranda Neto2; Eliseu Savério Sposito3 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Em processo de construção no rio Xingu, a usina hidrelétrica de Belo Monte é uma 
obra desenvolvida pelo Governo Federal, com capacidade instalada de 11.233 MW. O 
conjunto técnico previsto manifesta profundas mudanças na ordem urbana e motiva a 
mobilização de diferentes sujeitos com vistas a reprodução de suas relações no espaço. 
A partir de 2010, quando é liberada a licença de instalação4, a cidade de Altamira 
começa a atravessar um conjunto de alterações significativas em sua estrutura interna, dentre 
as quais a ampliação da população urbana, a criação de novas infraestruturas, as alterações 
nas localizações residenciais, a ampliação e a diversificação das atividades no espaço 
intraurbano. Percebe-se, portanto, uma dinâmica urbana diferenciada por conta da introdução 
da usina hidrelétrica, marcada sobretudo pela produção de novas espacialidades urbanas. 
No trabalho em questão, o desafio interposto foi o de reconhecer em que medida 
os processos desencadeados pelo grande empreendimento apontam para uma 
reestruturação da cidade (SPOSITO, 2005). A ideia central é articular a noção de “evento” 
apresentada por Santos (2014) com os efeitos produzidos na cidade de Altamira a partir de 
2010, considerando o momento em que as ações direcionadas à construção de Belo Monte 
tornam-se mais evidentes. 
 
2 Doutor em Geografia (FCT/UNESP) e prof. Adjunto da Universidade Federal do Pará (UFPA). E-mail: essposito@gmail.com 
3 Doutor em Geografia (USP) e professor titular da FCT/UNESP – Campus de Presidente Prudente. E-mail: geoneto@msn.com. 
4 Licença de Instalação (LI) é o documento liberado pelo IBAMA que autoriza o início da obra ou instalação do empreendimento. O 
prazo de validade dessa licença é estabelecido pelo cronograma de instalação do projeto ou atividade, não podendo ser superior a 
seis anos, conforma informação obtida em: https://servicos.ibama.gov.br/index.php/licencas/licenca-de-instalacao >. Acesso em: 
15 nov. 2016. 
18 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Por tratar-se de uma perspectiva de estudo relacionada à ideia de reestruturação, é 
necessário encontrar os aspectos que se relacionam às propriedades de movimento e de 
transformação. O exercício proposto neste trabalho consiste, então, em verificar as qualidades 
individuais das partes que formam o todo (os aspectos que, em conjunto, constituem a cidade)e tentar discernir de que forma estes se alteram no contexto de instalação da usina 
hidrelétrica. Por esse caminho, será possível identificar se as mudanças processadas a partir da 
usina hidrelétrica promovem os saltos qualitativos para se relacionar, de fato, com a realidade 
em estudo ao que se entende por reestruturação da cidade. 
As fontes de dados utilizadas na execução da pesquisa estão relacionadas aos 
centros de estudo, pesquisa e informação sobre as cidades no Brasil e às instituições 
regionais e locais de planejamento, assim como às empresas responsáveis pela elaboração 
dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Plano de execução de projetos locais ligados ao 
projeto Belo Monte, como a LEME Engenharia e a Norte Energia S.A. 
 
A NOÇÃO DE EVENTO E SUA RELAÇÃO COM O FENÔMENO DE REESTRUTURAÇÃO DA CIDADE 
 
Como propõe o objetivo deste artigo, pretende-se entender de que maneira um 
evento de grande magnitude funciona como um fator determinante à reestruturação de 
uma cidade localizada na Amazônia. Para isso, cabe estabelecer, em princípio, a relação 
entre a noção de evento apresentada por Santos (2014) e as diferentes abordagens a 
respeito da reestruturação da cidade, considerando sobretudo os rebatimentos espaciais da 
transição histórica marcada pela crise do fordismo e pela emergência de uma economia 
flexível, como designa Harvey (2005a). 
No que diz respeito ao papel desempenhado pela usina hidrelétrica enquanto fator 
de transformação, considera-se que esse grande objeto técnico incorpore, em si mesmo, a 
qualidade de um “evento”. Na definição de Santos (2014, p. 95) um evento é “resultado de 
um feixe de vetores, conduzidos por um processo, levando uma nova função ao meio 
preexistente”. No caso em questão, o feixe de vetores corresponderia às ações diversas 
(normas, acordos e decisões tomadas nas escalas nacional e global) necessárias ao 
desenvolvimento do grande empreendimento hidrelétrico. Entende-se que esse “feixe de 
vetores” (SANTOS, 2014) possa constituir um fator determinante para a disseminação de 
novas lógicas no espaço intraurbano, sobretudo associadas a um momento de transição que 
envolve a cidade e o urbano na contemporaneidade. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 19 
 
