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Morte e Luto - Psicologia e Medicina

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Estudo do desenvolvimento psíquico e das relações humanas 
Caso 4: Só o Tempo para curar a Saudade .
Definição do Problema: Diferentes reações diante da morte iminente de um familiar terminal e da própria morte.
Objetivos de Aprendizagem:
1. Definir luto, diferenciando o normal e o patológico e suas fases.
2. Diferenciar luto de melancolia, compreendendo suas peculiaridades
3. Compreender o papel do médico e do estudante diante o luto (não somente após a morte), relacionando com as diferentes reações possíveis.
4. Diferenciar perda e separação, conceituando seus aspectos.
MORTE E LUTO
Definições
- Morte e morrer: morte pode ser considerada a cessação absoluta das funções vitais, morrer é o processo de perder essas funções. Morrer também pode ser visto como um concomitante desenvolvimental de viver, uma parte do continuum do nascimento até a morte. Viver pode envolver inúmeras minimortes.
Estágios da morte e do morrer 
Um paciente que está morrendo raramente apresenta uma série regular de respostas que possam ser identificadas com clareza; não há uma sequência estabelecida que seja aplicável a todas as pessoas. No entanto, os cinco estágios a seguir propostos por Kübbler-Ross são amplamente encontrados.
→ Estágio 1 - Choque e Negação: Quando descobrem que estão morrendo, as pessoas inicialmente reagem com choque. Primeiro ficam aturdidas, e depois se recusam a acreditar no diagnóstico; podendo negar que alguma coisa esteja errada. Alguns indivíduos nunca vão além deste estágio, e podem percorrer vários médicos até encontrar um que apoie sua posição. O grau em que a negação é adaptativa ou mal-adaptativa parece depender de o paciente continuar a se tratar mesmo enquanto está negando o prognóstico. Em tais casos, os médicos devem fornecer aos pacientes e suas famílias, com respeito e diretamente, informações básicas sobre a doença, seu prognóstico e as opções de tratamento. Para uma comunicação efetiva, os médicos devem permitir respostas emocionais dos pacientes e assegurá-los de que não serão abandonados.
→ Estágio 2 - Raiva: As pessoas ficam frustradas, irritadas e com raiva por estarem doentes. Elas comumente perguntam: “Por que eu?”. Podem ficar zangadas com Deus, com seu destino, um amigo ou um membro da família; podem até mesmo se culpar ou deslocar sua raiva culpando os membros da equipe do hospital e o médico. Os pacientes nesse estágio são difíceis de tratar. Os médicos que têm dificuldade em compreender que a raiva é uma reação previsível e representa um deslocamento podem se afastar dos pacientes ou transferi-los para os cuidados de outro profissional. Os médicos que estão tratando pacientes enraivecidos precisam se dar conta de que a raiva que está sendo expressa não pode ser tomada como pessoal. Uma resposta empática e não defensiva pode ajudar a acalmar a raiva do paciente e auxiliá-lo a focar em seus sentimentos profundos subjacentes à raiva (p. ex., pesar, medo, solidão). Os médicos também devem reconhecer que a raiva pode representar o desejo do paciente de controlar uma situação na qual ele se sente completamente sem controle.
→ Estágio 3 - Barganha: Os pacientes podem tentar negociar com médicos, amigos ou até mesmo com Deus; em troca da cura, prometem cumprir uma ou muitas promessas, como doar para a caridade e frequentar a igreja regularmente. Alguns acreditam que, se forem bons (cordatos, não questionadores, animados), o médico os fará melhorar. O tratamento desses pacientes envolve deixar claro que serão tratados da melhor maneira possível ao alcance das habilidades do médico, e que tudo o que puder ser feito será feito, independentemente de qualquer ação ou comportamento. O paciente também precisa ser encorajado a participar como parceiro em seu tratamento e a entender que ser um bom paciente significa ser o mais honesto e direto possível.
