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Características gerais O músculo liso é composto por fibras menores quando comparados com as fibras do músculo estriado esquelético (cerca de 30 vezes menor). É importante saber que a força de atração dos filamentos de actina e miosina para gerar uma contração no músculo liso pode ser a mesma do músculo esquelético, mas o arranjo interno das fibras é diferente. O músculo esquelético tem um aspecto estriado devido à interdigitação das proteínas actina e miosina. Na musculatura lisa existem essas proteínas, mas elas não estão interdigitadas, por isso que seu arranjo interno é diferente. O músculo liso de cada órgão se distingue do dos outros órgãos por alguns aspectos: ● Dimensões físicas ● Organização em feixes e folhetos ● Respostas a diferentes tipos de estímulos ● Características de inervação ● Função Tipos de músculos lisos Existem dois tipos: Músculo liso multiunitário e músculo liso unitário (também chamado de unidade única, músculo liso visceral ou sincicial). O multiunitário tem várias fibras, assim como o unitário também. O que difere é que no músculo liso unitário as fibras estão bem conectadas e vão se contrair ou relaxar todas juntas, enquanto que na multiunitária cada fibra se comporta de maneira diferente das outras - vão se contrair ou relaxar sem dependência das outras. Exemplos de músculo liso multiunitário são o músculo ciliar do olho, músculo da íris e os músculos piloeretores. O restante, basicamente, é do tipo unitário. Mecanismo contrátil Na base química: assim como o músculo estriado esquelético, o músculo liso possui: os filamentos de actina e de miosina e a ativação do processo contrátil através de íons Ca + + e ATP. No entanto, não possui aquele complexo de troponina. De maneira geral, a contração dos músculos lisos é mais demorada e demanda menos energia, justamente porque o ATP vai continuar ali por mais tempo. Na base física: Uma coisa muito importante da musculatura lisa são os corpos densos. Eles conectam as células para que a força da contração seja transmitida adiante. São semelhantes às linhas/disco Z do músculo estriado. Contração do músculo liso VS. contração do músculo esquelético ● Baixa frequência de Ciclos das Pontes Cruzadas de miosina - todo aquele processo de entrada de íons cálcio na célula, união do ATP à cabeça de miosina, atividade ATPase (no caso da musculatura esquelética) com transformação de ATP em ADP + Pi, movimentos de força ao se conectar com a actina e etc ocorre com frequência menor e velocidade inferior. ● Baixa energia necessária para manter a contração - como a contração muscular é mais prolongada, a frequência é menor e, assim, durante todo o processo não será necessário tanto ATP. Supondo números, digamos que uma única molécula de ATP no músculo esquelético produz uma contração de 0,5 segundos, enquanto que uma molécula de ATP no músculo liso produz uma contração de 2 segundos (só exemplo). ● Lentidão do início da contração e do relaxamento do tecido muscular liso total - assim como a contração é devagar, o relaxamento também ocorre de maneira lenta. ● A força máxima a contração geralmente é maior do que na musculatura esquelética - isso porque ela se mantém por mais tempo e os filamentos de actina tipo puxam de lados opostos. Como prova disso, o músculo esquelético diminui em até 30% do seu tamanho na contração e o músculo liso diminui em até 70% do seu tamanho no mesmo processo. ● O mecanismo de ´´Trava`` facilita a manutenção prolongada das contrações - Aquela função ATPase da cabeça de miosina para clivar o ATP em ADP + Pi não existe aqui nos músculos lisos, só nos esqueléticos. É outra enzima que vai atuar. Será discutida adiante. ● Estresse-Relaxamento - quando um músculo liso sofre distensão ele sofre depois uma contração, movimento conhecido como peristaltismo. Contração Ao invés da troponina, que atua na musculatura esquelética, aqui temos a ação da proteína calmodulina. Ela tem a função de ativar as pontes cruzadas (cabeça) da miosina nesta sequência: 1. Os íons cálcio se ligam à calmodulina - eles podem vir do líquido extracelular e do retículo sarcoplasmático (porque ele não é tão desenvolvido como no músculo esquelético). Do meio extracelular eles podem vir de canais voltagem-dependentes e de canais ligante-dependentes, que podem ter ativação por neurotransmissor, hormônio e etc. 2. Forma-se o complexo cálcio-calmodulina que se une à miosina e ativa a enzima fosforilativa miosina-cinase (MLCK). 3. Uma das cadeias leves de cada cabeça da miosina é fosforilada em resposta a essa enzima. Sem a fosforilação, a conexão da cabeça com os pontos ativos não ocorre. Em outras palavras, só ocorre a contração muscular se houver essa fosforilação com a miosina-quinase. 