Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CARTILHA DA MANIPUEIRA USO DO COMPOSTO COMO INSUMO AGRÍCOLA JOSÉ JÚLIO DA PONTE Livre-Docente de Fitopatologia Professor-Emérito da Universidade Federal do Ceará Presidente da Academia Cearense de Ciências Medalha de Ouro do Mérito Fitopatológico Medalha de Ouro do Mérito da Educação Agrícola Superior Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) Membro da Academia de Ciências de New York CARTILHA DA MANIPUEIRA USO DO COMPOSTO COMO INSUMO AGRÍCOLA 3a Edição Banco do Nordeste do Brasil Fortaleza 2006 Ponte, José Júlio da. P811c Cartilha da manipueira: uso do composto como insumo agrícola/José Júlio da Ponte. – 3. ed. – Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2006. 66 p. ISBN 85-87062-67-0 1. Agricultura. 2. Insumos agrícolas. 3. Manipueira. I. Título. CDD 581.69 Presidente: Roberto Smith Diretores: Augusto Bezerra Cavalcanti Neto Francisco de Assis Germano Arruda João Emílio Gazzana Luiz Ethewaldo de Albuquerque Guimarães Victor Samuel Cavalcante da Ponte Superintendência de Comunicação e Cultura José Maurício de Lima da Silva Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste – ETENE Superintendente: José Sydrião de Alencar Júnior Coordenadoria de Estudos Rurais e Agroindustriais – COERG Maria Odete Alves Editor: Jornalista Ademir Costa Normalização Bibliográfica: Rodrigo Leite Rebouças Diagramação: Franciana Pequeno Cliente Consulta: 0800.783030 Tiragem: 2.000 exemplares Depósito Legal junto à Biblioteca Nacional, conforme Lei 10.994 de 14/12/2004 Copyright © by Banco do Nordeste do Brasil Impresso no Brasil/Printed in Brazil TRIBUTOS DO AUTOR de Gratidão: Ao Doutor Francisco Ariosto Holanda, a quem a gente excluída dos processos produtivos do novo Ceará deve, com a idealização e implantação dos Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTs), o mais competente instrumento de resgate da cidadania; e a quem devo, em particular, o estímulo para produzir esta Cartilha; de Agradecimento: Aos que, ungidos com a essência do mesmo ideal, fizeram-se romeiros da mesma fé, dedicados colaboradores de minhas tantas pesquisas sobre manipueira. Às instituições que me deram apoio logístico – Universidade Federal do Ceará (UFC), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa (FUNCAP), estas em importantes etapas do “Projeto Manipueira”; aquela, minha oficina de trabalho, o tempo todo; de Reconhecimento: À pesquisadora Maria Erbene Góes Menezes, dileta e infatigável companheira das mais recentes (e ousadas) experiências com manipueira – incluindo a formulação da manipueira em pó – e grande incentivadora desta nova edição da Cartilha e, máxime, de sua versão para o inglês, dando uma dimensão internacional a este livro. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................9 1 – INTRODUÇÃO .......................................................................... 11 2 – MANIPUEIRA: UM “NÃO” AOS AGROTÓXICOS ....... 15 3 – MANIPUEIRA COMO NEMATICIDA ............................... 19 3.1 – Recomendações Práticas e Posologia .................................. 22 3.2 – Informações Adicionais ......................................................... 23 4 – MANIPUEIRA COMO INSETICIDA E ACARICIDA .... 25 4.1 – Recomendações Práticas e Posologia .................................. 28 4.1.1 – Manipueira como formicida .............................................. 29 5 – MANIPUEIRA COMO FUNGICIDA E BACTERICIDA . 31 5.1 – Recomendações Práticas e Posologia .................................. 33 6 – MANIPUEIRA COMO HERBICIDA .................................... 35 7 – MANIPUEIRA COMO ADUBO ............................................ 39 7.1 – Recomendações Práticas e Posologia .................................. 40 7.2 – Informações Adicionais ......................................................... 41 8 – OUTRAS SERVENTIAS ........................................................... 43 9 – COMO TER MANIPUEIRA O ANO TODO ...................... 45 10 – MANIPUEIRA EM PÓ ............................................................ 47 REFERÊNCIAS ................................................................................... 49 ANEXOS .............................................................................................. 55 8 9 APRESENTAÇÃO A Cartilha da Manipueira versa sobre o uso do composto como insumo agrícola, sendo destinada aos que desejam conhecer ou trabalhar com agricultura livre de agrotóxicos. No decurso de dez anos (1976/85), cresceu em mais de 500% o consumo de agrotóxicos no Brasil, enquanto, no mesmo período, a rentabilidade da produção agrícola brasileira crescia em apenas 5%. A discrepância entre estes dados atesta, em linhas gerais, o malogro econômico de tão elevado investimento. O emprego abusivo de agrotóxicos, que tem demonstrado ser um empreendimento de elevado custo, até mesmo antieconômico em muitos casos, constitui, em função da alta toxicidade da maioria desses compostos, um permanente risco à ecologia e, sobretudo, à saúde humana. Consciente desses graves inconvenientes, o Setor de Fitopatologia da Universidade Federal do Ceará criou, há mais de dez anos, uma linha de pesquisa direcionada para a descoberta de defensivos agrícolas não-convencionais, a partir de extratos ou derivados vegetais. Nesse particular, sobressaiu-se a manipueira (nome indígena brasileiro designativo do extrato líquido das raízes de cassava, Manihot esculenta Crantz), um subproduto da fabricação da farinha de mandioca que, até então, era praticamente desprezado, sem qualquer aproveitamento econômico. Este composto, uma vez testado como nematicida e, posteriormente, como inseticida, revelou extraordinária eficiência e notável economicidade, sem os riscos de toxidez dos produtos comerciais. Iniciada em 1979, esta linha de pesquisa, intitulada “Utilização da Manipueira como Defensivo Agrícola”, já produziu doze trabalhos científicos, dez dos quais relativos à primeira etapa do projeto (utilização como nematicida), reunindo um acervo de resultados positivos. Os dois outros trabalhos correspondem à segunda etapa (utilização como inseticida) e relatam pesquisas recentes que atestam a eficácia do composto no combate, também, a insetos fitoparasitos. 10 Na Cartilha da Manipueira, o prof. José Júlio relata, de forma sumariada, todas as experiências científicas desenvolvidas por ele, usando a manipueira como adubo foliar e defensivo agrícola em suas mais variadas especificações. Apresenta a Manipueira como Nematicida, Inseticida, Acaricida, Fungicida, Bactericida e Herbicida, mostrando, inclusive, suas fases experimentais e as recomendações práticas para uso e posologia. Pela importância do conteúdo e linguajar utilizado, de fácil entendimento mesmo por leigos no assunto, o documento tem tido excelente circulação entre técnicos extensionistas, produtores orgânicos e agricultores familiares, fato que justifica o investimento do BNB em sua 3ª edição. José Sydrião de Alencar Júnior Superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE 11 1 – INTRODUÇÃO A manipueira – vocábulo indígena incorporado à língua portuguesa – é o líquido de aspecto leitoso e cor amarelo-clara que escorre das raízes carnosas da mandioca (Manihot esculenta Crantz), por ocasião da prensagem das mesmas para obtenção da fécula ou farinha de mandioca. Portanto, é um subproduto ou resíduo da industrialização da mandioca, que, fisicamente, se apresenta na forma de suspensão aquosa e, quimicamente, como uma miscelânea de compostos: goma (5 a 7%), glicose e outros açúcares, proteínas, células descamadas, linamarina e derivados cianogênicos (ácido cianídrico, cianetos e aldeídos), substâncias diversas e diferentes sais minerais, muitos dos quais fontes de macro e micronutrientes para as plantas (MAGALHÃES, 1993). No Nordeste do Brasil, principal centro produtor de mandioca do país, grande parte dessa produção destina-seà alimentação humana, em consonância com o fato de ser a farinha de mandioca um dos alimentos básicos de subsistência das populações regionais de baixa renda, justo a maioria dos habitantes. O restante é destinado à alimentação de animais domésticos, especialmente bovinos. Na citada região, a fabricação da farinha de mandioca é competência, na maioria dos casos, de pequenos produtores rurais que, a este fim, utilizam processos rudimentares, cujos fundamentos remontam à época colonial. Eis as etapas desse processo industrial (ver ilustrações em ANEXOS): a) as raízes de mandioca são, primeiramente, lavadas e descascadas em operação manual; b) as raízes descascadas são trituradas em caititu – moinho movido manualmente ou por energia elétrica; c) a massa pastosa obtida a partir dessa trituração é, em seguida, fortemente prensada, utilizando-se, no geral, prensa de madeira, acionada manualmente; d) a massa que fica retida na prensa é, de imediato, esfarelada em peneira de malha grossa, e 12 e) por fim, levada ao forno para secagem, após o que se tem a farinha – um pó branco, granuloso, de variável finura e sabor peculiar. (Convencionalmente, o forno é uma grande estrutura circular, construída de tijolo e cimento, cuja plataforma mede de 3 a 5 metros de diâmetro). Durante a prensagem da massa pastosa – etapa relatada no item “c” –, flui uma suspensão aquosa de tonalidade bege ou amarelada e odor ativo, mas agradável – é a manipueira. Este subproduto jorra com abundância, haja vista que o mesmo é contido na proporção de 3:1; ou seja, 1 litro de manipueira para cada 3 kg de raízes de mandioca prensadas. A par de abundante em todas as regiões de cultivo e industrialização de mandioca, a manipueira é, no geral, cedida graciosamente, pois ainda se trata de um resíduo descartável em sua quase totalidade, com esporádicos e restritos aproveitamentos em molhos de pimenta e de tucupi (este no Estado do Pará) e no fabrico da tiquira, bebida alcoólica de consumo praticamente limitado ao Estado do