Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Bioquímica II- Bloco 1 Glicólise ✔ Principais vias de utilização da glicose: A glicose ocupa posição central no metabolismo de plantas, animais e muitos microrganismos. Ela é relativamente rica em energia potencial e, por isso, é um bom combustível. Além disso, é um precursor muito versátil, capaz de suprir uma grande variedade de intermediários metabólicos em reações biossitéticas. ✔ Fases da Glicólise: Fase preparatória- ocorre a fosforilação da glicose e sua conversão a gliceraldeído- 3-fosfato. É necessário o consumo de 2 ATPs para aumentar o conteúdo de energia livre dos intermediários. Fase de pagamento- conversão oxidativa do gliceraldeído-3-fosfato em piruvato, resultando na fosforilação de 4 ADPs à 4 ATPs e 2 NAD+ em 2 NADH por molécula de glicose. Reação global da glicólise: Glicose + 2 ATP + 2 NAD+ + 2 Pi + 4 ADP 🡪 2 Piruvatos + 4 ATP + 2 NADH + 2 ADP + 2 H+ + 2 H2o Na próxima página pode-se observar um esquema com as 10 etapas da glicólise 2 Bioquímica II- Bloco 1 Cada etapa da glicólise é detalhada a seguir. 3 Bioquímica II- Bloco 1 Faze preparatória: Etapa 1: Fosforilação da glicose. Ocorre uma fosforilação do carbono C6 da glicose, para isso, ocorre a hidrólise de 1 ATP. O grupamento fosforil garante que a glicose permaneça dentro da célula, visto que ele possui carga negativa, o que impede que atravesse a membrana celular. *Requer Mg+2: o substrato da enzima não é o ATP, mas sim o complexo MgATP 2-. *Vale observar que essa é uma reação irreversível! Etapa 2: Conversão de glicose-6- fosfato a frutose- 6-fosfato. Ocorre uma isomerização reversível, visto que a frutose é mais simétrica. Etapa 3: Fosforilação da frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato. A enzima PFK-1 catalisa a transferência de um grupo fosforil do ATP. *Vale observar que essa é uma reação irreversível! Etapa 4: Clivagem da frutose 1,6- bifosfato. Formação de 2 trioses-fosfato diferentes. Etapa 5: Interconversão de trioses-fosfato Apenas o gliceraldeído-3P pode ser diretamente degradado nas etapas subsequentes. Então, a di- hidroxicetona é rapidamente convertida a tal forma. Fase de pagamento: Nas próximas etapas tudo ocorre dobrado devido a formação de 2 gliceraldeído-3-fosfato. Etapa 6: Oxidação do gliceraldeído-3-fosfato. 4 Bioquímica II- Bloco 1 * O NAD+ é essencial para essa etapa. Desse modo, se o NADH não for reoxidado continuamente, a via glicolítica para. Etapa 7: Transferência do grupo fosforil do 1,3- bifosfoglicerato ao ADP. Essa formação de ATP via transferência do grupo fosforil de um substrato é chamada de fosforilação no nível do substrato. Etapa 8: Conversão do 3-fosfoglicerato a 2- fosfoglicerato. Deslocamento reversível do grupo fosforil dependente de Mg+2. Etapa 9: Desidratação do 2-fosfoglicerato a fosfoenolpiruvato. Etapa 10: Transferência de um grupo fosforil do fosfoenolpiruvato ao ADP. Formação de ATP- fosforilação no nível do substrato. A enzima que catalisa essa reação requer K+, Mg+2 ou Mn+2. *Vale observar que essa é uma reação irreversível! ✔ Ganho líquido da glicólise por molécula de glicose: 2 ATP 2 NADH 2 piruvatos ✔ Destinos do piruvato: 5 Bioquímica II- Bloco 1 Em condições de hipóxia (pouco oxigênio), o NADH gerado na glicólise não pode ser reoxidado pelo O2. Sem a regeneração do NAD+ a oxidação do gliceraldeído-3P não ocorreria, então ele precisa ser regenerado de outra forma, como na redução do piruvato a lactato. Assim, na fermentação lática, o piruvato é o aceptor final de elétrons. Observe que na glicólise, cada molécula de glicose gera 2 gliceraldeídos 3P e sua desidrogenação converte 2 moléculas de NAD+ a 2 de NADH. Por outro lado, na fermentação lática, a redução de 2 piruvatos gera 2 NAD+. Desse modo, não ocorre variação líquida de NAD+ ou NADH. Obs: Destino do lactato O lactato formado pelo músculo esquelético em atividade intensa pode ser reciclado; ele é transportado para o fígado, onde é convertido em glicose durante a recuperação muscular (via gliconeogênese). ✔ Fermentação alcoólica: ✔ Regulação da glicólise: Os pontos de regulação são através das enzimas que catalisam reações irreversíveis. 