A respeito desse momento de transição, Harvey (2005b) trata do despontamento de 
um ajuste espacial que funciona como mecanismo de absorção da superacumulação de 
capital, uma vez que “promove a produção de novos espaços dentro dos quais a produção 
capitalista possa prosseguir no teste de novas possibilidades de exploração da força de 
trabalho” (HARVEY, 2005b, p. 172). Soja (1993), por sua vez, trabalha na perspectiva de uma 
“reestruturação”, isto é, de “uma ruptura nas tendências seculares e uma mudança em 
direção a uma ordem e uma configuração significativamente diferente da vida social” (SOJA, 
1993, p. 193). Portanto, trata-se de um conjunto de modificações devidamente ancoradas no 
processo produtivo, porém com rebatimentos que vão para além dos circuitos espaciais da 
indústria, estendendo-se em toda a cadeia de relações entre a sociedade e o espaço. 
Ao debater a respeito do conceito de reestruturação, Soja (1993) pondera dois 
grandes argumentos no seio das ciências sociais: a) aquele baseado em esquemas 
evolucionistas que sugerem uma passagem inevitável para o progresso; e b) uma visão que 
“se enquadra entre a reforma parcial e a transformação revolucionária, entre a situação de 
perfeita normalidade e algo completamente diferente” (SOJA, 1993, p. 194). Partindo deste 
segundo tipo de análise, o autor defende que mesmo as mudanças mais radicais admitem 
fragmentos de uma organização da sociedade em período anterior, de modo que a 
reestruturação não se manifesta como um processo mecânico ou automático. 
As cidades estão no centro das grandes mudanças na ordem capitalista. Por essa 
razão, entende-se que a disposição da estrutura espacial na escala da cidade é um fator de 
importância para identificar os níveis de inserção dos grupos humanos na sociedade global 
contemporânea. Nas últimas décadas, um debate recorrente é aquele que relaciona os 
estudos urbanos com o conceito de “reestruturação”, que na perspectiva de Soja (1993) 
corresponde a uma mudança radical na configuração espacial, com importantes implicações 
no que tange à configuração da forma urbana. 
Ao se falar das mudanças na estrutura espacial da cidade capitalista, considera-se 
uma abordagem que busca evidenciar os modos de produção do espaço centralizando a 
análise naqueles que detêm o poder social, como os proprietários de terras que agem na 
gestão de seu próprio patrimônio e as organizações econômicas que utilizam o espaço para 
suas próprias finalidades (RONCAYOLO, 1982). Nessa perspectiva, a estrutura da cidade 
modifica-se conforme os interesses e finalidades dos agentes capitalistas que, ao mesmo 
tempo em que competem entre si, são movidos a agir de acordo com uma lógica tácita que 
transcende as suas estratégias individuais. 
20 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
No caso do Brasil, alguns estudos recentes desenvolvidos em áreas mais dinâmicas 
do país também apontam uma reestruturação, trazendo à tona processos diferenciados de 
usos do solo, de re-localização das atividades empresariais, de novas disposições dos 
espaços de moradia e suas contradições. As metrópoles são os espaços que mais incorporam 
essas mudanças, traduzindo-se, dentre outros fenômenos, na “desindustrialização” de 
algumas áreas pioneiras ao mesmo tempo em que se inserem novas atividades ligadas ao 
setor terciário. As cidades médias5, por sua vez, também experimentam uma alteração na 
configuração de seus espaços internos, notadamente a partir de novas relações centro-
periferia. Nessa perspectiva, Sposito (2005) identifica três características essenciais nessa 
mudança: a) o aparecimento de “periferias” no centro (desvalorização das áreas centrais 
tradicionais) e de “centralidades” na periferia (áreas de concentração de atividades 
comerciais, shopping centers etc.); b) maior articulação entre cidades de diferentes portes 
(intensidade de relações na rede urbana); e c) aumento da segmentação socioespacial. 
Ainda no que diz respeito à reestruturação, Sposito (2005) afirma que essa 
expressão deve ser “guardada para se fazer referência aos períodos em que é amplo ou 
profundo o conjunto de mudanças que orienta os processos de estruturação urbana e das 
cidades” (p. 312). Entende-se que a reestruturação estaria vinculada, assim, às novas lógicas 
espaciais do capitalismo, que se coadunam aos efeitos da reestruturação produtiva e da 
emergência de uma economia flexível (Harvey, 2005a) do mundo contemporâneo. 
Ao referir-se ao caráter de mudança na geografia histórica do capitalismo, Soja 
(1993) afirma a existência de “uma sequência de reestruturações parciais e seletivas, que 
não apagam o passado nem destroem as condições estruturais profundas das relações 
sociais e espaciais capitalistas” (p. 206). Nesse caso, o movimento apresentado por Soja 
(1993) é de “crise e reestruturação”, de modo que antes de uma reestruturação atual havia 
outro ciclo de reestruturação em andamento e que, por circunstância da não linearidade do 
movimento social, acabam por se encontrar na contingência espaço-temporal. 
A seção a seguir evidencia o cenário caracterizado pelo empreendimento 
hidrelétrico, que conduz à alteração dos conteúdos sociais tanto na área central quanto no 
espaço periférico da cidade de Altamira-PA, a exemplo da produção de novos espaços 
residenciais e outras alterações significativas no espaço intraurbano. 
 
5 Neste trabalho, as cidades médias são concebidas como aquelas que: a) possuem papéis de centralidade bem definidos na 
rede urbana; b) encontram-se em uma faixa populacional próxima de 100 mil habitantes; ec) situam-se relativamente 
distantes da área de influência direta de uma metrópole. Cidades de porte médio, por sua vez, são concebidas como as que 
possuem população entre 100 e 500 mil habitantes, porém não necessariamente precisam cumprir um papel de centralidade 
determinado em uma rede urbana. As definições aqui expressas estão baseadas no trabalho de Sposito (2005). 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 21 
 
USINA HIDRELÉTRICA E A REESTRUTURAÇÃO DA CIDADE DE ALTAMIRA 
 
Nascida a partir da dinâmica econômica e populacional do período áureo da 
borracha, a cidade de Altamira6 tinha sua dinâmica interna influenciada pela presença do rio 
Xingu como principal eixo de circulação, configurando uma estrutura urbana disposta de 
modo similar às demais cidades ribeirinhas amazônicas. Com a ascensão da economia da 
borracha no início do século XX, desenvolveu-se uma área central onde se localizavam a 
praça, a igreja, os trapiches das embarcações e os estabelecimentos ligados ao setor 
terciário (em especial o comércio e os serviços públicos). Nessa mesma área, passou a residir 
a elite local formada por comerciantes, seringalistas e representantes do Estado. Nos 
espaços mais afastados desse centro, as residências alteravam o seu padrão construtivo e se 
confundiam com a paisagem rural, como se registrou para as habitações da Rua Sete de 
Setembro na década de 1940, denominada de “rua de palha”. Essa pode ser entendida como 
a disposição inicial da relação centro-preferia em Altamira. 
As alterações mais significativas nessa estrutura inicial se dão a partir da década de 
1970, quando se instala a rodovia Transamazônica e o rio deixa de ser o principal vetor de 
crescimento da cidade. Tourinho (2011) desenvolveu vários modelos representativos de 
algumas das principais cidades médias amazônicas no que tange à estrutura espacial interna, 
tomando como referências os meios de acessibilidade associados a elas, notadamente o rio 
e a rodovia. Dentre as representações sugeridas pela autora, ressalta-se aquela que 
compreende “as cidades ribeirinhas que possuem estradas e em que as estradas superam a 
hidrovia na realização dos fluxos interurbanos” (TOURINHO, 2011, p. 411), que inclui as 
cidades de Cametá e Altamira. 
Como a formação inicial de Altamira ocorre atrelada ao rio como eixo de transporte, 
a nucleação terciária principal (associada ao núcleo histórico) se localiza próxima aos 
atracadouros de embarcações. O traçado que corresponde à rodovia torna-se, nessa nova 
lógica, um vetor de expansão da cidade, onde se desenvolve um corredor de comércio e 
serviços relacionados à estrada e algumas áreas residenciais de média e de baixa renda, 
porém dispostas de forma descontínua em relação ao eixo inicial de ocupação. Tal 
representação é importante para se entender que “os rios ainda desempenham algum papel 
nas dinâmicas socioespaciais locais, mas é pelas rodovias que ocorre a maior intensidade de 
fluxos interurbanos de pessoas e mercadorias” (TOURINHO, 2011, p. 414). 
 
