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Luís Fernando Lipka Insfran | Medicina UFMS/CPTL HEMOSTASIA E TROMBOSE – PARTE 1 HEMOSTASIA INTRODUÇÃO ❖ A hemostasia compreende os mecanismos reguladores que equilibram dinamicamente a tendência de manter o sangue em seu estado líquido nos vasos normais e a de formar coágulos em resposta a lesões endoteliais, com o objetivo de deter a hemorragia ➢ Também é responsável pela estabilização e lise desses coágulos ❖ Dividida em 3 processos: ➢ Hemostasia Primária → Agregação plaquetária + Tampão hemostatico ➢ Hemostasia Secundária (Coagulação) → Coagulação sanguínea ➢ Fibrinólise → Controle da coagulação + lise do coágulo EXAMES LABORATORIAIS PARA AVALIAR A HEMOSTASIA ❖ Hemograma ➢ Nº de plaquetas → primeiros agentes para formação dos coágulos → plaquetopenia → alteração na cascata de coagulação → risco de sangramento ➢ Alterações de outras séries → predispõe a sangramentos → Leucemias, Sd. Mielodisplásicas, entre outras ➢ Pseudoplaquetopenia → Erro laboratorial → Aglutinação pelo EDTA (tubo tampa roxa - anticoagulante) → em alguns pacientes, devido a presença do EDTA, há aglutinação das plaquetas → impedindo a contagem das plaquetas pelo contador automático que entende como uma plaquetopenia → Pseudoplaquetopenia ▪ Deve-se realizar uma revisão da lâmina; ou ▪ Colher novo exame com citrato de sódio (outro anticoagulante) ❖ Tempo de Sangramento ➢ Detecta função anormal das plaquetas (hemostasia primárias ▪ É prolongado nas trombocitopenias (sangra por mais tempo) ▪ O exame é normal em sangramentos de causas vasculares ▪ É alargado em Plaquetopatias mesmo se nº de plaquetas normal (DVW, Trombastenia Glanzmann, Sd Bernard Soulier, AAS, AINES, Uremia, paraproteinemias, ECMO) ➢ Exame pouco sensível ➢ Técnica ▪ Perfuração no antebraço ou orelha + contagem do tempo (método de Ivy) ❖ Curva de Agregação Plaquetária ➢ Exame mais avançado ➢ Explora as vias de Ativação das Plaquetas ▪ Exposição à diferentes agentes Colágeno; ADP; adrenalina; ác. araquidônico; trombina; ristocetina Exames Importantes para Rotina ❖ Tempo de Protrombina (TP ou TAP) ➢ Avalia: ▪ Via Extrínseca (Fatores VII, X) Fatores II, VII, IX e X são Vit. K – dependentes → Dica: 2+7=9 / parabéns tirou 10 ; fator VII primeiro a cair no hepatopata → alarga o TAP → primeira alteração da Função Hepática ▪ Via Comum (Fatores X, V, II e Fibrinogênio) ➢ VR: 11 a 14,5 segundos ➢ Método de escolha para avaliar Terapia com Anticoagulantes Orais (INR → padronização) ▪ INR normal = 1 a 2 ▪ “2x mais anticoagulado” → INR = 2 ▪ “3x mais anticoagulado” → INR = 3 ❖ Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado (TTPA) ➢ Avalia: ▪ Via Intrínseca (fatores VIII, IX, X, XI e XII) ▪ Via Comum (Fatores X, V, II e Fibrinogênio) ➢ VR: 25 a 30 segundos ➢ Relação TTPA (tipo uma “INR”) – normal até 1,2 ▪ Exame para monitorização de pacientes que estão anticoagulando com Heparina em Bomba de Infusão ❖ Tempo de Trombina (TT) ➢ Avalia a coagulação pela Ativação do Fibrinogênio ➢ VR: 9 a 15 segundos ➢ Para a avaliação de suspeita de sangramento por alteração no fibrinogênio → Pode-se somar com: ▪ Dosagem de Fibrinogênio VR: >100mg/dL ❖ Dosagem de Fatores Específicos ➢ Suspeitas de hemofilias e deficiências de outros fatores D ISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA INTRODUÇÃO ❖ Basicamente estão relacionados a Distúrbios Plaquetários ➢ Aumento na destruição (esplenomegalia, anticorpos) ➢ Insuficiência na produção ❖ Quadro clínico característico de Distúrbios