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Perda de sangue 1 Mírian Santos 6° semestre. Problema 02: Atenção aos sinais e sintomas gastrointestinais! Objetivos: 1. Compreender a hemorragia digestiva alta, baixa e oculta: Conceito; Caracterização; Classificação; Epidemiologia e fatores de risco; Etiologia; Fisiopatologia; Manifestações clínicas; Complicações; Diagnóstico; Tratamento (conduta inicial e encaminhamento da HD). Hemorragia Digestiva A hemorragia gastrointestinal (GI) aguda é um problema clínico comum, com diversas manifestações. Tal sangramento pode variar de leve a maciço e pode ter origem em qualquer região do trato GI, incluindo pâncreas, fígado e árvore biliar. A hemorragia pode originar-se de qualquer região no trato GI e, em geral, é classificada com base na sua LOCALIZAÇÃO com relação ao LIGAMENTO DE TREITZ. A HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL ALTA proximal ao ligamento de Treitz é responsável por mais de 80% dos casos de sangramento agudo. A doença ulcerosa péptica e a hemorragia varicosa são as causas mais comuns. A maioria dos SANGRAMENTOS GASTROINTESTINAIS BAIXOS ocorre no cólon e tem como origem os divertículos e as angiodisplasias, sendo considerados responsáveis pela maioria dos casos. Em menos de 5% dos pacientes, o intestino delgado é o responsável. O SANGRAMENTO OBSCURO é definido como uma hemorragia que persiste ou que recorre após uma endoscopia negativa. O sangramento oculto não é aparente para o paciente, até que ele se apresente com os sintomas relacionados com a anemia. A determinação do local do sangramento é importante para orientar as intervenções diagnósticas com um retardo mínimo. Entretanto, as tentativas de localização da origem nunca devem preceder as medidas de ressuscitação adequadas. Epidemiologia Embora nenhum grupo demográfico seja poupado, a incidência anual de cerca de 170 casos por 100.000 adultos aumenta o acometimento com o avanço da idade, e a doença é levemente mais comum em homens do que em mulheres. Além disso, a hemorragia GI é responsável por 1% a 2% das admissões de emergência, resultando em mais de 300.000 hospitalizações anuais nos Estados Unidos. Perda de sangue 2 Mírian Santos 6° semestre. Além disso, é uma complicação comum em pacientes hospitalizados por outras doenças, principalmente em pacientes cirúrgicos. É uma doença de alto custo mundialmente. O tratamento desses pacientes frequentemente é multidisciplinar, envolvendo serviços de emergência clínica, gastroenterologia, cuidados intensivos, operação e radiologia intervencionista. A maioria dos pacientes com hemorragia GI aguda tem uma parada espontânea do sangramento. Isso fornece tempo para uma avaliação mais eletiva. Entretanto, em quase 15% dos casos, o sangramento maior é persistente, requerendo manobras de ressuscitação, avaliação e tratamento de emergência. Apesar disso, a mortalidade permanece superior a 5% e é significativamente maior nos pacientes hospitalizados inicialmente por outras razões. Essa discrepância entre os avanços na terapia e os desfechos provavelmente está relacionada com o envelhecimento da população, com aumento em suas comorbidades. Hemorragia Digestiva Alta Conceito A hemorragia digestiva alta é uma causa comum de admissão hospitalar com níveis de mortalidade global em torno de 10%, independentemente da sua etiologia específica. Os principais achados clínicos são hematêmese, melena e enterorragia (sangramento volumoso que se exterioriza). Epidemiologia Corresponde a 80% dos casos; As causas não varicosas corresponde a 80% desse tipo de sangramento, com a DUP sendo a mais comum; 20% vai ocorrer em portadores de cirrose, sendo que a hipertensão portal leva ao desenvolvimento de varizes esofagogástricas isoladas ou não; Maior morbimortalidade do sangramento varicoso; Etiologia As causas mais comuns de hemorragia digestiva alta são úlcera péptica, lesão aguda da mucosa gastroduodenal, varizes de esôfago e síndrome de Mallory-Weiss (laceração da transição esofagogástrica em casos de vômitos incoercíveis). Didaticamente, a O termo HEMATÊMESE refere-se ao vômito de sangue que, em geral, é causado por sangramento no trato GI alto. Pode ser vermelho-rutilante ou mais escuro e, portanto, nesse caso, adquirirá a aparência de borra de café. MELENA é a evacuação de fezes negras e pastosas, com odor desagradável, geralmente um sinal sugestivo de sangramento no trato GI alto. A HEMATOQUEZIA é a presença de sangue vermelho-vivo no reto, que pode ou não estar misturado às fezes Perda de sangue 3 Mírian Santos 6° semestre. hemorragia digestiva alta é dividida em varicosa e não-varicosa. SANGRAMENTO NÃO VARICOSO: Doença Ulcerosa Péptica Doença ulcerosa péptica (DPU) ainda representa a causa mais frequente de hemorragia do trato gastrointestinal proximal, sendo responsável por aproximadamente 40% dos casos. Aproximadamente 10% a 15% dos pacientes com doença ulcerosa péptica desenvolvem sangramento em algum momento no curso da sua doença. O sangramento é a indicação mais frequente para a operação e a principal causa de morte na doença ulcerosa péptica. A epidemiologia da úlcera péptica continua a mudar. A incidência de úlcera péptica não complicada tem caído drasticamente. Essa alteração tem sido atribuída a melhor terapia, incluindo o uso de inibidores da bomba de prótons (IBP) e regimes de erradicação de Helicobacter pylori (H. pylori). Apesar deste declínio geral na frequência de úlcera, o número de pacientes submetidos à operação para complicações relacionadas com úlcera tem permanecido surpreendentemente estável até o momento. Embora a necessidade de cirurgia para doença ulcerosa péptica perfurada tenha diminuído, a taxa de sangramento de úlcera péptica, exigindo intervenção cirúrgica, permaneceu estável. Alguns estudos demográficos em pacientes idosos têm documentado aumento na doença ulcerosa péptica sangrante que requer internação hospitalar. Assim, quando são realizadas cirurgias para hemorragia gastrointestinal do trato digestório superior, eles são agora realizados nos pacientes idosos e muitas vezes, nos mais debilitados. O sangramento desenvolve-se como uma consequência da erosão da superfície mucosa pelos ácidos pépticos. Embora a perda crônica de sangue seja comum em qualquer úlcera, o sangramento significativo ocorre tipicamente quando existe envolvimento de uma artéria, seja da submucosa seja com a erosão da úlcera sobre um vaso ainda mais calibroso. Conquanto as úlceras duodenais sejam mais comuns que as úlceras gástricas, estas sangram com maior frequência; conforme se verifica na maioria das séries publicadas, as proporções relativas são quase iguais. A hemorragia mais significativa ocorre quando úlceras duodenais ou gástricas penetram Perda de sangue 4 Mírian Santos 6° semestre. ramos da artéria gastroduodenal ou artéria gástrica esquerda, respectivamente. Tratamento: EDA + IBP (reduz o risco de ressangramento e necessidade de intervenção cirúrgica) + interrompe o uso de AINES e IRSS se possível). Após