Maranhão. Mas esse desprestígio da manipueira tende a desaparecer, a fazer parte do passado, quando se atentar para a excelência dos seus préstimos como insumo agrícola, seja como pesticida ou adubo, consoante os resultados de numerosas e pacientes pesquisas conduzidas pelo autor e objetos de relato nesta cartilha. Com efeito, a manipueira contém um glucosídeo cianogênico – a linamarina –, de cuja hidrólise (por ação da linamarase) provém a acetona-cianohidrina, da qual resultam, por ação enzimática (a- hidroxinitrila-liase) ou por quebra espontânea, o ácido cianídrico (bastante volátil) e os cianetos, além de aldeídos (Tabela 1). São estes cianetos que respondem pelas ações inseticida, acaricida e nematicida do composto, enquanto o enxofre, presente em larga quantidade (cerca de 200 ppm), garante-lhe a destacada eficiência como fungicida, sem embargo da presença, em menor escala, de outras substâncias que exercem, também, ação antifúngica, tais como cetonas, aldeídos, cianalaninas, lectinas e outras proteínas tóxicas, inibidoras de amilases e proteinases, que atuam como ingredientes ativos complementares. Ademais, o enxofre tem, também, ação inseticida-acaricida. Na atualidade, a manipueira, quando investida nas funções de pesticida, vem sendo empregada 13 em sua forma natural, tal como é recolhida da prensa, na casa-de- farinha. Não sofre qualquer beneficiamento, quer físico ou químico, salvo eventuais diluições em água, quando necessárias ou aconselháveis, a fim de se obter maior rendimento ou para prevenir efeitos fitotóxicos em plantas de compleição mais delicada. Isto não invalida, obviamente, a possibilidade de a manipueira vir, em futuro próximo, a ser industrializada para uso como pesticida. E, neste sentido, o primeiro passo já foi dado pelo Autor deste livro, em parceria com Erbene Góes, pesquisadora-assistente da Clínica de Planta “Dr. Júlio da Ponte”, os quais formularam a manipueira em pó – ainda em fase de reconhecimento de patente –, produto que oferece algumas vantagens em relação à manipueira natural (líquida), conforme comentários inseridos no capítulo 10. Tabela 1 – Composição química da manipueira (média de 20 amostras analisadas) Quantidade (ppm) Nitrogênio (N) 425,5 Fósforo (P) 259,5 Potássio (K) 1853,5 Cálcio (Ca) 227,5 Magnésio (Mg) 405,0 Enxofre (S) 195,0 Ferro (Fe) 15,3 Zinco (Zn) 4,2 Cobre (Cu) 11,5 Manganês (Mn) 3,7 Boro (B) 5,0 Cianeto livre (CN-) 42,5 Cianeto total (CN) 604,0* Fonte: Ponte (1992). Nota: *55,0 mg/litro, em média. Por outro lado, considerando que a manipueira, em sua complexa composição química, encerra todos os macro e micronutrientes (salvo o molibdênio) necessários à nutrição das plantas superiores, e que os possui em teores geralmente expressivos, ela poderá ser utilizada, pura ou diluída, como fertilizante, seja Componente 14 em adubação convencional (aplicação no solo), seja por via foliar, esta com maiores proveitos, tanto pelo menor desperdício de manipueira como pelo provimento de respostas mais rápidas por parte da planta, pois a síntese deste processo nutricional passará a demandar menos energia e tempo. 15 2 – MANIPUEIRA: UM “NÃO” AOS AGROTÓXICOS Relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) classifica o Brasil como o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do mundo e o primeiro, disparadamente, da América Latina, com o emprego anual de 1,5 kg de ingrediente ativo por hectare cultivado. Isto em média global, considerando todo o universo agrícola nacional, pois, em determinados tipos de lavoura, a aplicação é bem maior. Na horticultura, por excelência, onde o consumo médio anual excede a 10 kg/ha; particularmente, na cultura do tomate, o exagero é extremamente alarmante, eis que, para cada safra, aplicam-se, em média, 40 kg/ha. Coincidentemente ou não, em matéria de mortalidade por câncer, o Brasil é o terceiro no ranking mundial e o primeiro no contexto latino-americano. Mas o câncer não é a única doença grave causada por pesticida, conquanto seja a mais aterrorizante. Na longa esteira de suas terríveis conseqüências, incluem-se a cirrose hepática, o aborto ou deformações fetais, a impotência e esterilidade sexuais, fibrose pulmonar (rigidez dos tecidos dos pulmões), braquicardia (lentidão do ritmo cardíaco) e distúrbios do sistema nervoso central, implicando em depressão, loucura e/ou paralisias parciais. A extensa lista prossegue com arritmia, arteriosclerose, pancreatite, tireoidite, hepatite, diabetes, gastrite, úlcera, leucopenia, atrofia medular, atrofia testicular, acne, alergia e variados tipos de distúrbios audiovisuais, implicando em surdez parcial e, até mesmo, em cegueira. A esses tormentos maiores, somam-se as intoxicações de menor monta, induzindo irritações cutâneas, cefaléias, tonturas, salivação e transpiração excessivas, além de outras indisposições passageiras. A estas pequenas mazelas, geradas por intoxicações instantâneas, estão mais sujeitos aqueles que lidam diretamente com agrotóxicos no campo – os operadores ou “dedetizadores” –, ao passo que os consumidores de agroprodutos envenenados, máxime os vegetarianos, estão mais expostos aos efeitos cumulativos que geram os grandes males enumerados acima. Não obstante, as 16 intoxicações instantâneas podem ser graves ou, até mesmo, letais, sobretudo quando ocorre a soma de dois fatores: a alta toxicidade do veneno e a falta de equipamentos básicos de proteção, recomendados para o ato de aplicação. Por mais paradoxal que possa parecer, esse exagerado investimento em agrotóxicos, crescente a cada ano, não correspondeu, em nosso país, a uma redução significativa das perdas agrícolas devidas a pragas e doenças. Em muitos casos, os resultados foram, até mesmo, contraproducentes, em função da intensidade dos desequilíbrios biológicos causados pelo coquetel de pesticidas utilizados, culminando com o extermínio dos inimigos naturais dos agentes de pragas e fitomoléstias. Em correspondência coma assertiva acima exposta, tal investimento foi, em linhas gerais, economicamente frustrante. Com efeito, no período de dez anos (1976/85), cresceu em 500% o consumo de agrotóxicos no Brasil, enquanto, no mesmo período, registrava-se um aumento de produtividade de apenas 5%, ganho que, além de irrisório, não pode ser creditado, exclusivamente, aos pesticidas. A enorme discrepância entre tais números sinaliza o malogro de tão pesado investimento em agrotóxicos. Não obstante, por força de uma campanha tenaz e massificante, indo da persistente propaganda na mídia à corrupção de pesquisadores e técnicos, o faturamento das multinacionais dos agroquímicos continua em alta. Assim, de 1993 a 1997, as vendas cresceram em 104%, passando de U$ 1,050 bilhão para U$ 2,161 bilhões (GALLI, 1998, p. 3-8). Em oposto, os ganhos de produtividade continuaram irrelevantes, enquanto relevantes foram os impactos ambientais, a contaminação de alimentos e as intoxicações causadas em agricultores e consumidores. Com efeito, no mesmo período, os casos de intoxicações instantâneas – sem considerar, portanto, as conseqüências a médio e longo prazos – cresceram em 65%. Mas, seguramente, no doce embalo dos polpudos faturamentos, isto pouco importou aos fabricantes de pesticidas. Mesmo que seus produtos sejam comprovadamente cancerígenos. À guisa de exemplo, cite-se o captafol (produto comercial Orthodifolatan), o qual, durante duas décadas, prevaleceu como o fungicida mais consumido no país, até ser proscrito do mercado, quando da 17 comprovação de tal periculosidade. O mais preocupante é que o citado produto não constitui um exemplo isolado, pois também são cancerígenos vários derivados do carbofuram, ditiocarbamato e captan, sem esquecer a forte suspeição que pesa sobre outros grupos químicos usados na mesma indústria. Os fatos e dados, ora relatados, são irrefutáveis. Não obstante, o atual presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal, fiel escudeiro desses fabricantes, declarou, cinicamente, que “o crescimento das vendas de produtos fitossanitários vem resultando em aumento da produtividade agrícola” (GALLI, 1998, p. 3-8). Seria cômico, se não fosse trágico. Os pesticidas biológicos, exaltados pelo citado presidente no mesmo pronunciamento, são ainda restritos e têm faixa de atuação bastante limitada, posto que específicos para determinadas pragas. A verdade é bem outra, porquanto os agrotóxicos de última geração, em sua maioria, são mais caros e mais tóxicos, acréscimos estes que resultam, respectivamente, em aumento do custo da produção e em crescente ameaça para a saúde humana e para a ecologia, dizimando fauna e flora, envenenando lençóis freáticos e desertificando solos. Consciente da gravidade do problema, o Autor do presente trabalho instituiu, junto à Universidade Federal do Ceará, desde 1979, uma linha de pesquisa que objetiva a descoberta de defensivos naturais, a partir de extratos e derivados vegetais. No decurso desse programa, dezenas de compostos já foram testados, com alguns resultados bem gratificantes. A infusão das raízes do tipi (Petiveria alliacea L.) destacou-se como nematicida, no tratamento de solos infestados de nematóides fitoparasitas (PONTE; FRANCO; SILVEIRA-FILHO, 1996). Todavia, os melhores resultados foram obtidos com a manipueira (extrato líquido ou sumo das raízes de mandioca), um resíduo industrial abundante e gratuito em todas as regiões onde se cultiva essa planta. A manipueira foi, sucessivamente, testada como nematicida, inseticida, fungicida e acaricida, mostrando excelentes resultados para todas essas finalidades, a ponto de superar, nos ensaios experimentais, os melhores pesticidas comerciais dos respectivos gêneros. Mais recentemente, a partir do pleno conhecimento da composição química da manipueira (rica em todos os macro e 18 micronutrientes requeridos pelas plantas, com exceção do molibdênio), resolveu-se testá-la como adubo foliar (tese de mestrado orientada pelo Autor), com respostas