da Hemostasia Primária: ➢ Petéquias ➢ Púrpuras ➢ Equimoses ➢ Menorragia ➢ Epistaxe ➢ Sangramento de Mucosas ➢ Hemorragia Cerebral PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA IMUNE-IDIOPÁTICA (PTI) ❖ Etiologia ➢ Forma Crônica ▪ Mulheres ▪ 15-50 anos ▪ Idiopática ▪ Recidivas Frequentes ➢ Forma Aguda ▪ Crianças → Principal causa de Trombocitopenia na infância (3-8 casos : 100.000 crianças/ano) → Pico entre 2 e 5 anos de idade ▪ Predomínio H>M ▪ Após Infecção ou Vacinação ▪ Resolução espontânea → Tratamento conservador ❖ Diagnóstico ➢ É diagnóstico de Exclusão ➢ Laboratório ▪ “Plaquetopenia e mais nada” (em provas) Pode haver Macroplaquetas → não é patognomônico → megacariócitos se dividindo precocemente ▪ Pode haver pequenos sangramentos e leve anemia ❖ Tratamento ➢ Assintomático e Plaqueta > 30.000/mL → Observação ➢ Sintomático e/ou Plaqueta < 30.000/mL → Tto primeira linha: Corticoterapia (Prednisona 1mg/kg/dia ou Dexametasona 40 mg/dia por 4 dias) → leva a um incremento plaquetário ▪ Corticorresistente/Corticorrefratário → Tto de segunda linha: Esplenectomia; Rituximab; Imunoglobulina Humana Intravenosa; Análogos de receptor de trombopoietina ➢ Transfusão de plaquetas apenas em emergências (pode agravar a plaquetopenia) PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA (PTT) ❖ Introdução ➢ Doença aguda e fulminante caracterizada por destruição plaquetária não imunológica que cursa com trombocitopenia e anemia hemolítica microangiopática. ❖ Fisiopatologia ➢ Deficiência Congênita ou Adquirida de ADAMTS13 (uma metaloproteína) ▪ Sua ausência leva a um aumento da Adesão Plaquetária Resultando em Oclusões e Embolização vascular ❖ Quadro Clínico ➢ Ocorre mais em Mulheres ▪ 20-40 anos ➢ Pêntade (Não é obrigatório a presença dos 5): ▪ Trombocitopenia ▪ Anemia Hemolítica Microangiopática Com presença de Esquizócitos ▪ Alterações neurológicas ▪ Insuficiência Renal ▪ Febre ❖ Laboratório ➢ Hemograma ▪ Anemia com presença de Esquizócitos ▪ Trombocitopenia ➢ Marcadores de Hemólise ➢ Testes de Coagulação Normais ➢ Dosagem de ADAMTS13 ▪ ADAMTS13 diminuída ❖ Diagnóstico da PTT: Anemia Hemolítica Microangiopática Trombocitopenia (ou Pêntade Clássica) -> não obrigatória Teste Coombs Direto Negativo para Antiglobulina Níveis Reduzidos de ADAMTS13 ❖ Tratamento ➢ Baseado em Plasmaférese + corticoides + rituximabe ▪ Objetivo do Tto → Retirar anticorpos, repor ADAMTS13 e impedir formação de novos anticorpos ➢ Detalhe IMPORTANTE no tratamento → Modifica Morbimortalidade: ▪ Iniciar Plasmaférese logo na SUSPEITA de PTT (Trombocitonia + An. Hemolítico Microangiopática) Retirada de anticorpos contra ADAMTS13 → reposição de plasma com ADAMTS13 em quantidades normais ➢ Transfusão de plaquetas não é recomendado → Pode aumentar a formação dos microtrombos → Apenas em emergências SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA (SHU) ❖ Introdução ➢ Doença grave, caracterizada principalmente por início agudo com anemia hemolítica microangiopática, insuficiência renal e trombocitopenia. ▪ Semelhante à PTT ➢ Ocorre mais em CRIANÇAS até os 5 anos de idade, normalmente A presença desses 2 já é suficiente para Suspeita + Tto ❖ Etiologia ➢ Está relacionada a diversos determinantes: ▪ Formas hereditárias da doença ▪ Administração de medicamentos ▪ Patógenos variados, principalmente: Infecções por Escherichia coli produtora de Toxina Shiga (STEC) - também conhecido como E. coli produtora de Verocitotoxina 157 (VTEC) ou E. coli enterro- hemorrágico (EHEC) Infecções por