→ Estágio 4 - Depressão: Nesse estágio, os pacientes apresentam os sinais clássicos de depressão – retraimento, retardo psicomotor, distúrbios do sono, falta de esperança e, possivelmente, ideação suicida. A depressão pode ser uma reação aos efeitos da doença em suas vidas (p. ex., perda do emprego, dificuldades econômicas, desamparo, desesperança e isolamento dos amigos e da família) ou pode ser uma antecipação da perda da vida que acabará ocorrendo. Um transtorno depressivo maior com sinais vegetativos e ideação suicida pode requerer tratamento com medicação antidepressiva ou eletroconvulsoterapia (ECT). Todas as pessoas sentem alguma tristeza diante da perspectiva da própria morte, mas tristeza normal não requer intervenção biológica. Já o transtorno depressivo maior e a ideação suicida ativa podem ser aliviados e não devem ser aceitos como reações normais à morte iminente. Uma pessoa que sofre de transtorno depressivo maior pode não conseguir manter a esperança, que é capaz de melhorar a dignidade e a qualidade de vida e até mesmo prolongar a longevidade. Estudos mostraram que alguns pacientes terminais conseguem retardar a morte até depois de um evento significativo de uma pessoa querida, como a formatura de um neto na universidade.
→ Estágio 5 - Aceitação: No estágio de aceitação, os pacientes percebem que a morte é inevitável e aceitam a universalidade da experiência. Seus sentimentos podem oscilar desde um humor neutro até eufórico. Em circunstâncias ideais, resolvem seus sentimentos sobre a inevitabilidade da morte e conseguem falar sobre o enfrentamento do desconhecido. Aqueles com fortes crenças religiosas e uma convicção sobre vida após a morte encontram conforto na máxima eclesiástica: “Não tema a morte; lembre-se daqueles que se foram antes de você e daqueles que irão depois de você”. 
Considerações no ciclo vital sobre a morte e o morrer 
A diversidade clínica de atitudes e comportamentos relacionados à morte entre crianças e adultos tem suas raízes em fatores do desenvolvimento e diferenças associadas à idade nas causas de morte. Por exemplo, 75% das crianças que morrem no fim da adolescência e início da idade adulta, morrem por acidentes, homicídios e suicídios. Com suas características de violência, caráter repentino e mutilação, essas causas de morte não naturais são estressores especiais para o luto dos sobreviventes. Pais e irmãos em luto de crianças e adolescentes mortos frequentemente se sentem vitimizados e traumatizados por suas perdas; suas reações de pesar se parecem com o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Podem ocorrer perturbações devastadoras na família, e os irmãos sobreviventes correm o risco de ter suas necessidades emocionais colocadas em segundo plano, ignoradas ou completamente despercebidas.
→ Crianças: embora as crianças compartilhem medos, ansiedades, crenças e comportamentos sobre morrer com adolescentes, adultos e idosos, algumas de suas interpretações e reações são específicas da idade. Nenhuma criança recebe a morte sem ambivalência, e todas tentam temperar sua aceitação com doses sadias de negação e esquiva. Crianças terminais com frequência têm consciência de sua condição e querem discuti-la. Elas em geral têm uma visão mais sofisticada sobre morrer do que seus pares que estão clinicamente bem. Na fase da educação infantil, no estágio pré-operativo do desenvolvimento cognitivo, a morte é vista como uma ausência temporária, incompleta e reversível, como uma partida ou sono. A separação do(s) cuidador(es) primário(s) é o medo principal das crianças em idade pré-escolar. Esse medo vem à tona como um aumento nos pesadelos, um brincar mais agressivo ou a preocupação com a morte de outras pessoas, em vez de um discurso direto. Crianças em estágio terminal podem assumir a responsabilidade por sua morte, sentindo-se culpadas por morrerem. Crianças em idade pré-escolar podem não conseguir relacionar o tratamento à doença; em vez disso, o veem como punição, e as separações da família como rejeição. Elas precisam ser asseguradas de que são amadas, não fizeram nada errado, não são responsáveis por sua doença e não serão abandonadas. Crianças em idade escolar manifestam pensamento concreto-operativo e reconhecem a morte como uma realidade final. No entanto, a encaram como algo que acontece a pessoas idosas, não a elas. Entre 6 e 12 anos, as crianças têm fantasias ativas de violência e agressão, frequentemente dominadas por temas de morte e matar. Crianças em idade escolar fazem perguntas sobre doenças sérias e morte se encorajadas a fazê-lo; contudo, se recebem sinais de que o assunto é tabu, elas podem se retirar e participar de forma menos integral.
