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Aula 03 Peças Práticas p/ Delegado Polícia Civil-PE (com videoaulas) Professor: Vinicius Silva Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 38 AULA 03: Representação pela interceptação das comunicações telefônicas (Lei 9.296/96). SUMÁRIO PÁGINA 1. Apresentação 1 2. Aspectos teóricos acerca da interceptação telefônica 2 3. Representação por interceptação telefônica 11 4. Modelo Representação por interceptação telefônica 16 5. Questão de prova 22 6. Questões propostas 28 7. Respostas das questões propostas na aula 02 30 1. Apresentação Olá futuro Delegado de Polícia, Estamos evoluindo nos nossos estudos e chegamos a aula 03, onde vamos estudar uma medida cautelar probatória, veja que as duas primeiras aulas foram destinadas a cautelares pessoais, a última aula foi a de busca domiciliar, que é uma medida de natureza cautelar probatória, que visa à busca de elementos de informação para a investigação. Nessa aula vamos verificar outra medida cautelar probatória muito utilizada no dia a dia das delegacias de polícia, onde a investigação muitas vezes não tem outra forma de prosseguir, a não ser que seja por meio de uma interceptação. Você como delegado de polícia deverá ficar muito atento, pois essa medida pode aparecer sozinha numa prova, como foi o caso da prova de Delegado de Polícia de Santa Catarina, em 2014. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 38 Na aula vou expor alguns conceitos teóricos/doutrinários acerca do tema e depois vamos comentar a Lei n° 9.296/96, naquilo que diz respeito à representação pela medida. Mais uma vez essa medida cautelar está imersa em meio a uma garantia constitucional, a da inviolabilidade das comunicações, direito à privacidade de suas comunicações, ou seja, a medida é utilizada para coibir o cometimento de crimes acobertados pelo manto do direito individual à intimidade. A ideia aqui é a mesma da busca domiciliar, ou seja, fazer um juízo de ponderação, pois não é admissível que sob a guarida de um direito, possam ser violados outros, tão essenciais quanto a intimidade e a inviolabilidade das comunicações telefônicas. 2. Aspectos teóricos acerca da interceptação telefônica A primeira coisa que deve ser esclarecida acerca da interceptação é que ela é regulada por uma lei específica, diferentemente da busca e apreensão que está regulada no CPP (art. 240), a interceptação telefônica está regulamentada em uma lei ordinária, trata-se da Lei n°. 9.296/96. A lei supramencionada é reflexo de um mandamento constitucional, ou seja, a própria constituição previu que a regulamentação da interceptação é matéria de lei. Vejamos. XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; Essa é a previsão do art. 5°, XII, da CF/88. Assim, do dispositivo acima, podemos afirmar ao fazer uma primeira leitura, que o sigilo de correspondência, das comunicações telegráficas e de dados são absolutamente invioláveis, sendo relativizada apenas as comunicações telefônicas. A primeira coisa que deve ficar clara aqui é que você está se preparando para uma prova discursiva e nesse sentido, deve se pautar por um aprofundamento em alguns temas e esse é um dos que suscita mais discussão jurisprudencial e doutrinária. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 38 Seguindo uma linha mais voltada para a atividade policial, não apenas as comunicações telefônicas podem ser violadas, mas todos os tipos de comunicação, uma vez que nenhum tipo de comunicação pode ser utilizado para acobertar o cometimento de crimes. Assim, diante de uma prova para delegado de polícia, fundamente a sua resposta, afirmando que não há direito fundamental absoluto, sendo, portanto, relativizados, principalmente quando utilizados no mundo do crime. Assim, a ideia é que não apenas as comunicações telefônicas podem ser interceptadas, mas também as comunicações de dados, e até as correspondências. Basta lembrarmos da lei de execução penal, que prevê a interceptação das cartas enviadas e recebidas por presos. Art. 41 - Constituem direitos do preso: (...) XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. (...) Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. Ou seja, estamos diante de um direito que pode ser relativizado, diante da suspeita fundada de cometimento de crimes. É o que acontece com os criminosos que comandam o tráfico e as organizações criminosas mesmo estando encarcerados. O objetivo é cessar o comando da atividade criminosa. Mas vamos voltar ao nosso assunto que é a interceptação das comunicações telefônicas. O dispositivo constitucional prevê que a violabilidade das comunicações telefônicas é cabível nas hipóteses que a lei prevê, com a finalidade de instruir procedimento de investigação criminal ou processo penal. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 38 Portanto, nos casos de inquérito policial ou qualquer outro instrumento de investigação, é cabível a interceptação, no entanto, apenas nos casos em que a lei prevê a possibilidade. A constituição federal passou a bola para a lei definir em que situações teremos a possibilidade de interceptação telefônica. Então a Lei n°. 9.296/96 veio para definir quais as possibilidades de cabimento e também os requisitos cautelares para o deferimento da interceptação telefônica. A lei então disciplinou a matéria e trouxe inclusive tipificação de crime em caso de interceptação ilegal ou quebra de segredo de justiça. Antes de adentrar na lei, vamos verificar ainda alguns conceitos importantes, que não podem se confundir com o de interceptação telefônica. Professor, e as interceptações que foram efetuadas antes da edição da lei, em 1996? Aderbal, sem entrar em maiores detalhes, prevalece o entendimento de que essas interceptações estão eivadas de vício, uma vez que a não existia lei, conforme a previsão constitucional. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 38 a) interceptação telefônica em sentido estrito Essa é interceptação objeto da nossa aula, ela consiste em uma terceira pessoa interceptar, ou seja, aparecer no meio do caminho da ligação, sem que os interlocutores saibam da existência dessa pessoa e tampouco de que essa comunicação está sendo ouvida e, geralmente, gravada por essa terceira pessoa. b) sigilo telefônico Esse é o primeiro conceito que costumamos confundir com interceptação telefônica. Na verdade a quebra do sigilo telefônico é apenas a publicização para a autoridade pública das ligações efetuadas pelo investigado, com o seu tempo de duração, dia e hora em que foi feita, destinatário da comunicação, etc. Assim, veja que não se confundem esses conceitos. Geralmente no pedido de interceptação,o delegado acaba representando também pela quebra de sigilo de dados telefônicos, de modo a dar mais robustez aos elementos de informação colhidos. c) escuta telefônica Nessa hipótese um terceiro capta a comunicação, assim como ocorre na interceptação, no entanto, um dos interlocutores é sabedor da escuta. É muito comum esse tipo de situação nas comunicações entre os familiares da vítima e os sequestradores dela. d) gravação telefônica ou gravação clandestina Ocorre quando um dos interlocutores grava a conversa sem o conhecimento do outro, por isso ela também é chamada de gravação clandestina. e) comunicação ambiental A comunicação ambiental é aquela que ocorre no meio ambiente, sem a necessidade de um meio tecnológico para que isso aconteça, ou seja, estamos falando de uma conversa falada, sem telefones, ou qualquer outro tipo de intercomunicador. f) interceptação ambiental Entendido do que se trata uma comunicação ambiental, podemos afirmar que a interceptação ambiental ocorre quando um terceiro capta a comunicação de duas pessoas que o desconhecem. Um exemplo que pode ser dado é quando dois traficantes realizam uma comunicação na rua e policiais gravam a cena por meio de uma câmera ou de um microfone. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 38 g) escuta ambiental A escuta ambiental ocorre quando um terceiro efetua a captação de uma conversa entre duas pessoas e uma delas sabe da existência do terceiro e da captação da comunicação. h) gravação ambiental A gravação ambiental é a captação efetuada por um dos comunicadores, sem o conhecimento do outro. Geralmente é levada a efeito com o uso de gravadores minúsculos, que podem ser escondidos até na lapela do paletó. A doutrina majoritária e moderna entende que a Lei n°. 