6 O município de Altamira foi criado a partir da Lei nº 1234, de 06 de novembro de 1911, que também determinou que a 
Vila de Altamira fosse a sede da recém-criada unidade territorial. 
22 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Tal como outras cidades de importância no estado do Pará, Altamira também se 
inseriu de modo periférico no sistema urbano nacional. Com a crise da colonização dirigida, 
ela desempenhou o papel de absorção dos fluxos populacionais provenientes do campo, 
gerando uma massa populacional subempregada que passou a morar e trabalhar na cidade, 
aquilo que Rochefort (1998, p. 37) denominou de “receptáculo das migrações de miséria”. 
Entre as décadas de 1970 e 1990, a cidade sofreu um incremento de mais de 40 mil 
habitantes que passaram a reproduzir o modo de habitação ribeirinha nos leitos dos 
igarapés que adentram ao perímetro urbano. Como consequência, manifesta-se uma 
expansão acelerada, precária e povoada por lotes urbanos desprovidos de sistemas de 
saneamento e de abastecimento de água. A paisagem urbana passa a exibir como principal 
característica o aspecto da pobreza, com áreas dominadas por favelas (baixadas urbanas) e 
marcadas pela ausência de serviços públicos essenciais. 
Embora a rodovia Transamazônica tenha sido concluída ainda na década de 1970, este 
grande objeto técnico vai demonstrar seus efeitos na cidade de Altamira somente a partir da 
década de 1980, orientando um processo de expansão que segue o seu traçado nas direções 
nordeste e sudoeste. O eixo rodoviário passa a ser, portanto, o caminho privilegiado para a 
instalação de novos assentamentos residenciais, bem como a inserção de novas atividades 
econômicas. Notadamente, os grupos econômicos mais fortes tendem a absorver os terrenos e 
as instalações mais favoráveis no contexto da cidade, tendo em vista que a relação 
localização/acessibilidade quase sempre favorece os sujeitos de maior poder aquisitivo. 
Cabe ressaltar, entretanto, que apenas a rodovia em si não é suficiente para pensar a 
estruturação interna de Altamira. O fato de se instalarem os novos eixos de transporte não 
suplanta as centralidades historicamente definidas, sobretudo demarcadas pela força de uma 
nucleação terciária ainda situada próxima ao rio. Observa-se, assim, a existência de quatro 
fatores a serem combinados para a seleção das áreas residenciais nesse primeiro momento em 
Altamira: a) a proximidade em relação à nucleação terciária principal (de preferência contígua, 
mas não no interior da mesma); b) a proximidade em relação ao rio (em cotas altimétricas não 
sujeitas à inundação), assim como a existência de localizações “raras” que permitam a vista para 
o rio; c) a proximidade em relação às vias estruturantes (estradas que interligam o centro às 
diversas áreas da cidade e para fora dela); e d) a existência de uma infraestrutura mínima no 
entorno residencial (pavimentação, energia elétrica, saneamento, etc.). A partir do momento 
em que as populações de alta e média renda passam a ocupar as áreas que reúnem essas 
condições, os proprietários se valem dos mecanismos de valorização dos terrenos aí situados, 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 23 
 
produzindo artificialmente a escassez. Como resultado, uma parte da população que não 
consegue adquirir os terrenos nas localizações mais favoráveis é submetida à segregação 
residencial induzida (SOUZA, 2005) e passa a habitar os leitos dos igarapés Altamira, Ambé e 
Panelas, em geral em assentamentos precários. 
No Mapa 1 é possível visualizar a malha urbana do município de Altamira consolidada 
em 1980, com definição do núcleo principal ao sul do igarapé Altamira e do núcleo secundário 
ao norte do mesmo igarapé, separados por uma área imprópria para ocupação. 
 
Mapa 1. Expansão Urbana de Altamira: 1960 – 2010. 
 
 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
 
 
As áreas classificadas como sujeitas a alagamentos foram ocupadas de forma 
irregular na década de 1980, formando favelas que se estendiam ao longo dos cursos dos 
igarapés Altamira e Ambé. As zonas de expansão se dirigiam, especialmente, aos eixos sudeste 
(Estrada do Panelas e Antigo Aeroporto) e Nordeste (sentido da Transamazônica). Nos anos 
seguintes, até 1997, a soma de lotes planejados atingia a quantia de 8.166 unidades, que 
apresentava os loteamentos registrados na Prefeitura de Altamira entre 1976 e 2000. 
24 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Desde a década de 1980, quando da criação dos loteamentos da Prelazia do Xingu, 
tem-se uma caracterização semelhante à definida no Mapa 2, com a presença de dois 
núcleos residenciais separados pelo igarapé Altamira: a) o núcleo principal, que inclui o 
centro histórico, a área comercial principal e as áreas residenciais mais antigas; e b) o núcleo 
secundário,situado ao norte do Igarapé Altamira, que inclui uma extensa área residencial e 
uma área comercial secundária (COSTA, 2013). O Mapa 2 apresenta, também, as áreas de 
expansão residencial nas direções Norte, Nordeste, Leste, Oeste e Sudoeste, tomando-se 
como base apenas a expansão registrada até o ano de 2010. 
 
Mapa 2. Altamira: Caracterização intraurbana em 2010. 
 