sumamente positivas. Assim, nessa oportunidade, plantas de tomate, quiabo e gergelim, então adubadas (via foliar) com manipueira, cresceram e produziram bem mais do que aquelas adubadas com um fertilizante sintético dos mais conceituados e que fora escolhido como testemunha ou referencial. Os resultado dessas pesquisas envolvendo manipueira foram e vêm sendo difundidos em periódicos científicos, revistas de divulgação técnica e reportagens em jornal e televisão. Em função disto, muitos agricultores já a usam regularmente, sobretudo como inseticida, e o mesmo já se faz em muitos países do terceiro mundo, consoante centenas de cartas que o autor tem recebido. A mais curiosa delas procede de Bahia Blanca, Argentina, escrita pelo Secretário de Saúde daquele município platino. A carta suplicava informações mais detalhadas sobre o uso da manipueira como defensivo, a fim de minimizar, ali, o consumo de agrotóxicos que, de tão exagerado, vinha sobrecarregando a saúde pública com numerosos casos de envenenamento, inclusive em berçários, vitimando criancinhas que se alimentavam do leite materno contaminado por resíduos de pesticidas. Eis, portanto, o surgimento de um pesticida natural inócuo à saúde humana e do mais baixo custo, pois se trata de um resíduo industrial abundante em todas as regiões de cultivo de mandioca; abundante e gratuito, pois ainda se trata de um produto descartável em sua quase totalidade. A notoriedade dessas pesquisas vem merecendo repercussão em diversos países, particularmente nos países essencialmente agrícolas do terceiro mundo, para o que muito contribuíram os trabalhos publicados pelo Autor em língua estrangeira (PONTE, 1988, 1989, 1993). Os tópicos que se seguem abordam, por ordem seqüencial das pesquisas desenvolvidas pelo Autor, as diversas utilidades da manipueira como insumo agrícola, enfocando os seus fundamentos científicos e modo de uso. 19 3 – MANIPUEIRA COMO NEMATICIDA O projeto “Investigação sobre o Aproveitamento da Manipueira como Defensivo Agrícola”, idealizado e coordenado pelo Autor, junto ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, Brasil, teve início em 1979, com a etapa “Uso da Manipueira como Nematicida”. Àquele ano, a manipueira foi originalmente testada como nematicida (PONTE; TORRES, FRANCO, 1979), justamente no tratamento de solos infestados de nematóides das galhas (Meloidogyne spp.), vermes que se situam entre os mais tolerantes aos nematicidas comerciais (PONTE, 1992). Esclareça-se que a opção por tais nematóides, como objeto das primeiras pesquisas, não se fez apenas em razão dessa aludida tolerância, mas, sobretudo, em nome de sua destacada expressão econômica, visto que se sobrelevam como integrantes do mais importante gênero de nematóides fitoparasitas. Com efeito, embora se reconheça a importância de outros grupos, tais como Heterodera, Pratylenchus, Radopholus e Ditylenchus, os nematóides das galhas prevalecem em patamar de maior destaque, com respaldo em três argumentos: 1) larga dispersão geográfica; 2) elevado polifagismo, e 3) habitual gravidade de seu parasitismo. Relativamente ao primeiro ponto, compete afirmar que esses nematóides, embora mais presentes na faixa tropical do globo, porquanto mais afeitos a climas quentes, acham-se difundidos pelas mais diversas regiões, mesmo naquelas de clima frio, onde se notabilizam pelos prejuízos que impõem às culturas de estufa (LORDELLO, 1968). Em relação ao segundo item, basta afirmar que o número de hospedeiros de Meloidogyne, entre plantas cultivadas e silvestres, é inigualável, excedendo a dois milhares (PONTE, 1977; PONTE; HOLANDA; ARAGÃO, 1996). E, no tocante ao terceiro argumento, pertinente às conseqüências de sua patogenicidade, a literatura fitonematológica é pródiga em notificações que se estendem às mais variadas culturas e que se difundem por todos os recantos do planeta. A estes fortes argumentos, somam-se, ainda, as eventuais intromissões de outros fitoparasitas que interagem com a associação 20 planta/nematóide das galhas,a exemplo do conhecido sinergismo Fusarium + Meloidogyne (LORDELLO, 1968), que se há notabilizado por graves implicações econômicas a determinadas culturas, máxime às do algodão (Gossypium spp.) e tomate (Lycopersicon esculentum Mill.). Acrescentando-se, ademais, as grandes dificuldades que, habitualmente, se opõem ao controle desses vermes, ter-se-á, por fim, uma clara idéia da dimensão de sua extraordinária importância econômica. Mui justificável, por conseguinte, que as investigações sobre uma possível ação nematicida da manipueira começassem pelos nematóides das galhas. Logo na primeira investigação, Ponte; Torres e Franco (1979), a manipueira já revelava uma enérgica potencialidade nematóxica. Este teste preliminar envolveu o cultivo de plantas de quiabo (Hibiscus esculentus L.) em solos envasados que haviam sido previamente infestados com ovos e larvas de nematóides das galhas e, dez dias depois, tratados com manipueira. Na ocasião, a partir de crescentes dosagens de manipueira – 0, 500, 750 e 1000 ml por vaso, com 6 litros de solo –, os autores obtiveram decrescentes percentagens de plantas atacadas por Meloidogyne: 100, 60, 50 e 30%, respectivamente. Dois anos depois, Ponte e Franco (1981) comprovaram essa potencialidade nematóxica através de resultados ainda mais positivos do que os obtidos no comentado experimento pioneiro. Com efeito, para a dosagem de 1000 ml/vaso, a percentagem de plantas atacadas, que fora de 30% no primeiro ensaio, caiu para 0% (Tabela 2). Segundo os citados autores, este melhor desempenho deveu-se ao uso exclusivo de manipueira extraída a partir, exclusivamente, de cultivares de mandioca brava e não de uma mistura de mandiocas brava e mansa (macaxeira), como houvera acontecido no primeiro experimento. Com efeito, a mandioca brava garante um teor bem maior de cianetos, justo os ingredientes ativos da manipueira. Neste segundo ensaio, o tomateiro cv. “Santa Cruz” foi admitido como planta-teste, haja vista a sua condição de hospedeiro da mais alta suscetibilidade ao parasitismo de nematóides do gênero Meloidogyne. Já no ano seguinte, Sena e Ponte (1982), confirmando os resultados obtidos em casa-de-vegetação, constataram um excelente 21 controle de meloidoginose em canteiros de cenoura (Daucus carota L.): nos canteiros tratados com manipueira (1 litro/m2), a par da leve infestação de nematóide das galhas constatada à época da colheita, a produção de cenoura foi 100% superior à obtida nos canteiros não tratados, onde a incidência da meloidoginose se fez severa e generalizada. Tabela 2 – Infestação de nematóides das galhas (meloidogyne spp.) em raízes de tomateiros (lycopersicon esculentum mill.), cultivados em vasos contendo solo previamente infestado e, posteriormente, tratado com diferentes dosagens de manipueira, extraída apenas de mandioca brava Infestação Grau Médio(2) Classe 0 4,0 forte 500 1,3 muito fraca 1000 0,0 nula 1500 0,0 nula Fonte: Ponte; Torres; Franco (1979). Notas: (1) ml de manipueira por vaso, contendo 6 litros de solo infestado com cerca de 10.000 espécimes de nematóides das galhas. (2) Média de 16 plantas por tratamento, distribuídas em quatro vasos.Notas atribuídas conforme o seguinte critério: 0 - ausência de galhas; 1 - 1 a 3 galhas por sistema radicular; 2 - 4 a 6 galhas; 3 - 7 a 12 galhas; 4 - 13 a 20 galhas; 5 - mais de vinte galhas, correspondendo, respectivamente, às infestações nula, muito fraca, fraca, moderada, forte e muito forte. No decurso desta primeira fase do projeto, a qual se estendeu por 13 anos (1979 a 1992), o Autor e seus colaboradores desenvolveram mais de dez trabalhos de pesquisa – resenhados em Ponte (1992) – a cerca do aproveitamento da manipueira como nematicida. Na esteira dessas pesquisas, não só provaram e comprovaram a grande utilidade do composto para tal finalidade, calcado em um vigor nematóxico que excede ao dos nematicidas comerciais, mas abordaram, também, vários pontos correlatos (dosagem, tempo de estocagem, interferência com bactérias fixadoras de N, efeitos residuais e influência na fertilidade do solo), todos à guisa de subsídios para o uso prático da manipueira em condições de campo. Dosagens (1) 22 Alguns dos aspectos então esclarecidos constituíram tema de uma tese de mestrado (FRANCO, 1986) orientada pelo Autor. Louve-se, no tocante a esses esclarecimentos complementares, a determinação da dosagem mínima de manipueira para tratamento de solos infestados, quer para um tratamento extensivo a toda a área de cultivo (PONTE; FRANCO; PONTES, 1987; FRANCO; PONTE, 1988; FRANCO et al., 1990), quer para uma aplicação restrita, direcionada exclusivamente aos sulcos de plantio (PONTE et al., 1995). Importante, também, foi a mensuração do tempo de estocagem do composto, à temperatura ambiente (25-32°C), sem perda de sua ação nematicida; esse tempo é de apenas três dias (PONTE; FRANCO, 1983b). A partir do quarto dia, o processo de fermentação da manipueira vai abatendo os teores de compostos cianogênicos (MELO, 1999) e, por conseguinte, vai minando, gradativamente, a nematoxicidade. Releve-se, ademais, a abordagem feita a cerca das implicações da manipueira sobre a população rizobiana (Rhizobium spp.) do solo (PONTE; FRANCO, 1983a), fato que assume importância quando o solo a tratar destina- se ao plantio de leguminosas. A propósito, os mencionados autores concluíram que, mesmo induzindo uma redução populacional dessas bactérias, em escala inversamente proporcional à quantidade de manipueira aplicada, o tratamento, ainda assim, é vantajoso, pois o aumento do grau de fertilidade do solo, proporcionado pelo composto, compensa a perda numérica de rizóbios. 