a comprovação endoscópica, as estratégias de tratamento dependem da aparência da lesão à Endoscopia. A classificação de Forrestfoi desenvolvida em uma tentativa de avaliar esse risco com base nos achados endoscópicos, e para estratificar os pacientes nos grupos de baixo risco, intermediário e alto. A terapia endoscópica é recomendada na vigência de sangramento ativo e também em casos de um vaso visível (Forrest I a IIa). Na presença de um coágulo aderente (Forrest IIb), este é removido e a lesão subjacente é avaliada. As úlceras com base limpa ou com um ponto preto, secundário à deposição de hematina, em geral, não são tratadas por via endoscópica. Tratamento endoscópico: Feito pra controlar a hemorragia, inclui a injeção de epinefrina (+ terapia térmica = terapia combinada), sondas térmicas e coagulação, bem como, aplicação de grampos sobre o vaso causador do sangramento. Tratamento cirúrgico: Instabilidade hemodinâmica apesar de ressuscitação vigorosa (transfusão U>6); Falha de técnicas endoscópicas para parar a hemorragia; Hemorragia recorrente após a estabilização inicial (com até duas tentativas de obter hemostasia endoscópica); Choque associado à hemorragia recorrente; Continua a sangrar lentamente, com necessidade de transfusão >3 U/dia; Vai depender se é duodenal ou gástrica. Lacerações de Mallory-Weiss São lacerações mucosas e submucosas que ocorrem próximas à junção esofagogástrica. Essas lesões geralmente se desenvolvem em pacientes alcoólatras após um período de náuseas e vômitos intensos e seguidos de consumo excessivo de álcool, mas podem ocorrer em qualquer paciente que tem uma história de vômitos repetidos. O mecanismo proposto por Mallory e Weiss em 1929 é a contração forçada da parede abdominal contra uma cárdia não relaxada, resultando em laceração da mucosa da porção proximal da cárdia, como resultado do aumento na pressão intragástrica. Perda de sangue 5 Mírian Santos 6° semestre. Tais lesões são responsáveis por 5% a 10% dos casos de sangramento GI. Elas geralmente são diagnosticados com base na história. Frequentemente, a endoscopia é utilizada para confirmar o diagnóstico. Para evitar que a lesão passe despercebida, é importante realizar manobra de retroflexão e observar a área imediatamente abaixo da junção esofagogástrica. A maioria das lacerações ocorre ao longo da curvatura menor, menos comum, na curvatura maior. A terapia de suporte com frequência é suficiente, pois 90% dos episódios de sangramento são autolimitados, e a mucosa frequentemente apresenta reparação total em 72 horas. Em casos raros de sangramento ativo grave, a terapia endoscópica local com injeção ou eletrocoagulação pode ser efetiva. A embolização angiográfica, geralmente com um material absorvível, como uma esponja de gelatina, tem sido usada com sucesso em casos de fracasso da terapia endoscópica. Se as manobras não forem bem-sucedidas, indica-se a realização de uma gastrotomia alta e a sutura da laceração da mucosa. É importante excluir o diagnóstico de sangramento varicoso, nos casos de fracasso da terapia endoscópica, com um exame abrangente da junção esofagogástrica. A recorrência de sangramento na laceração de Mallory-Weiss é incomum. Gastrite de Estresse A gastrite relacionada com estresse é caracterizada pelo aparecimento de erosões superficiais múltiplas de todo o estômago, mais comum na região do corpo gástrico. Considera-se que essa condição seja resultante da combinação de lesão por pepsina e ácidos, em casos de isquemia devido a estados de hipoperfusão, embora os AINEs produzam uma lesão de aparência muito similar. Essas lesões são diferentes das ulcerações solitárias, relacionadas com a hipersecreção de ácido em pacientes com traumatismo craniano grave (úlceras de Cushing). Quando a ulceração por estresse está associada a queimaduras importantes, essas lesões são denominadas úlceras de Curling. Em contraste com as lesões associadas aos AINEs, uma hemorragia significativa das úlceras por estresse costumava ser um fenômeno comum. Com melhorias no tratamento do choque da sepse e o uso generalizado da terapia ácido- supressora, o sangramento significativo de tais lesões raramente é encontrado. Entretanto, nesses casos, o uso excessivo da terapia supressora de ácido tem resultado em um custo considerável e talvez com certos riscos para os pacientes, com o aumento na Perda de sangue 6 Mírian Santos 6° semestre. incidência de pneumonia nosocomial secundária à colonização gástrica. Em pacientes que desenvolvem sangramento significativo, a terapia supressora de ácidos frequentemente é bem-sucedida no controle da hemorragia. Em casos raros, quando há fracasso nessa tentativa, deve-se considerar a administração seletiva de octreotide ou vasopressina seletivamente através da artéria gástrica esquerda, a terapia endoscópica ou até mesmo a embolização angiográfica. Esofagite O esôfago não é frequentemente um local de hemorragia significativa. Quando o sangramento ocorre, é mais o resultado de esofagite. A esofagite é secundária ao contato repetido da mucosa esofágica com secreções ácidas gástricas que leva à doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) que é uma resposta inflamatória, que pode resultar em perda sanguínea crônica. A irritação provocada pela secreção ácida pode levar à ulceração superficial da mucosa que geralmente não sangra agudamente, mas pode apresentar-se como anemia e/ou propiciar fezes guáiaco-positivas. Vários agentes infecciosos também podem causar esofagite, particularmente no hospedeiro imunocomprometido. Outras causas de sangramento esofágico incluem medicações, doença de Crohn e irradiação. O tratamento é feito à base de supressores da secreção ácida. O controle endoscópico da hemorragia, em geral com eletrocoagulação e cauterização com sonda térmica, frequentemente é bem-sucedido. Em pacientes com etiologia infecciosa, o tratamento clínico em geral é adequado. A cirurgia raramente é necessária. Lesão de Dieulafoy As lesões de Dieulafoy são malformações vasculares encontradas primariamente ao longo da curvatura menor do estômago, a até 6 cm da junção esofagogástrica, embora também possam ocorrer em outros pontos no trato GI. Elas representam uma ruptura de vasos calibrosos (1-3 mm) encontrados na submucosa do estômago. A erosão da mucosa gástrica sobrejacente a esses vasos leva à hemorragia. O defeito mucoso geralmente é pequeno (2-5 mm) e pode ser difícil de ser identificado. Dado o maior tamanho da artéria subjacente, o sangramento pela lesão de Dieulafoy pode ser copioso. Faz controle endoscópico, aplicação térmica ou esclerosate, embolização (2° opção) e intervenção cirúrgica. Ectasia Vascular do Antro Gástrico Perda de sangue 7 Mírian Santos 6° semestre. Também conhecida como “estômago em melancia”, a ectasia vascular do antro gástrico (EVAG) é caracterizada por uma coleção de vênulas dilatadas, com aparência de estrias vermelhas lineares convergindo para o antro longitudinalmente, originando a aparência de uma melancia. A hemorragia