→ Adolescentes: Sendo capazes de operações cognitivas formais, os adolescentes compreendem que a morte é inevitável e final, porém podem não aceitar que sua própria morte seja possível. Os grandes temores dos adolescentes que estão morrendo são semelhantes aos de todos os adolescentes – perda do controle, ser imperfeito e ser diferente. As preocupações com a imagem corporal, a perda do cabelo ou do controle de seu corpo podem gerar grande resistência à continuidade do tratamento. Emoções alternantes de desespero, raiva, pesar, amargura, insensibilidade, terror e alegria são comuns. O potencial para afastamento e isolamento é grande, porque eles podem equiparar o apoio parental à perda da independência ou negar seus sentimentos de abandono repelindo gestos de amizade. Os adolescentes devem ser incluídos em todos os processos de tomada de decisão que envolvem sua morte. Muitos são capazes de grande coragem, elegância e dignidade ao se defrontarem com a morte.
→ Adultos: Alguns medos dos adultos que entram em cuidados paliativos são: (1) separação das pessoas amadas, da casa e do trabalho; (2) transformar-se em um peso para os outros; (3) perder o controle; (4) o futuro dos dependentes; (5) dor ou outros sintomas de agravamento; (6) ser incapaz de concluir tarefas ou responsabilidades; (7) morrer; (8) estar morto; (9) os medos dos outros (medos refletidos); (10) o destino do corpo; e (11) a vida após a morte. Da apreensão surgem problemas na comunicação, tornando importante que aqueles envolvidos nos cuidados de saúde proporcionem um ambiente de confiança e segurança no qual seja possível falar sobre as incertezas, ansiedades e preocupações. Adultos em idade avançada em geral aceitam que seu tempo acabou. Seus medos principais incluem uma morte prolongada, dolorosa e desfigurante, um estado vegetativo prolongado, isolamento e perda do controle ou da dignidade. Pacientes idosos podem falar ou brincar abertamente sobre morte e, às vezes, a recebem bem. 
Perda, Luto e Pesar 
São termos que se aplicam às reações psicológicas daqueles que sobrevivem a uma perda significativa. 
Luto é o sentimento subjetivo precipitado pela morte de uma pessoa amada. O termo é usado como sinônimo de pesar, embora, no sentido estrito, pesar seja o processo pelo qual o luto é resolvido; ele é a expressão social do comportamento e de práticas pós- perda. Perda literalmente significa o estado de estar privado de alguém por morte e se refere a estar no estado de pesar. 
Reações normais a perda 
A primeira resposta à perda, o protesto, é seguida por um período mais longo de comportamento de busca. À medida que a esperança de restabelecer o laço de apego diminui, os comportamentos de busca dão espaço à desesperança antes que os indivíduos enlutados acabem se reorganizando em torno do reconhecimento de que a pessoa perdida não vai voltar. Embora acabe aprendendo a aceitar a realidade da morte, o enlutado também encontra formas psicológicas e simbólicas de manter muito viva a lembrança da pessoa falecida. O trabalho de luto possibilita que o sobrevivente redefina sua relação com a pessoa morta e forme novos laços duradouros.
→ Duração do luto: A maioria das sociedades dita os modos e o tempo para o luto. Amplas evidências indicam que o processo de perda não se encerra em um intervalo prescrito; determinados fatores persistem indefinidamente para muitos indivíduos. A manifestação mais prolongada de luto, sobretudo depois da perda conjugal, é a solidão. Frequentemente presente por anos após a morte do cônjuge, a solidão pode, para alguns, ser um lembrete diário da perda. Outras manifestações comuns de luto prolongado ocorrem de modo intermitente. Por exemplo, um homem que perdeu sua esposa pode experimentar aspectos de luto agudo toda vez que ouvir o nome dela ou ver sua foto sobre a mesa de cabeceira. Em geral, essas reações vão se tornando cada vez menos prolongadas com o passar do tempo, dissipando-se em alguns minutos, e vão recebendo nuances de afetos positivos e prazerosos. Essas lembranças, ao mesmo tempo doces e amargas, podem durar por toda a vida. Dessa forma, boa parte do luto não se resolve completamente ou desaparece de forma permanente; em vez disso, ele fica circunscrito e submerso, emergindo apenas em resposta a certos ativadores.
Luto antecipatório
Reações de luto são provocadas pelo lento processo de morte de uma pessoa amada devido a ferimentos, doença ou atividade de alto risco. Ainda que a antecipação possa suavizar o impacto da morte eventual, também pode levar a separação e afastamento prematuros, embora não necessariamente atenuando a perda posterior. Às vezes, a intensificação da intimidade durante esse período pode aumentar o sentimento pela perda real, mesmo que prepare o sobrevivente em outros aspectos. 
