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1 de 4 Qual o papel da Atenção Básica em Saúde Mental? Cosme Rezende Laurindo1 O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço estratégico para promover a desospitalização, aqui entendida enquanto oferta de serviços territoriais, compatíveis com os princípios da Reforma Psiquiátrica e com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental. Porém, os CAPS e a oferta de serviços na abordagem psicossocial não são, ainda, suficientes para a cobertura da demanda de saúde mental nas diversas realidades do país (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011). A Coordenação Geral da Saúde Mental (CGSM) - DAPE/SAS/MS desenvolveu, a partir de 2001, uma série de documentos sobre a articulação entre a saúde mental e a atenção básica. As principais diretrizes para esta articulação são (BRASIL, 2007): • Apoio matricial de saúde mental às equipes de PSF: aumento da capacidade resolutiva das equipes; • Priorização da saúde mental na formação das equipes da atenção básica; • Ações de acompanhamento e avaliação das ações de saúde mental na atenção básica. Nos últimos anos, o Ministério da Saúde, através das políticas de expansão, formulação, formação e avaliação da Atenção Básica, vem estimulando ações que remetem a dimensão subjetiva dos usuários e aos problemas mais graves de saúde mental da população neste nível de atenção. A Estratégia Saúde da Família (ESF), tomada enquanto diretriz para reorganização da Atenção Básica no contexto do Sistema Único de Saúde - SUS, tornou-se fundamental para a atenção das pessoas portadoras de transtornos mentais e seus familiares; com base no trabalho organizado segundo o modelo da atenção básica e por meio ações comunitárias que favorecem a inclusão social destas no território onde vivem e trabalham (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011; SILVA et al., 2016). Encontra-se no Caderno de Atenção Básica nº. 34, que versa sobre Saúde Mental, as seguintes ações terapêuticas comuns aos profissionais da Atenção Básica (AB) e que impactam a assistência em Saúde Mental (BRASIL, 2013): • Proporcionar ao usuário um momento para pensar/refletir; • Exercer boa comunicação; • Exercitar a habilidade da empatia; • Lembrar-se de escutar o que o usuário precisa dizer; 1 Enfermeiro. CV: http://lattes.cnpq.br/9954590863114471. cosmelaurindo@outlook.com http://lattes.cnpq.br/9954590863114471 mailto:cosmelaurindo@outlook.com 2 de 4 • Acolher o usuário e suas queixas emocionais como legítimas; • Oferecer suporte na medida certa; uma medida que não torne o usuário dependente e nem gere no profissional uma sobrecarga; • Reconhecer os modelos de entendimento do usuário. Dentre as ações de Saúde Mental desenvolvidas pela AB, destaca-se nos estudos: • Visita domiciliar ao doente mental e seus familiares: ainda que em vários artigos muitos profissionais das equipes do ESF referissem não atenderem ou desconhecerem a existência de doentes mentais em sua área de abrangência. Durante as visitas domiciliares, os autores referem que os profissionais realizam atividades de acompanhamento no uso adequado da medicação do doente, aquisição de receitas de psicotrópicos, esclarecem dúvidas dos familiares sobre a doença mental e orientações para o manejo de comportamentos do familiar com sofrimento mental, com o objetivo de melhorar o convívio entre os familiares, incluir a família no tratamento e, sobretudo, estreitar o vínculo (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011; ÁVILA; SINIAK, 2017). • Vínculo e acolhimento: deve-se estabelecer vínculos de compromisso e corresponsabilidade entre profissionais de saúde e a população ligada por meio do conhecimento dos indivíduos, famílias e recursos disponíveis nas comunidades; da busca ativa dos usuários e suas famílias para o acompanhamento ao longo do tempo dos processos de saúde-doença, que os acometem ou poderão acometer; do acolhimento e do atendimento humanizado e contínuo ao longo do tempo (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011; ÁVILA; SINIAK, 2017). • Encaminhamento dos doentes mentais: consultas com o médico clínico para o atendimento de queixas físicas, aquisição de receitas para adquirir psicotrópicos e também encaminhamento para consultas especializadas para centro de convivência; para o CAPS; para