9.296/96 aplica- se a interceptação telefônica e à escuta telefônica, não sendo reguladas pela referida lei as demais espécies acima mencionadas. Outro ponto teórico importante é que a interceptação telefônica é matéria reservada a atividade jurisdicional, ou seja, não pode ser determinada de ofício pelo delegado de polícia, sendo necessária a representação pela medida ao juiz competente para o processo penal. 2.1 Análise da Lei n° 9.296/96 Professor, e se a interceptação for deferida por um juiz de 1° grau e durante as escutas das comunicações a autoridade ficar sabendo do envolvimento de um deputado federal no crime? Excelente pergunta, Aderbal! Nesse caso não haverá problemas e nem vícios na interceptação deferida, sendo plenamente legítima. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 38 Vamos a partir de agora verificar alguns dispositivos interessantes dessa lei que possam nos ser úteis na produção da peça prática. Essa representação é bem simples de se perceber, geralmente ela é cabível quando existe o número da linha telefônica ou do terminal de acesso de algum aparelho, como um smarthphone ou outro dispositivo intercomunicador em que se quer efetuar a interceptação. Portanto, identificar a peça não será uma matéria das mais difíceis, logo se a identificação não é difícil, a feitura da peça será muito simples também. Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Esse dispositivo é bem autoexplicativo, pois nele pode-se observar que a interceptação é possível apenas para prova em investigação criminal e em instrução penal. Fica apenas uma crítica à técnica legislativa, no que diz respeito à palavra “prova”, pois na fase de inquérito ou investigatória, não se colhem provas, mas elementos de informação, isso porque prova deve ser aquela que em sua produção é respeitado o contraditório. No inquérito, em regra, não há essa necessidade, portanto, a melhor expressão seria elementos de informação. Além disso, esse artigo nos traz a reserva de jurisdição a que fica sujeita a medida cautelar probatória em estudo, ou seja, apenas o juiz competente para a ação principal poderá determinar a interceptação. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica- se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. Durante muito tempo esse parágrafo foi alvo de ações de inconstitucionalidade, usando como base o art. 5°, XII, da CF/88, onde se prevê, em uma interpretação mais literal, que apenas as comunicações telefônicas estão sujeitas à interceptação, no entanto, o STF já decidiu pela constitucionalidade do referido dispositivo da lei, ampliando o sentido que o constituinte quis dar ao dispositivo. Assim, não apenas as comunicações telefônicas, mas também as comunicações escritas (e-mail, mensagens de texto, mensagens de 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 38 whatsapp, facebook, etc.) podem ser alvo de interceptações a serem deferidas pelo poder judiciário. Hoje em dia inclusive, em algumas hipóteses, as comunicações escritas são até mais comuns que as comunicações faladas. Por isso a lei teve de prever essa evolução tecnológica para se fazer valer a pena. Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Excelente dispositivo para a nossa aula, estamos diante das hipóteses de cabimento e requisitos cautelares da medida, aquilo que você utiliza para a fundamentação jurídica da sua peça. Mais uma vez a lei não foi muito feliz na sua redação, pois prevê as hipóteses em que não é cabível a interceptação, ou seja, vamos ter de fazer o raciocínio a contrario sensu do dispositivo acima. Ou seja, será cabível a interceptação das comunicações telefônicas quando: I – Houver indícios razoáveis da autoria e participação em infração penal II – A prova não puder ser feita por outros meios III – O fato investigado constituir infração penal punida com reclusão. Veja que nos casos acima teremos a hipótese de cabimento e os requisitos cautelares para a concessão, lembrando que os requisitos acima devem ser cumulativos, ou seja, devemos ter uma infração punível com reclusão, para início de conversa. Caso não seja uma infração dessa natureza, não poderemos vislumbrar a hipótese de interceptação. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 38 Os requisitos cautelares são dois elementos, que são o fumus boni iuris e o periculum in mora. Aqui voltamos às expressões do direito processual civil, uma vez que se trata de uma cautelar probatória. O requisito do fumus boni iuris se traduz nos indícios de autoria/participação em crime punido com reclusão. Ou seja, na sua fundamentação você deverá demonstrar que há fortes indícios da participação ou da autoria do investigado/indiciado no crime sob análise. Por outro lado, o periculum in mora se demonstra quando da necessidade da medida, ou seja, se não a adotarmos, a investigação não poderá concluir sua finalidade, que é demonstrar a autoria ou participação e a materialidadedo delito. Quando no art. 2°, II, a lei menciona que a prova não poderá ser realizada por outro meio, o sentido do dispositivo é dizer que a interceptação é a ultima ratio em se tratando de meios investigatórios. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. Nesse dispositivo estamos diante de um requisito que deve constar na sua peça, ou seja, descrever com clareza quem está sob investigação, qual o objeto dela, salvo impossibilidade de fazê-lo. Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: I - da autoridade policial, na investigação criminal; II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal. Aqui estamos diante da legitimação que a lei defere ao delegado de polícia para representar pela medida. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 38 Mais uma vez uma falha técnica da lei, quando ela menciona que a autoridade policial poderá requerer ao juiz, quando na verdade a expressão correta é a representação pela autoridade policial. Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a demonstração de que a sua realização é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados. § 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja formulado verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será condicionada à sua redução a termo. Aqui estamos diante do modus operandi da medida, ou seja, a autoridade policial deverá demonstrar em sua peça que a medida é necessária e os meios pelos quais ela se dará, quais instrumentos serão utilizados. O § 1° prevê a possibilidade de pedido verbal. Não é a regra, mas pode ser feito excepcionalmente. § 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido. O § 2° nos remete à urgência da medida, pois o juiz terá o prazo de apenas 24 horas para decidir sobre o pedido. Lembrando que se trata de um prazo impróprio, no qual o juiz poderá extrapolá-lo quando estiver com acumulo de serviço, o que acontece comumente na prática. Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização. Aqui fica claro que a autoridade policial é a responsável pela realização da medida, ou seja, quem conduz a operação de interceptação é sempre a autoridade policial. O Ministério Público, na qualidade de fiscal da lei e titular da ação penal, deverá ser cientificado da execução da medida. Veja nesse dispositivo como é importante a presença da autoridade policial, ela é que vai conduzir a operação, efetuar as escutas e degravações e inclusive processos de identificação de voz quando necessários. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 38 Art. 7° Para os procedimentos de interceptação de que trata esta Lei, a autoridade policial poderá requisitar serviços e técnicos especializados às concessionárias de serviço público. Esse dispositivo é destinado às operadoras de telefonia ou outro serviço público envolvido na interceptação. Veja que a autoridade policial poderá oficiar essas instituições no sentido de obter auxílio na execução dessa cautelar. 3. Representação por busca domiciliar 3.1 Legitimação A legitimação para representar por essa medida está consubstanciada no art. 3°, I, da lei 9.296/96. Vejamos: Art. 3° A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: I - da autoridade policial, na investigação criminal; Ou seja, a autoridade policial, na condução das investigações, quando cabível e necessária, poderá representar pela concessão dessa cautelar. Lembre-se de que essa previsão legal deverá constar de seu preâmbulo. 