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Miocardiopatias INTRODUÇÃO: São doenças cardíacas que podem ser atribuídas a uma disfunção intrínseca do miocárdio. As miocardiopatias são doenças do músculo cardíaco e podem ser classificadas como primárias ou secundárias. As miocardiopatias primárias são aquelas limitadas apenas e principalmente ao miocárdio. Já as miocardiopatias secundárias são as manifestações cardíacas de distúrbios sistêmicos. Dessa forma, as miocardiopatias são um conjunto heterogêneo que pode englobar distrofias musculares, distúrbios genéticos das fibras miocárdicas, infecções como a miocardite, doenças imunológicas como a sarcoidose e distúrbios metabólicos sistêmicos como a hemocromatose. Em grande parte dos casos, a miocardiopatia apresenta uma etiologia desconhecida e, por isso, passa a ser chamada de idiopática. Com o objetivo de realizar diagnósticos e tratamentos mais efetivos, são utilizados três padrões clínicos, funcionais e patológicos. A partir desse padrão, as miocardiopatias são classificadas como: ¨ Miocardiopatia Dilatada (CMD): cerca de 90% dos casos ¨ Miocardiopatia Hipertrófica (MCH) ¨ Miocardiopatia Restritiva: menos frequente MIOCARDIOPATIA DILATADA: A miocardiopatia dilatada causa uma disfunção sistólica, enquanto a restritiva e a hipertrófica causam disfunções diastólicas. A miocardiopatia dilatada se caracteriza por dilatação cardíaca e disfunção sistólica progressivas, geralmente acompanhadas por hipertrofia, apresentando sinais clínicos semelhantes independente da causa. ETIOLOGIA E PATOGENIA: A miocardiopatia dilatada geralmente apresenta diagnóstico tardio, sendo descoberta apenas quando já está em seu estágio final. Em 20% a 50% dos casos, a MCD tem base hereditária e, geralmente, envolvem mutações na codificação de proteínas do citoesqueleto ou de proteínas que ligam o sarcômero ao citoesqueleto. Algumas formas incomuns da MCD são causadas por mutações nos genes do genoma mitocondrial que codificam proteínas envolvidas na fosforilação oxidativa ou na b-oxidação dos ácidos graxos e que, supostamente, levam à produção de ATP defeituoso. Outra causa possível de MCD são as infecções, isso se torna evidenciado em biópsias endomiocárdicas que documentam casos com transcritos virais ou de títulos elevados de anticorpos antivirais na região, mesmo quando não há inflamação no coração em estágio terminal. O abuso de álcool também está fortemente associado ao desenvolvimento da MCD, pois o álcool e seus metabólitos têm efeito tóxico direto sobre o miocárdio. O alcoolismo crônico também pode estar associado à deficiência de tiamina, que pode ser um elemento da cardiopatia por beribéri. A miocardiopatia dilatada também pode ser periparto, surgindo no final da gestação ou varias semanas ou meses após o parto. Acredita-se que sua etiologia seja multifatorial e os fatores contribuintes podem ser a hipertensão associada à gravidez, sobrecarga de volume cardíaco, deficiência nutricional, distúrbios metabólicos ou respostas imunológicas. MORFOLOGIA DO CORAÇÃO COM MCD: Nos casos de MCD, o coração se encontra 2 ou 3 vezes maior que o normal, flácido e com todas as câmaras cardíacas aumentadas. Em alguns casos, devudo ao adelgaçamento das paredes que acompanham a dilatação, pode ocorrer uma diminuição da espessura ventricular. Também é comum encontrar trombos murais, que podem ser fontes de tromboêmbolos. A maioria dos miócitos apresenta hipertrofia e núcleos aumentados, muitos se encontram mais delgados, estirados e irregulares. Existe fibrose intersticial e endocárdica de graus variáveis, com áreas dispersas de fibrose de substituição também. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A miocardiopatia dilatada pode ocorrer em diversas idades, sendo mais comumente diagnosticada entre os 20 e os 50 anos. Normalmente se manifesta com sinais de insuficiência cardíaca lentamente progressiva, com manifestações de dispneia, fadiga com baixa capacidade de realizar esforços físicos. Os pacientes podem evoluir rapidamente de um estado compensado para um descompensado, agravando o caso. A fração de ejeção do coração normal é entre 50% e 65% mas, no estágio final da doença, a fração de ejeção cardíaca costuma ser inferior a 25%. Também é comum encontrar sinais de regurgitação mitral secundária e ritmos cardíacos anormais, podendo ocorrer o desprendimento de possíveis êmbolos e trombos intracardíacos. Apenas 25% dos pacientes sobrevivem mais de 5 anos, geralmente em decorrência de insuficiência cardíaca progressiva ou arritmias. O transplante de coração é o único tratamento definitivo para a MCD. MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA: A MCH se caracteriza pela hipertrofia do miocárdio, enchimento diastólico insuficiente e obstrução do fluxo de saída ventricular (1/3 dos casos). Na miocardiopatia hipertrófica geralmente a função sistólica se encontra preservada, mas o miocárdio não consegue relaxar, apresentando disfunção diastólica primária. ETIOLOGIA E PATOGENIA: A maioria dos casos de MCH ocorre por mutações no sentido trocado (missense) em um dos genes que codificam as proteínas do aparelho contrátil. A MCH é um distúrbio das proteínas do sarcômero e, na maioria dos pacientes, o padrão de transmissão é autossômico dominante com expressão variável. Como resultado dessas mutações, ocorre a hipercontratilidade dos miócitos, com aumento do uso de energia e equilíbrio energético líquido negativo. MORFOLOGIA DO CORAÇÃO COM MCH: O coração com MCH apresenta hipertrofia maciça do miocárdio sem dilatação ventricular e espessamento desproporcional do septo ventricular em relação à parede livre do ventrículo esquerdo (hipertrofia septal assimétrica). A cavidade ventricular perde sua forma arredondada e ovoide, se apresentando de forma comprimida, semelhante a uma banana. Do ponto de vista histológico, os miócitos apresentam hipertrofia acentuada, desarranjo aleatório e fibrose intersticial. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A MCH também pode surgir em qualquer idade e, normalmente, se manifesta durante o estirão de crescimento pós-puberal. Nessa patologia ocorre a hipertrofia maciça do ventrículo esquerdo, fornecendo volume sistólico reduzido, causando um enchimento diastólico deficiente e a redução do tamanho da câmara cardíaca. Cerca de 25% dos pacientes apresentam obstrução dinâmica do fluxo de saída do ventrículo esquerdo, provocada pela válvula anterior da valva atrioventricular esquerda. Outras manifestações são a dispneia aos esforços e sopro sistólico de ejeção áspero. A hipertrofia e o comprometimento das artérias intramurais podem levar também à isquemia do miocárdio, mesmo que o paciente não apresente DAC concomitante. As principais manifestações clínicas são as fibrilações atriais e ventriculares, formação de trombos murais, endocardite infecciosa da valva atrioventricular esquerda, insuficiência cardíaca e morte súbita. A maioria dos pacientes apresenta melhora com tratamentos que estimulem o relaxamento do ventrículo.
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