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Avaliação Funcional Pulmonar - Pneumologia (Resumo)

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1 PNEUMOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 
Avaliação Funcional Pulmonar 
INTRODUÇÃO 
Vamos falar sobre os testes de função que conseguimos fazer na pneumologia. É importante ressaltar que estamos 
falando de imagem e não função. Às vezes teremos pacientes com todas as imagens do tórax alteradas e uma função 
normal e às vezes teremos pacientes com imagens normais e a função alterada, então esse é um exame complementar 
e não alternativo da imagem, a radiografia ainda é necessária para os diagnósticos. 
• Termos utilizados na função: 
o Complacência (Capacidade de distensão, para fazer o movimento respiratório quando relacionado ao pulmão) 
o Elastância / Resistência Elástica (Capacidade do pulmão de manter sem distender) 
• Volumes e capacidades pulmonares: 
o Volume corrente (Volume que entra e sai do pulmão durante uma respiração normal) 
o Volume de reserva inspiratório (Volume que se inspira além do volume corrente, numa inspiração forçada) 
o Capacidade inspiratória (Soma do volume corrente com o volume de reserva inspiratório) 
o Volume de reserva expiratório (Volume que se expira além do volume corrente, numa expiração forçada) 
o Capacidade vital (Soma dos volumes de inspiração forçada e de expiração forçada) 
o Volume residual (Parte de ar que fica no pulmão e não sai mesmo com a expiração forçada) 
o Capacidade residual funcional (Soma do volume inspiratório forçado com o volume residual) 
o Capacidade pulmonar total (Soma da capacidade vital com o volume residual) 
 
• Por que avaliar a função pulmonar? 
o Diagnóstico diferencial em pacientes com tosse crônica → A maior parte das tosses crônicas vão mostrar algum 
padrão obstrutivo na espirometria 
o Avaliação de gravidade e resposta broncodilatadora em asmáticos 
o Diagnóstico diferencial de dispneia 
o Avaliação em doenças ocupacionais (Ex.: Pneumoconioses e asma ocupacional) 
o Avaliação no diagnóstico e seguimento de pacientes com doenças intersticiais e DPOC 
PROFA. JESSICA POLESE 
 
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o Avaliação pré-operatória / Risco cirúrgico pulmonar 
o Perícia médica → Avaliação de incapacidade (Condição de trabalhar e exercer atividades do dia a dia) 
ESPIROMETRIA 
• Por que realizar uma espirometria? 
o Mede a obstrução aérea para ajudar a fazer o diagnóstico definitivo da DPOC 
o Confirma a presença de obstrução das vias aéreas 
o Avalia a gravidade da obstrução das vias aéreas na DPOC 
o Detecta obstrução das vias aéreas nos fumantes que possam não ter ou tenham poucos sintomas 
o Monitora a progressão da doença na DPOC 
o Avalia um aspecto da resposta à terapêutica 
o Avalia prognóstico (pelo VEF1, medida de fluxo da espirometria) na DPOC → Infere como será a evolução 
daquele paciente, inclusive seu risco cardiovascular 
o Avaliação pré-operatória → Principalmente cirurgia de cabeça/pescoço e cirurgia abdominal alta 
• Indicações para espirometria: 
o Diagnosticar 
o Monitorizar 
o Avaliação do grau de disfunção 
o Outros 
• Diretrizes: 
o SBPT, Diretrizes para Função Pulmonar. J Pneumol 2002 
o ATS/ERS: Standartisation of Lung Function. Eur Respir J 2005, 26 (1, 2, 3, 4, 5) 
• Procedimento: 
o Exame que demanda muito esforço do paciente e de 
quem está aplicando 
o Existem critérios técnicos para o exame ser aceito → A 
pessoa que recebe o exame precisa estar segura de que 
a parte técnica foi concluída com êxito, que o exame está 
tecnicamente bom (Uma espirometria malfeita vai 
acabar mostrando coisas que não existem) 
o Basicamente tem um espirômetro conectado a um pneumotacógrafo, que mede o ar 
que entra e sai pela boca 
o Paciente sentado e conectado a um computador que faz a leitura dos dados do exame 
• Curvas fluxo-volume e volume-tempo: 
o Na espirometria nós vemos fluxo, enquanto na pletismografia vemos basicamente volume 
o Na espirometria, precisamos do fluxo do primeiro segundo de sopro, é nesse momento que a gente vê o fluxo 
expiratório forçado do primeiro segundo, isso é o que define os casos obstrutivos 
 