3.2 Fundamentos de fato ou Fatos Aqui é a mesma coisa das aulas anteriores e das seguintes aulas também, acostume-se a resumir ou parafrasear um texto. Sugiro a você algumas técnicas de resumo de textos, que você encontra em um bom livro de produção textual. Você vai resumir com suas próprias palavras os fatos ocorridos, sempre destacando aqueles que vão servir de base para a sua fundamentação jurídica. Lembre de que para lhe dar um norte de como narrar os fatos sem ser repetitivo em relação ao que já foi mencionado no enunciado, vale a pena utilizar a regrinha da resposta às perguntas abaixo: O que? 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 38 Quem? Quando? ACONTECEU Onde? Por que? Se você conseguir responder a essas perguntas com um texto bem objetivo, sua narrativa dos fatos certamente ficará muito boa e a pontuação dessa parte estará garantida. Procure treinar essa parte quando estiver escrevendo um e-mail, ou até quando estiver contando uma história a algum colega. 3.3 Fundamentos jurídicos A fundamentação jurídica, como sempre, é a parte que vai lhe dar mais pontos, nela você vai mostrar todo seu conhecimento jurídico sobre a medida cautelar pela qual representa. Nesse ponto você vai dividir sua fundamentação em 3 partes. A primeira será relativa à prática delituosa, na qual você vai tipificar o crime e verificar que é punido com reclusão, para que seja cabível. Como a natureza da pena do crime cometido é de fundamental importância para o cabimento da medida você pode mesclar esses dois pontos, mas caso queira fazer uma peça mais redonda, ou seja, sem floreios abra um tópico para a tipificação e outro para o cabimento. A medida será cabível quando o crime em questão for punido com reclusão, nos termos do art. 2°, III: Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: (...) III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Lembrando que deve ser feita uma interpretação a contrário sensu, ou seja, se não é admissível quando o crime for punido no máximo com detenção, então o crime deve ser punido no mínimo com reclusão. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 38 Esse é o cabimento da medida, os outros dois incisos referem-se aos requisitos cautelares. Quanto aos requisitos cautelares vamos ter de demonstrar os dois primeiros incisos do art. 2° da Lei. Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; Lembrando que aqui o a ideia é raciocinar a contrario sensu, ou seja, deve haver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal cuja pena deve ser a de reclusão. O segundo requisito é o chamado ultima ratio, ou seja, o candidato aqui deverá demonstrar que a interceptação é a única forma de prosseguir na investigação. Essa informação você vai ter de ter faro de delegado para perceber na questãoonde está sendo mencionado que já foram tentados todos os tipos de diligência, e está sendo praticamente impossível prosseguir nas investigações caso não seja deferida a interceptação telefônica. Mais uma vez aqui a ideia é ter faro de delta, sangue de polícia. Durante o enunciado você perceberá que as informações do enunciado levarão você a essa conclusão. Ademais, quando a peça for uma interceptação das comunicações telefônicas, saiba que você estará diante de um número de telefone ou terminal de acesso a um equipamento como um computador. Isso já te dará 90% de certeza de que a peça é uma representação dessa natureza Entendeu então que se o enunciado mencionar um número de telefone você estará com muitas chances de já ter identificado a peça. Você deverá verificar os demais requisitos, mas esse já lhe mostrará o caminho a ser seguido. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 38 Em resumo a fundamentação jurídica é simples, basta você demonstrar esses pontos que mencionei com aquela clareza e raciocínio jurídico comum ao futuro delegado de polícia. Destaco o requisito de ultima ratio, esse costuma dar trabalho, mas basta você pensar que sem a interceptação será impossível chegar a autoria do crime sob investigação. 3.4. Pedido Vamos agora falar um pouco sobre o pedido que deverá estar na sua peça, você já esta chegando ao final da sua representação. Assim como na representação pela busca domiciliar, aqui temos um detalhe importante, que é o número do telefone a ser interceptado. Já falamos muito dele na parte de identificação da peça e nos fundamentos jurídicos dela. Você deverá dar um desfecho a sua peça mencionando objetivamente que representa pela interceptação no número XXXX-XXXX, uma vez que a medida não pode ser deferida para qualquer número ou para os números cadastrados em uma família ou grupo de amigos, a medida deve ser certeira, portanto, você deve ter bons indícios de que naquele número teremos conversas sobre o cometimento do delito. A ideia aqui é parecida com a do endereço na busca domiciliar. Você estará relativizando um direito fundamental, ou seja, a inviolabilidade das comunicações telefônicas, portanto, não poderá fazer isso às cegas. Vale a pena mencionar a urgência da medida tanto no início quanto no final, pois a própria lei carrega em seu texto que o juiz deverá decidir o pedido em 24 horas. Então sugiro que você solicite andamento em caráter de urgência, tendo em vista o que a própria lei prevê. Art. 4° O pedido de interceptação de comunicação telefônica conterá a demonstração de que a sua realização é necessária à apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem empregados. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 38 § 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o pedido. Assim, você demonstrará que conhece bem todas as particularidades da lei e sabe como agir amparado por ela. Por fim, você não pode esquecer que essa medida possui prazo certo para terminar. Isso ocorre por conta do caráter invasivo da interceptação. A polícia não pode ficar escutando e degravando as suas comunicações como se não houvesse fim para tal medida. O prazo está previsto na própria lei. Vejamos: Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. A doutrina e a jurisprudência dos tribunais superiores e do supremo são uníssonas no sentido de haver a possibilidade de prorrogações sucessivas, desde que presentes os requisitos de cabimento e cautelaridade. Ah, entendi professor, então eu menciono que que represento pela concessão da medida por 15 (quinze) dias com prorrogação por mais 15 (quinze). Cuidado Aderbal, você não deve mencionar qualquer prorrogação nessa representação inicial. Eventuais pedidos de prorrogação serão feitos em outras representações, posteriores a essa, em que você deverá demonstrar outros requisitos, parecidos, mas com algumas peculiaridades. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 38 Cuidado apenas para não mencionar que você já requer prorrogação, caso faça isso, além de mostrar que a sua investigação não é eficiente, pois antes de se iniciar você já estará pedindo prorrogação de prazo, você ainda estará agindo sem embasamento legal nesse primeiro pedido. Portanto, no seu pedido é fundamental o número do telefone e o prazo da medida. 4. Modelo de representação por interceptação das comunicações telefônicas Vamos agora estruturar o nosso modelo, que você deve memorizar. Poucas coisas vão mudar em relação à representação pela busca. O modelo será até mais simples 4.1 Endereçamento O endereçamento continua sendo muito importante, no caso de interceptação telefônica, geralmente ela é endereçada ao juízo de direito da comarca onde ocorreu o delito. Lembre-se também que se o crime for de homicídio, teremos que representar ao presidente do tribunal do júri. Aqui é aquele básico de competência. Recomendo que se você tiver dúvida, volte para a parte de processo penal, onde se estuda a competência no CPP, pois lá estarão bem claras as principais regras para identificar o juízo competente. Lembrando mais uma vez que você só deve colocar a cidade se for mencionado isso no enunciado, na dúvida, deixe aquele velho espaço em branco, para não perder pontos e nem ser prejudicado totalmente com uma possível identificação de prova. EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE __________ ou (JUIZ PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE ____________). 