grave aguda é rara em casos de EVAG, e a maioria dos pacientes apresenta-se com anemia persistente por deficiência de ferro, decorrente da contínua perda de sangue oculto. A terapia endoscópica é indicada para o sangramento persistente dependente de transfusão, e seu sucesso tem sido relatado em até 90% dos pacientes. A terapia endoscópica preferida é APC. Em pacientes com insucesso na terapiaendoscópica, indica-se a antrectomia. Lesões Malignas As lesões malignas do trato GI alto, em geral, estão associadas à anemia crônica com constatação de sangue oculto positivo nas fezes, em vez de episódios de hemorragia significativa. Em alguns casos, as lesões malignas se apresentam como lesões ulcerativas que sangram persistentemente. Isso talvez seja mais característico de tumor estromal gastrointestinal (GIST), ainda que possa ocorrer com outras lesões, incluindo leiomiomas e linfomas. Embora a terapia endoscópica seja frequentemente bem-sucedida no controle da hemorragia, a taxa de ressangramento é alta; portanto, quando se detecta uma lesão maligna, a ressecção cirúrgica é indicada. A extensão da ressecção depende da lesão específica e do fato de se considerar se a ressecção será curativa ou paliativa. As ressecções paliativas para o controle do sangramento geralmente envolvem uma ressecção em cunha. Os procedimentos cirúrgicos-padrão para a operação de neoplasias são indicados quando possível, embora essa determinação possa depender da estabilidade hemodinâmica do paciente. Fístula Aortoentérica Fístulas aortoduodenais primárias são lesões raras. Elas se desenvolvem tipicamente no contexto de um reparo de aneurisma aórtico abdominal prévio, embora possam ocorrer como resultado de uma aortite infecciosa ou inflamatória, e podem se desenvolver em até 1% dos casos de enxerto aórtico. Embora o tempo transcorrido entre a operação e a hemorragia possa ser de dias a anos, o intervalo médio é de cerca de três anos. Perda de sangue 8 Mírian Santos 6° semestre. Considera-se que a evolução compreenda o desenvolvimento de um pseudoaneurisma na linha de sutura anastomótica proximal em casos de infecção, com a subsequente fistulização para o duodeno suprajacente. Este diagnóstico deve ser considerado em todos os pacientes com aneurisma da aorta abdominal ou nos casos de um reparo anterior de aneurisma. A hemorragia nessa situação frequentemente é catastrófica e fatal, a menos que sejam realizadas intervenções cirúrgicas imediatas. Sangramento Iatrogênico O sangramento GI alto pode ocorrer após procedimentos terapêuticos ou diagnósticos. Como observado, a hemobilia pode ser iatrogênica na natureza, particularmente após procedimentos trans-hepáticos percutâneos. Outra causa comum de sangramento iatrogênico é a esfincterotomia endoscópica; isso pode ocorrer em até 2% dos casos. Frequentemente, é leve e autolimitada. A hemorragia tardia geralmente ocorre nas primeiras 48 horas e pode requerer a infiltração da área com epinefrina, que é geralmente bem- -sucedida. A intervenção cirúrgica raramente é necessária. A realização de uma gastrostomia endoscópica percutânea (GEP) é um procedimento cada vez mais comum. SANGRAMENTO RELACIONADO COM HIPERTENSÃO PORTAL O sangramento GI alto é uma complicação grave da hipertensão no sistema porta, mais frequentemente em casos de cirrose. A hemorragia decorrente da hipertensão portal é geralmente o resultado de sangramento de varizes. Essas veias submucosas dilatadas se desenvolvem em resposta à hipertensão portal, produzindo uma via colateral para a descompressão do sistema porta na circulação venosa sistêmica. Elas são mais comuns no esôfago distal e podem alcançar tamanhos de 1 a 2 cm. Como elas aumentam, a mucosa sobrejacente se torna cada vez mais tênue, ocorrendo uma lesão com trauma mínimo. Embora essas varizes sejam mais comumente vistas no esôfago, elas também podem se desenvolver no estômago e no plexo hemorroidal do reto. A gastropatia hipertensiva portal, dilatação difusa do plexo venoso da mucosa e submucosa do estômago associada à gastrite suprajacente, é uma entidade parcialmente compreendida, na qual o estômago adquire uma aparência semelhante à pele de cobra, com manchas vermelho-cereja. Ao contrário de varizes esofágicas, raramente causa hemorragia maior. Varizes gastroesofágicas se desenvolvem em aproximadamente 30% dos pacientes com cirrose e hipertensão portal e 30% desse grupo desenvolvem sangramento varicoso. Em comparação com sangramento não varicoso, a hemorragia varicosa está associada a aumento do risco de ressangramento, maior necessidade de transfusões, maior permanência hospitalar e mortalidade aumentada. Perda de sangue 9 Mírian Santos 6° semestre. A hemorragia varicosa frequentemente é volumosa, acompanhada por hematêmese e instabilidade hemodinâmica. Apesar das melhorias no tratamento clínico desses pacientes, a taxa de mortalidade de 6 semanas após o primeiro sangramento é quase 20%. Tratamento: Diagnóstico A base para o diagnóstico e tratamento de pacientes com um sangramento GI é a endoscopia. Vários estudos têm mostrado que EGD precoce, nas primeiras 24 horas, resulta em redução na necessidade de transfusão de sangue, diminuição na necessidade de cirurgia e menor tempo de permanência hospitalar. Hemorragia Digestiva Baixa Conceito A hemorragia GI inferior geralmente se refere ao sangramento do cólon e anorretal. Epidemiologia O sangramento GI inferior grave ocorre com uma incidência anual de 20 para cada 100.000 habitantes, uma taxa bem inferior à do sangramento GI superior. Razão muito menos frequente de hospitalização — é cerca de 20% tão comum quanto o sangramento de uma localização proximal ao ligamento de Treitz. Os pacientes geralmente têm mais idade e apresentam hematoquezia indolor, tipicamente sem ortostase. Se houver ortostase, deve-se suspeitar de rápido sangramento GI superior, que ocorre em 15% a 20% dos pacientes com hematoquezia. Em mais de 95% dos pacientes com sangramento GI baixo, a fonte da hemorragia é o cólon. Etiologia A etiologia também está relacionada com o aumento da idade. Especificamente, as lesões vasculares e a doença diverticular afetam indivíduos de todas as faixas etárias, mas têm uma incidência maior em pacientes de meia- idade e em idosos. Na população pediátrica, intussuscepção é a causa mais comumente responsável, enquanto o divertículo de Meckel deve ser considerado no diagnóstico diferencial no adulto jovem. A apresentação clínica do sangramento GI baixo varia da hemorragia intensa na doença diverticular e/ou nas lesões vasculares, até transtornos menores secundários a uma fissura anal e/ou às hemorroidas. Doença Diverticular Perda de sangue 10 Mírian Santos 6° semestre. Nos Estados Unidos, os divertículos são a causa mais comum de sangramento GI inferior significativo. Alguns estudos sugeriram que os divertículos são responsáveis por mais de 55% dos casos. No passado, divertículos foram considerados raros em pacientes com menos de 40 anos, mas agora é um diagnóstico cada vez mais comum nesta