→ Reação de aniversário: Quando o desencadeante de uma reação aguda de luto é uma ocasião especial, como um feriado ou aniversário, o luto reavivado é denominado reação de aniversário. Não é incomum que ocorram reações de aniversário todos os anos no mesmo dia em que a pessoa morreu ou, em alguns casos, quando o indivíduo enlutado completa a mesma idade que a pessoa falecida tinha quando morreu. Embora tendam a ser relativamente leves e breves com o passar do tempo, essas reações podem ser experimentadas como uma revivência do luto original e perduram por horas ou dias.
Pesar 
Cada cultura registra suas próprias crenças, costumes e comportamentos relacionados à perda. O funeral e o serviço funerário reconhecem a natureza real e final da morte, contrariando a negação; também angariam apoio para o enlutado, encorajando o tributo ao morto, unindo a família e facilitando as expressões de pesar da comunidade. Visitas, orações e outras cerimônias possibilitam o apoio contínuo, a aceitação da realidade, a recordação, a expressão emocional e o encerramento de assuntos inacabados com o morto. Diversos rituais culturais e religiosos conferem um propósito e significado, protegem os sobreviventes do isolamento e da vulnerabilidade e estabelecem limites para o processo de luto. 
Perda
Como a perda costuma evocar sintomas depressivos, poderá ser necessário diferenciar reações normais de luto de um transtorno depressivo maior.
Perda complicada 
→ Luto crônico: é o tipo mais comum, com frequência acentuado por amargura e idealização da pessoa morta. É mais provável que ele ocorra quando a relação entre o enlutado e o morto foi extremamente próxima, ambivalente ou dependente, ou quando faltam apoios sociais e os amigos e parentes não estão disponíveis para compartilhar o pesar pelo período de tempo prolongado necessário para a maioria dos enlutados
→ Luto hipertrófico: maior frequência depois de uma morte repentina e inesperada, as reações de perda são extraordinariamente intensas no luto hipertrófico. As estratégias de enfrentamento costumeiras não são eficazes para atenuar a ansiedade, e o retraimento é frequente. Quando um membro da família está com essa reação, pode ocorrer perturbação na estabilidade familiar. Com frequência esse luto tem um curso demorado, embora seja atenuado com o passar do tempo. 
→ Luto tardio: luto ausente ou inibido quando normalmente é esperado encontrar sinais e sintomas explícitos de pesar agudo. Esse padrão é marcado pela negação prolongada; a raiva e a culpa podem complicar seu curso.
*Perda traumática - refere-se ao luto que é tanto crônico quanto hipertrófico. Caracteriza-se por aflição intensa e recorrente de luto com anseio persistente, lamento, saudades e imagens intrusivas recorrentes do falecido; e uma misturasofrida de esquiva e preocupação com lembranças da perda. As lembranças positivas são com frequência bloqueadas ou excessivamente tristes, ou são experimentadas em estados prolongados de devaneio que interferem nas atividades diárias. Uma história de doença psiquiátrica parece ser comum nesta condição, bem como uma relação muito próxima, de definição de identidade, com o falecido.
*Doenças clínicas ou psiquiátricas associadas à perda: As complicações clínicas incluem a exacerbação de problemas existentes e a vulnerabilidade a novas doenças; temor pela própria saúde e mais idas ao médico; e uma taxa de mortalidade aumentada, especialmente em homens. O risco relativo de mortalidade mais elevada é encontrado logo após a perda, em particular devido a doença cardíaca isquêmica. As complicações psiquiátricas da perda incluem um risco aumentado de transtorno depressivo maior, ansiedade prolongada, pânico e síndrome semelhante ao estresse pós-traumático; aumento no consumo de álcool, drogas e cigarro (exacerbação de comportamentos que comprometem a saúde); e um risco aumentado de suicídio. Devido a sua imaturidade psicossocial, emocional e cognitiva, crianças enlutadas podem ser vulneráveis a psicopatologia.