 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
 
As áreas de expansão correspondem aos assentamentos criados entre 2000 e 2010, 
que tomam preferencialmente as direções Norte e Nordeste, mas também se estendem ao 
Leste, Oeste e Sudoeste. Correspondem, portanto, a loteamentos criados de forma 
articulada aos principais eixos viários, porém relativamente distantes do centro histórico, 
como Nova Altamira, Bela Vista e Jardim França. Tem-se, por conseguinte, uma maior 
periferização urbana, onde se verifica a redução da densidade demográfica de 55,5 para 39,3 
habitantes por hectare (COSTA, 2013). 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 25 
 
A oferta dos novos lotes deu-se, por um lado, em decorrência das novas opções de 
crédito destinadas à população de baixa e média renda em nível nacional, em geral 
disponibilizadas pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil. Por outro lado, por conta 
da perspectiva de instalação dos projetos do PAC para a região, sobretudo o asfaltamento da 
Transamazônica (iniciado em 2010) e a construção de Belo Monte (licenciada em 2010), criou-se 
uma imagem de que, com a efetivação desses grandes empreendimentos, os preços dos imóveis 
e dos aluguéis sofreriam uma intensa valorização. Diante desse cenário, os agentes imobiliários 
mobilizam uma oferta de 414 lotes ao ano, diferente do período demarcado entre 1976 e 1997, 
de 388 lotes/ano, manifestando uma ampliação do mercado (COSTA, 2013). 
Considera-se que entre 2000 e 2010 houve uma certa recuperação econômica que 
acompanhou a do país. A facilitação do crédito bancário para diversos fins, inclusive de 
moradia, aliada ao anúncio do asfaltamento da BR-230 (Transamazônica), bem como a 
existência de movimentos locais em favor da implantação da UHE Belo Monte são fatores 
importantes a considerar na retomada do crescimento populacional urbano, diante das 
ações e projetos dos PAC I e II do Governo Federal e das expectativas geradas com relação 
aos grandes projetos para a microrregião. Apenas nesse período, foram criados 2.902 novos 
lotes, o que equivale a 35,62% dos trinta anos anteriores (COSTA, 2013), demonstrando a 
recuperação do mercado local. 
Esses empreendimentos foram constituídos, em geral, por capitais locais e por 
proprietários que efetivaram o parcelamento de suas glebas rurais em lotes urbanos com 
tamanho médio de 250 m² (COSTA, 2013). Trata-se, portanto, da incidência de práticas de 
valorização do solo urbano, bastante comum em áreas onde se tem uma previsão de 
ampliação dos fatores que elevam o preço dos terrenos, sobretudo associados à extração 
das rendas absoluta e/ou de monopólio (HARVEY, 1980). Nesse caso, os lotes urbanos são 
adquiridos (ou apenas desmembrados de glebas rurais maiores) visando a troca futura com 
valores elevados em relação ao preço de aquisição, alimentando o ciclo dinheiro-terreno-
mercadoria-dinheiro, como descrito por Topalov (1979). Nessa atividade, registra-se a partir 
de 2007 a atuação da Imobiliária Bacana, uma empresa de pequeno porte sediada em 
Altamira que atuou na oferta de vários lotes urbanos nos bairros Jardim França e Alberto 
Soares, incluindo o loteamento conhecido como “Residencial Bacana”, situado próximo à 
PA-415 com 40 residências voltadas à população de baixa renda. Observa-se que, em um 
primeiro momento, as estratégias para obtenção da renda do solo se valem da 
comercialização direta, com ou sem a intermediação bancária, porém não se verifica a ação 
mais intensa de empresas incorporadoras e de outros grandes promotores imobiliários. 
26 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Grande parte dos loteamentos desenvolvidos no período não dispõem de uma 
infraestrutura própria de abastecimento de água, de redes de esgoto e de pavimentação, 
porém ainda assim abrigam instalações residenciais de padrão médio, como no caso dos 
loteamentos Altaville e em alguns pontos do bairro Ibiza (Loteamento Don Lorenzo). Nesses 
casos, os novos proprietários precisam criar suas próprias condições de habitabilidade e 
saneamento, com a perfuração de poços rasos para obtenção de água, bem como da 
instalação fossas sépticas e sumidouros para despejo do esgoto residencial. Tal condição 
deu-se como resultado de uma expansão desigual da infraestrutura urbana, onde as 
melhorias desencadeadas pelo Estado se concentraram apenas em alguns pontos da cidade. 
Mais tarde, com o adensamento das áreas residenciais mais antigas, as opções mais 
acessíveis em termos de preço dos terrenos seriam as novas áreas periféricas, mesmo sem 
as condições básicas de instalação residencial. 
Assim, por um lado, a cidade cresce em condições precárias para uma população com 
nível de renda capaz de criar estruturas para minimizar os problemas de moradia. Por outro 
lado, as populações de estratos de renda mais baixos e com parcas possibilidades de realizar 
alterações no ambiente ocupam as áreas menos privilegiadas da cidade, compondo um cenário 
de elevada pobreza urbana. A Figura 1 apresenta o perfil de algumas casas situadas às margens 
do Igarapé Ambé, no assentamento popularmente conhecido como “Invasão dos Padres”. 
 
Figura 1 – Assentamento “Invasão dos Padres” 
 
 
 
Fonte: Miranda Neto, 2015. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 27 
 
Retomando as diferentes fases de crescimento de Altamira desde a década de 1970, 
o Mapa 3 representa como se dispõem essas camadas concêntricas até o ano de 2014, 
sendo possível também definir os eixos que orientaram a expansão urbana. Esses dados 
foram obtidos a partir de trabalho de campo e de várias fontes auxiliares, com destaque às 
imagens de satélite do Software Google Earth Pro. 
 
Mapa 3 – Evolução da Malha Urbana de Altamira entre 1970 e 2014. 
 