1- Hexocinase Existem 4 isoenzimas (proteínas diferentes que catalisam a mesma reação) presente no músculo e no fígado. Hexocinase II é a isoenzima predominante dos miócitos (células musculares). Hexocinase IV (glicocinase) é a isoenzima predominante no fígado. A hexocinase II tem alta afinidade pela glicose, uma vez que a glicose entra nos miócitos a partir do sangue e isso gera uma concentração intracelular de glicose suficientemente alta para saturar a hexocinase I, então, a enzima normalmente age na sua velocidade máxima ou próxima dela. A hexocinase I do músculo e a hexocinase II são inibidas alostericamente por seu produto, a glicose-6-fosfato. Desse modo, sempre que a concentração intracelular de glicose se eleva acima do seu nível normal, essas enzimas são temporária e reversivelmente inibidas. As diferentes isoenzimas da hexocinase do fígado e do músculo refletem os diferentes papéis desses órgãos no metabolismo de carboidratos: Músculo → consome glicose, usando-a para a produção de energia. Fígado → mantém a homeostasia da glicose sanguínea produzindo ou consumindo o açúcar, dependendo da sua concentração sanguínea. A hexocinase IV (glicocinase) necessita de uma concentração de glicose maior do que a normal no sangue para atingir metade da sua saturação- alto Km. Isso permite sua regulação direta pelo nível de glicose sanguínea. Além disso, ela não é inibida pela glicose-6-fosfato. 6 Bioquímica II- Bloco 1 Com isso, quando a glicose sanguínea é alta, o excesso de glicose é transportado para os hepatócitos, onde a hexocinase IV a converte a glicose-6-fosfato, visto que essa isoenzima não satura em baixa concentração de glicose, sua atividade continua aumentando à medida que essa concentração se eleva. Observe no gráfico abaixo a diferença na atividade de 2 hexocinases. Já sob condições de glicose sanguínea baixa, a concentração do açúcar no hepatócito é baixa em relação ao Km da hexocinase IV, a glicose gerada pela gliconeogênese deixa a célula antes de ficar retida pela fosforilação 2- Fosfofrutocinase-1 (PFK-1) Esssa enzima complexa tem, além dos seus sítios de ligação ao substrato, vários sítios reguladores aos quais se ligam os ativadores ou os inibidores alostéricos. O ATP não é somente um substrato para a PFK-1, mas também um produto final da via glicolítica. Assim, uma alta concentração celular de ATP indica que a produção está maior que o consumo, então ele inibe a PFK-1, ligando- se a um sítio alostérico da enzima e reduzindo sua afinidade pelo substrato (frutose-6-fosfato). Nesse sentido, um aumento de ADP e AMP indicam que o consumo de ATP está maior que a produção, então eles atuam alostericamente liberando a inibição pelo ATP. O citrato, intermediário chave na oxidação aeróbica do piruvato, dos ácidos graxos e dos aminoácidos serve como sinal de que a célula está satisfazendo suas necessidades de energia metabólica. Com isso, em altas concentrações de citrato, o efeito inibidor do ATP é aumentado. *Frutose-2,6-bifosfato* Na gliconeogênese, ocorre a reação inversa (Frutose- 1,6 BP 🡪 Frutose-6P) e ela é catalisada pela enzima FBPase-1. Nesse sentido, quando o nível de glicose no sangue diminui, o hormônio glucagon sinaliza para o fígado produzir e liberar mais glicose- estimula quebra de glicogênio e gliconeogênese. Por ouro lado, quando a glicose sanguínea está alta,a insulina sinaliza para o fígado usar o açúcar como combustível e percursor na síntese e armazenamento de glicogênio e triacilglicerol. Tal sinalização é feita da seguinte forma: o glucagon estimula a adenilil-ciclase a sintetizar AMPc a partir de ATP. O AMPc ativa a proteína- cinase (PKA), o qual fosforila a proteína bifuncional PFK-2/FBPase-2, o que aumenta a atividade FBPase-2 e inibe a PFK-2. A FBPase-2 catalisa a conversão de frutose 2,6 BP em frutose- 6P. Dessa forma, o