faixa etária. A diverticulose afeta mais de 2/3 da população ocidental que estão com 80 anos. Apenas 3% a 15% dos indivíduos com diverticulose apresentam qualquer sangramento. O sangramento costuma ocorrer na região do colo do divertículo, e acredita-se que seja secundário ao sangramento dos vasa recti quando penetram pela submucosa. Daqueles que sangram, mais de 75% param espontaneamente, embora aproximadamente 10% apresentarão ressangramento dentro de 1 ano e quase 50% dentro de 10 anos. Embora a doença diverticular seja muito mais comum do lado esquerdo, a doença do lado direito é responsável por mais de 50% do sangramento.O melhor método de diagnóstico e tratamento é a colonoscopia, embora o sucesso seja algumas vezes limitado pelo grande volume de hemorragia. Se o divertículo sangrante puder ser identificado, a injeção de epinefrina pode controlar o sangramento. O eletrocautério também pode ser utilizado e, mais recentemente, os clipes endoscópicos têm sido aplicados com sucesso para controlar a hemorragia. Caso o sangramento cesse com estas manobras e/ou espontaneamente, o tratamento expectante pode ser apropriado; no entanto, isso requer julgamento clínico com base no volume de hemorragia e quaisquer comorbidades, principalmente doença cardíaca. Se nenhum manuseio for bem-sucedido e/ou se a hemorragia for recorrente, a angiografia com embolização deve ser considerada. A colectomia subtotal não elimina o risco de hemorragia recorrente e, quando comparada com a ressecção segmentar, é acompanhada de um aumento significativo na morbidade, principalmente de casos de diarreia em pacientes idosos, nos quais o reto remanescente pode nunca se adaptar efetivamente. A mortalidade das colectomias subtotais de emergência para o sangramento é de quase 30%. Angiodisplasia Perda de sangue 11 Mírian Santos 6° semestre. Em alguns relatos, a hemorragia secundária a essas lesões vasculares é responsável por até 40% de sangramento baixo; no entanto, relatos mais recentes observaram que a incidência é muito menor. As angiodisplasias do intestino, também referidas como más formações arteriovenosas (MAVs), são diferentes dos hemangiomas e MAVS congênitas verdadeiras. Elas são consideradas lesões degenerativas adquiridas, secundárias à dilatação progressiva dos vasos sanguíneos normais no interior da submucosa do intestino. As angiodisplasias têm uma distribuição igual por sexo e são encontradas quase uniformemente em pacientes com mais de 50 anos. Essas lesões são usualmente associadas à estenose da artéria aorta e insuficiência renal, especialmente em pacientes idosos. A hemorragia tende a surgir do lado direito do cólon, com o ceco sendo o local mais comum, embora possa ocorrer no restante do cólon e intestino delgado. A maioria dos pacientes apresenta sangramento crônico; contudo, em até 15%, a hemorragia pode ser volumosa. O sangramento cessa espontaneamente na maioria dos casos, mas aproximadamente 50% irão sangrar novamente dentro de 5 anos. Essas lesões podem ser diagnosticadas por colonoscopia ou por angiografia. Durante a colonoscopia, aparecem como lesões estreladas vermelhas, com uma borda circundante de mucosa pálida e podem ser tratadas com escleroterapia ou eletrocautério. A angiografia revela a presença de veias dilatadas, com esvaziamento lento e algumas vezes enchimento venoso precoce. Se essas lesões forem descobertas incidentalmente, nenhuma terapia adicional estará indicada. Em pacientes com sangramento agudo, as angiodisplasias têm sido tratadas com sucesso com vasopressina intra-arterial, embolização seletiva com Gelfoam®, eletrocoagulação endoscópica ou injeção de agentes esclerosantes. Caso essas medidas não sejam capazes de resolver o problema ou haja recorrência do sangramento e a lesão tenha sido localizada, a ressecção segmentar, mais comumente a colectomia direita, é uma estratégia adequada. Neoplasia O carcinoma colorretal é uma causa incomum de hemorragia GI baixa significativa, mas é provavelmente a mais importante a excluir, visto que mais de 150.000 americanos são diagnosticados anualmente com esse tipo de câncer. O sangramento é geralmente indolor, intermitente e de natureza lenta e é frequentemente associado com anemia ferropriva. Os pólipos também podem sangrar, mas isso geralmente ocorre após a polipectomia. Às vezes, outras neoplasias do cólon, mais notadamente os GISTs, podem estar associadas à hemorragia volumosa. A melhor ferramenta diagnóstica é a colonoscopia. Se o sangramento for atribuído a um pólipo, este poderá ser tratado com a terapia endoscópica. Doença Anorretal Perda de sangue 12 Mírian Santos 6° semestre. As principais causas de sangramento anorretal são as hemorroidas internas, as fissuras anais e as neoplasias colorretais. Embora as hemorroidas sejam as mais comuns dessas entidades, elas representam apenas 5% a 10% de todos os sangramentos agudos GI baixos. Em geral, a hemorragia anorretal consiste em sangramento pouco volumoso que se apresenta como sangue vermelho-brilhante expelido pelo reto, que é encontrado no vaso sanitário e no papel higiênico. A maior parte do sangramento hemorroidal se origina das hemorroidas internas, que são indolores e frequentemente acompanhadas por tecido que prolapsa, e que, na maioria das vezes, reduz espontaneamente, mas que eventualmente requer redução manual do paciente. A fissura anal, por sua vez, produz um sangramento doloroso após a evacuação. O sangramento é apenas ocasional e é o principal sintoma desses pacientes. Como a doença anorretal é comum, uma pesquisa cuidadosa para excluir outras fontes de sangramento, principalmente por lesões malignas, é imperativa antes de o sangramento GI baixo ser atribuído a uma doença anorretal. As fissuras anais podem ser tratadas clinicamente com medidas que aumentem o volume das fezes (p. ex., Metamucil®), pelo aumento da ingestão de água, por uso de emolientes das fezes e por pomadas com nitroglicerina de uso tópico ou diltiazem para alívio do espasmo esfincteriano e para promover a reparação tecidual. As hemorroidas internas são tratadas com agentes que aumentam o volume fecal, pela adição generosa de conteúdo de fibras na dieta e hidratação adequada. As intervenções realizadas em consultório, incluindo a ligadura, agentes esclerosantes injetáveis e coagulação com infravermelho, também têm sido usadas. Se essas medidas não forem bem-sucedidas, a hemorroidectomia cirúrgica pode ser necessária. Na maioria das vezes, o sangramento anorretal é autolimitado e responde às medidas dietéticas e locais. Colite Perda de sangue 13 Mírian Santos 6° semestre. A inflamação do cólon é causada por uma grande variedade de processos patológicos, incluindo doenças intestinais inflamatórias (p. ex., doença de Crohn, colite ulcerativa e colite indeterminada), colite infecciosa (Escherichia coli 0157:H7, citomegalovírus [CMV], Salmonella, Shigella e espécies de Campylobacter e Clostridium difficile), proctite por irradiação, após o tratamento de doenças malignas pélvicas, e isquemia. É