3.1 – Recomendações Práticas e Posologia Com base nos resultados dessas pesquisas, eis, abaixo, a dosagem e outras recomendações pertinentes ao emprego da manipueira como nematicida, no tratamento de solos infestados. a) Tratamento Total da Área de Cultivo - Usar a manipueira em diluição aquosa, na proporção de 1:1; - Com auxílio de um regador ou vasilhame similar, aplicar de 4 a 6 litros dessa diluição por m2 de terreno; - Deixar o solo tratado em repouso, durante, no mínimo, oito dias, e 23 - Revolver o solo antes de voltar a cultivá-lo. b) Tratamento Restrito às Linhas de Cultivo - Usar a manipueira em diluição aquosa, na proporção de 1:1; - Aplicar, no mínimo, 2 litros dessa diluição por metro de sulco; - Observar um período de repouso semelhante ao prescrito para a modalidade de tratamento anterior, e - Revolver o solo, operação que, no caso, restringir-se-á à terra inerente e adjacente à linha de cultivo. 3.2 – Informações Adicionais A manipueira pode ser estocada, à temperatura ambiente, por um período de três dias, sem prejuízo de sua potencialidade nematicida ou pesticida em geral (PONTE; FRANCO, 1983b). Todavia, em refrigerador (8 a 10°C), o período de estocagem pode estender-se por 60 ou mais dias, sem que haja fermentação do composto e, por conseqüência, sem perda dessa potencialidade (MAGALHÃES, 1993). O revolvimento do solo, decorridos oito dias da data de aplicação, é importante no sentido de prevenir efeitos residuais fitotóxicos, conforme Franco (1986). A diluição em água, na proporção indicada (1:1), é recomendável, a fim de tornar o composto menos viscoso e, assim, prover uma maior penetração da manipueira no solo, ampliando- se, destarte, o seu raio de difusão no substrato. O tratamento com manipueira pura tem, na prática, um rendimento inferior, pois a densidade do composto, consoante comprovação experimental (PONTE, 1992), impede uma maior dispersão, restringindo-lhe, por conseguinte, a abrangência da ação nematicida. 24 25 4 – MANIPUEIRA COMO INSETICIDA E ACARICIDA Esta segunda etapa do projeto teve início em 1988, mediante um teste preliminar conduzido por Ponte, Franco e Santos (1988) e envolvendo cochonilhas de carapaça-marrom (Coccus hesperidum L.). Na oportunidade, uma única pulverização com manipueira pura (não diluída em água), sobre copas de limoeiro-galego (Citrus aurantifoliaSwingle) praguejadas por tais cochonilhas, foi suficiente para eliminar toda a população desses coccídeos ali presente. Seguiram-se vários outros testes, todos igualmente bem sucedidos, envolvendo, inclusive, insetos-pragas de maior porte, a exemplo da lagarta-peluda (Agraulis spp.) das passifloráceas, a par de outras pragas que se notabilizaram por marcante tolerância aos inseticidas tópicos em geral. Em trabalhos recentes, um deles publicado em Cuba, Ponte e Santos (1997; 1998) controlaram duas importantes pragas da citricultura, ambas bastante assíduas em todo o país: o pulgão- negro (Toxoptera citricidus Kirk) e a cochonilha “escama-farinha” (Pinnaspis aspidistrae Sign.), usando manipueira pura e manipueira diluída em igual volume de água (1:1). Mesmo nesta diluição, o composto revelou-se tão eficaz quanto o inseticida à base de parathion-metílico que fora usado, nos ensaios, como referencial de controle químico, e muito mais econômico do que este, sobre ser uma opção isenta das agressões que os agrotóxicos costumeiramente cometem à ecologia e à saúde humana. À mesma época, uma cultura de tomate, severamente atacada pela traça Scrobipalpula absoluta (Meirink), foi recuperada mediante três pulverizações, a intervalos semanais, com manipueira em diluição aquosa ainda menos concentrada, na proporção de uma parte do composto para quatro partes de água, atendendo à sensibilidade do tomateiro à manipueira. Os resultados deste teste foram relatados por Ponte e Miranda (1997). Com a difusão dos resultados dessas tantas pesquisas, o uso da manipueira como inseticida vem se tornando prática rotineira em vários recantos do território brasileiro, bem assim em determinados países do terceiro mundo, a exemplo de Madagascar, África, onde, segundo 26 Razafindrakoto (1997), a manipueira é assiduamente empregada no controle de cochonilhas, sobretudo em culturas de subsistência. A propósito, ensaios desenvolvidos, simultaneamente, em Madagascar e no Brasil (RAZAFINDRAKOTO, 1999), demonstraram a excelência da manipueira no tratamento de estacas (manivas) de mandioca densamente atacadas por duas espécies de cochonilhas. Com efeito, a imersão desses propágulos vegetativos em manipueira pura, durante 1 h, foi tão eficiente quanto à termoterapia (imersão em água quente, 47°C/30 min), seguida de quimioterapia (imersão em solução de benomyl a 20%/30 min), além de ser um ato operacional bem mais simples, menos dispendioso e sem qualquer afetação ao poder germinativo das estacas. Os resultados então obtidos podem ser extrapolados, em nível de recomendação de prévio tratamento, para outros propágulos vegetativos usuais: tubérculos, bulbos, rizomas etc. Duas outras comprovações da extraordinária eficácia da manipueira como inseticida ocorreram já neste século, quando Ponte (2001) a testou no controle de Stenodiplosis sp. – agente de cecídias em folhas de cajueiro (Anacardium occidentale L.) – e, principalmente, quando Ponte (2002) a avaliou contra a cochonilha “piolho-branco” (Orthezia insignis Browe), praga que se destaca por sua elevada agressividade (assíduo fator limitante da longevidade e produtividade da cultura da acerola, Malpighia glabra L.) e, também, por sua notável resistência aos inseticidas sintéticos, só sendo controlada por compostos sistêmicos da maior toxicidade, daqueles que exigem seis meses de carência. No caso do inseto das cecídias, a manipueira, nas concentrações 1:0 e 1:1 (pura e em diluição aquosa a 50%) e em quatro pulverizações a intervalos semanais, determinou 95 e 86% de mortandade, respectivamente (Tabela 3); no caso da Orthezia, as mesmas concentrações induziram, após igual número de aplicações, 100 e 95% de mortandade, resultado da maior relevância, dadas as razões acima expostas. Em ambos os experimentos, acrescentou-se 1% de farinha de trigo à manipueira para efeito de melhor aderência. Independentemente de recomendações calcadas em novos testes e ensaios científicos, os agricultores já identificados com o uso da manipueira a vêm usando no controle de uma extensa gama de insetos-pragas. De outra parte, a Clínica de Planta “Dr. Júlio da 27 Ponte”, em sua dinâmica operacional, há recomendado o mesmo composto no controle alternativo de pragas, sem o antecipado apoio de resultados experimentais, mas sempre com ótimas referências de seus clientes. Tabela 3 – Comportamento de agentes causais de algumas doenças e pragas do cajueiro ao tratamento com manipueira pura ou em diluição aquosa 1:1. Folhas Índice de Sadias Atacadas Controle Antracnose Manipueira 1:0 117 1 99,16% Manipueira 1:1 302 0 100% Oídio Manipueira 1:0 44 0 100% Manipueira 1:1 111 0 100% Cecídia Manipueira 1:0 41 2 95,35% Manipueira 1:1 94 15 86,24% Ácaro-amarelo Manipueira 1:0 59 1 98,34% Manipueira 1:1 118 2 98,34% Fonte: Ponte (2001). Era presumível a eficácia da manipueira como inseticida- acaricida, não apenas pelos cianetos (principais ingredientes ativos) presentes em sua composição, mas, também, em razão da presença de elevados teores de enxofre, elemento tradicionalmente identificado na luta contra insetos e ácaros. No tocante, particularmente, ao controle de ácaros fitoparasitas, a manipueira já vinha sendo usada, com muito sucesso, para tal finalidade, antes mesmo da comprovação científica, fato só ocorrido bem mais tarde, em experimento de campo envolvendo um plantio de mamoeiro (Carica papaya L.) severamente infestado pelo ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus Banks). Na oportunidade, o ataque foi totalmente debelado mediante três aplicações de manipueira, em diluição aquosa da ordem de 1:3, ministradas a intervalos semanais (PONTE, 1996b). Já neste século, ao ensejo da execução do projeto “Investigação sobre o Uso da Manipueira no Controle da Antracnose do Cajueiro”, estudo desenvolvido, sob encomenda, pela Clínica de Planta “Dr. Júlio da Ponte” (em Fortaleza, Estado do Ceará), Ponte Doença/Praga Tratamento 28 (2001), além de testar a eficiência da manipueira em relação à citada doença, estendeu suas observações de controle a algumas outras importantes fitomoléstias e pragas que atacam a cultura do caju no Nordeste, incluindo o ácaro-amarelo (Tenuipalpus anarcadii De Leon, 1965). E, conforme os resultados exibidos na Tabela 3, a manipueira impôs à população do referido ácaro uma taxa de mortandade superior a 98%, seja na concentração de 1:0 ou de 1:1. A mesma tabela expõe os índices de controle pertinentes às demais pragas e doenças avaliadas, sendo todos bem expressivos, variando de 86 a 100%. A eficiência da manipueira como acaricida ficou demonstrada, também, na área da pecuária, conforme experimento conduzido por Ponte (2000) e direcionado ao controle do carrapato Boophilus microplus Canestrini, 1887, persistente praga do gado bovino e de outros rebanhos domésticos. O ensaio envolveu vacas severamente infestadas de carrapatos, as quais receberam três aplicações do composto a intervalos semanais. Acrescentou-se óleo de rícino à manipueira (1:1), como veículo aderente e repelente à lambida da vaca e, assim, evitar eventuais reações tóxicas. A manipueira revelou-se tão eficiente quanto o carrapaticida comercial (cresolfenol) usado como referencial de controle. Ambos induziram 100% de mortandade aos carrapatos, só que a manipueira o fez a um custo baixíssimo. Por oportuno, ressalta-se que, em quase todos esses testes e experimentos direcionados ao aproveitamento da manipueira como inseticida ou acaricida, optou-se pela adição de um adesivo ao composto, preferentemente a farinha de trigo, na proporção de 1%, a fim de prover-lhe maior aderência. Mas, no ensaio como carrapaticida, usou-se óleo de rícino. 