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o A manobra é mandar o paciente encher o 
peito de ar e soprar com toda força e 
continuar soprando ao máximo (Para 
medir o volume expiratório forçado de 
primeiro segundo) 
▪ Esse sopro de primeiro segundo tem 
que ser explosivo, o paciente tem que 
jogar toda a sua capacidade vital 
nesse primeiro segundo 
▪ O exame tem que ser bem-feito, deve ser feito um pico de 
volume nesse primeiro segundo 
o Na curva volume-tempo vemos que o volume aumenta muito 
pouco depois do primeiro segundo, porque a maior parte do 
volume já foi expirado e depois se mantém mais ou menos 
constante 
o A manobra completa é pedir para o paciente encher o peito de 
ar, soprar com força e continuar soprando mais até não 
aguentar mais, nesse momento pede novamente para o 
paciente encher o peito de uma vez 
▪ O profissional que está guiando o exame deve narrar esses 
passos para o paciente de forma incisiva e com tom de voz 
alto, para que seja realizado com êxito 
o Muitas vezes o exame dá errado e não sai as curvas bonitinhas, 
tendo que repetir o exame 
▪ É possível repetir até umas 8 vezes, depois disso é melhor 
interromper e tentar outro dia, porque aí já entra o efeito 
do cansaço (observa-se a curva diminuindo por isso) 
o Além do fluxo no primeiros segundo, existem os fluxos terminais (FEF75, FEF50, FEF25), que são os fluxos em 
certa porcentagem da curva (Ex.: FEF75 = 75% da curva) 
▪ Nos últimos anos esses fluxos têm voltado a ter maior importância 
▪ Esse fluxo diz respeito ao que está acontecendo nas pequenas vias aéreas 
• Critérios para aceitação de curvas: 
o Pelo menos 3 testes aceitáveis (3 curvas parecidas) 
▪ Aceitável → Valor entre elas não pode ser diferente > 10% 
o Inspiração máxima antes do início do teste 
o Expiração sem hesitação e com esforço máximo 
o Volume retroextrapolado < 5% da CVF ou 150 ml 
o Diferença entre os 3 maiores valores do Pico de Fluxo 
Expiratório (PFE) < 0,5 L/seg. ou 10% (o que for maior) 
o Duração satisfatória do teste (tempo expiratório de pelo menos 3 segundos em crianças < 10 anos e plateau 
de pelo menos 1 segundo de duração na curva volume-tempo) 
 
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▪ O tempo ideal de expiração é de 6 segundos, mas aceitamos 3 segundos em pacientes com restrição 
o Ausência de artefatos 
o Aceitabilidade da curva → Tem a ver com o formato da curva (que deve seguir o padrão mostrado acima) 
o Reprodutibilidade da curva → Quando os valores de diferentes curvas feitas diferem pouco um do outro 
• Determinação dos valores de referência (Valores teóricos ou previstos): 
o Os valores de referência teóricos são padrões que já foram definidos para cada população 
o São os valores de parâmetros de normalidade dependendo de características do paciente (Idade, peso e altura) 
o Cada local/país tem um parâmetro diferente 
o Quando for fazer a espirometria, deve-se selecionar qual será o parâmetro teórico normal 
o Os valores da melhor curva aparecerão ao lado do valor de referência teórico, junto de quanto o valor real é 
em percentual do teórico 
o Normalmente na espirometria tem as curvas pré-broncodilatador e pós-broncodilatador, para ver se esse 
exame tem resposta broncodilatadora 
▪ Depois das 3 curvas aceitáveis e reprodutíveis, administra-se o broncodilatador, normalmente 400 µg de 
salbutamol, espera-se 10 a 20 minutos e repete todo o exame 
 
PADRÕES DAS CURVAS EM DIFERENTES DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS 
• Tipos de curva: 
o Em pacientes com obstrução ao fluxo aéreo, a curva será menor e com uma concavidade na descida 
o A curva normal tem um formato mais triangular 
o Nos casos de fibrose pulmonar, a curva também é bem triangular como a normal, mas bem menor 
• Paciente normal X Paciente obstrutivo(DPOC): 
o O paciente normal vai soprar com força e vai continuar soprando bem, chegando a uma alta CVF 
 