muito mais provável que a colite ulcerativa se apresente com sangramento GI do que a doença de Crohn. A colite ulcerativa é uma doença da mucosa, que se inicia distalmente no reto e progride proximalmente, para envolver em algumas ocasiões todo o cólon. Os pacientes podem apresentar até 20 evacuações sanguinolentas por dia. Estas são acompanhados por dor abdominal em cólica, tenesmo e, ocasionalmente, dor abdominal. Faz- se o diagnóstico a partir de uma história cuidadosa e endoscopia flexível com biópsia. A terapia clínica com esteroides, compostos com ácido 5-aminossalicílico (ASA), agentes imunomoduladores e cuidados de suporte representam a diretriz principal do tratamento. A intervenção cirúrgica raramente é indicada nos casos agudos, a menos que o paciente desenvolva um megacólon tóxico ou uma hemorragia refratária ao tratamento clínico. Em contrapartida, a doença de Crohn estáassociada à diarreia que mostra positividade ao teste do guaiáco e apresenta evacuações intestinais repletas de muco, mas sem sangue vermelho-brilhante. A doença de Crohn pode afetar todo o trato GI. Caracteriza-se por lesões salteadas, espessamento transmural da parede intestinal e formação de granuloma. O diagnóstico é estabelecido com base na endoscopia e exames radiológicos contrastados. O tratamento clínico consiste na utilização de esteroides, antibióticos, imunomoduladores e compostos do ASA. Como a doença de Crohn é recidivante e reincidente, a terapia cirúrgica é usada como o último recurso. A hemorragia copiosa do cólon complica a colite ulcerativa em até 15% dos pacientes afetados, embora somente ocorra em 1% daqueles com colite de Crohn. A colite infecciosa pode causar diarreia sanguinolenta. O diagnóstico geralmente é estabelecido na história e na coprocultura. As colites por C. difficile e CMV merecem atenção especial. A colite por C. difficile em geral se apresenta com diarreia explosiva e com odor desagradável, em paciente com uso prévio de antibiótico ou com história de hospitalização. As evacuações sanguinolentas não são comuns, mas podem estar presentes, principalmente em casos graves nos quais existe laceração da mucosa associada. O tratamento consiste na suspensão do uso de antibióticos, cuidados de suporte e uso de metronidazol por via oral ou intravenosa, ou vancomicina por via oral. Colite por CMV deve ser suspeitada em qualquer paciente imunocomprometido que se apresenta com diarreia sanguinolenta. A endoscopia com biópsia confirma o Perda de sangue 14 Mírian Santos 6° semestre. diagnóstico; o tratamento é feito com ganciclovir IV. Isquemia Mesentérica A isquemia mesentérica pode ser secundária à insuficiência arterial ou venosa seja aguda ou crônica. Os fatores predisponentes incluem a doença cardiovascular preexistente (fibrilação atrial, insuficiência cardíaca congestiva e infarto agudo do miocárdio), operação vascular abdominal recente, estados de hipercoagulabilidade, medicações (agentes vasopressores e digoxina) e vasculite. A isquemia aguda do cólon é o tipo mais comum de isquemia mesentérica. Tende a ocorrer nas áreas das vertentes da flexura esplênica e do cólon retossigmoide, mas pode estar localizada à direita em até 40% dos pacientes. Os pacientes se apresentam com dor abdominal e diarreia sanguinolenta. TC demonstra uma parede intestinal mais espessa. O diagnóstico em geral é confirmado por endoscopia com tubo flexível, que revela a existência de edema, hemorragia e uma delimitação entre a mucosa normal e anormal. O tratamento enfoca os cuidados de suporte, que consistem em repouso intestinal, antibióticos intravenosos, suporte cardiovascular e correção das condições de baixo fluxo. Em 85% dos casos, a isquemia é autolimitada e é resolvida sem incidentes, embora alguns pacientes desenvolvam uma estenose do cólon. Nos outros 15% dos casos, a operação é indicada devido à isquemia progressiva e à gangrena. Uma leucocitose acentuada, febre, aumento na necessidade hídrica, taquicardia, acidose e peritonite são todos aspectos que indicam uma falta de resolução da isquemia e a necessidade de intervenção cirúrgica. Durante a operação, a ressecção da porção intestinal isquêmica e a criação de um estoma terminal são os procedimentos mais indicados. Diagnóstico O sangramento GI baixo se apresenta com hematoquezia, que pode variar de sangue vermelho-brilhante até coágulos escuros. Se o sangramento for mais lento ou de uma origem mais proximal, o sangramento GI baixo frequentemente se apresentará como melena. A hemorragia do trato GI baixo tende a ser menos grave e mais intermitente, e cessa espontaneamente mais do que o sangramento GI alto. Quando comparado com sangramento gastrointestinal alto, nenhuma modalidade diagnóstica é tão sensível e/ou específica como a endoscopia para fazer um diagnóstico preciso em sangramento GI baixo. A avaliação diagnóstica é complicada ainda mais pela observação de que, em até 40% dos pacientes com sangramento GI baixo, Perda de sangue 15 Mírian Santos 6° semestre. identifica-se mais de uma fonte potencial de hemorragia. Se mais de uma fonte for identificada, é fundamental determinar qual é a lesão responsável, antes de se iniciar a abordagem terapêutica agressiva. Esta abordagem pode, ocasionalmente, requerer um período de observação, durante o qual ocorram vários episódios de sangramento, antes que seja feito um diagnóstico definitivo. Em até 25% dos pacientes com hemorragia GI baixa, a fonte de sangramento nunca é encontrada com precisão. Após a terapia apropriada ter sido iniciada, o primeiro passo no processo diagnóstico é excluir a ocorrência de sangramento anorretal por meio de um exame de toque retal e anuscopia ou sigmoidoscopia. No caso de um sangramento significativo, também é importante eliminar uma possível fonte GI alta. Um líquido aspirado SNG que contenha bile e com ausência de sangue exclui efetivamente o sangramento no trato digestório superior na maioria dos pacientes. Entretanto, quando a operação de emergência para uma hemorragia potencialmente fatal está sendo realizada, a EGD pré-operatória ou intraoperatória geralmente é indicada. Esse procedimento é especialmente relevante caso esteja sendo considerada a possibilidade de realizar uma colectomia subtotal às cegas para o tratamento de uma hemorragia maciça. A avaliação subsequente depende da magnitude da hemorragia. Com sangramento maior e/ou persistente, o processo diagnóstico avança dependendo da estabilidade hemodinâmica do paciente. O paciente realmente instável, que continue a sangrar e requeira uma reposição imediata e agressiva, deve permanecer no centro cirúrgico para diagnóstico e intervenção cirúrgica imediatos. Quando a hemorragia é intermitente, o manuseio de reposição e a estabilidade hemodinâmica possibilitam que seja feita uma avaliação para se tomar uma diretriz sobre a intervenção terapêutica. A colonoscopia é a principal ferramenta do diagnóstico, pois torna possível tanto a visualização da patologia quanto a intervenção terapêutica nas fontes de