4.1 – Recomendações Práticas e Posologia À luz dos resultados obtidos ao longo desta segunda etapa do projeto – “Uso da Manipueira como Inseticida e Acaricida” –, eis as recomendações para o uso da manipueira, com vistas a tais finalidades: - O tratamento deve constar, no mínimo, de três ou quatro pulverizações, ministradas a intervalos semanais; 29 - Acrescentar à manipueira,pura ou diluída, o correspondente a 1% de farinha de trigo, a fim de garantir- lhe uma melhor aderência; - Usar manipueira pura ou, por outra, diluída em água, de conformidade com a praga e, sobretudo, com a cultura a ser tratada. Assim, no tratamento de árvores (citros, abacateiro, jambeiro etc), usar manipueira pura ou em diluição 1:1; para arbustos (murici, maracujá etc.), deve prevalecer a diluição 1:1 ou, até mesmo, 1:2, esta para controlar ácaros ou insetos mais sensíveis, tais como traças e pulgões; para plantas herbáceas de maior porte (pimentão, berinjela etc), recomendam-se as diluições 1:2 e 1:3 e, para aquelas de menor porte, mais delicadas, usar a diluição 1:4. Todavia, para os dois últimos casos, ou seja, para as herbáceas em geral, é sempre conveniente fazer, antes do tratamento definitivo, um teste preliminar, envolvendo um pequeno lote de plantas, a fim de ajustar a diluição à sensibilidade da planta a ser tratada e da praga a ser controlada, e - Para o caso específico de tratamento de propágulos vegetativos (estacas, rizomas etc.) praguejados, imergi-los em manipueira pura durante 1h, sendo dispensável o acréscimo de farinha de trigo. A fim de usá-la como carrapaticida, acrescentar 20 a 50% de óleo de rícino, dadas as razões expostas anteriormente. 4.1.1 – Manipueira como formicida Já em 2005, testou-se a manipueira no combate às saúvas (Atta sp.), atendendo a repetidos pedidos de agricultores. Realizaram-se dois ensaios, conduzidos simultaneamente (junho- julho/05), nos municípios de Acopiara e Russas, Estado do Ceará, ambos encravados no Semi-árido nordestino. Na ocasião, aplicou-se cerca de 1 litro de manipueira pura (não diluída) em cada “olho” dos formigueiros. Nos dois ensaios, um único resultado: a desativação dos sauveiros. 30 31 5 – MANIPUEIRA COMO FUNGICIDA E BACTERICIDA Esta terceira fase do projeto teve início em 1993, a partir de um trabalho de tese (mestrado) desenvolvido pela Professora. Adélia Benedito Coelho dos Santos, da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP), Belém, Estado do Pará, sob orientação do autor deste livro. Na oportunidade, Santos (1993); Santos e Ponte (1993) estudaram a ação fungicida da manipueira no controle do Oídio do urucu (Bixa orellana L.), doença causada pelo fungo Oidium bixae Viégas, um ectoparasita de marcante patogenicidade, haja vista ser a enfermidade por ele ocasionada a mais importante dentre as que afetam a citada planta em todo o Nordeste (PONTE, 1996a). O experimento pertinente ao estudo em referência foi conduzido em condições de casa-de-vegetação e reuniu quatro tratamentos: testemunha (plantas não tratadas), manipueira pura (100%), manipueira em diluição aquosa (50%) e um fungicida à base de pyrazophos que, por ser específico contra os fungos do gênero Oidium, foi incluído como referencial de controle químico. Ao final do experimento, constatou-se que a manipueira foi tão eficiente quanto o fungicida sintético, então usado como parâmetro de controle. Os autores admitiram que a ação oidicida da manipueira é devida ao elevado teor de enxofre (cerca de 200 ppm) presente em sua composição, a exemplo do que ocorre com o pyrazophos e com a maioria dos fungicidas recomendados para o controle curativo ou preventivo de oídios, cujo ingrediente ativo é o enxofre. É evidente, com fundamento em tais resultados, que a manipueira poderá muito bem substituí-los, com a vantagem adicional da economicidade devida à sua condição de subproduto quase sempre descartável, sem esquecer, também, a inocuidade com relação à saúde humana e a ausência de riscos ao ambiente. Na tese em questão, a par do controle do Oídio, observou-se que o tratamento com manipueira proporcionou, de um modo estatisticamente significativo, um maior crescimento das plantas de urucu, fato que deve ser atribuído menos ao controle da doença e mais à adubação foliar proveniente dos macro e micronutrientes que integram a sua composição, incluindo o enxofre, o qual tem 32 efetiva participação na síntese e constituição de aminoácidos essenciais, tais como cisteína, cistina e metionina. Vale recordar que a deficiência de S nos vegetais superiores assemelha-se, em suas conseqüências, à carência de N, uma vez que impede, igualmente, a formação de proteínas. Dois outros oídios – Oidium anacardii Noack e Oidium sp., fungos patogênicos ao cajueiro a à ciriguela (Spondias purpurea L.), respectivamente – foram rigorosamente controlados pela manipueira pura ou em diluição aquosa (1:1), conforme notificaram, pela ordem, Ponte (2001) e o fitopatologista Francisco das Chagas de Oliveira Freire, este em programa rural de TV. No primeiro caso, o Oídio do cajueiro foi objeto de um controle curativo absoluto (100%), conforme dados expostos na Tabela 3. Acresça-se que este estudo fez parte de um projeto (citado anteriormente) envolvendo a manipueira no controle de doenças e pragas do cajueiro e desenvolvido na Clínica de Planta “Dr. Júlio da Ponte”. Independentemente de outros testes de avaliação da manipueira como oidicida, é claro que os resultados desses experimentos pioneiros podem ser extrapolados e prescritos para os oídios de um modo geral, os quais constituem um importante grupo de fitomoléstias para muitas culturas, a exemplo das anacardiáceas, rosáceas e curcubitáceas, além do citado urucu. E tal prescrição equivaleria a um tratamento tão eficaz quão econômico, haja vista as razões acima enumeradas, máxime a supressão de riscos ao ambiente e à saúde humana, tão próprios dos agrotóxicos em geral. Duas outras bem sucedidas avaliações da manipueira como fungicida ocorreram em datas recentes, sendo relatadas por Ponte e Góes (2000) e Ponte (2001), envolvendo, respectivamente, fungos de “ferrugem”e “antracnose”: Uredo crotonis (P. Henn.) e Glomerella cingulata (Ston.) Spauld. & Schrenk., sobre plantações de cróton-de- jardim (Croton variegatus L.) e cajueiro (Anacardium occidentate L.). No primeiro caso, a manipueira foi usada em diluição aquosa 1:1, com 1% de farinha de trigo à guisa de adesivo. Uma única aplicação do composto foi suficiente para prevenir, durante três semanas, o surgimento de novas pústulas de ferrugem. No segundo caso, a manipueira, sem ou com adição de água (1:1), também acrescida de 33 farinha de trigo (1%), mediante seis aplicações a intervalos semanais, suprimiu praticamente o aparecimento de novas lesões foliares (mancha ou crestamento) de Antracnose nas plantas de caju submetidas ao tratamento. Os resultados desta segunda pesquisa estão sumariados na Tabela 3 e foram obtidos com o projeto “Investigação sobre o Uso da Manipueira no Controle da Antracnose do Cajueiro”, elaborado e executado pela Clínica de Planta “Dr. Júlio da Ponte”. Mas a avaliação fungicida continua em aberto, ainda longe de ser concluída. Com efeito, a manipueira ainda deverá ser testada no controle de diversas outras doenças, de muitos outros grupos de fungos fitopatogênicos, tais como os agentes de cercosporioses, cancros, carvões, míldios, fusarioses e podridões de frutos, para citar alguns dos mais assíduos em culturas tropicais (PONTE, 1980; 1996c). Tais testes estariam cercados de expectativas otimistas, haja vista que, além do enxofre e cianetos, a manipueira contém outras substâncias antifúngicas (MAGALHÃES, 1993), com destaque para cetonas, aldeídos, tioninas, fitoalexinas, quitinases, lectinas e outras proteínas de baixo peso molecular. Eis, portanto, um sugestivo filão que se oferece aos pesquisadores igualmente interessados em minimizar o uso de agrotóxicos. Até hoje, a única experiência de controle de fitobacteriose com manipueira é a que se fez envolvendo a Galha de Coroa do urucu, doença causada por Agrobacterium tumefaciens (E.F.Sm. & Towsend) Conn., a qual foi preventivamente controlada com aplicações semanais desse composto, na diluição de 1:1 (PONTE; HOLANDA, 1995). Todavia, neste caso, a ação de controle foi mais de natureza inseticida, pois exercida sobre o percevejo-grande (Leptoglossus gonagra Fabr.) que, nas circunstâncias experimentais,atuava como ativo agente disseminador da bactéria. Não obstante, os testes laboratoriais, envolvendo a mesma bactéria, demonstraram um enérgico poder bactericida da manipueira, fato a ser reiterado em experimentos vindouros. 5.1 – Recomendações Práticas e Posologia Para o uso da manipueira como fungicida e bactericida devem ser observadas as mesmas recomendações prescritas para o seu uso como inseticida. 34 Assim, o tratamento deve estender-se por, no mínimo, três ou quatro semanas, com uma pulverização a cada sete dias. Prevalece, também, a recomendação no sentido de acrescentar-se 1% de farinha de trigo ao composto, a fim de dar-lhe mais aderência, uma condição particularmente importante no trato de doenças, haja vista a prevalência do controle preventivo sobre o curativo. E, no tocante à dosagem, as prescrições pertinentes são, também, as mesmas. Desta forma, a opção pelo uso da manipueira pura ou diluída (diluições aquosas de 1:1, 1:2, 1:3 e 1:4) fica na dependência, sobretudo, do porte e tolerância da planta, reiterando- se a conveniência, no caso de tratamento de plantas delicadas, de proceder-se a um prévio teste de sensibilidade. 