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▪ No paciente normal, tentamos chegar até os 6 segundos expirando, mas em geral o aparelho nota antes 
que não está aumentando mais o volume e manda interromper a manobra (em jovens 3s é suficiente) 
o No paciente com DPOC, o VEF1 está reduzido e depois disso o volume segue aumentando até alguns segundos, 
porque como é um paciente obstrutivo demora mais tempo para expirar 
▪ É necessário manter o paciente expirando até onde aguentar e não interromper antes (porque o volume 
segue aumentando) 
▪ É o VEF1 e suas relações que estarão alterados nas doenças obstrutivas (VEF1 reduzido, CVF talvez um pouco 
reduzida e relação VEF1/CVF reduzida) 
▪ Algumas vezes, nas doenças obstrutivas, há uma alteração de CVF, mas o VEF1 segue normal 
 
• Paciente asmático: 
o O VEF1 de paciente asmático é bem baixo, quase 
não se tem volume no primeiro segundo, mas 
ele continua soprando/expirando depois, 
formando uma curva diferente 
▪ Isso pode aparecer também em caso de 
comando errado na hora de guiar o exame 
o O paciente asmático atinge a capacidade vital 
bem depois que o normal, por isso tem que dar 
mais tempo de sopro para o paciente obstrutivo 
o A diferença para DPOC é que nas asma há resposta broncodilatadora, mas na DPOC não 
▪ O tempo expiratório na DPOC também é maior e mais evidente que no paciente asmático 
• Padrões anormais: 
o Obstrutiva (Ascensão lenta, volume expirado reduzido; tempo prolongado para expiração total) 
▪ Pode ser que se atinja uma CVF normal, porém com mais tempo de expiração (VEF1 reduzido) 
o Restritiva (Ascensão rápida para platô com volume máximo reduzido) 
▪ O VEF1 normalmente está reduzido por causa da CVF reduzida, mas a proporção VEF1/CVF não está alterada 
o Mista (Ascensão lenta com volume máximo reduzido; medida de volumes estáticos pulmonares e PFP completa 
para confirmar) 
 
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• Exemplo de curvas: 
 
• Distúrbio ventilatório restritivo (DVR): 
o CVF reduzida (< 80%) 
o Relação VEF1/CVF normal (≥ 80%) 
▪ Porque o VEF1, como parte da CVF, estará reduzido, mas 
proporcionalmente à redução de CVF 
o CVF de 60 a 79% considera-se quadro leve; de 51 a 59%, 
moderado; menor ou igual a 50%, grave 
• Distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO): 
o Redução desproporcional dos fluxos máximos com respeito ao volume máximo expirado 
o VEF1 e/ou VEF1/CVF reduzidos 
 
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o Quando FEF 25-75% está isoladamente anormal, podemos considerar um DVO leve (relacionado aos fluxos 
terminais) 
 
 
PROVA BRONCODILATORA 
• Técnica de execução: 
o Depois de feitas as 3 curvas, é aplicado o broncodilatador para ver se há resposta ou não 
o Salbutamol 400mcg inalado 
• Interpretação: 
o Diretrizes ATS/ERS → Variação significativa quando variação do VEF1 e/ou da CVF no pós-teste for ≥ 12% e 200 
ml em relação ao valor inicial (O VEF1 melhora com o broncodilatador) 
▪ Considera-se também significativa variação > 7% em relação ao valor previsto (Sociedade Brasileira aceita) 
o Na asma, há uma obstrução, mas com broncodilatador há uma variação considerada significativa 
• Pico do fluxo expiratório ou peak flow: 
o O aparelho pega o ponto maior da 
curva expiratória 
o Esse exame é importante para 
monitorizar os pacientes que estão 
graves 
▪ Os próprios pacientes têm o 
aparelho em casa e medem no dia a 
dia, documentando quando esse 
pico de fluxo expiratório está 
diminuindo, que significa o início de uma crise a necessidade de procurar o médico 
DVR | DVO 
 
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PLETISMOGRAFIA 
É um exame que vê volume pulmonar, bem mais complexo que a espirometria. 
 