glucagon reduz o nível celular de Futose-2,6-bifosfato, inibindo a glicólise e estimulando a gliconeogênese. A insulina tem o efeito oposto, estimula a atividade de uma fosfoproteína fosfatase que catalisa a remoção do grupo fosforil da proteína bifuncional, ativando a PFK-2, aumentando o nível de frutose-2,6-bifosfato, estimulando a glicólise e inibindo a gliconeogênese. Todo esse processo está esquematizado abaixo: 7 Bioquímica II- Bloco 1 3- Piruvato cinase Altas concentrações de ATP, acetil-CoA e ácidos graxos de cadeia longa (sinais de suprimento abundante de energia) inibem alostericamente todas as isoenzimas da piruvato-cinase. A isoenzima do fígado (forma L), mas não a do músculo (forma M), está sujeita à regulação adicional por fosforilação. Quando a redução da glicose sanguínea causa a liberação de glucagon, a proteína-cinase dependente de cAMP fosforila a isoenzima L, inativando-a. Isso causa uma redução no uso da glicose como combustível no fígado, poupando-a para exportá-la para o cérebro e outros órgãos. No músculo, o efeito do aumento da [cAMP] é bem diferente. Em resposta à adrenalina, o cAMP ativa a degradação do glicogênio e a glicólise e fornece o combustível necessário para a resposta de luta ou fuga. Exercícios de fixação 1- O que ocorre em cada fase da glicólise? 2- Qual é o valor bruto e líquido de ATP na glicólise? O que justifica tal diferença? Apresente a reação global da glicólise. 3- Compare a localização de GLUT4 com a de GLUT2 e GLUT3, e explique por que essas localizações são importantes na resposta do músculo, do tecido adiposo, do cérebro e do fígado à insulina. 4- Durante atividade intensa, a demanda por ATP no tecido muscular aumenta muito. Nos músculos das pernas do coelho ou no músculo das asas do peru, o ATP é produzido quase exclusivamente por fermentação láctica. O ATP é formado na fase de pagamento da glicólise 8 Bioquímica II- Bloco 1 por meio de duas reações, promovidas pela fosfoglicerato-cinase e pela piruvato-cinase. Suponha que o músculo esquelético seja desprovido da lactato-desidrogenase. Poderia ele desenvolver atividade física vigorosa, ou seja, gerar ATP em alta taxa pela glicólise? Explique 5- A transformação de glicose a lactato nos miócitos libera apenas em torno de 7% da energia livre liberada quando a glicose é completamente oxidada a CO2 e H2O. Isso significa que a glicólise anaeróbica no músculo é um desperdício de glicose? Explique. 6- As concentrações de lactato no plasma sanguíneo antes, durante e depois de uma corrida de 400 m estão mostradas no gráfico. (a) O que causa o rápido aumento na concentração de lactato? (b) O que causa o declínio da concentração de lactato após o término da corrida? Por que o declínio ocorre mais lentamente do que o aumento? (c) Por que a concentração de lactato não é zero durante o estado de repouso? 7- As etapas reguladas da glicólise na célula intacta podem ser identificadas pelo estudo do catabolismo da glicose nos tecidos ou nos órgãos inteiros. Por exemplo, o consumo de glicose pelo musculo cardíaco pode ser medido pela circulação artificial de sangue através de um coração intacto isolado e pela medida da concentração da glicose antes e depois de o sangue passar pelo coração. Se o sangue circulante e desoxigenado, o músculo cardíaco consome glicose em uma velocidade constante. Quando se adiciona oxigênio ao sangue, a velocidade do consumo de glicose diminui drasticamente, sendo então mantida na velocidade mais baixa. Explique. 8- O efeito do ATP sobre a enzima alostérica PFK-1 está mostrado abaixo. Para certa concentração de frutose-6-fosfato, a atividade da PFK-1 aumenta com o aumento da concentração de ATP, até um ponto além do qual o aumento da concentração do ATP inibe a enzima. 9 Bioquímica II- Bloco 1 (a) Explique como o ATP pode ser tanto substrato como inibidor para a PFK-1. Como a enzima e regulada por ATP? (b) De que forma a glicolise e regulada pelos niveis de ATP? (c) A inibicao da PFK-1 pelo ATP diminui quando a concentracao de ADP e alta, conforme mostrado na ilustracao. Como essa observacao pode ser explicada? 