 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
 
Pela leitura do Mapa 3, observa-se um crescimento estruturado a partir das vias de 
transporte, seguindo a tendência dos períodos anteriores, em várias direções. O eixo com 
menor crescimento é o Sul-Sudoeste, que até 2014 ainda possuía o aeroporto como 
limitação física para expansão, embora já se verificasse uma tendência de ocupação nessa 
área com a expectativa de ampliação do perímetro urbano por parte da Prefeitura 
Municipal, sobretudo por conta da instalação do Residencial do Pedral. Verifica-se, também, 
a maior extensão absoluta da malha urbana entre 2010 e 2014, pautada especialmente pela 
criação de novos loteamentos urbanos desenvolvidos por empresas incorporadoras. 
28 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Porém, a cidade não apenas se expandiu enquanto extensão absoluta da malha 
urbana, uma vez que se percebe uma maior densificação da ocupação a partir da utilização 
de espaços não ocupados em fases anteriores (glebas rurais com ou sem uso produtivo), 
principalmente aqueles destinados aos assentamentos da Norte Energia que se 
encontravam mais próximos às áreas de ocupação já consolidadas da cidade. A densificação 
ocorre, também, pelo aumento do número de pavimentos, tendência que já havia sido 
evidenciada em levantamento realizado em 2013, quando se verificou que, de 148 novas 
construções situadas na cidade, 40% possuem dois pavimentos ou mais (GEDTAM, 2014). 
Essa verticalização, ainda que não muito expressiva, é mais um fator da intensificação do uso 
do solo urbano nas áreas centrais, sobretudo para a finalidade comercial. 
Mas se for considerado o último período de crescimento, entre 2010 e 2014, 
percebe-se pela primeira vez a existência de áreas com relativa distância em relação aoespaço mais denso da cidade. Com exceção do eixo sul-sudoeste (em direção ao aeroporto), 
todos os demais eixos de crescimento possuem em suas extremidades pelo menos um 
loteamento criado no período demarcado após a instalação do empreendimento 
hidrelétrico. Tal padrão começa a manifestar uma forma de crescimento baseada na 
existência do transporte individual (automóvel e motocicleta) como meios necessários à 
população que se desloca frequentemente entre o centro e a periferia da cidade. 
Essas descontinuidades dos espaços residenciais, entretanto, não são 
acompanhadas de uma tendência de criação de outros núcleos comerciais. Pelo menos até o 
final de 2016, percebe-se uma ampliação muito rarefeita de novos espaços de consumo e 
infraestruturas coletivas (lojas de departamento, praças, novas vias de transporte etc.) para 
além da nucleação terciária principal, salvo em relação aos pequenos negócios informais 
(lojas, armarinhos, salões de beleza, minimercados etc.). Essa tendência coaduna com a 
perspectiva de Whitacker (2010) para o caso de algumas cidades médias como Campina 
Grande (PB), Passo Fundo (RS) e Guarapuava (PR) “nas quais o centro tradicional ainda 
possui forte centralidade em vários níveis e para parcelas consideráveis da população, com 
segmentos distintos” (p. 13). Essa característica mononuclear de Altamira se dá, em especial, 
por conta de uma expansão recente e pouco consolidada em termos de produção 
residencial, o que desencoraja os investimentos do mercado na expansão da atividade 
terciária e do Estado na produção de infraestruturas para além do centro tradicional. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 29 
 
Como se percebe, a dinâmica imobiliária presente em Altamira antes da construção 
da usina hidrelétrica já aponta alguns sinais de alteração no período anterior a 2010, mas 
nem de longe corresponde à quantidade de lotes urbanos criados entre 2010 e 2015. Nesse 
período, além da ação da Norte Energia através do reassentamento urbano, tem-se a criação 
de residências do PMCMV (Programa Minha Casa Minha Vida) e a produção de mais de 22 
mil lotes conduzidos por empresas incorporadoras. Se somados apenas os espaços criados 
no período delimitado, estes representam um acréscimo de 1.698 hectares, o que 
corresponde a mais de 70% da malha urbana medida em 2010, de 2.200 hectares. Tais 
mudanças são conduzidas por diferentes estratégias que envolvem as políticas do Estado 
(em especial pela atuação da Prefeitura de Altamira e do Governo Federal), e as ações 
promocionais conduzidas pelo capital incorporador e por outros agentes privados. 
Tomando como base a malha urbana atualizada, é possível constatar a presença de 
novos loteamentos instalados em Altamira entre 2010 e 2015, como descrito no mapa 4. 
Nele são destacados os assentamentos ligados à atuação das incorporadoras, os residenciais 
de interesse social do PMCMV, bem como aqueles destinados ao Reassentamento Urbano 
Coletivo (RUC) da população diretamente atingida pela inundação da barragem na área 
urbana (Projeto de Reassentamento Urbano). A numeração indica a denominação de cada 
um dos assentamentos descritos no mapa. 
 
Mapa 4 – Loteamentos Urbanos em Altamira – 2015. 
 
 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
30 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
A atividade da incorporação imobiliária é relativamente recente na região amazônica e 
começou a instalar-se em Altamira somente após 2011, por ocasião do forte deslocamento 
populacional evidente a partir de então. Acredita-se que a ação das incorporadoras inaugurou 
uma nova fase para o mercado imobiliário em Altamira, até então dominado por 
empreendimentos de pouca expressão e geralmente conduzidos por proprietários individuais. 
De acordo com Smolka (1987) o capital incorporador seria aquele que “desenvolve o espaço 
geográfico organizando os investimentos privados no ambiente construído, em especial aqueles 
destinados à produção de habitações” (p. 47). Trata-se de uma atividade que se desdobra em 
várias frentes, incluindo a compra ou a aquisição de direito sobre os terrenos, a contratação de 
profissionais especializados nas áreas de planejamento e construção, assim como de corretores 
responsáveis pela comercialização final do produto. 
De modo geral, os novos loteamentos privados capitaneados pelas empresas 
incorporadoras em Altamira possuem as seguintes características: a) são destinados aos 
extratos de renda mais elevados (em comparação aos loteamentos anteriores a 2010), mas 
não se pode afirmar que se destinam ao uso exclusivo das famílias de alta renda ; b) 
apresentam infraestrutura própria, com pavimentação, rede de abastecimento de água, 
sistemas de saneamento e energia elétrica; c) estão localizados em zonas mais afastadas da 
área central; d) apresentam tamanho médio de 120 hectares; e e) possuem elevado volume 
de investimentos, com a presença tanto de capitais locais como externos à região. 
No caso de Altamira, são poucas as situações em que as empresas atuam na 
construção de residências. Pelo menos no que se refere aos grandes loteamentos, o produto 
final é quase sempre o lote urbano em área aberta, dotado das condições infraestruturais 
necessárias ao funcionamento residencial. Acredita-se que tal estratégia esteja relacionada 
ao menor tempo necessário à comercialização do produto, ao contrário do que seria se os 
terrenos fossem dotados de edificações. Essa lógica sugere, então, que o tempo das 
empresas se relaciona aos estágios de ascensão e declínio das atividades do grande 
empreendimento hidrelétrico. Desse modo, se os preços dos lotes urbanos dependem de 
uma valorização futura com o objetivo de se extrair a “renda virtual” (ABRAMO, 1989) ou de 
se chegar ao “Momento III” na valorização do preço (SMOLKA, 1987), os ganhos podem 
tornar-se decrescentes caso essa perspectiva seja freada pela decadência esperada ao final 
das obras de Belo Monte. O capital incorporador valeu-se, portanto, de uma “janela aberta” 
no momento de maior otimismo em relação ao crescimento da cidade e aos fatores de 
emprego e renda ainda positivos até meados de 2014. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 31 
 
O Quadro 1 identifica as incorporadoras em atuação na cidade de Altamira até o 
final de 2015. 
 