sangramento no cólon, reto e segmentos distais do íleo. Os exames coadjuvantes usuais da colonoscopia incluem o exame com eritrócitos marcados e a angiografia. Perda de sangue 16 Mírian Santos 6° semestre. Colonoscopia: Mais adequada em sangramentos leves a moderados porque a hemorragia maior interfere na visualização e pode estar associada a complicações. Tratamento: Depende da lesão. Hemorragia Oculta A hemorragia GI obscura é definida como um sangramento que persiste ou recorre após uma avaliação inicial negativa, tanto com EGD quanto com colonoscopia. O sangramento obscuro pode ser subdividido ainda mais em sangramento obscuro-oculto ou sangramento obscuro-evidente. O sangramento obscuro oculto é caracterizado por anemia com deficiência de ferro ou fezes com testes guáiaco positivos, sem sangue visível. Se a endoscopia inicial do trato digestório superior e inferior não consegue identificar uma fonte de sangramento obscuro oculto e o paciente não tem apresentações sistêmicas da doença, o tratamento costuma ser feito com terapia de reposição de ferro e mais de 80% têm resolução de sintomas em menos de dois anos. O sangramento obscuro evidente é caracterizadopor perda visível de sangue, recorrente ou persistente. O sangramento obscuro pode ser frustrante para o paciente e para o médico e é especialmente intrigante para o sangramento obscuro evidente, que não pode ser localizado, apesar de medidas agressivas com tentativas diagnósticas. O sangramento obscuro evidente é apenas responsável por cerca de 1% de todos os casos de sangramento GI. O diagnóstico diferencial de sangramento obscuro evidente é abrangente e variado e inclui lesões do intestino delgado não descritas previamente. Etiologias Sangramento Gastrointestinal Superior Angiodisplasia Doença ulcerosa péptica Fístula aortoentérica Neoplasia Causas relacionadas com HIV Lesão de Dieulafoy Linfoma Sarcoidose Hemobilia Hemosuccus pancreaticus DEU Câncer metastático Sangramento do Intestino Delgado Doença de Crohn Divertículo de Meckel Linfoma Enterite por radiação Isquemia Causas relacionadas com HIV Infecção bacteriana Doença metastática Angiodisplasia Erosões induzidas por AINEs Sangramento do Cólon Colite Perda de sangue 17 Mírian Santos 6° semestre. Colite ulcerativa Colite de Crohn Colite isquêmica Colite por radiação Colite infecciosa o Úlcera retal solitária o Amiloidose o Linfoma o Endometriose o Angiodisplasia o Neoplasia o Causas relacionadas com HIV o Hemorroidas Diagnóstico Endoscopias repetidas: Identificar lesões que passaram despercebidas, até 35% dos pacientes tem a fonte de sangramento identifica no segundo exame endoscópico. A maioria das hemorragias GI obscuras é uma fonte distal ao ligamento de Treitz. Angiografia e outros. Tratamento A hemorragia GI obscura requer uma abordagem cuidadosa para o diagnóstico e tratamento. As causas específicas e seu tratamento são citados mais adiante. Até 25% dos casos de hemorragia GI obscura permanecem sem um diagnóstico, e 33% a 50% dos pacientes apresentam novos episódios de sangramento em três a cinco anos. As estratégias de manejo geralmente dependem da identificação de uma lesão. A reposição de ferro combinada com transfusão intermitente é ocasionalmente necessária, embora essa abordagem não seja atraente. Causas especificas de sangramento do intestino delgado: Angiodisplasias, neoplasias, doença de crohn e divertículo de meckel e divertículos. Abordagem Geral Na internação, uma avaliação inicial rápida possibilita a determinação da urgência da situação. O atendimento é iniciado com a estabilização das condições hemodinâmicas do paciente e o estabelecimento de um meio para a monitoração da perda sanguínea ativa. Uma historia cuidadosa e um exame físico minucioso devem fornecer pistas para a causa e a origem do sangramento e identificar quaisquer condições que possam atuar como complicadoras. Medidas terapêuticas são então iniciadas, o sangramento é controlado e a possibilidade de recorrência da hemorragia é prevenida. Perda de sangue 18 Mírian Santos 6° semestre. Avaliação Inicial Segue inicialmente o XABCDE. A constatação de que a via aérea está pérvia para propiciar a respiração do paciente representa a prioridade número um. Uma vez que esta é assegurada, a condição hemodinâmica do paciente torna-se a preocupação dominante e forma a base de tratamento adicional. O quadro clínico da hemorragia GI é variável, da ocorrência de sangue oculto nas fezes ao exame de toque retal, até uma hemorragia exsanguinante. A avaliação inicial deve enfocar com rapidez a magnitude das deficiências preexistentes e, sobretudo, a eventualidade de uma hemorragia contínua. A reavaliação permanente das condições circulatórias do paciente determina o grau da evolução e das possível intervenções subsequentes. A história do sangramento, sua magnitude e frequência também devem fornecer alguma orientação. A gravidade da hemorragia pode ser determinada, com base em parâmetros clínicos simples. Ficar atento aos SINAIS DE CHOQUE. Paciente com embotamento mental, agitação e hipotensão associados a extremidades frias e úmidas são achados compatíveis com choque hemorrágico e sugerem uma perda de mais de 40% do volume sanguíneo do paciente. Uma frequência cardíaca em repouso de 100 batimentos/min, com uma pressão de pulso diminuída, implica uma perda de volume de 20 a 40%. Em pacientes sem choque, alterações posturais devem ser obtidas, permitindo ao paciente sentar-se com suas pernas balançando, por 5 minutos. Uma queda na pressão arterial de mais de 10 mm Hg ou uma elevação do pulso de mais de 20 bpm reflete novamente uma perda de pelo menos 20% do volume de sangue. Pacientes com graus menores de sangramento podem não apresentar alterações detectáveis. Em casos agudos, o hematócrito não é um parâmetro confiável para a avaliação do grau de hemorragia, porque a proporção entre os eritrócitos sanguíneos (ERTs) e o plasma perdido inicialmente é constante. O hematócrito não cairá até que o plasma seja redistribuído pelo espaço intravascular e a ressuscitação com solução cristaloide seja iniciada. Do mesmo modo, a ausência de taquicardia pode ser enganosa; alguns pacientes com perda sanguínea grave podem, realmente, ter bradicardia secundária à redução do estímulo vagal do coração. Sinais hemodinâmicos são menos confiáveis em pacientes idosos e aqueles que fazem uso de betabloqueadores. Estratificação de risco Nem todos os pacientes com sangramento GI requerem internação hospitalar ou avaliação de emergência. Por exemplo, um paciente com sangramento retal de pequena monta, que tenha cessado, geralmente pode ser avaliado como paciente ambulatorial. Perda de sangue 19 Mírian Santos 6° semestre. Vários fatores prognósticos podem estar associados a resultados adversos, incluindo a necessidade de operação de emergência e/ou mesmo óbito. Estes fatores devem ser considerados durante a avaliação inicial e a ressuscitação do paciente com hemorragia gastrointestinal. Por exemplo, pacientes com mais de 60 anos