ambulatório, entre outros (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011). • Oficinas terapêuticas: atividades grupais desenvolvidas pela equipe do ESF, das quais os portadores de transtornos mentais participam, voltadas para a reabilitação psicossocial. O processo terapêutico da reabilitação psicossocial ocorre através da construção da necessidade do indivíduo exercer a cidadania, que acontece quando se destrói a cronicidade, aumenta a capacidade contratual do doente com a comunidade e verificam-se quais variáveis influenciam na melhora ou piora do paciente (CORREIA; BARROS; COLVERO, 2011; SILVA et al., 2016). • Responsabilização compartilhada: tal compartilhamento se produz em forma de corresponsabilização pelos casos, que podem efetivar-se por meio de discussões conjuntas de casos, intervenções conjuntas junto às famílias e comunidade ou em atendimentos conjuntos pela equipe, e também na forma de supervisão e capacitação profissional (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA et al., 2016). 3 de 4 Ainda que evidenciado de forma tímida pelos estudos, faz-se importante destacar duas das atribuições da AB trazidas pelo Ministério da Saúde, tocantes ao diagnóstico precoce e à intervenção a crise. A proximidade com os usuários e a possibilidade de acompanhar longitudinalmente as famílias fazem da AB a instância privilegiada para a suspeita diagnóstica precoce das psicoses. Quanto as crises, deve- se entendê-las como inerente à existência humana, constituinte do processo do viver, presença marcante nas diferentes formas de viver a vida, em que o papel do profissional deve ser o de mediar as partes e buscar reestabelecer um equilíbrio, não havendo local específico ou único para esta assistência (BRASIL, 2013). As tecnologias leves são ferramentas essenciais na consolidação do cuidado integral e integrador em saúde mental no âmbito da Atenção Básica, pois, as mesmas são facilitadoras do atendimento em saúde mais humanizado, holístico e participativo (ÁVILA; SINIAK, 2017). Mas nem sempre os serviços da AB apresentam condições para oferecer suporte a essa demanda de atendimento. Às vezes, a falta de recursos, de pessoal e a falta de capacitação prejudicam o desenvolvimento de uma ação integral pela(s) equipe(s). Desta forma, demarca-se aqui a necessidade dos serviços serem conhecidos, assim como suas dificuldades e potencialidades de atendimento em saúde mental, a fim de se desenvolver uma prática de cuidado ao portador de sofrimento psíquico que possa ser efetiva (AOSANI; NUNES, 2013). Estudo (SILVA et al., 2016) demonstra também as dificuldades subjetivas aos profissionais da AB, quando traz de acordo com a visão de profissionais da equipe ESF, a maioria aplica ações de acolhimento e promoção de saúde apenas quando já está estabelecido sofrimento psíquico, além de restringirem-se a um atendimento ainda biomédico, voltado ao diagnóstico e não à experiência do sujeito frente ao sofrimento. Faz-se ainda importante destacar que a realidade demonstrada pelo estudo (SILVA et al., 2016) pode ser encontrada em diversos locais, em que a carência de investimento na formação dos trabalhadores (por meio da educação permanente em saúde) apresenta-se como lacuna perceptível para o melhor empoderamento na conduta aos usuários. 4 de 4 REFERÊNCIAS AOSANI, T. R.; NUNES, K. G.. A saúde mental na atenção básica: a percepção dos profissionais de saúde. Rev Psicol Saúde, Campo Grande, v. 5, n. 2, p.71-80, dez. 2013. ÁVILA, M. B.; SINIAK, D. S.. Saúde Mental na Atenção Básica: estratégias e potencialidades para o fortalecimento do cuidado no território. Rev Enferm UFSM, [internet], v. 7, n. 3, p.388-397, jul./set. 2017.BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental na atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental. Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 176 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 34). CORREIA, V. R.; BARROS, S.; COLVERO, L. A.. Saúde mental na atenção básica: prática da equipe de saúde da família. Rev Esc Enferm USP, São Paulo, v. 45, n. 6, p.1501-1506, dez. 2011. SILVA, G. R. et al. Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde: percepções da Equipe de Saúde da Família. Cogitare Enferm, [internet], v. 21, n. 2, p.1-8, abr./jun. 2016.
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