*Perda e depressão: Embora os sintomas se sobreponham, o luto pode ser distinguido de um episódio depressivo completo. A maioria dos indivíduos enlutados experimenta tristeza intensa, mas apenas alguns satisfazem os critérios do DSM-5 para episódio depressivo maior. O luto é uma experiência complexa na qual as emoções positivas assumem seu lugar ao lado das negativas. O luto é fluido e variado, um estado em desenvolvimento no qual a intensidade emocional gradualmente diminui e aspectos positivos e confortantes da relação perdida passam para primeiro plano. A dor do luto está associada a estímulos relacionados a lembranças internas e externas da pessoa morta. Isso difere da depressão, que é mais generalizada e caracterizada por muita dificuldade em experimentar sentimentos positivos de autovalidação. O luto é um estado flutuante, com variabilidade individual, no qual são feitos ajustes cognitivos e comportamentais de maneira progressiva até que o indivíduo enlutado consiga manter o falecido em um lugar confortável na memória e que uma vida satisfatória possa ser retomada. Por sua vez, o episódio depressivo maior consiste em um grupo reconhecível e estável de sintomas debilitantes acompanhados de um humor deprimido moroso e prolongado. O episódio depressivo maior tende a ser persistente e está associado a funcionamento laboral e social deficiente, função psiconeuroimunológica patológica e outras alterações, a menos que seja tratado.
*Perda e Transtorno de estresse pós- traumático: Mortes não naturais e violentas, como homicídio, suicídio ou morte no contexto de terrorismo, têm muito mais probabilidade de precipitar TEPT nos entes queridos sobreviventes do que as mortes naturais. Em tais circunstâncias, os temas de violência, vitimização e volição (isto é, a opção pela morte sobrepujando a vida, como no caso de suicídio) são interligados a outros aspectos do luto, resultando em sofrimento traumático marcado por medo, horror, vulnerabilidade e desintegração dos supostos cognitivos. Descrença, desespero, sintomas de ansiedade, preocupação com o falecido e com as circunstâncias da morte, retraimento, hiperexcitação e disforia são mais intensos e prolongados do que em outras circunstâncias não traumáticas, e pode existir um risco aumentado para outras complicações.
Perspectivas biológicas 
O luto é uma resposta fisiológica e emocional. Durante o luto agudo, as pessoas podem experimentar uma perturbação dos ritmos biológicos. O luto também é acompanhado por deficiência no funcionamento imunológico, incluindo uma redução na proliferação dos linfócitos e funcionamento prejudicado das células matadoras naturais. 
→ Fenomenologia do luto: As reações à perda incluem estados intensos dos sentimentos, invocam uma variedade de estratégias de enfrentamento e levam a alterações nas relações interpessoais, no funcionamento biopsicossocial, na autoestima e na visão do mundo, podendo durar indefinidamente. As manifestações de luto refletem a personalidade do indivíduo, suas experiências prévias na vida e história psicológica passada, o significado da perda, a natureza da relação da pessoa enlutada com o falecido, a rede social existente, os eventos vitais intercorrentes, a saúde e outros recursos. Apesar das variações individuais no processo de perda, pesquisadores propuseram modelos para o processo de luto, os quais incluem pelo menos três fases ou estados sobrepostos: (1) choque, incredulidade e negação iniciais; (2) um período intermediário de desconforto agudo e afastamento social; e (3) um período culminante de restituição e reorganização. Assim como nos estágios da morte de Kübler-Ross, os estágios do luto não prescrevem um curso correto; em vez disso, são apenas linhas gerais que descrevem um processo fluido e de sobreposição que varia entre os sobreviventes.