• Equipamento de pletismografia: 
o O equipamento possui um obturador que vai na boca do paciente 
o Serve para medir os volumes pulmonares, fazendo com que chegamos no volume residual e na capacidade 
pulmonar total (capacidade vital + volume residual), que são dados muito importantes 
▪ O volume residual não é calculado diretamente e sim inferido utilizando os valores de CRF e VRE 
o Mede também a difusão de monóxido de carbono do paciente. Nesse exame conseguimos avaliar a membrana 
de troca, para avaliar como está a troca entre o alvéolo e o sangue 
o É uma caixa fechada, então dá para medir a mudança de volume da caixa torácica 
▪ O equipamento consegue fazer uma conta e, a partir da distensão da parede torácica e da pressão que o 
paciente está fazendo contra o obturador nesse local fechado, medir a capacidade pulmonar total 
o De quebra é feita a espirometria também nesse equipamento (Mas abre a porta da cabine) 
▪ Para doenças obstrutivas tem que ser espirometria, a pletismografia sozinha não serve nesse caso 
• Técnica de medida da CPT pela técnica de diluição: 
o Dilui-se um gás dentro do pulmão para medir essa capacidade pulmonar total 
o Está caindo em desuso 
• Técnica de difusão: 
o Há uma mistura de gases, que entra em equilíbrio com o ar da cabine e do pulmão do indivíduo 
o Na hora que sai o gás, mede-se o quanto de monóxido de carbono entrou e quanto saiu, daí é possível medir 
o quanto foi difundido (Sendo possível dizer se a membrana alveolar está acometida ou não) 
TESTE DE ESFORÇO CARDIOPULMONAR 
Teste pouco usado na prática clínica da pneumologia. 
• Indicações: 
o Investigação etiológica de intolerância ao esforço / dispneia de causa indeterminada 
o Dispneia de causa indeterminada após avaliação inicial não conclusiva 
 
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o Diagnóstico diferencial de intolerância ao esforço em pacientes com múltiplas causas possíveis 
• Útil para: 
o Diferenciar dispneia de origem primária cardiocirculatória de etiologia pulmonar ventilatória e de troca gasosa 
o Quantificar a importância relativa dos diferentes mecanismos em pacientes com várias causas potenciais de 
intolerância ao esforço 
o Identificar componente circulatório insuspeito ou subestimado 
o Apontar componente psicogênico ou comportamental na gênese de dispneia 
TESTE DE CAMINHADA DE 6 MINUTOS 
• O teste: 
o Bem simples, pode ser feito em qualquer lugar 
o Às vezes é substituído por teste do degrau, onde o paciente é orientado a subir e descer escada por 1 minuto 
(pode ser a própria escadinha do consultório, para não exigir espaço) 
o No teste original da caminhada, coloca-se um oxímetro no dedo do paciente e o orienta a caminhar num 
corredor plano de no mínimo 30 metros 
▪ O paciente deve caminhar na velocidade dele tentando não parar por 6 minutos 
▪ Caso o paciente pare, deve-se manter o cronômetro funcionando, porque o valor medido é a distância 
caminhada, que será menor no caso de paradas 
o No teste de caminhada avaliamos a queda na saturação (dessaturação = queda ≥ 3%) 
▪ Se houver essa queda, deve haver algum problema de troca gasosa nesse paciente 
o Avaliamos também a distância caminhada 
o É importante levar em consideração a vontade do paciente na hora do exame, a quantidade de estímulo do 
examinador etc. Todos esses detalhes alteram no êxito do exame 
o A partir do teste de caminhada, conseguimos avaliar a capacidade do paciente a realizar as tarefas do dia a dia 
▪ Paciente que anda < 400m tem algum grau de limitação às atividades normais do dia a dia (Ex.: tomar banho) 
o É possível avaliar intervenções (Ex.: Mudança de medicação → Aumento da distância andada) 
o Comportamento da SpO2 com boa correlação com a difusão pulmonar 
▪ Em algumas situações, a caminhada é considerada até melhor 
 
• Escala de Borg: 
o Usada para definir qual o grau de desconforto do paciente 
 
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o Observa-se a nota que o paciente atribui à falta de ar antes e depois do teste da caminhada 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os pacientes obstrutivos a gente define com espirometria, não se faz diagnóstico de obstrução na pletismografia. 
Também não é possível fazer diagnóstico definitivo de restrição na espirometria, ela pode só inferir a restrição, que é 
definida pela capacidade pulmonar total, que é vista na pletismografia. 
Pacientes com ocupação dos espaços aéreos (Ex.: Pneumonia) têm uma complacência diminuída, então uma 
capacidade de distensão menor, logo uma capacidade pulmonar total diminuída. Tudo que ocupar espaço, lesar 
membrana de troca etc. gera uma CPT reduzida.

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