35 6 – MANIPUEIRA COMO HERBICIDA Quem visita uma casa-de-farinha observa a total ausência de vegetação rasteira, de plantas ruderais ou invasoras, na faixa de terreno que ladeia a vala externa por onde escorre a manipueira. Este fato, amplamente conhecido por quantos lidam com farinhada, é um atestado eloqüente da ação herbicida desse composto, independentemente de comprovação científica. Tal comprovação seria prefaciada pelo trabalho de Fioretto (1994), especulando sobre o efeito da manipueira sobre diversas plantas daninhas, quando a usou em fertirrigação. Tais informações eram alvissareiras, mas não suficientes para fins de uso prático. Com efeito, o aproveitamento da manipueira como herbicida estava a exigir mais pesquisas, um aprofundamento do estudo no propósito de dimensionar a sua exata potencialidade em tal especialidade, de esclarecer o espectro de sua ação sobre plantas de folhas largas e estreitas, de aferir possíveis efeitos residuais etc. Enfim, o esclarecimento de muitos pontos que pudessem subsidiar e disciplinar o seu emprego em substituição aos herbicidas comerciais. E valeria a pena explorar esse veio de investigação científica, não apenas pelo apelo da economicidade, mas, sobretudo, no zelo da preservação do meio ambiente, haja vista os graves e constantes impactos ambientais devidos aos herbicidas convencionais, cuja toxicidade é, em regra, bem superior à dos demais grupos de agrotóxicos. Enfim, em 2001, fez-se a primeira avaliação, dentro do devido rigor científico, da manipueira como herbicida. Eis que a Companhia Energética do Ceará (COELCE), por determinação dos órgãos oficiais de saúde pública e preservação ambiental, viu-se impedida de prosseguir com o uso de herbicidas sintéticos nas áreas físicas de suas subestações elétricas, sob a alegativa, absolutamente procedente, de que tais compostos iriam envenenar os lençóis freáticos subjacentes, pondo em risco a saúde da população circunvizinha, a par de outros graves impactos ambientais. Diante disto, a citada empresa passou a buscar um substitutivo para os herbicidas comerciais, já que deveria ter continuidade a eliminação de plantas invasoras em suas unidades, pois este mato abriga 36 passarinhos, répteis, lacertílios, insetos e outros pequenos animais que, com certa freqüência, danificam as instalações elétricas por provocarem curto-circuitos. Assim, a Coelce encomendou à Clínica de Planta “Dr. Júlio da Ponte” um estudo sobre a viabilidade do uso da manipueira como herbicida. Então, a Clínica elaborou o projeto “Investigação sobre a Utilização da Manipueira como Herbicida nas Subestações da Coelce”. Consoante este projeto, a manipueira pura (sem diluição em água) foi, com auxílio de regadores, aplicada, por três vezes, na área experimental (quadrilátero de terreno onde estão fincadas as torres do instrumental elétrico da empresa), a intervalos de 24 horas e na proporção de 5 litros por m2 de solo. Ali, estavam presentes 17 diferentes espécies de plantas invasoras. Conforme Ponte e Góes (2002b) que conduziram os trabalhos, 12 dentre as 17 espécies de ervas (70,58%) comportaram-se como suscetíveis, logo fenecendo ao impacto do tratamento; três outras espécies (17,64%) posicionaram-se como moderadamente suscetíveis, apresentando graves sintomas de atrofia e crestamento foliar, embora sobrevivessem (mas, segundo os autores, as chances de sobrevivência seriam mínimas, caso o tratamento prosseguisse com mais uma ou duas aplicações do composto); por fim, apenas duas espécies (11,76%) – no caso, o ciúme ou flor-de-seda (Calotropis procera R. Br.) e a salsa (Ipomoea asarifolia Roem. & Schult.) – comportaram-se como resistentes, mostrando-se infensas ao tratamento. Tais resultados, expostos no Quadro 1, revelam uma outra qualificação da manipueira no âmbito de sua utilização como defensivo agrícola: uma apreciável ação herbicida. Aliás, como defensivo, a manipueira sobreleva-se em relação a qualquer outro composto, por sua abrangência, pela amplitude de seu leque de opções, atuando como inseticida, acaricida, fungicida, nematicida e, também, como herbicida. 37 Planta Nome Científico Nome Vulgar Alternanthera tenella Moq. Quebra-pedra Aster chinensis L. Raínha Margarida Boerhaavia coccinea Mill. Pega-pinto Cenchrus echinatus L. Carrapicho-de-boi Chamaesyce hyssopifolia (L.) Small Erva-de-leite Suscetíveis Chloris gayana Kunth Capim Rhodes Croton sp. Marmeleiro Cyperus rotundus L. Capim-junco Evolvulus argenteus Pursch Dinheiro-em-penca Malva silvestris L. Malva Priva echinata Juss. Verbena-encarnada Schrankia leptocarpa DC. Malícia-roxa Eragrostis ciliaris Link. Capim-fino ou grama-fina Solanum paniculatum L. Jurubeba Turnera subulata Sm. Chanana Calotropis procera R. Br. Ciúme ou flor-de-seda Ipomoea asarifolia Roem. Resistentes & Schult. Salsa Quadro 1 – Plantas invasoras presentes na área experimental (Subestação Elétrica da Companhia Energética do Ceará – Coelce) e seu comportamento em relação ao tratamento com manipueira (extrato líquido das raízes de mandioca) Fonte: Ponte e Góes (2002). Comportamento Moderadamente resistentes 38 39 7 – MANIPUEIRA COMO ADUBO Este capítulo aborda um outro programa de pesquisa. Em verdade, paralelamente ao projeto “Investigação sobre o Aproveitamento da Manipueira como Defensivo Agrícola”, o Autor, a partir dos anos oitenta, criava um novo e original projeto, intitulado “Investigação sobre o Aproveitamento da Manipueira como Fertilizante”, estimulado pelos bons resultados obtidos com este composto para a mencionada finalidade, logo ao ensejo do primeiro teste, quando Franco e Ponte (1988) observaram que plantas de milho (Zea mays L.), cultivadas em solo adubado com manipueira, apresentavam, em confronto com o milho semeado em solo não tratado (testemunha), crescimento, peso verde e produção significativamente superiores: 20, 100 e 65% a mais, respectivamente. Mais tarde, desde quando se passou a conhecer, com exatidão, a composição química da manipueira – potencialmente rica em macronutrientes (K, N, Mg, P, Ca e S, pela ordem quantitativa) e com suficientes teores de todos os micronutrientes requeridos pelas plantas, salvo o molibdênio –, o Autor iria priorizar as pesquisas sobre a utilização deste subproduto como fertilizante foliar, por ser uma modalidade de adubação mais apropriada a um substrato líquido, sem subestimar, naturalmente, as vantagens inerentes a esta forma de suprimento de adubo, tais como menor desperdício do composto e, em relação à planta tratada, economia de tempo e energia, visto que o nutriente é entregue “na porta da fábrica”, isto é, diretamente sobre a folha, local-sede da fotossíntese. No tocante a esta linha de pesquisa, o teste preliminar, Ponte et al. (1997), logo mostrou a procedência da hipótese, através da revelação de resultados bastante sugestivos, uma vez que plantas de gergelim(Sesamum orientale L.) adubadas foliarmente com manipueira, em diluição aquosa 1:6, mediante seis pulverizações a intervalos semanais, responderam com uma produção estatisticamente superior à das plantas-testemunhas, fosse em número ou peso totais de frutos, com 67,3 e 52,1% a mais, respectivamente. 40 Estimulado pelo sucesso desse teste inicial, o autor elegeria o mesmo tema para a dissertação de mestrado (ARAGÃO, 1995) que, pouco depois, iria orientar e para a qual projetou, naturalmente, um experimento de maior amplitude, envolvendo duas culturas (tomate e quiabo) e quatro diluições de manipueira (1:4, 1:6, 1:8 e 1:10), também aplicadas seis vezes, a intervalos semanais. Este trabalho viria comprovar a eficiência da manipueira como fertilizante foliar, pois as plantas com ela tratadas, indiferentemente à diluição testada, apresentaram produção significativamente superior àquela obtida com a aplicação de um fertilizante sintético de grande aceitação comercial e que fora escolhido como referencial de nutrição via foliar (ARAGÃO; PONTE, 1995). Na esteira do mesmo filão, seguiu-se o trabalho de Ponte et al. (1998), envolvendo cultivo de sorgo forrageiro (Sorghum bicolor (L.) Moench.), sob condições de solo paupérrimo (com baixos teores de N, P e K). As plantas de sorgo forrageiro foram adubadas, via foliar, com manipueira (diluição 1:6), acrescida ou não de um coadjuvante adesivo, no caso a farinha de trigo. Em ambas as situações, isto é, com ou sem este adesivo, a adubação com manipueira, praticada seis vezes, a intervalos semanais, induziu uma produção de massa verde estatisticamente superior à da testemunha, com aumentos da ordem de duas e três vezes mais, respectivamente. Aliás, a inclusão da farinha de trigo não melhorou o rendimento da manipueira como adubo foliar; pelo contrário, restringiu-lhe a eficiência, com retorno em ganho de peso verde estatisticamente inferior ao que se obteve sem esse adesivo. Provavelmente, o aumento da densidade do composto, pela incorporação da farinha, dificultou, em parte, a sua absorção pelas folhas. A mais nova experiência da manipueira como fertilizante foliar fez-se em data recente, já envolvendo um significativo avanço tecnológico em torno deste composto – sua formulação em pó. Os resultados (excelentes) então obtidos e as características do novo formato do produto serão comentados mais adiante, no capítulo 10, totalmente reservado à manipueira em pó. 41 7.1 – Recomendações Práticas e Posologia À luz dos resultados ora relatados, conclui-se que a manipueira, para efeito de adubação, pode ser usada por vias foliar e edáfica, o que implica em recomendações distintas para tais modalidades de uso. a) Fertilização do solo - Usar a manipueira na diluição 1:1; - Aplicá-la ao solo, justo na linha de cultivo, com o auxílio de um regador ou vasilhame similar, na razão de 2 a 4 litros da diluição por metro de sulco; - A aplicação deve preceder ao plantio – adubação de fundação –, e o solo, após o tratamento, deve ficar em repouso por 8 ou mais dias, e - Revolver levemente o solo que compõe e margeia a linha de cultivo, antes de proceder à semeadura. b) Fertilização foliar - As diluições mais apropriadas são 1:6 e 1:8, a menos que haja, simultaneamente, necessidade de controle de pragas ou doenças, optando-se, em tais casos, por diluições mais concentradas, de acordo com as recomendações apostas nos capítulos correspondentes a tais controles; - Fazer o mínimo de seis e o máximo de dez pulverizações, preferentemente a intervalos semanais, e - Quando do uso da manipueira com a finalidade exclusiva de fertilização foliar, não adicionar farinha de trigo, ingrediente só recomendável nos casos de controle de pragas e doenças. 