apresentam maiores taxas de mortalidade do que suas contrapartes mais jovens e devem ser avaliados com mais cautela. Esta maior morbidade pode ser um reflexo de doenças concomitantes. Os efeitos deletérios das comorbidades cardíacas, renais, pulmonares e hepáticas como um todo devem ser considerados quando se avalia um paciente com sangramento GI. Por exemplo, um estudo estimou que os pacientes com sangramento e com doença renal significativa têm uma taxa de mortalidade de quase 30%. Essa taxa aumenta para 65% no caso de insuficiência renal aguda. Outros fatores, incluindo a magnitude da hemorragia inicial, a persistência ou recorrência do sangramento e o início do sangramento durante a hospitalização por outras doenças, também contribuem para o aumento da morbidade e da mortalidade. FATORES DE RISCO PARA MORBIMORTALIDADE NA HGA. >60 Anos de idade Doenças comórbidas o Insuficiência renal o Doença hepática o Insuficiência respiratória o Doença cardíaca Magnitude da hemorragia Pressão arterial sistólica <100 mm Hg Necessidade de transfusão o Hemorragia persistente ou recorrente o Início da hemorragia durante a hospitalização o Necessidade de operação Existem algumas ferramentas que podem ser utilizadas para tentar determinar o risco, afim de facilitar a triagem do paciente. Como por exemplo, o APACHE II que não éespecifico para sangramento do TGI, mas fornece as condições gerais do paciente. Assim como existe um sistema de escores que utiliza cinco critérios: sangramento contínuo, pressão arterial sistólica inferior a 100 mmHg, tempo de protrombina superior a 1,2 vez o controle, alteração do estado mental e processos patológicos comórbidos instáveis que exigem admissão na UTI. Se qualquer um desses critérios estiver presente, o modelo prevê um aumento de aproximadamente 3 vezes no risco de hemorragia recorrente, necessidade de intervenção cirúrgica ou óbito. Reposição Quanto mais grave for o sangramento, mais vigorosa deve ser a reposição. A principal causa de morbimortalidade nesses pacientes é a falência múltipla dos órgãos relacionada com a reposição inicial e/ou subsequente de forma inadequada. A entubação e a ventilação são iniciadas precocemente, caso haja dúvidas sobre o comprometimento respiratório. Em pacientes Perda de sangue 20 Mírian Santos 6° semestre. com evidência de instabilidade hemodinâmica ou nos quais o sangramento contínuo é suspeito, dois acessos venosos calibrosos devem ser colocados, preferencialmente na fossa antecubital. Os pacientes instáveis recebem um bólus de 2L de solução cristaloide, em geral Ringer lactato, que mais se aproxima da composição eletrolítica do sangue total. A resposta para a reposição volêmica deve ser avaliada. O sangue é enviado imediatamente para a tipagem e para a realização de provas cruzadas, hematócrito, contagem de plaquetas, perfil de coagulação, bioquímica de rotina e provas de função hepática. Um cateter de Foley também deve ser inserido na bexiga para avaliação da perfusão de órgãos. Em idosos e pacientes com doença cardíaca, pulmonar ou renal significativa, a colocação de um cateter venoso central ou na artéria pulmonar deve ser considerada para monitoração mais rigorosa. A capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue pode ser maximizada pela administração de oxigênio suplementar. Frequentemente, esses pacientes se beneficiam com a internação e tratamento precoce em UTI. A decisão de transfundir sangue depende da resposta à administração de fluidos, da idade do paciente, da ocorrência ou não de doença cardiopulmonar concomitante, e da persistência ou não do sangramento. Os efeitos iniciais da infusão de cristaloide e a evolução dos parâmetros hemodinâmicos do paciente são os critérios primordiais. Mais uma vez, esse processo requer um elemento de julgamento clínico. Por exemplo, um paciente jovem e saudável, com perda sanguínea estimada de 25%, que responde à administração de fluidos com uma normalização hemodinâmica pode não precisar receber qualquer produto hemoderivado, enquanto um paciente idoso, com um histórico cardíaco significativo e a mesma perda sanguínea, provavelmente requererá transfusão. Embora o hematócrito possa requerer 12 a 24 horas para um equilíbrio completo, ele é comumente empregado como um índice da necessidade de reposição de sangue. Em geral, o hematócrito deve ser mantido acima de 30% em adultos mais idosos e acima de 20% em pacientes jovens e saudáveis. Em geral, a papa de hemácias é a forma preferida de transfusão, embora o sangue total, preferivelmente aquecido, possa ser usado em cenários de perda sanguínea maciça. Os distúrbios de coagulação e plaquetas devem ser repostos conforme vão sendo detectados; e pacientes que necessitam de mais de 10 U de sangue devem receber cálcio, plaquetas e plasma fresco congelado empiricamente. História e exame físico Depois de avaliada a gravidade do sangramento e iniciada a reposição sanguínea, deve-se dirigir a atenção para o histórico clínico e para o exame físico. A história ajuda a fazer uma avaliação preliminar do local e da causa do sangramento e das condições clínicas Perda de sangue 21 Mírian Santos 6° semestre. significativas que possam determinar ou alterar o curso da terapia. Obviamente, as características do sangramento fornecem pistas valiosas. O tempo e o início, o volume e a frequência são importantes na estimativa das perdas sanguíneas. Hematêmese, melena e hematoquezia são as manifestações mais comuns de hemorragia aguda. O termo HEMATÊMESE refere-se ao vômito de sangue que, em geral, é causado por sangramento no trato GI alto, embora raramente o sangramento do nariz e/ou da faringe possa ser responsável por esse sintoma. Pode ser vermelho-rutilante ou mais escuro e, portanto, nesse caso, adquirirá a aparência de borra de café. MELENA é a evacuação de fezes negras e pastosas, com odor desagradável, geralmente um sinal sugestivo de sangramento no trato GI alto. Embora a aparência típica da melena resulte tanto dos ácidos gástricos que convertem hemoglobina em hematina quanto da ação das enzimas digestivas e das bactérias do lúmen do intestino delgado, a perda de sangue do segmento distal do intestino delgado ou do cólon direito pode produzir essa aparência, principalmente se o trânsito for lento. A melena não deve ser confundida com a tonalidade esverdeada das fezes, em um paciente fazendo uso de suplementos de ferro. Uma maneira de distinguir essas duas condições é realizar o teste de guáiaco, testes negativos naqueles em suplementação de ferro. A HEMATOQUEZIA é a presença de sangue vermelho-vivo no reto, que pode ou não estar misturado às fezes. Embora isso normalmente reflita uma fonte localizada no cólon distal, sangramentos gastrointestinais superiores também podem produzir hematoquezia se o volume for significativo. A história pode fornecer pistas para o diagnóstico. A perda crônica de sangue pode levar a sintomas de órgãos terminais não GI, tais como síncope, angina e, até mesmo, infarto agudo do miocárdio. A história de