Quadro 1 – Incorporadoras que atuam em Altamira até dezembro de 2015. 
Empresa Loteamento em 
Altamira 
N° de Lotes Hectares 
Direção norte incorporadora Terras de Bonanza 6.615 471 
Buriti empreendimentos Imobiliários Cidade Jardim 11.378 382 
Nova bairros planejados Cidade Nova 7.000 304 
Brasil Desenvolvimento Urbano (BRDU) Viena 2.458 70 
Mac Empreendimentos São Francisco 709 32 
Bacana Imobiliária Loteamento Bacana 500 37 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
 
Das seis empresas assinaladas, apenas duas têm origem na cidade de Altamira: a 
Direção Norte Incorporadora e a Bacana Imobiliária. A primeira pertence ao grupo 
empresarial iniciado a partir das iniciativas de Maurício Bastazini, cujo capital teve origem 
em Altamira com base no agronegócio (pecuária bovina), posteriormente estendendo-se 
para o ramo de veículos (caminhões, automóveis e motocicletas) e, mais recentemente, 
voltou-se à atividade imobiliária. A Imobiliária Bacana, por sua vez, é o nome fantasia da 
empresa de pequeno porte LCI - Locação, Construção & Incorporação Bacana Ltda. e atua, 
desde 2007, em Altamira, com a oferta de residências destinadas às populações de baixa 
renda e, mais recentemente, de loteamentos urbanos abertos em áreas periféricas. Pelo 
porte de ambos os empreendimentos, a Direção Norte Incorporadora (do grupo Bastazini) 
possui maior capacidade de investimentos e já executa empreendimentos em outros lugares 
do país, como na cidade de Ananás – TO. 
As demais incorporadoras possuem origem em outras regiões, com destaque aos 
grupos empresariais do Centro-Oeste (Brasília - DF e Goiânia - GO) e doNorte (Palmas - TO e 
Parauapebas - PA), ambos com empreendimentos já consolidados em vários estados do 
Brasil. Como se trata da comercialização de terrenos urbanos, é compreensível que essas 
empresas estejam em constante mobilidade geográfica pela busca de novos mercados, 
divisando as regiões Norte e Centro-Oeste como fronteiras de atuação. 
32 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Por ocasião das mudanças nos instrumentos de ordenamento do solo urbano em 
Altamira e da penetração incisiva dos novos empreendimentos imobiliários, uma parte 
importante da população de mais baixa renda viu-se excluída das opções de moradia na 
cidade, especialmente devido à elevação dos preços dos imóveis e da maior fiscalização em 
relação ao surgimento de novas áreas de ocupação irregular. Uma das alternativas para 
garantir a oferta de habitações é a criação de assentamentos planejados do programa 
MCMV do Governo Federal. Criado em 2009 a partir da política habitacional do Governo Lula 
(2003-2011), o programa em questão possui faces contraditórias, pois ao mesmo tempo em 
que inclui alguns segmentos sociais antes pouco evidenciados no contexto imobiliário, 
também amplia a financeirização do território, favorece a ação dos capitais incorporadores e 
reforça a segregação urbana existente (ROLNIK, 2016). 
Em Altamira, dois loteamentos foram planejados após o início das obras de Belo 
Monte, ambos voltados para a Faixa 1. O primeiro foi contratado no ano de 2010 e entregue 
no ano de 2012 (residencial Santa Benedita) e o segundo, contratado em 2013, estava com a 
previsão de ser entregue em 2015 (residencial Ilha do Arapujá), entretanto suas obras se 
encontram paralisadas pelo fato de o tamanho das residências se encontrar fora das 
especificações mínimas exigidas pela Caixa Federal. O Quadro 2 descreve os residenciais do 
programa MCMV em Altamira. 
 
Quadro 2 – Empreendimentos do Programa MCMV em Altamira. 
Informações 
Residenciais 
Santa Benedita Ilha do Arapujá 
Loteamento particular de construção de 
casas populares com subsídios do 
Governo Federal, localizado próximo ao 
Bairro Nova Altamira com distância de 
5,5 km da área central, destinado às 
famílias de faixa 1. 
Localizado na fronteira entre os 
municípios de Altamira e Vitória do Xingu, 
com 8,7 km de distância em relação ao 
centro. Também é destinado para as 
famílias de faixa 1, com renda máxima de 
R$1.600 reais. 
Empresa Construtora Emcasa LTDA Resecom Construtora LTDA 
N° de casas 958 1.444 
Valores 
contratados 
R$ 37.895.012,23 R$ 86.061.723,08 
Hectares 28,74 43,32 
Conclusão 2012 2015 (embargado) 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 33 
 