9- A concentração de glicose no plasma sanguíneo é mantida em cerca de 5mM. A concentração de glicose livre dentro do miócito é muito mais baixa. Por que a concentração na célula é tão baixa? O que acontece com a glicose após entrar na célula? A glicose é administrada intravenosamente como fonte de alimento em determinadas situações clínicas. Dado que a transformação de glicose em glicose-6-fosfato consome ATP, por que não administrar glicose-6-fosfato? Gabarito 1- Na fase preparatória, a energia do ATP é consumida, aumentando a energia livre dos intermediários, e as cadeias de carbono de todas as hexoses metabolizadas são convertidas em gliceraldeído-3-fosfato. Na fase de pagamento, a energia é conservada pela fosforilação acoplada de 4 moléculas de ADP a ATP e com a formação de 2 moléculas do transportador de elétrons NADH por molécula de glicose. Nessa etapa, o produto final é o piruvato. 2- Bruto- 4 ATP e líquido- 2 ATP. Isso ocorre porque 2 ATP são consumidos na fase preparatória. Reação global: Glicose + 2 ATP + 2 NAD+ + 2 Pi + 4 ADP 🡪 2 Piruvatos + 4 ATP + 2 NADH + 2 ADP + 2 H+ + 2 H2o 3- GLUT2 (e GLUT1) é encontrado no fígado e está sempre presente na membrana plasmática dos hepatócitos. GLUT3 está sempre presente na membrana plasmática de determinadas células do cérebro. GLUT4 é normalmente sequestrado em vesículas nas células musculares e do tecido adiposo e se introduz na membrana plasmática somente em resposta à insulina. Assim, o fígado e o cérebro podem captar glicose do sangue independentemente do nível de insulina, mas o músculo e o tecido adiposo a captam somente quando os níveis de insulina se elevam em resposta à glicose sanguínea alta. 4- Não. A lactato-desidrogenase é requerida para a reposição de NAD+ a partir do NADH formado durante a oxidação do gliceraldeído-3-fosfato 10 Bioquímica II- Bloco 1 5- A transformação de glicose em lactato ocorre quando os miócitos estão com baixo oxigênio, e isso proporciona um meio de gerar ATP sob condições de deficiência de O2. A glicose não é gasta pois o lactato pode ser oxidado a piruvato; esse é oxidado em reações aeróbias quando o O2 se torna abundante. Essa flexibilidade metabólica dá ao organismo uma maior capacidade de adaptação ao seu ambiente. 6- (a) O aumento rápido da glicólise; o aumento do piruvato e do NADH resulta em aumento do lactato. (b) O lactato é transformado em glicose via piruvato; esse é o processo mais lento, já que a formação do piruvato é limitada pela disponibilidade de NAD+, o equilíbrio da lactato desidrogenase é favorável ao lactato, e a conversão do piruvato em glicose necessita de energia. (c) O equilíbrio da reação da lactato desidrogenase é favorável à formação de lactato. 7- Na ausência de O2, o ATP necessário é produzido pelo metabolismo anaeróbio da glicose (fermentação a lactato). Uma vez que a oxidação aeróbia da glicose produz muito mais ATP do que a fermentação, é necessário menos glicose para produzir a mesma quantidade de ATP. 8- (a) Existem dois sítios de ligação para o ATP: um sítio catalíticoe um sítio de regulação. A ligação do ATP ao sítio de regulação inibe a PFK- 1, pela redução da Vmáx ou pelo aumento do Km para o ATP no sítio catalítico. (b) O fluxo glicolítico é reduzido quando há abundância de ATP. (c) O gráfico indica que o aumento da [ADP] suprime a inibição pelo ATP. Uma vez que a quantidade de nucleotídeos de adenina é razoavelmente constante, o consumo de ATP leva a um aumento na [ADP]. Os dados mostram que a atividade da PFK-1 pode ser regulada pela proporção [ATP]/[ADP]. 9- O grupo fosfato da glicose-6-fosfato está completamente ionizado em pH 7, dando à molécula uma carga total negativa. Uma vez que as membranas são geralmente impermeáveis a moléculas eletricamente carregadas, a glicose-6-fosfato não consegue passar da corrente sanguínea para as células e, por isso, não entra na via glicolítica e gera ATP.
Compartilhar