Shigella ❖ Quadro Clínico ➢ Acometimento principalmente RENAL (IRA) ➢ Trombocitopenia ➢ Diarreia ➢ Perda de peso ➢ ADAMTS13 normal ❖ Tratamento ➢ SUPORTE com Hemodiálise ▪ Não se faz plasmaférese D ISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA HEREDITÁRIOS ❖ Introdução ➢ São Distúrbios Plaquetários Qualitativos e são raros na vida e nas provas ➢ Seus diagnósticos são feitos pelo Teste de Agregação Plaquetária ➢ Compreende as seguintes Doenças: ▪ Trombastenia/Doença de Glanzmann Deficiência de GP IIb/IIIa ▪ Síndrome de Bernard-Soulier Deficiência da GP Ib ▪ Dç de Armazenamento / Sd. das Plaq. Cinzentas Ausência de Grânulos Plaquetários D ISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA ❖ Introdução➢ São distúrbios que afetam a Cascata de Coagulação devido à falta de algum de seus Fatores ➢ As principais doenças são: ▪ Doença de von Willebrand (DvW)* ▪ Hemofilias (A e B) ▪ Outros distúrbios de coagulação adquiridos: Deficiência de Vit. K Doença Hemorrágica do RN Uso de Anticumarínicos Hepatopatias Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) ❖ Quadro clínico ➢ Em geral, os quadros clínicos dos Distúrbios da Hemostasia Secundária são mais graves do que os quadros dos distúrbios da hemostasia primária ▪ Gravidade: Dist. Hem. Secundária > Dist. Hem. Primária ➢ Nos Distúrbios da Hemostasia Secundária temos: ▪ Equimoses espontâneas ▪ Sangramentos profundos ▪ Hematomas intramusculares → podendo gerar quadros de Sds. Compartimentais ▪ Hemartroses → sangramento em articulações ▪ Hemorragia Intracerebral Espontânea DOENÇA DE VON WILLEBRAND (DVW) ❖ Introdução ➢ É um grupo de doenças que tem em comum o defeito do Fator de von Willebrand ▪ Esse fator desempenha duas importantes funções: 1 - Adesão plaquetária à exposição da GpIIb-IIIa 2 – Ligação com Fator VIII da cascata de coag ➢ São separados em 3 Tipos: ▪ Tipo 1 – Deficiência Quantitativa Parcial Maioria dos casos (vida e provas) → 80% Leva a uma redução leve a moderada do FvW ▪ Tipo 2 – Deficiência Qualitativa/Funcional É caracterizada por uma anormalidade funcional do FvW Sendo assim, a quantidade de FvW é normal É subdividida de acordo com a anormalidade: 2A – Ligação diminuída às plaquetas e ausência dos multímeros de alto peso molecular 2B – Aumento da afinidade pela GpIb e ausência/diminuição dos multímeros de alto peso molecular 2M – Redução da função de ligação às plaquetas 2N – Redução da capacidade de ligação ao fator VIII ▪ Tipo 3 – Ausência do FvW detectável Ausência quase que total do FvW Quadro Clínico peculiar → não há proteção do Fator VIII ❖ Quadro Clínico ➢ Geralmente, o quadro é característico de sangramento típico de um Distúrbio da Hemostasia Primária* (apesar de ser classificado como um Distúrbio da Hemostasia Secundária) ▪ Petéquias; Púrpuras; Equimoses; Menorragia; Epistaxe; Sangramento de Mucosas; Hemorragia Cerebral Isso ocorre devido ao fato de o FvW, além de carregar o Fator VIII, é responsável também pela adesão plaquetária ➢ Exceção → DvW tipo 3 → Quadro clínico típico de uma Distúrbio da Hemostasia Secundária → quadro clínico semelhante a uma Hemofilia A → é como se não tivesse o Fator VIII, pois o FvW é seu principal carregador ❖ Diagnóstico ➢ Antecedentes pessoais → Frustos / quadros de sangramentos leves compatíveis com Dist Hem Prim ➢ Testes de hemostasia podem ser normais (se houver quantidades razoáveis de FvW) ▪ Quando alterados Aumento do TS Alargamento do TTPA (Fator VIII) ➢ Dosagem do FvW baixo – se defeito quantitativo ➢ Alteração no Teste de Agregação