O residencial Santa Benedita foi construído pela construtora Emcasa LTDA, com origem 
em Belo Horizonte e atuante em mais 26 empreendimentos do MCMV Faixa 1 nos estados do 
Pará, Tocantins, Espírito Santo, Minas Gerais, Sergipe e Rio Grande do Sul e já recebeu mais de 
829 milhões em contratos desde 2014 (BRASIL, 2016). Com 958 casas, o Santa Benedita foi 
entregue no ano de 2012 e se encontra plenamente consolidado, ainda que sua estrutura inicial 
(pavimentação, esgoto e rede de água) se encontre parcialmente deteriorada. 
O residencial Ilha do Arapujá, por sua vez, é de responsabilidade da Construtora e 
Incorporadora Resecom LTDA, sediada em Santarém – PA, que também atua em outros 
empreendimentos do programa MCMV (Faixa 1) nas cidades de Alenquer, Oriximiná e 
Uruará, ambas no estado do Pará, somando mais de 263 milhões em contratos entre 2010 e 
2013 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016). A empresa em questão foi contratada em abril de 
2013, porém as obras foram marcadas por diversos problemas que impediram a sua 
continuidade, como a paralização de 180 trabalhadores em janeiro de 2014 em função de 
problemas salariais e das precárias condições de trabalho. Além disso, houve ocupação do 
residencial (ainda em construção) em maio de 2015 por cerca de 800 famílias, que chegaram 
a realizar protestos em frente ao prédio da CAIXA exigindo o enquadramento das famílias 
ocupantes no programa. Atualmente a obra encontra-se paralisada pela CAIXA devido ao 
fato de empresa não cumprir com as especificações mínimas do projeto. 
De acordo com Abramo (2002) a lógica do Estado é aquela em que “a sociedade 
civil e os indivíduos se submetem a uma decisão do poder público, que assume a 
responsabilidade de definir a escolha que garanta o maior grau de bem-estar social” (p. 103). 
Entretanto, no caso em questão a lógica do Estado foi sobrepujada pela lógica do mercado, 
de modo que as melhores localizações para a instalação residencial foram rapidamente 
utilizadas por outras empresas incorporadoras ou se encontram reservadas para novos ciclos 
de valorização do solo urbano. Diante disso, acredita-se que mesmo com a oferta de 2.402 
residências pelo programa MCMV, elas terão pouco significado diante da carência 
habitacional em Altamira que, nos últimos anos, apenas foi ampliada em função da escassez 
de moradia artificialmente criado pelo mercado. 
Pelo fato de a cidade de Altamira sofrer os efeitos diretos da inundação da 
barragem, uma extensa e densamente habitada área urbana de 387 hectares foi modificada 
pela Norte Energia nas proximidades dos igarapés Altamira, Ambé e Panelas entre 2014 e 
2015. No Plano Básico Ambiental do Projeto Hidrelétrico (PBA), as áreas em questão são 
denominadas de Áreas Diretamente Afetadas Urbanas (ADA Urbana), as quais são 
classificadas de acordo com o igarapé ao qual se relacionam. 
34 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
A ADA Urbana é formada por espaços residenciais constituídos a partir da década de 
1990, que devido à ausência de opções para a população migrante de baixa renda avançaram 
em direção ao leito dos igarapés, formando as baixadas urbanas7. Grande parte dessas 
habitações estavam situadas bem próximas à área central da cidade, em ocupações 
informalmente conhecidas como Baixão do Tufi, Açaizal, Invasão do Padres, Chifre de Ouro, 
dentre outras. Em levantamento realizado pelo grupo de pesquisa GEDTAM em residências 
situadas nas imediações dos igarapés Altamira e Ambé antes do processo de desapropriação, 
constatou-se que uma parte importante da população residente (em torno de 53,8%) trabalhava 
no setor terciário, destacando-se profissões como doméstica, comerciante, auxiliar de serviços 
gerais, vigilante e pedreiro (GEDTAM, 2014). Percebe-se, então, que havia uma relação direta 
entre a localização das habitações e o tipo de ocupação dos residentes, com atividades ligadas 
aos setores de comércio e serviços proeminentes na área central da cidade. 
As famílias que optaram pela indenização em forma de reassentamento foram 
remanejadas para os novos loteamentos urbanos planejados e construídos pela Norte 
Energia, os quais são denominados de Reassentamentos Urbanos Coletivos (RUC). A Tabela 1 
apresenta algumas características dos RUC e também da Vila Residencial de Trabalhadores. 
 
Tabela 1 – Áreas de reassentamento urbano coletivo (RUC). 
 
RUC 
N° de Lotes 
(Estimativo) 
Residenciais 
RUC 
Vila Residencial 
Jatobá 1244 1230 14 
São Joaquim 1038 932 106 
Casa Nova 452 452 - 
Água Azul 806 806 - 
Laranjeiras 599 599 - 
TOTAL 4139 4029 120 
 
Fonte: Norte Energia, 2014. 
 
Por essa configuração, a população que se encontrava na ADA do Igarapé Ambé foi 
reassentada nas RUC Jatobá e Água Azul e aqueles que residiam na ADA do Igarapé Altamira 
foram transferidos para as RUC São Joaquim e Casa Nova. Os habitantes que residiam na 
ADA do Igarapé Panelas, por sua vez, se deslocaram para a RUC Laranjeiras. A Tabela 2 
define as distâncias da ADA Urbana e das RUC em relação à área central da cidade. 
 
7 Trata-se de uma forma de ocupação que reproduz o padrão construtivo das palafitas ribeirinhas.Porém, no ambiente urbano 
prevalece a alta densidade habitacional os fatores que permitem caracterizar esses assentamentos como precários e 
“associados à pobreza e às diversas estratégias de reprodução social nas periferias da cidade” (RODRIGUES et al, 2013, p. 2). 
 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 35 
 
Tabela 2 – Distâncias em relação à Área Central – ADA e RUC. 
 
ADA (origem) 
Distância da área 
central (km) 
RUC (destino) 
Distância da área 
central (Km) 
Variação 
(km) 
Ambé 2,7 
Jatobá 3,5 0,8 
Água azul 5,4 2,7 
Altamira 0,79 
Casa Nova 3,9 3,2 
São Joaquim 2,4 1,7 
Panelas 3,2 Laranjeiras 5,2 2,0 
Orla 1,6 Laranjeiras 5,2 3,2 
MÉDIA 2,07 4,0 2,2 
 
Fonte: Trabalho de Campo e levantamento cartográfico. Organização: Autores, 2016. 
 