7.2 – Informações Adicionais Com vistas à adubação do solo, as recomendações ora enumeradas são, exatamente, aquelas prescritas para a utilização do mesmo composto como nematicida, no tratamento de linhas de cultivo, em solo infestado de fitonematóides, conforme o exposto 42 no item b, do tópico 3.1. Portanto, ao fazermos uma adubação de fundação com manipueira, estaremos, também, efetuando o controle dos nematóides fitoparasitas porventura presentes no mesmo solo. São, por conseguinte, operações simultâneas, o que releva o aproveitamento da manipueira como fertilizante. Destacamos a conveniência da diluição do composto em água (1:1), a fim de torná-lo mais fluido e, assim, garantir-lhe uma maior penetração no solo. No zelo dessa finalidade, a adição da farinha de trigo ou de qualquer coadjuvante-adesivo seria contraproducente, sobre ser desnecessária. Do mesmo modo, ao fazermos o controle de pragas e doenças foliares mediante pulverizações com manipueira, estaremos, qualquer que seja a diluição utilizada, fazendo, simultaneamente, uma fertilização foliar, fato que torna ainda mais rentável a opção pelo uso desse composto como defensivo agrícola. 43 8 – OUTRAS SERVENTIAS Os projetos sob responsabilidade do Autor objetivam, exclusivamente, o aproveitamento da manipueira como insumo agrícola. Mas não fica apenas nisto, o que já seria de grande importância, o repertório de préstimos deste composto. A manipueira pode ter uma serventia bem mais ampla, conforme indicam os resultados de pesquisas recentes, coordenadas por outros autores. Cabello e Leonel (1994) obtiveram, a partir da manipueira, o ácido cítrico, composto utilizável nas indústrias farmacêutica e de alimentos, máxime na produção de refrigerantes. Da mesma fonte, Cereda (1994) obteve uma biomassa oleaginosa de boa qualificação, dados os elevados teores de proteínas e lipídios ali presentes e bem afeitos a fins alimentares. O mesmo trabalho faz alusão, também, ao uso da manipueira como meio de cultura apropriado ao cultivo de microrganismos benéficos em fecularia. Outras serventias, embora não tão divulgadas, são relatadas na literatura. Eis alguns exemplos: a) na produção de álcool, a partir da fermentação dos açúcares presentes na goma residual do composto (CEREDA, 1994); b) na indústria da borracha, prestando- se como coagulante do látex da seringueira (CEREDA, 1994); c) na fabricação de tijolos, substituindo a água e ensejando um tijolo mais resistente, que não precisa ser queimado (MAGALHÃES, 1993); d) o tradicional emprego na culinária paraense, constituindo o afamado molho condimentar denominado tucupi, bem assim na culinária nordestina, substituindo o vinagre ou a cachaça na preparação do molho de pimenta, e e) na produção da bebida alcoólica tiquira, muito comum no Maranhão. Este leque de utilidades é bem um atestado da potencialidade industrial que a manipueira encerra e que não vem sendo, até hoje, convenientemente explorada. 44 45 9 – COMO TER MANIPUEIRA O ANO TODO Nas regiões de clima tropical, a principal limitação ao uso da manipueira como insumo agrícola diz respeito à indisponibilidade deste composto em determinada época do ano. No nordeste brasileiro, por exemplo, via-de-regra não se faz farinhada durante a estação das chuvas (de fevereiro a maio ou junho, nos anos normais), atividade só exercida ao longo do verão, época em que as raízes estão “enxutas”, provendo, por conseguinte, um maior rendimento de farinha. Portanto, sendo a manipueira um subproduto da fabricação da farinha de mandioca, ela normalmente estará em falta durante a estação chuvosa, justo quando se faz mais requisitada para desempenhar a sua principal finalidade, ou seja, o seu emprego como pesticida. Com efeito, é nessa época que se intensifica a atividade agrícola, com a prática do tradicional “plantio das águas” e, correspondentemente, quando se faz mais assídua e severa a ocorrência dos agentes de pragas e doenças, para cujo controle destaca-se, com eficácia e economicidade, a manipueira. E como superar tal limitação, de sorte a ter-se manipueira, em disponibilidade, em qualquer época do ano? Uma das alternativas seria conservá-la em refrigerador, evitando-se a fermentação do composto. Mas seria uma solução pouco prática, seja porque o grande volume de manipueiraa conservar iria ocupar muito espaço no refrigerador, seja porque a maioria dos agricultores de baixa renda não dispõe desse eletrodoméstico. Mas seria uma solução viável para o tratamento de pequenos cultivos de jardim e quintal. Outra alternativa, bem mais simples e prática, seria manter, na propriedade agrícola, um cultivo permanente de mandioca, só para a extração de manipueira, sempre que se fizesse necessário o seu emprego como pesticida ou adubo foliar. Seria uma espécie de “farmácia viva” para a lavoura. Para tal fim, bastaria uma área relativamente pequena (não mais de 5% da gleba) e de menor fertilidade, pois a mandioca é uma cultura rústica, pouco exigente. 46 A terceira alternativa, de fundamentação industrial e, portanto, de maior validade prática, é a “manipueira em pó”, matéria enfocada no capítulo seguinte. 47 10 – MANIPUEIRA EM PÓ A formulação da manipueira em pó é, sem dúvida, a alternativa mais prática para se ter a manipueira o ano todo e por mais tempo ainda. A esta formulação chegaram Ponte e Góes (2002a) mediante liofilização, isto sem prejuízo das qualificações do composto natural (manipueira líquida), porquanto mantendo, em semelhantes proporções, todos os seus componentes químicos, sejam os macro e micronutrientes que lhe garantem a excelência como adubo, sejam os cionetos que, como principais ingredientes ativos, garantem sua vigorosa ação pesticida (Tabela 4). A manipueira em pó veio para anular a principal limitação da manipueira líquida, justamente a sazonalidade comentada no capítulo anterior. Em forma de pó, ela estará disponível a qualquer época, pois independe do imediatismo da fabricação da farinha de mandioca. Outras limitações serão, também contornadas: a perecibilidade, pois a manipueira líquida vai perdendo sua potencialidade pesticida a partir do quarto dia pós-extração, conforme Ponte e Franco (1983b); a dificuldade de transporte, fato inerente ao deslocamento de grande massa líquida para o tratamento de extensos cultivos, e a dificuldade de comercialização, em decorrência da sazonalidade e da pouca durabilidade do composto líquido. Em oposto, a manipueira em pó, além de sua disponibilidade a qualquer tempo, terá uma longevidade bem expressiva, enquanto sua transportação e comercialização tornar- se-ão bem mais ágeis, por força do menor volume (cada 100 litros do composto líquido gera de 6 a 8 kg de manipueira em pó). Este novo produto, embora ainda esteja em via de reconhecimento de patente, já foi submetido ao primeiro teste de campo. Góes e Ponte (2002) o testaram como fungicida e fertilizante foliar e os resultados confirmaram a hipótese lógica, aquela ditada pela composição química da formulação em pó, semelhante à da manipueira líquida. No aludido experimento pioneiro, Góes e Ponte (2002), a manipueira em pó foi testada, em amendoim (Arachis hypogaea L.), como adubo foliar e fungicida, no controle de Mycosphaerella 48 arachidicola W. A. Jenkins, agente da Mancha Castanha. Usaram-se duas dosagens de manipueira em pó: 1 e 2 colheres de sopa por litro de água (cada colher contendo cerca de 20g do composto), comparando-as com a manipueira líquida em diluição aquosa 1:1 e a testemunha (água + 1% de farinha de trigo, componente adesivo também incluso nos demais tratamentos). Todos os tratamentos foram ministrados quatro vezes, mediante pulverizações a intervalos semanais. A incidência da Mancha Castanha foi praticamente nula nas plantas tratadas com manipueira em pó e os efeitos deste composto como fertilizante foliar, especialmente na dosagem de 2 colheres/litro, foram excelentes, aumentando, de um modo estatisticamente significativo, tanto a produção (peso total de vagens) como o porte vegetativo (peso fresco) das plantas de amendoim. Novos experimentos com manipueira em pó – investigando- a como inseticida, acaricida etc. – estão sendo programados, mas já cercados de uma expectativa otimista, haja vista o sucesso deste ensaio pioneiro. Tabela 4 – Composição química da manipueira em pó comparada à da manipueira líquida Manipueira em pó líquida Macronutrientes % ppm Potássio (K) 6,72 1.183,5 Nitrogênio (N) 1,00 425,5 Magnésio (Mg) 0,37 405,0 Fósforo (P) 0,29 259,5 Cálcio (Ca) 0,28 227,5 Enxofre (S) 0,10 195,0 Micronutrientes mg/kg ppm Ferro (Fe) 5.355,00 15,3 Manganês (Mn) 109,00 3,7 Zinco (Zn) 22,00 4,2 Cobre (Cu) 4,50 11,5 Boro (B) 2,00 5,0 Cianetos % ppm Livre 9,30 42,5 Total 86,40 604,0 Fonte: Análises procedidas na UNESP, Campus de Botucatu, São Paulo. Componente 49 REFERÊNCIAS ARAGÃO, M. L. Investigação sobre o aproveitamento da manipueira como fertilizante foliar. 1995. 36 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1995. ARAGÃO, M. L.; PONTE, J. J. da. O uso da manipueira (extrato líquido das raízes de mandioca) como adubo foliar. Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 1/2, n. 26, p. 45-48, 1995. CABELLO, C.; LEONEL, M. Produção de ácido cítrico a partir da manipueira. In: CEREDA, M. P. (Ed.). Resíduos de industrialização da mandioca no Brasil. São Paulo: Paulicéia, 1994. p. 109-118. CEREDA, M. P. Caracterização dos resíduos da industrialização da mandioca. In: CEREDA, M. P. (Ed.). Resíduos da industrialização da mandioca no Brasil. São Paulo: Paulicéia, 1994. p. 11-50. FIORETO, R. A. Uso direto da manipueira em fertirrigação. In: CEREDA, M. P. (Ed.). Resíduos da industrialização da mandioca no Brasil. São Paulo: Paulicéia, 1994. p. 51-80. FRANCO, A. Subsídios à utilização da manipueira como nematicida. 1986. 