4.2 Preâmbulo Após o endereçamento você vai saltar algumas linhas, no máximo 2, e e vai mencionar que a medida é urgente, vale a pena mencionar esse detalhe na sua peça, uma vez que mostra que conhece as previsões legais e ainda valoriza seu pedido, salientando ao juiz que, nos termos da lei ele possui um prazo específico para decidir sobre a representação. Importante também mencionar o número do inquérito, caso esse seja mencionado no enunciado ou apenas referir-se ao inquérito e deixar o velho espaço em branco. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 38 O preâmbulo, cujo modelo segue abaixo, possui as mesmas características dos preâmbulos já vistos nas aulas anteriores, com as modificações relativas às legislações pertinentes. “A Polícia Civil do estado do _________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos, pelo art. 3°, I; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, bem assim pela (citar a lei que regulamenta as atribuições da polícia civil do estado para o qual está prestando concurso), vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, representar pela interceptação das comunicações telefônicas do número XX-XXXX-XXXX, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor”. Veja como é importante mencionar o número do terminal que você quer interceptar, isso é na verdade um requisito para que você possa interceptar as comunicações. Lembre-se de que esse tipo de pedido não pode ser genérico, deveser certeiro, por entrar na seara particular de um indivíduo. Um bom preâmbulo já mostra conhecimento. Citar a lei 12.830/2013 comprova que você tem sangue de delegado e que vai procurar valorizar as suas atribuições quando no exercício delas. 4.3 Fatos Mais uma vez não temos muito a acrescentar ao que já foi dito acima, você vai ser medido pelo poder de síntese que pode apresentar. Não Professor, o preâmbulo é sempre igual, mudando apenas algumas coisas, nas suas aulas essa parte parece ser até repetitiva, não tem outros modelos de preâmbulo não? Prezado Aderbal, sua pergunta é muito boa, e deve ser a pergunta de muitos dos nossos alunos. A ideia do nosso curso é condicionar você a memorizar um modelo cada vez mais enxuto de peça. Aquilo que for repetitivo é melhor ainda para você memorizar. Preocupe-se apenas com as diferenças entre as peças. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 38 negligencie esse ponto, pois o examinador pode já não gostar muito da sua peça, caso os fatos não sejam corretamente narrados. Procure parafrasear o enunciado, tentando não ser tão repetitivo. Responder àquelas perguntas que já mencionei anteriormente pode ser um bom norte a ser seguido. Na peça de interceptação, mencione as diligências que já foram empreendidas e não renderam frutos, ou que tiveram resultados não esperados. Ou seja, tente mostra ao juiz que a última coisa a ser feita é a representação pela interceptação. Mencionar nos fatos essas diligências pode ressaltar o seu conhecimento da peça. No entanto, você não pode inventar fatos, isso é terminantemente proibido, sob pena de ter a peça “zerada” pela identificação da prova. 4.4 Fundamentos jurídicos Na parte dos fundamentos o ideal é você desdobrá-la em 3 pontos, quais sejam, do crime sob investigação, do cabimento, dos requisitos cautelares. No caso da peça que estamos estudando, vale a pena você mencionar, assim como na busca domiciliar, que a inviolabilidade das comunicações telefônicas não pode servir de salvaguarda para acobertar o cometimento de delitos e que em prol do princípio do “in dubio, pro societate”, a medida se faz necessária à elucidação do crime e à cessação da atividade delituosa. Aqui, se você mencionar que a medida se subordina à reserva de jurisdição, vai ficar melhor ainda, pois o juiz vai entender que você, na qualidade de delegado de polícia reconhece os limites legais e constitucionais de sua atuação. No cabimento você deve mencionar que o crime sob investigação possui pena de reclusão, veja que não importa a quantidade de pena, mas a sua natureza. Veja ainda que isso está intrinsecamente ligado à tipificação do crime, que você já vai ter mencionado. 4.5 Do Pedido. No pedido já foi mencionado que você deve representar pela medida sempre de forma objetiva, cuidado com o verbo, pois o delegado de polícia representa e não requer, quem requer é o membro do MP. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 38 Não se esqueça de mencionar o número do telefone ou do terminal de acesso que será interceptado, sem essa informação a sua representação será indeferida, certamente e sua peça terá uma nota reduzida. Outro ponto importantíssimo é o prazo. Toda medida cautelar que tiver prazo definido em lei deve ter ele em seu pedido, pois é relevante para o decorrer das investigações, saber que o prazo se esvai em 15 (quinze) dias, no que concerne à interceptação das comunicações telefônicas. “Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos, representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas no número de telefone XX-XXXX-XXXX, a ser conduzida por essa autoridade policial ou que lhe faça as vezes, pelo prazo de 15(quinze) dias, por ser a medida de direito adequada ao caso conforme se demonstra na fundamentação exposta, visando a continuidade das investigações policiais, após a oitiva do ilustre membro do Ministério Público”. Nestes Termos. Pede Deferimento. Local, data. Delegado de Polícia Matrícula.” Vamos agora colocar tudo isso em um modelo. EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE __________ ou (JUIZ PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE ____________). URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296). 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 38 DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA Ref. Inquérito policial n°___ “A Polícia Civil do estado do _________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos, pelo art. 3°, I, da Lei n° 9.296/96; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, bem assim pela (citar a lei que regulamenta as atribuições da polícia civil do estado para o qual está prestando concurso), vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, representar pela interceptação das comunicações telefônicas do número XX-XXXX-XXXX, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor”. 1. Dos fatos 2. Dos fundamentos jurídicos 2.1 Da Prática delituosa 2.2 Da reserva de jurisdição 2.3 Do cabimento 2.4 Dos requisitos cautelares Narrativa dos fatos, conforme instruções já mencionadas. Vale a pena demonstrar a tipificação do crime cometido. Mencione que a medida é cabível, pois o crime sob investigação sujeita-se a pena de reclusão, nos termos do art. 2°, III, da Lei n° 9.296/96. Aqui mencione que a medida se sujeita à reserva de jurisdição, invocando a proteção constitucional domiciliar, sempre ressaltando que a constituição não pode servir de manto de acobertamento da prática delituosa. Nesse ponto você vai demonstrar os outros dois incisos do art. 2° da referida lei. Inciso I: Prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria ou participação. Inciso II: Necessidade da medida. Ultima ratio. Provar que essa é a única medida capaz de prosseguir a investigação. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 38 3. Do pedido “Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos, representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas no número de telefone XX-XXXX-XXXX, a ser conduzida por essa autoridade policial ou que lhe faça as vezes, pelo prazo de 15(quinze) dias, por ser a medida de direito adequada ao caso conforme se demonstra na fundamentação exposta, visando a continuidade das investigações policiais, após a oitiva do ilustre membro do Ministério Público”. Nestes Termos. Pede Deferimento. Local, data. Delegado de Polícia Matrícula.” Vejam que não é muito longa e não requer muitos detalhes a produção da representação por interceptação das comunicações telefônicas. Ademais, a sua identificação é muito simples. Vamos agora ao exercício de prova. Escolhi para a nossa aula uma questão recente, da última prova da Polícia Civil de Santa Catarina – PCSC, prova realizada em 2014, o concurso está em andamento. 5. Questões comentadas de prova. Questão 1. (Adaptada pelo Prof. Vinícius Silva) Delegado de Polícia - Concurso: PCSC - Ano: 2014 - Banca: ACAFE - Disciplina: Direito Processual Penal - Assunto:Provas. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 38 Denúncia anônima que chegou à Delegacia de Polícia dá conta de que Mario Mendes e Ciro Fontes estariam inserindo elementos inexatos em operações de natureza fiscal relativas ao ICMS, visando fraudar a fiscalização tributária, das empresas de laticínios Indústria de Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda. Apesar dos indícios apontarem o envolvimento dos investigados em crime de sonegação fiscal, a investigação chegou a um impasse, pois não foi possível elucidar, com os levantamentos de campo e de informações, qual a participação de cada um dos investigados, acrescido do fato de que o investigado Ciro Fontes faz constantes viagens internacionais. Dados do Inquérito: N. 0124/2014; Primeira Delegacia de Polícia da Comarca de Lages, Rua das Palmeiras, 357, Lages. Do que foi até agora apurado tem-se: a) - Indústria de Laticínios Companhia do Leite, com sede na rua das Acácias, 123, Lages - Sócios Mario Mendes e Ciro Fontes; b) - Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda., com sede na rua das Laranjeiras, 456, Lages - Sócios Ciro Fontes e Mario Mendes; c) - Mario Mendes – brasileiro, caso, empresário, residente à rua Pessegueiro, 687, Lages - celular (Claro S/A) (49) – 9112 – 7070, CPF 400 401 402 – 88; d) – Ciro Fontes – brasileiro, casado, empresário, residente à rua das Videiras, 581, Lages – celular (Claro S/A) (49) – 9112 – 8080, CPF 500 501 502 – 99; e) - registro da caminhonete Mitsubishi L200, placas XXX - 0123, utilizada por Ciro Fontes, em nome da Samira Mendes Lima, CPF 800 801 802 - 83; f) - registro, em nome da Samira Mendes Lima, do veículo Honda Civic, ano 2013/2014, placas XXX - 0456, que até 21/1/2014 estava registrado em nome da empresa Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda; g) – registro de veículos particulares, utilizados por Mario Mendes e seus familiares, em nome de terceiros: - Citroen C4 Palas, placas XXX- 1111- registrado em nome de Murilo Garcia – CPF 100 101 102 – 76; - BMW, placas XXX – 2222, registrado em nomes de Cássio Meira, CPF 200 201 202 – 67; - Mitsubishi Pajero Full, placas XXX - 3333, registrado em nome de Felipe Lima, CPF 300 301 302-57; h) - inexistência de patrimônio nas empresas Indústria de Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda. i) - incompatibilidade entre volume de produção, o constante nos registros de estoque da empresa e o constante nos registros fiscais de saída de produtos, decorrente das vendas. Analise o anteriormente relatado e, como Delegado de Polícia, sem criar novos dados, elabore pedido de interceptação telefônica. Comentário e modelo de peça proposto. Inicialmente, eu vou aproveitar para mostrar meu parecer acerca da questão acima, apresentando os aspectos teóricos relevantes e o modelo de peça sugerido por min. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 38 Essa questão originalmente tinha muitos detalhes técnicos que foram omitidos por min. Na época da prova ela foi bastante criticada, pois o espelho de correção mencionou muitos detalhes técnicos que não são costumeiramente cobrados em prova. Assim, de modo a deixar a prova mais adequada a realidade, a banca exagerou na cobrança de detalhes. Acabamos por modificar a questão, deixando apenas aquilo que de maior brilho a questão possuía. O crime a ser investigado trata-se de sonegação fiscal, uma vez que o enunciado nos mostra que há uma série de indícios que demonstram essa prática delituosa por parte dos sócios das empresas em questão. O aluno poderia pensar na aplicação da Súmula Vinculante n° 24, pois ela prevê que não se tipifica crime material contra a ordem tributária antes do lançamento definitivo. No entanto, em provas de Delta, o ideal é defender a inaplicabilidade da referida súmula na investigação policial. Inclusive esse posicionamento foi cobrado na última prova da Polícia Federal. Assim, acostume-se com essas posições ligadas ao concurso para o qual você está prestando. Esse crime possui pena privativa de liberdade de reclusão de 2 a 5 anos sendo assim cumprido o requisito de cabimento da medida a ser representada. Por outro lado, a investigação encontra-se com um impasse, no qual a autoridade está a definir a conduta de cada um dos investigados, para assim concluir o inquérito policial. Ou seja, a questão deixa claro que a ideia é representar pela interceptação, uma vez que é a única medida de que pode levar a autoridade policial à individualização das condutas. Assim, a medida cabível é a representação pela interceptação das comunicações telefônicas. A questão já deu a dica dos números de telefone, então vamos representar pela interceptação. Modelo de peça: EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE LAGES-SC. URGENTE – 24 (VINTE E QUATRO) HORAS (art. 4°, §2°, da Lei 9.296). DISTRIBUIÇÃO SIGILOSA 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 38 Ref. Inquérito policial n°0124/2014 A Polícia Civil do estado de Santa Catarina, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos, pelo art. 3°, I, da lei 9.296/96; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, bem assim pela (citar a lei que regulamenta as atribuições da polícia civil do estado para o qual está prestando concurso), vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, representar pela interceptação das comunicações telefônicas dos números (49) – 9112 – 7070 e (49) – 9112 – 8080, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor. 1. Dos fatos Tratam os autos de investigação acerca da prática de crime de sonegação fiscal. As diligências até agora perpetradas pela equipe operacional dessa delegacia dão conta de que os investigados Mario Mendes – brasileiro, casado, empresário, residente à Rua Pessegueiro, 687, Lages e Ciro Fontes – brasileiro, casado, empresário, residente à rua das Videiras, 581, Lages, na qualidade de sócios das empresas Indústria de Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda, estariam inserindo dados falsos nas operações comerciais das empresas, com o fito de fraudar a fiscalização tributária e por conseguinte o recolhimento de ICMS. As investigações apontam ainda um patrimônio elevado que os sócios ostentam por meio de veículos importados e viagens internacionais. Neste momento a investigação encontra-se parada, aguardando elementos que possam definir as condutas de cada um dos investigados em meio à prática delituosa a ser tipificada no próximo item. 2. Dos fundamentos jurídicos 2.1 Da Prática delituosa No caso acima narrado, pode-se perceber que há fortes indícios de que os investigados estão incursos nos crimes do art. 1°, I e II, da Lei n° 8.137/90. Os investigados supostamente estão inserindo dados inexatos nos documentos fiscais com a finalidade de fraudar a fiscalização tributária e o recolhimento de impostos, notadamente o ICMS. Assim, a conduta amolda-se perfeitamente no tipo penal previsto no diploma legal referido. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 38 2.2 Da reserva de jurisdição A medida cautelar adequada ao prosseguimento das investigações é sujeita à reserva de jurisdição, uma vez que envolve um direito constitucionalmenteprotegido, que é a inviolabilidade das comunicações telefônicas. O juiz deve atuar na proteção da coletividade, não podendo admitir que uma conduta delituosa seja levada a efeito e acobertada pelo manto da inviolabilidade de comunicação telefônica, pois isso causaria um desequilíbrio institucional. O juiz deve usar da ponderação para o deferimento da medida, mesmo que cause um prejuízo à intimidade do investigado, prejuízo maior está sendo causado à coletividade por conta da prática delituosa que frauda o recolhimento de tributos. 2.3 Do cabimento Conforme a tipificação acima mostrada, o crime sob investigação dessa delegacia no inquérito epigrafado possui pena privativa de liberdade de reclusão, portanto, mostra-se cabível a interceptação telefônica, nos termos do inciso III, do art. 2°, da Lei n° 9.296/96. 