Plaquetária com Ristocetina ❖ Tratamento ➢ Ácido Tranexâmico ➢ DDAVP no tipo 1 → força estoques de FvW e Fator VIII ➢ Concentrados de Fator VIII/FvW em quadros graves ➢ Contraindicação no uso de AAS e outros AINES → Alteram função plaquetária HEMOFILIAS ❖ Introdução ➢ São as Deficiências Hereditárias mais comuns ▪ As hemofilias são Def. Hered. Recessivas Ligada ao Cromossomo X → portanto afetam mais sexo Masc Até 1/3 dos casos são mutação “de novo” → uma mutação nova, que pode ocorrer em qualquer idade ❖ Classificadas em 2 tipos principais: ➢ Hemofilia A → Queda do Fator VIII → 80% dos casos ➢ Hemofilia B → Queda do Fator IX ❖ Quadro Clínico ➢ É idêntico nas duas hemofilias (A e B) → Diferenciação laboratorial ➢ Gravidade se correlaciona com quantidade de fator do paciente ▪ Mais quant. de Fatores → menor gravidade ▪ Menor quant. de Fatores → maior gravidade ➢ Normalmente já são observados desde a infância ▪ Sangramentos intensos mesmo em traumas leves ou mesmo sangramentos espontâneos ▪ Hemartroses em grandes articulações ▪ Hematomas grandes → podem gerar Síndromes Compartimentais ❖ Laboratório ➢ TTPA alargado ➢ TP normal ➢ Dosagem do fator diminuída → Diferencia entre Hemofilia A e B ❖ Tratamento ➢ Reposição com Fator Industrializado Purificado ▪ Profilática ▪ Tratamento do Sangramento Agudo ➢ DDAVP para Hemofilia A → Liberação dos estoques de FvW e Fator VIII D ISTÚRBIOS DE COAGULAÇÃO ADQUIRIDOS ❖ Exemplos ➢ Deficiência de Vit. K ➢ Hepatopatias ➢ Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) ❖ Deficiência de Vitamina K Fatores Vit. K–dependentes → II, VII, IX e X → Dica: 2+7=9 / parabéns tirou 10 ➢ Laboratório ▪ TP e TTPA prolongados (principalmente TP – Via Extrínseca) ➢ Ocasiões clássicas: ▪ Nascimento Doença Hemorrágica do RN ▪ Dieta inadequada ▪ Drogas Anticumarínicos ▪ Doenças do Pâncreas, Intestino Delgado ou Icterícia Obstrutiva ➢ Tratamento ▪ Reposição de Vit. K ❖ Hepatopatias ➢ Fígado produz quase todos os fatores de coagulação ▪ O Fator VII é o primeiro a cair no hepatopata → alarga o TAP → primeira alteração da Função Hepática ➢ Tratamento ▪ 1ª linha: Plasma fresco congelado → fatores de coagulação ▪ Podem responder à Vit. K ❖ Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) ➢ Estado de: ▪ Deposição inapropriado de Fibrina ▪ Consumo de Fatores de Coagulação ▪ Consumo de Plaquetas ➢ É sempre secundário à alguma condição ▪ Secundário à infecção, neoplasia, causa obstétrica, entre outras “Não é para quem quer, é para quem pode” ➢ Quadro Clínico ▪ Sempre atentar-se para um fator predisponente ▪ Pode-se apresentar em 2 espectros: Espectro Hemorrágico Consumo de plaquetas e fatores de coagulação Sangramentos locais com lesões prévias ou suscetível: cateter de TGI, pulmonar, urogenital... Fibrinogênio baixo D-dímero aumentado Alargamento TT, TP e TTPA Plaquetopenia Anemia Hemolítica Microangiopática ➢ Diag. dif. com PTT Espectro Trombótico Forma crônica – corpo consegue compensar Lesões na pele Gangrenas de extremidades Isquemia cerebral, pulmonar, renal... ➢ Tratamento ▪ Tratar causa base ▪ Espectros: Hemorrágico → Suporte Transfusional Trombótico → Heparina + Antiplaquetários ▪ Não utilizar Antifibrinolóticos → pode piorar a microtrombose Reposição plaqueta 1 bolsa → 5.000 a 10.000 plaq/mm³ em adulto 70kg Não há objetivo de plaquetometria → objetivo da transfusão: parar sangramento → Transfusão guiada pelo peso → 1und / 10kg → diferença está no intervalo entre as transfusões
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