vômitos pode ser sugestiva de laceração de Mallory-Weiss, enquanto a perda de peso levanta suspeitas sobre um espectro de doenças malignas. Mesmo os dados demográficos podem ser úteis – certas lesões causam sangramento em idosos, tais como angiodisplasias, divertículos, colite isquêmica e câncer, enquanto pacientes mais jovens têm sangramento por úlcera péptica, varizes e divertículo de Meckel. Antecedentes de doença GI, sangramento ou operação prévia devem começar imediatamente a enfocar um diagnóstico diferencial. O antecedente de desconforto epigástrico pode apontar para a ocorrência de uma úlcera péptica, enquanto uma operação prévia sobre a aorta sugere a possibilidade de uma fístula aortoentérica. Uma história de doença hepática indica a necessidade de avaliação sobre o sangramento varicoso. O uso de medicamentos também pode ser revelador. Uma história de ingestão de salicilatos, de drogas anti-inflamatórias não Perda de sangue 22 Mírian Santos 6° semestre. esteroides (AINEs) e/ou de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) é comum, principalmente em pacientes idosos. Essas medicações são associadas a erosões nas mucosas gastrointestinais, observadas tipicamente no trato GI alto, mas que, ocasionalmente, podem ocorrer no intestino delgado e no cólon. O sangramento GI, na vigência de terapia de anticoagulação, varfarina ou heparina de baixo peso molecular, não deve ser atribuído a anticoagulação isolada, há que se pesquisar patologia do trato GI. O exame físico também pode ser revelador. A orofaringe e o nariz podem, ocasionalmente, simular sintomas de uma origem maisdistal e sempre devem ser examinados. Somente em alguns casos, o exame abdominal é útil, mas é importante para excluir a ocorrência de tumorações, esplenomegalia e adenopatia. A sensibilidade na região epigástrica é sugestiva, mas não diagnóstica, de ulceração péptica ou de gastrite. Os sinais característicos da doença hepática, incluindo icterícia, ascite, eritema palmar e cabeça de medusa, periumbilical podem ser sugestivos de sangramento relacionado com varizes esofagianas, embora esses pacientes possam apresentar sangramento de outras fontes. Um exame retal e a anuscopia devem ser realizados para excluir um câncer retal baixo ou sangramentos por hemorroidas. Localização Embora a melena tenha geralmente origem no trato GI superior, pode ser o resultado de sangramento do intestino delgado ou cólon. Do mesmo modo, a hematoquezia é, algumas vezes, consequência de um sangramento GI alto súbito. Uma abordagem para distinguir essas possibilidades é a introdução de uma sonda nasogástrica (SNG) e o exame do líquido aspirado. Embora a hematêmese em geral seja diagnóstica de sangramento GI alto, a sonda ainda é útil para avaliar o volume de sangramento ativo e para remover o sangue do estômago para facilitar a endoscopia. Se o líquido aspirado for positivo, haverá uma localização efetiva da lesão. A presença de sangue vermelho ou uma aparência de borra de café sugere uma fonte GI superior. A pesquisa de sangue oculto raramente é necessária. A presença de bile em um aspirado gástrico é sugestiva de que o conteúdo do duodeno tenha sido incluído na coleta. Perda de sangue 23 Mírian Santos 6° semestre. Embora uma aspiração gástrica não sanguinolenta e biliosa geralmente exclua uma origem no trato GI alto, esses achados podem, ocasionalmente, ser enganosos. A endoscopia nestas circunstâncias é altamente positiva para identificar uma lesão GI alta e, se negativa, para direcionar a atenção para uma fonte GI baixa. Para maximizar a eficácia, a endoscopia precoce deve ser realizada dentro das primeiras 24 horas, mesmo em pacientes estáveis. A endoscopia precoce com terapia dirigida mostrou redução da necessidade de transfusão e reduziu a permanência hospitalar. Os médicos devem estar cientes de que esofagogastroduodenoscopia (EGD), em casos de urgência ou emergência, está associada a uma redução da precisão, muitas vezes em virtude da má visualização, e um significativo aumento na incidência de complicações, incluindo aspiração, depressão respiratória e perfuração GI, quando comparada com procedimentos eletivos. A proteção das vias aéreas é crítica e pode ser necessária entubação endotraqueal se não foi realizada anteriormente. A reposição volêmica não deve ser interrompida durante o exame. Avaliação subsequente depende dos resultados da endoscopia alta e do volume do sangramento. A angiografia ou, até mesmo, a intervenção cirúrgica pode mostrar-se necessárias em casos de hemorragia volumosa, no trato GI alto ou baixo. Para o sangramento lento ou intermitente do trato GI baixo, atualmente a colonoscopia é o procedimento diagnóstico inicial de escolha. Quando isso não esclarecer, pode-se usar a cintigrafia de glóbulos vermelhos marcados (RBC). Para sangramentos obscuros, em geral provenientes do intestino delgado, a endoscopia com cápsula endoscópica está se tornando o exame mais adequado. Tratamento Dependendo da origem do sangramento, estão disponíveis diferentes opções terapêuticas. Dentre elas, incluem-se modalidades farmacológicas, endoscópicas, angiográficas e cirúrgicas. Terapias farmacológicas, endoscópicas e cirúrgicas são geralmente específicas e serão discutidas em detalhes mais adiante. As técnicas angiográficas são, de certo modo, mais genéricas e incluem a angiografia seletiva com infusão de um vasoconstritor, especificamente a vasopressina, ou a embolização. Para a maioria dos pacientes em que o sangramento já cessou, as opções terapêuticas são selecionadas para prevenir sua recorrência. O risco de sangramento recorrente e, portanto, a necessidade de intervenções preventivas depende das características da lesão, da magnitude da hemorragia inicial e de um paciente específico. Por exemplo, embora o risco para hemorragia diverticular recorrente seja relativamente baixo, uma ressecção eletiva no cólon ainda pode ser uma manobra adequada em um paciente com Perda de sangue 24 Mírian Santos 6° semestre. doença coronária significativa, que já tenha sofrido uma hemorragia maior. Em pacientes com instabilidade hemodinâmica, uma conduta adequada é instituir a terapia nas primeiras duas horas da internação. A adoção dessa estratégia depende do desenvolvimento de protocolos específicos de cada instituição, para o tratamento multidisciplinar desses pacientes. Se atentar para intervenção cirúrgica precoce de acordo com a individualidade do paciente. REFERÊNCIAS Sabiston tratado de cirurgia / Courtney M. Townsend, Jr. ... [et al.] ; [tradução Alexandre Maceri Midão ... et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2015. Medicina interna de Harrison / J. Larry Jameson... [et al.] ; tradução: André Garcia Islabão...[et al.] ; [revisão técnica: Ana Maria Pandolfo Feoli... [et al]. – 20. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2020. Clínica médica, volume 4: doenças do aparelho digestivo, nutrição e doenças nutricionais. – Barueri, SP: Manole, 2009.
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