2.4 Dos requisitos cautelares Os requisitos cautelares para o deferimento também se encontram plenamente satisfeitos, uma vez que no caso concreto há fortes indícios de que os investigados praticam o crime de sonegação fiscal. Vejamos. As investigações apontam a inexistência de patrimônio nas empresas Indústria de Laticínios Companhia do Leite e Leite Bom Indústria Alimentícia Ltda., bem como a incompatibilidade entre volume de produção, o constante nos registros de estoque da empresa e o constante nos registros fiscais de saída de produtos, decorrente das vendas. Na mesma toada encontra-se a aquisição de veículos utilizados pelos investigados em nome de terceiros que estariam participando da ação delituosa na qualidade de partícipes. Constam nos autos vários elementos de informação que confirmam a utilização de veículos de luxo pelos Srs. Ciro Fontes e Mario Mendes, e pelas respectivas famílias. Ou seja, isso demonstra mais ainda a ocorrência do delito, bem como a participação dos investigados. Assim, podemos afirmar que o requisito cautelar do inciso I, do art.2°, da Lei n° 9.296/96 foi cumprido. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 38 Noutro giro, a necessidade da medida é manifesta, pois a investigação chegou a um impasse, não tendo elementos necessários a definir qual a conduta de cada um dos investigados e qual a real participação de cada um deles no crime. Constam ainda informações acerca dos números de telefone de cada um deles, ou seja, a interceptação das comunicações telefônicas ajudará a elucidar a participação dos investigados, pois de acordo com as conversas telefônicas poderemos definir qual o real papel deles na conduta criminosa. Em relação à aplicação da Súmula Vinculante n° 24, não se pode cogitar a sua aplicação nesse caso concreto, pois, caso contrário, a investigação policial em crimes dessa natureza estaria totalmente vinculada à ação da administração fazendária. Não se pode admitir no estado de direito que uma Súmula, ainda que vinculante, torne ineficaz ou condicionada a atividade policial. A atividade policial não pode ser engessada pelo próprio sistema constitucional brasileiro. Não existe nenhum direito absoluto, nem aqueles previstos na Constituição Federal de 1988, quanto mais uma súmula pode restringir a investigação policial. Assim, de acordo com a fundamentação acima, mostra-se cabível e necessária a interceptação das comunicações telefônicas dos investigados. 3. Do pedido Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos, representa, essa autoridade policial, pela interceptação das comunicações telefônicas dos números de telefone (49) – 9112 – 7070 e (49) – 9112 – 8080, a ser conduzida por essa autoridade policial ou que lhe faça as vezes, pelo prazo de 15(quinze) dias, por ser a medida de direito adequada ao caso conforme se demonstra na fundamentação exposta, visando a continuidade das investigações policiais, após a oitiva do ilustre membro do Ministério Público. Nestes Termos. Pede Deferimento. Local, data. Delegado de Polícia Matrícula.” Agora vou propor a você dois exercícios de peças para você treinar e qualquer coisa pode me procurar no fórum de dúvidas. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 38 6. Questões propostas Questão 1 (adaptada pelo Professor Vinícius Silva): Delegado de Polícia - Concurso: PCDF - Ano: 2007 - Banca: NCE - Disciplina: Direito Processual Penal - Assunto: Provas. Cláudio, Delegado de Polícia do 5º Distrito Policial, instaurou inquérito policial para apurar crime de extorsão mediante sequestro. Durante a investigação a autoridade policial e seus agentes empreenderam diligências no sentido de encontrar a vítima e depois de 3 dias conseguiram encontrar o cativeiro e diante 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 38 da situação flagrancial adentraram o local e a resgataram, no entanto nenhum dos sequestradores foi encontrado no local. Levada ao IML para exame de corpo de delito, a vítima não apresentou nenhuma lesão. Ademais, a casa foi totalmente periciada pela equipe da perícia forense, não tendo esta encontrado nenhum fragmento de digitais no local. Durante as investigações para a descoberta do local do cativeiro, foram feitas algumas ligações para a família da vítima, sempre de um mesmo número, qual seja, 99-9999-9999. A descoberta do local do cativeiro foi feita após uma testemunha ter feito denúncia anônima de que havia sequestradores mantendo pessoa sob sua custódia. A testemunha morava vizinho ao local e observou várias vezes pessoas entrando e saindo do local, inclusive no dia do crime a referida testemunha viu o carro de placas XYZ- 1234 entrando na garagem da casa em alta velocidade e conseguiu vislumbrar 2 elementos saindo do carro com uma pessoa encapazuda e com as mão amarradas. A testemunha disse não conhecer nenhum dos dois supostos sequestradores, tampouco revelou ser sabedora de suas identidades. No entanto, conseguiu escutar diversas vezes o telefone celular com toque sonoro característico soar e os sequestradores atenderem o aparelho e conversarem sobre o crime. No local do cativeiro não foi encontrado nenhum aparelho celular. A vítima do sequestro informou ainda que escutou diversas vezes as conversas entre os sequestradores e entre eles e sua família, negociando o resgate. Tudo que foi apurado consta nos autos do inquérito, como os depoimentos da vítima e da testemunha. A polícia judiciária ainda não conseguiu identificar os autores do crime, embora tenha empreendido todas as diligências acima citadas. Na qualidade de delegado de polícia que preside o inquérito, represente pela medida cabível nesse momento da investigação visando identificar os supostos autores do crime. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 38 Questão 2: Adaptada pelo prof. Vinicius Silva Delegado de Polícia - Concurso: PCAP - Ano: 2010 - Banca: FGV - Disciplina: Direito Processual Penal - Assunto: Inquérito Policial. Instaurado inquérito policial nº 123/10, da Delegacia Especializada em Entorpecentes, para apuração do crime de tráfico ilícito de entorpecentes, são identificados e indiciados 3 suspeitos da prática do crime, os quais seriam intermediários entre o traficante internacional que traz a droga proveniente do exterior e os traficantes que vendem a droga diretamente aos usuários. Osindiciados são José da Silva, João de Souza e Joaquim dos Santos. Com o avançar das investigações, são inquiridas várias testemunhas, as quais temem por suas vidas caso os indiciados tomem conhecimento dos seus depoimentos, bem como reunidas provas da participação de José, João e Joaquim no crime. Em seus depoimentos os indiciados revelaram que existe contato telefônico entre eles e o traficante internacional sendo para isso utilizado o número 88-8888-8888, por meio do qual são acertados os locais de entrega da droga. As testemunhas, bem como os intermediários que foram ouvidos não identificaram o traficante internacional, pois nunca tiveram contato físico com ele, apenas telefônico. Na qualidade de delegado de polícia que preside o inquérito policial n° 123/10, represente pela medida necessária e adequada ao caso a fim de prosseguir nas investigações. Bom, agora que vimos as nossas duas questões propostas da aula de hoje, vamos verificar as minhas propostas de peças para os dois casos propostos na aula 02. 7. Respostas dos exercícios da aula 02. Questão 1 (adaptada pelo Professor Vinícius Silva): Delegado de Polícia - Concurso: PCRS - Ano: 2009 - Banca: IBDH - Disciplina: Peça Prática. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 38 A DENARC realizou longa investigação sobre trafico de drogas no Bairro da Saúde, em Porto Alegre. Foram monitoradas as atividades de varias pessoas, inclusive com escutas telefônicas autorizadas pela Justiça. No dia 12.6.2009 a policia prendeu em flagrante Pedro de Tal, que dirigia um automóvel marca Audi, Placas XXX, de sua propriedade, sendo encontrados no interior do veiculo cinco pacotes contendo cocaína (total de 2,5 Kg). Também foi apreendida uma metralhadora marca Uzi, de 9mm (uso restrito), municiada com 25 cartuchos completos, que estava debaixo do banco do caroneiro. A droga foi submetida a perícia e deu resultado positivo para cocaína. Pedro de Tal ao ser ouvido pela autoridade policial disse que não trabalha no tráfico sozinho, porém não quis dizer o nome de seus comparsas. O relatório da seção de investigação mostrou ainda que as conversas telefônicas eram oriundas sempre de um mesmo telefone fixo, que está vinculado ao endereço Rua Dos Remédios, 44, Saúde, Porto Alegre. Na qualidade de Delegado de Polícia, represente pela medida de polícia judiciária cabível ao desbaratamento das ações delituosas, bem como para a conclusão das investigações. Comentário e proposta de peça: Trata-se de um caso clássico de busca domiciliar, por meio da qual a autoridade policial prendeu em flagrante um dos membros de uma suposta associação para o tráfico. O