Perspectiva sobre a perda de acordo com o ciclo vital
→ Perda durante a infância e adolescência 
As reações ao luto são coloridas pelos níveis do desenvolvimento e conceitos de morte. As crianças podem exibir um luto mínimo no momento da morte e experimentar o efeito integral da perda posteriormente. Crianças em processo de luto podem não se retrair nem se deter no falecido, mas, em vez disso, se lançar em atividades. Indiferença, raiva ou má conduta podem ser exibidas em vez de tristeza; os comportamentos podem ser erráticos e lábeis. No comportamento de crianças em processo de luto podem aparecer fortes sentimentos de raiva e medo de abandono ou de morte. As crianças costumam fazer brincadeiras relacionadas com morte como uma forma de elaborar seus sentimentos e ansiedades. Embora suas demonstrações de luto possam parecer apenas ocasionais e breves, o luto de uma criança frequentemente dura mais do que o de um adulto. O luto em crianças pode precisar de abordagens repetidas à medida que elas vão crescendo. As crianças pensarão muitas vezes sobre a perda, em especial durante momentos importantes de suas vidas, formar-se na escola, casar-se ou dar à luz os próprios filhos. O luto de uma criança pode ser influenciado por sua idade, personalidade, pelo estágio do desenvolvimento, por experiências precoces com a morte e pelo relacionamento com o falecido. O ambiente, a causa da morte e a capacidade dos membros da família de se comunicarem entre si e de continuarem unidos depois da morte, a necessidade constante de cuidados, também podem afetar o luto. Mesmo as crianças maiores com frequência se sentem abandonadas ou rejeitadas quando um dos genitores morre e podem demonstrar hostilidade em relação ao que morreu ou ao sobrevivente, agora percebido como aquele que pode vir a “abandoná-la”. Elas podem se sentir responsáveis devido a um mau comportamento anterior ou porque em determinado momento disseram ou desejaram que aquela pessoa morresse. Crianças menores de 2 anos podem apresentar perda da fala ou sofrimento difuso. As com menos de 5 anos podem responder com disfunções alimentares, do sono ou do intestino e da bexiga. Podem ocorrer fortes sentimentos de tristeza, medo e ansiedade, mas eles não são persistentes e tendem a se alternar com estados normais de maior duração. Crianças em idade escolar podem se tornar fóbicas ou hipocondríacas, retraídas ou pseudomaduras, e o rendimento escolar e as relações com os pares frequentemente são abalados. 
Os adolescentes, assim como os adultos, apresentam uma grande variedade na expressão do luto, desde problemas de comportamento, sintomas somáticos e humor errático até estoicismo. Enquanto meninos que perdem um dos genitores podem se tornar delinquentes, meninas podem se voltar para um padrão sexual na busca de conforto e tranquilização. Distúrbios comportamentais e depressão são comuns em todas as idades. As taxas de episódios depressivos em crianças e adolescentes enlutados são tão altas quanto em adultos. As criançasem processo de luto devem ser tratadas com respeito a seus níveis de maturidade emocional e cognitiva. Precisam saber que a morte é real e irreversível e que elas não têm culpa.
→ Perda durante a idade adulta
Não existe consenso sobre qual tipo de perda está associado às reações mais graves. Embora a morte de um cônjuge frequentemente esteja classificada como mais estressante, alguns estudiosos argumentam que perder um filho é ainda mais profundo. O luto parece ser mais intenso para a mãe em perdas perinatais e com frequência é revivido durante gestações posteriores. A síndrome da morte súbita infantil é particularmente problemática uma vez que a morte é repentina e inesperada. Os pais podem sentir culpa extra ou acusar um ao outro, em geral resultando em posteriores dificuldades conjugais. 
Os membros sobreviventes da família, amigos ou parceiros de indivíduos que morreram pela aids são especialmente desafiados. O enfrentamento da realidade emocional é árduo e complexo. Muitas vezes os cuidadores, assim como os pacientes HIV-positivo, desejam a morte, o que pode evocar sentimentos de culpa.
Idosos enfrentam mais perdas do que indivíduos em outras fases do ciclo vital, e a solidão intensa pode ser uma lembrança permanente. Para idosos altamente incapacitados que perderam o cônjuge de quem dependiam para as funções diárias, ou que era sua única fonte de companheirismo, as reações de luto são profundas.
Terapia do luto 
É raro pessoas em luto normal procurarem ajuda psiquiátrica porque aceitam suas reações e seus comportamentos como apropriados. Assim, uma pessoa enlutada não deve ver um psiquiatra ou psicólogo de forma rotineira a não ser que seja observada uma reação à perda acentuadamente divergente. Quando é procurada assistência profissional, ela em geral envolve uma solicitação de medicação para dormir. Um sedativo leve para induzir o sono pode ser útil em algumas situações, mas medicamentos antidepressivos ou agentes ansiolíticos raramente são indicados em luto normal. As pessoas enlutadas têm que passar por um processo de pesar, por mais doloroso que possa ser, para que ocorra uma resolução bem-sucedida. A narcotização dos pacientes interfere no processo normal que, por fim, pode levar a um resultado favorável. Visto que as reações de luto podem se transformar em transtorno depressivo ou luto patológico, sessões específicas de aconselhamento para indivíduos enlutados, individuais ou em grupo, com frequência são valiosas.

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