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HEPATITE A Layse Melo 1 A hepatite é uma inflamação do fígado. É causada pelo VHA (vírus da hepatite A): Vírus de RNA de fita simples de sentido +. Não envelopado. Gênero: hepatovirus Família: Picornavirus Resistente ao calor, ácido e éter. Inativação pode ser conseguida por fervura durante 1 minuto, contato com formaldeído e cloro ou por radiação UV. Em geral, essa doença é benigna e autolimitada, embora o vírus possa causar hepatite fulminante e morte, ou necessidade de transplante em 0,15 a 0,20% dos casos. Transmissão: via oral-fecal. Transmissões muito comuns: ingestão de água ou leite contaminado e o consumo de mariscos recolhidos de águas infectadas. A fase oral infantil e a inexistência de hábitos higiênicos facilitam a infecção viral entre as crianças. Incubação: 14-28 dias. TROPISMO VIRAL O HAV se multiplica no revestimento epitelial do trato intestinal. As partículas de HAV são transportadas para a membrana basolateral do hepatócito via circulação portal. Ocorre eventual viremia e o vírus se dissemina para o fígado, rins e baço. Após replicação no fígado, o HAV é excretado na bile, chega ao intestino e liberado nas fezes. Pela membrana basolateral chega ao sangue. Os mecanismos de eliminação do vírus na bile e no sangue não são conhecidos. Embora o vírus permaneça por um tempo pouco maior no fígado, a eliminação viral nas fezes, a viremia e a infectividade diminuem rapidamente após o aparecimento da icterícia tornar-se evidente. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Início súbito de sintomas, tais como: febre, mal-estar, náuseas, anorexia, desconforto abdominal, urina escura e icterícia. A gravidade é maior nas faixas etárias mais altas. Crianças com < 6 anos geralmente são assintomáticas e poucas com icterícia. Nas crianças maiores e adultos: maioria assintomática e 70% apresentam icterícia. Sintomas com duração média de 2 meses. O VHA não causa hepatite crônica. Padrões clínicos alternativos: doença colestática. HEPATITE A Layse Melo 2 MARCADORES SOROLÓGICOS Os anticorpos contra o VHA (antiVHA) são formados nos estágios iniciais da doença e tendem a persistir no soro. Em geral, os anticorpos IgM aparecem na primeira semana da doença sintomática e declinam lentamente ao longo de um período de 3 a 4 meses. A presença desse anticorpo (IgM) coincide com o declínio da disseminação fecal do vírus. Os níveis de pico da imunoglobulina G (IgG) ocorrem depois de 1 mês com a doença e podem persistir por toda vida. PADRÕES CLÍNICOS Lemon et al. descrevem cinco padrões clínicos: 1. Infecção assintomática 2. Infecção sintomática com icterícia, urina escura e fezes cor de argila 3. Hepatite colestática com fosfatase alcalina prolongada e elevação da bilirrubina e prurido 4. Infecção recorrente 5. Hepatite fulminante. FISIOPATOLOGIA Após a ligação a um receptor específico na superfície dos hepatócitos, o vírus penetra nas células e é desenvelopado. Eventos subsequentes que ocorrem exclusivamente no citoplasma incluem tradução da fita aberta de leitura única em uma poliproteína que é posteriormente processada para gerar as proteínas virais maduras. Replicação em um complexo de replicação ligada à membrana, que gera novos genomas virais, que são posteriormente utilizados para a produção de proteína viral e montagem. Acondicionamento de genomas recém- formados em partículas novas que são exportados para fora das células. O vírus é secretado na bile e, em menor extensão, no soro. IMUNIZAÇÃO Vacina: inativada Indicação: 12 meses (duas doses, intervalo de 6 meses) ou 15 meses (dose única). Objetivo da imunização: substituir o uso de imunoglobulina pelos indivíduos em risco elevado de exposição ao VHA. Isso inclui viajantes que se dirigem às regiões com saneamento precário e nas quais as infecções por VHA são endêmicas; crianças que vivem em comunidades com índices altos de infecção por VHA; homens homossexuais; e usuários de drogas ilícitas. Como a vacina é pouco eficaz para evitar hepatite nos pacientes que tiveram exposição conhecida ao VHA, o uso de IgG é recomendável nestes casos, pois oferecem proteção por meses. IMUNOPATOGÊNESE CÉLULAS T Durante a hepatite A, o aparecimento de células T no fígado coincide temporariamente com um aumento nos níveis séricos de ALT. Ao mesmo tempo, os títulos virais nas fezes e no soro começam a diminuir. HEPATITE A Layse Melo 3 Células T CD8 + específicas para vírus podem contribuir para o controle viral e lesão hepática em hospedeiros infectados com HAV. Os primeiros estudos relataram que os linfócitos do sangue periférico ou clones de élulas T CD8 + derivados do fígado de pacientes com hepatite A exercem citotoxicidade contra células infectadas com HAV e produzem IFN-γ, que pode amplificar a inflamação no local da infecção. Em resumo, como as células T contribuem para a lesão hepática na hepatite A ainda não foi totalmente elucidado. QUIMIOCINAS E CITOCINAS Os níveis séricos de várias citocinas e quimiocinas estão aumentados em comparação com controles saudáveis, incluindo interleucina (IL) -6, IL-8, IL-18, IL-22, ligante CXC-quimiocina (CXCL) 9 e CXCL10, embora as células que os produzem não tenham sido identificadas. CXCL9 e CXCL10 são quimiocinas que recrutam células T efetoras para locais inflamatórios periféricos por ligação a CXCR3, que é tipicamente expresso por células T CD4 + auxiliares 1 efetoras e células T CD8 + citotóxicas. CÉLULAS T REGULATÓRIAS O número de células Treg CD4 + CD25 + Foxp3 + circulantes é diminuído pela apoptose mediada por Fas durante a hepatite A. Além disso, a função supressora das células Treg pode ser inibida diretamente pela ligação das partículas de HAV ao TIM-1 expresso pelas células Treg. A diminuição da atividade da população de células Treg CD4 +CD25 + Foxp3 + pode estar associada a lesão hepática grave durante a hepatite A. Mais estudos são necessários para identificar as células efetoras principalmente visadas pela atividade supressora das células Treg durante a hepatite A. MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS As manifestações extra-hepáticas raramente ocorrem, mas podem incluir pancreatite, erupção cutânea, lesão renal aguda com nefrite intersticial ou nefrite glomerular, pneumonite, pericardite, hemólise e colecistite aguda. Complicações neurológicas também foram relatadas, como mononeurite, Guillan-Barre, encefalite e mielite central. Houve dois casos relatados em 1991 de hepatite autoimune desencadeada por infecção aguda por HAV. DIAGNÓSTICO A hepatite A aguda é diagnosticada por testes sorológicos para detectar anticorpos imunoglobulina específica para HAV (IgM) no sangue. Testes adicionais podem incluir reação em cadeia da polimerase-transcriptase reversa para detectar o RNA viral. A imunoglobulina G (IgG) anti-HAV surge logo após a infecção e permanece presente por toda a vida da pessoa. O exame de sangue revelará uma linfocitose leve e tempo de protrombina normal. Se o tempo de protrombina estiver elevado, deve-se levantar suspeita de lesão hepática grave, incluindo risco de encefalopatia. A hepatite A está associada a uma elevação da aspartato aminotransferase, que retorna ao normal em 4-6 meses. Os níveis de bilirrubina também estão elevados e, se persistirem, deve-se suspeitar de doença hepática colestática. HEPATITE A Layse Melo 4 A ultrassonografia não é realizada em casos rotineiros de HAV. TRATAMENTO Nenhum tratamento específico é necessário para a maioria dos pacientes com infecção aguda não complicada pelo HAV, além dos cuidados desuporte. A recuperação completa dos sintomas pode levar de várias semanas a meses. No caso raro de hepatite fulminante por infecção por HAV, o transplante de fígado pode ser uma medida para salvar vidas. PREVENÇÃO De acordo com a OMS, a maneira mais eficaz de prevenir a infecção pelo VHA é melhorar as práticas de saneamento, segurança alimentar e imunização. Até mais recentemente, a imunoglobulina era o único tratamento para profilaxia pós- exposição contra HAV. No entanto, estudos em animais e ensaios clínicos demonstraram a eficácia da imunização pós-exposição com uma vacina HAV inativada levou o CDC a recomendar a vacina em vez da imunoglobulina para exposição ao HAV em indivíduos saudáveis com idade entre 1 e 40 anos. Para indivíduos com 41 anos ou mais, a administração de imunoglobulina é preferida devido ao risco de apresentação clínica mais grave e evidência limitada de eficácia da vacina neste grupo. Crianças com menos de 12 meses, indivíduos com doença hepática crônica e pessoas imunocomprometidas também devem receber imunoglobulina. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL • Hepatite alcoólica • Outras hepatites virais (B, C, D, E) • Hepatite autoimune PROGNÓSTICO Os resultados para a maioria dos pacientes com HAV são excelentes. Após uma infecção, a imunidade de longo prazo é comum e, ao contrário de outras infecções por hepatite viral, a recorrência dos sintomas é rara. A morte é rara, mas pode ocorrer em indivíduos mais velhos ou com doença hepática subjacente O fator prognóstico mais importante é a idade; quanto mais velho o indivíduo, maior a probabilidade de ocorrer uma reação ou evento adverso. As sequelas a longo prazo são muito raras. COMPLICAÇÕES • Colestase prolongada • Insuficiência renal aguda • Hepatite autoimune Nas formas fulminantes (formas que se acompanham de insuficiência hepática aguda), a necrose é confluente, comprometendo grande parte ou todo o lóbulo (necrose submaciça ou maciça). O infiltrado inflamatório é predominantemente mononuclear, mas pode ser escasso ou desproporcional à extensão da necrose. Iorio N, John S. Hepatitis A. StatPearls Publishing; 2021. PEREIRA, F. GONÇALVES, C. Hepatite A. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 36(3):387-400, mai- jun, 2003. SHIN, E-C. JEONG, S-H. Natural History, Clinical Manifestations, and Pathogenesis of Hepatitis A. Cold Spring Harb Perspect Med 2018;8: a031708. https://www.statpearls.com/ https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29440324/ https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29440324/
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