conduzido provavelmente estará incurso nos crimes de tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, e há uma forte suspeita de ser integrante de uma associação para o tráfico, tipificada nos termos da lei de drogas. Veja que existe um relatório da seção de investigações mostrando que há ligações telefônicas oriundas de um telefone fixo, mas que não foi mencionado o número, ou seja, não seria possível nessa questão representar por interceptação telefônica, no entanto, com o objetivo de prender em flagrante os demais componentes da suposta associação, bem como apreender mais drogas e armas que podem estar em poder da quadrilha, o ideal seria representar pela busca domiciliar. O fundamento seria o constante no art. 240, §1°, alíneas “d” e “e”, especificamente, no entanto, você poderia utilizar a alínea coringa “h”. Enfim, a identificação da peça parece que é bem tranquila. Quanto a possibilidade de representar pela temporária, não entendo ser cabível, pois ao juiz, quando recebe o auto de prisão em flagrante, cabe, entre outras medidas converter a prisão em flagrante em preventiva, assim não é 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 38 interessante pedir a temporária, pois a materialidade e autoria já estão comprovadas em relação a ele, uma vez que foi preso em flagrante. A temporária de outros envolvidos também não é cabível, uma vez que não sabemos nem quem são os demais envolvidos. Ademais, há fortes indícios de que no local de onde se originam as ligações podem ser encontradas drogas, armas e os supostos componentes da associação para o tráfico. O juiz é o juízo comum, ou seja, o Juiz de Direito da Comarca de Porto Alegre. O endereço foi mencionado e então podemos representar tranquilamente pela busca. Vamos à peça. EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO da _____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE. Ref. Inquérito policial n°___ “A Polícia Civil do estado do Rio Grande do Sul, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos, pelo art. 240, § 1°, alíneas “d” e “e”; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, (citar a lei que regulamenta as atribuições da polícia civil do estado para o qual está prestando concurso), vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, representar pela expedição de mandado de busca domiciliar, a ser efetuada no endereço citado no pedido desta e em face da pessoa especificada também no pedido, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor”. 1. Dos fatos Narram os autos, que no dia 12 de junho de 2009, Pedro de Tal foi preso em flagrante após operação policial oriunda de investigação desse distrito, que culminou na apreensão de 2,5 kg (dois quilogramas e meio) de cocaína (conforme laudo anexo) e uma metralhadora de uso restrito, marca UZI, com 25 cartuchos completos. O investigado foi trazido a esta delegacia, onde foram lavrados os procedimentos de praxe. Ao ser ouvido, Pedro de Tal mencionou que atua no tráfico juntamente com demais componentes de uma suposta 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 38 associação para o tráfico, contudo não quis declinar o nome dos envolvidos na atividade criminosa. As diligências da seção operacional dessa unidade registraram que há frequentes ligações telefônicas oriundas de uma linha fixa localizada no endereço da Rua dos Remédios 44, Saúde, Porto Alegre, envolvendo os investigados. 2. Dos fundamentos jurídicos 2.1 Da Prática delituosa As investigações da autoridade policial, notadamente o resultado do flagrante que foi realizado, levam à tipificação de alguns crimes capitulados na legislação penal extravagante, quais sejam, o de tráfico de substância entorpecente, tipificado ao teor do art. 33, da Lei n° 11.343/06, bem como o de porte ilegal de arma de fogo, todas as condutas referentes ao investigado Pedro de Tal. Por outro lado, o investigado supramencionado, ao que parece, após as diligências da equipe operacional, compõe uma associação para o tráfico, uma vez que citou não atuar no tráfico de drogas sozinho, mas na companhia de alguns comparsas que não quis declinar o nome, portanto, estaríamos diante da tipificação do crime de mesmo nome. 2.2 Da reserva de jurisdição e da ponderação A prática delituosa não pode ser acobertada pelo manto dos direitos constitucionalmente previstos como individuais e fundamentais. Ou seja, não se pode invocar a inviolabilidade domiciliar para fins de salvaguarda da prática delituosa. Assim, as medidas a serem requeridas no bojo desta representação são medidas reservadas à atividade jurisdicional, e por isso são medidas que afetam diretamente um direito fundamental dos investigados. No entanto, não se tolera numestado democrático de direito a prática de crimes e ao mesmo tempo a proteção constitucional eventualmente invocada. 2.3 Do cabimento A medida pleiteada nessa representação é plenamente cabível. Vejamos. A busca domiciliar verifica-se cabível, pois há fortes indícios de que no endereço a ser violado, em caso de deferimento, funciona a base local da 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 38 associação criminosa de que faz parte o indivíduo preso em flagrante, uma vez que as ligações telefônicas sempre são originadas daquele local. Assim, há fortes indícios de que se possam encontrar armas, drogas e até mesmo os demais componentes da associação para o tráfico que se configura no caso dos autos. Demonstra-se necessária a busca domiciliar uma vez que, no caso sob investigação, é imperioso para o sucesso do inquérito a busca da maior quantidade de objetos vinculados à prática delituosa, quais sejam armas e drogas, uma vez que se trata de uma associação para o tráfico, em que um dos seus componentes já foi preso em flagrante com uma quantidade considerável de cocaína e uma arma de uso restrito e munições não deflagradas. Portanto, deve-se proceder à busca domiciliar com o objetivo de encontrar demais objetos da prática delituosa. 3. Do pedido Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos, representa, essa autoridade policial, pela expedição de mandado de busca domiciliar no endereço Rua dos Remédios, 44, Saúde, Porto Alegre, com a finalidade de apreender armas e drogas, bem como subsidiar possível prisão em flagrante dos demais componentes da associação para o tráfico, por ser a medida de direito adequada ao caso conforme se demonstrada na fundamentação exposta, após a oitiva do ilustre membro do Ministério Público. Nestes Termos. Pede Deferimento. Local, data. Delegado de Polícia Matrícula Questão 2: (VINICIUS SILVA) No dia 22/01/2015 o estabelecimento comercial VIP SHOP COMÉRCIO DE ELETRÔNICOS foi vítima de um suposto furto, perpetrado por 3 indivíduos (B, C e D), que agiram em conluio, visando subtrair aparelhos de televisão do referido estabelecimento. Na noite do dia 22, por volta das 23:00, os três elementos adentraram a loja arrombando os cadeados e demais dispositivos de segurança física do estabelecimento, adentrando em seu recinto 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 38 e subtraindo 12 aparelhos Smart TV de 42 polegadas, da marca XX, que estavam embalados em caixas de papelão com as logomarcas características da marca XX. Ao saírem do estabelecimento, já no dia 23, os indivíduos se depararam com a ação do vigilante do local que empreendeu perseguição aos delinquentes, no entanto, eles dispararam contra o vigilante de modo a assegurar a fuga. Dias depois a proprietária da loja, a Senhora “A”, compareceu ao 2° Distrito Policial e narrou todos os fatos, levando ao conhecimento da autoridade policial o fato criminoso. O vigilante foi ouvido e afirmou que poderia reconhecer os agentes delituosos, confirmou a versão dos fatos alegados pela proprietária da loja e disse que conhece os assaltantes e disse que eles portavam 3 armas de fogo do tipo pistola calibre 380. O Delegado responsável instaurou inquérito policial para apurar as condutas e os fatos e o setor operacional enviou relatório afirmando que na casa de um dos suspeitos, endereço à rua alpha, 12, Belo Monte, Cidade: Jardim, foi verificada uma intensa entrada e saída de pessoas sempre carregando caixas de papelão enroladas em lençóis que eram colocadas em carros após a entrega de dinheiro aos suspeitos. Foi juntada aos autos do inquérito a folha de antecedentes dos suspeitos B, C e D; ocasião em que foi possível comprovar que eles já haviam sido presos por tráfico de drogas. Diante dos fatos acima, na qualidade de delegado de polícia que preside o referido inquérito, represente pela medida cabível ao prosseguimento das diligências investigativas. Comentários e modelo de peça: Aparentemente, no caso acima, teríamos um caso clássico de crime de furto qualificado, pelo rompimento de obstáculo, majorado por ter sido perpetrado durante o repouso noturno. No entanto, para garantir o furto, os indivíduos dispararam com arma de fogo contra o vigilante local, o que caracteriza o roubo previsto no art. 157, §1°, uma vez que foi empregada violência contra a pessoa do vigilante para assegurar a detenção da coisa para si, circunstanciado ainda pelo uso de arma de fogo. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 38 Assim, podemos tipificar a conduta como sendo incursa no dispositivo legal retromencionado. Por fim, podemos ainda caracterizar a conduta deles como de formação de associação criminosa, pois não é a primeira vez que os suspeitos B, C e D associam-se com o fim de cometer crimes. Portanto, verifico os requisitos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis plenamente presentes nesse caso concreto, pois há prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria de B, C e D. Quanto ao segundo requisito, na prisão temporária ele se faz presente quando, por exemplo, a prisão é imprescindível para o andamento das investigações. Note que no caso concreto acima, devemos ainda encontrar possíveis armas, objetos frutos da atividade criminosa, drogas, etc. Portanto, a prisão dos investigados é imprescindível para o andamento das investigações. Além da medida cautelar pessoal, há fortes indícios de que os investigados estão guardando objetos do roubo perpetrado em face da loja de eletrônicos na casa de um dos comparsas, haja vista o depoimento da testemunha que se coaduna com a atividade de comercialização dos aparelhos de TV. De acordo com a história narrada, vamos então poder representar pela prisão temporária dos investigados, bem como pela busca domiciliar, requerendo a expedição do mandado de busca cumulado com a prisão, na mesma ordem judicial, uma vez que é provável encontrar além dos objetos, os investigados no local da busca. Vamos à peça EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO da _____ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE JARDIM. Ref. Inquérito policial n°___ A Polícia Civil do estado do ____________, por meio do seu Delegado de Polícia, ao final assinado, no uso de suas atribuições, que lhe são conferidas, dentre outros dispositivos, pelo art. 240, § 1°, alíneas “a”, “d” e “e”; art. 2°, §1°, da Lei 12.830/2013, bem assim pela Lei n°. 7.960/89, (citar a lei que regulamenta as atribuições da polícia civil do estado para o qual está prestando concurso), vem, mui respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, representar pela expedição de mandado de busca domiciliar e de prisão temporária, a ser efetuado no endereço citado no 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 38 pedido desta e em face de B, C e D, pelos fundamentos de fato e de direito que a seguir passa a expor. 1. Dos fatos Narram os autos, que na noite do dia 22, por volta de 23:00, três indivíduos adentraram a loja de eletrônicos VIP SHOP, com o intuito de subtrair 12 aparelhos de TV SMARTV, da marca XX, de propriedade da referida loja, cuja proprietária é a Sr. A. Durante a fuga, os indivíduos tiveram de efetuar disparos contra a pessoa do vigilante da loja de modo a assegurar o produto da empreitada criminosa.Consta ainda depoimento da vítima e do vigilante, por meio do qual foi possível obter informação da identidade dos três suspeitos, bem como o possível endereço, onde o produto do roubo pode estar sendo guardado. 2. Dos fundamentos jurídicos 2.1 Da Prática delituosa As investigações da autoridade policial mostram que foram cometidos alguns delitos pelos três agentes. A primeira conduta que se verifica é a de roubo, aquele previsto no art. 157, §3°, do Código Penal, uma vez que eles tiveram de usar de violência (disparo de arma de fogo) para assegurar o produto do furto, transformando-se assim a conduta em roubo circunstanciado pelo uso de arma de fogo. A segunda é a de formação de associação criminosa, pois os três indivíduos associaram-se com a finalidade específica de cometer crimes, o que condiz com a conduta prevista no art. 288, do Código Penal. 2.2 Da reserva de jurisdição e da ponderação A prática delituosa não pode ser acobertada pelo manto dos direitos constitucionalmente previstos como individuais e fundamentais. Ou seja, não se pode invocar a inviolabilidade domiciliar, tampouco a liberdade ambulatorial para fins de salvaguarda da prática delituosa. Assim, as medidas a serem requeridas no bojo desta representação são medidas reservadas à atividade jurisdicional, e por isso são medidas que afetam diretamente um direito fundamental dos investigados. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 38 No entanto, não se tolera num estado democrático de direito a prática de crimes e ao mesmo tempo a proteção constitucional eventualmente invocada. 2.3 Do cabimento As medidas pleiteadas nessa representação são plenamente cabíveis. Vejamos. Quanto à busca domiciliar, verifica-se cabível, pois há fortes indícios de que no endereço a ser violado, em caso de deferimento, estão sendo guardados os aparelhos de SMARTV que foram objeto do roubo perpetrado. Assim, há fortes indícios de que se possam encontrar as TV’s, armas, drogas e até mesmo os demais componentes da associação criminosa. Quanto ao cabimento da prisão temporária dos investigados, mostra-se cabível, pois o crime de associação criminosa e roubo estão previstos no rol do art. 1°, III, da Lei 7.960/89. 2.4 Dos requisitos Cautelares Primeiramente, demonstra-se necessária a busca domiciliar uma vez que, no caso sob investigação, é imperioso para o sucesso do inquérito policial a busca da maior quantidade de objetos vinculados à prática delituosa, quais sejam armas e drogas, bem como a recuperação do produto do roubo, uma vez que há fortes indícios de que os objetos do roubo estejam sendo guardados no endereço constante do pedido. Portanto, a busca domiciliar e posterior apreensão dos objetos é necessária para a investigação do crime em apreço. Quanto à prisão temporária dos investigados B, C e D, mostra-se adequada, bem como preenchidos os requisitos cautelares para o deferimento, pois é imprescindível para o prosseguimento das investigações em crime de roubo cumulado com associação criminosa (art. 288, do CP) estando assim preenchidos os requisitos dos incisos I e III, do art. 1°, da Lei n°. 7.960/89. 3. Do pedido Ante do exposto, com base nos fundamentos de fato e de direito já expostos, representa, essa autoridade policial, pela expedição de mandado de busca domiciliar no endereço Rua Alpha, 12, Belo Monte, Jardim, com a finalidade de apreender objetos do crime, tais como armas, e também o produto do roubo (TV’s Smartv, marca XX), bem como subsidiar possível prisão em flagrante dos demais componentes da associação criminosa. 13601418207 Peça Prática para Delegado de Polícia - Pernambuco Prof. Vinícius Silva – Aula 03 Prof. Vinícius Silva www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 38 Representa também pela prisão temporária dos investigados A, B e C, pelo prazo de 5(cinco) dias, caso não sejam presos em flagrante em eventual diligência de busca domiciliar, nos termos da Lei 7.960/89. Requer-se ainda a oitiva do ilustre membro do Ministério Público. Nestes Termos. Pede Deferimento. Local, data. Delegado de Polícia Matrícula Por hoje é só, espero que tenham gostado da aula 03, já são 4 aulas e as medidas mais importantes já foram vistas, essas quatro medidas são as que eu suponho que possuem mais probabilidade de cair na sua prova, é claro que é possível a mescla de duas ou mais representações na mesma peça, mas as principais peças que podem vir individualmente são essas. A partir da próxima aula veremos algumas representações menos frequentes em provas, mas que podem ser cobradas em provas de 2ª fase de Delta. O exemplo mais forte é o da prova de 2014 da PCPI, pois foi uma prova bem original e desafiadora, que mediu muito conhecimento do candidato. Abraços. Bons Estudos. Prof. Vinícius Silva. 13601418207
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