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1 Arthur Ribeiro Segatto | Dislipidemias – Bioquímica II (BBM1054) CASO CLÍNICO – Dislipidemias Objetivo: Relacionar os conhecimentos acerca do metabolismo das lipoproteínas em um estudo de caso, vislumbrando a aplicabilidade do conhecimento da disciplina na prática médica. Não é objetivo desta disciplina discutir os aspectos relacionados a doenças cardiovasculares. RELATO DO CASO: Masculino, 55 anos, cor branca, procedente de Mostarda, casado, escriturário, encaminhada pelo Posto de Saúde para avaliação cardiológica. QUEIXA PRINCIPAL: Colesterol alto HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL: Refere que em avaliação prévia apresentara níveis altos de colesterol e alteração de exame das carótidas. Sedentário, dieta rica em gorduras animais e tabagista no passado (1 maço/dia, durante 20 anos), deixando de fumar há 30 dias quando soube dos exames alterados. HISTÓRIA FAMILIAR: Pai e tio paterno com IAM (infarto agudo do miocárdio) antes dos 55 anos, ambos falecidos por complicações vasculares. Dislipidemia familiar em dois irmãos, sendo que um deles, com 58 anos, apresentou quadro de angina e foi submetido à Cirurgia de Revascularização Miocárdica. EXAME FÍSICO: Peso: 78 Kg, Altura: 1,65 m, IMC: 28,7 Kg/m2, PA: 135/90mmHg, FC: 82 bpm, FR: 20mrpm. Ictus invisível e impalpável. Ausculta cardíaca: ritmo regular, dois tempos, sem sopros. Extremidades: Pulsos de MsIs palpáveis, mas de amplitude reduzida. Fonte: Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017 EXAMES COMPLEMENTARES Glicemia- 99 mg/dL Creatinina-1,2 mg/dL, Ácido Úrico –7,1 mg/dL Colesterol total – 278 mg/dL, HDL-c - 40 mg/dL, LDL-c-208 mg/dL, Triglicerídeos – 150 mg/dL. ECG: ritmo sinusal, FC: 74 bpm, alterações primárias de ST-T Ecografia de Carótidas: Espessamento da íntima –média (> 0,9 mm) e placa lipídica na bifurcação da carótida esquerda (20%). 2 Arthur Ribeiro Segatto | Dislipidemias – Bioquímica II (BBM1054) 1 - Faça a análise dos dados grifados (negrito) com base na tabela de valores de referência. Os valores de referência para glicemia em jejum indicam uma glicemia normal abaixo de 99- 100mg/dL e uma tolerância à glicose diminuída (estado pré-diabético) entre 100 e 126 mg/dL. Dessa forma, o paciente apresenta glicemia normal, caso esse valor tenha sido verificado em estado de jejum, embora esteja no limite da faixa de normalidade. Quanto ao colesterol total, o paciente apresenta um valor alto para a faixa de referência do perfil lipídico, revelando um maior risco a doenças cardiovasculares, reforçado por seu histórico familiar. Além disso, o nível de HDL-c encontra-se no limite inferior do valor de referência desejado, requerendo atenção, enquanto o nível de LDL-c, em consonância com o valor de colesterol total, apresenta-se em grau indesejável, incompatível com os valores de alvo terapêutico referenciais. Por fim, o paciente ainda apresenta triglicerídeos, se verificado em estado de jejum, no limite da faixa de referência desejável, demandando cuidado. Outrossim, a Ecografia de Carótidas revela um espessamento anormal (> 1mm) da camada íntima-média das artérias carótidas, indicando um fator preditivo positivo para ocorrência de acidente vascular cerebral isquêmico, assim como de doença isquêmica do miocárdio, bem como a presença de uma placa lipídica na bifurcação da artéria carótida esquerda cujo grau de estenose (20%) ainda é baixo/normal, mas que requer atenção e cuidados. 2 - Proponha intervenções farmacológicas e não farmacológicas para o paciente. Dentre as intervenções farmacológicas, podemos propor, em especial, o uso das estatinas, as quais, por meio da inibição da hidroximetilglutaril coenzima A redutase (HMG-CoA-redutase), reduzem os níveis de colesterol total, de LDL-c e de triglicerídeos (mediante o aumento da expressão de LDL-R e, consequentemente, pela remoção de lipoproteínas ricas em triglicérides do plasma), e elevam os níveis plasmáticos de HDL-C. Além disso, outra opção pode ser o uso das resinas, ou sequestradores dos ácidos biliares, grandes polímeros que ligam os ácidos biliares carregados negativamente e sais biliares no intestino delgado, reduzindo a absorção enteral de colesterol, e ocasionando a depleção do colesterol celular hepático; contudo, o uso desse fármaco pode ocasionar o aumento da produção de VLDL e, consequentemente, dos TGs plasmáticos, não sendo favorável a esse paciente. Outro fármaco que pode ser utilizado é a ezetimiba, que inibe a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado e leva à diminuição do colesterol hepático e ao estímulo à síntese de LDL-R, com consequente redução do nível plasmático de LDL-C de 15% a 20%. Além disso, a niacina atua no tecido adiposo periférico, leucócitos e células de Langerhans por meio de sua ligação com um receptor específico ligado à proteína G, e pode ser usada para inibir as lipases hormonossensitivas nos adipócitos e, por esse meio, diminuir a liberação de AGs livres na circulação e, em paralelo, inibir a síntese hepática de TG, resultando em uma menor secreção de VLDL e LDL. Por fim, os fibratos podem ser utilizados para imitar a estrutura e as funções biológicas dos AGs livres, ligando-se a fatores de transcrição específicos que ativam uma série de genes relacionados com hidrólise dos TGs (lipase lipoproteica e apolipoproteína CIII), degradação e síntese de AG e HDL. Já para as intervenções não farmacológicas, pode-se propor terapia nutricional e mudanças de estilo de vida. Os níveis séricos de colesterol e triglicerídeos se elevam em função do consumo alimentar aumentado de colesterol, de carboidratos, de ácidos graxos saturados e trans e de excessiva quantidade de calorias. Dessa forma, a seleção adequada destes itens poderá contribuir de maneira eficaz no controle das dislipidemias, de modo que as preferências alimentares devam ser avaliadas por um profissional capaz de definir a composição adequada ao tratamento do paciente e de orientá-lo acerca da seleção dos alimentos, da quantidade a ser consumida e do modo de preparo, bem como das possíveis substituições. O alcance das metas, no entanto, é variável e depende da adesão à dieta e das correções no estilo de vida − perda de peso, atividade física e continuidade da cessação do tabagismo.
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