Como argumenta Harvey (1980), “as mudanças na forma espacial da cidade e nos 
processos sociais, que operam na cidade, provocam mudanças na renda do indivíduo” (p. 42). 
Desse modo, com a alteração dos locais de residência dos habitantes da ADA Urbana para áreas 
afastadas do centro da cidade, é possível avaliar um relativo prejuízo para aqueles que são 
desprovidos de veículo particular. Como grande parte dos reassentados é representada por 
trabalhadores do terciário (GEDTAM, 2014), a ampliação das distâncias pode interferir 
diretamente no custo do deslocamento para a área central e, igualmente, no tempo de trabalho 
em relação ao tempo de vida. Outro fator a ser considerado é a ampliação dos custos da nova 
residência, a exemplo dos valores relativos ao consumo de energia, já que na ADA Urbana as 
ligações elétricas eram, em sua maioria, clandestinas e essas despesas não impactavam 
diretamente na renda dos indivíduos. Como veiculou o Jornal Estadão em abril de 2016 “a conta 
de luz virou uma dor de cabeça para os moradores, que preferem vender os imóveis novos e 
procurar algo mais em conta, ou até voltar para um barraco” (ESTADÃO, 02/03/2016). 
Essa realidade escancara, mais uma vez, a face da desigualdade social na cidade, 
pois apesar de as residências possuírem melhores condições de habitabilidade, os 
rendimentos familiares e as suas condições de trabalho e emprego permanecem as mesmas. 
Ademais, os custos relacionados à moradia são ampliados por conta das faturas de energia, 
água, IPTU etc. que devem ser arcadas pelos moradores. Como um processo associado à 
reprodução da vida, resta então a decisão de se desfazer do imóvel do RUC, adquirir outro 
terreno (possivelmente em área irregular) e utilizar o valor restante para suprir, pelo menos 
por algum tempo, as despesas familiares. 
Com a apresentação desse último componente, é possível se chegar a uma síntese 
das principais transformações na cidade de Altamira após a instalação da usina hidrelétrica 
de Belo Monte. No Quadro 3, foram selecionados alguns itens necessários para exemplificar 
como a cidade se configurava em momento anterior e como se configura atualmente. 
36 - Políticas Públicas, Gestão e Desenvolvimento Territorial 
 
Quadro 1 – Resumo das transformações no espaço intraurbano de Altamira. 
Característica Antes de Belo Monte Depois de Belo Monte (entre 2010 e 2016) 
População urbana 
Apesar do crescimento acelerado 
típico das cidades médias e da alta taxa 
de urbanização, havia uma tendência 
de redução nos incrementos médios 
anuais da população urbana, resultado 
da diminuição das migrações rural-
urbanas. 
 
Embora não se tenha uma avaliação estatística 
oficial, entre 2010 e 2014 se registrou, segundo 
estimativa da Prefeitura Municipal, um 
crescimento aproximado de 65% da população 
urbana. Como é típico dos projetos hidrelétricos 
no Brasil, parte dessa população continua 
residindo no espaço urbano. 
Expansão territorial 
urbana 
Pela avaliação do crescimento da 
cidade (extensão absoluta) desde 
1970, percebe-se que, apesar de ter 
havido um crescimento maior entre 
1970 e 1980, as demais fases de 
crescimento são regulares. 
 
Registra-se a maior expansão urbana da 
história de Altamira, com significativa 
ampliação do perímetro urbano, multiplicação 
de grandes loteamentos planejados e 
densificação da ocupação. 
Loteamentos 
urbanos 
Prevalência de loteamentos irregulares 
ou planejados de forma precária, sem 
as condições de infraestruturas 
exigidas pela regulamentação nacional. 
Com a regulamentação dos novos instrumentos 
de ordenamento urbano e a maior 
regulamentação do uso do solo, os novos 
loteamentos passaram a conter os itens exigidos 
na regulamentação nacional (sistemas de água, 
esgoto e terraplanagem). Os valores dos 
terrenos, entretanto, se tornam elevados em 
comparação ao momento anterior. 
Mercado 
imobiliário 
Baseado em capitais locais, sem 
grandes investimentos de 
infraestrutura ou marketing. A maioria 
dos loteamentos não possuía muitas 
unidades e os preços eram mais 
acessíveis à população de mais baixa 
renda. 
Capitaneados por empresas incorporadoras, os 
novos produtos imobiliários são baseados em 
capitais locais, regionais e nacionais, com 
investimento em infraestrutura e marketing. O 
volume de lotes é grande e os preços atendem 
especialmente à classe média, ainda que não se 
verifique a intermediação financeira direta. 
Padrão construtivo 
das residências 
Em áreas situadas junto aos leitos dos 
igarapés ainda prevaleciam as 
habitações do tipo “ribeirinha”, com 
casas em palafitas e acessos 
improvisados a partir de pontes de 
madeira (estivas). As condições de 
habitabilidades se faziam precárias. 
Promove-se a remoção quase completa da 
habitação ribeirinha em função do 
reassentamento. Com isso, o padrão habitacional 
dominante passa a ser de alvenaria em terra 
firme. Há a melhoria das condições de 
habitabilidade no interior das residências e em 
seu entorno, embora prevaleçam as condições 
precárias em alguns focos de ocupação irregular. 
 
Localizações da 
habitação e 
desigualdades 
espaciais 
Pela relação entre a localização das 
habitações e os estratos de renda, 
percebe-se uma heterogeneidade nas 
localizações habitacionais, sem 
prevalência de zonas de alto padrão ou 
áreas de autossegregação residencial. 
Com a remoção das residências de baixo padrão 
da área central e a criação de novas áreas de 
expansão na borda do perímetro urbano, 
percebe-se uma tendência a maior 
homogeneidade interna em determinadas áreas. 
 
Paisagem urbana 
Ainda dominada por objetos que 
remetem à tradição ribeirinha. As 
casas em palafitas, a arquitetura 
tradicional das habitações e as vias de 
acesso ao rio. correspondiam às 
formas remanescentes de uma fase 
anterior da cidade. 
Com os projetos de requalificação urbana, as 
áreas situadas no entorno dos igarapés e 
próximas à orla do rio passam a ser dominadas 
pela nova paisagem moderna, pensada e 
articulada do ponto de vista do empreendedor. 
Assim, a paisagem tradicional se torna menos 
presente na composição do espaço geográfico. 
 
 
Fonte: Miranda Neto, 2016. 
 A geografia do Pará em múltiplas perspectivas - 37 
 
O caso da usina de Belo Monte apresenta importantes exemplos que devem ser 
devidamente expostos como forma de revelar os mecanismos de dominação e de 
reprodução do capital. Um deles se refere à nova localização das habitações no espaço 
intraurbano, que pela remoção das populações da ADA Urbana aponta uma tendência de 
afastamento das populações de mais baixa renda dos espaços próximos à área central. Pela 
análise empreendida, se torna evidente que os pobres são quase sempre desprovidos de 
boas opções no contexto da cidade: ou com uma habitação precária na área central ou com 
uma residência de média qualidade, porém situada em área periférica. Essa lógica se mostra 
semelhante tanto em relação aos espaços das RUC quanto aos projetos do programa MCMV, 
que abrigam populações semelhantes em termos de estratos de renda. 
Enquanto a cidade ainda convive com os conflitos pela posse do solo, prevalecem as 
estratégias de valorização de lotes urbanos

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