53 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1986. FRANCO, A.; PONTE, J. J. Subsídios à utilização da manipueira como nematicida: dosagem e interferência na fertilidade do solo. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v. 12, n. 1, p. 35-45, 1988. FRANCO, A. et al. Dosagem de manipueira para tratamento de solo infestado por Meloidogyne: II) segundo experimento. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v. 14, n. 1, p. 25-32, 1990. GALLI, F. Agrotóxico. Folha de São Paulo, São Paulo, p. 3-8, 03 mar. 1998. Caderno Agrofolha. 50 GÓES, E.; PONTE, J. J.da. Manipueira em pó: estudo pioneiro sobre sua ação como fungicida e fertilizante foliar. In: COBRADAN, 2., 2002, Fortaleza. Anais ... Fortaleza, 2002. LORDELLO, L. G. E. Nematóides das plantas cultivadas. São Paulo: Nobel, 1968. 141 p. MAGALHÃES, C. P. Estudos sobre as bases bioquímicas da toxicidade da manipueira a insetos, nematóides e fungos. 1993. 117 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1993. MELO, P. R. A. Níveis dos compostos cianogênicos conforme o tempo de estocagem da manipueira. 1999. 34 f. Monografia (Graduação em Agronomia) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1999. PONTE, J. J. da. Cassareep. Spore, Wageningen, v. 21, p. 10, 1989. ______. Cassareep: an unconventional nematicide. Cassava Newsletter, West Yorshire, v. 12, n. 2, p. 9, 1988. ______. Clínica de doenças de plantas. Fortaleza: Edições UFC, 1996a. 873 p. ______. Eficiência da manipueira como carrapaticida: teste preliminar. In: COBRADAN, 1., 2000, Fortaleza. Anais ... Fortaleza, 2000. ______. Eficiência da manipueira no controle do ácaro-branco do mamoeiro. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 71, n. 2, p. 259-261, 1996b. ______. Fitopatologia: princípios e aplicações. São Paulo: Nobel, 1980. 250 p. ______. Histórico das pesquisas sobre a utilização da manipueira: extrato líquido das raízes de mandioca como defensivo agrícola. Fitopatol. Venezolana, Macaray, v. 5, n. 2, p. 2-5, 1992. 51 ______. Investigação sobre o uso da manipueira no controle da Antracnose do cajueiro: relatório de projeto. Fortaleza: Clínica de Planta Dr. Júlio da Ponte, 2001. 9 p. ______. Investigação sobre o uso da manipueira no controle da cochonilha Orthesia insignis em acerola: relatório de projeto. Fortaleza: Clínica de Planta Dr. Júlio da Ponte, 2002. 12 p. ______. Manipueira: es desechable este subproduto de la yuca?. Yuca, Cali, v. 17, n. 1, p. 8, 1993. ______.Nematóides das galhas: espécies ocorrentes no Brasil e seus hospedeiros. Mossoró: ESAM, 1977. 100 p. ______. Os principais grupos de fitomicoses tropicais. Fortaleza: Academia Cearense de Ciências, 1996c. 13 p. (Publicação Técnica, n. 1). PONTE, J. J. da; FRANCO, A. Implicações da manipueira: um nematicida não convencional sobre a população rizobiana do solo. Publicação da Sociedade Brasileira de Nematologia, Piracicaba, v. 7, p. 125-128, 1983a. ______. Influência da idade da manipueira na preservação do potencial nematicida do composto. Publicação da Sociedade Brasileira de Nematologia, Piracicaba, v. 7, p. 237-240, 1983b. ______. Manipueira, um nematicida não convencional de comprovada potencialidade. Publicação da Sociedade Brasileira de Nematologia, Piracicaba, v. 5, p. 25-33, 1981. PONTE, J. J. da; FRANCO, A.; PONTES, A. E. L. Estudo sobre a potencialidade da manipueira, como nematicida, em condições de campo. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v. 11, n. 1, p. 42- 47, 1987. PONTE, J. J. da; FRANCO, A.; SANTOS, J. H. R. Teste preliminar sobre a utilização da manipueira como inseticida. Revista Brasileira de Mandioca, Cruz das Almas, v. 7, n. 1, p. 89-90, 1988. 52 PONTE, J. J. da; FRANCO, A.; SILVEIRA-FILHO, J. Investigação preliminar sobre a potencialidade nematicida do tipi (Petiveria alliacea). Fitopatologia Venezolana., Maracay, v. 9, n. 1, p. 14- 15, 1996. PONTE, J. J. da; GÓES, E. Composição química da manipueira em pó. In: COBRADAN, 2., 2002, Fortaleza. Anais ... Fortaleza, 2002a. ______. Investigação preliminar envolvendo a manipueira no controle de ferrugem. In: COBRADAN, 1., 2000, Fortaleza. Anais ... Fortaleza, 2000. ______. Utilização da manipueira como herbicida. Revista de Agricultura, Piracicaba, 2002b. Aceito para publicação. PONTE, J. J. da; HOLANDA, Y. C. A. Incidência e controle da Galha de Coroa (Agrobracterium tumefaciens) em plantas de colorau (Bixa orellana). Fitopatol. Venezolana, Macaray, v. 8, n. 1, p. 15-17, 1995. PONTE, J. J. da; HOLANDA, Y. C. A.; ARAGÃO, M. L. Adendo ao catálogo de plantas hospedeiras de Meloidogyne no Brasil. Nematologia Brasileira, Piracicaba, v. 20, n. 1, p. 73-81, 1996. PONTE, J. J. da; MIRANDA, E. Eficiência da manipueira no controle da traça. Fortaleza: UFC, 1997. 3 p. (Boletim Técnico). PONTE, J. J. da; SANTOS, J. H. R. Eficiência da manipueira no controle de duas pragas da citricultura. Fortaleza: UFC, 1997. 7 p. (Boletim Técnico). ______. Eficiência da manipueira no controle de Toxoptera citricidus: o pulgão negro dos citros. Fitosanidad, La Habana, v. 2, p. 3-5, 1998. PONTE, J. J. da; TORRES, J.; FRANCO, A. Investigação sobre uma possível ação nematicida da manipueira. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 4, p. 431-435, 1979. PONTE, J. J. da et al. Dosagem de manipueira para tratamento de linhas de cultivo em solo infestado de Meloidogyne. 53 Nematologia Brasileira, Piracicaba, v. 19, n. 1/2, p. 81-85, 1995. ______. Ensaio preliminar sobre a utilização da manipueira (extrato líquido das raízes de mandioca) como fertilizante foliar. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 72, n. 1, p. 63-68, 1997. ______. Fertilização foliar de sorgo com manipueira: extrato líquido das raízes de mandioca. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 73, n. 1, p. 101-109, 1998. RAZAFINDRAKOTO, C. Étude sur l’utilisation du manipueira comme pesticide biologique. [S.l.]: Ambatondrazaka, Centre National de la Recherche Apliquée au Developpement Rural, 1997. 18 p. (Bull. Technique). RAZAFINDRAKOTO, C. et al. Manipueira e termoterapia no tratamento de estacas de mandioca atacadas por cochonilhas. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 74, n. 2, p. 127-133, 1999. SANTOS, A. B. C. Investigação sobre a ação fungicida da manipueira no controle de Oídio. 1993. 39 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1993. SANTOS, A. B. C.; PONTE, J. J. da. Ação fungicida da manipueira no controle de Oídio. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 18, p. 302, 1993. SENA, E. S.; PONTE, J. J. da. A manipueira no controle da meloidoginose da cenoura. Publicação da Sociedade Brasileira de Nematologia, Piracicaba, v. 6, p. 95-98, 1982. ANEXOS 56 57 Foto 1 – Descascamento manual de raízes de mandioca Fonte: Sebastião da Ponte. Foto 2 – Trituração de raízes de mandioca em moinho elétrico (caititu). Fonte: Sebastião da Ponte. 58 Foto 3 – Massa pastosa de mandioca, após a trituração. Fonte: Sebastião da Ponte. Foto 4 – Aposição de massa de mandioca em prensa de madeira de acionamento manual Fonte: Sebastião da Ponte. 59 Foto 5 – Prensagem da massa de mandioca em prensa de madeira de acionamento manual Fonte: Sebastião da Ponte. Foto 6 – Secagem da massa em forno de alvenaria: última etapa da farinhada Fonte: Sebastião da Ponte. 60 Foto 7 – Manipueira: extrato líquido das raízes de mandioca, um subproduto da farinhada Fonte: Sebastião da Ponte. Foto 8 – Oídio (oidium bixae) em folha de urucu Fonte: Sebastião da Ponte. 61 Foto 9 – Haste de urucu infectada pela bactéria Agrobacterium tumefaciens, agente causal da Galha de Coroa Fonte: Sebastião da Ponte. 62 63 1 Apresentação parcialmente extraída do texto escrito por Osvaldo de Oliveira Riedel – médico e membro da ACECI, prefaciando um dos livros de José Júlio da Ponte. O AUTOR1 JOSÉ JÚLIO DA PONTE, com 46 anos de tráfego pelas sendas da Fitopatologia, é um dos mais experientes e competentes fitossanitaristas da atualidade. Experiência materializada em mais de 500 trabalhos publicados (livros, capítulos de livro, teses, artigos e comunicações científicas, monografias e conferências) no Brasil e no exterior; competência reconhecida e laureada nos muitos títulos e comendas que ilustram o seu esplêndido curriculum: presidente da Academia Cearense de Ciências (ACECI) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Fitopatologia (SBF) e da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN); bolsista-pesquisador nível I-A do CNPq; Medalha de Ouro do Mérito Fitopatológico (SBF), Medalha de Ouro do Mérito da Educação Agrícola Superior (1º lugar em concurso de títulos promovido pela ABEAS e envolvendo representantes de todas agrofaculdades do país) e Medalha “Boticário Ferreira” (Câmara Municipal de Fortaleza); diploma do Mérito Científico Professor Prisco Bezerra e comendas de Honra ao Mérito outorgadas pela SBF, SBN e Prefeitura Municipal de Fortaleza (Destaque da Ciência/1992); eleito “Man of the Year/1997” (Homem do Ano/1997) pelo American Bibliographical Institute (USA); reconhecimento internacional da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da New York Academy of Sciences; Livre- Docência em Fitopatologia, e o título que mais contempla o seu coração – o de Professor-Emérito, a maior honraria universitária, a qual, com sobras, ele fez por merecer. 64 Desde os primeiros passos de sua longa e infatigável peregrinação científica, ele fez da luta contra os agrotóxicos a preocupação maior de suas investigações, fosse através da criação de variedades resistentes, fosse mediante a busca de defensivos agrícolas naturais, insistência esta premiada com a “descoberta” da manipueira. Este trabalho, a “Cartilha da Manipueira”, é uma paciente e minuciosa dissecação de tudo quanto já fez em prol do aproveitamento da manipueira como insumo agrícola, em substituição aos famigerados agroquímicos. Vale a pena conhecê-lo. 65 SUPERINTENDÊNCIA DE LOGÍSTICA Ambiente de Recursos Logísticos Célula de Produção Gráfica OS 2006-01/0677 - Tiragem: 2.000
Compartilhar