4. Depois do tempo de contração que for necessário, a enzima miosina-fosfatase é ativada para a retirada do fosfato da cabeça da miosina, ocorrendo relaxamento progressivo. Enquanto que nos músculos estriados esqueléticos o potencial de ação (que é a estimulação da contração) chega por controle nervoso (neurônios), nos músculos lisos ele pode vir de outras formas. Lembrando que todas essas possibilidades ocorrem porque o músculo liso possui muitos tipos de receptores que podem iniciar um processo de contração e muitos outros que podem inibir. São eles: ● Sinais nervosos também ● Estimulação hormonal ● Estiramento do músculo Junções neuromusculares - anatomia fisiológica É diferente das do músculo esquelético! A primeira diferença é a presença de varicosidades aqui. São conexões - tipo varizes - entre as fibras nervosas. Como aqui não tem aquelas placas motoras terminais, essas varicosidades, juntamente com as próprias extremidades dos nervos, servem para a liberação do neurotransmissor, como a acetilcolina. As junções comunicantes (GAP) mostradas na imagem servem para uma melhor transmissão da contração. Lembrando que nos músculos unitários a contração e o relaxamento ocorrem ao mesmo tempo em todas as células. Então as junções GAP servem pra isso. Potenciais de membrana e de ação No estado normal de repouso, o potencial de membrana é cerca de -50 a -60 milivolts nos músculos lisos. Isso é mais ou menos 30 milivolts menos negativo que o músculo esquelético (lá o potencial de repouso é de -90 milivolts). O potencial de ação do músculo liso unitário pode acontecer de duas formas: potencial em ponta (figura A) ou potencial em platô (figura C). Também existem os potenciais de onda lenta/ondas marcapasso - acontece no peristaltismo dos músculos do intestino (figura B): Canais de cálcio Os canais de cálcio aqui são essenciais para a contração muscular, como dito anteriormente. A membrana celular do músculo liso apresenta muito mais canais de cálcio controlados por voltagem, porém muito menos canais de sódio controlados por voltagem do que nos músculos esqueléticos. Lembre-se: os canais de cálcio se abrem muito mais lentamente que os canais de sódio e permanecem abertos por muito mais tempo. Excitação do músculo liso visceral pelo estiramento muscular Quando o músculo liso unitário é estirado o suficiente, geralmente são gerados potenciais de ação espontâneos. Exemplo é o que ocorre na bexiga ( quando ela é estirada devido à grande quantidade de urina armazenada), com o intestino (quando ele é estirado pós alimentação) ocorre um potencial de ação local. Esse potencial resulta da combinação de: Potencial de onda lenta normais + diminuição da negatividade do potencial de membrana, causada pelo próprio estiramento. Despolarização do músculo liso multiunitário sem potenciais de ação O músculo liso multiunitário não tem potencial de ação! A contração muscular dessas fibras ocorre principalmente em resposta aos estímulos nervosos das terminações nervosas que liberam os neurotransmissores (acetilcolina ou norepinefrina). Como as fibras musculares lisas multiunitárias são pequenas e não estão juntas, é inviável a ocorrência de um potencial de ação. Até mesmo o liso unitárioprecisa de pelo menos umas 30 fibras juntas para que um potencial de ação viaje pelo músculo. Retículo sarcoplasmático Um retículo sarcoplasmático maior será mais desenvolvido e terá maior quantidade de Ca ++ guardado. Lembrando que é no líquido extracelular que existe maior concentração dos íons cálcio no caso da musculatura lisa. Existem também as cavéolas, que são invaginações da membrana por onde o neurotransmissor vai sinalizar a entrada de cálcio. Relaxamento Uma bomba de Ca ++ é necessária para o relaxamento, pois vai levar os íons de volta ou ao retículo ou ao meio extracelular. Perguntas e respostas ➔ Como o potencial de ação/fluxo de íons viaja através da fibra do músculo liso que possui muitas camadas de células musculares? As uniões comunicantes permitem a viagem dos íons de uma célula para outra. Como o músculo liso multiunitário não possui essas uniões, o fluxo já será diferente. ➔ Qual substância neurotransmissora existe dentro das vesículas dos axônios e nas varicosidades das fibras autônomas que inervam o músculo liso? Detalhe: o músculo liso é inervado por fibras autônomas, ou seja, é o SNA quem vai inervá-lo. Acetilcolina e Norepinefrina. ➔ Algumas vezes a acetilcolina age estimulando a contração do músculo liso de alguns órgãos, inibindo a contração do músculo liso de outros órgãos. O mesmo pode ocorrer com a Norepinefrina. Por que isso ocorre? Isso ocorre por causa do receptor! Vai depender dele. ➔ Cite as duas ações importantes do cálcio na contração muscular lisa. Geração do potencial de ação e atuação direta no mecanismo contrátil (complexo cálcio-nodulina). ➔ Como o músculo liso multiunitário realiza sua contração sem um potencial de ação? Existem fatores estimulantes não nervosos e não associados ao potencial de ação que estão envolvidos aí: Fatores químicos teciduais locais - controle por feedback. Então vai faltar substância (ocorrendo vasodilatação) para que o músculo possa relaxar. Falta de O2, excesso de CO2, aumento de íons como H +, K +, do ácido lático, da temperatura do corpo, diminuição de Ca + + e etc. O segundo fator são alguns hormônios, como ocitocina, serotonina, histamina, norepinefrina, acetilcolina… Lembrando que um hormônio só pode causar contração muscular lisa se a membrana daquela célula muscular possuir receptores para tal.